Skip to main content

Capítulo Dezenove

O Aparecimento de Śukadeva Gosvāmī

Texto

sūta uvāca
mahī-patis tv atha tat-karma garhyaṁ
vicintayann ātma-kṛtaṁ sudurmanāḥ
aho mayā nīcam anārya-vat kṛtaṁ
nirāgasi brahmaṇi gūḍha-tejasi

Sinônimos

sūtaḥ uvāca — Sūta Gosvāmī disse; mahī-patiḥ — o rei; tu — mas; atha — assim (enquanto voltava para casa); tat — aquele; karma — ato; garhyam — abominável; vicintayan — pensando assim; ātma-kṛtam — feito por ele mesmo; su-durmanāḥ — muito deprimido; aho — ai de mim; mayā — por mim; nīcam — atroz; anārya — incivilizado; vat — como; kṛtam — feito; nirāgasi — contra alguém que é impecável; brahmaṇi — contra o brāhmaṇa; gūḍha — grave; tejasi — contra o poderoso.

Tradução

Śrī Sūta Gosvāmī disse: Enquanto regressava à casa, o rei [Mahārāja Parīkṣit] sentiu que o ato que cometera contra o impecável e poderoso brāhmaṇa fora atroz e incivilizado. Em consequência disso, estava angustiado.

Comentário

SIGNIFICADOO rei piedoso deplorou sua atitude acidental e imprópria contra o poderoso brāhmaṇa, que era impecável. Tal arrependimento é natural para um bom homem como o rei, e esse arrependimento livra o devoto de toda espécie de pecados cometidos acidentalmente. Os devotos são, por natureza, impecáveis. Os pecados acidentais cometidos por um devoto são consumidos no fogo do arrependimento.

Texto

dhruvaṁ tato me kṛta-deva-helanād
duratyayaṁ vyasanaṁ nāti-dīrghāt
tad astu kāmaṁ hy agha-niṣkṛtāya me
yathā na kuryāṁ punar evam addhā

Sinônimos

dhruvam — seguro e certo; tataḥ — portanto; me — minha; kṛtadeva-helanāt – por desobedecer às ordens do Senhor; duratyayam — muito difícil; vyasanam — calamidade; na — não; ati — grandemente; dīrghāt — remoto; tat — que; astu — que seja; kāmam — desejo sem reservas; hi — certamente; agha — pecados; niṣkṛtāya — para me livrar; me — meus; yathā — para que; na — nunca; kuryām — o faça; punaḥ — novamente; evam — como o fiz; addhā — diretamente.

Tradução

O rei Parīkṣit pensou:] Devido à minha negligência dos preceitos do Senhor Supremo, certamente devo esperar que alguma dificuldade me sobrevenha em um futuro próximo. Sem reservas, desejo que a calamidade venha logo, pois, dessa maneira, posso livrar-me da ação pecaminosa e não repetir semelhante ofensa.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Supremo prescreve que os brāhmaṇas e as vacas devem receber toda a proteção. O próprio Senhor sente-Se muito inclinado a fazer o bem aos brāhmaṇas e às vacas (go-brāhmaṇa-hitāya ca). Mahārāja Parīkṣit sabia de tudo isso e, assim, concluiu que seu insulto ao poderoso brāhmaṇa certamente seria punido pelas leis do Senhor, e ele estava esperando algo muito difícil em um futuro muito próximo. Portanto, ele desejou que a calamidade iminente caísse sobre ele e não sobre seus familiares. A má conduta pessoal de um homem afeta todos os seus familiares. Assim, Mahārāja Parīkṣit desejou que a calamidade caísse somente sobre ele. Por sofrer pessoalmente, ele se livraria de pecados futuros, e, ao mesmo tempo, o pecado que cometera seria neutralizado para que seus descendentes não sofressem. É assim que pensa um devoto responsável. Os membros familiares de um devoto também compartilham dos efeitos do serviço que ele presta ao Senhor. Mahārāja Prahlāda salvou seu pai demônio através de seu serviço devocional pessoal. Um filho devoto na família é a maior dádiva ou bênção do Senhor.

Texto

adyaiva rājyaṁ balam ṛddha-kośaṁ
prakopita-brahma-kulānalo me
dahatv abhadrasya punar na me ’bhūt
pāpīyasī dhīr dvija-deva-gobhyaḥ

Sinônimos

adya — este dia; eva — no próprio; rājyam — reino; balam ṛddha — força e riquezas; kośam — tesouro; prakopita — incendiados pelo; brahma-kula — pela comunidade brāhmaṇa; analaḥ — fogo; me dahatu — que ele me queime; abhadrasya — inauspiciosidade; punaḥ — novamente; na — não; me — a mim; abhūt — ocorra; pāpīyasī — pecaminoso; dhīḥ — inteligência; dvijabrāhmaṇas; deva — o Senhor Supremo; gobhyaḥ — e as vacas.

Tradução

Eu sou incivilizado e pecaminoso devido à minha negligência da cultura bramânica, da consciência de Deus e da proteção às vacas. Portanto, desejo que meu reino, força e riquezas se consumam de imediato no fogo da cólera do brāhmaṇa para que, no futuro, eu não seja guiado por essas atitudes inauspiciosas.

Comentário

SIGNIFICADO—Civilização humana progressista se baseia na cultura bramânica, na consciência de Deus e na proteção às vacas. Todo o desenvolvimento econômico do estado através de empreendimentos, comércio, agricultura e indústrias deve ser plenamente utilizado em relação com os princípios acima, pois, de outro modo, todo o dito desenvolvimento econômico torna-se uma fonte de degradação. Proteção às vacas significa alimentar a cultura bramânica, que leva à consciência de Deus, e, assim, alcança-se a perfeição da civilização humana. A era de Kali tem por objetivo aniquilar os princípios superiores da vida, e, embora Mahārāja Parīkṣit resistisse fortemente ao domínio da personalidade de Kali dentro do mundo, a influência da era de Kali veio num momento oportuno, e mesmo um rei forte como Mahārāja Parīkṣit foi induzido a desrespeitar a cultura bramânica devido a uma leve provocação da fome e da sede. Mahārāja Parīkṣit lamentou-se pelo acontecimento acidental e desejou que todo o seu reino, força e riqueza acumulada fossem queimados por não estarem sendo empregados na cultura bramânica etc.

Onde a riqueza e a força não são empregadas no avanço da cultura bramânica, da consciência de Deus e da proteção às vacas, o estado e o lar são certamente condenados pela Providência. Se queremos paz e prosperidade no mundo, devemos receber lições deste verso; todo estado e todo lar têm de se esforçar por fazer avançar a causa bramânica para autopurificação, a consciência de Deus para a autorrealização e a proteção às vacas com o objetivo de obter leite suficiente e o melhor alimento para continuar uma civilização perfeita.

Texto

sa cintayann ittham athāśṛṇod yathā
muneḥ sutokto nirṛtis takṣakākhyaḥ
sa sādhu mene na cireṇa takṣakā-
nalaṁ prasaktasya virakti-kāraṇam

Sinônimos

saḥ — ele, o rei; cintayan — pensando; ittham — assim; atha — agora; aśṛṇot — ouviu; yathā — como; muneḥ — do sábio; suta-uktaḥ — proferida pelo filho; nirṛtiḥ — morte; takṣaka-ākhyaḥ — em relação com a serpente alada; saḥ — ele (o rei); sādhu — ótima; mene — aceitou; na — não; cireṇa — tempo muito longo; takṣaka — serpente alada; analam — fogo; prasaktasya — para aquele que é demasiadamente apegado; virakti — indiferença; kāraṇam — causa.

Tradução

Enquanto o rei experimentava o arrependimento, recebeu a notícia de sua morte iminente, que se deveria à picada de uma serpente alada, ocasionada pela maldição proferida pelo filho do sábio. O rei aceitou isso como uma boa nova, pois isso seria a causa de sua indiferença às coisas mundanas.

Comentário

SIGNIFICADO—Alcança-se verdadeira felicidade pela existência espiritual ou pelo cessar da repetição de nascimentos e mortes. Somente voltando ao Supremo é que podemos parar com a repetição de nascimentos e mortes. No mundo material, mesmo que alcancemos o planeta supremo (Brahmaloka), não é possível nos livrarmos das condições de repetidos nascimentos e mortes, mas, ainda assim, não aceitamos o caminho da busca da perfeição. O caminho da perfeição livra-nos de todos os apegos materiais, e, assim, tornamo-nos aptos a entrar no reino espiritual. Portanto, aqueles que são materialmente miseráveis são melhores candidatos do que aqueles que são materialmente prósperos. Mahārāja Parīkṣit era um grande devoto do Senhor e um candidato autêntico a entrar no reino de Deus, mas, muito embora o fosse, seus bens materiais como imperador do mundo eram obstáculos à perfeita aquisição de seu status legítimo como um dos associados do Senhor no céu espiritual. Sendo um devoto do Senhor, ele podia entender que a maldição do menino brāhmaṇa, embora imprudente, foi uma bênção para ele, visto ser ela a causa de desapegá-lo dos afazeres mundanos, tanto políticos quanto sociais. Após lamentar-se pelo incidente, Śamīka Muni também transmitiu a notícia ao rei por uma questão de dever, para que o rei fosse capaz de preparar-se para voltar ao Supremo. Śamīka Muni enviou ao rei a notícia de que o tolo Śṛṅgi, seu filho, embora fosse um poderoso menino brāhmaṇa, abusara, infelizmente, de seu poder espiritual ao amaldiçoar o rei sem razão. O incidente em que o rei enguirlandou o muni não era causa suficiente para ele ser amaldiçoado à morte, mas, uma vez que não havia como retirar a maldição, o rei foi informado a fim de se preparar para a morte dentro de uma semana. Tanto Śamīka Muni quanto o rei eram almas autorrealizadas. Śamīka Muni era um místico, e Mahārāja Parīkṣit era um devoto. Portanto, não havia diferença entre eles quanto à autorrealização. Nenhum deles temia enfrentar a morte. Mahārāja Parīkṣit poderia ter ido ao muni para implorar seu perdão, mas a notícia da morte iminente foi transmitida ao rei com tanto arrependimento da parte do muni que o rei não quis envergonhar ainda mais o muni ficando ali em sua presença. Ele decidiu preparar-se para sua morte iminente e encontrar o caminho de volta ao Supremo.

A vida de um ser humano é uma oportunidade para se preparar para voltar ao Supremo, ou para livrar-se da existência material, a repetição de nascimentos e mortes. Desse modo, no sistema de varāśrama-dharma, todo homem e toda mulher são treinados para esse propósito. Em outras palavras, o sistema de varāśrama-dharma também é conhecido como sanātana-dharma, ou a ocupação eterna. O sistema de varāśrama-dharma prepara o homem para voltar ao Supremo, e, assim, um chefe de família é ordenado a ir para a floresta como vānaprastha para adquirir conhecimento completo e, então, tomar sannyāsa antes de sua morte inevitável. Parīkṣit Mahārāja teve a fortuna de receber um aviso de sete dias para enfrentar sua morte inevitável. Para o homem comum, no entanto, não há aviso definido, embora a morte seja inevitável para todos. Os homens tolos esquecem-se deste fato da morte certa e negligenciam o dever de preparar-se para voltar ao Supremo. Eles arruínam suas vidas nas propensões animais de comer, beber, divertir-se e desfrutar. Essa vida irresponsável é adotada pela população da era de Kali devido ao desejo pecaminoso de condenar a cultura bramânica, a consciência de Deus e a proteção às vacas, pelas quais o estado é responsável. O estado deve empregar fundos para avançar nesses três itens e, assim, educar a população a preparar-se para a morte. O estado que o faz é o verdadeiro estado próspero. Seria melhor que o estado da Índia seguisse os exemplos de Mahārāja Parīkṣit, o líder executivo ideal, ao invés de imitar outros estados materialistas que ignoram por completo o reino de Deus, a meta última da vida humana. A deterioração dos ideais da civilização indiana tem provocado a deterioração da vida cívica, não somente na Índia, mas também no exterior.

Texto

atho vihāyemam amuṁ ca lokaṁ
vimarśitau heyatayā purastāt
kṛṣṇāṅghri-sevām adhimanyamāna
upāviśat prāyam amartya-nadyām

Sinônimos

atho — assim; vihāya — abandonando; imam — essa; amum — e a próxima; ca — também; lokam — planetas; vimarśitau — sendo todos eles julgados; heyatayā — por causa da inferioridade; purastāt — anteriormente; kṛṣṇa-aṅghri — os pés de lótus do Senhor, Śrī Kṛṣṇa; sevām — transcendental serviço amoroso; adhimanyamānaḥ — aquele que pensa na maior de todas as aquisições; upāviśat — sentou-se firmemente; prāyam — para jejuar; amartya-nadyām — às margens do rio transcendental (o Ganges ou o Yamunā).

Tradução

Mahārāja Parīkṣit sentou-se estavelmente às margens do Ganges a fim de concentrar sua mente em consciência de Kṛṣṇa, rejeitando todas as outras práticas de autorrealização, porque o transcendental serviço amoroso a Kṛṣṇa é a maior aquisição, suplantando todos os outros métodos.

Comentário

SIGNIFICADO—Para um devoto como Mahārāja Parīkṣit, nenhum dos planetas materiais, mesmo o mais elevado, Brahmaloka, é tão desejável como Goloka Vṛndāvana, a morada do Senhor Śrī Kṛṣṇa, o Senhor primordial e a Personalidade de Deus original. Essa Terra é um dos inúmeros planetas materiais dentro do universo, e também há inúmeros universos dentro da extensão do mahat-tattva. O Senhor e Seus representantes, os mestres espirituais, ou ācāryas, dizem aos devotos que nenhum dos planetas dentro de todos os inúmeros universos é adequado para constituir a residência de um devoto. O devoto sempre deseja voltar ao lar, voltar ao Supremo, simplesmente para tornar-se um dos associados do Senhor na capacidade de servo, amigo, pai, mãe ou amante conjugal do Senhor, seja em algum dos inúmeros planetas Vaikuṇṭha, seja em Goloka Vṛndāvana, o planeta do Senhor Śrī Kṛṣṇa. Todos esses planetas estão eternamente situados no céu espiritual, o paravyoma, que está do outro lado do Oceano Causal, dentro do mahat-tattva. Mahārāja Parīkṣit já estava ciente dessa informação devido à sua piedade acumulada e ao nascimento em elevada família de devotos, vaiṣṇavas, de modo que ele não estava nem um pouco interessado nos planetas materiais. Os cientistas modernos estão muito ávidos por alcançar a Lua através de arranjos materiais, mas eles não podem conceber o planeta mais elevado deste universo. Um devoto como Mahārāja Parīkṣit, porém, não se interessa nem um pouco pela Lua, tampouco por algum planeta material. Desse modo, quando teve certeza de sua morte numa data fixa, ele ficou mais determinado no transcendental serviço amoroso ao Senhor Kṛṣṇa através do jejum completo às margens do rio Yamunā, que corre pela capital de Hastināpura (no estado de Delhi). Tanto o Ganges quanto o Yamunā são rios amartyā (transcendentais), e o Yamunā é ainda mais santificado pelas seguintes razões.

Texto

yā vai lasac-chrī-tulasī-vimiśra-
kṛṣṇāṅghri-reṇv-abhyadhikāmbu-netrī
punāti lokān ubhayatra seśān
kas tāṁ na seveta mariṣyamāṇaḥ

Sinônimos

— o rio que; vai — sempre; lasat — flutuando com; śrī-tulasī — folhas de tulasī; vimiśra — misturada; kṛṣṇaaṅghri – os pés de lótus do Senhor, Śrī Kṛṣṇa; reṇu — poeira; abhyadhika — auspiciosa; ambu água; netrī — aquele que transporta; punāti — santifica; lokān — planetas; ubhayatra — tanto os superiores quanto os inferiores, ou interna e externamente; sa-īśān — juntamente com o senhor Śiva; kaḥ — quem mais; tām — esse rio; na — não; seveta — adoram; mariṣyamāṇaḥ — aquele que está para morrer a qualquer momento.

Tradução

O rio [às margens do qual o rei sentou-se para jejuar] transporta a água mais auspiciosa, que está misturada com a poeira dos pés de lótus do Senhor e com folhas de tulasī. Portanto, essa água santifica os três mundos, interna e externamente, e santifica até mesmo o senhor Śiva e outros semideuses. Em consequência disso, todos que estão destinados a morrer devem refugiar-se nesse rio.

Comentário

SIGNIFICADO—Logo após receber a notícia de sua morte dentro de sete dias, Mahārāja Parīkṣit se retirou imediatamente da vida familiar e se deslocou para a margem sagrada do rio Yamunā. Em geral, declara-se que o rei se refugiou às margens do Ganges, mas, segundo Śrīla Jīva Gosvāmī, o rei refugiou-se às margens do Yamunā. A afirmação de Śrīla Jīva Gosvāmī parece ser mais acurada considerando a situação geográfica. Mahārāja Parīkṣit residia em sua capital, Hastināpura, situada perto da atual Delhi, e o rio Yamunā corre através da cidade. Naturalmente, o rei se refugiaria junto ao rio Yamunā, pois ele corria à porta de seu palácio. E, no que diz respeito à santidade, o rio Yamunā está mais diretamente relacionado com o Senhor Kṛṣṇa do que o Ganges. O Senhor santificou o rio Yamunā desde o começo de Seus passatempos transcendentais no mundo. Enquanto Seu pai Vasudeva cruzava o Yamunā com o bebê Senhor Kṛṣṇa em busca de lugar seguro em Gokula, na margem do rio que fica do outro lado de Mathurā, o Senhor caiu no rio, e o rio ficou imediatamente santificado com a poeira de Seus pés de lótus. Aqui se menciona em específico que Mahārāja Parīkṣit refugiou-se precisamente junto ao rio que flui com grande beleza, transportando a poeira dos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa, misturada com folhas de tulasī. Os pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa estão sempre besuntados com folhas de tulasī, e, assim, logo que Seus pés de lótus entram em contato com a água do Ganges e do Yamunā, os rios se tornam santificados. O Senhor, contudo, entrou mais em contato com a água do Yamunā do que com a do Ganges. Segundo o Varāha Purāṇa, como é citado por Śrīla Jīva Gosvāmī, não há diferença entre a água do Ganges e do Yamunā, mas, quando a água do Ganges é santificada cem vezes, ele se chama Yamunā. De forma semelhante, afirma-se nas escrituras que mil nomes de Viṣṇu equivalem a um nome de Rāma, e três nomes do Senhor Rāma equivalem a um nome de Kṛṣṇa.

Texto

iti vyavacchidya sa pāṇḍaveyaḥ
prāyopaveśaṁ prati viṣṇu-padyām
dadhau mukundāṅghrim ananya-bhāvo
muni-vrato mukta-samasta-saṅgaḥ

Sinônimos

iti — desse modo; vyavacchidya — tendo decidido; saḥ — o rei; pāṇḍaveyaḥ — digno descendente dos Pāṇḍavas; prāyaupaveśam – para jejuar até a morte; prati — em direção a; viṣṇupadyām – às margens do Ganges (emanando dos pés de lótus do Senhor Viṣṇu); dadhau abandonou-se; mukunda-aṅghrim — aos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa; ananya — sem desvios; bhāvaḥ — espírito; muni-vrataḥ — com os votos de um sábio; mukta — liberado de; samasta — todas as espécies de; saṅgaḥ — associação.

Tradução

Desse modo, o rei, o digno descendente dos Pāṇḍavas, decidiu, de uma vez por todas, sentar-se às margens do Ganges para jejuar até a morte e abandonar-se aos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa, quem, por Si só, é capaz de conceder a liberação. Assim, livrando-se de todos os tipos de associações e apegos, aceitou os votos de um sábio.

Comentário

SIGNIFICADO—A água do Ganges santifica todos os três mundos, incluindo os deuses e semideuses, porque emana dos pés de lótus da Personalidade de Deus Viṣṇu. O Senhor Kṛṣṇa é o manancial do princípio de viṣṇu-tattva, e, portanto, o refúgio de Seus pés de lótus pode livrar uma pessoa de todos os pecados, inclusive de ofensa cometida por um rei contra um brāhmaṇa. Mahārāja Parīkṣit, portanto, decidiu meditar nos pés de lótus do Senhor Śrī Kṛṣṇa, que é Mukunda, ou o outorgante das liberações de todo tipo. As margens do Ganges ou do Yamunā nos dão uma oportunidade de nos lembrarmos do Senhor continuamente. Mahārāja Parīkṣit livrou-se de todos os tipos de associação material e meditou nos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa; este é o processo da liberação. Livrar-se de toda a associação material significa parar completamente de cometer quaisquer pecados posteriores. Meditar nos pés de lótus do Senhor significa livrar-se dos efeitos de todos os pecados anteriores. As condições do mundo material são feitas de tal forma que uma pessoa tende a cometer pecados voluntária ou involuntariamente, e o melhor exemplo é o próprio Mahārāja Parīkṣit, que era um rei reconhecidamente impecável e piedoso. Ele, entretanto, também se tornou vítima de uma ofensa, muito embora jamais tivesse desejado cometer semelhante erro. Ele também foi amaldiçoado, mas, porque era um grande devoto do Senhor, mesmo esses reveses da vida se tornaram favoráveis. O princípio é que uma pessoa não deve cometer voluntariamente nenhum pecado em sua vida e deve lembrar-se constantemente dos pés de lótus do Senhor, sem desvios. Somente em tal estado de espírito o Senhor ajudará o devoto a fazer progresso regular rumo ao caminho da liberação e, desse modo, alcançar os pés de lótus do Senhor. Mesmo que haja pecados acidentais cometidos pelos devotos, o Senhor salva a alma rendida de todos os pecados, como se confirma em todas as escrituras.

sva-pāda-mūlaṁ bhajataḥ priyasya
tyaktāny abhāvasya hariḥ pareśaḥ
vikarma yac cotpatitaṁ kathañcid
dhunoti sarvaṁ hṛdi sanniviṣṭaḥ 

(Bhāg. 11.5.42)

Texto

tatropajagmur bhuvanaṁ punānā
mahānubhāvā munayaḥ sa-śiṣyāḥ
prāyeṇa tīrthābhigamāpadeśaiḥ
svayaṁ hi tīrthāni punanti santaḥ

Sinônimos

tatra — ali; upajagmuḥ — chegaram; bhuvanam — o universo; punānāḥ — aqueles que podem santificar; maha-anubhāvāḥ — grandes gênios; munayaḥ — pensadores; sa-śiṣyāḥ — juntamente com seus discípulos; prāyeṇa — quase; tīrtha — lugar de peregrinação; abhigama — jornada; apadeśaiḥ — com a alegação de; svayam — pessoalmente; hi — decerto; tīrthāni — todos os lugares de peregrinação; punanti — santificam; santaḥ — sábios.

Tradução

Nesse momento, todos os grandes gênios e pensadores, acompanhados por seus discípulos, junto com sábios que podiam santificar um lugar de peregrinação simplesmente por sua presença, ali chegaram alegando estarem fazendo uma jornada de peregrinação.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando Mahārāja Parīkṣit sentou-se às margens do Ganges, a notícia espalhou-se em todas as direções do universo, e os sábios de espírito aberto, que puderam perceber a importância da ocasião, chegaram todos ali alegando uma peregrinação. Na verdade, chegaram ali para encontrar-se com Mahārāja Parīkṣit, e não para tomar um banho de peregrinação, porque todos eles eram competentes o bastante para santificar os lugares de peregrinação. Os homens comuns vão aos locais de peregrinação para se purificarem de todos os pecados. Assim, os locais de peregrinação sobrecarregam-se com os pecados dos outros. Porém, quando esses sábios visitam os sobrecarregados locais de peregrinação, eles santificam os locais graças à sua presença. Portanto, os sábios que foram até ali para se encontrar com Mahārāja Parīkṣit não estavam muito interessados, como os homens comuns, em eles mesmos se purificarem, mas, sob a alegação de banharem-se naquele lugar, foram para se encontrar com Mahārāja Parīkṣit, porque puderam prever que o Śrīmad-Bhāgavatam seria falado por Śukadeva Gosvāmī. Todos eles queriam aproveitar-se da grande ocasião.

Texto

atrir vasiṣṭhaś cyavanaḥ śaradvān
ariṣṭanemir bhṛgur aṅgirāś ca
parāśaro gādhi-suto ’tha rāma
utathya indrapramadedhmavāhau
medhātithir devala ārṣṭiṣeṇo
bhāradvājo gautamaḥ pippalādaḥ
maitreya aurvaḥ kavaṣaḥ kumbhayonir
dvaipāyano bhagavān nāradaś ca

Sinônimos

de atri a nārada — todos são nomes das diferentes personalidades santas que ali chegaram de diferentes partes do universo.

Tradução

De diferentes partes do universo, ali chegaram sábios como Atri, Cyavana, Śaradvān, Ariṣṭanemi, Bhṛgu, Vasiṣṭha, Parāśara, Viśvāmitra, Aṅgirā, Paraśurāma, Utathya, Indrapramada, Idhmavāhu, Medhātithi, Devala, Ārṣṭiṣeṇa, Bhāradvāja, Gautama, Pippalāda, Maitreya, Aurva, Kavaṣa, Kumbhayoni, Dvaipāyana e a grande personalidade Nārada.

Comentário

Cyavana: Um grande sábio e um dos filhos de Bhṛgu Muni. Nasceu prematuramente quando sua mãe, grávida, foi raptada. Cyavana é um dos seis filhos desse pai.

Bhṛgu: Quando Brahmājī estava executando um grande sacrifício em favor de Varuṇa, Maharṣi Bhṛgu nasceu do fogo sacrificatório. Ele era um grande sábio, e Pulomā era sua esposa muito querida. Ele podia viajar no espaço como Durvāsā, Nārada e outros, e costumava visitar todos os planetas do universo. Antes da Guerra de Kurukṣetra, ele tentou parar a batalha. Às vezes, instruía Bhāradvāja Muni sobre evolução astronômica, e é o autor da grandiosa Bhṛgu-saṁhitā, o maravilhoso cálculo astrológico. Explicou como o ar, o fogo, a água e a terra geram-se a partir do éter. Explicou como o ar no estômago funciona e regula os intestinos. Como um grande filósofo, estabeleceu logicamente a eternidade da entidade viva (Mahābhārata). Era também um grande antropólogo, e a teoria da evolução foi explicada por ele muito tempo atrás. Era um propositor científico das quatros divisões e ordens da sociedade humana, conhecidas como a instituição varṇāśrama. Converteu o rei kṣatriya Vītahavya em brāhmaṇa.

Vasiṣṭha: Vide Śrīmad-Bhāgavatam 1.9.6.

Parāśara: Neto de Vasiṣṭha Muni e pai de Vyāsadeva. É filho de Maharṣi Śakti, e sua mãe chamava-se Adṛśyatī. Ele estava no ventre de sua mãe quando ela tinha apenas doze anos de idade. E, de dentro do ventre da mãe, aprendeu os Vedas. Seu pai foi morto por um demônio, Kalmāṣapāda, e, para vingar-se disso, quis aniquilar o mundo inteiro. Contudo, foi refreado por seu avô, Vasiṣṭha. Então, ele realizou um yajña de matança de rākṣasas, mas Maharṣi Pulastya o parou. Ele gerou Vyāsadeva, sendo atraído por Satyavatī, que se tornaria esposa de Mahārāja Śāntanu. Pelas bênçãos de Parāśara, Satyavatī ficou perfumada com um aroma que se propagava por quilômetros. Também esteve presente durante a ocasião da morte de Bhīṣma. Foi o mestre espiritual de Mahārāja Janaka e grande devoto do senhor Śiva. É o autor de muitas escrituras védicas e orientações sociológicas.

Gādhi-suta, ou Viśvāmitra: Um grande sábio austero e dotado de poder místico. É famoso como Gādhi-suta porque seu pai foi Gādhi, o poderoso rei da província Kanyākubja (parte de Uttara Pradesh). Embora fosse kṣatriya por nascimento, tornou-se brāhmaṇa no mesmo corpo devido ao poder de suas conquistas espirituais. Ele se desentendeu com Vasiṣṭha Muni quando era rei kṣatriya e executou um grande sacrifício em cooperação com Maṭaṅga Muni, em razão do que foi capaz de exterminar os filhos de Vasiṣṭha. Tornou-se um grande yogī, apesar do que não conseguiu restringir seus sentidos, sendo, desse modo, obrigado a tornar-se o pai de Śakuntalā, a bela rainha da história mundial. Certa vez, quando era rei kṣatriya, visitou o eremitério de Vasiṣṭha Muni e teve uma recepção real. Viśvāmitra queria de Vasiṣṭha uma vaca chamada Nandinī, e o Muni se recusou a dá-la. Viśvāmitra roubou a vaca, em virtude do que houve uma desavença entre o sábio e o rei. Viśvāmitra foi derrotado pela força espiritual de Vasiṣṭha, e, assim, o rei decidiu tornar-se um brāhmaṇa. Antes de tornar-se brāhmaṇa, submeteu-se a severas austeridades às margens do Kauśika. Também foi um dos que tentaram parar a Guerra de Kurukṣetra.

Aṅgirā: É um dos seis filhos mentais de Brahmā e pai de Bṛhaspati, o grande sacerdote erudito dos semideuses nos planetas celestiais. Nasceu do sêmen de Brahmājī oferecido a uma brasa. Utathya e Saṁvarta são filhos dele. Afirma-se que ele ainda está executando austeridade e cantando o santo nome do Senhor no lugar conhecido como Alokānanda, às margens do Ganges.

Paraśurāma: Vide Śrīmad-Bhāgavatam 1.9.6.

Utathya: Um dos três filhos de Maharṣi Aṅgirā. Foi o mestre espiritual de Mahārāja Mandhātā. Casou-se com Bhadrā, a filha de Soma (a Lua). Varuṇa raptou sua esposa Bhadrā, e, para vingar-se da ofensa do deus da água, ele bebeu toda a água do mundo.

Medhātithi: Um velho sábio de outrora. Membro da assembleia do rei celestial Indradeva. Seu filho foi Kaṇva Muni, que criou Śakuntalā na floresta. Foi promovido ao planeta celestial por seguir estritamente os princípios da vida retirada (vānaprastha).

Devala: Uma grande autoridade como Nārada Muni e Vyāsadeva. Seu bom nome está na lista das autoridades mencionadas na Bhagavad-gītā quando Arjuna reconheceu o Senhor Kṛṣṇa como a Suprema Personalidade de Deus. Encontrou-se com Mahārāja Yudhiṣṭhira após a Guerra de Kurukṣetra, e era o irmão mais velho de Dhaumya, o sacerdote da família Pāṇḍava. Assim como os kṣatriyas, ele também permitiu que sua filha escolhesse seu próprio esposo em um encontro svayaṁvara, para o qual todos os filhos solteiros dos ṛṣis foram convidados. Segundo alguns, ele não é Asita Devala.

Bhāradvāja: Vide Śrīmad-Bhāgavatam 1.9.6.

Gautama: Um dos sete grandes sábios do universo. Śaradvān Gautama foi um de seus filhos. As pessoas no Gautama-gotra (dinastia) são hoje ou seus descendentes familiares ou descendentes em sua sucessão discipular. Os brāhmaṇas que professam o Gautama-gotra geralmente são descendentes familiares, e os kṣatriyas e vaiśyas que professam o Gautama-gotra estão todos na linha de sua sucessão discipular. Ele era o esposo da famosa Ahalyā, que se transformou numa pedra quando Indradeva, o rei do céu, a molestou. Ahalyā foi libertada pelo Senhor Rāmacandra. Gautama era avô de Kṛpācārya, um dos heróis da Guerra de Kurukṣetra.

Maitreya: Um grande ṛṣi de outrora. Foi o mestre espiritual de Vidura e uma grande autoridade religiosa. Aconselhou Dhṛtarāṣṭra a manter boas relações com os Pāṇḍavas. Duryodhana discordou e, assim, foi amaldiçoado por ele. Encontrou-se com Vyāsadeva e fez debates religiosos com ele.

Texto

anye ca devarṣi-brahmarṣi-varyā
rājarṣi-varyā aruṇādayaś ca
nānārṣeya-pravarān sametān
abhyarcya rājā śirasā vavande

Sinônimos

anye — muitos outros; ca — também; devarṣi — semideuses santos; brahmarṣibrāhmaṇas santos; varyāḥ — mais elevados; rājarṣi-varyāḥ — reis santos mais elevados; aruṇa-ādayaḥ — um gênero especial de rājarṣis; ca — e; nānā — muitos outros; ārṣeyapravarān – principais entre as dinastias dos sábios; sametān — reuniram-se; abhyarcya — adorando; rājā — o imperador; śirasā — prostrou-se com sua cabeça no chão; vavande — deu boas-vindas.

Tradução

Também havia muitos outros semideuses santos, reis e ordens reais especiais chamadas aruṇādayas [um gênero especial de rājarṣis] de diferentes dinastias de sábios. Quando todos eles se reuniram para encontrar-se com o imperador [Parīkṣit], esse os recebeu apropriadamente e prostrou-se com sua cabeça no chão.

Comentário

SIGNIFICADO—O sistema de prostrar-se com a cabeça no chão para demonstrar respeito aos superiores é uma excelente etiqueta que deixa o visitante honrado agradecido no fundo de seu coração. Mesmo um ofensor de primeiro grau é perdoado simplesmente por esse processo, e Mahārāja Parīkṣit, embora honrado por todos os ṛṣis e reis, deu boas-vindas a todos os grandes homens com essa humilde etiqueta, a fim de ser perdoado de quaisquer ofensas. Geralmente, na última fase da vida, todo homem sensato adota esse método para ser perdoado antes da partida. Dessa maneira, Mahārāja Parīkṣit implorou a benevolência de todos para voltar ao lar, voltar ao Supremo.

Texto

sukhopaviṣṭeṣv atha teṣu bhūyaḥ
kṛta-praṇāmaḥ sva-cikīrṣitaṁ yat
vijñāpayām āsa vivikta-cetā
upasthito ’gre ’bhigṛhīta-pāṇiḥ

Sinônimos

sukha — alegremente; upaviṣṭeṣu — todos se sentaram; acha — logo a seguir; teṣu — a eles (os visitantes); bhūyaḥ — novamente; kṛta-praṇāmaḥ — tendo oferecido reverências; sva — sua própria; cikīrṣitam — decisão de jejuar; yat — quem; vijñāpayām āsa — submeteu; vivikta-cetāḥ — aquele cuja mente está desapegada dos afazeres mundanos; upasthitaḥ — estando presente; agre — diante deles; abhigṛhītapāṇiḥ – humildemente, com mãos postas.

Tradução

Depois que todos os ṛṣis e outros sentaram-se confortavelmente, o rei, permanecendo humildemente diante deles de mãos juntas, falou-lhes de sua decisão de jejuar até a morte.

Comentário

SIGNIFICADO—Embora o rei já tivesse decidido jejuar até a morte às margens do Ganges, ele expressou humildemente sua decisão para verificar a opinião das grandes autoridades ali presentes. Qualquer decisão importante, mesmo se já decidida muito fortemente, deve ser confirmada por alguma autoridade. Isso torna o assunto perfeito. Isso significa que os monarcas que governavam a Terra naqueles dias não eram ditadores irresponsáveis. Eles seguiam escrupulosamente as decisões autorizadas dos santos e sábios em termos do preceito védico. Mahārāja Parīkṣit, sendo um rei perfeito, seguiu os princípios ao consultar as autoridades, mesmo até os últimos dias de sua vida.

Texto

rājovāca
aho vayaṁ dhanyatamā nṛpāṇāṁ
mahattamānugrahaṇīya-śīlāḥ
rājñāṁ kulaṁ brāhmaṇa-pāda-śaucād
dūrād visṛṣṭaṁ bata garhya-karma

Sinônimos

rājā uvāca — o afortunado rei disse; aho — oh!; vayam — nós; dhanya-tamāḥ — mais agradecido; nṛpāṇām — de todos os reis; mahat-tama — das grandes almas; anugrahaṇīyaśīlāḥ – treinados para obter favores; rājñām — das reais; kulam — ordens; brāhmaṇapāda – pés dos brāhmaṇas; śaucāt — lixo após a limpeza; dūrāt — à distância; visṛṣṭam — sempre deixado; bata — por causa de; garhya — condenáveis; karma — atividades.

Tradução

O afortunado rei disse: Na verdade, somos o mais grato de todos os reis que são treinados para obter favores das grandes almas. Em geral, vós [sábios] considerais a realeza como um lixo a ser rejeitado e deixado em algum lugar distante.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo os princípios religiosos, o excremento, a urina, a água que limpou algo etc. devem ser mantidos longe. Banheiros conjugados, urinóis etc. podem ser amenidades muito convenientes da civilização moderna, mas ordena-se que estejam situados à distância das áreas residenciais. Aqui, cita-se esse mesmo exemplo em relação à ordem real para aqueles que estão marchando progressivamente de volta ao Supremo. O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu disse que estar em contato íntimo com homens de pensam apenas em dinheiro, ou a ordem real, é pior que suicídio para alguém que deseja voltar ao Supremo. Em outras palavras, geralmente os transcendentalistas não se associam com homens que são demasiadamente enamorados da beleza externa da criação de Deus. Através do avanço do conhecimento em compreensão espiritual, o transcendentalista sabe que este belo mundo material nada mais é que um reflexo sombrio da realidade, o reino de Deus. Portanto, a opulência real ou qualquer coisa semelhante não os cativam muito. Mas, no caso de Mahārāja Parīkṣit, a situação era diferente. Aparentemente, o rei estava condenado à morte por um inexperiente menino brāhmaṇa, mas, na realidade, foi chamado pelo Senhor a se voltar para Ele. Outros transcendentalistas, os grandes sábios e místicos que se reuniram por causa do jejum de Mahārāja Parīkṣit até a morte, estavam completamente ansiosos por vê-lo, pois ele estava voltando ao Supremo. Mahārāja Parīkṣit também pôde entender que os grandes sábios que se reuniram ali foram todos bondosos com seus antepassados, os Pāṇḍavas, por causa do serviço devocional que os Pāṇḍavas prestaram ao Senhor. Portanto, sentiu-se agradecido aos sábios por estarem ali presentes na última fase de sua vida, e sentiu que tudo isso se devia à grandeza de seus falecidos antepassados ou avós. Assim, orgulhou-se de calhar de ser descendente de devotos tão grandiosos. Esse orgulho dos devotos do Senhor certamente não é igual ao inflado senso de vaidade por causa da prosperidade material. O primeiro é uma realidade, ao passo que o outro é falso e sem utilidade.

Texto

tasyaiva me ’ghasya parāvareśo
vyāsakta-cittasya gṛheṣv abhīkṣṇam
nirveda-mūlo dvija-śāpa-rūpo
yatra prasakto bhayam āśu dhatte

Sinônimos

tasya — dele; eva — certamente; me — meu; aghasya — do pecaminoso; parā — transcendental; avara — mundano; īśaḥ — controlador, o Senhor Supremo; vyāsakta — demasiadamente apegado; cittasya — da mente; gṛheṣu — aos afazeres familiares; abhīkṣṇam — sempre; nirvedamūlaḥ a fonte do desapego; dvijaśāpa – maldição do brāhmaṇa; rūpaḥ — forma de; yatra — após o que; prasaktaḥ — aquele que é afetado; bhayam — temor; āśu — muito em breve; dhatte — ocorre.

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus, o controlador tanto do mundo transcendental quanto do mundo mortal, amavelmente me alcançou na forma da maldição de um brāhmaṇa. Por eu ser demasiadamente apegado à vida familiar, o Senhor, a fim de me salvar, apareceu diante de mim de tal maneira que, somente por temor, eu me desapegarei do mundo.

Comentário

SIGNIFICADO—Mahārāja Parīkṣit, embora nascido em família de grandes devotos, os Pāṇḍavas, e embora seguramente treinado no transcendental apego à companhia do Senhor, ainda assim achava tão forte o encanto da vida familiar mundana que teve que se desapegar graças a um plano do Senhor. O Senhor toma tal ação direta no caso de um devoto especial. Mahārāja Parīkṣit pôde entender isso devido à presença dos mais elevados transcendentalistas do universo. O Senhor reside com Seus devotos, e, por isso, a presença dos grandes santos indicava a presença do Senhor. Portanto, o rei deu boas-vindas à presença dos grandes ṛṣis considerando-a uma graça do Senhor Supremo.

Texto

taṁ mopayātaṁ pratiyantu viprā
gaṅgā ca devī dhṛta-cittam īśe
dvijopasṛṣṭaḥ kuhakas takṣako vā
daśatv alaṁ gāyata viṣṇu-gāthāḥ

Sinônimos

tam — por esta razão; — me; upayātam — refugiado em; pratiyantu — simplesmente aceitai-me; viprāḥ — ó brāhmaṇas; gaṅgā — mãe Ganges; ca — também; devī — representante direta do Senhor; dhṛta — acolhidos; cittam — coração; īśe — ao Senhor; dvijaupasṛṣṭaḥ – criada pelo brāhmaṇa; kuhakaḥ — algo mágico; takṣakaḥ — a serpente alada; — ou; daśatu — que pique; alam — sem mais demora; gāyata — por favor, continuai cantando; viṣṇu-gāthāḥ — narração das façanhas de Viṣṇu.

Tradução

Ó brāhmaṇas, apenas aceitai-me como uma alma rendida por inteiro e deixai que a mãe Ganges, a representante do Senhor, também me aceite dessa maneira, pois já acolhi os pés de lótus do Senhor em meu coração. Que a serpente alada – ou qualquer coisa mágica que o brāhmaṇa tenha criado – pique-me de uma vez. Somente desejo que todos vós continueis cantando os feitos do Senhor Viṣṇu.

Comentário

SIGNIFICADO—Logo que uma pessoa se abandona completamente aos pés de lótus do Senhor Supremo, ela não teme nem um pouco a morte. A atmosfera criada pela presença de grandes devotos do Senhor às margens do Ganges e a completa aceitação dos pés de lótus do Senhor por parte de Mahārāja Parīkṣit foram garantias suficientes para o rei voltar ao Supremo. Assim, ele se livrou absolutamente de todo o medo da morte.

Texto

punaś ca bhūyād bhagavaty anante
ratiḥ prasaṅgaś ca tad-āśrayeṣu
mahatsu yāṁ yām upayāmi sṛṣṭiṁ
maitry astu sarvatra namo dvijebhyaḥ

Sinônimos

punaḥ — mais uma vez; ca — e; bhūyāt — que seja; bhagavati — ao Senhor Śrī Kṛṣṇa; anante — que tem potência ilimitada; ratiḥ — atraente; prasaṅgaḥ — companhia; ca — também; tat — Seus; āśrayeṣu — com aqueles que são Seus devotos; mahatsu — dentro da criação material; yām yām — onde quer que; upayāmi — eu tome; sṛṣṭim — meu nascimento; maitrī — relação amistosa; astu — que seja; sarvatra — em toda a parte; namaḥ — minhas reverências; dvijebhyaḥ — aos brāhmaṇas.

Tradução

Ó brāhmaṇas, oferecendo reverências a todos vós, oro mais uma vez que, se eu tiver de renascer no mundo material, eu tenha completo apego ao ilimitado Senhor Kṛṣṇa, a companhia de Seus devotos e relações amistosas com todos os seres vivos.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqui, Mahārāja Parīkṣit explica que o devoto do Senhor é o único ser vivo perfeito. O devoto do Senhor não é inimigo de ninguém, mesmo que existam muitos inimigos do devoto. O devoto do Senhor não gosta de se associar com não-devotos, embora não nutra inimizade contra eles. Ele deseja a companhia dos devotos do Senhor. Isso é perfeitamente natural, pois os pássaros da mesma plumagem convivem bem entre si. E a função mais importante do devoto é ter completo apego ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, o pai de todos os seres vivos. Assim como um bom filho do pai comporta-se de maneira amistosa com todos os seus outros irmãos, o devoto do Senhor também, sendo um bom filho do pai supremo, o Senhor Kṛṣṇa, vê todos os outros seres vivos em relação com o pai supremo. Ele tenta trazer os filhos arrogantes do pai de volta a um estágio sadio, para levá-los a aceitar a paternidade suprema de Deus. Mahārāja Parīkṣit estava certamente voltando ao Supremo, mas, mesmo se não voltasse, orou por um padrão de vida que é o caminho mais perfeito no mundo material. O devoto puro não deseja a companhia de personalidades tão grandiosas como Brahmā, mas prefere a companhia de um ser vivo minúsculo, desde que ele seja devoto do Senhor.

Texto

iti sma rājādhyavasāya-yuktaḥ
prācīna-mūleṣu kuśeṣu dhīraḥ
udaṅ-mukho dakṣiṇa-kūla āste
samudra-patnyāḥ sva-suta-nyasta-bhāraḥ

Sinônimos

iti — assim; sma — como no passado; rājā — o rei; adhyavasāya — perseverança; yuktaḥ — estando ocupado; prācīna — oriental; mūleṣu — com a raiz; kuśeṣu — num assento feito de palha kuśa; dhīraḥ — autocontrolado; udaṇmukhaḥ – de frente para o lado norte; dakṣiṇa — no sul; kūle — margem; āste — situado; samudra — o mar; patnyāḥ — esposa (do Ganges); sva — próprio; suta — filho; nyasta — confiou; bhāraḥ — o cargo da administração.

Tradução

Com perfeito autocontrole, Mahārāja Parīkṣit sentou-se num assento de palha, com as raízes da palha voltadas para o leste, colocado na margem sul do Ganges, e ele ficou de frente para o norte. Um pouco antes, dera a posse de seu reino ao seu filho.

Comentário

SIGNIFICADO—O rio Ganges é célebre como a esposa do mar. O assento de palha kuśa é considerado santificado se a palha é arrancada completamente da terra com raiz, e, se a raiz está apontada em direção ao leste, isso é considerado auspicioso. Ficar de frente para o norte é ainda mais favorável para alcançar o sucesso espiritual. Mahārāja Parīkṣit passou a responsabilidade da administração para seu filho antes de deixar o lar. Assim, ele estava plenamente equipado com todas as condições favoráveis.

Texto

evaṁ ca tasmin nara-deva-deve
prāyopaviṣṭe divi deva-saṅghāḥ
praśasya bhūmau vyakiran prasūnair
mudā muhur dundubhayaś ca neduḥ

Sinônimos

evam — desse modo; ca — e; tasmin — naquele; naradevadeve – às do rei; prāyaupaviṣe – estando ocupado em jejuar até a morte; divi — no céu; deva — semideuses; saṅghāḥ — todos eles; praśasya — tendo louvado a ação; bhūmau — sobre a Terra; vyakiran — espalharam; prasūnaiḥ — com flores; mudā — com grande prazer; muhuḥ — continuamente; dundubhayaḥ — tambores celestiais; ca — também; neduḥ — tocados.

Tradução

Dessa maneira se sentou o rei, Mahārāja Parīkṣit, para jejuar até a morte. Todos os semideuses dos planetas superiores louvaram as ações do rei e, com grande prazer, espalharam flores continuamente sobre a Terra e tocaram tambores celestiais.

Comentário

SIGNIFICADO—Mesmo até a época de Mahārāja Parīkṣit, havia comunicações interplanetárias, e a notícia do jejum de Mahārāja Parīkṣit até a morte, para alcançar a salvação, alcançou os planetas superiores no céu, onde vivem os inteligentes semideuses. Os semideuses são mais luxuriosos que os seres humanos, mas todos eles são obedientes às ordens do Senhor Supremo. Não há ninguém nos planetas celestiais que seja ateísta ou descrente. Assim, qualquer devoto do Senhor sobre a face da Terra é sempre louvado por eles, e, no caso de Mahārāja Parīkṣit, eles se deleitaram grandemente e, desse modo, deram sinais de honra ao espalhar flores sobre a Terra e ao tocar tambores celestiais. Os semideuses sentem prazer em ver alguém voltar ao Supremo. Eles sempre estão satisfeitos com o devoto do Senhor, tanto que, através de seus poderes adhidáivicos, podem ajudar os devotos sob todos os aspectos. E o Senhor fica satisfeito com eles por suas ações. Há uma corrente invisível de completa cooperação entre o Senhor, os semideuses e o devoto do Senhor na Terra.

Texto

maharṣayo vai samupāgatā ye
praśasya sādhv ity anumodamānāḥ
ūcuḥ prajānugraha-śīla-sārā
yad uttama-śloka-guṇābhirūpam

Sinônimos

maharṣayaḥ — os grandes sábios; vai — naturalmente; samupāgatāḥ — ali reunidos; ye — aqueles que; praśasya — louvando; sādhu — tudo bem; iti — assim; anumodamānāḥ — todos aprovando; ūcuḥ — falaram; prajā-anugraha — fazendo o bem ao ser vivo; śīlasārāḥ – qualitativamente poderosos; yat — porque; uttama-śloka — aquele que é louvado por poemas seletos; guṇa-abhirūpam — tão belas quanto qualidades divinas.

Tradução

Todos os grandes sábios que estavam ali reunidos louvaram a decisão de Mahārāja Parīkṣit e expressaram sua aprovação dizendo: “Excelente!” Naturalmente, os sábios são propensos a fazer o bem aos homens comuns, haja vista que possuem todos os poderes qualitativos do Senhor Supremo. Eles, portanto, estavam satisfeitíssimos em ver Mahārāja Parīkṣit, um devoto do Senhor, e falaram da seguinte maneira.

Comentário

SIGNIFICADO—A beleza natural de um ser vivo é realçada pela elevação à plataforma do serviço devocional. Mahārāja Parīkṣit estava absorto no apego ao Senhor Kṛṣṇa. Vendo isso, os grandes sábios reunidos ficaram muito satisfeitos e expressaram sua aprovação ao dizer: “Excelente!” Esses sábios são naturalmente propensos a fazer o bem ao homem comum, e, quando veem uma personalidade como Mahārāja Parīkṣit avançar em serviço devocional, seu prazer não conhece limites, e eles oferecem todas as bênçãos de que dispõem. O serviço devocional ao Senhor é tão auspicioso que todos os semideuses e sábios, até o próprio Senhor, ficam satisfeitos com o devoto, daí o devoto achar tudo auspicioso. Todas as coisas inauspiciosas são removidas do caminho de um devoto progressista. Encontrar-se com todos os grandes sábios no momento da morte foi certamente auspicioso para Mahārāja Parīkṣit, e para ele, então, foi uma bênção a dita maldição de um menino brāhmaṇa.

Texto

na vā idaṁ rājarṣi-varya citraṁ
bhavatsu kṛṣṇaṁ samanuvrateṣu
ye ’dhyāsanaṁ rāja-kirīṭa-juṣṭaṁ
sadyo jahur bhagavat-pārśva-kāmāḥ

Sinônimos

na — nem; — assim; idam — isso; rājarṣi — rei santo; varya — o principal; citram — surpreendente; bhavatsu — a todos vós; kṛṣṇam — Senhor Kṛṣṇa; samanuvrateṣu — àqueles que estão estritamente na linha do; ye — quem; adhyāsanam — sentado no trono; rājakirīṭa – elmos dos reis; juṣṭam — decorado; sadyaḥ — imediatamente; jahuḥ — abandonado; bhagavat — a Personalidade de Deus; pārśva-kāmāḥ — desejando alcançar a companhia.

Tradução

[Os sábios disseram:] Ó principal de todos os reis santos da dinastia Pāṇḍu que estão estritamente na linha do Senhor Śrī Kṛṣṇa! Não é nada surpreendente que tenhas abandonado teu trono, que está decorado com os elmos de muitos reis, para alcançar a companhia eterna da Personalidade de Deus.

Comentário

SIGNIFICADO—Os políticos tolos que mantêm postos administrativos pensam que os postos temporários que ocupam são o máximo ganho material da vida, de modo que eles se aferram a esses postos mesmo até o último momento da vida, sem saber que alcançar a liberação como um dos companheiros do Senhor em Sua morada eterna é o ganho máximo da vida. A vida humana destina-se a alcançar esse fim. O Senhor nos garante muitas vezes na Bhagavad-gītā que voltar ao Supremo, Sua morada eterna, é a aquisição máxima. Prahlāda Mahārāja, enquanto orava ao Senhor Nṛsiṁha, disse: “Ó meu Senhor, tenho muito medo do modo de vida materialista, e não tenho o menor medo de Vosso presente aspecto assustador e feroz como Nṛsiṁhadeva. Esse modo de vida materialista é algo semelhante a uma pedra molar, e estamos sendo esmagados por ela. Caímos neste horrível redemoinho das ondas encrespadas da vida, e assim, meu Senhor, oro a Vossos pés de lótus para que me chameis de volta a Vossa morada como um de Vossos servos. Essa é a liberação culminante deste modo de vida materialista. Tenho uma experiência muito amarga do modo de vida materialista. Em qualquer das espécies de vida em que tenha nascido, compelido pela força de minhas próprias atividades, tenho dolorosamente experimentado duas coisas, ou seja, a separação das coisas amadas e o encontro com o que é indesejável. E, para neutralizá-las, os remédios que tomei foram mais perigosos que a própria doença. Assim, errei de um ponto a outro, nascimento após nascimento, e, assim sendo, oro que me concedeis refúgio a Vossos pés de lótus.”

Os reis Pāṇḍavas, que são maiores que muitos santos do mundo, conheciam os resultados amargos do modo de vida materialista. Eles jamais se sentiram cativados pelo fulgor do trono imperial que ocuparam, e sempre buscavam a oportunidade de serem chamados pelo Senhor para associar-se com Ele eternamente. Mahārāja Parīkṣit era o digno neto de Mahārāja Yudhiṣṭhira. Mahārāja Yudhiṣṭhira abandonou o trono imperial em favor de seu neto, e, da mesma forma, Mahārāja Parīkṣit, o neto de Mahārāja Yudhiṣṭhira, abandonou o trono imperial em favor de seu filho Janamejaya. Assim são todos os reis na dinastia porque todos eles são estritos na linha do Senhor Kṛṣṇa. Assim, os devotos do Senhor nunca são encantados pelo fulgor da vida materialista, e vivem imparcialmente, desapegados dos objetos do falso e ilusório modo de vida materialista.

Texto

sarve vayaṁ tāvad ihāsmahe ’tha
kalevaraṁ yāvad asau vihāya
lokaṁ paraṁ virajaskaṁ viśokaṁ
yāsyaty ayaṁ bhāgavata-pradhānaḥ

Sinônimos

sarve — todos; vayam — nós; tāvat — enquanto; iha — neste lugar; āsmahe — permaneceremos; atha — aqui em diante; kalevaram — o corpo; yāvat — enquanto; asau — o rei; vihāya — abandonando; lokam — o planeta; param — o supremo; virajaskam — completamente livre da contaminação mundana; viśokam — completamente livre de todas as espécies de lamentação; yāsyati — retorne; ayam — este; bhāgavata — devoto; pradhānaḥ — o principal.

Tradução

Todos nós esperaremos aqui até que o principal devoto do Senhor, Mahārāja Parīkṣit, retorne ao planeta supremo, que está completamente livre de toda a contaminação mundana e de todas as espécies de lamentação.

Comentário

SIGNIFICADO—Além do limite da criação material, que é comparada à nuvem no céu, está o paravyoma, ou o céu espiritual, cheio de planetas chamados Vaikuṇṭhas. Esses planetas Vaikuṇṭha também são diferentemente conhecidos como Puruṣottamaloka, Acyutaloka, Trivikramaloka, Hṛṣīkeśaloka, Keśavaloka, Aniruddhaloka, Mādhavaloka, Pradyumnaloka, Saṅkarṣaṇaloka, Śrīdharaloka, Vāsudevaloka, Ayodhyāloka, Dvārakāloka e muitos outros milhões de lokas espirituais onde a Personalidade de Deus predomina; ali, todas as entidades vivas são almas liberadas com corpos espirituais tão bons como o do Senhor. Não há contaminação material; tudo ali é espiritual, daí não haver nada objetivamente lamentável. Eles são plenos de bem-aventurança transcendental e são desprovidos de nascimento, morte, velhice e doença. E, entre todos os Vaikuṇṭhalokas acima mencionados, há um loka supremo chamado Goloka Vṛndāvana, que é a morada do Senhor Śrī Kṛṣṇa e Seus companheiros específicos. Mahārāja Parīkṣit se destinava a alcançar esse loka em particular, e os grandes ṛṣis ali reunidos puderam prever isso. Todos eles se consultaram entre si sobre a grande partida do grandioso rei, e eles queriam vê-lo até o último momento, porque não seriam mais capazes de ver esse grande devoto do Senhor. Quando um grande devoto do Senhor desaparece, não há nada a lamentar porque o devoto destina-se a entrar no reino de Deus. Mas o lamentável é que esses grandes devotos saem de nossa vista, e, devido isso, temos toda razão ao ficarmos pesarosos. Assim como o Senhor é raramente visível por nossos olhos atuais, o mesmo se dá com os grandes devotos. Os grandes ṛṣis, portanto, decidiram corretamente permanecer no local até o último momento.

Texto

āśrutya tad ṛṣi-gaṇa-vacaḥ parīkṣit
samaṁ madhu-cyud guru cāvyalīkam
ābhāṣatainān abhinandya yuktān
śuśrūṣamāṇaś caritāni viṣṇoḥ

Sinônimos

āśrutya — logo após ouvir; tat — que; ṛṣigaṇa – os sábios reunidos; vacaḥ — falando; parīkṣit — Mahārāja Parīkṣit; samam — imparcial; madhu-cyut — doce de ouvir; guru — grave; ca — também; avyalīkam — perfeitamente verdadeiro; ābhāṣata — disseram; enān — todos eles; abhinandya — congratulou-se com; yuktān — apresentado apropriadamente; śuśrūṣamāṇaḥ — estando desejoso de ouvir; caritāni — atividades da; viṣṇoḥ — a Personalidade de Deus.

Tradução

Tudo o que os grandes sábios falavam era agradável de ouvir, cheio de significado e apresentado apropriadamente como a verdade perfeita. Assim, após ouvi-los, Mahārāja Parīkṣit, desejando ouvir sobre as atividades do Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, congratulou-se com os grandes sábios.

Texto

samāgatāḥ sarvata eva sarve
vedā yathā mūrti-dharās tri-pṛṣṭhe
nehātha nāmutra ca kaścanārtha
ṛte parānugraham ātma-śīlam

Sinônimos

samāgatāḥ — reunidos; sarvataḥ — de todas as direções; eva — certamente; sarve — todos vós; vedāḥ — conhecimento supremo; yathā — como; mūrti-dharāḥ — personificado; tri-pṛṣṭhe — no planeta de Brahmā (que está situado acima dos três sistemas planetários, a saber, mundos superior, intermediário e inferior); na — não; iha — neste mundo; atha — a seguir; na — nem; amutra — no outro mundo; ca — também; kaścana — qualquer outro; arthaḥ — interesse; ṛte — salvo; para — outros; anugraham — fazer o bem a; ātma-śīlam — própria natureza.

Tradução

O rei disse: Ó grandes sábios, vós vos reunistes muito bondosamente aqui, tendo vindo de todas as partes do universo. Todos vós sois tão bons como o conhecimento personificado, que reside no planeta acima dos três mundos [Satyaloka]. Em consequência disso, sois naturalmente propensos a fazer o bem aos outros e, além disso, não tendes outro interesse, seja nesta vida, seja na próxima.

Comentário

SIGNIFICADO—Os seis tipos de opulência, a saber, riqueza, força, fama, beleza, conhecimento e renúncia, são todos, originalmente, diferentes atributos pertinentes à Absoluta Personalidade de Deus. Os seres vivos, que são entidades partes integrantes do Ser Supremo, têm todos esses atributos parcialmente, até o total de setenta e oito por cento. No mundo material, esses atributos (até setenta e oito por cento dos atributos do Senhor) são cobertos pela energia material, assim como o sol é coberto por uma nuvem. A força coberta do sol é muito fraca em comparação com o brilho original, e, analogamente, a cor original dos seres vivos com esses atributos torna-se quase extinta. Há três sistemas planetários, a saber, os mundos inferiores, os mundos intermediários e os mundos superiores. Os seres humanos sobre a Terra estão situados no começo dos mundos intermediários, mas seres vivos como Brahmā e seus contemporâneos vivem nos mundos superiores, dos quais o mais elevado é Satyaloka. Em Satyaloka, os habitantes são plenamente versados na sabedoria védica, e, assim, a nuvem mística da energia material se aclara. Portanto, eles são conhecidos como os Vedas personificados. Tais pessoas, sendo plenamente conscientes do conhecimento, tanto mundano quanto transcendental, não têm interesse nem no mundo mortal nem no transcendental. Eles são praticamente devotos sem desejos. No mundo mortal, eles nada têm a alcançar e, no mundo transcendental, sentem-se satisfeitos em si mesmos. Por que, então, vêm ao mundo mortal? Eles descem a diferentes planetas como messias, pela ordem do Senhor, para salvar as almas caídas. Eles vêm à Terra para fazer o bem à população do mundo em diferentes circunstâncias, sob diferentes influências climáticas. Eles nada têm a fazer neste mundo, exceto redimir as almas caídas que giram na existência material, iludidas pela energia material.

Texto

tataś ca vaḥ pṛcchyam imaṁ vipṛcche
viśrabhya viprā iti kṛtyatāyām
sarvātmanā mriyamāṇaiś ca kṛtyaṁ
śuddhaṁ ca tatrāmṛśatābhiyuktāḥ

Sinônimos

tataḥ — como tal; ca — e; vaḥ — a vós; pṛcchyam — aquilo que deve ser perguntado; imam — isso; vipṛcche — tomo a liberdade de perguntar-vos; viśrabhya — dignos de confiança; viprāḥbrāhmaṇas; iti — assim; kṛtyatāyām — de todos os diferentes deveres; sarva-ātmanā — por todos; mriyamāṇaiḥ — especialmente aquelas que estão à beira da morte; ca — e; kṛtyam — cumpridor do dever; śuddham — perfeitamente correto; ca — e; tatra — quanto a isso; āmṛśata — pela deliberação completa; abhiyuktāḥ — completamente adequado.

Tradução

Ó brāhmaṇas dignos de confiança, pergunto-vos agora acerca do meu dever imediato. Por favor, após adequada deliberação, falai-me sobre o dever imaculado de todas as pessoas em todas as circunstâncias, e especificamente daquelas que estão à beira da morte.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso, o rei coloca duas questões diante dos sábios eruditos. A primeira questão é qual é o dever de todos em todas as circunstâncias, e a segunda questão é qual é o dever específico de alguém que esteja para morrer em pouquíssimo tempo. Das duas, a questão relativa ao homem moribundo é muito importante, pois todos são homens moribundos, seja muito brevemente, seja após cem anos. A duração da vida é imaterial, mas o dever de um homem moribundo é muito importante. Mahārāja Parīkṣit também colocou essas duas questões diante de Śukadeva Gosvāmī no momento de sua chegada, e praticamente todo o Śrīmad-Bhāgavatam, a partir do segundo canto até o final do décimo segundo canto, trata dessas duas perguntas. A conclusão a que se chegou é que o serviço devocional ao Senhor Śrī Kṛṣṇa, como o próprio Senhor confirma nas fases finais da Bhagavad-gītā, é a última palavra em relação ao dever permanente de todos na vida. Mahārāja Parīkṣit já estava consciente desse fato, mas ele quis que os grandes sábios ali reunidos dessem seu veredito unânime em apoio à sua convicção, para que ele fosse confirmado a perseverar no seu dever sem controvérsias. Ele menciona especialmente a palavra śuddha, ou perfeitamente correto. Para a compreensão transcendental ou autorrealização, muitos processos são recomendados por várias classes de filósofos. Alguns deles são métodos de primeira classe, e outros são métodos de segunda ou terceira classe. O método de primeira classe exige que a pessoa abandone todos os outros métodos e renda-se aos pés de lótus do Senhor e, assim, salve-se de todos os pecados e de suas reações.

Texto

tatrābhavad bhagavān vyāsa-putro
yadṛcchayā gām aṭamāno ’napekṣaḥ
alakṣya-liṅgo nija-lābha-tuṣṭo
vṛtaś ca bālair avadhūta-veṣaḥ

Sinônimos

tatra — ali; abhavat — apareceu; bhagavān — poderoso; vyāsaputraḥ – filho de Vyāsadeva; yadṛcchayā — conforme se deseja; gām — a Terra; aṭamānaḥ — enquanto viajava; anapekṣaḥ — desinteressado; alakṣya imanifestos; liṅgaḥ — sintomas; nijalābha – autorrealizado; tuṣṭaḥ — satisfeito; vṛtaḥ — cercado; ca — e; bālaiḥ — pelas crianças; avadhūta — negligenciado pelos outros; veṣaḥ — vestido.

Tradução

Naquele momento, apareceu ali o poderoso filho de Vyāsadeva, que viajava pela Terra desinteressado e satisfeito consigo mesmo. Ele não manifestava qualquer sintoma de pertencer a alguma ordem social ou status de vida. Estava cercado por mulheres e crianças, e vestia-se como se os outros o tivessem negligenciado.

Comentário

SIGNIFICADO—Usa-se às vezes a palavra bhagavān em conexão com algum dos grandes devotos do Senhor, como Śukadeva Gosvāmī. Essas almas liberadas não têm interesse nos afazeres deste mundo material porque são autossatisfeitas em virtude das grandes conquistas do serviço devocional. Como se explicou antes, Śukadeva Gosvāmī nunca aceitou nenhum mestre espiritual formal, nem se submeteu a qualquer cerimônia reformatória formal. Seu pai, Vyāsadeva, era seu mestre espiritual natural, porque Śukadeva Gosvāmī ouviu dele o Śrīmad-Bhāgavatam. Depois disso, tornou-se completamente autossatisfeito. Assim, ele não dependia de nenhum processo formal. Os processos formais são necessários para aqueles que ainda não alcançaram o estágio de completa liberação, mas Śrī Śukadeva Gosvāmī já estava naquele estado pela graça de seu pai. Como um jovem rapaz, esperava-se que ele se vestisse apropriadamente, mas ele perambulava desnudo e não tinha interesse em costumes sociais. Ele era negligenciado pela populaça em geral, e os meninos e as mulheres cercavam-no curiosos, como se ele fosse um louco. Assim, ele apareceu em cena enquanto viajava pela Terra guiado por sua própria vontade. Parece que, diante da pergunta de Mahārāja Parīkṣit, os grandes sábios não foram unânimes em sua decisão sobre o que deveria ser feito. Há muitas prescrições para a salvação espiritual, de acordo com as diferentes atitudes de diferentes pessoas. Todavia, a meta última da vida é alcançar o estágio perfectivo mais elevado de serviço devocional ao Senhor. Assim como os médicos diferem, os sábios diferem em suas diversas prescrições. Enquanto essas coisas aconteciam, o grande e poderoso filho de Vyāsadeva apareceu em cena.

Texto

taṁ dvyaṣṭa-varṣaṁ su-kumāra-pāda-
karoru-bāhv-aṁsa-kapola-gātram
cārv-āyatākṣonnasa-tulya-karṇa-
subhrv-ānanaṁ kambu-sujāta-kaṇṭham

Sinônimos

tam — ele; dvi-aṣṭa — dezesseis; varṣam — anos; su-kumāra — delicados; pāda — pernas; kara — mãos; ūru — coxas; bāhu — braços; aṁsa — ombros; kapola — testa; gātram — corpo; cāru — belo; āyata — largos; akṣa — olhos; unnasa — nariz afilado; tulya — similares; karṇa — ouvidos; subhru — belas sobrancelhas; ānanam — rosto; kambu — búzio; sujāta — belamente construído; kaṇṭham — pescoço.

Tradução

Esse filho de Vyāsadeva tinha apenas dezesseis anos. Suas pernas, mãos, coxas, braços, ombros, testa e outras partes de seu corpo eram todos delicadamente formados. Seus olhos eram belamente largos, e seu nariz e ouvidos eram nobremente modelados. Ele tinha um rosto muito atrativo, e seu pescoço era bem formado e belo como um búzio.

Comentário

SIGNIFICADO—Descreve-se uma personalidade respeitável começando com as pernas, e aqui se observa esse sistema honrado no caso de Śukadeva Gosvāmī. Ele tinha apenas dezesseis anos de idade. Uma pessoa é honrada por suas conquistas, e não pela idade avançada. Ela pode ser mais velha em experiência, e não em idade avançada. Śrī Śukadeva Gosvāmī, que aqui é descrito como o filho de Vyāsadeva, devido a seu conhecimento, era mais experiente que todos os sábios ali presentes, embora tivesse apenas dezesseis anos de idade.

Texto

nigūḍha-jatruṁ pṛthu-tuṅga-vakṣasam
āvarta-nābhiṁ vali-valgūdaraṁ ca
dig-ambaraṁ vaktra-vikīrṇa-keśaṁ
pralamba-bāhuṁ svamarottamābham

Sinônimos

nigūḍha — coberta; jatrum — clavícula; pṛthu — largo; tuṅga — protuberante; vakṣasam — peito; āvarta — profundo; nābhim — umbigo; vali-valgu — marcado; udaram — abdômen; ca — também; dik-ambaram — vestido por todas as direções (desnudo); vaktra — ondulado; vikīrṇa — espalhado; keśam — cabelo; pralamba — alongados; bāhum — mãos; su-amara-uttama — o melhor entre os deuses (Kṛṣṇa); ābham — tez.

Tradução

Sua clavícula era carnuda, seu peito largo e abundante, seu umbigo profundo e seu abdômen belamente marcado. Tinha braços longos, e o cabelo ondulado se espalhava sobre seu belo rosto. Estava desnudo, e a tez de seu corpo se assemelhava à do Senhor Kṛṣṇa.

Comentário

SIGNIFICADO—Seus aspectos corpóreos indicam que ele é diferente dos homens comuns. Todos os sinais descritos em relação aos aspectos corpóreos de Śukadeva Gosvāmī são sintomas incomuns, típicos de grandes personalidades, segundo os cálculos fisionômicos. Sua tez corpórea se assemelhava à do Senhor Kṛṣṇa, que é o supremo entre os deuses, semideuses e todos os seres vivos.

Texto

śyāmaṁ sadāpīvya-vayo-’ṅga-lakṣmyā
strīṇāṁ mano-jñaṁ rucira-smitena
pratyutthitās te munayaḥ svāsanebhyas
tal-lakṣaṇa-jñā api gūḍha-varcasam

Sinônimos

śyāmam — enegrecido; sadā — sempre; apīvya — excessivamente; vayaḥ — idade; aṅga — sintomas; lakṣmyā pela opulência de; strīṇām — do belo sexo; manaḥ-jñam — atrativos; rucira — belo; smitena — sorrindo; pratyutthitāḥ — levantaram-se; te — todos eles; munayaḥ — os grandes sábios; sva — próprios; āsanebhyaḥ — dos assentos; tat — aqueles; lakṣaṇajñāḥ – peritos na arte da fisiognomia; api — mesmo; gūḍha-varcasam — glórias encobertas.

Tradução

Ele era enegrecido e muito belo devido à sua juventude. Por causa do encanto de seu corpo e de seus sorrisos atrativos, era agradável às mulheres. Embora ele tentasse cobrir suas glórias naturais, os grandes sábios ali presentes eram todos peritos na arte da fisiognomia, e, assim, honraram-no levantando-se de seus assentos.

Texto

sa viṣṇu-rāto ’tithaya āgatāya
tasmai saparyāṁ śirasājahāra
tato nivṛttā hy abudhāḥ striyo ’rbhakā
mahāsane sopaviveśa pūjitaḥ

Sinônimos

saḥ — ele; viṣṇu-rātaḥ — Mahārāja Parīkṣit (que sempre é protegido pelo Senhor Viṣṇu); atithaye — tornar-se um visitante; āgatāya — aquele que chegou ali; tasmai — a ele; saparyām — com todo o corpo; śirasā — com a cabeça prostrada; ājahāra — ofereceu reverências; tataḥ — depois disso; nivṛttāḥ — pararam; hi — certamente; abudhāḥ — menos inteligentes; striyaḥ — mulheres; arbhakāḥ — meninos; mahā-āsane — assento de destaque; sa — ele; upaviveśa — sentou-se; pūjitaḥ — sendo respeitado.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit, que também é conhecido como Viṣṇurāta [aquele que sempre é protegido por Viṣṇu], prostrou-se com sua cabeça para receber o visitante principal, Śukadeva Gosvāmī. Nessa altura, todas as mulheres e meninos ignorantes pararam de seguir Śrīla Śukadeva. Recebendo respeitos de todos, Śukadeva Gosvāmī assumiu seu assento de destaque.

Comentário

SIGNIFICADO—Com a chegada de Śukadeva Gosvāmī à reunião, todos, exceto Śrīla Vyāsadeva, Nārada e alguns outros, levantaram-se, e Mahārāja Parīkṣit, que estava contente de receber um grande devoto do Senhor, prostrou-se diante dele com todos os membros de seu corpo. Śukadeva Gosvāmī também reciprocou as saudações e a recepção com abraços, apertos de mão, vênias e prostração, especialmente diante de seu pai e de Nārada Muni. Assim lhe foi oferecido o assento presidencial naquela reunião. Quando ele foi assim recebido pelo rei e pelos sábios, os meninos da rua e as mulheres menos inteligentes que o seguiam ficaram tomados de medo e espanto. Desse modo, pararam suas atividades frívolas, e tudo se encheu de gravidade e calma.

Texto

sa saṁvṛtas tatra mahān mahīyasāṁ
brahmarṣi-rājarṣi-devarṣi-saṅghaiḥ
vyarocatālaṁ bhagavān yathendur
graharkṣa-tārā-nikaraiḥ parītaḥ

Sinônimos

saḥ — Śrī Śukadeva Gosvāmī; saṁvṛtaḥ — cercado por; tatra — ali; mahān — grandes; mahīyasām — do maior; brahmarṣi — santo entre os brāhmaṇas; rājarṣi — santo entre os reis; devarṣi — santo entre os semideuses; saṅghaiḥ — pela assembleia de; vyarocata — bem merecido; alam — capaz; bhagavān — poderoso; yathā — como; induḥ — a Lua; grāha — planetas; ṛkṣa — corpos celestes; tārā — estrelas; nikaraiḥ — pela assembleia de; parītaḥ — cercado pela.

Tradução

Então, Śukadeva Gosvāmī foi cercado pelos sábios santos e semideuses, assim como a Lua é cercada pelas estrelas, planetas e outros corpos celestes. Sua presença era esplendorosa, e ele era respeitado por todos.

Comentário

SIGNIFICADO—Na grande assembleia de personalidades santas, estavam Vyāsadeva, o brahmarṣi; Nārada, o devarṣi; Paraśurāma, o grande governante dos reis kṣatriyas etc. Alguns deles eram poderosas encarnações do Senhor. Śukadeva Gosvāmī não era conhecido como brahmarṣi, rājarṣi ou devarṣi, nem era uma encarnação como Nārada, Vyāsa ou Paraśurāma. E, todavia, ele excedeu-os em respeitos recebidos. Isso significa que o devoto do Senhor é mais honrado no mundo do que o próprio Senhor. Portanto, ninguém deve minimizar a importância de um devoto como Śukadeva Gosvāmī.

Texto

praśāntam āsīnam akuṇṭha-medhasaṁ
muniṁ nṛpo bhāgavato ’bhyupetya
praṇamya mūrdhnāvahitaḥ kṛtāñjalir
natvā girā sūnṛtayānvapṛcchat

Sinônimos

praśāntam — tranquilamente; āsīnam — sentando-se; akuṇṭha — sem hesitação; medhasam — aquele que tem inteligência suficiente; munim — ao grande sábio; nṛpaḥ — o rei (Mahārāja Parīkṣit); bhāgavataḥ — o grande devoto; abhyupetya — aproximando-se dele; praṇamya — prostrando-se com; mūrdhnā — sua cabeça; avahitaḥ — apropriadamente; kṛtaañjaliḥ – com mãos postas; natvā — polidamente; girā — com palavras; sūnṛtayā — em doces vozes; anvapṛcchat — perguntou.

Tradução

O sábio Śrī Śukadeva Gosvāmī sentou-se tranquilamente, inteligente e pronto para responder a qualquer pergunta sem hesitação. O grande devoto, Mahārāja Parīkṣit, aproximou-se dele, ofereceu seus respeitos prostrando-se diante dele, e perguntou polidamente com palavras doces e mãos postas.

Comentário

SIGNIFICADO—O gesto agora adotado por Mahārāja Parīkṣit, de interrogar um mestre, é completamente adequado em termos dos preceitos escriturais. O preceito escritural é que devemos aproximar-nos humildemente de um mestre espiritual para entender a ciência transcendental. Agora, Mahārāja Parīkṣit estava preparado para ir ao encontro da morte e, dentro do curto período de sete dias, conheceria o processo de entrar no reino de Deus. Nesses casos importantes, recomenda-se que a pessoa se aproxime de um mestre espiritual. Não há necessidade de se aproximar do mestre espiritual a menos que se sinta necessidade de resolver os problemas da vida. Aquele que não sabe como fazer perguntas diante do mestre espiritual não tem motivo de vê-lo. E a qualificação do mestre espiritual manifesta-se perfeitamente na pessoa de Śukadeva Gosvāmī. Tanto o mestre espiritual quanto o discípulo, ou seja, Śukadeva Gosvāmī e Mahārāja Parīkṣit, alcançaram a perfeição por intermédio do Śrīmad-Bhāgavatam. Śukadeva Gosvāmī aprendeu o Śrīmad-Bhāgavatam de seu pai, Vyāsadeva, mas não teve oportunidade de recitá-lo. Diante de Mahārāja Parīkṣit, ele recitou o Śrīmad-Bhāgavatam e respondeu às perguntas de Mahārāja Parīkṣit sem hesitação, e, desse modo, tanto o mestre quanto o discípulo obtiveram a salvação.

Texto

parīkṣid uvāca
aho adya vayaṁ brahman
sat-sevyāḥ kṣatra-bandhavaḥ
kṛpayātithi-rūpeṇa
bhavadbhis tīrthakāḥ kṛtāḥ

Sinônimos

parīkṣit uvāca — o afortunado Mahārāja Parīkṣit disse; aho — ó; adya — hoje; vayam — nós; brahman — ó brāhmaṇa; satsevyāḥ – apto para servir ao devoto; kṣatra — a classe governante; bandhavaḥ — amigos; kṛpayā — por tua misericórdia; atithirūpeṇa – sob a forma de um convidado; bhavadbhiḥ — por Vossa Graça; tīrthakāḥ — qualificados para serem lugares de peregrinação; kṛtāḥ — feito por ti.

Tradução

O afortunado rei Parīkṣit disse: Ó brāhmaṇa, unicamente por tua misericórdia tu nos santificaste, transformando-nos em lugares de peregrinação, tudo por causa de tua presença aqui como meu convidado. Por tua misericórdia, nós, que nada mais somos do que a realeza indigna, qualificamo-nos para servir ao devoto.

Comentário

SIGNIFICADO—Devotos santos como Śukadeva Gosvāmī geralmente não se aproximam de desfrutadores mundanos, em especial daqueles nas ordens reais. Mahārāja Pratāparudra era um seguidor do Senhor Caitanya, mas, quando quis ver o Senhor, o Senhor negou-Se a vê-lo porque ele era um rei. Para um devoto que deseja voltar ao Supremo, duas coisas são estritamente proibidas: desfrutadores mundanos e mulheres. Portanto, os devotos do nível de Śukadeva Gosvāmī nunca estão interessados em ver reis. É claro que Mahārāja Parīkṣit era um caso diferente. Ele era um grande devoto, apesar de rei, daí Śukadeva Gosvāmī ter ido vê-lo na última fase da vida. Mahārāja Parīkṣit, devido a sua humildade devocional, sentia-se um descendente indigno de seus grandes antepassados kṣatriyas, embora fosse tão grandioso como seus antecessores. Os filhos indignos das ordens reais chamam-se kṣatra-bandhavas, assim como os filhos indignos dos brāhmaṇas chamam-se dvija-bandhus ou brahma-bandhus. Mahārāja Parīkṣit sentiu-se muitíssimo encorajado pela presença de Śukadeva Gosvāmī. Ele se sentiu santificado pela presença do grande santo cuja presença converte qualquer lugar em local de peregrinação.

Texto

yeṣāṁ saṁsmaraṇāt puṁsāṁ
sadyaḥ śuddhyanti vai gṛhāḥ
kiṁ punar darśana-sparśa-
pāda-śaucāsanādibhiḥ

Sinônimos

yeṣām — de quem; saṁsmaraṇāt — pela lembrança; puṁsām — de uma pessoa; sadyaḥ — instantaneamente; śuddhyanti limpa; vai — certamente; gṛhāḥ todas as casas; kim — que; punaḥ — então; darśana — encontrar; sparśa — tocar; pāda — os pés; śauca — lavar; āsana-ādibhiḥ — oferecendo um assento etc.

Tradução

Simplesmente por nos lembrarmos de ti, nossos lares tornam-se santificados de imediato. E o que dizer de ver-te, tocar-te, lavar teus santos pés e oferecer-te um assento em nosso lar?

Comentário

SIGNIFICADO—A importância dos lugares sagrados de peregrinação deve-se à presença de grandes sábios e santos. Declara-se que as pessoas pecaminosas vão aos lugares sagrados e deixam seus pecados acumulados ali. Mas a presença dos grandes santos desinfeta os pecados acumulados, e, assim, os lugares sagrados continuam a permanecer santificados pela graça dos devotos e santos ali presentes. Se esses santos aparecem nos lares de pessoas mundanas, certamente os pecados acumulados desses desfrutadores mundanos tornam-se neutralizados. Portanto, os santos sagrados realmente não têm interesse próprio junto aos chefes de família. O único objetivo desses santos é santificar os lares dos chefes de família, e, em razão disso, os chefes de família sentem-se agradecidos quando tais santos e sábios aparecem a suas portas. Um chefe de família que desonra essas ordens santas é um grande ofensor. Prescreve-se, portanto, que o chefe de família que não se prostrar diante de um santo imediatamente deve submeter-se a jejum naquele dia, para neutralizar a grande ofensa.

Texto

sānnidhyāt te mahā-yogin
pātakāni mahānty api
sadyo naśyanti vai puṁsāṁ
viṣṇor iva suretarāḥ

Sinônimos

sānnidhyāt — por causa da presença; te — tua; mahā-yogin — ó grande místico; pātakāni — pecados; mahānti — invulneráveis; api — apesar de; sadyaḥ — imediatamente; naśyanti — removidos; vai — certamente, puṁsām – de uma pessoa; viṣṇoḥ — como a presença da Personalidade de Deus; iva — como; sura-itarāḥ — outros além dos semideuses.

Tradução

Assim como um ateísta não pode permanecer na presença da Personalidade de Deus, da mesma forma os pecados invulneráveis de um homem são imediatamente removidos em tua presença, ó santo! Ó grande místico!

Comentário

SIGNIFICADO—Há duas classes de seres humanos, a saber, o ateísta e o devoto do Senhor. O devoto do Senhor, por manifestar qualidades divinas, chama-se semideus, ao passo que o ateísta se chama demônio. O demônio não pode suportar a presença de Viṣṇu, a Personalidade de Deus. Os demônios estão sempre ocupados em tentar destruir a Personalidade de Deus, mas, na realidade, logo que a Personalidade de Deus aparece, quer seja por Seu nome transcendental, forma, atributos, passatempos, parafernália ou variedade, o demônio é imediatamente destruído. Afirma-se que um fantasma não pode permanecer presente tão logo se canta o santo nome do Senhor. Os grandes santos e devotos do Senhor estão na lista de Sua parafernália, e assim, tão logo um devoto santo esteja presente, os pecados fantasmáticos são imediatamente removidos. Este é o veredito de todas as literaturas védicas. Recomenda-se, portanto, que nos associemos somente com devotos santos para que os demônios e fantasmas mundanos não possam exercer sua influência sinistra.

Texto

api me bhagavān prītaḥ
kṛṣṇaḥ pāṇḍu-suta-priyaḥ
paitṛ-ṣvaseya-prīty-arthaṁ
tad-gotrasyātta-bāndhavaḥ

Sinônimos

api — definitivamente; me — a mim; bhagavān — a Personalidade de Deus; prītaḥ — satisfeito; kṛṣṇaḥ — o Senhor; pāṇḍu-suta — os filhos do rei Pāṇḍu; priyaḥ — querido; paitṛ — em relação com o pai; svaseya — os filhos da irmã; prīti — satisfação; artham — quanto a; tat — deles; gotrasya — do descendente; ātta — aceitou; bāndhavaḥ — como um amigo.

Tradução

O Senhor Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, que é muito querido pelos filhos do rei Pāṇḍu, aceitou-me como um daqueles parentes simplesmente para satisfazer Seus grandes primos e irmãos.

Comentário

SIGNIFICADO—Um puro e exclusivo devoto do Senhor serve ao interesse de sua família mais habilmente que os outros que são apegados a afazeres familiares ilusórios. Geralmente, as pessoas são apegadas aos assuntos familiares, e todo o ímpeto econômico da sociedade humana move-se sob a influência da afeição familiar. Essas pessoas iludidas não têm a informação de que podemos prestar melhor serviço à família tornando-nos devotos do Senhor. O Senhor dá proteção especial aos familiares e descendentes de um devoto, mesmo que tais membros sejam não-devotos! Mahārāja Prahlāda era um grande devoto do Senhor, mas seu pai, Hiraṇyakaśipu, era um grande ateísta e inimigo declarado do Senhor. Contudo, apesar de tudo isso, Hiraṇyakaśipu obteve a salvação por ser o pai de Mahārāja Prahlāda. O Senhor é tão bondoso que dá toda a proteção aos familiares de Seu devoto, e, assim, o devoto não tem necessidade de se preocupar com os familiares, mesmo que os abandone para executar serviço devocional. Mahārāja Yudhiṣṭhira e seus irmãos eram filhos de Kuntī, a tia paterna do Senhor Kṛṣṇa, e Mahārāja Parīkṣit admite a proteção do Senhor Kṛṣṇa por ele ser o único neto dos grandes Pāṇḍavas.

Texto

anyathā te ’vyakta-gater
darśanaṁ naḥ kathaṁ nṛṇām
nitarāṁ mriyamāṇānāṁ
saṁsiddhasya vanīyasaḥ

Sinônimos

anyathā — de outra forma; te — teus; avyaktagateḥ – daquele cujos movimentos são invisíveis; darśanam — encontrando; naḥ — para nós; katham — como; nṛṇām — das pessoas; nitarām — especificamente; mriyamāṇānām — daqueles que estão para morrer; saṁsiddhasya — daquele que é todo-perfeito; vanīyasaḥ — aparecimento voluntário.

Tradução

De outra forma [sem ser inspirado pelo Senhor Kṛṣṇa], como é que apareceste voluntariamente aqui, embora andes incógnito ao homem comum e não sejas visível para nós que estamos à beira da morte?

Comentário

SIGNIFICADO—O grande sábio Śukadeva Gosvāmī foi certamente inspirado pelo Senhor Kṛṣṇa a aparecer voluntariamente diante de Mahārāja Parīkṣit, o grande devoto do Senhor, simplesmente para lhe transmitir os ensinamentos do Śrīmad-Bhāgavatam. Pode-se atingir o núcleo do serviço devocional ao Senhor pela misericórdia do mestre espiritual e da Personalidade de Deus. O mestre espiritual é o representante manifestado do Senhor para nos ajudar a alcançar o sucesso final. Alguém que não seja autorizado pelo Senhor não pode tornar-se um mestre espiritual. Śrīla Śukadeva Gosvāmī é um mestre espiritual autorizado e, desse modo, foi inspirado pelo Senhor a aparecer diante de Mahārāja Parīkṣit e instruir-lhe os ensinamentos do Śrīmad-Bhāgavatam. Podemos alcançar o sucesso final de voltar ao Supremo se somos favorecidos pelo fato de o Senhor enviar Seu representante verdadeiro. Logo que um devoto do Senhor se encontra com Seu representante verdadeiro, o devoto tem assegurado uma garantia de voltar ao Supremo justamente após deixar o corpo atual. Isso, contudo, depende da sinceridade do próprio devoto. O Senhor está sentado no coração de todos os seres vivos e, assim, conhece muito bem os movimentos de todas as pessoas individuais. Logo que o Senhor observa que uma alma em particular está muito ansiosa por voltar ao Supremo, o Senhor envia imediatamente Seu representante autêntico. O devoto sincero recebe assim a garantia do Senhor de que voltará ao Supremo. A conclusão é que obter a assistência e ajuda de um mestre espiritual fidedigno significa receber a ajuda direta do próprio Senhor.

Texto

ataḥ pṛcchāmi saṁsiddhiṁ
yogināṁ paramaṁ gurum
puruṣasyeha yat kāryaṁ
mriyamāṇasya sarvathā

Sinônimos

ataḥ — portanto; pṛcchāmi — tomo a liberdade de perguntar; saṁsiddhim — o caminho da perfeição; yoginām — dos santos; paramam — o supremo; gurum — o mestre espiritual; puruṣasya — de uma pessoa; iha — nesta vida; yat — tudo o que; kāryam — dever; mriyamāṇasya daquele que está para morrer; sarvathā — de todas as formas.

Tradução

Tu és o mestre espiritual de grandes santos e devotos. Portanto, suplico-te que mostres o caminho da perfeição a todas as pessoas, e especialmente a alguém que está para morrer.

Comentário

SIGNIFICADO—A menos que estejamos perfeitamente ansiosos pelo caminho da perfeição não temos necessidade de nos aproximar de um mestre espiritual. O mestre espiritual não é um tipo de decoração para um chefe de família. Em geral, materialistas da moda adotam pretensos mestres espirituais sem qualquer proveito. O dito mestre espiritual bajula o suposto discípulo e, desse modo, tanto o mestre quanto seu pupilo vão para o inferno, sem nenhuma dúvida. Mahārāja Parīkṣit é o tipo correto de discípulo porque expõe questões vitais para o interesse de todos os homens, particularmente para os moribundos. A pergunta apresentada por Mahārāja Parīkṣit é o princípio básico da tese completa do Śrīmad-Bhāgavatam. Vejamos agora a grandeza da inteligência na resposta dada pelo grande mestre.

Texto

yac chrotavyam atho japyaṁ
yat kartavyaṁ nṛbhiḥ prabho
smartavyaṁ bhajanīyaṁ vā
brūhi yad vā viparyayam

Sinônimos

yat — tudo o que; śrotavyam — digno de ouvir; atho — disso; japyam — cantado; yat — o que também; kartavyam — executado; nṛbhiḥ — pela população em geral; prabho — ó mestre; smartavyam — aquilo que é lembrado; bhajanīyam — adorável; — ou; brūhi — explica, por favor; yad — o que pode ser; viparyayam — contra o princípio.

Tradução

Por favor, deixa-me saber o que um homem deve ouvir, cantar, lembrar e adorar, e também o que ele não deve fazer. Por favor, explica-me tudo isso.

Texto

nūnaṁ bhagavato brahman
gṛheṣu gṛha-medhinām
na lakṣyate hy avasthānam
api go-dohanaṁ kvacit

Sinônimos

nūnam — porque; bhagavataḥ — de ti, que és poderoso; brahman — ó brāhmaṇa; gṛheṣu — nas casas; gṛhamedhinām – dos chefes de família; na — não; lakṣyate — são vistos; hi — exatamente; avasthānam — ficando em; api — mesmo; godohanam – ordenhando a vaca; kvacit — raramente.

Tradução

Ó brāhmaṇa poderoso, é dito que raramente permaneces na casa dos homens durante o tempo suficiente para ordenhar uma vaca.

Comentário

SIGNIFICADO—Os santos e sábios na ordem de vida renunciada vão à casa dos chefes de família no momento em que eles ordenham as vacas, de manhã cedo, e pedem um pouco de leite para sua subsistência. Um litro de leite fresco do úbere de uma vaca é suficiente para alimentar um adulto com todos os valores vitamínicos, daí os santos e sábios alimentarem-se apenas de leite. Mesmo o mais pobre dos chefes de família mantém pelo menos dez vacas, dando cada uma de doze a vinte litros de leite, de modo que ninguém hesita em poupar alguns litros para os mendicantes. É dever dos chefes de família manter os santos e sábios, assim como os filhos. Desse modo, um santo como Śukadeva Gosvāmī raramente permanecia na casa de um chefe de família por mais de cinco minutos pela manhã. Em outras palavras, tais santos raramente são vistos na casa de chefes de família, e Mahārāja Parīkṣit, portanto, pediu-lhe que o instruísse o mais rápido possível. Os chefes de família também devem ser inteligentes o bastante para obterem informações transcendentais dos sábios que os visitam. O chefe de família não deve pedir tolamente a um santo que lhe conceda aquilo que está disponível no mercado. Essa deve ser a relação recíproca entre os santos e os chefes de família.

Texto

sūta uvāca
evam ābhāṣitaḥ pṛṣṭaḥ
sa rājñā ślakṣṇayā girā
pratyabhāṣata dharma-jño
bhagavān bādarāyaṇiḥ

Sinônimos

sūtaḥ uvāca — Śrī Sūta Gosvāmī disse; evam — assim; ābhāṣitaḥ — sendo interpelado; pṛṣṭaḥ — e solicitado; saḥ — ele; rājñā — pelo rei; ślakṣṇayā — por doce; girā — linguagem; pratyabhāṣata — começou a responder; dharma-jñaḥ — aquele que conhece os princípios da religião; bhagavān — a poderosa personalidade; bādarāyaṇiḥ — filho de Vyāsadeva.

Tradução

Śrī Sūta Gosvāmī disse: Assim, o rei falou e interrogou o sábio, usando linguagem doce. Então, a grande e poderosa personalidade, o filho de Vyāsadeva, que conhecia os princípios da religião, começou a responder.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do primeiro canto, décimo nono capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Aparecimento de Śukadeva Gosvāmī”.

FIM DO PRIMEIRO CANTO