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Capítulo Doze

Dhruva Mahārāja Volta ao Supremo

Texto

maitreya uvāca
dhruvaṁ nivṛttaṁ pratibuddhya vaiśasād
apeta-manyuṁ bhagavān dhaneśvaraḥ
tatrāgataś cāraṇa-yakṣa-kinnaraiḥ
saṁstūyamāno nyavadat kṛtāñjalim

Sinônimos

maitreyaḥ uvāca — Maitreya disse; dhruvam — Dhruva Mahārāja; nivṛttam — parou; pratibuddhya — tendo sabido; vaiśasāt — de matar; apeta — cedeu; manyum — ira; bhagavān — Kuvera; dhana-īśvaraḥ — senhor da tesouraria; tatra — ali; āgataḥ — apareceu; cāraṇa — pelos Cāraṇas; yakṣa — Yakṣas; kinnaraiḥ — e pelos Kinnaras; saṁstūyamānaḥ — sendo adorado; nyavadat — falou; kṛta-añjalim — a Dhruva de mãos postas.

Tradução

O grande sábio Maitreya disse: Meu querido Vidura, a ira de Dhruva Mahārāja cedeu, e ele parou imediatamente de matar os Yakṣas. Quando Kuvera, o abençoadíssimo senhor da tesouraria, tomou conhecimento disso, ele apareceu diante de Dhruva. Enquanto era adorado pelos Yakṣas, Kinnaras e Cāraṇas, ele dirigiu a palavra a Dhruva Mahārāja, que permanecia diante dele de mãos postas.

Texto

dhanada uvāca
bhoḥ bhoḥ kṣatriya-dāyāda
parituṣṭo ’smi te ’nagha
yat tvaṁ pitāmahādeśād
vairaṁ dustyajam atyajaḥ

Sinônimos

dhana-daḥ uvāca — o senhor da tesouraria (Kuvera) disse; bhoḥ bhoḥ — ó; kṣatriya-dāyāda — ó filho de kṣatriya; parituṣṭaḥ — muito satisfeito; asmi — eu estou; te — contigo; anagha — ó impecável; yat — porque; tvam — tu; pitāmaha — de teu avô; ādeśāt — sob a instrução; vairam — inimizade; dustyajam — difícil de evitar; atyajaḥ — abandonaste.

Tradução

Kuvera, o senhor da tesouraria, disse: Ó impecável filho de kṣatriya, agrada-me muito saber que, sob a instrução de teu avô, abandonaste tua inimizade, embora seja algo muito difícil de evitar. Estou muito satisfeito contigo.

Texto

na bhavān avadhīd yakṣān
na yakṣā bhrātaraṁ tava
kāla eva hi bhūtānāṁ
prabhur apyaya-bhāvayoḥ

Sinônimos

na — não; bhavān — tu; avadhīt — mataste; yakṣān — os Yakṣas; na — não; yakṣāḥ — os Yakṣas; bhrātaram — irmão; tava — teu; kālaḥ — tempo; eva — certamente; hi — pois; bhūtānām — das entidades vivas; prabhuḥ — o Senhor Supremo; apyaya-bhāvayoḥ — de aniquilação e geração.

Tradução

Na verdade, não mataste os Yakṣas, tampouco eles mataram teu irmão, pois a causa fundamental de geração e aniquilação é o aspecto tempo eterno do Senhor Supremo.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando o senhor da tesouraria chamou Dhruva Mahārāja de impecável, este, considerando-se responsável pela matança de tantos Yakṣas, poderia ter-se julgado de outra maneira. Kuvera, entretanto, garantiu-lhe que de fato ele não matara nenhum dos Yakṣas; portanto, ele não era pecaminoso de modo algum. Ele cumpriu seu dever como rei, conforme o ordenam as leis da natureza. “Tampouco deves pensar que teu irmão foi morto pelos Yakṣas”, disse Kuvera. “Ele morreu ou foi morto no devido curso do tempo pelas leis da natureza. O tempo eterno, um dos aspectos do Senhor, é o responsável em última análise pela aniquilação e geração. Não és responsável por tais ações.”

Texto

ahaṁ tvam ity apārthā dhīr
ajñānāt puruṣasya hi
svāpnīvābhāty atad-dhyānād
yayā bandha-viparyayau

Sinônimos

aham — eu; tvam — tu; iti — assim; apārthā — mal interpretado; dhīḥ — inteligência; ajñānāt — da ignorância; puruṣasya — de uma pessoa; hi — certamente; svāpni — um sonho; iva — como; ābhāti — aparece; a-tat-dhyānāt — do conceito corpóreo de vida; yayā — pelo qual; bandha — cativeiro; viparyayau — e sofrimento.

Tradução

O fato de identificarmos falsamente a nós mesmos e aos demais como “eu” e “tu” com base no conceito corpóreo de vida é um produto da ignorância. Esse conceito corpóreo é a causa de repetidos nascimentos e mortes, e faz com que continuemos na existência material.

Comentário

SIGNIFICADO—O conceito de “eu” e “tu”, ahaṁ tvam, como separados um do outro, deve-se ao nosso esquecimento de nossa relação eterna com a Suprema Personalidade de Deus. A Pessoa Suprema, Kṛṣṇa, é o ponto central, e todos nós somos partes integrantes dEle, assim como as mãos e as pernas são partes integrantes de todo o corpo. Quando realmente entendemos isso – que estamos eternamente relacionados com o Senhor Supremo –, essa distinção, que se baseia no conceito corpóreo de vida, deixa de existir. Pode-se citar o mesmo exemplo aqui: a mão é a mão, e a perna é a perna, mas, quando ambas se ocupam a serviço de todo o corpo, semelhante distinção entre “mãos” e “pernas” não existe, pois todas elas pertencem ao corpo todo, e todas as partes, trabalhando juntas, constituem o corpo inteiro. Analogamente, quando as entidades vivas estão em consciência de Kṛṣṇa, semelhante distinção entre “eu” e “tu” não existe, pois todos estão ocupados a serviço do Senhor. Uma vez que o Senhor é absoluto, os serviços também são absolutos; muito embora a mão trabalhe de uma maneira e a perna trabalhe de outra maneira, uma vez que o propósito é a Suprema Personalidade de Deus, elas são todas iguais. Não se confunda isso com a afirmação dos filósofos māyāvādīs de que “tudo é uno”. O verdadeiro conhecimento é que mão é mão, perna é perna, corpo é corpo, e, não obstante, juntos, todos eles são iguais. Logo que a entidade viva se julga independente, sua existência material condicional tem início. O conceito de existência independente é, portanto, como um sonho. É preciso que estejamos em consciência de Kṛṣṇa, nossa posição original. Só então poderemos nos libertar do cativeiro material.

Texto

tad gaccha dhruva bhadraṁ te
bhagavantam adhokṣajam
sarva-bhūtātma-bhāvena
sarva-bhūtātma-vigraham

Sinônimos

tat — portanto; gaccha — vem; dhruva — Dhruva; bhadram — boa fortuna; te — para ti; bhagavantam — à Suprema Personalidade de Deus; adhokṣajam — que está além dos conceitos dos sentidos materiais; sarva-bhūta — todas as entidades vivas; ātma-bhāvena — considerando-as iguais; sarva-bhūta — em todas as entidades vivas; ātma — a Superalma; vigraham — tendo forma.

Tradução

Meu querido Dhruva, aproxima-te. Que o Senhor sempre te agracie com boa fortuna. A Suprema Personalidade de Deus, que está além de nossa percepção sensória, é a Superalma de todas as entidades vivas, e assim todas as entidades são iguais, sem distinções. Começa, portanto, a prestar serviço à forma transcendental do Senhor, que é o abrigo último de todas as entidades vivas.

Comentário

SIGNIFICADO—Nesta passagem, a palavra vigraham, “tendo forma específica”, é muito significativa, pois indica que a Verdade Absoluta é, em última análise, a Suprema Personalidade de Deus. Explica-se isso na Brahma-samhitā. Sac-cid-ānanda-vigrahaḥ: Ele tem forma, mas Sua forma é diferente de qualquer espécie de forma material. As entidades vivas são a energia marginal da forma suprema. Sendo assim, elas não são diferentes da forma suprema, mas, ao mesmo tempo, não são iguais à forma suprema. Dhruva Mahārāja é aconselhado aqui a prestar serviço à forma suprema. Isso incluirá o serviço a outras formas individuais. Por exemplo, a árvore tem uma forma, e, aguando-se a raiz da árvore, agua-se automaticamente as outras formas – as folhas, os galhos, as flores e os frutos. Rejeita-se aqui o conceito māyāvāda de que, como a Verdade Absoluta é tudo, é necessariamente amorfa. Ao contrário, confirma-se que a Verdade Absoluta tem forma, apesar de ser onipenetrante. Nada é independente dEle.

Texto

bhajasva bhajanīyāṅghrim
abhavāya bhava-cchidam
yuktaṁ virahitaṁ śaktyā
guṇa-mayyātma-māyayā

Sinônimos

bhajasva — ocupa-te em serviço devocional; bhajanīya — digno de ser adorado; aṅghrim — a Ele cujos pés de lótus; abhavāya — para libertar-nos da existência material; bhava-chidam — que corta o nó do enredamento material; yuktam — ligado; virahitam — à parte; śaktyā — a Sua potência; guṇa-mayyā — consistindo nos modos da natureza material; ātma-māyayā — por Sua potência inconcebível.

Tradução

Portanto, ocupa-te plenamente no serviço devocional ao Senhor, pois somente Ele pode livrar-nos deste enredamento da existência materialista. Embora o Senhor esteja ligado à Sua potência material, Ele está à parte das atividades dela. Tudo neste mundo material acontece pela potência inconcebível da Suprema Personalidade de Deus.

Comentário

SIGNIFICADO—Em continuação ao verso anterior, menciona-se especificamente neste verso que Dhruva Mahārāja deve se ocupar em serviço devocional. Não se pode prestar serviço devocional ao aspecto Brahman impessoal da Suprema Personalidade de Deus. Sempre que aparece a palavra bhajasva, significando “ocupa-te em serviço devocional”, tem que haver o servo, o serviço e o servido. A Suprema Personalidade de Deus é o servido, o conjunto de atividades para satisfazê-lO chama-se serviço, e aquele que presta tal serviço chama-se servo. Outro aspecto significativo deste verso é que somente o Senhor, e ninguém mais, deve ser servido. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja). Não há necessidade de servir aos semideuses, que são como as mãos e pernas do Senhor Supremo. Servindo ao Senhor Supremo, servimos automaticamente às mãos e às pernas do Senhor Supremo. Não há necessidade de serviço separado. Como se afirma na Bhagavad-gītā (12.7), teṣām ahaṁ samuddhartā mṛtyu-saṁsāra-sāgarāt. Isso quer dizer que o Senhor, a fim de mostrar favor especial ao devoto, orienta-o internamente de tal maneira que ele se liberte enfim do enredamento da existência material. Ninguém além do Senhor Supremo pode ajudar a entidade viva a libertar-se do enredamento deste mundo material. A energia material é uma manifestação de uma das variedades de potências da Suprema Personalidade de Deus (parāsya śaktir vividhaiva śrūyate). Esta energia material é uma das potências do Senhor, assim como o calor e a luz são potências do fogo. A energia material não é diferente da Divindade Suprema, mas, ao mesmo tempo, Ele nada tem a ver com a energia material. A entidade viva, que é da energia marginal, cai na armadilha da energia material devido a seu desejo de assenhorear-se do mundo material. O Senhor está à parte disso, mas, quando a mesma entidade viva se ocupa no serviço devocional ao Senhor, ela se apega a tal serviço. Essa situação se chama yuktam. Para os devotos, o Senhor está presente inclusive na energia material. Essa é a potência inconcebível do Senhor. A energia material atua nos três modos das qualidades materiais, os quais produzem as ações e reações da existência material. Aqueles que não são devotos envolvem-se com tais atividades, ao passo que os devotos, que se vinculam à Suprema Personalidade de Deus, livram-se dessas ações e reações da energia material. Portanto, o Senhor é descrito nesta passagem como bhava-cchidam, aquele que pode nos libertar do enredamento da existência material.

Texto

vṛṇīhi kāmaṁ nṛpa yan mano-gataṁ
mattas tvam auttānapade ’viśaṅkitaḥ
varaṁ varārho ’mbuja-nābha-pādayor
anantaraṁ tvāṁ vayam aṅga śuśruma

Sinônimos

vṛṇīhi — por favor, pede; kāmam — desejo; nṛpa — ó rei; yat — tudo o que; manaḥ-gatam — dentro de tua mente; mattaḥ — de mim; tvam — tu; auttānapade — ó filho de Mahārāja Uttānapāda; aviśaṅkitaḥ — sem hesitação; varam — bênção; vara-arhaḥ — digno de receber bênçãos; ambuja — flor de lótus; nābha — cujo umbigo; pādayoḥ — a Seus pés de lótus; anantaram — constantemente; tvām — sobre ti; varam — nós; aṅga — querido Dhruva; śuśruma — ouvimos falar.

Tradução

Meu querido Dhruva Mahārāja, filho de Mahārāja Uttānapāda, ouvimos falar que te ocupas constantemente no transcendental serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus, que é conhecida por Seu umbigo de lótus. Portanto, és digno de receber todas as nossas bênçãos. Portanto, por favor, pede sem hesitação qualquer bênção que quiseres de mim.

Comentário

SIGNIFICADO—Dhruva Mahārāja, o filho do rei Uttānapāda, já era conhecido em todo o universo como um grande devoto do Senhor, constantemente pensando em Seus pés de lótus. Semelhante devoto puro e imaculado do Senhor é digno de ter todas as bênçãos que os semideuses possam lhe oferecer. Ele não precisa adorar os semideuses separadamente para conseguir tais bênçãos. Kuvera, o tesoureiro dos semideuses, está pessoalmente oferecendo qualquer bênção que Dhruva Mahārāja queira obter dele. Śrīla Bilvamaṅgala Ṭhākura afirmou, portanto, que, para pessoas que se ocupam no serviço devocional ao Senhor, todas as bênçãos materiais as aguardam como criadas. Mukti-devī está esperando à porta do devoto para oferecer-lhe a liberação, ou mais do que isso, a qualquer momento. Ser devoto é, portanto, uma posição elevada. Simplesmente prestando transcendental serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus, é possível ter todas as bênçãos do mundo sem esforço separado. O senhor Kuvera disse a Dhruva Mahārāja que ouvira falar que Dhruva estava sempre em samādhi, ou seja, sempre pensando nos pés de lótus do Senhor. Em outras palavras, ele sabia que, para Dhruva Mahārāja, não havia nada digno de se desejar nos três mundos materiais. Ele sabia que Dhruva não pediria nada além de lembrar-se constantemente dos pés de lótus do Senhor Supremo.

Texto

maitreya uvāca
sa rāja-rājena varāya codito
dhruvo mahā-bhāgavato mahā-matiḥ
harau sa vavre ’calitāṁ smṛtiṁ yayā
taraty ayatnena duratyayaṁ tamaḥ

Sinônimos

maitreyaḥ uvāca — o grande sábio Maitreya disse; saḥ — ele; rāja-rājena — pelo rei dos reis (Kuvera); varāya — para uma bênção; coditaḥ — sendo solicitado; dhruvaḥ — Dhruva Mahārāja; mahā-bhāgavataḥ — um devoto puro de primeira classe; mahā-matiḥ — inteligentíssimo ou pensativo; harau — à Suprema Personalidade de Deus; saḥ — ele; vavre — pediu; acalitām — inabalável; smṛtim — lembrança; yayā — com o que; tarati — atravesse; ayatnena — sem dificuldade; duratyayam — insuperável; tamaḥ — necedade.

Tradução

O grande sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, ao ser assim solicitado a aceitar uma bênção de Kuvera, o Yakṣarāja [rei dos Yakṣas], Dhruva Mahārāja, aquele elevadíssimo devoto puro, que era um rei inteligente e pensativo, rogou para ter fé inabalável na Suprema Personalidade de Deus e poder sempre lembrar-se dEle, pois assim uma pessoa pode atravessar facilmente o oceano de necedade, embora, para os outros, seja muito difícil fazê-lo.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo a opinião de peritos seguidores dos ritos védicos, há diferentes espécies de bênçãos em termos de religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação. Esses quatro princípios são conhecidos como catur-vargas. De todos os catur-vargas, a bênção da liberação é considerada a mais elevada neste mundo material. Capacitar-se a ultrapassar a necedade material é o mais elevado puruṣārtha, ou bênção para o ser humano. Dhruva Mahārāja, porém, queria uma bênção que superasse inclusive a liberação, o mais elevado puruṣārtha. Ele queria a bênção de poder lembrar-se constantemente dos pés de lótus do Senhor. Essa fase de vida se chama pañcama-puruṣārtha. Quando o devoto chega à plataforma de pañcama-puruṣārtha, simplesmente ocupando-se em serviço devocional ao Senhor, o quarto puruṣārtha, liberação, torna-se muito insignificante a seus olhos. Śrīla Prabodhānanda Sarasvatī afirma a esse respeito que, para o devoto, a liberação é uma condição de vida infernal; quanto ao gozo dos sentidos, que está disponível nos planetas celestiais, o devoto o considera como um fogo fátuo, sem nenhum valor na vida. Os yogīs esforçam-se por controlar os sentidos, mas, para o devoto, controlar os sentidos não é nada difícil. Compara-se os sentidos a serpentes, mas, para o devoto, as presas venenosas das serpentes estão quebradas. Assim, Śrīla Prabodhānanda Sarasvatī analisa todas as espécies de bênçãos disponíveis neste mundo, e declara nitidamente que, para o devoto puro, nenhuma delas tem importância. Dhruva Mahārāja era também um mahā-bhāgavata, ou um devoto puro de primeira classe, e era muito inteligente (mahā-matiḥ). A menos que alguém seja muito inteligente, não pode adotar o serviço devocional, ou a consciência de Kṛṣṇa. Naturalmente, qualquer pessoa que seja um devoto de primeira classe é decerto uma pessoa inteligente de primeira classe e, por isso, não se interessa por nenhuma espécie de bênção neste mundo material. O rei dos reis ofereceu uma bênção a Dhruva Mahārāja. Kuvera, o tesoureiro dos semideuses, cuja única ocupação é fornecer imensas riquezas a pessoas dentro deste mundo materialista, é descrito como o rei dos reis porque quem não é abençoado por Kuvera não pode tornar-se rei. O rei dos reis pessoalmente ofereceu a Dhruva Mahārāja qualquer quantidade de riquezas, mas esse se recusou a aceitá-las. Ele é descrito, portanto, como mahā-matiḥ, muito pensativo, ou altamente intelectual.

Texto

tasya prītena manasā
tāṁ dattvaiḍaviḍas tataḥ
paśyato ’ntardadhe so ’pi
sva-puraṁ pratyapadyata

Sinônimos

tasya — com Dhruva; prītena — estando muito satisfeito; manasā — com tal mentalidade; tām — aquela lembrança; dattvā — tendo dado; aiḍaviḍaḥ — Kuvera, filho de Iḍaviḍā; tataḥ — depois disso; paśyataḥ — enquanto Dhruva observava; antardadhe — desapareceu; saḥ — ele (Dhruva); api — também; sva-puram — a sua cidade; pratyapadyata — regressou.

Tradução

O filho de Iḍaviḍā, o senhor Kuvera, ficou muito satisfeito e alegremente deu a Dhruva Mahārāja a bênção que ele queria. Depois disso, desapareceu da presença de Dhruva, e Dhruva Mahārāja regressou à sua capital.

Comentário

SIGNIFICADO—Kuvera, que é conhecido como o filho de Iḍaviḍā, ficou muito satisfeito com Dhruva Mahārāja por este não lhe ter pedido nenhuma coisa materialmente desfrutável. Como Kuvera é um dos semideuses, pode ser que alguém apresente o seguinte argumento: “Por que Dhruva Mahārāja recebeu uma bênção de um semideus?” A resposta é que, para um vaiṣṇava, não há objeção quanto a aceitar a bênção de um semideus caso ela seja favorável ao avanço em consciência de Kṛṣṇa. As gopīs, por exemplo, adoraram Kātyāyanī, uma semideusa, mas a única bênção que queriam da deusa era ter Kṛṣṇa como esposo delas. O vaiṣṇava não está interessado em pedir bênção alguma aos semideuses, tampouco está interessado em pedir bênçãos à Suprema Personalidade de Deus. Declara-se no Bhāgavatam que a liberação pode ser oferecida pela Pessoa Suprema, mas, mesmo que o Senhor Supremo ofereça a liberação a um devoto puro, esse se recusa a aceitá-la. Dhruva Mahārāja não pediu a Kuvera sua transferência ao mundo espiritual, a qual se chama liberação; ele simplesmente pediu que, onde quer que permanecesse – quer no mundo espiritual, quer no mundo material –, ele pudesse sempre lembrar-se da Suprema Personalidade de Deus. Um vaiṣṇava é sempre respeitoso com todos. Assim, quando Kuvera se ofereceu para lhe dar uma bênção, ele não a recusou. Porém, quis algo que fosse favorável a seu avanço em consciência de Kṛṣṇa.

Texto

athāyajata yajñeśaṁ
kratubhir bhūri-dakṣiṇaiḥ
dravya-kriyā-devatānāṁ
karma karma-phala-pradam

Sinônimos

atha — depois disso; ayajata — ele adorou; yajña- yajña-īśam — o senhor dos sacrifícios; kratubhiḥ — mediante cerimônias sacrificatórias; bhūri — grandiosas; dakṣiṇaiḥ — mediante caridades; dravya-kriyā-devatānām — de (sacrifícios incluindo várias) parafernália, atividades e semideuses; karma — o objetivo; karma-phala — o resultado das atividades; pradam — que outorga.

Tradução

Enquanto permaneceu em seu lar, Dhruva Mahārāja executou muitas grandiosas cerimônias de sacrifício a fim de satisfazer o desfrutador de todos os sacrifícios, a Suprema Personalidade de Deus. As cerimônias sacrificatórias prescritas destinam-se especialmente a satisfazer o Senhor Viṣṇu, que é o objetivo de todos esses sacrifícios e que outorga as bênçãos resultantes.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (3.9), afirma-se que yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’ya karma-bandhanaḥ: devemos agir ou trabalhar somente a fim de agradar ao Senhor Supremo, ou nos enredamos nas reações resultantes. Segundo as quatro divisões de varṇa e āśrama, os kṣatriyas e vaiśyas são especialmente aconselhados a executar grandes cerimônias sacrificatórias e a distribuir o dinheiro por eles acumulado de maneira muito liberal. Dhruva Mahārāja, como rei e kṣatriya ideal, executou muitos desses sacrifícios, dando caridade muito liberalmente. Os kṣatriyas e vaiśyas devem ganhar seu dinheiro e acumular grandes riquezas. Às vezes, eles o fazem agindo pecaminosamente. Os kṣatriyas destinam-se a governar uma terra; Dhruva Mahārāja, por exemplo, no decorrer de seu governo, teve que lutar e matar muitos Yakṣas. Ações como essa são necessárias para um kṣatriya. O kṣatriya não deve ser um covarde, e não deve ser não-violento: para governar um território, ele precisa agir com violência.

Portanto, aconselha-se aos kṣatriyas e vaiśyas que deem em caridade pelo menos cinquenta por cento de sua riqueza acumulada. A Bhagavad-gītā recomenda que, ainda que alguém ingresse na ordem de vida renunciada, não pode deixar de praticar yajña, dāna e tapasya. Essas são coisas que nunca se deve abandonar. A tapasya destina-se à ordem de vida renunciada; aqueles que estão retirados das atividades mundanas devem executar tapasya, penitências e austeridades. Aqueles que estão no mundo material, os kṣatriyas e vaiśyas, devem fazer caridade. Os brahmacārīs, no começo de suas vidas, devem realizar diferentes tipos de yajñas.

Dhruva Mahārāja, como rei ideal, praticamente esvaziou seu tesouro fazendo caridade. O rei não se destina apenas a cobrar impostos dos cidadãos e acumular riquezas para gastá-las com gozo dos sentidos. A monarquia mundial fracassou porque os reis começaram a satisfazer seus próprios sentidos com os impostos arrecadados dos cidadãos. Evidentemente, quer o sistema seja monarquia, quer seja democracia, ainda acontece a mesma corrupção. No momento atual, existem diferentes partidos no governo democrático, mas todos estão atarefados em tentar manter seus postos ou manter seu partido político no poder. Os políticos têm pouquíssimo tempo para pensar no bem-estar dos cidadãos, aos quais eles oprimem com pesados tributos sob a forma de imposto de renda, imposto sobre as vendas e muitos outros – as pessoas às vezes perdem oitenta a noventa por cento de suas rendas pagando impostos, que são prodigamente despendidos em altos salários pagos aos funcionários e governantes. Antigamente, os impostos arrecadados dos cidadãos eram gastos para a execução de grandes sacrifícios prescritos na literatura védica. No momento atual, entretanto, praticamente nenhuma das formas de sacrifício é possível; portanto, os śāstras recomendam que todos devem executar saṅkīrtana-yajña. Qualquer chefe de família, não importa qual seja sua posição, pode executar este saṅkīrtana-yajña sem despesa. Todos os membros da família podem sentar-se juntos e simplesmente bater palmas e cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. De alguma forma, todos podem dar um jeito de executar semelhante yajña e distribuir prasāda para as pessoas em geral. Isso já é suficiente para esta era de Kali. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa se baseia neste princípio: cantamos o mantra Hare Kṛṣṇa a todo momento, na medida do possível, tanto dentro quanto fora dos templos, e, na medida do possível, distribuímos prasāda. Este processo poderá ser acelerado com a cooperação de administradores do estado e daqueles que produzem a riqueza do país. Simplesmente mediante a distribuição liberal de prasāda e saṅkīrtana, o mundo inteiro poderá tornar-se pacífico e próspero.

De um modo geral, em todos os sacrifícios materiais recomendados na literatura védica existem oferendas aos semideuses. Essa adoração a semideuses destina-se especialmente aos homens menos inteligentes. Na verdade, o resultado de tal sacrifício vai para a Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa. O Senhor Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (5.29) que bhoktāraṁ yajña-tapasām: Ele é, na verdade, o desfrutador de todos os sacrifícios. Seu nome, portanto, é Yajña-puruṣa.

Embora Dhruva Mahārāja fosse um grande devoto e nada tivesse a ver com esses sacrifícios, a fim de estabelecer o exemplo para seu povo, ele executou muitos sacrifícios e deu toda a sua riqueza em caridade. Por todo o tempo em que viveu como chefe de família, ele jamais gastou um centavo de sua riqueza para o gozo de seus sentidos. Neste verso, a expressão karma-phala-pradam é muito significativa. Conforme o desejo de cada entidade viva individual, o Senhor concede uma espécie de karma diferente. Ele é a Superalma presente dentro do coração de todos, e é tão bondoso e liberal que dá a todos os recursos para executarem quaisquer ações que desejem. Então, o resultado da ação também é desfrutado pela entidade viva. Se alguém quiser desfrutar ou assenhorear-se da natureza material, o Senhor lhe dará todos os recursos, só que ele ficará enredado nas reações resultantes. Do mesmo modo, se alguém quiser ocupar-se plenamente em serviço devocional, o Senhor lhe dará todos os recursos, e o devoto gozará dos resultados. O Senhor, portanto, é conhecido como karma-phala-prada.

Texto

sarvātmany acyute ’sarve
tīvraughāṁ bhaktim udvahan
dadarśātmani bhūteṣu
tam evāvasthitaṁ vibhum

Sinônimos

sarva-ātmani — à Superalma; acyute — infalível; asarve — sem qualquer limite; tīvra-oghām — com força inexorável; bhaktim — serviço devocional; udvahan — prestando; dadarśa — ele viu; ātmani — no Espírito Supremo; bhūteṣu — em todas as entidades vivas; tam — a Ele; eva — apenas; avasthitam — situado; vibhum — todo-poderoso.

Tradução

Dhruva Mahārāja prestou serviço devocional ao Supremo, o reservatório de tudo, com força inexorável. Enquanto executava seu serviço devocional ao Senhor, ele pôde ver que tudo está situado nEle somente e que Ele está situado em todas as entidades vivas. O Senhor chama-Se Acyuta porque não falha jamais em Seu dever primordial de dar proteção a Seus devotos.

Comentário

SIGNIFICADO—Dhruva Mahārāja não somente executava muitos sacrifícios, mas também prosseguia com sua ocupação transcendental de prestar serviço devocional ao Senhor. Os karmīs comuns, que desejam gozar dos resultados de atividades fruitivas, interessam-se apenas em sacrifícios e cerimônias ritualísticas prescritos nos śāstras védicos. Embora Dhruva Mahārāja executasse muitos sacrifícios de modo a ser um rei exemplar, ele se dedicava constantemente ao serviço devocional. O Senhor sempre protege Seu devoto rendido. O devoto pode ver que o Senhor encontra-Se no coração de todos, como se afirma na Bhagavad-gītā (īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati). As pessoas comuns não podem entender como o Senhor Supremo Se encontra no coração de todos, mas o devoto pode realmente vê-lO. O devoto não somente pode vê-lO externamente, mas também pode ver, com visão espiritual, que tudo repousa na Suprema Personalidade de Deus, como se descreve na Bhagavad-gītā (mat-sthāni sarva-bhūtāni). Essa é a visão de um mahā-bhāgavata. Ele vê tudo que os outros veem, mas, ao invés de ver meramente as árvores, as montanhas, as cidades ou o céu, ele vê apenas a sua adorável Suprema Personalidade de Deus em tudo porque tudo repousa nEle apenas. Essa é a visão do mahā-bhāgavata. Em suma, o mahā-bhāgavata, o devoto puro altamente elevado, vê o Senhor em toda parte, bem como dentro do coração de todos. Isso é possível para devotos que tenham desenvolvido um elevado serviço devocional ao Senhor. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (5.38), premāñjana-cchurita-bhakti-vilocanena: somente quem tenha untado os olhos com o unguento do amor a Deus pode ver o Senhor Supremo em toda parte, face a face. Isso não é possível através da imaginação ou da dita meditação.

Texto

tam evaṁ śīla-sampannaṁ
brahmaṇyaṁ dīna-vatsalam
goptāraṁ dharma-setūnāṁ
menire pitaraṁ prajāḥ

Sinônimos

tam — a ele; evam — assim; śīla — com qualidades divinas; sampannam — dotado; brahmaṇyam — respeitoso com os brāhmaṇas; dīna — com os pobres; vatsalam — amável; goptāram — protetor; dharma-setūnām — dos princípios religiosos; menire — julgado; pitaram — pai; prajāḥ — os cidadãos.

Tradução

Dhruva Mahārāja era dotado com todas as qualidades divinas. Ele era muito respeitoso com os devotos do Senhor Supremo, muito amável com os pobres e inocentes e protegia os princípios religiosos. Com todas essas qualificações, ele era considerado o pai direto de todos os cidadãos.

Comentário

SIGNIFICADO—As qualidades pessoais de Dhruva Mahārāja descritas nesta passagem são qualidades exemplares de um rei santo. Não somente um rei, mas também os líderes de um moderno governo democrático ou impessoal, precisam ser qualificados com todas essas características divinas. Só então os cidadãos do estado poderão ser felizes. Este verso afirma claramente que os cidadãos julgavam Dhruva Mahārāja como pai deles; assim como uma criança, dependente de pai idôneo, vive inteiramente satisfeita, do mesmo modo, os cidadãos do estado, sendo protegidos pelo estado ou pelo rei, devem permanecer satisfeitos em todos os sentidos. No momento atual, contudo, o governo não garante nem mesmo as necessidades primárias da vida civil, a saber, a proteção às vidas e à propriedade dos cidadãos.

Uma palavra é muito significativa a este respeito: brahmaṇyam. Dhruva Mahārāja era muito devotado aos brāhmaṇas, que se dedicam ao estudo dos Vedas e, desse modo, conhecem a Suprema Personalidade de Deus. Eles estão sempre atarefados, propagando a consciência de Kṛṣṇa. O estado deve ser muito respeitoso com sociedades que distribuem a consciência de Deus em todo o mundo, mas, infelizmente, no momento atual, não há apoio governamental ou estatal para semelhantes movimentos. Quanto a boas qualidades, é muito difícil encontrar alguém na administração estatal que tenha alguma boa qualidade. Os administradores só fazem sentar-se em seus postos administrativos e dizer não a qualquer pedido, como se fossem pagos para dizer não aos cidadãos. Outra palavra, dīna-vatsalam, também é muito significativa. O líder do estado deve ser muito amável com os inocentes. Infelizmente, nesta era, os agentes do estado e os presidentes recebem bons salários do estado e fazem-se passar por pessoas muito piedosas – mas permitem o funcionamento de matadouros, onde animais inocentes são mortos. Se tentarmos comparar as qualidades divinas de Dhruva Mahārāja com as qualidades de estadistas modernos, poderemos ver que não há termo de comparação. Dhruva Mahārāja viveu em Satya-yuga, como deixarão claro os versos seguintes. Ele foi o rei ideal em Satya-yuga. A administração do governo na era atual (Kali-yuga) carece de todas as qualidades divinas. Considerando todos esses pontos, as pessoas de hoje não têm alternativa senão adotar a consciência de Kṛṣṇa para protegerem sua religião, sua vida e sua propriedade.

Texto

ṣaṭ-triṁśad-varṣa-sāhasraṁ
śaśāsa kṣiti-maṇḍalam
bhogaiḥ puṇya-kṣayaṁ kurvann
abhogair aśubha-kṣayam

Sinônimos

ṣaṭ-triṁśat — trinta e seis; varṣa — anos; sāhasram — mil; śaśāsa — governou; kṣiti-maṇḍalam — o planeta Terra; bhogaiḥ — através do desfrute; puṇya — de reações a atividades piedosas; kṣayam — diminuição; kurvan — fazendo; abhogaiḥ — mediante austeridades; aśubha — das reações inauspiciosas; kṣayam — diminuição.

Tradução

Dhruva Mahārāja governou este planeta por trinta e seis mil anos; desfrutando, ele diminuía as reações de atividades piedosas, e, praticando austeridades, diminuía as reações inauspiciosas.

Comentário

SIGNIFICADO—O fato de Dhruva Mahārāja ter governado o planeta por trinta e seis mil anos significa que ele viveu em Satya-yuga, porque vivia-se cem mil anos em Satya-yuga. No yuga seguinte, Tretā, as pessoas viviam dez mil anos, e no yuga seguinte, Dvāpara, mil anos. Na era atual, Kali-yuga, a duração máxima de vida é de cem anos. Com a mudança dos yugas, a duração de vida e a memória, a qualidade da bondade e todas as demais boas qualidades diminuem. Há duas espécies de atividades, a saber, piedosas e ímpias. Executando atividades piedosas, podemos obter oportunidades para gozo material superior, mas, devido às atividades ímpias, temos que nos submeter a rigorosas aflições. O devoto, contudo, não se interessa pelo prazer nem se deixa afetar pela aflição. Quando é próspero, ele sabe: “Estou reduzindo os resultados de minhas atividades piedosas”, e, quando está em aflição, ele sabe: “Estou reduzindo as reações de minhas atividades impiedosas.” O devoto não se preocupa com prazer ou com aflição: ele simplesmente deseja executar serviço devocional. O Śrīmad-Bhāgavatam diz que o serviço devocional deve ser apratihatā, não obstruído pelas condições materiais de felicidade ou aflição. O devoto se submete a processos de austeridade, tais como seguir o Ekādaśī e outros dias de jejum semelhantes e abster-se de vida sexual ilícita, intoxicação, jogos de azar e consumo de carne. Assim, ele se purifica das reações de sua vida ímpia passada, e, como se ocupa em serviço devocional, que é a atividade mais piedosa, ele goza da vida sem esforço adicional.

Texto

evaṁ bahu-savaṁ kālaṁ
mahātmāvicalendriyaḥ
tri-vargaupayikaṁ nītvā
putrāyādān nṛpāsanam

Sinônimos

evam — assim; bahu — muitos; savam — anos; kālam — tempo; mahā-ātmā — grande alma; avicala-indriyaḥ — sem se deixar perturbar pela agitação dos sentidos; tri-varga — três classes de atividades mundanas; aupayikam — favoráveis à execução; nītvā — tendo passado; putrāya — a seu filho; adāt — ele legou; nṛpa-āsanam — o trono real.

Tradução

Dhruva Mahārāja, que era autocontrolado e uma grande alma, passou assim muitos e muitos anos favoravelmente executando três classes de atividades mundanas, a saber, religiosidade, desenvolvimento econômico e satisfação de todos os desejos materiais. Depois disso, ele passou a responsabilidade do trono real a seu filho.

Comentário

SIGNIFICADO—A perfeição da vida materialista é adequadamente atingida mediante o processo de observar princípios religiosos. Isso leva automaticamente ao desenvolvimento econômico bem-sucedido e, assim, não há dificuldade em satisfazer todos os desejos materiais. Uma vez que Dhruva Mahārāja, como rei, precisava manter seu status quo ou lhe seria impossível governar as pessoas em geral, ele o fazia perfeitamente. Porém, tão logo viu que seu filho estava crescido e poderia encarregar-se do trono real, ele imediatamente lhe passou a responsabilidade e retirou-se de todas as ocupações materiais.

É muito significativa a palavra avicalendriyaḥ usada aqui, a qual significa que ele não se deixava perturbar pela agitação dos sentidos, tampouco seu poder sensório diminuíra, embora em idade fosse um homem muito velho. Como governou o mundo por trinta e seis mil anos, naturalmente se pode concluir que ele ficou velhíssimo, mas, de fato, seus sentidos estavam muito jovens – apesar do que ele não estava interessado em gozo dos sentidos. Em outras palavras, ele permanecia autocontrolado. Ele cumpria seus deveres perfeitamente de acordo com o processo materialista. Assim se comportam os grandes devotos. Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī, um dos discípulos diretos do Senhor Caitanya, era filho de um homem riquíssimo. Embora não tivesse interesse em gozar de felicidade material, ao ser incumbido de fazer algo na administração do estado, ele o fez perfeitamente. Śrīla Gaurasundara aconselhou-o assim: “Interiormente, mantém-te a ti mesmo e a tua mente completamente à parte, mas, externamente, cumpre com os deveres materiais da maneira que for preciso.” Apenas devotos podem alcançar essa posição transcendental, como se descreve na Bhagavad-gītā: enquanto outros, tais como os yogīs, tentam controlar seus sentidos à força, os devotos, muito embora possuam plenos poderes sensórios, não os utilizam porque se ocupam em atividades superiores, transcendentais.

Texto

manyamāna idaṁ viśvaṁ
māyā-racitam ātmani
avidyā-racita-svapna-
gandharva-nagaropamam

Sinônimos

manyamānaḥ — compreendendo; idam — este; viśvam — universo; māyā — pela energia externa; racitam — fabricado; ātmani — à entidade viva; avidyā — pela ilusão; racita — fabricado; svapna — um sonho; gandharva-nagara — fantasmagoria; upamam — como.

Tradução

Śrīla Dhruva Mahārāja compreendeu que esta manifestação cósmica confunde as entidades vivas assim como um sonho ou uma fantasmagoria por ser uma criação da energia externa ilusória do Senhor Supremo.

Comentário

SIGNIFICADO—Na floresta densa, às vezes parece haver grandes palácios e belas cidades. O nome técnico desse fenômeno é gandharva-nagara. Do mesmo modo, ao sonhar, também criamos muitas coisas falsas devido à imaginação. Uma pessoa autorrealizada, ou um devoto, sabe muito bem que esta manifestação cósmica material é uma representação ilusória e temporária que parece verdadeira. Ela é como uma fantasmagoria. Porém, por trás desta criação-sombra, está a realidade – o mundo espiritual. O devoto está interessado no mundo espiritual, e não em sua sombra. Por ter compreensão da verdade suprema, o devoto não está interessado nesta sombra temporária da verdade. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (paraṁ dṛṣṭvā nivartate).

Texto

ātma-stry-apatya-suhṛdo balam ṛddha-kośam
antaḥ-puraṁ parivihāra-bhuvaś ca ramyāḥ
bhū-maṇḍalaṁ jaladhi-mekhalam ākalayya
kālopasṛṣṭam iti sa prayayau viśālām

Sinônimos

ātma — corpo; strī — esposas; apatya — filhos; suhṛdaḥ — amigos; balam — influência, exército; ṛddha-kośam — rico tesouro; antaḥ-puram — aposentos residenciais femininos; parivihāra-bhuvaḥ — parques de recreação; ca — e; ramyāḥ — belos; bhū-maṇḍalam — toda a Terra; jala-dhi — pelos oceanos; mekhalam — limitado; ākalayya — considerando; kāla — pelo tempo; upasṛṣṭam — criados; iti — assim; saḥ — ele; prayayau — foi; viśālām — para Badarikāśrama.

Tradução

Assim, Dhruva Mahārāja deixou enfim seu reino, que se estendia por toda a Terra e cujos limites eram os grandes oceanos. Ele considerou seu corpo, suas esposas, seus filhos, seus amigos, seu exército, seu rico tesouro, seus tão confortáveis palácios e seus muitos e desfrutáveis parques de recreação como criações da energia ilusória. Assim, no devido curso do tempo, retirou-se para a floresta nos Himalaias conhecida como Badarikāśrama.

Comentário

SIGNIFICADO—No começo de sua vida, quando foi à floresta em busca da Suprema Personalidade de Deus, Dhruva Mahārāja compreendeu que todos os conceitos corpóreos de prazer são produtos da energia ilusória. A princípio, é claro, ele almejava o reino de seu pai, e, a fim de obtê-lo, saiu em busca do Senhor Supremo. Mais tarde, porém, compreendeu que tudo é uma criação da energia ilusória. Pelos atos de Śrīla Dhruva Mahārāja, podemos compreender que, de alguma forma, se alguém se tornar consciente de Kṛṣṇa – não importa qual seja sua motivação no começo – acabará compreendendo a verdade real pela graça do Senhor. A princípio, Dhruva Mahārāja estava interessado no reino de seu pai; mais tarde, porém, tornou-se um grande devoto, mahā-bhāgavata, e perdeu qualquer interesse por gozo material. Apenas os devotos podem alcançar a perfeição da vida. Mesmo que alguém complete apenas uma porcentagem diminuta do serviço devocional e, então, caia de sua posição imatura, ele é melhor do que uma pessoa que se dedica plenamente às atividades fruitivas deste mundo material.

Texto

tasyāṁ viśuddha-karaṇaḥ śiva-vār vigāhya
baddhvāsanaṁ jita-marun manasāhṛtākṣaḥ
sthūle dadhāra bhagavat-pratirūpa etad
dhyāyaṁs tad avyavahito vyasṛjat samādhau

Sinônimos

tasyām — em Badarikāśrama; viśuddha — purificados; karaṇaḥ — seus sentidos; śiva — pura; vāḥ — água; vigāhya — banhando-se em; baddhvā — tendo fixado; āsanam — postura sentada; jita — controlado; marut — processo respiratório; manasā — pela mente; āhṛta — recolhidos; akṣaḥ — seus sentidos; sthūle — física; dadhāra — ele concentrou; bhagavat-pratirūpe — na forma exata do Senhor; etat — a mente; dhyāyan — meditando em; tat — isto; avyavahitaḥ — sem parar; vyasṛjat — ele entrou; samādhau — em transe.

Tradução

Em Badarikāśrama, os sentidos de Dhruva Mahārāja purificaram-se por completo porque ele se banhava regularmente em água pura e cristalina. Ele se fixou em uma postura sentada e, mediante a prática de yoga, controlou o processo respiratório e o ar vital; dessa maneira, recolheu seus sentidos inteiramente. Então, concentrou sua mente na forma arcā-vigraha do Senhor, que é a réplica exata do Senhor, e, assim meditando nEle, entrou em transe completo.

Comentário

SIGNIFICADO—Eis aqui uma descrição do sistema de aṣṭāṅga-yoga, com o qual Dhruva Mahārāja já estava acostumado. O aṣṭāṅga-yoga jamais serviu para ser praticado em uma cidade moderna. Dhruva Mahārāja foi sozinho para Badarikāśrama, onde, em um local solitário, praticou yoga. Ele concentrou sua mente no arcā-vigraha, a adorável Deidade do Senhor, que representa exatamente o Senhor Supremo, e pensando constantemente naquela Deidade, absorveu-se em transe. A adoração ao arcā-vigraha não é idolatria. O arcā-vigraha é uma encarnação do Senhor sob uma forma que o devoto pode apreciar. Portanto, os devotos no templo se ocupam a serviço do Senhor como o arcā-vigraha, uma forma feita de objetos sthūla (materiais), tais como pedra, metal, madeira, joias ou pintura. Todos esses elementos chamam-se sthūla, ou representações físicas. Uma vez que os devotos seguem os princípios reguladores de adoração, muito embora o Senhor esteja ali sob Sua forma física, Ele não é diferente de Sua forma espiritual original. Assim, o devoto obtém o benefício de alcançar a meta última da vida, isto é, estar sempre absorto em pensar no Senhor. Esse pensamento incessante no Senhor, como se prescreve na Bhagavad-gītā, faz da pessoa o yogī mais elevado.

Texto

bhaktiṁ harau bhagavati pravahann ajasram
ānanda-bāṣpa-kalayā muhur ardyamānaḥ
viklidyamāna-hṛdayaḥ pulakācitāṅgo
nātmānam asmarad asāv iti mukta-liṅgaḥ

Sinônimos

bhaktim — o serviço devocional; harau — a Hari; bhagavati — a Suprema Personalidade de Deus; pravahan — constantemente ocupado em; ajasram — sempre; ānanda — bem-aventurado; bāṣpa-kalayā — por uma torrente de lágrimas; muhuḥ — repetidamente; ardyamāna — sendo dominado; viklidyamāna — derretendo; hṛdayaḥ — seu coração; pulaka — arrepio dos cabelos; ācita — coberto; aṅgaḥ — seu corpo; na — não; ātmānam — corpo; asmarat — ele se lembrou; asau — ele; iti — assim; mukta-liṅgaḥ — livre do corpo sutil.

Tradução

Por causa de sua bem-aventurança transcendental, lágrimas incessantes fluíam de seus olhos, seu coração se derretia, seu corpo tremia e seus cabelos se arrepiavam. Assim transformado, num transe de serviço devocional, Dhruva Mahārāja esqueceu-se inteiramente de sua existência corpórea e, desse modo, libertou-se imediatamente do cativeiro material.

Comentário

SIGNIFICADO—Devido à ocupação constante em serviço devocional – ouvindo, cantando, lembrando, adorando a Deidade etc., como se prescreve em nove variedades – diferentes sintomas manifestam-se no corpo de um devoto. Essas oito transformações corpóreas, indicadoras de que o devoto já está liberado internamente, chamam-se aṣṭa-sāttvika-vikāra. Um devoto que se esquece inteiramente de sua existência corpórea deve ser considerado liberado. Ele já não está engaiolado no corpo. Apresenta-se o exemplo de que, quando um coco fica totalmente seco, a polpa dentro de sua casca solta-se da casca interna e da cobertura externa. Sacudindo o coco seco, pode-se ouvir que a polpa já não está ligada à casca interna ou à cobertura. Analogamente, quem se absorve por inteiro em serviço devocional desliga-se por completo das duas coberturas materiais, os corpos grosseiro e sutil. Dhruva Mahārāja alcançou essa fase de vida executando serviço devocional constantemente. Ele já foi descrito como mahā-bhāgavata, pois, a menos que alguém se torne um mahā-bhāgavata, ou devoto puro de primeira classe, esses sintomas não são visíveis em seu corpo. O Senhor Caitanya manifestou todos esses sintomas. Ṭhākura Haridāsa também os manifestou, e há muitos devotos puros que manifestaram tais sintomas corpóreos. Eles não devem ser imitados, mas, quando alguém é realmente avançado, esses sintomas manifestam-se nele, ocasião em que se deve entender que o devoto está materialmente livre. Evidentemente, o caminho da liberação abre-se desde o início do serviço devocional, assim como o coco tirado do coqueiro começa a secar de imediato: simplesmente leva algum tempo para que a casca e a polpa se separem uma da outra.

Muito importante neste verso é a expressão mukta-liṅgaḥ. Mukta significa “liberado”, e liṅga, “o corpo sutil”. Quando um homem morre, ele abandona o corpo grosseiro, mas o corpo sutil composto de mente, inteligência e ego transporta-o para um corpo novo. Durante sua existência no corpo atual, o mesmo corpo sutil o transporta de uma fase de vida a outra (por exemplo, da infância à juventude) através do desenvolvimento mental. A condição mental de um bebê é diferente daquela de um menino, a condição mental de um menino é diferente daquela de um jovem, e a condição mental de um jovem é diferente daquela de um idoso. Assim, no momento da morte, o processo de mudar de corpo ocorre devido ao corpo sutil; a mente, a inteligência e o ego transportam a alma de um corpo grosseiro a outro. Isso se chama transmigração da alma. Porém, há outra fase, em que nos libertamos inclusive do corpo sutil; nessa altura, a entidade viva é competente e está plenamente preparada para transferir-se ao mundo transcendental ou espiritual.

A descrição dos sintomas corpóreos de Śrī Dhruva Mahārāja evidencia que ele se tornou perfeitamente digno de ser transferido ao mundo espiritual. Pode-se experimentar a distinção entre os corpos grosseiro e sutil mesmo no cotidiano: durante o sonho, o corpo grosseiro fica deitado na cama enquanto o corpo sutil transporta a alma, a entidade viva, para outra atmosfera. Porém, como o corpo grosseiro tem que continuar, o corpo sutil volta e se aloja no atual corpo grosseiro. Portanto, é preciso libertar-se também do corpo sutil. Essa liberdade é conhecida como mukta-liṅga.

Texto

sa dadarśa vimānāgryaṁ
nabhaso ’vatarad dhruvaḥ
vibhrājayad daśa diśo
rākāpatim ivoditam

Sinônimos

saḥ — ele; dadarśa — viu; vimāna — um aeroplano; agryam — belíssimo; nabhasaḥ — do céu; avatarat — descendo; dhruvaḥ — Dhruva Mahārāja; vibhrājayat — iluminando; daśa — dez; diśaḥ — direções; rākā-patim — a lua cheia; iva — como; uditam — visível.

Tradução

Logo que os sintomas de sua liberação se manifestaram, ele viu um aeroplano belíssimo descendo do céu, como se a brilhante lua cheia estivesse descendo, iluminando todas as dez direções.

Comentário

SIGNIFICADO—Há diferentes níveis de conhecimento adquirido – conhecimento direto, conhecimento recebido de autoridades, conhecimento transcendental, conhecimento além dos sentidos e, finalmente, conhecimento espiritual. Quando alguém supera a fase de adquirir conhecimento através do processo descendente, situa-se prontamente na plataforma transcendental. Dhruva Mahārāja, estando liberado do conceito material da vida, situou-se no conhecimento transcendental e pôde perceber a presença de um aeroplano transcendental que era brilhante como a lua cheia. Isso não é possível nas fases de percepção direta ou indireta de conhecimento. Tal conhecimento é um favor especial da Suprema Personalidade de Deus. É possível, contudo, elevar-se a essa plataforma de conhecimento mediante o processo gradual de avançar em serviço devocional, ou consciência de Kṛṣṇa.

Texto

tatrānu deva-pravarau catur-bhujau
śyāmau kiśorāv aruṇāmbujekṣaṇau
sthitāv avaṣṭabhya gadāṁ suvāsasau
kirīṭa-hārāṅgada-cāru-kuṇḍalau

Sinônimos

tatra — ali; anu — então; deva-pravarau — dois belíssimos semideuses; catuḥ-bhujau — com quatro braços; śyāmau — enegrecido; kiśorau — bem jovens; aruṇa — avermelhada; ambuja — flor de lótus; īkṣaṇau — com olhos; sthitau — situados; avaṣṭabhya — trazendo; gadām — maças; suvāsasau — com belas roupas; kirīṭa — elmos; hāra — colares; aṅgada — braceletes; cāru — belos; kuṇḍalau — com brincos.

Tradução

Dhruva Mahārāja viu dois belíssimos associados do Senhor Viṣṇu no aeroplano. Eles tinham quatro mãos e um brilho corporal enegrecido, eram muito jovens e seus olhos pareciam flores de lótus avermelhadas. Traziam maças em suas mãos e estavam vestidos com roupas muito atrativas, com elmos e decorados com colares, braceletes e brincos.

Comentário

SIGNIFICADO—Os habitantes de Viṣṇuloka têm as mesmas feições corpóreas que o Senhor Viṣṇu, e também portam maça, búzio, flor de lótus e disco. Neste verso, afirma-se distintamente que eles tinham quatro mãos e estavam muito bem vestidos; a descrição da decoração de seus corpos corresponde exatamente à de Viṣṇu. Assim, as duas personalidades incomuns que desceram do aeroplano vieram diretamente de Viṣṇuloka, ou o planeta onde vive o Senhor Viṣṇu.

Texto

vijñāya tāv uttamagāya-kiṅkarāv
abhyutthitaḥ sādhvasa-vismṛta-kramaḥ
nanāma nāmāni gṛṇan madhudviṣaḥ
pārṣat-pradhānāv iti saṁhatāñjaliḥ

Sinônimos

vijnāya — após compreender; tau — a eles; uttama-gāya — do Senhor Viṣṇu (de excelente renome); kiṅkarau — dois servos; abhyutthitaḥ — levantou-se; sādhvasa — por estar maravilhado; vismṛta — esqueceu-se; kramaḥ — comportamento adequado; nanāma — ofereceu reverências; nāmāni — nomes; gṛṇan — cantando; madhu-dviṣaḥ — do Senhor (o inimigo de Madhu); pārṣat — associados; pradhānau — principais; iti — assim; saṁhata — juntou respeitosamente; añjaliḥ — de mãos postas.

Tradução

Vendo que essas personalidades incomuns eram servos diretos da Suprema Personalidade de Deus, Dhruva Mahārāja se levantou prontamente. Porém, estando muito maravilhado, ele se desquietou e se esqueceu de como recebê-los de maneira adequada. Portanto, ele simplesmente ofereceu reverências de mãos postas e entoou e glorificou os santos nomes do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—O canto dos santos nomes do Senhor é perfeito em todos os sentidos. Quando Dhruva Mahārāja viu os Viṣṇudūtas, os associados diretos do Senhor Viṣṇu, com quatro mãos e belamente decorados, ele pôde compreender quem eles eram, mas ficou temporariamente perplexo. Porém, simplesmente cantando o santo nome do Senhor, o mantra Hare Kṛṣṇa, ele pôde satisfazer os convidados incomuns que de repente apareceram diante dele. O canto do santo nome do Senhor é perfeito: mesmo que alguém não saiba como agradar o Senhor Viṣṇu ou Seus associados, cantando com sinceridade o santo nome do Senhor, tudo se torna perfeito para ele. O devoto, portanto, seja no perigo, seja na felicidade, canta constantemente o mantra Hare Kṛṣṇa. Quando está em perigo, alivia-se imediatamente, e, quando está em uma posição em que pode ver o Senhor Viṣṇu ou Seus associados diretamente, cantando esse mahā-mantra ele pode satisfazer o Senhor. Essa é a natureza absoluta do mahā-mantra. Seja no perigo, seja na felicidade, pode-se cantá-lo sem limitações.

Texto

taṁ kṛṣṇa-pādābhiniviṣṭa-cetasaṁ
baddhāñjaliṁ praśraya-namra-kandharam
sunanda-nandāv upasṛtya sasmitaṁ
pratyūcatuḥ puṣkaranābha-sammatau

Sinônimos

tam — a ele; kṛṣṇa — do Senhor Kṛṣṇa; pāda — dos pés de lótus; abhiniviṣṭa — absorto em pensamentos; cetasam — cujo coração; baddhaañjalim – de mãos postas; praśraya — muito humildemente; namra — prostrado; kandharam — cujo pescoço; sunanda — Sunanda; nandau — e Nanda; upasṛtya — aproximando-se; sa-smitam — sorridentemente; pratyūcatuḥ — dirigiram-se; puṣkara-nābha — do Senhor Viṣṇu, que tem umbigo de lótus; sammatau — servos íntimos.

Tradução

Dhruva Mahārāja estava sempre absorto em pensar nos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa. Seu coração estava repleto de Kṛṣṇa. Quando os dois servos íntimos do Senhor Supremo, chamados Nanda e Sunanda, aproximaram-se dele, sorrindo alegremente, Dhruva permaneceu de mãos postas, humildemente prostrado. Então, dirigiram-se a ele da seguinte maneira.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso, a palavra puṣkaranābha-sammatau é significativa. Kṛṣṇa, ou o Senhor Viṣṇu, é conhecido por Seus olhos de lótus, umbigo de lótus, pés de lótus e palmas de lótus. Aqui Ele é chamado de puṣkara-nābha, o que significa “a Suprema Personalidade de Deus, que tem umbigo de lótus”, e sammatau significa “dois servos íntimos e muito obedientes”. O modo de vida materialista difere do modo de vida espiritual no sentido de que aquele é desobediência e este é obediência à vontade do Senhor Supremo. Todas as entidades vivas são partes integrantes do Senhor Supremo e devem ser sempre favoráveis à ordem da Pessoa Suprema; isso é unidade perfeita.

No mundo Vaikuṇṭha, todas as entidades vivas estão em unidade com a Divindade Suprema porque jamais se opõem a Suas ordens. Aqui no mundo material, contudo, elas não são sammata, favoráveis, mas sempre asammata, desfavoráveis. Esta forma humana de vida é uma oportunidade de nos treinarmos para sermos favoráveis às ordens do Senhor Supremo. A missão do movimento para a consciência de Kṛṣṇa é realizar este treinamento na sociedade. Como se afirma na Bhagavad-gītā, as leis da natureza material são muito estritas; ninguém pode superar as estritas leis da natureza material. Contudo, quem se torna uma alma rendida e concorda com a ordem do Senhor Supremo pode facilmente superar essas leis estritas. A esse respeito, o exemplo de Dhruva Mahārāja é muito adequado. Simplesmente por tornar-se favorável às ordens da Suprema Personalidade de Deus e por desenvolver amor a Deus, Dhruva teve a oportunidade de encontrar-se pessoalmente com os servos íntimos do Senhor Viṣṇu, face a face. O que foi possível para Dhruva Mahārāja é possível para todos. Qualquer pessoa que se dedicar muito seriamente ao serviço devocional poderá obter, no devido curso do tempo, a mesma perfeição da forma humana de vida.

Texto

sunanda-nandāv ūcatuḥ
bho bho rājan subhadraṁ te
vācaṁ no ’vahitaḥ śṛṇu
yaḥ pañca-varṣas tapasā
bhavān devam atītṛpat

Sinônimos

sunanda-nandau ūcatuḥ — Sunanda e Nanda disseram; bhoḥ bhoḥ rājan — ó querido rei; su-bhadram — boa fortuna; te — para ti; vācam — palavras; naḥ — nossas; avahitaḥ — atentamente; śṛṇu — ouve; yaḥ — que; pañca-varṣaḥ — cinco anos de idade; tapasā — pela austeridade; bhavān — tu; devam — a Suprema Personalidade de Deus; atītṛpat — satisfeitíssimo.

Tradução

Nanda e Sunanda, os dois associados íntimos do Senhor Viṣṇu, disseram: Querido rei, toda a boa fortuna a ti! Por favor, ouve atentamente o que diremos. Quando tinhas apenas cinco anos, tu te submeteste a rigorosas austeridades e, desse modo, satisfizeste plenamente a Suprema Personalidade de Deus.

Comentário

SIGNIFICADO—O que foi possível a Dhruva Mahārāja é possível a todos. Qualquer criança de cinco anos pode ser treinada, e, dentro de pouquíssimo tempo, sua vida resultará exitosa pela realização de consciência de Kṛṣṇa. Infelizmente, agora o mundo inteiro carece desse treinamento. É necessário que os líderes do movimento para a consciência de Kṛṣṇa iniciem instituições educacionais em diferentes partes do mundo para treinar crianças a partir da idade de cinco anos. Assim, tais crianças não se tornarão hippies ou crianças mimadas da sociedade; em vez disso, todas elas poderão tornar-se devotas do Senhor. A face do mundo, então, mudará automaticamente.

Texto

tasyākhila-jagad-dhātur
āvāṁ devasya śārṅgiṇaḥ
pārṣadāv iha samprāptau
netuṁ tvāṁ bhagavat-padam

Sinônimos

tasya — Seu; akhila — inteiro; jagat — universo; dhātuḥ — criador; āvām — nós; devasya — da Suprema Personalidade de Deus; śārṅgiṇaḥ — que tem o arco chamado Śārṅga; pārṣadau — associados; iha — agora; samprāptau — aproximamo-nos; netum — para levar; tvām — te; bhagavat-padam — à posição da Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Nós somos representantes da Suprema Personalidade de Deus, o criador de todo o universo, que traz em Sua mão o arco chamado Śārṅga. Fomos especificamente designados para levar-te ao mundo espiritual.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā, o Senhor diz que, simplesmente conhecendo Seus passatempos transcendentais (seja dentro deste mundo material, seja no mundo espiritual), qualquer pessoa que entenda realmente quem Ele é, como Ele aparece e como age poderá imediatamente capacitar-se a se transferir ao mundo espiritual. Este princípio declarado na Bhagavad-gītā funcionou no caso do rei Dhruva. Por toda a sua vida, ele tentou entender a Suprema Personalidade de Deus mediante austeridades e penitências. Agora, o resultado maduro era que Dhruva Mahārāja tornara-se digno de ser levado ao mundo espiritual, acompanhado pelos associados íntimos do Senhor.

Texto

sudurjayaṁ viṣṇu-padaṁ jitaṁ tvayā
yat sūrayo ’prāpya vicakṣate param
ātiṣṭha tac candra-divākarādayo
graharkṣa-tārāḥ pariyanti dakṣiṇam

Sinônimos

sudurjayam — muito difícil de alcançar; viṣṇu-padam — planeta conhecido como Vaikuṇṭhaloka ou Viṣṇuloka; jitam — conquistado; tvayā — por ti; yat — o qual; sūrayaḥ — grandes semideuses; aprāpya — sem atingir; vicakṣate — simplesmente vê; param — suprema; ātiṣṭha — por favor, vem; tat — esta; candra — a lua; divaākara – sol; ādayaḥ — e demais; graha — os nove planetas (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão); ṛkṣa-tārāḥ — estrelas; pariyanti — circungiram; dakṣiṇam — para a direita.

Tradução

É muito difícil alcançar Viṣṇuloka, mas, por tua austeridade, tu o conseguiste. Mesmo os grandes ṛṣis e semideuses não conseguem atingir essa posição. Simplesmente para ver a morada suprema [o planeta Viṣṇu], o Sol e a Lua e todos os demais planetas, estrelas, mansões lunares e sistemas solares a estão circungirando. Agora, por favor, vem conosco: és bem-vindo para ingressar ali.

Comentário

SIGNIFICADO—Mesmo neste mundo material, os ditos cientistas, filósofos e especuladores mentais esforçam-se por imergir no céu espiritual, mas jamais conseguem chegar ali. O devoto, porém, executando o serviço devocional, não só compreende o que é realmente o mundo espiritual, mas também vai pessoalmente para lá, onde terá uma vida eterna de bem-aventurança e conhecimento. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa é tão potente que, adotando esses princípios de vida e desenvolvendo amor por Deus, pode-se voltar ao lar, voltar ao Supremo, com grande facilidade. Aqui, o exemplo prático é o caso de Dhruva Mahārāja. Enquanto o cientista e o filósofo vão à Lua, mas se frustram em suas tentativas de permanecer e viver ali, o devoto faz uma fácil viagem a outros planetas e, por fim, volta ao Supremo. Os devotos não têm interesse em ver outros planetas, mas, enquanto voltam ao Supremo, veem todos eles de passagem, assim como uma pessoa que viaja a um lugar distante passa por muitas pequenas estações.

Texto

anāsthitaṁ te pitṛbhir
anyair apy aṅga karhicit
ātiṣṭha jagatāṁ vandyaṁ
tad viṣṇoḥ paramaṁ padam

Sinônimos

anāsthitam — jamais alcançado; te — teus; pitṛbhiḥ — por antepassados; anyaiḥ — por outros; api — mesmo; aṅga — ó Dhruva; karhicit — em tempo algum; ātiṣṭha — por favor, vem viver ali; jagatām — pelos habitantes do universo; vandyam — adorável; tat — este; viṣṇoḥ — do Senhor Viṣṇu; paramam — suprema; padam — situação.

Tradução

Querido rei Dhruva, nem teus antepassados, nem ninguém mais antes de ti alcançou esse planeta transcendental. O planeta conhecido como Viṣṇuloka, onde o Senhor Viṣṇu reside pessoalmente, é o mais elevado de todos. Ele é adorado pelos habitantes de todos os outros planetas dentro do universo. Por favor, vem conosco e vive ali eternamente.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando Dhruva Mahārāja saiu para executar austeridades, estava muito determinado a alcançar uma posição jamais sonhada por seus antepassados. Seu pai era Uttānapāda, seu avô era Manu e seu bisavô era o senhor Brahmā. Assim, Dhruva queria um reino maior ainda do que um reino que o senhor Brahmā pudesse obter, e pediu a Nārada Muni que lhe desse a oportunidade de consegui-lo. Os associados do Senhor Viṣṇu lembraram-no de que não só seus antepassados, mas todas as demais pessoas antes dele foram incapazes de atingir Viṣṇuloka, o planeta onde o Senhor Viṣṇu reside. Isso porque todos neste mundo material são ou karmīs ou jñānīs ou yogīs, mas dificilmente há algum devoto puro. O planeta transcendental conhecido como Viṣṇuloka se destina especialmente aos devotos, e não aos karmīs, jñānīs ou yogīs. Grandes ṛṣis ou semideuses mal podem aproximar-se de Brahmaloka, e, como se afirma na Bhagavad-gītā, Brahmaloka não é uma residência permanente. A duração de vida do senhor Brahmā é tão longa que é muito difícil calcular inclusive a duração de um dia de sua vida, e, mesmo assim, o senhor Brahmā também morre, como o fazem os residentes do seu planeta. A Bhagavad-gītā (8.16) diz que ābrahma-bhuvanāl lokāḥ punar āvartino ’rjuna: com exceção daqueles que vão para Viṣṇuloka, todos estão sujeitos aos quatro princípios da vida material, a saber, nascimento, morte, velhice e doença. O Senhor diz que yad gatvā na nivartante tad dhāma paramaṁ mama: “O planeta do qual, uma vez tendo ido lá, ninguém retorna, é Minha morada suprema.” (Bhagavad-gītā 15.6) Recordaram Dhruva Mahārāja do seguinte: “Estás indo em nossa companhia ao planeta do qual ninguém retorna a este mundo material.” Os cientistas materiais estão tentando ir à Lua e a outros planetas, mas não podem imaginar ir a Brahmaloka, o planeta mais elevado, pois ele está além da imaginação deles. Pelos cálculos materiais, viajando à velocidade da luz, levaria quarenta mil anos para se alcançar o planeta mais elevado. Através de processos mecânicos, somos incapazes de alcançar o planeta mais elevado deste universo, mas o processo chamado bhakti-yoga, conforme foi executado por Mahārāja Dhruva, pode nos dar a oportunidade não apenas de alcançar outros planetas dentro deste universo, como também de alcançar regiões além deste universo, ou seja, os planetas Viṣṇuloka. Descrevemos isso em nosso livreto Fácil Viagem a Outros Planetas.

Texto

etad vimāna-pravaram
uttamaśloka-maulinā
upasthāpitam āyuṣmann
adhiroḍhuṁ tvam arhasi

Sinônimos

etat — este; vimāna — aeroplano; pravaram — singular; uttamaśloka — a Suprema Personalidade de Deus; maulinā — pelo líder de todas as entidades vivas; upasthāpitam — enviado; āyuṣman — ó imortal; adhiroḍhum — de embarcar; tvam — tu; arhasi — és digno.

Tradução

Ó imortal, este aeroplano singular foi enviado pela Suprema Personalidade de Deus, que é adorado com orações seletas e que é a principal de todas as entidades vivas. És inteiramente digno de embarcar em tal aeroplano.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo cálculos astronômicos, junto à Estrela Polar há outra estrela, que se chama Śiśumāra, onde reside o Senhor Viṣṇu, que está encarregado da manutenção deste mundo material. Como será descrito nos ślokas seguintes, ninguém além dos vaiṣṇavas poderá alcançar Śiśumāra ou Dhruvaloka, em tempo algum. Os associados do Senhor Viṣṇu trouxeram o aeroplano especial para Dhruva Mahārāja e, então, informaram-no que o Senhor Viṣṇu lhe enviara especialmente esse aeroplano.

O aeroplano Vaikuṇṭha não funciona por um arranjo mecânico. Há três processos para se viajar no espaço exterior. Um dos processos, que se chama ka-pota-vāyu, é conhecido pelo cientista moderno. Ka significa “espaço exterior”, e pota, “nave”. Há um segundo processo também chamado kapota-vāyu. Kapota significa “pombo”. Uma pessoa pode treinar pombos para transportá-la pelo espaço exterior. O terceiro processo é muito sutil. Chama-se ākāśa-patana. Esse sistema ākāśa-patana também é material. Assim como a mente pode voar a qualquer parte que se deseje sem necessidade de arranjos mecânicos, do mesmo modo, o aeroplano ākāśa-patana pode voar à velocidade da mente. Além desse sistema ākāśa-patana, existe o processo Vaikuṇṭha, que é inteiramente espiritual. O aeroplano enviado pelo Senhor Viṣṇu para levar Dhruva Mahārāja a Śiśumāra era um aeroplano totalmente espiritual e transcendental. Os cientistas materiais não podem ver semelhantes veículos nem imaginar como eles voam no ar. O cientista material não tem informação sobre o céu espiritual, embora este seja mencionado na Bhagavad-gītā (paras tasmāt tu bhāyo ’nyaḥ).

Texto

maitreya uvāca
niśamya vaikuṇṭha-niyojya-mukhyayor
madhu-cyutaṁ vācam urukrama-priyaḥ
kṛtābhiṣekaḥ kṛta-nitya-maṅgalo
munīn praṇamyāśiṣam abhyavādayat

Sinônimos

maitreyaḥ uvāca — o grande sábio Maitreya disse; niśamya — após ouvir; vaikuṇṭha — do Senhor; niyojya — associados; mukhyayoḥ — dos principais; madhu-cyutam — como mel derramando; vācam — palavras; urukrama-priyaḥ — Dhruva Mahārāja, que era muito querido pelo Senhor; kṛta-abhiṣekaḥ — tomou seu banho sagrado; kṛta — executou; nitya-maṅgalaḥ — seus deveres espirituais diários; munīn — aos sábios; praṇamya — tendo oferecido reverências; āśiṣam — bênçãos; abhyavādayat — aceitou.

Tradução

O grande sábio Maitreya continuou: Mahārāja Dhruva era muito querido pela Suprema Personalidade de Deus. Ao ouvir as doces palavras dos principais associados do Senhor no planeta Vaikuṇṭha, ele imediatamente tomou seu banho sagrado, vestiu-se com adornos adequados e executou seus deveres espirituais diários. Em seguida, ofereceu suas respeitosas reverências aos grandes sábios ali presentes e aceitou suas bênçãos.

Comentário

SIGNIFICADO—Devemos observar quão zeloso era Dhruva Mahārāja em seu serviço devocional, mesmo no momento em que deixava este mundo material. Ele era constantemente vigilante do cumprimento de deveres devocionais. Todo devoto deve tomar seu banho de manhã cedo e decorar seu corpo com tilaka. Em Kali-yuga, dificilmente pode-se adquirir ouro ou adornos de joias, mas as doze marcas de tilaka no corpo são suficientes como decorações auspiciosas para purificar o corpo. Uma vez que, naquela época, Dhruva Mahārāja vivia em Badarikāśrama, havia outros grandes sábios ali. Ele não se envaideceu porque o aeroplano enviado pelo Senhor Viṣṇu o estava esperando: como um vaiṣṇava humilde, aceitou as bênçãos de todos os sábios antes de embarcar no aeroplano trazido pelos principais dos associados de Vaikuṇṭha.

Texto

parītyābhyarcya dhiṣṇyāgryaṁ
pārṣadāv abhivandya ca
iyeṣa tad adhiṣṭhātuṁ
bibhrad rūpaṁ hiraṇmayam

Sinônimos

parītya — tendo circum-ambulado; abhyarcya — tendo adorado; dhiṣṇya-agryam — o aeroplano transcendental; pārṣadau — aos dois associados; abhivandya — tendo oferecido reverências; ca — também; iyeṣa — ele tentou; tat — este aeroplano; adhiṣṭhātum — para embarcar; bibhrat — luminosa; rūpam — sua forma; hiraṇmayam — dourada.

Tradução

Antes de embarcar, Dhruva Mahārāja adorou o aeroplano, circundou-o e também ofereceu reverências aos associados de Viṣṇu. Neste ínterim, ele se tornou tão brilhante e luminoso como ouro derretido. Assim, ele estava completamente preparado para embarcar no aeroplano transcendental.

Comentário

SIGNIFICADO—No mundo absoluto, o aeroplano, os associados do Senhor Viṣṇu e o próprio Senhor Viṣṇu são todos espirituais. Não há contaminação material. Em qualidade, tudo ali é igual. Assim como o Senhor Viṣṇu é adorável, também o são Seus associados, Sua parafernália, Seu aeroplano e Sua morada, pois tudo ligado a Viṣṇu é como o Senhor Viṣṇu. Dhruva Mahārāja sabia de tudo isso muito bem, como um vaiṣṇava puro, e ofereceu seus respeitos aos associados e ao aeroplano antes de nele embarcar. Neste ínterim, contudo, seu corpo se transformou em existência espiritual e, em razão disso, estava luminoso como ouro derretido. Dessa maneira, ele também se tornou igual às demais parafernálias de Viṣṇuloka.

Os filósofos māyāvādīs não podem imaginar como se pode atingir essa igualdade mesmo em diferentes variedades. A ideia deles de igualdade ou unidade é que não existe variedade. Portanto, eles se tornam impersonalistas. Assim como Śiśumāra, Viṣṇuloka ou Dhruvaloka são inteiramente diferentes deste mundo material, um templo de Viṣṇu dentro deste mundo também é inteiramente diferente deste mundo material. Assim que entramos em um templo, devemos saber muito bem que estamos em uma situação diferente da situação do mundo material. No templo, o Senhor Viṣṇu, Seu trono, Seus aposentos e todas as demais coisas associadas ao templo são transcendentais. Os três modos, sattva-guṇa, rajo-guṇa e tamo-guṇa, não têm acesso ao templo. Afirma-se, portanto, que viver na floresta é viver no modo da bondade, viver na cidade é viver no modo da paixão, e viver em um bordel, em uma adega ou em um matadouro é viver no modo da ignorância. Porém, viver no templo significa viver em Vaikuṇṭhaloka. Tudo no templo é tão adorável quanto o Senhor Viṣṇu, ou Kṛṣṇa.

Texto

tadottānapadaḥ putro
dadarśāntakam āgatam
mṛtyor mūrdhni padaṁ dattvā
ārurohādbhutaṁ gṛham

Sinônimos

tadā — então; uttānapadaḥ — do rei Uttānapāda; putraḥ — filho; dadarśa — pôde ver; antakam — morte personificada; āgatam — aproximou-se dele; mṛtyoḥ mūrdhni — sobre a cabeça da morte; padam — pés; dattvā — colocando; āruroha — subiu; adbhutam — maravilhoso; gṛham — no aeroplano que parecia uma grande casa.

Tradução

Tentando embarcar no aeroplano transcendental, Dhruva Mahārāja viu a morte personificada se aproximar dele. Não se importando com a morte, contudo, aproveitou-se da oportunidade para colocar seus pés sobre a cabeça da morte e, assim, embarcou no aeroplano, que era grande como uma casa.

Comentário

SIGNIFICADO—Achar que o falecimento de um devoto e o falecimento de um não-devoto são a mesma coisa é completamente desorientador. Enquanto subia no aeroplano transcendental, de repente Dhruva Mahārāja viu a morte personificada diante dele, mas não teve medo. Ao invés de a morte incomodá-lo, Dhruva Mahārāja se aproveitou da presença da morte e colocou seus pés sobre a cabeça da morte. Pessoas com um pobre fundo de conhecimento não sabem a diferença entre a morte de um devoto e a morte de um não-devoto. A esse respeito, pode-se dar o seguinte exemplo: a gata carrega seus filhotes na boca e, com a mesma boca, captura o rato. Superficialmente, o ato de carregar o rato e o de carregar o filhote parecem a mesma coisa, mas não o são de fato. O ato de a gata pegar o rato com a boca significa a morte para ele, ao passo que, quando ela pega os filhotes, isso é um prazer para eles. Ao embarcar no aeroplano, Dhruva Mahārāja se aproveitou da chegada da morte personificada, que viera oferecer-lhe reverências; colocando seus pés sobre a cabeça da morte, ele embarcou no aeroplano singular, que é descrito aqui como tão grande como uma casa (gṛham).

Existem muitos outros casos parecidos na literatura bhāgavata. Afirma-se que quando Kardama Muni criou um aeroplano para transportar sua esposa, Devahūti, por todo o universo, o aeroplano era como uma grande cidade, com muitas casas, lagos e jardins. Os cientistas modernos têm fabricado grandes aviões, mas estes voam apinhados de passageiros, que experimentam toda espécie de desconfortos durante a viagem.

Os cientistas materiais não são nem mesmo perfeitos na fabricação de um avião material. Para chegar ao ponto de poder comparar-se com o aeroplano usado por Kardama ou o aeroplano enviado de Viṣṇuloka, eles teriam que fabricar um avião equipado com uma grande cidade, com todos os confortos da vida – lagos, jardins, parques etc. O avião deles teria que ser capaz de voar no espaço exterior e pairar, e também visitar todos os demais planetas. Se eles inventarem semelhante aeroplano, não precisarão construir diferentes estações espaciais para reabastecimento de combustível quando viajarem ao espaço exterior. Semelhante aeroplano teria um ilimitado suprimento de combustível, ou, assim como o aeroplano de Viṣṇuloka, voaria sem isso.

Texto

tadā dundubhayo nedur
mṛdaṅga-paṇavādayaḥ
gandharva-mukhyāḥ prajaguḥ
petuḥ kusuma-vṛṣṭayaḥ

Sinônimos

tadā — nesse momento; dundubhayaḥ — timbales; neduḥ — ressoaram; mṛdaṅga — tambores; paṇava — pequenos tambores; ādayaḥ — etc.; gandharva-mukhyāḥ — os principais residentes de Gandharvaloka; prajaguḥ — cantaram; petuḥ — derramaram; kusuma — flores; vṛṣṭayaḥ — como chuvas.

Tradução

Nessa altura, tambores e timbales ressoaram do céu, os principais Gandharvas se puseram a cantar e outros semideuses derramaram flores como torrentes de chuva sobre Dhruva Mahārāja.

Texto

sa ca svarlokam ārokṣyan
sunītiṁ jananīṁ dhruvaḥ
anvasmarad agaṁ hitvā
dīnāṁ yāsye tri-viṣṭapam

Sinônimos

saḥ — ele; ca — também; svaḥ-lokam — ao planeta celestial; ārokṣyan — prestes a ascender; sunītim — Sunīti; jananīm — mãe; dhruvaḥ — Dhruva Mahārāja; anvasmarat — imediatamente se lembrou; agam — difícil de alcançar; hitvā — deixando para trás; dīnām — pobre; yāsye — irei; tri-viṣṭapam — ao planeta Vaikuṇṭha.

Tradução

Dhruva estava sentado no aeroplano transcendental, prestes a partir, quando se lembrou de sua pobre mãe, Sunīti. Ele pensou consigo mesmo: “Como irei para o planeta Vaikuṇṭha, deixando minha pobre mãe para trás?”

Comentário

SIGNIFICADO—Dhruva tinha um sentimento de gratidão para com sua mãe Sunīti. Foi Sunīti quem lhe dera a chave que agora o capacitava a ser levado pessoalmente para o planeta Vaikuṇṭha pelos associados do Senhor Viṣṇu. Agora ele se lembrava dela e queria levá-la consigo. Na verdade, Sunīti, a mãe de Dhruva Mahārāja, era seu patha-pradarśaka-guru. Patha-pradarśaka-guru significa “o guru, ou mestre espiritual, que mostra o caminho”. Tal guru às vezes é chamado śikṣā-guru. Embora Nārada Muni fosse seu dīkṣā-guru (mestre espiritual iniciador), Sunīti, sua mãe, fora a primeira pessoa a lhe dar instruções sobre como alcançar o favor da Suprema Personalidade de Deus. É dever do śikṣā-guru ou do dikṣā-guru ensinar o discípulo da maneira correta, e cabe ao discípulo executar o processo. Segundo os preceitos śāstricos, não há diferença entre śikṣā-guru e dikṣā-guru, e, de um modo geral, o śikṣā-guru posteriormente torna-se o dīkṣā-guru. Sunīti, contudo, sendo mulher, e especificamente mãe dele, não podia tornar-se dīkṣā-guru de Dhruva Mahārāja. De qualquer modo, isso não era motivo para ele sentir menos gratidão para com Sunīti. Não havia necessidade de levar Nārada Muni a Vaikuṇṭhaloka, mas Dhruva Mahārāja pensou em sua mãe.

Qualquer plano que a Suprema Personalidade de Deus contemple frutifica de imediato. Do mesmo modo, um devoto que é inteiramente dependente do Senhor Supremo também pode satisfazer seus desejos pela graça do Senhor. O Senhor satisfaz Seus próprios desejos independentemente, mas o devoto satisfaz seus desejos simplesmente dependendo da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, logo que Dhruva Mahārāja pensou em sua pobre mãe, os associados de Viṣṇu garantiram-lhe que Sunīti também estava indo a Vaikuṇṭhaloka, em outro aeroplano. Dhruva Mahārāja pensara que estava indo sozinho a Vaikuṇṭhaloka, deixando sua mãe para trás, o que não era muito auspicioso, pois as pessoas os criticariam por ir sozinho a Vaikuṇṭhaloka, sem levar Sunīti, que havia lhe dado tanto. Porém, Dhruva também ponderou que ele não era pessoalmente o Supremo. Portanto, se Kṛṣṇa satisfizesse seus desejos, somente então isso seria possível. Entendendo imediatamente sua intenção, Kṛṣṇa disse a Dhruva que sua mãe também estava indo com ele. Esse incidente prova que um devoto puro como Dhruva Mahārāja pode ter todos os seus desejos satisfeitos; pela graça do Senhor, ele se torna exatamente como o Senhor e, assim, sempre que pensa em algo, seu desejo se realiza prontamente.

Texto

iti vyavasitaṁ tasya
vyavasāya surottamau
darśayām āsatur devīṁ
puro yānena gacchatīm

Sinônimos

iti — assim; vyavasitam — contemplação; tasya — de Dhruva; vyavasāya — entendendo; sura-uttamau — os dois principais associados; darśayām āsatuḥ — mostraram (a ele); devīm — elevada Sunīti; puraḥ — anteriormente; yānena — de aeroplano; gacchatīm — vinha vindo.

Tradução

Lendo os pensamentos de Dhruva Mahārāja, os grandes associados de Vaikuṇṭhaloka, Nanda e Sunanda, mostraram-lhe que sua mãe, Sunīti, vinha vindo em outro aeroplano.

Comentário

SIGNIFICADO—Este incidente prova que o śikṣā-guru ou dīkṣā-guru que tem um discípulo que executa sólido serviço devocional como Dhruva Mahārāja pode ser levado pelo discípulo, mesmo que o instrutor não seja tão avançado. Embora Sunīti fosse instrutora de Dhruva Mahārāja, ela não podia ir à floresta porque era mulher, tampouco podia executar austeridades e penitências como fez Dhruva Mahārāja. Mesmo assim, Dhruva Mahārāja pôde levar sua mãe consigo. Do mesmo modo, Prahlāda Mahārāja também salvou seu pai ateísta, Hiraṇyakaśipu. A conclusão é que um discípulo ou filho que seja um devoto muito forte pode levar consigo para Vaikuṇṭhaloka o seu pai, a sua mãe, seu śikṣā-guru e seu dīkṣā-guru. Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura costumava dizer: “Se eu pudesse perfeitamente levar pelo menos uma alma de volta ao lar, de volta ao Supremo, julgaria minha missão – propagar a consciência de Kṛṣṇa – como tendo sido exitosa.” O movimento para a consciência de Kṛṣṇa agora está se espalhando por todo o mundo, e, algumas vezes, penso que, embora eu seja inválido de muitas maneiras, se um de meus discípulos se tornar tão forte como Dhruva Mahārāja, então ele será capaz de me levar com ele para Vaikuṇṭhaloka.

Texto

tatra tatra praśaṁsadbhiḥ
pathi vaimānikaiḥ suraiḥ
avakīryamāṇo dadṛśe
kusumaiḥ kramaśo grahān

Sinônimos

tatra tatra — aqui e ali; praśaṁsadbhiḥ — por pessoas ocupadas em louvar Dhruva Mahārāja; pathi — no caminho; vaimānikaiḥ — transportadas por diferentes espécies de aeroplanos; suraiḥ — pelos semideuses; avakīryamāṇaḥ — sendo coberto; dadṛśe — pôde ver; kusumaiḥ — por flores; kramaśaḥ — um após outro; grahān — todos os planetas do sistema solar.

Tradução

Atravessando o espaço, Dhruva Mahārāja gradualmente viu todos os planetas do sistema solar, e, no caminho, viu todos os semideuses em seus aeroplanos lançando chuvas de flores sobre ele.

Comentário

SIGNIFICADO—Existe uma versão védica, yasmin vijñāte sarvam evaṁ vijnātaṁ bhavati, cujo significado é que, conhecendo a Suprema Personalidade de Deus, o devoto passa a conhecer tudo. Do mesmo modo, indo ao planeta da Suprema Personalidade de Deus, pode-se conhecer todos os demais sistemas planetários no caminho até Vaikuṇṭha. Devemos lembrar que o corpo de Dhruva Mahārāja era diferente de nossos corpos. Ao embarcar no aeroplano Vaikuṇṭha, seu corpo transformou-se, assumindo uma tez dourada inteiramente espiritual. Ninguém pode ultrapassar os planetas superiores em um corpo material, mas, obtendo-se um corpo espiritual, pode-se viajar, não somente até o sistema planetário superior deste mundo material, mas inclusive ao ainda mais elevado sistema planetário conhecido como Vaikuṇṭhaloka. Sabe-se muito bem que Nārada Muni viaja por toda parte, tanto no mundo espiritual quanto no mundo material.

Observe-se também que, enquanto estava a caminho de Vaikuṇṭhaloka, Sunīti também transformou seu corpo em uma forma espiritual. Assim como Śrī Sunīti, toda mãe deve treinar seu filho a tornar-se um devoto como Dhruva Mahārāja. Sunīti ensinou seu filho quando este tinha apenas cinco anos a desapegar-se dos afazeres mundanos e ir para a floresta em busca do Senhor Supremo. Ela não desejou jamais que seu filho permanecesse em casa confortavelmente sem jamais se submeter a austeridades e penitências para alcançar o favor da Suprema Personalidade de Deus. Toda mãe, como Sunīti, deve cuidar de seu filho e treiná-lo para que se torne um brahmacārī a partir dos cinco anos de idade e se submeta a austeridades e penitências em busca da compreensão espiritual. O benefício será que, se seu filho se tornar um devoto forte como Dhruva, com certeza não apenas ele será transferido de volta ao lar, de volta ao Supremo, como ela também será transferida com ele ao mundo espiritual, mesmo que seja incapaz de submeter-se a austeridades e penitências na execução de serviço devocional.

Texto

tri-lokīṁ deva-yānena
so ’tivrajya munīn api
parastād yad dhruva-gatir
viṣṇoḥ padam athābhyagāt

Sinônimos

tri-lokīm — os três sistemas planetários; deva-yānena — pelo aeroplano transcendental; saḥ — Dhruva; ativrajya — tendo ultrapassado; munīn — grandes sábios; api — mesmo; parastāt — além; yat — que; dhruva-gatiḥ — Dhruva, que alcançou a vida permanente; viṣṇoḥ — do Senhor Viṣṇu; padam — morada; atha — então; abhyagāt — atingiu.

Tradução

Dhruva Mahārāja ultrapassou assim os sete sistemas planetários dos grandes sábios conhecidos como saptarṣis. Além daquela região, ele atingiu a situação transcendental de vida permanente no planeta onde vive o Senhor Viṣṇu.

Comentário

SIGNIFICADO—O aeroplano era pilotado pelos dois principais associados do Senhor Viṣṇu, chamados Sunanda e Nanda. Somente tais astronautas espirituais podem pilotar seu aeroplano além dos sete planetas e chegar à região de vida eterna e bem-aventurada. Na Bhagavad-gītā, também se confirma (paras tasmāt tu bhāvo ’nyaḥ) que, além deste sistema planetário, começa o céu espiritual, onde tudo é permanente e bem-aventurado. Os planetas ali são conhecidos como Viṣṇuloka ou Vaikuṇṭhaloka. Somente ali se pode obter uma vida eterna e bem-aventurada de conhecimento. Abaixo de Vaikuṇṭhaloka, encontra-se o universo material, onde o senhor Brahmā e outros em Brahmaloka podem viver até a aniquilação deste universo, mas essa vida não é permanente. Também se confirma isso na Bhagavad-gītā (ābrahma-bhuvanāl lokāh). Mesmo que se vá ao planeta mais elevado, não se pode alcançar a vida eterna. Apenas quem chega a Vaikuṇṭhaloka pode viver uma vida eternamente bem-aventurada.

Texto

yad bhrājamānaṁ sva-rucaiva sarvato
lokās trayo hy anu vibhrājanta ete
yan nāvrajañ jantuṣu ye ’nanugrahā
vrajanti bhadrāṇi caranti ye ’niśam

Sinônimos

yat — o planeta que; bhrājamānam — iluminando; sva-rucā — pela autorrefulgência; eva — apenas; sarvataḥ — em toda parte; lokāḥ — sistemas planetários; trayaḥ — três; hi — certamente; anu — por isso; vibhrājante — distribuem luz; ete — estes; yat — o planeta que; na — não; avrajan — alcançam; jantuṣu — com as entidades vivas; ye — aqueles que; ananugrahāḥ — não misericordiosos; vrajanti — alcançam; bhadrāṇi — atividades para o bem-estar; caranti — dedicam-se a; ye — aqueles que; aniśam — constantemente.

Tradução

Os autorrefulgentes planetas Vaikuṇṭha, por cuja iluminação apenas todos os planetas luminosos dentro deste mundo material distribuem luz refletida, não podem ser alcançados por quem não é misericordioso com outras entidades vivas. Podem alcançar os planetas Vaikuṇṭha somente aqueles que constantemente se dedicam a atividades para o bem-estar de outras entidades vivas.

Comentário

SIGNIFICADO—Eis uma descrição de dois aspectos dos planetas Vaikuṇṭha. O primeiro é que, no céu Vaikuṇṭha, não há necessidade do Sol nem da Lua. Isso é confirmado pelas Upaniṣads, bem como pela Bhagavad-gītā (na tad bhāsayate sūryo na śaśāṅko na pāvakaḥ). No mundo espiritual, os Vaikuṇṭhalokas são autoiluminados; portanto, não há necessidade de Sol, de Lua ou de luz elétrica. De fato, é a iluminação dos Vaikuṇṭhalokas que se reflete no céu material. É esse reflexo apenas que ilumina os sóis nos universos materiais; após a iluminação do Sol, todas as estrelas e luas são iluminadas. Em outras palavras, todos os astros no céu material tomam iluminação emprestada de Vaikuṇṭhaloka. A partir deste mundo material, contudo, as pessoas podem ser transferidas a Vaikuṇṭhaloka, caso se dediquem incessantemente a atividades para o bem-estar de todas as demais entidades vivas. Essas incessantes atividades beneficentes só podem ser realmente executadas em consciência de Kṛṣṇa. Não existe trabalho filantrópico dentro deste mundo material além da consciência de Kṛṣṇa que possa ocupar uma pessoa vinte e quatro horas por dia.

Um ser consciente de Kṛṣṇa vive fazendo planos para levar toda a humanidade sofredora de volta ao lar, de volta ao Supremo. Mesmo que alguém não tenha sucesso em redimir todas as almas caídas de volta ao Supremo, ainda assim, por ele ser consciente de Kṛṣṇa, seu caminho para Vaikuṇṭhaloka está aberto. Ele se qualifica pessoalmente para entrar nos Vaikuṇṭhalokas, e quem segue tal devoto também entra em Vaikuṇṭhaloka. Outros, que se ocupam em atividades invejosas, são conhecidos como karmīs. Os karmīs têm inveja uns dos outros. Simplesmente em troca de gozo dos sentidos, eles são capazes de matar milhares de animais inocentes. Os jñānīs não são tão pecaminosos como os karmīs, mas eles não tentam resgatar outras pessoas de volta ao Supremo. Eles praticam austeridades para sua própria liberação. Os yogīs também estão envolvidos com autoengrandecimento, tentando obter poderes místicos. Mas os devotos, os vaiṣṇavas, que são servos do Senhor, lançam-se ao verdadeiro campo de trabalho em consciência de Kṛṣṇa para redimir as almas caídas. Somente pessoas conscientes de Kṛṣṇa estão aptas a entrar no mundo espiritual. Afirma-se isso claramente neste verso e confirma-se a mesma coisa na Bhagavad-gītā, onde o Senhor diz que ninguém Lhe é mais querido do que aqueles que pregam o evangelho da Bhagavad-gītā ao mundo.

Texto

śāntāḥ sama-dṛśaḥ śuddhāḥ
sarva-bhūtānurañjanāḥ
yānty añjasācyuta-padam
acyuta-priya-bāndhavāḥ

Sinônimos

śāntāḥ — pacíficas; sama-dṛśaḥ — equânimes; śuddhāḥ — limpas, purificadas; sarva — todas; bhūta — entidades vivas; anurañjanāḥ — agradando; yānti — vão; añjasā — facilmente; acyuta — do Senhor; padam — à morada; acyuta-priya — com devotos do Senhor; bāndhavāḥ — amigos.

Tradução

Pessoas que são pacíficas, equânimes, limpas e purificadas, e que conhecem a arte de agradar todas as demais entidades vivas, mantêm amizade somente com devotos do Senhor – somente elas conseguem alcançar, com grande facilidade, a perfeição de voltar ao lar, voltar ao Supremo.

Comentário

SIGNIFICADO—A descrição deste verso indica plenamente que apenas os devotos são qualificados para entrar no reino de Deus. O primeiro ponto expresso é que os devotos são pacíficos, pois nada exigem para o gozo de seus sentidos. Apenas se dedicam a servir ao Senhor. Os karmīs não podem ser pacíficos porque têm imensa necessidade de gozo dos sentidos. Quanto aos jñānīs, eles não podem ser pacíficos porque estão demasiadamente atarefados, tentando alcançar a liberação ou fundir-se na existência do Supremo. Do mesmo modo, os yogīs também vivem ansiosos pela obtenção de poder místico. Mas um devoto é pacífico por ser plenamente rendido à Suprema Personalidade de Deus e julgar-se inteiramente desamparado; assim como uma criança sente plena paz na dependência dos pais, do mesmo modo, um devoto é totalmente pacífico, pois depende da misericórdia da Suprema Personalidade de Deus.

O devoto é equânime. Ele vê todos na mesma plataforma transcendental. O devoto sabe que, embora uma alma condicionada tenha uma espécie de corpo em particular de acordo com suas atividades fruitivas passadas, de fato todos são partes do Senhor Supremo. Um devoto encara todas as entidades vivas com visão espiritual e não faz discriminações na plataforma do conceito corpóreo da vida. Tais qualidades desenvolvem-se somente na companhia dos devotos. Sem a companhia dos devotos, não se pode avançar em consciência de Kṛṣṇa. Portanto, estabelecemos a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. De fato, todo aquele que viver nesta sociedade automaticamente desenvolverá a consciência de Kṛṣṇa. Os devotos são muito queridos pela Suprema Personalidade de Deus, e a Suprema Personalidade Deus é muito querida somente pelos devotos. Apenas nesta plataforma pode alguém progredir em consciência de Kṛṣṇa. Pessoas em consciência de Kṛṣṇa, ou devotos do Senhor, podem satisfazer a todos, como se evidencia no movimento para a consciência de Kṛṣṇa. Convidamos a todos, portanto, sem discriminação; pedimos que todos se sentem, cantem o mantra Hare Kṛṣṇa e comam toda a prasāda que lhes possamos fornecer, e assim todos ficam satisfeitos conosco. Esta é a qualificação: sarva-bhūtānurañjanāḥ. Quanto à purificação, ninguém pode ser mais puro do que os devotos. Qualquer pessoa que pronuncie uma só vez o nome de Viṣṇu purifica-se de imediato, interna e externamente (yaḥ smaret puṇḍarīkākṣam). Uma vez que o devoto canta constantemente o mantra Hare Kṛṣṇa, nenhuma contaminação do mundo material pode afetá-lo. Ele é, portanto, verdadeiramente purificado. Muci haya śuci haya yadi kṛṣṇa bhaje. Declara-se que mesmo um sapateiro ou pessoa nascida em família de sapateiro pode elevar-se à posição de brāhmaṇa (śuci) caso adote a consciência de Kṛṣṇa. Qualquer pessoa que seja puramente consciente de Kṛṣṇa e que se dedique a cantar o mantra Hare Kṛṣṇa é a pessoa mais pura em todo o universo.

Texto

ity uttānapadaḥ putro
dhruvaḥ kṛṣṇa-parāyaṇaḥ
abhūt trayāṇāṁ lokānāṁ
cūḍā-maṇir ivāmalaḥ

Sinônimos

iti — assim; uttānapadaḥ — de Mahārāja Uttānapāda; putraḥ — o filho; dhruvaḥ — Dhruva Mahārāja; kṛṣṇa-parāyaṇaḥ — plenamente consciente de Kṛṣṇa; abhūt — tornou-se; trayāṇām — dos três; lokānām — mundos; cūḍā-maṇiḥ — a joia principal; iva — como; amalaḥ — purificado.

Tradução

Dessa maneira, Dhruva Mahārāja, que era plenamente consciente de Kṛṣṇa, o elevado filho de Mahārāja Uttānapāda, alcançou o topo dos três status de sistemas planetários.

Comentário

SIGNIFICADO—A terminologia sânscrita exata para “consciência de Kṛṣṇa” é mencionada aqui: kṛṣṇa-parāyaṇaḥ. Parāyaṇa significa “ir em direção a”. Qualquer pessoa que esteja avançando rumo à meta de Kṛṣṇa chama-se kṛṣṇa-parāyaṇa, ou “plenamente consciente de Kṛṣṇa”. O exemplo de Dhruva Mahārāja indica que toda pessoa consciente de Kṛṣṇa pode esperar alcançar o pináculo de todos os três sistemas planetários dentro do universo. Uma pessoa consciente de Kṛṣṇa pode ocupar uma posição elevada além da imaginação de qualquer materialista ambicioso.

Texto

gambhīra-vego ’nimiṣaṁ
jyotiṣāṁ cakram āhitam
yasmin bhramati kauravya
meḍhyām iva gavāṁ gaṇaḥ

Sinônimos

gambhīra-vegaḥ — com grande força e velocidade; animiṣam — incessantemente; jyotiṣām — dos astros; cakram — esfera; āhitam — ligada; yasmin — em volta do qual; bhramati — circungira; kauravya — ó Vidura; meḍhyām — um mastro central; iva — como; gavām — de touros; gaṇaḥ — manada.

Tradução

O santo Maitreya continuou: Meu querido Vidura, descendente de Kuru, assim como uma manada de touros circungira pela direita um mastro central, todos os astros dentro do céu universal circungiram incessantemente a morada de Dhruva Mahārāja com grande força e velocidade.

Comentário

SIGNIFICADO—Todo e cada um dos planetas dentro do universo viajam a uma altíssima velocidade. A partir de uma afirmação no Śrīmad-Bhāgavatam, entende-se que mesmo o Sol viaja a 25.600 quilômetros por segundo, e, na Brahma-saṁhitā, o śloka que começa com yac-cakṣur eṣa savitā sakala-grahāṇām esclarece que o Sol é considerado o olho da Suprema Personalidade de Deus, Govinda, e também tem uma órbita específica dentro da qual ele gira. Do mesmo modo, todos os demais planetas têm suas órbitas específicas. Porém, todos eles juntos circungiram a Estrela Polar, ou Dhruvaloka, onde Dhruva Mahārāja se encontra no topo dos três mundos. Podemos apenas imaginar quão altamente elevada é a verdadeira posição de um devoto, e certamente não podemos nem mesmo conceber quão elevada é a posição da Suprema Personalidade de Deus.

Texto

mahimānaṁ vilokyāsya
nārado bhagavān ṛṣiḥ
ātodyaṁ vitudañ ślokān
satre ’gāyat pracetasām

Sinônimos

mahimānam — glórias; vilokya — observando; asya — de Dhruva Mahārāja; nāradaḥ — o grande sábio Nārada; bhagavān — igualmente tão elevado como a Suprema Personalidade de Deus; ṛṣiḥ — o santo; ātodyam — o instrumento de cordas vīṇā; vitudan — tocando; ślokān — versos; satre — na arena de sacrifícios; agāyat — cantou; pracetasām — dos Pracetās.

Tradução

Após observar as glórias de Dhruva Mahārāja, o grande sábio Nārada, tocando sua vīṇā, dirigiu-se à arena de sacrifícios dos Pracetās e, com muita felicidade, cantou os três versos seguintes.

Comentário

SIGNIFICADO—O grande sábio Nārada era o mestre espiritual de Dhruva Mahārāja. Certamente ele estava muito contente de ver as glórias de Dhruva. Assim como um pai fica muito feliz de ver o avanço do filho em todos os sentidos, do mesmo modo, o mestre espiritual fica muito feliz ao observar a ascensão de seu discípulo.

Texto

nārada uvāca
nūnaṁ sunīteḥ pati-devatāyās
tapaḥ-prabhāvasya sutasya tāṁ gatim
dṛṣṭvābhyupāyān api veda-vādino
naivādhigantuṁ prabhavanti kiṁ nṛpāḥ

Sinônimos

nāradaḥ uvāca — Nārada disse; nūnam — certamente; sunīteḥ — de Sunīti; pati-devatāyāḥ — muitíssimo apegada a seu esposo; tapaḥ-prabhāvasya — pela influência da austeridade; sutasya — do filho; tām — esta; gatim — posição; dṛṣṭvā — observando; abhyupāyān — os meios; api — embora; veda-vādinaḥ — seguidores estritos dos princípios védicos, ou os ditos vedantistas; na — nunca; eva — certamente; adhigantum — para alcançar; prabhavanti — estão aptos; kim — isto para não falar de; nṛpāḥ — reis comuns.

Tradução

O grande sábio Nārada disse: Simplesmente pela influência de seu avanço espiritual e poderosa austeridade, Dhruva Mahārāja, o filho de Sunīti, a qual era devotada a seu esposo, adquiriu uma posição elevada impossível de ser alcançada inclusive pelos ditos vedantistas, ou seguidores estritos dos princípios védicos, isso para não falar de seres humanos comuns.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso, a palavra veda-vādinaḥ é muito significativa. De um modo geral, uma pessoa que segue estritamente os princípios védicos chama-se veda-vādī. Há também pretensos vedantistas que se fazem passar por seguidores da filosofia vedānta, mas que interpretam erroneamente o vedānta. A expressão veda-vāda-ratāḥ encontra-se também na Bhagavad-gītā, referindo-se a pessoas que são apegadas aos Vedas sem entender o significado dos Vedas. Pode ser que tais pessoas continuem falando sobre os Vedas ou pratiquem austeridades a seu próprio modo, mas não lhes será possível atingir uma posição tão elevada como a de Dhruva Mahārāja. Quanto aos reis comuns, isso não lhes é possível de maneira alguma. A menção específica de reis é significativa porque antigamente os reis também eram rājarṣis, pois os reis eram como grandes sábios. Dhruva Mahārāja era um rei e, ao mesmo tempo, era tão erudito como um grande sábio. Mas, sem o serviço devocional, nem grandes reis, nem kṣatriyas, nem grandes brāhmaṇas estritamente fiéis aos princípios védicos podem elevar-se à excelsa posição atingida por Dhruva Mahārāja.

Texto

yaḥ pañca-varṣo guru-dāra-vāk-śarair
bhinnena yāto hṛdayena dūyatā
vanaṁ mad-ādeśa-karo ’jitaṁ prabhuṁ
jigāya tad-bhakta-guṇaiḥ parājitam

Sinônimos

yaḥ — aquele que; pañca-varṣaḥ — com cinco anos de idade; guru-dāra — da esposa de seu pai; vāk-śaraiḥ — com as palavras ásperas; bhinnena — estando muito magoado; yātaḥ — foi; hṛdayena — porque seu coração; dūyatā — muito ferido; vanam — à floresta; mat-ādeśa — segundo minha instrução; karaḥ — agindo; ajitam — inconquistável; prabhum — a Suprema Personalidade de Deus; jigāya — ele conquistou; tat — Seus; bhakta — de devotos; guṇaiḥ — com as qualidades; parājitam — conquistou.

Tradução

O grande sábio Nārada continuou: Vede só como Dhruva Mahārāja, magoado com as palavras ásperas de sua madrasta, foi à floresta com apenas cinco anos de idade e, sob minha orientação, submeteu-se a austeridades. Embora a Suprema Personalidade de Deus seja inconquistável, Dhruva Mahārāja conquistou-O com as qualificações específicas possuídas pelos devotos do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—A Divindade Suprema é inconquistável; ninguém pode conquistar o Senhor. Mas Ele aceita voluntariamente subordinar-Se às qualidades devocionais de Seus devotos. Por exemplo, o Senhor Kṛṣṇa aceitou subordinação ao controle de mãe Yaśodā porque ela era uma grande devota. O Senhor gosta de estar sob o controle de Seus devotos. No Caitanya-caritāmṛta, afirma-se que todos se aproximam do Senhor para oferecer-Lhe elevadas orações, mas o Senhor não sente tanta satisfação quando Lhe oferecem tais orações quanto sente quando um devoto, motivado pelo amor puro, castiga-O como se Ele fosse um subordinado. O Senhor Se esquece de Sua posição elevada e voluntariamente submete-Se a Seu devoto puro. Dhruva Mahārāja conquistou o Senhor Supremo porque, ainda bem pequeno, com apenas cinco anos, submeteu-se a todas as austeridades do serviço devocional. Naturalmente, ele executou esse serviço devocional sob a orientação de um grande sábio, Nārada. Este é o primeiro princípio do serviço devocional – ādau gurv-āśrayam. No começo, deve-se aceitar um mestre espiritual fidedigno; se o devoto seguir estritamente a orientação do mestre espiritual, como Dhruva Mahārāja seguiu as instruções de Nārada Muni, então não lhe será difícil alcançar o favor do Senhor.

O somatório de qualidades devocionais é o desenvolvimento de amor puro por Kṛṣṇa. Pode-se atingir esse amor puro por Kṛṣṇa simplesmente ouvindo sobre Kṛṣṇa. O Senhor Caitanya aceitava este princípio de que, se alguém, em qualquer posição, ouvir submissamente a mensagem transcendental falada por Kṛṣṇa ou sobre Kṛṣṇa, então gradualmente desenvolverá a qualidade do amor imaculado, e apenas com esse amor poderá conquistar o inconquistável. Os filósofos māyāvādīs aspiram a tornar-se unos com o Senhor Supremo, mas o devoto ultrapassa essa posição. O devoto não apenas torna-se uno em qualidade com o Senhor Supremo, como também às vezes se torna pai, mãe ou amo do Senhor. Também Arjuna, mediante seu serviço devocional, fez do Senhor Kṛṣṇa seu quadrigário; ele ordenava ao Senhor: “Coloca minha quadriga ali”, e o Senhor executava sua ordem. Esses são alguns exemplos de como o devoto pode adquirir a elevada posição de conquistar o inconquistável.

Texto

yaḥ kṣatra-bandhur bhuvi tasyādhirūḍham
anv ārurukṣed api varṣa-pūgaiḥ
ṣaṭ-pañca-varṣo yad ahobhir alpaiḥ
prasādya vaikuṇṭham avāpa tat-padam

Sinônimos

yaḥ — aquele que; kṣatra-bandhuḥ — o filho de um kṣatriya; bhuvi — na Terra; tasya — de Dhruva; adhirūḍham — a posição elevada; anu — depois; ārurukṣet — pode aspirar a atingir; api — mesmo; varṣa-pūgaiḥ — após muitos anos; ṣaṭ-pañca-varṣaḥ — cinco ou seis anos de idade; yat — que; ahobhiḥ alpaiḥ — após alguns dias; prasādya — após satisfazer; vaikuṇṭham — o Senhor; avāpa — alcançou; tat-padam — Sua morada.

Tradução

Dhruva Mahārāja atingiu uma posição elevada com apenas cinco ou seis anos de idade, após se submeter a austeridades por seis meses. Mas, vede só: um grande kṣatriya não pode alcançar tal posição mesmo após submeter-se a austeridades por muitos e muitos anos.

Comentário

SIGNIFICADO—Nesta passagem, Dhruva Mahārāja é descrito como katra-bandhuḥ, o que indica que ele não era plenamente treinado como kṣatriya porque tinha apenas cinco anos de idade: ele não era um kṣatriya maduro. O kṣatriya ou brāhmaṇa precisa submeter-se a um treinamento. Um menino nascido em família de brāhmaṇas não é imediatamente um brāhmaṇa: ele precisa submeter-se ao treinamento e ao processo purificatório.

O grande sábio Nārada Muni estava muito orgulhoso de ter um discípulo-devoto como Dhruva Mahārāja. Ele tinha muitos outros discípulos, mas estava muito satisfeito com Dhruva Mahārāja porque, em uma só vida, à força de rigorosas penitências e austeridades, ele atingira Vaikuṇṭha, que jamais fora alcançado por nenhum outro filho de rei ou rājarṣi em todo o universo. Há o caso do grande rei Bharata, que também era um grande devoto, mas ele alcançou Vaikuṇṭhaloka em três vidas. Na primeira vida, embora tivesse executado austeridades na floresta, tornou-se vítima de demasiada afeição por um veadinho e, em sua vida seguinte, teve que nascer como um veado. Apesar de ter um corpo de veado, ele se lembrava de sua posição espiritual, mas ainda assim teve que esperar até a vida seguinte para alcançar a perfeição. Na vida seguinte, ele nasceu como Jaḍa Bharata. Evidentemente, ele livrou-se totalmente de todo enredamento material naquela vida, e alcançou a perfeição, elevando-se a Vaikuṇṭhaloka. A lição da vida de Dhruva Mahārāja é que, se quisermos, poderemos atingir Vaikuṇṭhaloka em uma só vida, sem esperar muitas outras vidas. Meu Guru Mahārāja, Śrī Śrīmad Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Prabhupāda, costumava dizer que cada um de seus discípulos podia alcançar Vaikuṇṭhaloka nesta vida, sem esperar por outra vida para executar serviço devocional. Basta tornar-se sério e sincero como Dhruva Mahārāja, então é bastante possível alcançar Vaikuṇṭhaloka e voltar ao lar, voltar ao Supremo, em uma única vida.

Texto

maitreya uvāca
etat te ’bhihitaṁ sarvaṁ
yat pṛṣṭo ’ham iha tvayā
dhruvasyoddāma-yaśasaś
caritaṁ sammataṁ satām

Sinônimos

maitreyaḥ uvāca — o grande sábio Maitreya disse; etat — isto; te — a ti; abhihitam — descrevi; sarvam — tudo; yat — o que; pṛṣṭaḥ aham — fui indagado; iha — aqui; tvayā — por ti; dhruvasya — de Dhruva Mahārāja; uddāma — muito edificantes; yaśasaḥ — cuja reputação; caritam — caráter; sammatam — aprovados; satām — por grandes devotos.

Tradução

O grande sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, tudo o que me perguntaste a respeito da grande reputação do caráter de Dhruva Mahārāja eu te expliquei detalhadamente. Grandes pessoas santas e devotos gostam de ouvir sobre Dhruva Mahārāja.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīmad-Bhāgavatam significa tudo em relação com a Suprema Personalidade de Deus. Quer ouçamos os passatempos e atividades do Senhor Supremo, quer ouçamos sobre o caráter, reputação e atividades de Seus devotos, eles são todos a mesma coisa. Os devotos neófitos procuram apenas entender os passatempos do Senhor e não se interessam em ouvir sobre as atividades de Seus devotos, mas nenhum devoto verdadeiro deve fazer tal discriminação. Às vezes, homens menos inteligentes procuram ouvir sobre a dança da rāsa de Kṛṣṇa e não se atêm a ouvir sobre outras passagens do Śrīmad-Bhāgavatam, as quais eles evitam completamente. Existem recitadores profissionais do Bhāgavatam que abruptamente passam aos capítulos relativos à rāsa-līlā do Śrīmad-Bhāgavatam, como se as outras passagens do Śrīmad-Bhāgavatam fossem inúteis. Essa espécie de discriminação e essa adoção abrupta dos passatempos da rāsa-līlā do Senhor não são aprovadas pelos ācāryas. O devoto sincero deve ler cada capítulo e cada palavra do Śrīmad-Bhāgavatam, pois os versos iniciais descrevem-no como o fruto maduro de toda a literatura védica. Os devotos não devem tentar evitar nem mesmo uma palavra do Śrīmad-Bhāgavatam. O grande sábio Maitreya, portanto, afirmou nesta passagem que o Bhāgavatam é sammataṁ satām, “aprovado por grandes devotos”.

Texto

dhanyaṁ yaśasyam āyuṣyaṁ
puṇyaṁ svasty-ayanaṁ mahat
svargyaṁ dhrauvyaṁ saumanasyaṁ
praśasyam agha-marṣaṇam

Sinônimos

dhanyam — concedendo riqueza; yaśasyam — concedendo reputação; āyuṣyam — aumentando a duração de vida; puṇyam — sagrada; svasti-ayanam — criando auspiciosidade; mahat — grande; svargyam — concedendo o alcance de planetas celestiais; dhrauvyam — ou Dhruvaloka; saumanasyam — agradável à mente; praśasyam — gloriosa; agha-marṣaṇam — neutralizando todas as espécies de atividades pecaminosas.

Tradução

Ouvindo a narração acerca de Dhruva Mahārāja pode-se satisfazer desejos de riqueza, de reputação e de maior duração de vida. Ela é tão auspiciosa que, simplesmente ouvindo sobre Dhruva, é possível até mesmo ir a um planeta celestial ou atingir Dhruvaloka, que foi alcançado por Dhruva Mahārāja. Os semideuses também ficam satisfeitos porque esta narração é muito gloriosa, e é tão poderosa que pode neutralizar todos os resultados de ações pecaminosas.

Comentário

SIGNIFICADO—Há diferentes classes de homens neste mundo, e nem todos eles são devotos puros. Alguns são karmīs, desejosos de adquirir vasta riqueza. Há também pessoas que não fazem nada além de buscar por reputação. Outros desejam elevar-se aos planetas celestiais ou ir a Dhruvaloka, e outros querem satisfazer os semideuses para obter lucros materiais. Nesta passagem, Maitreya recomenda que todos eles podem ouvir a narração sobre Dhruva Mahārāja e, assim, atingir a meta que desejam. Recomenda-se aos devotos (akāma), aos karmīs (sarva-kāma) e aos jñānīs, que desejam libertar-se (mokṣa-kāma), que todos devem adorar a Suprema Personalidade de Deus para atingir as metas que desejam na vida. Do mesmo modo, qualquer pessoa que ouvir sobre as atividades do devoto do Senhor poderá alcançar o mesmo resultado. Não há diferença entre as atividades e o caráter da Suprema Personalidade de Deus e as atividades e o caráter de Seus devotos puros.

Texto

śrutvaitac chraddhayābhīkṣṇam
acyuta-priya-ceṣṭitam
bhaved bhaktir bhagavati
yayā syāt kleśa-saṅkṣayaḥ

Sinônimos

śrutvā — ouvindo; etat — isto; śraddhayā — com fé; abhīkṣṇam — repetidamente; acyuta — pela Suprema Personalidade de Deus; priya — querido; ceṣṭitam — atividades; bhavet — desenvolve; bhaktiḥ — devoção; bhagavati — à Suprema Personalidade de Deus; yayā — pela qual; syāt — deve ser; kleśa — dos sofrimentos; saṅkṣayaḥ — completa diminuição.

Tradução

Qualquer pessoa que ouça a narração acerca de Dhruva Mahārāja e que repetidamente se esforce com fé e devoção por entender seu caráter puro, alcança a plataforma devocional pura e executa serviço devocional puro. Mediante tais atividades, pode-se atenuar as três espécies de condições dolorosas da vida material.

Comentário

SIGNIFICADO—Muito significativa aqui é a palavra acyuta-priya. O caráter e reputação de Dhruva Mahārāja são grandes por ele ser muito querido por Acyuta, a Suprema Personalidade de Deus. Assim como os passatempos e as atividades do Senhor Supremo são agradáveis de se ouvir, ouvir sobre Seus devotos, que são muito queridos pela Pessoa Suprema, também é agradável e potente. Se alguém lê repetidamente sobre Dhruva Mahārāja, ouvindo e lendo este capítulo, pode alcançar a perfeição máxima da vida de qualquer maneira que deseje, e, o que é mais notável, ele obtém a oportunidade de tornar-se um grande devoto. Tornar-se um grande devoto significa acabar com todas as condições dolorosas da vida materialista.

Texto

mahattvam icchatāṁ tīrthaṁ
śrotuḥ śīlādayo guṇāḥ
yatra tejas tad icchūnāṁ
māno yatra manasvinām

Sinônimos

mahattvam — grandeza; icchatām — para aqueles que desejam; tīrtham — o processo; śrotuḥ — do ouvinte; śīla-ādayaḥ — caráter elevado etc.; guṇāḥ — qualidades; yatra — em que; tejaḥ — bravura; tat — isso; icchūnām — para aqueles que desejam; mānaḥ — adoração; yatra — em que; manasvinām — para homens meditativos.

Tradução

Qualquer pessoa que ouça esta narração acerca de Dhruva Mahārāja adquire qualidades elevadas como ele. Para qualquer pessoa que deseje grandeza, bravura ou influência, eis o processo pelo qual as adquirir, e, para homens meditativos que desejem adoração, aqui estão os meios adequados.

Comentário

SIGNIFICADO—No mundo material, todos procuram lucro, respeitabilidade e reputação, todos desejam a posição mais elevada e todos querem ouvir sobre as grandes qualidades de pessoas elevadas. Todas as ambições desejáveis por grandes personalidades podem ser satisfeitas simplesmente lendo e entendendo a narração das atividades de Dhruva Mahārāja.

Texto

prayataḥ kīrtayet prātaḥ
samavāye dvi-janmanām
sāyaṁ ca puṇya-ślokasya
dhruvasya caritaṁ mahat

Sinônimos

prayataḥ — com grande cuidado; kīrtayet — deve-se cantar; prātaḥ — de manhã; samavāye — na associação; dvi-janmanām — dos duas vezes nascidos; sāyam — à noite; ca — também; puṇya-ślokasya — de renome sagrado; dhruvasya — de Dhruva; caritam — caráter; mahat — grande.

Tradução

O grande sábio Maitreya recomendou: Deve-se cantar sobre o caráter e as atividades de Dhruva Mahārāja de manhã e à noite, com grande atenção e cuidado, em uma sociedade de brāhmaṇas ou outras pessoas duas vezes nascidas.

Comentário

SIGNIFICADO—Declara-se que somente na companhia dos devotos pode-se entender a importância do caráter e dos passatempos da Suprema Personalidade de Deus ou de Seus devotos. Neste verso, recomenda-se especialmente que se converse sobre o caráter de Dhruva Mahārāja numa sociedade de pessoas duas vezes nascidas, o que se refere a brāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas qualificados. Deve-se especialmente procurar a sociedade de brāhmaṇas que se elevaram à posição de vaiṣṇavas. Assim, a discussão do Śrīmad-Bhāgavatam, que descreve o caráter e os passatempos dos devotos e do Senhor, é de efeito muito rápido. A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna foi organizada para esse propósito. Em cada centro desta Sociedade – não apenas de manhã, à noite ou ao meio-dia, mas praticamente vinte e quatro horas por dia –, o serviço devocional é uma constante. Qualquer pessoa que entre em contato com a Sociedade automaticamente torna-se um devoto. Temos experiência prática de que muitos karmīs e outros vêm à Sociedade e sentem nos templos da ISKCON uma atmosfera muito agradável e pacífica. Neste verso, a palavra dvi-janmanām significa “dos duas vezes nascidos”. Qualquer pessoa pode juntar-se à Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna e ser iniciada para tornar-se duas vezes nascida. Como Sanātana Gosvāmī recomenda, através do processo de iniciação e treinamento autorizado, qualquer homem pode tornar-se duas vezes nascido. O primeiro nascimento torna-se possível pelos pais, e o segundo nascimento torna-se possível pelo pai espiritual e pelo conhecimento védico. A menos que sejamos duas vezes nascidos, não podemos entender as características transcendentais do Senhor e de Seus devotos. Portanto, o estudo dos Vedas é proibido para śūdras. Não é através de meras qualificações acadêmicas que o śūdra pode entender a ciência transcendental. No momento atual, no mundo inteiro, o sistema educacional é organizado para produzir śūdras. Um grande tecnólogo não passa de um grande śūdra. Kalau śūdra-sambhavaḥ: na era de Kali, todos são śūdras. Como toda a população do mundo consiste apenas em sūdras, há um declínio de conhecimento espiritual, e as pessoas são infelizes. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa foi inaugurado especialmente para criar brāhmaṇas qualificados a fim de difundir o conhecimento espiritual por todo o mundo, pois, dessa maneira, as pessoas poderão tornar-se muito felizes.

Texto

paurṇamāsyāṁ sinīvālyāṁ
dvādaśyāṁ śravaṇe ’thavā
dina-kṣaye vyatīpāte
saṅkrame ’rkadine ’pi vā
śrāvayec chraddadhānānāṁ
tīrtha-pāda-padāśrayaḥ
necchaṁs tatrātmanātmānaṁ
santuṣṭa iti sidhyati

Sinônimos

paurṇamāsyām — na lua cheia; sinīvālyām — na lua nova; dvādaśyām — no dia após o Ekādaśī; śravaṇe — durante o aparecimento da estrela Śravaṇa; athavā — ou; dina-kṣaye — no fim do tithi; vyatīpāte — um dia específico chamado; saṅkrame — no fim do mês; arkadine — aos domingos; api — também; — ou; śrāvayet — deve-se recitar; śraddadhānānām — para uma audiência receptiva; tīrtha-pāda — da Suprema Personalidade de Deus; pada-āśrayaḥ — tendo se refugiado aos pés de lótus; na icchan — sem desejar remuneração; tatra — lá; ātmanā — pelo eu; ātmānam — a mente; santuṣṭaḥ — apaziguada; iti — assim; sidhyati — torna-se perfeito.

Tradução

Pessoas que se refugiaram inteiramente aos pés de lótus do Senhor devem recitar esta narração de Dhruva Mahārāja sem receber alguma remuneração. Especificamente, recomenda-se a recitação em dias de lua cheia ou de lua nova, no dia após o Ekādaśī, no aparecimento da estrela Śravaṇa, no fim de um tithi ou ocasião de Vyatīpāta em particular, no fim do mês ou aos domingos. Tal recitação deve evidentemente ser executada perante uma audiência favorável. Quando se executa a recitação dessa maneira, sem motivos profissionais, o recitador e a audiência tornam-se perfeitos.

Comentário

SIGNIFICADO—Pode ser que os recitadores profissionais peçam dinheiro para extinguir o fogo abrasador dentro de seus estômagos, mas não podem fazer nenhum avanço espiritual ou tornarem-se perfeitos. Portanto, é estritamente proibido recitar o Śrīmad-Bhāgavatam como uma profissão para ganhar a vida. Somente alguém que seja inteiramente rendido aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, dependendo plenamente dEle para a manutenção pessoal ou mesmo para a manutenção de sua família, pode alcançar a perfeição através da recitação do Śrīmad-Bhāgavatam, o qual está repleto de narrações dos passatempos do Senhor e de Seus devotos. Pode-se resumir o processo da seguinte maneira: a audiência precisa ser fielmente receptiva à mensagem bhāgavata, e o recitador deve depender totalmente da Suprema Personalidade de Deus. A recitação bhāgavata não pode ser um negócio. Se feita da maneira correta, não apenas o recitador obtém perfeita satisfação, mas o Senhor também fica muito satisfeito com o recitador e a audiência, e assim ambos se libertam do cativeiro material simplesmente pelo processo de ouvir.

Texto

jñānam ajñāta-tattvāya
yo dadyāt sat-pathe ’mṛtam
kṛpālor dīna-nāthasya
devās tasyānugṛhṇate

Sinônimos

jñānam — conhecimento; ajñāta-tattvāya — para aqueles que são ignorantes da verdade; yaḥ — aquele que; dadyāt — transmite; sat-pathe — no caminho da verdade; amṛtam — imortalidade; kṛpāloḥ — bondoso; dīna-nāthasya — protetor dos pobres; devāḥ — os semideuses; tasya — a ele; anugṛhṇate — abençoam.

Tradução

A narração da história de Dhruva Mahārāja é um conhecimento sublime para se alcançar a imortalidade. Pessoas ignorantes da Verdade Absoluta podem ser conduzidas ao caminho da verdade. Aqueles que por bondade transcendental assumem a responsabilidade de se tornarem mestres protetores das pobres entidades vivas automaticamente conquistam o interesse e as bênçãos dos semideuses.

Comentário

SIGNIFICADO—Jñānam ajñāta significa conhecimento que é desconhecido quase no mundo inteiro. Ninguém sabe realmente o que é a Verdade Absoluta. Os materialistas têm muito orgulho de seu avanço em educação, em especulação filosófica e em conhecimento científico, mas ninguém sabe realmente o que é a Verdade Absoluta. O grande sábio Maitreya, portanto, recomenda que, para esclarecer as pessoas a respeito da Verdade Absoluta (tattva), os devotos devem pregar os ensinamentos do Śrīmad-Bhāgavatam no mundo inteiro. Śrīla Vyāsadeva compilou especialmente esta grande literatura de conhecimento científico porque as pessoas são totalmente ignorantes da Verdade Absoluta. No início do Śrīmad-Bhāgavatam, primeiro canto, declara-se que Vyāsadeva, o sábio erudito, compilou este grande Bhāgavata Purāṇa justamente para acabar com a ignorância das massas populares. Como as pessoas não conhecem a Verdade Absoluta, este Śrīmad-Bhāgavatam foi especificamente compilado por Vyāsadeva sob a instrução de Nārada. De um modo geral, muito embora as pessoas estejam interessadas em entender a verdade, elas adotam a especulação, alcançando no máximo o conceito do Brahman impessoal. Porém, pouquíssimos homens conhecem realmente a Personalidade de Deus.

A recitação do Śrīmad-Bhāgavatam destina-se especificamente a esclarecer as pessoas a respeito da Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus. Embora não haja diferença fundamental entre o Brahman impessoal, o Paramātmā localizado e a Pessoa Suprema, não se pode obter verdadeira imortalidade a menos e até que se alcance a fase de associar-se com a Pessoa Suprema. O serviço devocional, que leva à associação com o Senhor Supremo, é a verdadeira imortalidade. Os devotos puros, por compaixão pelas almas caídas, são kṛpālu, muito bondosos com as pessoas em geral; eles distribuem este conhecimento do Bhāgavata por todo o mundo. Um devoto generoso chama-se dīna-nātha, protetor das pobres e ignorantes massas populares. O Senhor Kṛṣṇa também é conhecido como dīna-nātha, ou dīna-bandhu, o mestre ou verdadeiro amigo das pobres entidades vivas, e Seu devoto puro também assume a mesma posição de dīna-nātha. Os dīna-nāthas, ou devotos do Senhor Kṛṣṇa, que pregam o caminho do serviço devocional, tornam-se os favoritos dos semideuses. De um modo geral, as pessoas estão interessadas em adorar os semideuses, especialmente o senhor Śiva, a fim de obterem benefícios materiais; porém, o devoto puro, que se dedica a pregar os princípios do serviço devocional, como são prescritos no Śrīmad-Bhāgavatam, não precisa adorar separadamente os semideuses: os semideuses ficam automaticamente satisfeitos com ele e lhe oferecem todas as bênçãos possíveis. Regando a raiz de uma árvore, regamos automaticamente suas folhas e seus galhos. Analogamente, prestando serviço devocional puro ao Senhor, os galhos, brotos e folhas do Senhor, conhecidos como semideuses, ficam automaticamente satisfeitos com o devoto e lhe oferecem todas as bênçãos.

Texto

idaṁ mayā te ’bhihitaṁ kurūdvaha
dhruvasya vikhyāta-viśuddha-karmaṇaḥ
hitvārbhakaḥ krīḍanakāni mātur
gṛhaṁ ca viṣṇuṁ śaraṇaṁ yo jagāma

Sinônimos

idam — isto; mayā — por mim; te — para ti; abhihitam — descrito; kuru-udvaha — ó grandioso entre os Kurus; dhruvasya — de Dhruva; vikhyāta — muito famosas; viśuddha — muito puras; karmaṇaḥ — cujas atividades; hitvā — abandonando; arbhakaḥ — criança; krīḍanakāni — brinquedos e divertimentos; mātuḥ — de sua mãe; gṛham — lar; ca — também; viṣṇum — ao Senhor Viṣṇu; śaraṇam — abrigo; yaḥ — aquele que; jagāma — foi.

Tradução

As atividades transcendentais de Dhruva Mahārāja são famosíssimas em todo o mundo, e são puríssimas. Na infância, Dhruva Mahārāja rejeitou todas as espécies de brinquedos e divertimentos, deixou a proteção de sua mãe e refugiou-se seriamente na Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu. Meu querido Vidura, aqui concluo, portanto, esta narração, pois a descrevi a ti com todos os seus detalhes.

Comentário

SIGNIFICADO—Cāṇakya Paṇḍita diz que a vida é decerto muito curta para todos, mas, se alguém agir corretamente, sua reputação permanecerá por uma geração. Assim como a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, é eternamente famoso, do mesmo modo, a reputação do devoto do Senhor Kṛṣṇa também é eterna. Portanto, ao descrever as atividades de Dhruva Mahārāja, Maitreya usou duas palavras específicas: vikhyāta, muito famosas, e viśuddha, transcendentais. O fato de Dhruva Mahārāja ter deixado o lar numa tenra idade e ter-se refugiado na Suprema Personalidade de Deus na floresta é um exemplo único neste mundo.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do quarto canto, décimo segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Dhruva Mahārāja Volta ao Supremo”.