Skip to main content

Capítulo Onze

O Cálculo do Tempo a Partir do Átomo

Texto

maitreya uvāca
caramaḥ sad-viśeṣāṇām
aneko ’saṁyutaḥ sadā
paramāṇuḥ sa vijñeyo
nṛṇām aikya-bhramo yataḥ

Sinônimos

maitreyaḥ uvāca — Maitreya disse; caramaḥ — fundamental; sat — efeito; viśeṣāṇām — sintomas; anekaḥ — inumeráveis; asaṁyutaḥ — não misturado; sadā — sempre; parama-aṇuḥ — átomos; saḥ — isto; vijñeyaḥ — deve ser entendido; nṛṇām — dos homens; aikya — unidade; bhramaḥ — engado; yataḥ — do que.

Tradução

A partícula fundamental da manifestação material, que é indivisível e não chega a constituir-se de um corpo, chama-se átomo. O átomo existe sempre como uma identidade invisível, mesmo após a dissolução de todas as formas. O corpo material é apenas uma combinação de tais átomos, mas isso é compreendido de forma equivocada pelo homem comum.

Comentário

A descrição atômica do Śrīmad-Bhāgavatam é quase a mesma que a ciência moderna do atomismo, assunto este explicado mais detalhadamente no paramāṇu-vāda, de Kaṇāda. Na ciência moderna, aceita-se também o átomo como a partícula indivisível e fundamental da qual é composto o universo. O Śrīmad-Bhāgavatam é o texto completo de todas as descrições de conhecimento, incluindo a teoria do atomismo. O átomo é a diminuta forma sutil do tempo eterno.

Texto

sata eva padārthasya
svarūpāvasthitasya yat
kaivalyaṁ parama-mahān
aviśeṣo nirantaraḥ

Sinônimos

sataḥ — da manifestação eficiente; eva — indubitavelmente; padaarthasya – de corpos físicos; svarūpaavasthitasya – permanecendo sob a mesma forma até o momento da dissolução; yat — aquilo que; kaivalyam — unidade; parama — a suprema; mahān — ilimitada; aviśeṣaḥ — formas; nirantaraḥ — eternamente.

Tradução

Os átomos são o estado fundamental do universo manifesto. Quando permanecem em suas próprias formas sem constituir corpos diferentes, são chamados de unidade ilimitada. Indubitavelmente, há diferentes corpos sob formas físicas, mas os átomos em si constituem a manifestação completa.

Texto

evaṁ kālo ’py anumitaḥ
saukṣmye sthaulye ca sattama
saṁsthāna-bhuktyā bhagavān
avyakto vyakta-bhug vibhuḥ

Sinônimos

evam — assim; kālaḥ — tempo; api — também; anumitaḥ — medido; saukṣmye — nas sutis; sthaulye — nas formas grosseiras; ca — também; sattama — ó melhor; saṁsthāna — combinações dos átomos; bhuktyā — pelo movimento; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; avyaktaḥ — imanifesta; vyakta-bhuk — que controla todos os movimentos físicos; vibhuḥ — o grande potencial.

Tradução

Pode-se avaliar o tempo medindo-se o movimento da combinação atômica de corpos. O tempo é a potência da todo-poderosa Personalidade de Deus, Hari, que controla todos os movimentos físicos embora não seja visível no mundo físico.

Texto

sa kālaḥ paramāṇur vai
yo bhuṅkte paramāṇutām
sato ’viśeṣa-bhug yas tu
sa kālaḥ paramo mahān

Sinônimos

saḥ — este; kālaḥ — tempo eterno; parama-aṇuḥ — atômico; vai — certamente; yaḥ — que; bhuṅkte — passa por; parama-aṇutām — o espaço de um átomo; sataḥ — de todo o agregado; aviśeṣa-bhuk — passando pela manifestação não dual; yaḥ tu — que; saḥ — este; kālaḥ — tempo; paramaḥ — o supremo; mahān — o grande.

Tradução

O tempo atômico é medido de acordo com sua órbita num espaço atômico em particular. Esse tempo que cobre o conjunto imanifesto de átomos é chamado “o grande tempo”.

Comentário

Tempo e espaço são dois termos correlatos. O tempo é medido de acordo com sua órbita cobrindo determinado espaço de átomos. O tempo padrão é calculado de acordo com o movimento do Sol. O tempo que o Sol leva para passar por um átomo é calculado como tempo atômico. O maior de todos os tempos cobre toda a existência da manifestação não dual. Todos os planetas giram e cobrem o espaço, e o espaço é calculado em termos de átomos. Cada planeta tem sua órbita particular para girar, na qual ele se locomove. sem desvio, e, do mesmo modo, o Sol tem sua órbita. O cálculo completo do tempo da criação, manutenção e dissolução, medido em termos da órbita da totalidade dos sistemas planetários até o final da criação, é conhecido como o kāla supremo.

Texto

aṇur dvau paramāṇū syāt
trasareṇus trayaḥ smṛtaḥ
jālārka-raśmy-avagataḥ
kham evānupatann agāt

Sinônimos

aṇuḥ — átomo duplo; dvau — dois; parama-aṇu — átomos; syāt — tornam-se; trasareṇuḥ — hexátomo; trayaḥ — três; smṛtaḥ — considerado; jāla-arka — do brilho do Sol através dos orifícios de uma janela raśmi – pelos raios; avagataḥ — pode ser conhecido; kham eva — em direção ao céu; anupatan agāt — subindo.

Tradução

A divisão do tempo grosseiro é calculada como se segue: dois átomos formam um átomo duplo, e três átomos duplos formam um hexátomo. Esse hexátomo é visível à luz do Sol que entra pelos orifícios de uma janela. Pode-se ver claramente que o hexátomo sobe em direção ao céu.

Comentário

O átomo é descrito como uma partícula invisível, mas quando seis de tais átomos se combinam, eles são chamados trasareṇu, o qual é visível à luz do Sol que passa pelos orifícios de uma janela.

Texto

trasareṇu-trikaṁ bhuṅkte
yaḥ kālaḥ sa truṭiḥ smṛtaḥ
śata-bhāgas tu vedhaḥ syāt
tais tribhis tu lavaḥ smṛtaḥ

Sinônimos

trasareṇu-trikam — combinação de três hexátomos; bhuṅkte — o tempo que levam para se integrar; yaḥ — aquilo que; kālaḥ — duração de tempo; saḥ — que; truṭiḥ — chamada truṭi; smṛtaḥ — é chamada; śata-bhāgaḥ — cem truṭis; tu — mas; vedhaḥ — chamada “um vedha”; syāt — ocorre assim; taiḥ — por eles; tribhiḥ — três vezes; tu — mas; lavaḥlava; smṛtaḥ — assim chamado.

Tradução

A duração de tempo necessária para a integração de três trasareṇus chama-se um truṭi, e cem truṭis formam um vedha. Três vedhas formam um lava.

Comentário

Calcula-se que, se um segundo é dividido em 1687,5 partes, cada parte é a duração de um truṭi, que é o tempo necessário para a integração de dezoito partículas atômicas. Essa combinação de átomos que se transformam em diferentes corpos cria o cálculo do tempo material. O Sol é o ponto central para se calcularem todas as diferentes durações.

Texto

nimeṣas tri-lavo jñeya
āmnātas te trayaḥ kṣaṇaḥ
kṣaṇān pañca viduḥ kāṣṭhāṁ
laghu tā daśa pañca ca

Sinônimos

nimeṣaḥ — a duração de tempo chamada nimeṣa; trilavaḥ – a duração de três lavas; jñeyaḥ — deve ser conhecido; āmnātaḥ — assim é chamado; te — eles; trayaḥ — três; kṣaṇaḥ — a duração de tempo chamada kṣaṇa; kṣaṇān — tais kṣaṇas; pañca — cinco; viduḥ — deve-se entender; kāṣṭhām — a duração de tempo chamada kāṣṭhā; laghu — a duração de tempo chamada laghu; tāḥ — esses; daśa pañca — quinze; ca — também.

Tradução

A duração de tempo de três lavas equivale a um nimeṣa, a combinação de três nimeṣas forma um kṣaṇa, cinco kṣaṇas combinados constituem um kāṣṭhā, e quinze kāṣṭhās formam um laghu.

Comentário

Calculando-se, encontra-se que um laghu equivale a dois minutos. O cálculo atômico de tempo em termos da sabedoria védica pode ser convertido em medida de tempo tal como utilizada atualmente com esta compreensão.

Texto

laghūni vai samāmnātā
daśa pañca ca nāḍikā
te dve muhūrtaḥ praharaḥ
ṣaḍ yāmaḥ sapta vā nṛṇām

Sinônimos

laghūni — tais laghus (cada um de dois minutos); vai — exatamente; samāmnātā — é chamado; daśa pañca — quinze; ca — também; nāḍikā — um nāḍikā; te — deles; dve — dois; muhūrtaḥ — um momento; praharaḥ — três horas; ṣaṭ — seis; yāmaḥ — um quarto de um dia ou noite; sapta — sete; — ou; nṛṇām — de cálculos humanos.

Tradução

Quinze laghus formam um nāḍikā, que também é chamado daṇḍa. Dois daṇḍas formam um muhūrta, e seis ou sete daṇḍas completam um quarto de um dia ou noite, de acordo com os cálculos humanos.

Texto

dvādaśārdha-palonmānaṁ
caturbhiś catur-aṅgulaiḥ
svarṇa-māṣaiḥ kṛta-cchidraṁ
yāvat prastha-jala-plutam

Sinônimos

dvādaśaardha – seis; pala — da escala de peso; unmānam — instrumento de medição; caturbhiḥ — com o peso de quatro; catuḥaṅgulaiḥ – quatro dedos de medida; svarṇa — de ouro; māṣaiḥ — do peso; kṛtachidram – fazendo um orifício; yāvat — enquanto; prastha — medindo um prastha; jataplutam – cheio d’água.

Tradução

O instrumento de medição para um nāḍikā, ou daṇḍa, pode ser preparado com um pote de cobre com seis palas de peso [400 gramas], no qual se faz um orifício com uma sonda de ouro pesando quatro māṣas e medindo quatro dedos de comprimento. Quando o pote é colocado sobre a água, o tempo antes de a água transbordar do pote é chamado um daṇḍa.

Comentário

Nesta passagem, aconselha-se que o furo no pote de medir de cobre deve ser feito com uma sonda que não pese mais que quatro māṣas e não tenha mais que quatro dedos de comprimento. Isso regula o diâmetro do orifício. Submerge-se o pote na água, e o tempo de transbordamento chama-se um daṇḍa. Essa é outra maneira de medir a duração de um daṇḍa, assim como o tempo é medido com a areia em uma ampulheta. Parece que na época da civilização védica não havia falta de conhecimentos de física, química ou matemática superior. As medidas eram calculadas de diferentes maneiras, da forma mais simples possível.

Texto

yāmāś catvāraś catvāro
martyānām ahanī ubhe
pakṣaḥ pañca-daśāhāni
śuklaḥ kṛṣṇaś ca mānada

Sinônimos

yāmāḥ — três horas; catvāraḥ — quatro; catvāraḥ — e quatro; martyānām — dos seres humanos; ahanī — duração de dia; ubhe — tanto o dia quanto a noite; pakṣaḥ — quinzena; pañcadaśa – quinze; ahāni — dias; śuklaḥ — branca; kṛṣṇaḥ — negra; ca — também; mānada — medido.

Tradução

Calcula-se que há quatro praharas, que também são chamados yāmas, no dia e quatro na noite do ser humano. Do mesmo modo, quinze dias e noites constituem uma quinzena, e há duas quinzenas, branca e negra, em um mês.

Texto

tayoḥ samuccayo māsaḥ
pitṝṇāṁ tad ahar-niśam
dvau tāv ṛtuḥ ṣaḍ ayanaṁ
dakṣiṇaṁ cottaraṁ divi

Sinônimos

tayoḥ — deles; samuccayaḥ — conjunto; māsaḥ — mês; pitṇām — dos planetas Pitā; tat — este (mês); ahaḥniśam – dia e noite; dvau — dois; tau — meses; ṛtuḥ — uma estação; ṣaṭ — seis; ayanam — o movimento do Sol em seis meses; dakṣiṇam — meridional; ca — também; uttaram — setentrional; divi — nos céus.

Tradução

O conjunto de duas quinzenas constitui um mês, e esse período é um dia e uma noite completos para os planetas Pitā. Dois de tais meses compreendem uma estação, e seis meses compreendem um movimento completo do Sol, do sul para o norte.

Texto

ayane cāhanī prāhur
vatsaro dvādaśa smṛtaḥ
saṁvatsara-śataṁ nṝṇāṁ
paramāyur nirūpitam

Sinônimos

ayane — no movimento solar (de seis meses); ca — e; ahanī — um dia dos semideuses; prāhuḥ — é dito; vatsaraḥ — um calendário anual; dvādaśa — doze meses; smṛtaḥ — assim é chamado; saṁvatsara-śatam — cem anos; nṝṇāṁ — dos seres humanos; paramaāyuḥ – duração de vida; nirūpitam — é estimada.

Tradução

Dois movimentos solares formam um dia e uma noite dos semideuses, e essa combinação de dia e noite é um calendário anual completo para o ser humano. O ser humano tem uma duração de vida de cem anos.

Texto

graharkṣa-tārā-cakra-sthaḥ
paramāṇv-ādinā jagat
saṁvatsarāvasānena
paryety animiṣo vibhuḥ

Sinônimos

graha — planetas influentes como a Lua; ṛkṣa — astros como os Aśvinī; tārā — estrelas; cakrasthaḥ – na órbita; paramaaṇuādinā – juntamente com os átomos; jagat — todo o universo; saṁvatsaraavasānena – ao final de um ano; paryeti — completa sua órbita; animiṣaḥ — o tempo eterno; vibhuḥ — o Todo-poderoso.

Tradução

As estrelas influentes, os planetas, os astros e os átomos em todo o universo estão girando em suas respectivas órbitas sob a orientação do Supremo, representado pelo kāla eterno.

Comentário

Na Brahma-saṁhitā, declara-se que o Sol é o olho do Supremo e gira em sua órbita particular de tempo. Da mesma forma, começando pelo Sol e descendo até o átomo, todos os corpos estão sob a influência do kāla-cakra, ou a órbita do tempo eterno, e cada um deles tem um tempo orbital programado de um saṁvatsara.

Texto

saṁvatsaraḥ parivatsara
iḍā-vatsara eva ca
anuvatsaro vatsaraś ca
viduraivaṁ prabhāṣyate

Sinônimos

saṁvatsaraḥ — órbita do Sol; parivatsaraḥ — circum-ambulação de Bṛhaspati; iḍāvatsaraḥ – órbita das estrelas; eva — tais como são; ca — também; anuvatsaraḥ — órbita da Lua; vatsaraḥ — um calendário anual; ca — também; vidura — ó Vidura; evam — assim; prabhāṣyate — assim dizem.

Tradução

Há cinco nomes diferentes para as órbitas do Sol, da Lua, das estrelas e dos astros no firmamento, e cada um deles tem seu próprio saṁvatsara.

Comentário

Os temas de física, química, matemática, astronomia, tempo e espaço tratados nos versos anteriores do Śrīmad-Bhāgavatam são decerto muito interessantes para os estudiosos do assunto em particular, mas, quanto a nós, não podemos explicá-los muito minuciosamente em termos de conhecimento técnico. O assunto é resumido pela declaração de que, acima de todas as diferentes ramificações de conhecimento, está o controle supremo de kāla, a representação plenária da Suprema Personalidade de Deus. Nada existe sem Ele, e, em virtude disso, tudo, por mais admirável que possa parecer para nosso parco conhecimento, é apenas obra da varinha mágica do Senhor Supremo. No que diz respeito ao tempo, tomamos a liberdade de anexar aqui um quadro cronométrico de acordo com o relógio moderno.

Um truṭi - 8/13.500 de segundo

Um vedha - 8/135 de segundo

Um lava - 8/45 de segundo

Um nimeṣa - 8/15 de segundo

Um kṣaṇa - 8/5 de segundo

Um kāṣṭhā - 8 segundos

Um laghu - 2 minutos

Um daṇḍa - 30 minutos

Um prahara - 3 horas

Um dia - 12 horas

Uma noite - 12 horas

Um pakṣa - 15 dias

Dois pakṣas compreendem um mês, e doze meses compreendem um calendário anual, ou uma órbita completa do Sol. É de se esperar que um ser humano viva até cem anos. Assim é a medida de controle do tempo eterno.

A Brahma-saṁhitā (5.52) confirma esse controle da seguinte maneira:

yac-cakṣur eṣa savitā sakala-grahāṇāṁ
rājā samasta-sura-mūrtir aśeṣa-tejāḥ
yasyājñayā bhramati saṁbhṛta-kāla-cakro
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, a Suprema Personalidade de Deus, sob cujo controle até o Sol, que é considerado o olho do Senhor, gira dentro da órbita fixa do tempo eterno. O Sol é o rei de todos os sistemas planetários e tem potência ilimitada em calor e luz.”

Texto

yaḥ sṛjya-śaktim urudhocchvasayan sva-śaktyā
puṁso ’bhramāya divi dhāvati bhūta-bhedaḥ
kālākhyayā guṇamayaṁ kratubhir vitanvaṁs
tasmai baliṁ harata vatsara-pañcakāya

Sinônimos

yaḥ — aquele que; sṛjya — de criação; śaktim — as sementes; urudhā — de várias maneiras; ucchvasayan — vivificando; svaśaktyā – por sua própria energia; puṁsaḥ — da entidade viva; abhramāya — para dissipar a escuridão; divi — durante o dia; dhāvati — locomove-se; bhūta-bhedaḥ — distinto de todas as outras formas materiais; kāla-ākhyayā — chamado “tempo eterno”; guṇamayam – os resultados materiais; kratubhiḥ — com oferendas; vitanvan — aumentando; tasmai — a ele; balim — ingredientes de oferendas; harata — deve-se oferecer; vatsarapañcakāya – oferendas de cinco em cinco anos.

Tradução

Ó Vidura, o Sol vivifica todas as entidades vivas com seu calor e luz ilimitados. Ele diminui a duração de vida de todas as entidades vivas a fim de aliviá-las da ilusão de seu apego material, e aumentam o caminho da elevação ao reino celestial. Dessa maneira, ele se locomove no firmamento com muita velocidade, em virtude do que todos devem oferecer-lhe respeitos de cinco em cinco anos com todos os ingredientes de adoração.

Texto

vidura uvāca
pitṛ-deva-manuṣyāṇām
āyuḥ param idaṁ smṛtam
pareṣāṁ gatim ācakṣva
ye syuḥ kalpād bahir vidaḥ

Sinônimos

viduraḥ uvāca — Vidura disse; pitṛ — os planetas Pitā; deva — os planetas celestiais; manuṣyāṇām — e a dos seres humanos; āyuḥ — duração de vida; param — final; idam — em sua própria medida; smṛtam — calculadas; pareṣām — das entidades vivas superiores; gatim — duração de vida; ācakṣva — por favor, calcula; ye — todas aquelas que; syuḥ — são; kalpāt — do milênio; bahiḥ — fora; vidaḥ — altamente eruditas.

Tradução

Vidura disse: Agora entendo a duração da vida dos residentes nos planetas Pitā e nos planetas celestiais, bem como a dos seres humanos. Agora, por favor, informa-me sobre a duração da vida daquelas entidades vivas altamente eruditas que estão além do alcance de um kalpa.

Comentário

A dissolução parcial do universo, que ocorre ao final do dia de Brahmā, não afeta todos os sistemas planetários. Os planetas de entidades vivas altamente eruditas, como os sábios Sanaka e Bhṛgu não são afetados pela dissolução dos milênios. Todos os planetas são de tipos diferentes, e cada um é controlado por um kāla-cakra, ou horário de tempo eterno, diferente. O tempo do planeta Terra não é aplicável a outros planetas mais elevados. Por isso, Vidura indaga aqui acerca da duração de vida em outros planetas.

Texto

bhagavān veda kālasya
gatiṁ bhagavato nanu
viśvaṁ vicakṣate dhīrā
yoga-rāddhena cakṣuṣā

Sinônimos

bhagavān — ó espiritualmente poderoso; veda — conheces; kālasya — do tempo eterno; gatim — movimentos; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; nanu — na realidade; viśvam — todo o universo; vicakṣate — ver; dhīrāḥ — aqueles que são autorrealizados; yogarāddhena – por meio da visão mística; cakṣuṣā — pelos olhos.

Tradução

Ó espiritualmente poderoso, tu podes entender os movimentos do tempo eterno, que é a forma controladora manifesta pela Suprema Personalidade de Deus. Por seres uma pessoa autorrealizada, podes ver tudo pelo poder da visão mística.

Comentário

Aqueles que alcançaram o estágio máximo de perfeição do poder místico e podem ver tudo no passado, presente e futuro são chamados tri-kāla-jñas. Analogamente, os devotos do Senhor podem ver claramente tudo que está nas escrituras reveladas. Os devotos do Senhor Śrī Kṛṣṇa podem entender muito facilmente a ciência de Kṛṣṇa, bem como a situação das criações material e espiritual. Os devotos não têm que se esforçar para obter algum yoga-siddhi, ou perfeição de poderes místicos. Eles são competentes para entender tudo pela graça do Senhor, que está situado no coração de todos.

Texto

maitreya uvāca
kṛtaṁ tretā dvāparaṁ ca
kaliś ceti catur-yugam
divyair dvādaśabhir varṣaiḥ
sāvadhānaṁ nirūpitam

Sinônimos

maitreyaḥ uvāca — Maitreya disse; kṛtam — a era de Satya; tretā — a era de Tretā; dvāparam — a era de Dvāpara; ca — também; kaliḥ — a era de Kali; ca — e; iti — assim; catuḥ-yugam — quatro milênios; divyaiḥ — dos semideuses; dvādaśabhiḥ — doze; varṣaiḥ — milhares de anos; sa-avadhānam — aproximadamente; nirūpitam — verificado.

Tradução

Maitreya disse: Ó Vidura, os quatro milênios são chamados os yugas Satya, Tretā, Dvāpara e Kali. O número global de anos de todos esses milênios combinados equivale a doze mil anos dos semideuses.

Comentário

Um ano dos semideuses equivale a 360 anos da humanidade. Como será esclarecido nos versos subsequentes, 12.000 dos anos dos semideuses, incluindo os períodos de transição que são chamados yuga-sandhyās, compreendem a totalidade dos quatro milênios mencionados anteriormente. Deste modo, o conjunto dos quatro milênios supramencionados dura 4.320.000 anos.

Texto

catvāri trīṇi dve caikaṁ
kṛtādiṣu yathā-kramam
saṅkhyātāni sahasrāṇi
dvi-guṇāni śatāni ca

Sinônimos

catvāri — quatro; trīṇi — três; dve — dois; ca — também; ekam — um; kṛta-ādiṣu — em Satya-yuga; yathā-kramam — e outras subsequentemente; saṅkhyātāni — somando; sahasrāṇi — milhares; dvi-guṇāni — duas vezes; śatāni — centenas; ca — também.

Tradução

A duração do milênio Satya equivale a 4.800 anos dos semideuses; a duração do milênio Tretā equivale a 3.600 anos dos semideuses; a duração do milênio Dvāpara equivale a 2.400 anos; e a do milênio Kali é de 1.200 anos dos semideuses.

Comentário

Como se mencionou anteriormente, um ano dos semideuses equivale a 360 anos dos seres humanos. A duração de Satya-yuga é, portanto, de 4.800 x 360, ou 1.728.000 anos. A duração de Tretā-yuga é de 3.600 x 360, ou 1.296.000 anos. A duração de Dvāpara-yuga é de 2.400 x 360, ou 864.000 anos. E a última, Kali-yuga, dura 1.200 x 360, ou 432.000 anos.

Texto

sandhyā-sandhyāṁśayor antar
yaḥ kālaḥ śata-saṅkhyayoḥ
tam evāhur yugaṁ taj-jñā
yatra dharmo vidhīyate

Sinônimos

sandhyā — período de transição anterior; sandhyāamśayoḥ – e período de transição posterior; antaḥ — dentro; yaḥ — aquilo que; kālaḥ — duração de tempo; śatasaṅkhyayoḥ – centenas de anos; tam eva — este período; āhuḥ — chamam; yugam — milênio; tat-jñāḥ — os astrônomos peritos; yatra — em que; dharmaḥ — religião; vidhīyate — é executada.

Tradução

Os períodos de transição antes e após cada milênio, que duram algumas centenas de anos, como se mencionou anteriormente, são conhecidos como yuga-sandhyās, ou as conjunções de dois milênios, segundo astrônomos peritos. Nesses períodos, executam-se todos os tipos de atividades religiosas.

Texto

dharmaś catuṣ-pān manujān
kṛte samanuvartate
sa evānyeṣv adharmeṇa
vyeti pādena vardhatā

Sinônimos

dharmaḥ — religião; catuḥ-pāt — quatro dimensões completas; manujān — humanidade; kṛte — em Satya-yuga; samanuvartate — apropriadamente mantidos; saḥ — isto; eva — certamente; anyeṣu — em outros; adharmeṇa — pela influência da irreligião; vyeti — reduzida; pādena — em uma quarta parte; vardhatā — aos poucos aumentando proporcionalmente.

Tradução

Ó Vidura, no milênio Satya, a humanidade manteve apropriada e completamente os princípios da religião, mas, em outros milênios, a religião reduziu-se gradualmente em uma quarta parte, à medida que a irreligião era proporcionalmente admitida.

Comentário

No milênio Satya, prevalecia a execução completa dos princípios religiosos. Gradualmente, os princípios da religião decaíram em uma quarta parte em cada um dos milênios subsequentes. Em outras palavras, atualmente há um quatro de religião e três quartos de irreligião. Por isso, as pessoas nesta era não são muito felizes.

Texto

tri-lokyā yuga-sāhasraṁ
bahir ābrahmaṇo dinam
tāvaty eva niśā tāta
yan nimīlati viśva-sṛk

Sinônimos

trilokyāḥ – dos três mundos; yuga — os quatro yugas; sāhasram — mil; bahiḥ — fora de; ābrahmaṇaḥ — até Brahmaloka; dinam — é um dia; tāvatī — um (período) igual; eva — certamente; niśā — é noite; tāta — ó caro; yat — porque; nimīlati — dorme; viśvasṛk – Brahmā.

Tradução

Fora dos três sistemas planetários [Svarga, Martya e Pātāla], os quatro yugas multiplicados por mil compreendem um dia no planeta de Brahmā. Um período igual compreende uma noite de Brahmā, durante a qual o criador do universo dorme.

Comentário

Quando Brahmā dorme durante sua noite, os três sistemas planetários abaixo de Brahmaloka submergem na água da devastação. Em seu sono, Brahmā sonha com o Garbhodakaśāyī Viṣṇu e recebe instruções do Senhor para a reabilitação da área de espaço devastada.

Texto

niśāvasāna ārabdho
loka-kalpo ’nuvartate
yāvad dinaṁ bhagavato
manūn bhuñjaṁś catur-daśa

Sinônimos

niśā — noite; avasāne — término; ārabdhaḥ — a começar de; lokakalpaḥ – outra criação dos três mundos; anuvartate — acompanha; yāvat — até; dinam — o dia; bhagavataḥ — do senhor (Brahmā); manūn — os Manus; bhuñjan — existindo por; catuḥdaśa – quatorze.

Tradução

Após o fim da noite de Brahmā, a criação dos três mundos recomeça no dia de Brahmā, e esses mundos continuam a existir por todas as durações de vida de quatorze Manus (ou pais da humanidade) consecutivos.

Comentário

Ao final da vida de cada Manu, há também dissoluções menores.

Texto

svaṁ svaṁ kālaṁ manur bhuṅkte
sādhikāṁ hy eka-saptatim

Sinônimos

svam — próprio; svam — de acordo; kālam — duração de vida; manuḥ — Manu; bhuṅkte — goza; saadhikām – pouco mais que; hi — certamente; ekasaptatim – setenta e um.

Tradução

Cada Manu goza uma vida de pouco mais de setenta e um períodos de quatro milênios.

Comentário

A duração de vida de um Manu abrange setenta e um períodos de quatro milênios, como se descreve no Viṣṇu-Purāṇa. A duração de vida de cada Manu é de aproximadamente 852.000 anos no cálculo dos semideuses, ou, no cálculo dos seres humanos, de 306.720.000 anos.

Texto

manvantareṣu manavas
tad-vaṁśyā ṛṣayaḥ surāḥ
bhavanti caiva yugapat
sureśāś cānu ye ca tān

Sinônimos

manuantareṣu – após a dissolução de cada Manu; manavaḥ — outros Manus; tat-vaṁśyāḥ — e seus descendentes; ṛṣayaḥ — os sete famosos sábios; surāḥ — devotos do Senhor; bhavanti — florescem; ca eva — todos eles também; yugapat — simultaneamente; suraīśāḥ – semideuses como Indra; ca — e; anu — seguidores; ye — todos; ca — também; tān — a eles.

Tradução

Após a dissolução de cada Manu, surge o Manu seguinte, juntamente com seus descendentes, que governam os diferentes planetas, mas os sete famosos sábios, e semideuses como Indra e seus seguidores, tais como os Gandharvas, aparecem todos simultaneamente com o Manu.

Comentário

Há quatorze Manus em um dia de Brahmā, e cada um deles tem diferentes descendentes.

Texto

eṣa dainan-dinaḥ sargo
brāhmas trailokya-vartanaḥ
tiryaṅ-nṛ-pitṛ-devānāṁ
sambhavo yatra karmabhiḥ

Sinônimos

eṣaḥ — todas estas criações; dainamdinaḥ – diariamente; sargaḥ — criação; brāhmaḥ — em termos dos dias de Brahmā; trailokya-vartanaḥ — giro dos três mundos; tiryak — animais inferiores aos seres humanos; nṛ — seres humanos; pitṛ — dos planetas Pitā; devānām — dos semideuses; sambhavaḥ — aparecimento; yatra — em que; karmabhiḥ — no ciclo de atividades fruitivas.

Tradução

Na criação, durante o dia de Brahmā, os três sistemas planetários – Svarga, Martya e Pātāla – giram, e os habitantes, incluindo os animais inferiores, os seres humanos, os semideuses e Pitās, aparecem e desaparecem de acordo com suas atividades fruitivas.

Texto

manvantareṣu bhagavān
bibhrat sattvaṁ sva-mūrtibhiḥ
manv-ādibhir idaṁ viśvam
avaty udita-pauruṣaḥ

Sinônimos

manuantareṣu – em cada mudança de Manu; bhagavān — a Personalidade de Deus; bibhrat — manifestando; sattvam — Sua potência interna; svamūrtibhiḥ – por Suas diferentes encarnações; manu-ādibhiḥ — como Manus; idam — este; viśvam — o universo; avati — mantém; udita — revelando; pauruṣaḥ — potências divinas.

Tradução

Em cada mudança de Manu, a Suprema Personalidade de Deus aparece, manifestando Sua potência interna em diferentes encarnações, como Manu e outros. Deste modo, Ele mantém o universo através do poder manifesto.

Texto

tamo-mātrām upādāya
pratisaṁruddha-vikramaḥ
kālenānugatāśeṣa
āste tūṣṇīṁ dinātyaye

Sinônimos

tamaḥ — o modo da ignorância, ou a escuridão da noite; mātrām — uma insignificante porção apenas; upādāya — aceitando; pratisaṁruddha-vikramaḥ — suspendendo todo o poder de manifestação; kālena — por meio do kāla eterno; anugata — submersas em; aśeṣaḥ — inumeráveis entidades vivas; āste — fica; tūṣṇīm — silencioso; dinaatyaye – no fim do dia.

Tradução

Ao final do dia, sob a insignificante porção do modo da escuridão, a poderosa manifestação do universo funde-se na escuridão da noite. Pela influência do tempo eterno, as inumeráveis entidades vivas permanecem submersas nessa dissolução, e tudo fica silencioso.

Comentário

Este verso é uma explicação da noite de Brahmā, que é o efeito da influência do tempo em contato com uma insignificante porção dos modos da natureza material na escuridão. A dissolução dos três mundos é efetuada pela encarnação da escuridão, Rudra, representada pelo fogo do tempo eterno que arde nos três mundos. Esses três mundos são conhecidos como Bhūḥ, Bhuvaḥ e Svaḥ (Pātāla, Martya e Svarga). As inumeráveis entidades vivas submergem nessa dissolução, que parece constituir o fechamento da cortina do cenário da energia do Senhor Supremo, e, então, tudo fica silencioso.

Texto

tam evānv api dhīyante
lokā bhūr-ādayas trayaḥ
niśāyām anuvṛttāyāṁ
nirmukta-śaśi-bhāskaram

Sinônimos

tam — isto; eva — certamente; anu — após; api dhīyante — desaparecem; lokāḥ — os planetas; bhūḥ-ādayaḥ — os três mundos Bhūḥ, Bhuvaḥ e Svaḥ; trayaḥ — três; niśāyām — na noite; anuvṛttāyām — comum; nirmukta — sem brilho; śaśi — a Lua; bhāskaram — o Sol.

Tradução

Quando se segue a noite de Brahmā, todos os três mundos desaparecem, e o Sol e a Lua ficam sem brilho, assim como no transcorrer de uma noite comum.

Comentário

Subentende-se que o brilho do Sol e da Lua desaparecem da esfera dos três mundos, mas o Sol e a Lua em si não desaparecem. Eles aparecem na porção restante do universo, que está além da esfera dos três mundos. A porção em dissolução fica sem raios de Sol ou brilho de Lua. Tudo fica escuro e cheio d’água, e há ventos incessantes, como se explica nos versos seguintes.

Texto

tri-lokyāṁ dahyamānāyāṁ
śaktyā saṅkarṣaṇāgninā
yānty ūṣmaṇā maharlokāj
janaṁ bhṛgv-ādayo ’rditāḥ

Sinônimos

tri-lokyām — quando as esferas dos três mundos; dahyamānāyām — sendo incendiadas; śaktyā — pela potência; saṅkarṣaṇa — da boca de Saṅkarṣaṇa; agninā — pelo fogo; yānti — vão; ūṣmaṇā — aquecidos pelo calor; mahaḥ-lokāt — de Maharloka; janam — para o Janaloka; bhṛgu — o sábio Bhṛgu; ādayaḥ — e outros; arditāḥ — estando assim aflitos.

Tradução

A devastação ocorre devido ao fogo que emana da boca de Saṅkarṣaṇa, e, dessa maneira, grandes sábios, como Bhṛgu e outros habitantes de Maharloka, transportam-se para Janaloka, estando aflitos com o calor do fogo ardente que se espalha furiosamente pelos três mundos abaixo.

Texto

tāvat tri-bhuvanaṁ sadyaḥ
kalpāntaidhita-sindhavaḥ
plāvayanty utkaṭāṭopa-
caṇḍa-vāteritormayaḥ

Sinônimos

tāvat — então; tribhuvanam – todos os três mundos; sadyaḥ — imediatamente após; kalpaanta – no começo da devastação; edhita — cheios de ar; sindhavaḥ — todos os oceanos; plāvayanti — transbordam; utkaṭa — violenta; āṭopa — agitação; caṇḍa — furacão; vāta — por ventos; īrita — sopradas; ūrmayaḥ — ondas.

Tradução

No começo da devastação, todos os mares transbordam, e ventos ciclônicos sopram violentamente. Destarte, as ondas dos mares tornam-se bravias, e, num instante, os três mundos ficam inundados.

Comentário

Declara-se que o fogo ardente da boca de Saṅkarṣaṇa arde violentamente durante cem anos dos semideuses, ou 36.000 anos humanos. Então, durante outros 36.000 anos, há torrentes de chuva, acompanhadas por ventos e ondas violentas, e os mares e oceanos transbordam. Essas reações de 72.000 anos são o começo da devastação parcial dos três mundos. As pessoas se esquecem de todas essas devastações dos mundos e julgam-se felizes com o progresso material da civilização. Isso se chama māyā, ou “aquilo que não é”.

Texto

antaḥ sa tasmin salila
āste ’nantāsano hariḥ
yoga-nidrā-nimīlākṣaḥ
stūyamāno janālayaiḥ

Sinônimos

antaḥ — dentro; saḥ — isto; tasmin — nesta; salile — água; āste — há; ananta — Ananta; āsanaḥ — sobre o assento de; hariḥ — o Senhor; yoga — o místico; nidrā — sono; nimīlaakṣaḥ – olhos fechados; stūya-mānaḥ — sendo glorificado; jana-ālayaiḥ — pelos habitantes dos planetas Janaloka.

Tradução

O Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, deita-Se na água sobre o assento de Ananta, com Seus olhos fechados, e os habitantes dos planetas Janaloka oferecem suas gloriosas orações ao Senhor de mãos postas.

Comentário

Não devemos pensar que o sono do Senhor é como o nosso sono. Aqui a palavra yoga-nidrā é especificamente mencionada, indicando que o sono do Senhor é também uma manifestação de Sua potência interna. Sempre que a palavra yoga é usada, deve-se entender que ela se refere àquilo que é transcendental. No estágio transcendental, todas as atividades estão sempre presentes, e são glorificadas pelas orações de grandes sábios como Bhṛgu.

Texto

evaṁ-vidhair aho-rātraiḥ
kāla-gatyopalakṣitaiḥ
apakṣitam ivāsyāpi
paramāyur vayaḥ-śatam

Sinônimos

evam — assim; vidhaiḥ — pelo processo de; ahaḥ — dias; rātraiḥ — por noites; kāla-gatyā — avanço de tempo; upalakṣitaiḥ — por tais sintomas; apakṣitam — diminuídas; iva — assim como; asya — sua; api — embora; parama-āyuḥ — duração de vida; vayaḥ — anos; śatam — cem.

Tradução

Assim, o processo do esgotamento da duração de vida existe para cada um dos seres vivos, incluindo o senhor Brahmā. Nossa vida dura apenas cem anos, segundo os tempos nos diferentes planetas.

Comentário

Todo ser vivo vive cem anos em termos dos tempos em diferentes planetas para diferentes entidades. Esses cem anos de vida não são iguais em todos os casos. A mais longa duração de cem anos pertence a Brahmā, mas, embora a vida de Brahmā seja muito longa, esvai-se com o transcorrer do tempo. Brahmā também tem medo de sua morte, em virtude do que ele executa serviço devocional ao Senhor só para se livrar das garras da energia ilusória. Naturalmente, os animais não têm senso de responsabilidade, mas mesmo os humanos, que desenvolvem um senso de responsabilidade, desperdiçam seu tempo valioso sem se ocuparem no serviço devocional ao Senhor; eles vivem alegremente, sem medo da morte iminente. Essa é a loucura da sociedade humana. O louco não tem responsabilidade na vida. Analogamente, um ser humano que não desenvolve um senso de responsabilidade antes de morrer não é melhor que um louco que tenta gozar a vida material muito alegremente, sem se preocupar com o futuro. É necessário que todos os seres humanos se sintam responsáveis pela preparação para a próxima vida, mesmo que tenham uma duração de vida como a de Brahmā, a maior de todas as criaturas vivas dentro do universo.

Texto

yad ardham āyuṣas tasya
parārdham abhidhīyate
pūrvaḥ parārdho ’pakrānto
hy aparo ’dya pravartate

Sinônimos

yat — aquilo que; ardham — metade; āyuṣaḥ — da duração de vida; tasya — sua; parārdham — um parārdha; abhidhīyate — é chamada; pūrvaḥ — a primeira; paraardhaḥ – metade da duração de vida; apakrāntaḥ — tendo passado; hi — certamente; aparaḥ — a segunda; adya — neste milênio; pravartate — começará.

Tradução

Os cem anos da vida de Brahmā dividem-se em duas partes: a primeira metade e a segunda metade. A primeira metade da duração da vida de Brahmā já acabou, e a segunda metade está acontecendo agora.

Comentário

A duração de cem anos na vida de Brahmā já foi discutida em muitas partes desta obra, e também é descrita na Bhagavad-gītā (8.17). Cinquenta anos da vida de Brahmā já se passaram, e ainda estão por vir cinquenta anos, de modo que, também para Brahmā, a morte é inevitável.

Texto

pūrvasyādau parārdhasya
brāhmo nāma mahān abhūt
kalpo yatrābhavad brahmā
śabda-brahmeti yaṁ viduḥ

Sinônimos

pūrvasya — da primeira metade; ādau — no começo; paraardhasya – a da metade superior; brāhmaḥ — Brāhma-kalpa; nāma — chamado; mahān — muito grande; abhūt — manifestou-se; kalpaḥ — milênio; yatra — em seguida; abhavat — apareceu; brahmā — senhor Brahmā; śabdabrahma iti – os sons dos Vedas; yam — que; viduḥ — conhecem.

Tradução

No começo da primeira metade da vida de Brahmā, houve um milênio chamado Brāhma-kalpa, em que apareceu o senhor Brahmā. O nascimento dos Vedas foi simultâneo com o nascimento de Brahmā.

Comentário

Segundo o Padma Purāṇa (Prabhāsa-khaṇḍa), em trinta dias de Brahmā acontecem muitos kalpas, tais como o Varāha-kalpa e o Pitṛ-kalpa. Trinta dias fazem um mês de Brahmā, que vai desde a lua cheia até o desaparecimento da lua. Doze meses assim completam um ano, e cinquenta anos completam um parārdha, ou a metade da duração da vida de Brahmā. O aparecimento Śveta-varāha do Senhor é o primeiro aniversário de Brahmā. A data do aniversário de Brahmā acontece no mês de março, segundo o cálculo astronômico hindu. Essa afirmação foi reproduzida da explicação de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura.

Texto

tasyaiva cānte kalpo ’bhūd
yaṁ pādmam abhicakṣate
yad dharer nābhi-sarasa
āsīl loka-saroruham

Sinônimos

tasya — do Brāhma-kalpa; eva — certamente; ca — também; ante — ao final de; kalpaḥ — milênio; abhūt — surgiu; yam — que; pādmam — Pādma; abhicakṣate — é chamado; yat — em que; hareḥ — da Personalidade de Deus; nābhi — no umbigo; sarasaḥ — do reservatório de água; āsīt — houve; loka — do universo; saroruham — lótus.

Tradução

O milênio que se seguiu ao primeiro milênio Brāhma é conhecido como Pādma-kalpa porque, nesse milênio, a flor de lótus universal cresceu do umbigo-reservatório de água de Hari, a Personalidade de Deus.

Comentário

O milênio que se seguiu ao Brāhma-kalpa é conhecido como Pādma-kalpa porque o lótus universal cresce nesse milênio. O Pādma-kalpa também é chamado de Pitṛ-kalpa em certos Purāṇas.

Texto

ayaṁ tu kathitaḥ kalpo
dvitīyasyāpi bhārata
vārāha iti vikhyāto
yatrāsīc chūkaro hariḥ

Sinônimos

ayam — este; tu — mas; kathitaḥ — conhecido como; kalpaḥ — o atual milênio; dvitīyasya — da segunda metade; api — certamente; bhārata — descendente de Bharata; vārāhaḥ — Vārāha; iti — assim; vikhyātaḥ — é celebrado; yatra — em que; āsīt — apareceu; śūkaraḥ — forma de javali; hariḥ — a Personalidade de Deus.

Tradução

Ó descendente de Bharata, o primeiro milênio na segunda metade da vida de Brahmā também é conhecido como milênio Vārāha porque a Personalidade de Deus apareceu nesse milênio como a encarnação de javali.

Comentário

Os diferentes milênios conhecidos como os kalpas Brāhma, Pādma e Vārāha parecem um pouco complexos para o leigo. Alguns eruditos pensam que esses kalpas são a mesma coisa. Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, o Brāhma-kalpa no começo da primeira metade parece ser o Pādma-kalpa. Podemos, entretanto, simplesmente manter-nos fiéis ao texto e entender que o atual milênio está na segunda metade da duração da vida de Brahmā.

Texto

kālo ’yaṁ dvi-parārdhākhyo
nimeṣa upacaryate
avyākṛtasyānantasya
hy anāder jagad-ātmanaḥ

Sinônimos

kālaḥ — tempo eterno; ayam — este (como é medido de acordo com a duração de vida de Brahmā); dviparārdha-ākhyaḥ – medido pelas duas metades da vida de Brahmā; nimeṣaḥ — menos que um segundo; upacaryate — assim é medido; avyākṛtasya — daquele que é imutável; anantasya — do ilimitado; hi — certamente; anādeḥ — do sem começo; jagat-ātmanaḥ — da alma do universo.

Tradução

A duração das duas partes da vida de Brahmā, como se mencionou anteriormente, é calculada como equivalente a um nimeṣa [menos que um segundo] para a Suprema Personalidade de Deus, que é imutável e ilimitado e é a causa de todas as causas do universo.

Comentário

O grande sábio Maitreya apresenta uma descrição considerável do tempo de diferentes dimensões, desde o átomo até a duração da vida de Brahmā. Agora ele está tentando dar uma ideia do tempo da ilimitada Personalidade de Deus. Ele apenas faz uma sugestão de Seu tempo ilimitado pelo padrão da vida de Brahmā. Toda a duração da vida de Brahmā é calculada como sendo menos que um segundo do tempo do Senhor, e isso é explicado na Brahma-saṁhitā (5.48) como se segue:

yasyaika-niśvasita-kālam athāvalambya
jīvanti loma-vilajā jagad-aṇḍa-nāthāḥ
viṣṇur mahān sa iha yasya kalā-viśeṣo
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Eu adoro Govinda, a Suprema Personalidade de Deus, a causa de todas as causas, cuja porção plenária é Mahā-Viṣṇu. Todos os chefes dos inumeráveis universos (os Brahmās) vivem apenas por se refugiarem no tempo ocupado por uma de Suas respirações.” Os impersonalistas não acreditam na forma do Senhor e, portanto, dificilmente acreditariam no sono do Senhor. Eles formam sua ideia a partir de um fundo insuficiente de conhecimento; eles calculam tudo em termos da capacidade do homem. Acham que a existência do Supremo é justamente o oposto da ativa existência humana; porque o ser humano tem sentidos, o Senhor não pode ter percepção dos sentidos; porque o ser humano tem uma forma, o Supremo tem que ser amorfo; e porque o ser humano dorme, o Supremo não pode dormir. O Śrīmad-Bhāgavatam, entretanto, não concorda com tais impersonalistas. Nesta passagem, afirma-se claramente que o Senhor Supremo descansa em yoga-nidrā, como se discutiu anteriormente. E porque Ele dorme, naturalmente Ele tem que respirar. A Brahma-saṁhitā confirma que, dentro de Seu período de respiração, inumeráveis Brahmās nascem e morrem.

Há concordância completa entre o Śrīmad-Bhāgavatam e a Brahma-saṁhitā. O tempo eterno nunca se acaba juntamente com a vida de Brahmā. Ele continua, mas não tem capacidade de controlar a Suprema Personalidade de Deus, pois o Senhor é o controlador do tempo. Indubitavelmente, existe tempo no mundo espiritual, mas ele não tem controle sobre as atividades. O tempo é ilimitado, e o mundo espiritual também é ilimitado, visto que ali tudo existe no plano absoluto.

Texto

kālo ’yaṁ paramāṇv-ādir
dvi-parārdhānta īśvaraḥ
naiveśituṁ prabhur bhūmna
īśvaro dhāma-māninām

Sinônimos

kālaḥ — o tempo eterno; ayam — este; paramaau – átomo; ādiḥ — começar de; dviparārdha – duas imensas durações de tempo; antaḥ — até o fim; īśvaraḥ — controlador; na — nunca; eva — certamente; īśitum — controlar; prabhuḥ — capaz; bhūmnaḥ — do Supremo; īśvaraḥ — controlador; dhāmamāninām – daqueles que têm consciência corpórea.

Tradução

O tempo eterno é certamente o controlador de diferentes dimensões, desde a dimensão do átomo até as superdivisões da duração de vida de Brahmā. Não obstante, ele é controlado pelo Supremo. O tempo pode controlar apenas aqueles que são conscientes do corpo, incluindo quem está em Satyaloka ou nos outros planetas superiores do universo.

Texto

vikāraiḥ sahito yuktair
viśeṣādibhir āvṛtaḥ
āṇḍakośo bahir ayaṁ
pañcāśat-koṭi-vistṛtaḥ

Sinônimos

vikāraiḥ — pela transformação dos elementos; sahitaḥ — juntamente com; yuktaiḥ — sendo assim amalgamados; viśeṣa — manifestações; ādibhiḥ — por eles; āvṛtaḥ — coberto; āṇḍakośaḥ – o universo; bahiḥ — fora; ayam — este; pañcāśat — cinquenta; koṭi — bilhões; vistṛtaḥ — espalhado.

Tradução

Este mundo material fenomênico expande-se até um diâmetro de seis bilhões e quatrocentos milhões de quilômetros, como uma combinação de oito elementos materiais transformados em dezesseis outras categorias, interna e externamente, como se segue.

Comentário

Como se explicou antes, todo o mundo material é uma manifestação de dezesseis variações e oito elementos materiais. Os estudos analíticos do mundo material são o tema da filosofia sāṅkhya. As primeiras dezesseis variações são os onze sentidos e cinco objetos dos sentidos, e os oito elementos são a matéria grosseira e sutil, a saber, terra, água, fogo, ar, céu, mente, inteligência e ego. Todos esses elementos combinados são distribuídos por todo o universo, que se estende diametralmente até seis bilhões e quatrocentos milhões de quilômetros. Além deste universo de que temos experiência, há inumeráveis outros universos. Alguns deles são maiores do que este, e todos eles se caracterizam por elementos materiais similares, como se descreve abaixo.

Texto

daśottarādhikair yatra
praviṣṭaḥ paramāṇuvat
lakṣyate ’ntar-gatāś cānye
koṭiśo hy aṇḍa-rāśayaḥ

Sinônimos

daśauttaraadhikaiḥ – com dez vezes mais espessura; yatra — em que; praviṣṭaḥ — penetrada; paramaau-vat – como átomos; lakṣyate — ela (a massa dos universos) parece; antaḥ-gatāḥ — juntam-se; ca — e; anye — na outra; koṭiśaḥ — reunidos; hi — para; aṇḍa-rāśayaḥ — imensa combinação de universos.

Tradução

As camadas de elementos que cobrem os universos são cada uma dez vezes mais espessa que a antecedente, e todos os universos reunidos parecem átomos em uma combinação imensa.

Comentário

As coberturas dos universos também são constituídas dos elementos terra, água, fogo, ar e éter, e cada uma delas é dez vezes mais espessa que a antecedente. A primeira cobertura do universo é a terra, a qual é dez vezes mais espessa que o próprio universo. Se o universo mede seis bilhões e quatrocentos milhões de quilômetros, então o tamanho da cobertura de terra do universo é seis bilhões e quatrocentos milhões vezes dez. A cobertura de água é dez vezes maior do que a cobertura de terra, a cobertura de fogo é dez vezes maior que a cobertura de água, a cobertura de ar é dez vezes maior do que a cobertura de fogo, a cobertura de éter é dez vezes maior ainda do que a de ar, e assim por diante. O universo dentro das coberturas de matéria parece um átomo em comparação com as coberturas, e o número de universos é desconhecido até por parte daqueles que podem avaliar as coberturas dos universos.

Texto

tad āhur akṣaraṁ brahma
sarva-kāraṇa-kāraṇam
viṣṇor dhāma paraṁ sākṣāt
puruṣasya mahātmanaḥ

Sinônimos

tat — este; āhuḥ — é considerado; akṣaram — infalível; brahma — o supremo; sarvakāraṇa – todas as causas; kāraṇam — a causa suprema; viṣṇoḥ dhāma — a morada espiritual de Viṣṇu; param — o supremo; sākṣāt — sem dúvida; puruṣasya — da encarnação puruṣa; mahātmanaḥ — do Mahā-Viṣṇu.

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, é por isso considerado a causa original de todas as causas. Deste modo, a morada espiritual de Viṣṇu é indubitavelmente eterna, e também é a morada de Mahā-Viṣṇu, a origem de todas as manifestações.

Comentário

O Senhor Mahā-Viṣṇu, que descansa em yoga-nidrā no Oceano Causal e cria inumeráveis universos através de Seu processo respiratório, só aparece temporariamente no maha-tattva para a manifestação temporária dos mundos materiais. Ele é uma porção plenária do Senhor Śrī Kṛṣṇa, e, desta maneira, embora não seja diferente do Senhor Kṛṣṇa, Seu aparecimento formal no mundo material, como uma encarnação, é temporário. A forma original da Personalidade de Deus é, na realidade, o svarūpa, ou forma verdadeira, e Ele reside eternamente no mundo Vaikuṇṭha (Viṣṇuloka). A palavra mahātmanaḥ é usada aqui para indicar Mahā-Viṣṇu, e Sua verdadeira manifestação é o Senhor Kṛṣṇa, que é chamado parama, como se confirma na Brahma-saṁhitā:

īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ
sac-cid-ānanda-vigrahaḥ
anādir ādir govindaḥ
sarva-kāraṇa-kāraṇam

“O Senhor Supremo é Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus original conhecido como Govinda. Sua forma é eterna, plena de bem-aventurança e conhecimento, e Ele é a causa original de todas a causas.”

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do terceiro canto, décimo primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Cálculo do Tempo a Partir do Átomo”.