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CAPÍTULO NOVE

O Caráter Exímio de Jaḍa Bharata

Neste capítulo, descreve-se como Bharata Mahārāja obteve um corpo de brāhmaṇa. Nesse corpo, ele permanecia como um tolo surdo e mudo, de modo que, quando foi levado diante da deusa Kālī para ser imolado em sacrifício, nem mesmo protestou, senão que ficou calado. Após ter abandonado o corpo de veado, ele nasceu do ventre da mais jovem esposa de um brāhmaṇa. Nessa vida, ele também pôde lembrar-se das atividades de sua vida passada, e, para evitar as influências da sociedade, agia como se fosse surdo-mudo. Era muito zeloso para evitar uma nova queda. Não se associava com ninguém que não fosse um devoto. Esse processo deve ser adotado por todos os devotos. Como aconselha Śrī Caitanya Mahāprabhu, asat-saṅga-tyāga, — ei vaiṣṇava-ācāra. Devemos evitar estritamente a companhia de não-devotos, mesmo que eles sejam membros familiares. Quando Bharata Mahārāja obteve um corpo de brāhmaṇa, as pessoas circunvizinhas pensavam que se tratava de um louco embotado, mas, em seu íntimo, ele estava sempre cantando sobre Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, de quem se lembrava sem interrupção. Embora seu pai lhe quisesse instruí-lo e purificá-lo como um brāhmaṇa, oferecendo-lhe o cordão sagrado, ele comportava-se de tal maneira que deixava seu pai e sua mãe com a ideia de que ele era destituído de racionalidade e não estava interessado no processo reformativo. Contudo, mesmo sem se submeter a essas cerimônias oficiais, ele permanecia em plena consciência de Kṛṣṇa. Devido ao seu silêncio, algumas pessoas, que não passavam de animais, começaram a importuná-lo de diversas maneiras, mas ele tolerava isso. Depois que seu pai e sua mãe morreram, sua madrasta e seus irmãos consanguíneos começaram a tratá-lo muito mal. Muito embora lhe dessem os alimentos mais detestáveis, ele não se importava; permanecia completamente absorto em consciência de Kṛṣṇa. Certa noite, seus irmãos consanguíneos e sua madrasta designaram-no a vigiar o campo de arroz; foi então que o líder de um grupo de salteadores o sequestrou e tentou matá-lo oferecendo-o em sacrifício diante de Bhadra Kālī. Quando os salteadores colocaram Bharata Mahārāja diante da deusa Kālī e levantaram o cutelo para matá-lo, ela imediatamente se alarmou com os maus-tratos infligidos a um devoto. Saindo da deidade, ela agarrou o cutelo com suas próprias mãos e, ali mesmo, matou todos os salteadores. Assim, um devoto puro da Suprema Personalidade de Deus pode permanecer silencioso mesmo quando atormentado pelos não-devotos. Ladrões e salteadores que insultam um devoto recebem a impreterível punição que lhes é reservada por intermédio dos arranjos da Suprema Personalidade de Deus.

Texto

śrī-śuka uvāca
atha kasyacid dvija-varasyāṅgiraḥ-pravarasya śama-dama-tapaḥ-svādhyāyādhyayana-tyāga-santoṣa-titikṣā-praśraya-vidyānasūyātma-jñānānanda-yuktasyātma-sadṛśa-śruta-śīlācāra-rūpaudārya-guṇā nava sodaryā aṅgajā babhūvur mithunaṁ ca yavīyasyāṁ bhāryāyām yas tu tatra pumāṁs taṁ parama-bhāgavataṁ rājarṣi-pravaraṁ bharatam utsṛṣṭa-mṛga-śarīraṁ carama-śarīreṇa vipratvaṁ gatam āhuḥ.

Sinônimos

śrī-sukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī continuou a falar; atha — depois disso; kasyacit — de algum; dvija-varasyabrāhmaṇa; aṅgiraḥ-pravarasya — que veio na dinastia do grande santo Aṅgirā; śama — controle da mente; dama — controle dos sentidos; tapaḥ — práticas de austeridades e penitências; svādhyāya — recitação dos textos védicos; adhyayana — estudando; tyāga — renúncia; santoṣa — satisfação; titikṣā — tolerância; praśraya — muito cortês; vidyā — conhecimento; anasūya — sem inveja; ātma-jñāna-ānanda — satisfeito em autorrealização; yuktasya — que estava qualificado com; ātma-sadṛśa — e exatamente como ele; śruta — em educação; śīla — em caráter; ācāra — em comportamento; rūpa — em beleza; audārya — em magnanimidade; guṇāḥ — possuindo todas essas qualidades; nava saudaryāḥ — nove irmãos nascidos do mesmo ventre; aṅga-jāḥ — filhos; babhūvuḥ — nasceram; mithunam — irmão e irmã gêmeos; ca — e; yavīyasyām — na mais jovem; bhāryāyām — esposa; yaḥ — quem; tu — mas; tatra — ali; pumān — o menino; tam — ele; parama-bhāgavatam — o devoto mais insigne; rāja-ṛṣi — dos reis santos; pravaram — muito honrado; bharatam — Bharata Mahārāja; utṣṛṣta — tendo abandonado; mṛga-śarīram — o corpo de veado; carama-śarīreṇa — com o último corpo; vipratvam — sendo um brāhmaṇa; gatam — obteve; āhuḥ — disseram.

Tradução

Śrīla Śukadeva Gosvāmī continuou: Meu querido rei, após abandonar o corpo de veado, Bharata Mahārāja nasceu em uma família brāhmaṇa muito pura. Havia um brāhmaṇa pertencente à dinastia de Aṅgirā. Ele possuía as qualificações bramânicas em plenitude. Ele podia controlar sua mente e sentidos, e havia estudado os textos védicos e a literatura subsidiária. Ele era muito hábil em dar caridades e era sempre satisfeito, tolerante, muito cortês, erudito e livre de inveja. Era autorrealizado e estava ocupado no serviço devocional ao Senhor. Sempre permanecia em transe. Teve, com sua primeira esposa, nove filhos igualmente qualificados, e, com sua segunda esposa, ele gerou gêmeos – um filho e uma filha, sendo que o menino era tido como o mais elevado e principal devoto dentre os reis santos – Bharata Mahārāja. Esta, portanto, é a história do seu nascimento depois que ele abandonou o corpo de veado.

Comentário

SIGNIFICADO—Bharata Mahārāja era um grande devoto, mas precisou de mais de uma vida para alcançar o sucesso. Na Bhagavad-gītā, declara-se que o devoto que, em uma determinada vida, não cumpre seus deveres devocionais, recebe a oportunidade de nascer em uma família brāhmaṇa plenamente qualificada, ou em uma rica família kṣatriya ou vaiśya. Śucīnāṁ śrīmatāṁ gehe. (Bhagavad-gītā 6.41) Bharata Mahārāja, como primogênito de Mahārāja Ṛṣabha, nascera em uma rica família kṣatriya, mas, devido à sua obstinada negligência das atividades espirituais e seu excessivo apego a um veado insignificante, viu-se obrigado a nascer como filho de uma veada. No entanto, devido à sua forte posição de devoto, ele recebeu como dádiva a capacidade de lembrar-se de sua vida passada. Arrependido, ele permaneceu em uma floresta solitária, onde sempre pensava em Kṛṣṇa. Então, ele recebeu a oportunidade de nascer em uma ótima família de brāhmaṇas.

Texto

tatrāpi svajana-saṅgāc ca bhṛśam udvijamāno bhagavataḥ karma-bandha-vidhvaṁsana-śravaṇa-smaraṇa-guṇa-vivaraṇa-caraṇāravinda-yugalaṁ manasā vidadhad ātmanaḥ pratighātam āśaṅkamāno bhagavad-anugraheṇānusmṛta-sva-pūrva-janmāvalir ātmānam unmatta-jaḍāndha-badhira-svarūpeṇa darśayām āsa lokasya.

Sinônimos

tatra api — também naquele nascimento brāhmaṇa; sva-jana-saṅgāt — da associação com parentes e amigos; ca — e; bhṛśam — grandemente; udvijamānaḥ — sendo sempre temeroso de recair; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; karma-bandha — o cativeiro das reações de atividades fruitivas; vidhvaṁsana — que extermina; śravaṇa — ouvir; smaraṇa — lembrar-se; guṇa-vivaraṇa — ouvindo descrições das qualidades do Senhor; caraṇa-aravinda — pés de lótus; yugalam — os dois; manasā — com a mente; vidadhat — sempre pensando em; ātmanaḥ — de sua alma; pratighātam — obstáculos no caminho do serviço devocional; āśaṅkamānaḥ — temendo sempre; bhagavat-anugraheṇa — pela misericórdia especial da Suprema Personalidade de Deus; anusmṛta — lembrava-se de; sva-pūrva — sua própria antecedente; janma-āvaliḥ — corrente de nascimentos; ātmānam — ele mesmo; unmatta — louco; jaḍa — obtuso; andha — cego; badhira — e surdo; svarūpeṇa — com esses aspectos; darśayām āsa — ele se apresentava; lokasya — para a população em geral.

Tradução

Por ter recebido a misericórdia especial do Senhor, Bharata Mahārāja podia lembrar-se dos incidentes de sua vida passada. Embora tivesse recebido um corpo de brāhmaṇa, ficava muito temeroso em relação a seus parentes e amigos que não eram devotos. Ele sempre se mantinha muito precavido contra essa associação, pois temia recair. Em consequência disso, ele se manifestava diante dos olhares públicos como um louco – estúpido, cego e surdo – para que os outros não tentassem falar com ele. Dessa maneira, ele se livrava das más companhias. Em seu íntimo, estava sempre pensando nos pés de lótus do Senhor e cantando as glórias do Senhor, que nos liberta do cativeiro da ação fruitiva. Assim, ele se salvada das investidas da associação com não-devotos.

Comentário

SIGNIFICADO—Em decorrência da associação com os modos da natureza, toda entidade viva se deixa prender por diferentes atividades. A Bhagavad-gītā (13.22) afirma que kāraṇaṁ guṇa-saṅgo ’sya sad-asad-yoni-janmasu: “Isto decorre de sua associação com essa natureza material. Assim, ela se encontra com o bem e o mal entre as várias espécies de vida.”

De acordo com nosso karma, obtemos diferentes classes de corpos entre 8.400.000 espécies. Karmaṇā daiva-netreṇa: sob a influência da natureza material envolta nos três modos é que agimos, e assim, de acordo com a ordem superior, obtemos uma certa espécie de corpo. Isso se chama karma-bandha. Quem quer escapar desse karma-bandha deve ocupar-se em serviço devocional. Então, ele não estará mais sob a influência dos modos da natureza material.

māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate
sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate

“Aquele que se ocupa em serviço devocional pleno e não falha em circunstância alguma, transcende de imediato os modos da natureza material e chega então ao nível de Brahman.” (Bhagavad-gītā 14.26) Para permanecer imune às modalidades materiais, a pessoa deve ocupar-se em serviço devocional – śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ. Esta é a perfeição da vida. Ao nascer como brāhmaṇa, Mahārāja Bharata não estava muito interessado nos deveres bramânicos, mas, no íntimo, permanecia um vaiṣṇava puro, sempre pensando nos pés de lótus do Senhor. Como aconselha a Bhagavad-gītā (18.65): man-manā bhava mad-bhakto mad-yājī māṁ namaskuru. Esse é o único processo pelo qual nos é possível nos salvarmos do perigo de repetidos nascimentos e mortes.

Texto

tasyāpi ha vā ātmajasya vipraḥ putra-snehānubaddha-manā āsamāvartanāt saṁskārān yathopadeśaṁ vidadhāna upanītasya ca punaḥ śaucācamanādīn karma-niyamān anabhipretān api samaśikṣayad anuśiṣṭena hi bhāvyaṁ pituḥ putreṇeti.

Sinônimos

tasya — dele; api ha — com certeza; ātma-jasya — de seu filho; vipraḥ — o brāhmaṇa pai de Jaḍa Bharata (o louco e desvairado Bharata); putra-sneha-anubaddha-manāḥ — que estava compelido pela afeição a seu filho; ā-sama-āvartanāt — até o término do brahmacarya-āśrama; saṁskārān — o processo purificatório; yathā-upadeśam — como os śāstras prescrevem; vidadhānaḥ — executando; upanītasya — daquele que tem um cordão sagrado; ca — também; punaḥ — novamente; śauca-ācamana-ādīn — prática de limpeza, ablução da boca, pernas, mãos etc.; karma-niyamān — os princípios reguladores das atividades fruitivas; anabhipretān api — embora não desejado por Jaḍa Bharata; samaśikṣayat — ensinados; anuśiṣṭena — ensinava a seguir os princípios reguladores; hi — na realidade; bhāvyam — deve ser; pituḥ — do pai; putreṇa — o filho; iti — assim.

Tradução

A mente do pai brāhmaṇa estava sempre repleta de afeição por seu filho, Jaḍa Bharata [Bharata Mahārāja]. Portanto, ele estava sempre apegado a Jaḍa Bharata. Como não conseguia entrar no gṛhastha-āśrama, Jaḍa Bharata simplesmente executou o processo purificatório até o final do brahmacarya-āśrama. Embora Jaḍa Bharata não quisesse aceitar as instruções de seu pai, o brāhmaṇa o instruía sobre como manter-se limpo e como lavar-se, julgando pertinente que ao pai cabe ensinar o filho.

Comentário

SIGNIFICADO—Jaḍa Bharata era o mesmo Bharata Mahārāja, mas agora no corpo de um brāhmaṇa, e ele intencionalmente se fazia passar por estúpido, surdo, mudo e cego. Na verdade, ele estava bem alerta internamente. Ele distinguia perfeitamente os resultados das atividades fruitivas e os resultados do serviço devocional. No corpo de brāhmaṇa, Mahārāja Bharata, em seu íntimo, estava absorto por completo em serviço devocional; portanto, não havia por que se submeter aos princípios reguladores que regem as atividades fruitivas. Como se confirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.13), svanuṣṭhitasya dharmasya saṁsiddhir hari-toṣaṇam. Devemos satisfazer Hari, a Suprema Personalidade de Deus. Esta é a perfeição dos princípios reguladores que regem as atividades fruitivas. Além disso, afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.8):

dharmaḥ svanuṣṭhitaḥ puṁsāṁ
viṣvaksena-kathāsu yaḥ
notpādayed yadi ratiṁ
śrama eva hi kevalam

“Os deveres [dharma] executados pelos homens, não importa em que estejam ocupados, não passam de esforços inúteis se não provocam atração pela mensagem da Personalidade de Deus.” Essas atividades karma-kāṇḍa são necessárias para aquele que não desenvolveu a consciência de Kṛṣṇa. Quem está estabelecido na consciência de Kṛṣṇa não precisa executar esses princípios que regulam o karma-kāṇḍa. Śrīla Mādhavendra Purī disse: “Ó princípios reguladores de karma-kāṇḍa, por favor, desculpai-me. Não posso seguir todos esses princípios reguladores, pois estou plenamente ocupado em serviço devocional.” Ele expressou o desejo de, em algum lugar, sentar-se debaixo de uma árvore e cantar continuamente o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Por conseguinte, ele não executava todos os princípios reguladores. Do mesmo modo, Haridāsa Ṭhākura nascera em família muçulmana e, desde o início de sua vida, jamais fora iniciado no sistema karma-kāṇḍa, mas, como estava sempre cantando os santos nomes do Senhor, Śrī Caitanya Mahāprabhu aceitou-o como nāmācārya, a autoridade no cantar dos santos nomes. Como Jaḍa Bharata, Bharata Mahārāja, em seu íntimo, estava sempre ocupado em serviço devocional. Como, durante três vidas consecutivas, executara os princípios reguladores, não estava interessado em continuar a executá-los, embora seu pai brāhmaṇa desejasse que ele o fizesse.

Texto

sa cāpi tad u ha pitṛ-sannidhāv evāsadhrīcīnam iva sma karoti chandāṁsy adhyāpayiṣyan saha vyāhṛtibhiḥ sapraṇava-śiras tripadīṁ sāvitrīṁ graiṣma-vāsantikān māsān adhīyānam apy asamaveta-rūpaṁ grāhayām āsa.

Sinônimos

saḥ — ele (Jaḍa Bharata); ca — também; api — na verdade; tat u ha — aquilo que foi ensinado por seu pai; pitṛ-sannidhau — na presença de seu pai; eva — mesmo; asadhrīcīnam iva — incorreto, como se ele não fosse capaz de entender nada; sma karoti — costumava fazer; chandāṁsi adhyāpayiṣyan — desejando ensinar-lhe os mantras védicos durante os meses que começam com śrāvaṇa ou durante o período de Cāturmāsya; saha — juntamente com; vyāhṛtibhiḥ — pronúncia dos nomes dos planetas celestiais (bhūḥ, bhuvaḥ, svaḥ); sa-praṇava-śiraḥ — encabeçados pelo oṁkāra; tri-padīm — de três pés; sāvitrīm — o mantra Gāyatrī; graiṣma-vāsantikān — por quatro meses, começando com caitra, no décimo quinto dia de maio; māsān — os meses; adhīyānam api — embora estudando por completo; asamaveta-rūpam — de uma forma incompleta; grāhayām āsa — ele o fazia aprender.

Tradução

Apesar de seu pai lhe dar as devidas instruções quanto ao conhecimento védico, Jaḍa Bharata comportava-se diante dele como se fosse um tolo. Ele procedia dessa maneira para que seu pai entendesse que ele não tinha condições de receber instruções e, assim, abandonasse os esforços de continuar educando-o. Ele sempre se comportava de maneira completamente rebelde. Sendo instruído a lavar suas mãos após defecar, ele as lavava antes. Entretanto, durante a primavera e o verão, seu pai queria partilhar instruções védicas com ele. Tentava ensinar-lhe o mantra Gāyatrī juntamente com o oṁkāra e o vyāhṛti, porém, depois de quatro meses, seu pai ainda não havia conseguido instruir Jaḍa Bharata.

Texto

evaṁ sva-tanuja ātmany anurāgāveśita-cittaḥ śaucādhyayana-vrata-niyama-gurv-anala-śuśrūṣaṇādy-aupakurvāṇaka-karmāṇy anabhiyuktāny api samanuśiṣṭena bhāvyam ity asad-āgrahaḥ putram anuśāsya svayaṁ tāvad anadhigata-manorathaḥ kālenāpramattena svayaṁ gṛha eva pramatta upasaṁhṛtaḥ.

Sinônimos

evam — assim; sva — próprio; tanu-je — em seu filho, Jaḍa Bharata; ātmani — o qual ele considerava como sendo ele próprio; anurāga-āveśita-cittaḥ — o brāhmaṇa que estava absorto em amor por seu filho; śauca — limpeza; adhyayana — estudo da literatura védica; vrata — aceitando todos os votos; niyama — princípios reguladores; guru — do mestre espiritual; anala — do fogo; śuśrūṣaṇa-ādi — o serviço etc.; aupakurvāṇaka — do brahmacarya-āśrama; karmāṇi — todas as atividades; anabhiyuktāni api — embora não desejado por seu filho; samanuśiṣṭena — plenamente instruído; bhāvyam — deveria ser; iti — assim; asat-āgrahaḥ — mostrando indevida obstinação; putram — seu filho; anuśāsya — instruindo; svayam — ele próprio; tāvat — dessa maneira; anadhigata-manorathaḥ — não tendo satisfeito seus desejos; kālena — pela influência do tempo; apramattena — que não se esquece; svayam — ele próprio; gṛhe — a seu lar; eva — decerto; pramattaḥ — estando loucamente apegado; upasaṁhṛtaḥ — morreu.

Tradução

O brāhmaṇa que era pai de Jaḍa Bharata considerava seu filho como sua vida e alma, de maneira que estava muito apegado a ele. Julgava sábio educar seu filho apropriadamente e, estando absorto nessa tarefa malograda, tentava ensinar a seu filho as regras e regulações de brahmacarya – incluindo a execução dos votos védicos, limpeza, estudo dos Vedas, os métodos reguladores, serviço ao mestre espiritual e o processo de oferecer sacrifícios de fogo. Empenhou-se ao máximo por ensinar tudo isso a seu filho, mas todos os seus esforços falharam. Dentro de seu coração, alimentava a esperança de que seu filho seria um estudioso erudito, mas todas as suas tentativas foram malsucedidas. Como todos, esse brāhmaṇa estava apegado ao seu lar, e havia se esquecido de que um dia morreria. A morte, contudo, não se esqueceu dele e, no momento adequado, ela apareceu e o levou.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqueles que estão demasiadamente apegados à vida familiar e se esquecem de que, no futuro, a morte virá levá-los, por estarem apegados, ficam incapazes de concluir seus deveres como seres humanos. O dever da vida humana é resolver todos os problemas da vida, mas, ao invés disso, as pessoas ficam apegadas aos afazeres e deveres familiares. Embora elas se esqueçam da morte, a morte não se esquecerá delas. Subitamente, elas serão expulsas da plataforma da vida familiar pacífica. Talvez alguém se esqueça de que morrerá, mas a morte nunca se esquece de vir pegar essa pessoa esquecida. A morte vem sempre na hora certa. O brāhmaṇa, pai de Jaḍa Bharata, queria ensinar ao seu filho o processo de brahmacarya, mas, devido ao desinteresse de seu filho em submeter-se ao processo de avanço védico, ele fracassou. Tudo em que Jaḍa Bharata pensava era voltar ao lar, voltar ao Supremo, executando serviço devocional através de śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ. Ele não se importava com as instruções védicas de seu pai. Quando alguém está plenamente interessado em servir ao Senhor, ele não precisa seguir os princípios reguladores especificados nos Vedas. É claro que, para um homem comum, os princípios védicos são imprescindíveis. Ninguém pode evitá-los. Mas quem alcançou a perfeição no serviço devocional não vê muita importância em seguir os princípios védicos. O Senhor Kṛṣṇa aconselhou que Arjuna se elevasse à plataforma de nistraiguṇya, a posição transcendental situada acima dos princípios védicos:

traiguṇya-viṣayā vedā
nistraiguṇyo bhavārjuna
nirdvandvo nitya-sattva-stho
niryoga-kṣema ātmavān

“Os Vedas tratam principalmente do tema dos três modos da natureza material. Ó Arjuna, torna-te transcendental a estes três modos. Liberta-te de todas as dualidades e de todos os anseios advindos da busca de lucro e segurança e estabelece-te no eu.” (Bhagavad-gītā 2.45)

Texto

atha yavīyasī dvija-satī sva-garbha-jātaṁ mithunaṁ sapatnyā upanyasya svayam anusaṁsthayā patilokam agāt.

Sinônimos

atha — depois; yavīyasī — a mais jovem; dvija-satī — esposa do brāhmaṇa; sva-garbha-jātam — nascidos do seu ventre; mithunam — os gêmeos; sapatnyai — à co-esposa; upanyasya — confiando; svayam — pessoalmente; anusaṁsthayā — seguindo seu esposo; pati-lokam — o planeta chamado Patiloka; agāt — foi para.

Tradução

Em seguida, a mais jovem esposa do brāhmaṇa, após confiar seus filhos gêmeos – o menino e a menina – à esposa mais velha, partiu rumo a Patiloka, morrendo voluntariamente com seu esposo.

Texto

pitary uparate bhrātara enam atat-prabhāva-vidas trayyāṁ vidyāyām eva paryavasita-matayo na para-vidyāyāṁ jaḍa-matir iti bhrātur anuśāsana-nirbandhān nyavṛtsanta.

Sinônimos

pitari uparate — após a morte do pai; bhrātaraḥ — os irmãos consanguíneos; enam — a este Bharata (Jaḍa Bharata); a-tat-prabhāva-vidaḥ — sem entender sua posição elevada; trayyām — dos três Vedas; vidyāyām — no tema do conhecimento material ritualístico; eva — na verdade; paryavasita — estabelecidas; matayaḥ — cujas mentes; na — não; para-vidyāyām — no conhecimento transcendental da vida espiritual (serviço devocional); jaḍa-matiḥ — inteligência muito obtusa; iti — assim; bhrātuḥ — o irmão deles (Jaḍa Bharata); anuśāsananirbandhāt – do esforço em ensinar; nyavṛtsanta — pararam.

Tradução

Após a morte do pai, os nove irmãos consanguíneos de Jaḍa Bharata, que o consideravam estúpido e descerebrado, abandonaram a tentativa do pai de dar-lhe uma educação completa. Os irmãos consanguíneos de Jaḍa Bharata eram eruditos nos três Vedas – o Ṛg Veda, o Sāma Veda e o Yajur Veda –, os quais estimulam muito fortemente a realização de atividades fruitivas. Com efeito, os nove irmãos não eram espiritualmente esclarecidos em serviço devocional ao Senhor. Diante disso, não podiam entender a elevadíssima posição de Jaḍa Bharata.

Texto

sa ca prākṛtair dvipada-paśubhir unmatta-jaḍa-badhira-mūkety abhibhāṣyamāṇo yadā tad-anurūpāṇi prabhāṣate karmāṇi ca kāryamāṇaḥ parecchayā karoti viṣṭito vetanato vā yācñayā yadṛcchayā vopasāditam alpaṁ bahu mṛṣṭaṁ kadannaṁ vābhyavaharati paraṁ nendriya-prīti-nimittam. nitya-nivṛtta-nimitta-sva-siddha-viśuddhānubhavānanda-svātma-lābhādhigamaḥ sukha-duḥkhayor dvandva-nimittayor asambhāvita-dehābhimānaḥ. śītoṣṇa-vāta-varṣeṣu vṛṣa ivānāvṛtāṅgaḥ pīnaḥ saṁhananāṅgaḥ sthaṇḍila-saṁveśanānunmardanāmajjana-rajasā mahāmaṇir ivānabhivyakta-brahma-varcasaḥ kupaṭāvṛta-kaṭir upavītenoru-maṣiṇā dvijātir iti brahma-bandhur iti saṁjñayātaj-jñajanāvamato vicacāra.

Sinônimos

saḥ ca — ele também; prākṛtaiḥ — pelas pessoas comuns que não têm acesso ao conhecimento espiritual; dvi-pada-paśubhiḥ — que não passam de animais com duas pernas; unmatta — louco; jaḍa — estúpido; badhira — surdo; mūka — mudo; iti — assim; abhibhāṣyamāṇaḥ — sendo tratado; yadā — quando; tat-anurūpāṇi — palavras adequadas para responder às deles; prabhāṣate — ele costumava falar; karmāṇi — atividades; ca — também; kāryamāṇaḥ — sendo impelido a executar; para-icchayā — por ordem dos outros; karoti — ele costumava agir; viṣṭitaḥ — à força; vetanataḥ — ou por algum pagamento; — ou; yācñayā — esmolando; yadṛcchayā — por sua própria conta; — ou; upasāditam — obtinha; alpam — uma quantidade muito pequena; bahu — uma grande quantidade; mṛṣṭam — muito saborosos; kat-annam — alimentos rançosos e insípidos; — ou; abhyavaharati — ele costumava comer; param — apenas; na — não; indriya-prīti-nimittam — para o gozo dos sentidos; nitya — eternamente; nivṛtta — parava; nimitta — atividades fruitivas; sva-siddha — obtinha mediante esforços próprios; viśuddha — transcendental; anubhava-ānanda — percepção bem-aventurada; sva-ātma-lābha-adhigamaḥ — que alcançara o conhecimento do eu; sukha-duḥkhayoḥ — na felicidade e na tristeza; dvandva-nimittayoḥ — nas causas da dualidade; asambhāvita-deha-abhimānaḥ — não identificado com o corpo; śīta — no inverno; uṣṇa — no verão; vāta — no vento; varṣeṣu — na chuva; vṛṣaḥ — um touro; iva — como; anāvṛta-aṅgaḥ — corpo descoberto; pīnaḥ — muito forte; saṁhanana-aṅgaḥ — cujos membros eram firmes; sthaṇḍila-saṁveśana — de deitar-se no chão; anunmardana — sem qualquer massagem; amajjana — sem banhar-se; rajasā — pela sujeira; mahā-maṇiḥ — pedra preciosa valiosíssima; iva — como; anabhivyakta — imanifesto; brahma-varcasaḥ — esplendor espiritual; ku-paṭa-āvṛta — coberto por uma roupa suja; kaṭiḥ — cujas tangas; upavītena — com um cordão sagrado; uru-maṣiṇā — que era muito preto devido à sujeira; dvi-jātiḥ — nascido em família brāhmaṇa; iti — assim (dizendo como insulto); brahma-bandhuḥ — um amigo de um brāhmaṇa; iti — assim; saṁjñayā — com esses nomes; a-tat-jña-jana — por pessoas que não conhecem a verdadeira posição dele; avamataḥ — sendo desrespeitado; vicacāra — ele perambulava.

Tradução

Com efeito, homens degradados não são melhores do que animais. A única diferença é que os animais são quadrúpedes e esses homens são bípedes. Esses animalescos homens bípedes costumavam chamar Jaḍa Bharata de louco, estúpido, surdo e mudo. Eles o maltratavam, e Jaḍa Bharata comportava-se diante deles como um louco, surdo, cego e estúpido. Ele não protestava nem tentava convencê-los de que ele não era nada disso. Se outros queriam vê-lo fazer algo, ele agia de acordo com esses desejos. Toda a comida que obtinha esmolando ou como pagamento, ou qualquer alimento advindo sem nenhum esforço de sua parte – fosse em pequena quantidade, saboroso, rançoso ou insípido –, ele o aceitava e comia. Ele jamais comia algo para satisfazer os sentidos, pois já estava liberado do conceito corpóreo, que nos induz a discriminar entre alimentos saborosos e insípidos. Estava em plena consciência transcendental do serviço devocional e, portanto, não se deixava influenciar pelas dualidades provenientes do conceito corpóreo. Na verdade, seu corpo era tão forte como o de um touro, e seus membros, muito musculosos. Não se importava em saber se era inverno ou verão, se ventava ou chovia, e jamais se agasalhava. Deitava-se no chão e nunca passava óleo em seu corpo nem se banhava. Porque seu corpo era sujo, sua refulgência e conhecimento espirituais mantinham-se ocultos, assim como a poeira encobre o esplendor de uma pedra preciosa. Ele usava apenas uma tanga suja e seu cordão sagrado, que era enegrecido. Compreendendo que ele nascera em uma família brāhmaṇa, as pessoas costumavam chamá-lo de brahma-bandhu e outros nomes. Sendo assim insultado e desprezado pelas pessoas materialistas, ele vagava de um lugar a outro.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura canta: deha-smṛti nāhi yāra, saṁsāra-bandhana kāhāṅ tāra. A pessoa que não tem desejo algum de manter o corpo ou que não está ansiosa por manter o corpo em boas condições e que se satisfaz em qualquer situação deve ser louca ou liberada. Na verdade, Bharata Mahārāja, em seu nascimento como Jaḍa Bharata, estava inteiramente livre das dualidades materiais. Ele era um paramahaṁsa e, portanto, não se preocupava com o bem-estar físico.

Texto

yadā tu parata āhāraṁ karma-vetanata īhamānaḥ sva-bhrātṛbhir api kedāra-karmaṇi nirūpitas tad api karoti kintu na samaṁ viṣamaṁ nyūnam adhikam iti veda kaṇa-piṇyāka-phalī-karaṇa-kulmāṣa-sthālīpurīṣādīny apy amṛtavad abhyavaharati.

Sinônimos

yadā — quando; tu — porém; parataḥ — dos outros; āhāram — alimento; karma-vetanataḥ — como salário de trabalho; īhamānaḥ — em busca de; sva-bhrātṛbhiḥ api — mesmo por seus próprios irmãos consanguíneos; kedāra-karmaṇi — em trabalhar no campo e acertar o trabalho agrícola; nirūpitaḥ — ocupado; tat api — também nesses momentos; karoti — ele costumava fazer; kintu — mas; na — não; samam — nível; viṣamam — irregular; nyūnam — deficiente; adhikam — mais elevado; iti — assim; veda — ele sabia; kaṇa — arroz quebrado; piṇyāka — ração de gado; phalī-karaṇa — a casca do arroz; kulmāṣa — grãos carunchosos; sthālī-purīṣa-ādīni — arroz queimado, grudado na panela e assim por diante; api — mesmo; amṛta-vat — tal qual néctar; abhyavaharati — costumava comer.

Tradução

Jaḍa Bharata costumava trabalhar apenas a troco de comida. Seus irmãos consanguíneos aproveitavam-se disso e, em troca de algum alimento, ocupavam-no em trabalhos agrícolas, mas, na verdade, ele não tinha nenhum conhecimento de como fazer um bom trabalho no campo. Ele não sabia onde despejar a terra ou onde deixar o solo nivelado ou irregular. Seus irmãos costumavam lhe dar arroz quebrado, ração de gado, casca de arroz, cereais carunchosos e grãos queimados que estavam grudados na panela, mas ele alegremente aceitava tudo isso como se fosse néctar. Não resmungava e, muito satisfeito, comia tudo isso.

Comentário

SIGNIFICADO—Descreve-se na Bhagavad-gītā (2.15) a plataforma de paramahaṁsa: sama-duḥkha-sukhaṁ dhīraṁ so ’mṛtatvāya kalpate. Quando a pessoa é insensível a toda dualidade, a saber, a felicidade e a tristeza deste mundo material, ela qualifica-se a estabelecer-se em amṛtatva, a vida eterna. Bharata Mahārāja estava determinado a encerrar suas atividades neste mundo material e não estava em nada interessado no mundo de dualidades. Ele estava em completa consciência de Kṛṣṇa, alheio ao bem e ao mal, à felicidade e à tristeza. Como se afirma no Caitanya-caritāmṛta (Antya 4.176):

‘dvaite’ bhadrābhadra-jñāna, saba-‘manodharma’
‘ei bhāla, ei manda’ — saba ‘bhrama’

“No mundo material, todos os conceitos de bem e mal são meras especulações mentais. Portanto, dizer: ‘Isto é bom e isto é ruim’, é inteiramente errado.” A pessoa deve entender que, no mundo material de dualidades, pensar que algo é bom, ou que algo é ruim, é uma simples invenção mental. Contudo, ninguém deve imitar essa consciência; na verdade, devemos situar-nos na plataforma espiritual de neutralidade.

Texto

atha kadācit kaścid vṛṣala-patir bhadra-kālyai puruṣa-paśum ālabhatāpatya-kāmaḥ.

Sinônimos

atha — depois disso; kadācit — em algum tempo; kaścit — algum; vṛṣala-patiḥ — o líder dos śūdras ocupados em saquear propriedades alheias; bhadra-kālyai — à deusa conhecida como Bhadra Kālī; puruṣa-paśum — um animal na forma de homem; ālabhata — começou a sacrificar; apatya-kāmaḥ — desejando um filho.

Tradução

Foi então que, desejando obter um filho, um líder de salteadores, que nasceu em família śūdra, desejou adorar a deusa Bhadra Kālī, oferecendo-lhe, em sacrifício, um homem obtuso, que não se estima como melhor do que um animal.

Comentário

SIGNIFICADO—Na tentativa de satisfazer os desejos materiais, homens de classe inferior, tais como os śūdras, adoram semideuses como a deusa Kālī ou Bhadra Kālī. Com esse fim, eles, algumas vezes, matam um ser humano diante da deidade. Em geral, eles escolhem alguém que não seja muito inteligente – em outras palavras, um animal na forma de homem.

Texto

tasya ha daiva-muktasya paśoḥ padavīṁ tad-anucarāḥ paridhāvanto niśi niśītha-samaye tamasāvṛtāyām anadhigata-paśava ākasmikena vidhinā kedārān vīrāsanena mṛga-varāhādibhyaḥ saṁrakṣamāṇam aṅgiraḥ-pravara-sutam apaśyan.

Sinônimos

tasya — do líder dos salteadores; ha — decerto; daiva-muktasya — tendo casualmente escapado; paśoḥ — do animal humano; padavīm — o caminho; tat-anucarāḥ — seus seguidores ou assistentes; paridhāvantaḥ — tentando encontrar aqui e ali; niśi — à noite; niśītha-samaye — à meia-noite; tamasā āvṛtāyām — estando coberto pela escuridão; anadhigata-paśavaḥ — não agarrando o homem-animal; ākasmikena vidhinā — pela inesperada lei da providência; kedārān — os campos; vīra-āsanena — em um assento em um lugar elevado; mṛga-varāha-ādibhyaḥ — contra os veados, javalis e assim por diante; saṁrakṣamāṇam — protegendo; aṅgiraḥ-pravara-sutam — o filho do brāhmaṇa descendente da família Āṅgirā; apaśyan — eles encontraram.

Tradução

Para o sacrifício, o líder dos salteadores capturou um homem animalesco, mas esse escapou, e o líder mandou seus seguidores encontrá-lo. Eles percorreram diferentes direções, mas não conseguiram achá-lo. Andando de um lado a outro no meio da noite, cobertos por densa escuridão, chegaram a um campo de arroz onde viram o nobre filho da família Āṅgirā [Jaḍa Bharata], que estava sentado em um lugar alto vigiando o campo contra os ataques de veados e javalis.

Texto

atha ta enam anavadya-lakṣaṇam avamṛśya bhartṛ-karma-niṣpattiṁ manyamānā baddhvā raśanayā caṇḍikā-gṛham upaninyur mudā vikasita-vadanāḥ.

Sinônimos

atha — depois disso; te — eles (os servos do líder dos salteadores); enam — este (Jaḍa Bharata); anavadya-lakṣaṇam — como dotado com as características de um animal rude, devido ao seu corpo que era gordo como o de um touro e porque era surdo e mudo; avamṛśya — reconhecendo; bhartṛ-karma-niṣpattim — o cumprimento do trabalho de seu amo; manyamānāḥ — compreendendo; baddhvā — amarrando bem apertado; raśanayā — com as cordas; caṇḍikā-gṛham — ao templo da deusa Kālī; upaninyuḥ — levaram; mudā — com muita felicidade; vikasita-vadanāḥ — com  rostos brilhantes.

Tradução

Os seguidores e servos do chefe dos salteadores consideraram Jaḍa Bharata possuidor de qualidades que se encaixavam muito bem em um homem-animal, e decidiram que ele era uma escolha perfeita para o sacrifício. Com seus rostos radiantes de felicidade, pegaram das cordas, amarraram-no e levaram-no ao templo da deusa Kālī.

Comentário

SIGNIFICADO—Em algumas partes da Índia, homens animalescos ainda são sacrificados diante da deusa Kālī. No entanto, semelhante sacrifício é executado unicamente pelos śūdras e salteadores, cuja ocupação consiste em saquear bens, e, para se tornarem exitosos, eles oferecem diante da deusa Kālī um homem animalesco. Deve-se atentar para o fato de que eles nunca sacrificam diante da deusa um homem inteligente. Em um corpo de brāhmaṇa, Bharata Mahārāja parecia surdo e mudo, mas ele era o homem mais inteligente do mundo. Entretanto, estando completamente rendido à Suprema Personalidade de Deus, ele permaneceu naquela condição e não protestou por ter sido colocado diante da deidade para ser imolado. Como aprendemos nos versos anteriores, ele era muito robusto e facilmente poderia ter evitado que o amarrassem, mas, mesmo assim, não o fez. Quanto à sua proteção, ele simplesmente dependia da Suprema Personalidade de Deus. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura descreve a rendição ao Senhor Supremo desta maneira:

mārabi rākhabi — yo icchā tohārā
nitya-dāsa-prati tuyā adhikārā

“Meu Senhor, agora sou alguém rendido a Ti. Sou Teu servo eterno, e, se quiseres, podes matar-me, ou, se preferires, podes proteger-me. Em qualquer caso, sou plenamente rendido a Ti.”

Texto

atha paṇayas taṁ sva-vidhinābhiṣicyāhatena vāsasācchādya bhūṣaṇālepa-srak-tilakādibhir upaskṛtaṁ bhuktavantaṁ dhūpa-dīpa-mālya-lāja-kisalayāṅkura-phalopahāropetayā vaiśasa-saṁsthayā mahatā gīta-stuti-mṛdaṅga-paṇava-ghoṣeṇa ca puruṣa-paśuṁ bhadra-kālyāḥ purata upaveśayām āsuḥ.

Sinônimos

atha — em seguida; paṇayaḥ — todos os seguidores do salteador; tam — a ele (Jaḍa Bharata); sva-vidhinā — de acordo com seus próprios princípios ritualísticos; abhiṣicya — banhando; ahatena — com novas; vāsasā — roupas; ācchādya — cobrindo; bhūṣaṇa — adornos; ālepa — untando o corpo com polpa de sândalo; srak — uma guirlanda de flores; tilaka-ādibhiḥ — com marcas no corpo e assim por diante; upaskṛtam — inteiramente decorado; bhuktavantam — tendo comido; dhūpa — com incenso; dīpa — lamparinas; mālya — guirlandas; lāja — cereais tostados; kisalaya-aṅkura — galhos e brotos; phala — frutas; upahāra — outras parafernálias; upetayā — plenamente equipados; vaiśasa-saṁsthayā — com todos os arranjos para o sacrifício; mahatā — grandes; gīta-stuti — de canções e orações; mṛdaṅga — de tambores; paṇava — de cornetas; ghoṣeṇa — por meio da vibração; ca — também; puruṣa-paśum — o homem-animal; bhadra-kālyāḥ — à deusa Kālī; purataḥ — bem em frente; upaveśayām āsuḥ — fizeram-no sentar-se.

Tradução

Depois disso, todos os ladrões, de acordo com seus rituais imaginativos de que se valiam para matar homens animalescos, banharam Jaḍa Bharata, vestiram-no com roupas novas, decoraram-no com adornos apropriados para um animal, untaram seu corpo com essências aromáticas e decoraram-no com tilaka, polpa de sândalo e guirlandas. Eles o alimentaram suntuosamente e, então, colocaram-no diante da deusa Kālī, a quem ofereceram incenso, lamparinas, guirlandas, cereais tostados, ramos tenros, brotos, frutas e flores. Dessa maneira, antes de matar o homem-animal, eles adoraram a deidade, e entoaram canções e orações, tocando tambores e cornetas. Então, fizeram Jaḍa Bharata sentar-se diante da deidade.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso, a palavra sva-vidhinā, “de acordo com seus próprios princípios ritualísticos”, é muito significativa. Segundo os śāstras védicos, tudo deve ser feito em conformidade com os princípios reguladores, mas aqui se afirma que os ladrões e assaltantes planejaram seus próprios métodos de como matar um homem animalesco. Os śāstras tamásicos instruem como sacrificar animais diante da deusa Kālī, tais como o bode ou o búfalo, mas não se menciona o sacrifício de homens, por mais estúpidos que possam ser. Esse processo foi inventado pelos próprios salteadores; portanto, usa-se a palavra sva-vidhinā. Mesmo na atualidade, existem muitos sacrifícios realizados sem base nas escrituras védicas. Por exemplo, recentemente em Calcutá, em um anúncio de um matadouro, divulgava-se que o mesmo era um templo da deusa Kālī. Os comedores de carne tolamente compram carne nesses açougues pensando tratar-se de uma mercadoria diferente da carne comum e aceitam-na como prasāda da deusa Kālī. Sacrificar perante a deusa Kālī bodes ou animais semelhantes é algo mencionado nos śāstras simplesmente para evitar que as pessoas comam carne de matadouros e tornem-se responsáveis pela matança de animais. A alma condicionada tem uma inclinação natural para fazer sexo e comer carne; consequentemente, os śāstras lhe fazem algumas concessões. Na verdade, os śāstras visam a encerrar essas atividades abomináveis, mas prescrevem alguns princípios reguladores para que os comedores de carne e caçadores de mulheres se retifiquem pouco a pouco.

Texto

atha vṛṣala-rāja-paṇiḥ puruṣa-paśor asṛg-āsavena devīṁ bhadra-kālīṁ yakṣyamāṇas tad-abhimantritam asim ati-karāla-niśitam upādade.

Sinônimos

atha — depois disso; vṛṣala-rāja-paṇiḥ — o dito sacerdote do líder dos salteadores (um dos ladrões); puruṣa-paśoḥ — do homem animalesco a ser sacrificado (Bharata Mahārāja); asṛk-āsavena — com a bebida alcóolica de sangue; devīm — à deidade; bhadra-kālīm — a deusa Kālī; yakṣyamāṇaḥ — desejando oferecer; tat-abhimantritam — consagrada pelo mantra de Bhadra Kālī; asim — a espada; ati-karāla — muito amedrontadora; niśitam — bem afiada; upādade — ele pegou.

Tradução

Naquele instante, um dos ladrões, agindo como sacerdote principal, preparava-se para oferecer o sangue de Jaḍa Bharata, que eles imaginavam ser um homem animal, para que a deusa Kālī o consumisse como uma bebida alcóolica. Portanto, pegou de uma espada assustadora e afiadíssima e, consagrando-a com o mantra de Bhadra Kālī, ergueu-a para matar Jaḍa Bharata.

Texto

iti teṣāṁ vṛṣalānāṁ rajas-tamaḥ-prakṛtīnāṁ dhana-mada-raja-utsikta-manasāṁ bhagavat-kalā-vīra-kulaṁ kadarthī-kṛtyotpathena svairaṁ viharatāṁ hiṁsā-vihārāṇāṁ karmāti-dāruṇaṁ yad brahma-bhūtasya sākṣād brahmarṣi-sutasya nirvairasya sarva-bhūta-suhṛdaḥ sūnāyām apy ananumatam ālambhanaṁ tad upalabhya brahma-tejasāti-durviṣaheṇa dandahyamānena vapuṣā sahasoccacāṭa saiva devī bhadra-kālī.

Sinônimos

iti — assim; teṣām — deles; vṛṣalānām — os śūdras, através de quem todos os princípios religiosos são destruídos; rajaḥ — na paixão; tamaḥ — na ignorância; prakṛtīnām — tendo naturezas; dhana-mada — na forma de arrogância, devido à riqueza material; rajaḥ — pela paixão; utsikta — envaidecidas; manasām — cujas mentes; bhagavat-kalā — uma expansão da expansão plenária da Suprema Personalidade de Deus; vīra-kulam — o grupo de personalidades elevadas (os brāhmaṇas); kat-arthī-kṛtya — desrespeitando; utpathena — pelo caminho errado; svairam — independentemente; viharatām — que se comportam; hiṁsā-vihārāṇām — cuja ocupação é cometer violência contra os outros; karma — a atividade; ati-dāruṇam — muito aterrorizante; yat — aquela que; brahma-bhūtasya — de uma pessoa autorrealizada nascida em família brāhmaṇa; sākṣāt — diretamente; brahma-ṛṣi-sutasya — do filho nascido de um brāhmaṇa dotado de elevada consciência espiritual; nirvairasya — que não tinha inimigos; sarva-bhūta-suhṛdaḥ — um benquerente de todos os demais; sūnāyām — no último instante; api — muito embora; ananumatam — não sendo sancionado pela lei; ālambhanam — contra o desejo do Senhor; tat — isto; upalabhya — percebendo; brahma-tejasā — com a refulgência da bem-aventurança espiritual; ati-durviṣaheṇa — sendo muito brilhante e ofuscante; dandahyamānena — queimando; vapuṣā — com um corpo físico; sahasā — subitamente; uccacāṭa — ficou dividida (a deidade); — ela; eva — na verdade; devī — a deusa; bhadra-kālī — Bhadra Kālī.

Tradução

Todos os ladrões e assaltantes que se prepararam para adorar a deusa Kālī tinham uma mentalidade rasteira e estavam atados aos modos da paixão e da ignorância. Dominava-os o desejo de tornarem-se ricos; portanto, tiveram a audácia de desobedecer aos preceitos dos Vedas, a ponto de organizarem-se para matar Jaḍa Bharata, uma alma autorrealizada nascida em família brāhmaṇa. Devido à sua inveja, esses assaltantes levaram Jaḍa Bharata para ser sacrificado diante da deusa Kālī. Semelhantes pessoas vivem entregues a atividades invejosas e, portanto, ousaram tentar matar Jaḍa Bharata. Jaḍa Bharata era o melhor amigo de todas as entidades vivas. Ele não era inimigo de ninguém, e estava sempre absorto em meditar na Suprema Personalidade de Deus. Ele nascera de um bom pai brāhmaṇa, e matá-lo era proibido, mesmo que ele fosse um inimigo ou uma pessoa perigosa. Em todo caso, não havia razão alguma para se matar Jaḍa Bharata, e a deusa Kālī não podia tolerar isso. Ela percebeu de imediato que esses assaltantes pecaminosos estavam prestes a matar um grande devoto do Senhor. Subitamente, o corpo da deidade se rompeu em dois, e a deusa Kālī emergiu pessoalmente em um corpo incandescente e que apresentava uma intensa e ofuscante refulgência.

Comentário

SIGNIFICADO—De acordo com os preceitos védicos, deve-se matar apenas quem é um agressor. Se alguém se aproxima determinado a matar, podemos tomar uma ação imediata e matá-lo em legítima defesa. Também se afirma que se pode matar alguém que venha atear fogo na casa ou violar ou raptar a esposa alheia. O Senhor Rāmacandra matou toda a família de Rāvaṇa porque esse raptou Sua esposa, Sītādevī. Contudo, os śāstras não sancionam o ato de matar quando visa a outros propósitos. Aqueles que comem carne recebem a permissão de matar animais em sacrifício aos semideuses, que são expansões da Suprema Personalidade de Deus. Esse é um tipo de restrição ao consumo de carne. Em outras palavras, o abate de animais também é restringido mediante certas regras e regulações dos Vedas. Considerando esses pontos, não havia razão para matar Jaḍa Bharata, que nascera em uma família brāhmaṇa, respeitável e elevadíssima. Ele era uma alma consciente de Deus e benquerente de todas as entidades vivas. Os Vedas não dão apoio algum ao intento que os ladrões e assaltantes tinham de matar Jaḍa Bharata. Em consequência disso, para proteger o devoto do Senhor, a deusa Bhadra Kālī surgiu da deidade. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica que, devido à refulgência Brahman de um devoto do quilate de Jaḍa Bharata, a deidade se partiu. Somente ladrões e assaltantes situados nos modos da paixão e ignorância e enlouquecidos pela opulência material oferecem homens em sacrifício diante da deusa Kālī. As instruções védicas não sancionam isso. Atualmente, existem no mundo inteiro muitas centenas e milhares de matadouros mantidos por uma população arrogante e insanamente cobiçosa da opulência material. A escola bhāgavata jamais apoiaria semelhantes atividades.

Texto

bhṛśam amarṣa-roṣāveśa-rabhasa-vilasita-bhru-kuṭi-viṭapa-kuṭila-daṁṣṭrāruṇekṣaṇāṭopāti-bhayānaka-vadanā hantu-kāmevedaṁ mahāṭṭa-hāsam ati-saṁrambheṇa vimuñcantī tata utpatya pāpīyasāṁ duṣṭānāṁ tenaivāsinā vivṛkṇa-śīrṣṇāṁ galāt sravantam asṛg-āsavam atyuṣṇaṁ saha gaṇena nipīyāti-pāna-mada-vihvaloccaistarāṁ sva-pārṣadaiḥ saha jagau nanarta ca vijahāra ca śiraḥ-kanduka-līlayā.

Sinônimos

bhṛśam — muito altamente; amarṣa — com intolerância com as ofensas; roṣa — com ira; āveśa — de sua concentração; rabhasa-vilasita — expandida pela força; bhru-kuṭi — de suas sobrancelhas; viṭapa — as linhas; kuṭila — curvos; daṁṣṭra — dentes; aruṇa-īkṣaṇa — de olhos avermelhados; āṭopa — devido à agitação; ati — muitíssimo; bhayānaka — amedrontadora; vadanā — tendo um rosto; hantu-kāmā — desejoso de destruir; iva — como se; idam — este universo; mahā-aṭṭa-hāsam — uma risada muito assustadora; ati — intensa; saṁrambheṇa — devido à ira; vimuñcantī — escapando; tataḥ — daquele altar; utpatya — adiantando-se; pāpīyasām — de todos os pecaminosos; duṣṭānām — grandes ofensores; tena eva asinā — com aquele mesmíssimo cutelo; vivṛkṇa — separou; śīrṣṇām — cujas cabeças; galāt — dos pescoços; sravantam — esvaindo-se; asṛk-āsavam — o sangue, comparado a uma bebida embriagadora; ati-uṣṇam — muito quente; saha — com; gaṇena — suas associadas; nipīya — bebendo; ati-pāna — de tanto beber; mada — pela embriaguez; vihvalā — dominadas; uccaiḥtarām – bem alto; sva-pārṣadaiḥ — suas próprias associadas; saha — com; jagau — cantava; nanarta — dançava; ca — também; vijahāra — divertia-se; ca — também; śiraḥ-kanduka — usando as cabeças como bolas; līlayā — por diversão.

Tradução

Não conseguindo tolerar as ofensas cometidas, a enfurecida deusa Kālī lançou chamas pelos olhos e exibiu seus ferozes dentes curvos. Seus olhos vermelhos brilhavam, e ela apresentou suas feições amedrontadoras. Ela assumiu um corpo assustador, como se estivesse pronta para destruir toda a criação. Pulando violentamente do altar, ela decapitou de imediato todos os ladrões e canalhas com a mesma espada com que eles haviam intencionado matar Jaḍa Bharata. Então, ela começou a beber o sangue quente que escorria do pescoço dos ladrões e patifes decapitados, como se esse sangue fosse uma bebida alcóolica. Na verdade, ela bebia esse líquido embriagador com suas associadas, que eram bruxas e demônias. Intoxicadas com o sangue, todas elas passaram a cantar bem alto e a dançar como se estivessem preparadas para aniquilar todo o universo. Ao mesmo tempo, elas começaram a divertir-se com as cabeças dos ladrões e assaltantes, jogando-as como se fossem bolas.

Comentário

SIGNIFICADO—Fica bastante evidente neste verso que os devotos da deusa Kālī não são nem um pouco favorecidos por ela. Cabe-lhe punir e matar os demônios. A deusa Kālī (Durgā) ocupa-se em decapitar demônios, salteadores e muitos outros elementos nocivos à sociedade. Negligenciando a consciência de Kṛṣṇa, pessoas tolas tentam satisfazer a deusa oferecendo-lhe muitas coisas abomináveis, mas, no final, quando se detecta uma pequena falha nessa adoração, a deusa pune o adorador tirando-lhe a vida. Em busca de algum benefício material, pessoas demoníacas adoram a deusa Kālī, mas não recebem perdão pelos pecados cometidos em nome da adoração. Sacrificar um homem ou um animal diante da deidade é expressamente proibido.

Texto

evam eva khalu mahad-abhicārāti-kramaḥ kārtsnyenātmane phalati.

Sinônimos

evam eva — dessa maneira; khalu — na verdade; mahat — das grandes personalidades; abhicāra — na forma de inveja; ati-kramaḥ — o limite da ofensa; kārtsnyena — sempre; ātmane — a ele próprio; phalati — proporciona o resultado.

Tradução

Quando um invejoso comete uma ofensa perante uma grande personalidade, ele é sempre punido da maneira mencionada acima.

Texto

na vā etad viṣṇudatta mahad-adbhutaṁ yad asambhramaḥ sva-śiraś-chedana āpatite ’pi vimukta-dehādy-ātma-bhāva-sudṛḍha-hṛdaya-granthīnāṁ sarva-sattva-suhṛd-ātmanāṁ nirvairāṇāṁ sākṣād bhagavatānimiṣāri-varāyudhenāpramattena tais tair bhāvaiḥ parirakṣyamāṇānāṁ tat-pāda-mūlam akutaścid-bhayam upasṛtānāṁ bhāgavata-paramahaṁsānām.

Sinônimos

na — não; — ou; etat — isto; viṣṇu-datta — ó Mahārāja Parīkṣit, protegido do Senhor Viṣṇu; mahat — um grande; adbhutam — espanto; yat — que; asambhramaḥ — falta de perplexidade; sva-śiraḥ-chedane — quando a decapitação; āpatite — estava prestes a ocorrer; api — muito embora; vimukta — inteiramente livres de; deha-ādi-ātma-bhāva — o falso conceito da vida corpórea; su-dṛḍha — muito fortes e apertados; hṛdaya-granthīnām — daqueles cujos nós no coração; sarva-sattva-suhṛt-ātmanām — das pessoas que, em seus corações, sempre desejam o bem de todas as entidade vivas; nirvairāṇām — que não veem ninguém como inimigo; sākṣāt — diretamente; bhagavatā — pela Suprema Personalidade de Deus; animiṣa — tempo invencível; ari-vara — e a melhor das armas, o cakra Sudarśana; āyudhena — por Ele que possui as armas; apramattena — que não se agitam em tempo algum; taiḥ taiḥ — por aquelas respectivas; bhāvaiḥ — atitudes da Suprema Personalidade de Deus; parirakṣyamāṇānām — de pessoas que são protegidas; tat-pāda-mūlam — aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus; akutaścit — de parte alguma; bhayam — medo; upasṛtānām — daqueles que se refugiaram por completo; bhāgavata — dos devotos do Senhor; parama-haṁsānām — das pessoas mais liberadas.

Tradução

Então, Śukadeva Gosvāmī disse a Mahārāja Parīkṣit: Ó Viṣṇudatta, aqueles que já sabem que a alma é distinta do corpo, que cortaram o nó invencível do coração, que sempre se ocupam em atividades de bem-estar para todas as entidades vivas e que nem mesmo pensam em fazer mal a alguém recebem contínua proteção da Suprema Personalidade de Deus, que carrega Seu disco [o cakra Sudarśana] e age como o tempo supremo para matar os demônios e proteger Seus devotos. Os devotos sempre se refugiam aos pés de lótus do Senhor. Portanto, em qualquer situação, mesmo quando ameaçados de serem decapitados, eles permanecem imperturbáveis. Para eles, não há espanto algum nisso.

Comentário

SIGNIFICADO—Essas são algumas das magníficas qualidades do devoto puro da Suprema Personalidade de Deus. Em primeiro lugar, o devoto está firmemente convicto de sua identidade espiritual. Ele nunca se identifica com o corpo; ele tem plena convicção de que sua alma é distinta do corpo. Em consequência disso, ele nada teme. Mesmo que sua vida seja ameaçada, ele não sente medo algum. Nem mesmo o inimigo ele trata como inimigo. Essas são as qualificações dos devotos. Os devotos sempre são completamente dependentes da Suprema Personalidade de Deus, e, quaisquer que sejam as circunstâncias, o Senhor está sempre desejoso de lhes proporcionar toda a proteção.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do quinto canto, nono capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Caráter Exímio de Jaḍa Bharata”.