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Capítulo Dezenove

Realização da Cerimônia Ritualística Puṁsavana

Este capítulo explica como Diti, a esposa de Kaśyapa Muni, pra­ticou serviço devocional ao seguir as instruções de seu esposo. Du­rante o primeiro dia da quinzena da lua cheia, no mês de Agrahāyana (novembro-dezembro), toda mulher, seguindo os passos de Diti e seguindo as instruções de seu próprio esposo, deve começar este puṁsavana-vrata. Após a purificação matinal, em que escovou seus dentes e tomou seu banho, ela deve ouvir sobre o mistério do nascimento dos Maruts. Em seguida, cobrindo seu corpo com um vestuário branco e colocando os devidos adereços, ela, antes do desjejum, deve adorar o Senhor Viṣṇu e a mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna e esposa do Senhor Viṣṇu, louvando a misericórdia, paciência, poder, habili­dade, grandeza e outras glórias do Senhor Viṣṇu, e também enalte­cer Sua capacidade de conceder todas as bênçãos místicas. Enquanto se oferece ao Senhor toda a parafernália de adoração, tais como adornos, o cordão sagrado, essências, belas flores, incenso e água para banhar e lavar Seus pés, mãos e boca, deve-se convidar o Senhor com este mantra: oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahānubhāvāya mahāvibhūtipataye saha mahā-vibhūtibhir balim upaharāmi. Então, devem-se apresentar doze oblações no fogo enquanto se canta este mantra: oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahāvibhūti-pataye svāhā. Devem-se oferecer reverências enquanto se canta este mantra dez vezes. Em seguida, deve-se cantar o mantra de Lakṣmī-Nārāyaṇa.

Se a mulher grávida ou seu esposo executarem regularmente esse serviço devocional, ambos receberão os resultados. Após continuar esse processo por um ano inteiro, a esposa casta deve jejuar no pūrṇimā, o dia da lua cheia, de Kārttika. No dia seguinte, o esposo deve adorar o Senhor seguindo o mesmo processo anterior e, então, deve realizar um festival, cozinhando boa comida e distribuindo prasāda aos brāhmaṇas. Depois, com a permissão dos brāhmaṇas, o esposo e a esposa devem aceitar prasāda. Ao final, este capítulo glorifica os resultados da cerimônia puṁsavana.

Texto

śrī-rājovāca
vrataṁ puṁsavanaṁ brahman
bhavatā yad udīritam
tasya veditum icchāmi
yena viṣṇuḥ prasīdati

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — Mahārāja Parīkṣit disse; vratam — o voto; puṁsavanam — chamado puṁsavana; brahman — ó brāhmaṇa; bhavatā — por ti; yat — o qual; udīritam — foi falado; tasya — isto; veditum — conhecer; icchāmi — quero; yena — mediante o qual; viṣṇuḥ — o Senhor Viṣṇu; prasīdati — fica satisfeito.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit disse: Meu querido senhor, já falaste sobre o voto puṁsavana. Agora, é meu desejo ouvi-lo ser descrito em porme­nores, pois entendo que quem segue esse voto pode satisfazer Viṣṇu, o Senhor Supremo.

Texto

śrī-śuka uvāca
śukle mārgaśire pakṣe
yoṣid bhartur anujñayā
ārabheta vratam idaṁ
sārva-kāmikam āditaḥ
niśamya marutāṁ janma
brāhmaṇān anumantrya ca
snātvā śukla-datī śukle
vasītālaṅkṛtāmbare
pūjayet prātarāśāt prāg
bhagavantaṁ śriyā saha

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; śukle — luminosa; mārgaśire — durante o mês de novembro-dezembro; pakṣe — durante a quinzena; yoṣit — uma mulher; bhartuḥ — do esposo; anujñayā — com a permissão; ārabheta — deve começar; vratam — voto; idam­ — este; sārva-kāmikam — que satisfaz todos os desejos; āditaḥ — a partir do primeiro dia; niśamya — ouvindo; marutām — dos Maruts; janma — o nascimento; brāhmaṇān — os brāhmaṇas; anumantrya — sendo ins­truída por; ca — e; snātvā — banhando-se; śukla-datī — tendo limpado os dentes; śukle — branco; vasīta — deve colocar; alaṅkṛtā — usando adornos; ambare — vestuário; pūjayet — deve adorar; prātaḥ-āśāt prāk — antes do desjejum; bhagavantam — a Suprema Personalidade de Deus; śriyā saha — com a deusa da fortuna.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: No primeiro dia da quinzena da lua cheia do mês de Agrahāyaṇa [novembro-dezembro], seguindo as instruções de seu esposo, a mulher deve começar este serviço devo­cional regulado, submetendo-se a um voto de penitência, pois tal serviço pode satisfazer-lhe todos os desejos. Antes de começar a adorar o Senhor Viṣṇu, a mulher deve ouvir a história de como foi que os Maruts nasceram. Seguindo as instruções de brāhmaṇas qua­lificados, ela, de manhã, deve escovar os dentes, banhar-se e colo­car vestes brancas e adornos e, antes de quebrar seu jejum, deve adorar o Senhor Viṣṇu e Lakṣmī.

Texto

alaṁ te nirapekṣāya
pūrṇa-kāma namo ’stu te
mahāvibhūti-pataye
namaḥ sakala-siddhaye

Sinônimos

alam — o bastante; te — a Vós; nirapekṣāya — indiferente; pūrṇa­-kāma — ó Senhor, cujo desejo sempre é satisfeito; namaḥ — reverên­cias; astu — que haja; te — a Vós; mahā-vibhūti — de Lakṣmī; pataye­ — ao esposo; namaḥ — reverências; sakala-siddhaye — ao mestre de todas as perfeições místicas.

Tradução

Então, ela deve dirigir ao Senhor a seguinte oração.] Meu querido Senhor, sois pleno de todas as opulências, mas não Vos peço opulência alguma. Simplesmente Vos ofereço minhas respeitosas reverências. Sois o esposo e mestre de Lakṣmīdevī, a deusa da fortuna, que possui todas as opulências. Portanto, sois o mestre de todo yoga místico. Tudo o que me resta fazer é oferecer-Vos minhas reverências.

Comentário

SIGNIFICADO—O devoto sabe apreciar a Suprema Personalidade de Deus.

oṁ pūrṇam adaḥ pūrṇam idaṁ
pūrṇāt pūrṇam udacyate
pūrṇasya pūrṇam ādāya
pūrṇam evāvaśiṣyate

“A Personalidade de Deus é perfeita e completa, e, porque Ele é inteiramente perfeito, todas as Suas emanações, tais como este mundo fenomenal, são perfeitamente equipadas e se apresentam como unidades completas. Tudo o que se origina do todo completo também é completo em si mesmo. Porque Ele é o todo completo, muito embora tantas unidades completas emanem dEle, Ele perma­nece o equilíbrio completo.” Portanto, é necessário que nos refu­giemos no Senhor Supremo. Tudo aquilo de que um devoto precisa será fornecido pela perfeita Suprema Personalidade de Deus (teṣāṁ nityābhiyuktānāṁ yoga-kṣemaṁ vahāmy aham). Portanto, o devoto puro nada pede ao Senhor. Ele simplesmente oferece suas respeito­sas reverências ao Senhor, e o Senhor está disposto a aceitar tudo o que esteja ao alcance do devoto que quer adorá-lO, mesmo que seja patraṁ puṣpaṁ phalaṁ toyam – uma folha, uma flor, uma fruta ou água. Não há necessidade de se empenhar artificialmente. É melhor ser simples e modesto e, com respeitosas reverências, oferecer ao Senhor qualquer coisa que seja acessível. O Senhor é perfeitamente capaz de abençoar o devoto dando-lhe todas as opu­lências.

Texto

yathā tvaṁ kṛpayā bhūtyā
tejasā mahimaujasā
juṣṭa īśa guṇaiḥ sarvais
tato ’si bhagavān prabhuḥ

Sinônimos

yathā — como; tvam — Vós; kṛpayā — com misericórdia; bhūtyā — com opulências; tejasā — com poder; mahima-ojasā — com glória e força; juṣṭaḥ — dotado; īśa — ó meu Senhor; guṇaiḥ — com qualida­des transcendentais; sarvaiḥ — todas; tataḥ — portanto; asi — sois; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; prabhuḥ — o mestre.

Tradução

Ó meu Senhor, porque sois dotado de misericórdia imotivada, bem como de todas as opulências, todos os poderes e todas as glórias, força e qualidades transcendentais, sois a Suprema Personalidade de Deus, o mestre de todos.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso, as palavras tato ’si bhagavān prabhuḥ significam: “Portanto, sois a Suprema Personalidade de Deus, o mestre de todos.” A Suprema Personalidade de Deus é plenamente dotada de todas as seis opulências e, além disso, é muitíssimo bondoso com o Seu devoto. Muito embora Ele seja completo em Si mesmo, deseja que todas as entidades vivas se rendam a Ele para que possam ocupar-se em servi-lO. Com isso, Ele fica satisfeito. Embora completo em Si mesmo, Ele fica satisfeito quando Seu devoto mostra sua devoção e Lhe oferece patraṁ puṣpaṁ phalaṁ toyam – uma folha, uma flor, uma fruta ou um pouco de água. Às vezes, como se estivesse com fome, o Senhor, como filho de mãe Yaśodā, pede algum alimento a Seu devoto. Às vezes, Ele aparece em um sonho e diz a Seu devoto que Seu templo e Seu jardim estão muito velhos e que, portanto, não Se sente muito à vontade neles – assim, Ele pede que o devoto os renove. Algumas vezes, Ele fica debaixo da terra e, como se fosse incapaz de sair por Si próprio, pede ao Seu devoto que O desenterre. Outras vezes, Ele pede a Seu devoto que pregue no mundo inteiro as Suas glórias, embora, sozinho, tenha plena competên­cia para executar essa tarefa. Muito embora seja dotado de todas as posses e seja autossuficiente, a Suprema Personalidade de Deus faz solicitações aos Seus devotos. Portanto, a relação que existe entre o Senhor e Seus devotos é extremamente confidencial. Apenas o devoto consegue perceber como é que o Senhor, embora pleno em Si mesmo, depende do Seu devoto para executar algum trabalho es­pecífico. Isso é explicado na Bhagavad-gītā (11.33), onde o Senhor diz a Arjuna que nimitta-mātraṁ bhava savyasācin: “Ó Arjuna, torna-te apenas um instrumento na batalha.” Embora o Senhor Kṛṣṇa tivesse competência para vencer a Guerra de Kurukṣetra, induziu Seu devoto Arjuna a lutar e se tornar a causa da vitória. Śrī Caitanya Mahāprabhu tinha todas as condições para difundir no mundo inteiro o Seu nome e Sua missão, mas, mesmo assim, contava com Seus devotos para fazer esse trabalho. Considerando todos esses pontos, o aspecto mais importante da autossuficiência do Senhor Supremo é que Ele depende dos Seus devotos. Isso caracteriza Sua misericórdia imotivada. O devoto que percebeu na vida prática essa misericórdia imotivada da Suprema Personalidade de Deus pode en­tender o mestre e o servo.

Texto

viṣṇu-patni mahā-māye
mahāpuruṣa-lakṣaṇe
prīyethā me mahā-bhāge
loka-mātar namo ’stu te

Sinônimos

viṣṇu-patni — ó esposa do Senhor Viṣṇu; mahā-māye — ó energia do Senhor Viṣṇu; mahā-puruṣa-lakṣaṇe — possuindo as qualidades e opulências do Senhor Viṣṇu; prīyethāḥ — por favor, alegra-te; me — comigo; mahā-bhāge — ó deusa da fortuna; loka-mātaḥ — ó mãe do mundo; namaḥ — reverências; astu — que aja; te — a ti.

Tradução

[Após oferecer reverências e mais reverências ao Senhor Viṣṇu, a devota deve oferecer respeitosas reverências a mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, e deve orar da seguinte maneira.] Ó esposa do Senhor Viṣṇu, ó energia interna do Senhor Viṣṇu, estás em nível de igual­dade com o próprio Senhor Viṣṇu, visto que tens todas as Suas qualida­des e opulências. Ó deusa da fortuna, por favor, sê bondosa comigo. Ó mãe do mundo inteiro, ofereço-te minhas respeitosas reverências.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor tem potências multifárias (parāsya śaktir vividhaiva śrūyate). Como é a inestimável potência do próprio Senhor, a mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, é aqui chamada de mahā-māye. A pala­vra māyā significa śakti. Sem Sua energia principal, o Senhor Viṣṇu, o Supremo, não pode exibir o Seu poder em toda parte. É dito que śakti śaktimān abheda: o poder e o poderoso são idênticos. Portanto, mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, é a companheira inseparável do Senhor Viṣṇu; permanecem juntos constantemente. Ninguém pode tirar do Senhor Viṣṇu a deusa da fortuna, Lakṣmī, e mantê­-la afastada dEle em seu lar. Quem pensa que é capaz de fazer isso corre um sério perigo. Manter consigo Lakṣmī, ou as riquezas do Senhor, sem prestar serviço ao Senhor é sempre perigoso, pois, nesse ponto, Lakṣmī se torna a energia ilusória. Com o Senhor Viṣṇu, entretanto, Lakṣmī é a energia espiritual.

Texto

oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahānubhāvāya mahāvibhūti-pataye saha mahā-vibhūtibhir balim upaharāmīti; anenāhar-ahar mantreṇa viṣṇor āvāhanārghya-pādyopasparśana-snāna-vāsa-upavīta-vibhūṣaṇa-gandha-puṣpa-dhūpa-dīpopahārādy-upacārān susamā-hitopāharet.

Sinônimos

oṁ — ó meu Senhor; namaḥ — reverências; bhagavate — à Suprema Personalidade de Deus, pleno de seis opulências; mahā-puruṣāya — o melhor dos desfrutadores; mahā-anubhāvāya — o mais poderoso; mahā-vibhūti — da deusa da fortuna; pataye — o esposo; saha — com; mahā-vibhūtibhiḥ — associados; balim — presentes; upaharāmi — estou oferecendo; iti — assim; anena — mediante este; ahaḥ-ahaḥ — todos os dias; mantreṇamantra, viṣṇoḥ – do Senhor Viṣṇu; āvāhana — invocações; arghya-pādya-upasparśana — água para lavar as mãos, os pés e a boca; snāna — água para dar banho; vāsa — roupas; upavīta — um cor­dão sagrado; vibhūṣaṇa — ornamentos; gandha — essências; puṣpa — flores; dhūpa — incenso; dīpa — lamparinas; upahāra — presentes; ādi — e assim por diante; upacārān — presentes; su-samāhitā — com grande atenção; upāharet — ela deve oferecer.

Tradução

“Meu Senhor Viṣṇu, pleno de seis opulências, sois o melhor de todos os desfrutadores e sois o mais poderoso. Ó esposo de mãe Lakṣmī, ofereço minhas respeitosas reverências a Vós, que estais acompanhado de muitos associados, tais como Viśvaksena. Ofereço­-Vos toda a parafernália que se utiliza na adoração que é prestada a Vós.” Com grande atenção, deve-se cantar esse mantra todos os dias enquanto se adora o Senhor Viṣṇu com todos os artigos, tais como água para lavar Seus pés, mãos e boca e água para banhá­-lO. Deve-se adorá-lO mediante o oferecimento de vários presentes, tais como roupas, cordão sagrado, ornamentos, essências, flores, incenso e lamparinas.

Comentário

SIGNIFICADO—Este mantra é muito importante. Todo aquele que se dedica à adoração à Deidade deve cantar esse mantra citado acima e que começa com oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya.

Texto

haviḥ-śeṣaṁ ca juhuyād
anale dvādaśāhutī
oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya
mahāvibhūti-pataye svāheti

Sinônimos

haviḥ-śeṣam — restos da oferenda; ca — e; juhuyāt — a pessoa deve apresentar; anale — no fogo; dvādaśa — doze; āhutīḥ — oblações; om — ó meu Senhor; namaḥ — reverências; bhagavate — à Suprema Personalidade de Deus; mahā-puruṣāya — o desfrutador supremo; mahā-vibhūti — da deusa da fortuna; pataye — o esposo; svāhā — saudações; iti — assim.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī continuou: Após adorar o Senhor com toda a parafernália mencionada acima, deve-se cantar o seguinte mantra enquanto se apresentam no fogo sagrado doze oblações de ghī: oṁ namo bhagavate mahā-puruṣāya mahāvibhūti-pataye svāhā.

Texto

śriyaṁ viṣṇuṁ ca varadāv
āśiṣāṁ prabhavāv ubhau
bhaktyā sampūjayen nityaṁ
yadīcchet sarva-sampadaḥ

Sinônimos

śriyam — a deusa da fortuna; viṣṇum — o Senhor Viṣṇu; ca — e; vara-dau — os outorgadores de bênçãos; āśiṣām — da prosperidade; prabhavau — a fonte; ubhau — ambos; bhaktyā — com devoção; sampūjayet — deve adorar; nityam — diariamente; yadi — caso; icchet — deseja; sarva — todas; sampadaḥ — as opulências.

Tradução

Se alguém deseja todas as opulências, seu dever é adorar diariamente o Senhor Viṣṇu e Lakṣmī, esposa dEste. Com grande devo­ção, deve adorá-lO de acordo com o processo acima mencionado. O Senhor Viṣṇu e a deusa da fortuna formam um casal imensamente poderoso. Eles são os outorgadores de todas as bênçãos e a fonte de toda a boa fortuna. Portanto, o dever de todos é adorar Lakṣmī-Nārāyaṇa.

Comentário

SIGNIFICADO—Lakṣmī-Nārāyaṇa – o Senhor Viṣṇu e mãe Lakṣmī – estão sempre situados no coração de todos (īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati). Entretanto, porque não compreendem que, juntamente com Sua consorte eterna, Lakṣmī, o Senhor Viṣṇu permanece no coração de todas as entidades vivas, os não-devotos não são dotados com a opulência do Senhor Viṣṇu. Homens inescrupulosos, às vezes, tratam um indivíduo pobre por daridra-nārāyaṇa, ou “o Nārāyaṇa indigente”. Isso não tem nenhuma base científica. O Senhor Viṣṇu e Lakṣmī sempre estão situados no coração de todos, mas isso não significa que todos são Nārāyaṇa, e muito menos se deve pensar que o sejam aqueles que estão na pobreza. Usar esse termo em relação a Nārāyaṇa é uma atitude das mais abomináveis. Nārāyaṇa jamais Se torna pobre e, portanto, não pode ser chamado de daridra-nārāyaṇa em circunstância alguma. Nārāyaṇa decerto está situado no coração de todos, mas Ele não é pobre nem rico. Somente pessoas inescrupulosas que não conhecem a opulência de Nārāyaṇa tentam afligi-lO com a pobreza.

Texto

praṇamed daṇḍavad bhūmau
bhakti-prahveṇa cetasā
daśa-vāraṁ japen mantraṁ
tataḥ stotram udīrayet

Sinônimos

praṇamet — deve oferecer reverências; daṇḍa-vat — como uma vara; bhūmau — no chão; bhakti — através da devoção; prahveṇa — humilde; cetasā — com a mente; daśa-vāram — dez vezes; japet — deve pronunciar; mantram — o mantra; tataḥ — depois; stotram — oração; udīrayet — deve cantar.

Tradução

O indivíduo deve prestar reverências ao Senhor com a mente humilde e com devoção. Enquanto se oferecem daṇḍavats, caindo ao solo como uma vara, deve-se cantar dez vezes o mantra mencionado acima. Então, deve-se entoar a seguinte oração.

Texto

yuvāṁ tu viśvasya vibhū
jagataḥ kāraṇaṁ param
iyaṁ hi prakṛtiḥ sūkṣmā
māyā-śaktir duratyayā

Sinônimos

yuvām — ambos; tu — na verdade; viśvasya — do universo; vibhū — os proprietários; jagataḥ — do universo; kāraṇam — a causa; param — suprema; iyam — esta; hi — decerto; prakṛtiḥ — energia; sūkṣmā — di­fícil de entender; māyā-śaktiḥ — a energia interna; duratyayā — difícil de transpor.

Tradução

Meu Senhor Viṣṇu e mãe Lakṣmī, deusa da fortuna, sois os proprietários de toda a criação. Na verdade, sois a causa da criação. É extremamente difícil entender mãe Lakṣmī, pois ela é tão poderosa que a jurisdição de seu poder é praticamente insuperável. No mundo material, mãe Lakṣmī se faz representar pela energia externa, mas, na verdade, ela sempre é a energia interna do Senhor.

Texto

tasyā adhīśvaraḥ sākṣāt
tvam eva puruṣaḥ paraḥ
tvaṁ sarva-yajña ijyeyaṁ
kriyeyaṁ phala-bhug bhavān

Sinônimos

tasyāḥ — dela; adhīśvaraḥ — o mestre; sākṣāt — diretamente; tvam — Vós; eva — decerto; puruṣaḥ — a pessoa; paraḥ — suprema; tvam — Vós; sarva-yajñaḥ — sacrifício personificado; ijyā — adoração; iyam — esta (Lakṣmī); kriyā — atividades; iyam — isto; phala-bhuk — o desfrutador dos frutos; bhavān — Vós.

Tradução

Meu Senhor, sois o mestre da energia e, portanto, sois a Pessoa Suprema. Sois o sacrifício [yajña] personificado. Lakṣmī, a corporificação das atividades espirituais, é a forma original de ado­ração oferecida a Vós, ao passo que sois o desfrutador de todos os sacrifícios.

Texto

guṇa-vyaktir iyaṁ devī
vyañjako guṇa-bhug bhavān
tvaṁ hi sarva-śarīry ātmā
śrīḥ śarīrendriyāśayāḥ
nāma-rūpe bhagavatī
pratyayas tvam apāśrayaḥ

Sinônimos

guṇa-vyaktiḥ — o reservatório de qualidades; iyam — esta; devī — deusa; vyañjakaḥ — manifestante; guṇa-bhuk — o desfrutador das qualidades; bhavān — Vós; tvam — Vós; hi — na verdade; sarva-śarīrī ātmā — a Superalma de todas as entidades vivas; śrīḥ — a deusa da fortuna; śarīra — o corpo; indriya — sentidos; āśayāḥ — e a mente; nāma — nome; rūpe — e forma; bhagavatī — Lakṣmī; pratyayaḥ — a causa da manifestação; tvam — Vós; apāśrayaḥ — a base.

Tradução

Mãe Lakṣmī, que está aqui presente, é o reservatório de todas as qualidades espirituais, ao passo que manifestais todas essas qualidades e desfrutais delas. Na verdade, sois realmente o desfrutador de tudo. Existis como a Superalma de todas as entidades vivas, e a deusa da fortuna é a forma dos seus corpos, sentidos e mentes. Ela também tem um nome e uma forma santificados, e sois a base de todos esses nomes e formas e a causa da manifestação deles.

Comentário

SIGNIFICADO—Madhvācārya, o ācārya dos tattvavādīs, explica este verso da seguinte maneira: “Viṣṇu é descrito como o yajña personificado, e mãe Lakṣmī é descrita como as atividades espirituais e a forma original de adoração. De fato, eles representam as atividades espiri­tuais e a Superalma de todos os yajñas. O Senhor Viṣṇu é, inclusive, a Superalma de Lakṣmīdevī, mas ninguém pode ser a Superalma do Senhor Viṣṇu, pois o próprio Senhor Viṣṇu é a Superalma espiri­tual de todos.”

De acordo com Madhvācārya, existem dois tattvas, ou fatores. Um é independente, e o outro, dependente. O primeiro tattva é o Senhor Supremo, Viṣṇu, e o segundo é o jīva-tattva. Lakṣmīdevī, sendo dependente do Senhor Viṣṇu, às vezes é incluída entre as jīvas. No entanto, os vaiṣṇavas gauḍīyas descrevem Lakṣmīdevī de acordo com os dois seguintes versos do Prameya-ratnāvalī de Baladeva Vidyābhūṣaṇa. O primeiro verso é citado do Viṣṇu Purāṇa.

nityaiva sā jagan-mātā
viṣṇoḥ śrīr anapāyinī
yathā sarva-gato viṣṇus
tathaiveyaṁ dvijottama
viṣṇoḥ syuḥ śaktayas tisras
tāsu yā kīrtitā parā
saiva śrīs tad-abhinneti
prāha śiṣyān prabhur mahān

“Ó melhor dos brāhmaṇas, Lakṣmījī é a constante companheira de Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus, e, portanto, é chamada de anapāyiṇī. Ela é a mãe de toda a criação. Assim como o Senhor Viṣṇu é onipenetrante, mãe Lakṣmī, Sua potência espiritual, também permeia tudo.” O Senhor Viṣṇu possui três potências principais – interna, externa e marginal. Śrī Caitanya Mahāprabhu aceita a parā­-śakti, a energia espiritual do Senhor, como sendo idêntica ao Senhor. Portanto, ela também está incluída no Viṣṇu-tattva independente.”

No comentário Kānti-mālā, referente ao Prameya-ratnāvalī, exis­te esta afirmação: nanu kvacit nitya-mukta jīvatvaṁ lakṣmyāḥ svīkṛtaṁ, tatrāha-prāheti; nityaiveti padye sarva-vyāpti-kathanena kalākāṣṭhety ādi-padya-dvaye, śuddho ’pīty uktā ca mahāprabhunā svaśiṣyān prati lakṣmyā bhagavad-advaitam upadiṣṭam; kvacid yat tasyās tu dvaitam uktaṁ, tat tu tad-āviṣṭa-nitya-mukta jīvam ādāya saṅgatamas tu. “Embora algumas sucessões discipulares vaiṣṇavas autorizadas insiram a deusa da fortuna entre as entidades vivas eter­namente liberadas (jīvas) que residem em Vaikuṇṭha, Śrī Caitanya Mahāprabhu, apoiando-Se na afirmação do Viṣṇu Purāṇa, descre­veu Lakṣmī como sendo idêntica ao viṣṇu-tattva. A conclusão cor­reta é que as descrições segundo as quais Lakṣmī é diferente de Viṣṇu têm aplicabilidade quando uma entidade viva eternamente liberada é investida da qualidade de Lakṣmī; neste caso, elas não se referem a mãe Lakṣmī, a consorte eterna do Senhor Viṣṇu.”

Texto

yathā yuvāṁ tri-lokasya
varadau parameṣṭhinau
tathā ma uttamaśloka
santu satyā mahāśiṣaḥ

Sinônimos

yathā — uma vez que; yuvām — ambos; tri-lokasya — dos três mundos; vara-dau — outorgadores de bênçãos; parame-ṣṭhinau — os supre­mos governantes; tathā — portanto; me — meu; uttama-śloka — ó Senhor, que sois louvado com excelentes versos; santu — possam tornar-se; satyāḥ — satisfeitas; mahā-āśiṣaḥ — grandes ambições.

Tradução

Sois ambos supremos governantes e benfeitores dos três mundos. Portanto, meu Senhor, Uttamaśloka, espero que, por Vossa graça, minhas ambições possam ser satisfeitas.

Texto

ity abhiṣṭūya varadaṁ
śrīnivāsaṁ śriyā saha
tan niḥsāryopaharaṇaṁ
dattvācamanam arcayet

Sinônimos

iti — assim; abhiṣṭūya — oferecendo orações; varadam — que con­cede bênçãos; śrī-nivāsam — ao Senhor Viṣṇu, a morada da deusa da fortuna; śriyā saha — com Lakṣmī; tat — então; niḥsārya — retirando; upaharaṇam — a parafernália de adoração; dattvā — após oferecer; ācamanam — água para lavar as mãos e a boca; arcayet — a pessoa deve adorar.

Tradução

Śrī Śukadeva Gosvāmī continuou: Assim se deve adorar tanto o Senhor Viṣṇu, que é conhecido como Śrīnivāsa, quanto mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, oferecendo orações de acordo com o processo acima mencionado. Após retirar toda a parafernália de adoração, a pessoa deve oferecer-lhes água para que sejam lavadas suas mãos e boca e, então, deve adorá-los novamente.

Texto

tataḥ stuvīta stotreṇa
bhakti-prahveṇa cetasā
yajñocchiṣṭam avaghrāya
punar abhyarcayed dharim

Sinônimos

tataḥ — então; stuvīta — deve-se louvar; stotreṇa — com orações; bhakti — com devoção; prahveṇa — humilde; cetasā — com a mente; yajña-ucchiṣṭam — os restos do sacrifício; avaghrāya — cheirando; punaḥ — novamente; abhyarcayet — deve-se adorar; harim — o Senhor Viṣṇu.

Tradução

Depois disso, com devoção e humildade, deve-se oferecer orações ao Senhor e mãe Lakṣmī. Então, deve-se cheirar os restos do alimento oferecido e, em seguida, deve-se adorar novamente o Senhor e Lakṣmījī.

Texto

patiṁ ca parayā bhaktyā
mahāpuruṣa-cetasā
priyais tais tair upanamet
prema-śīlaḥ svayaṁ patiḥ
bibhṛyāt sarva-karmāṇi
patnyā uccāvacāni ca

Sinônimos

patim — o esposo; ca — e; parayā — suprema; bhaktyā — com de­voção; mahā-puruṣa-cetasā — aceitando como a Pessoa Suprema; priyaiḥ — querido; taiḥ taiḥ — com essas (oferendas); upanamet — deve adorar; prema-śīlaḥ — sendo afetuoso; svayam — ele próprio; patiḥ — o esposo; bibhṛyāt — deve executar; sarva-karmāṇi — todas as ativida­des; patnyāḥ — da esposa; ucca-avacāni — superiores e inferiores; ca — também.

Tradução

Aceitando seu esposo como o representante da Pessoa Suprema, a esposa deve adorá-lo com devoção imaculada, oferecendo-lhe prasāda. O esposo, estando muito satisfeito com sua esposa, deve dedicar-se aos afazeres de sua família.

Comentário

SIGNIFICADO—A relação familiar entre esposo e esposa deve ser estabelecida espiritualmente de acordo com o processo mencionado acima.

Texto

kṛtam ekatareṇāpi
dam-patyor ubhayor api
patnyāṁ kuryād anarhāyāṁ
patir etat samāhitaḥ

Sinônimos

kṛtam — executado; ekatareṇa — por um; api — mesmo; dam-pa­tyoḥ — da esposa e do esposo; ubhayoḥ — de ambos; api — ainda assim; patnyām — quando a esposa; kuryāt — ele deve executar; anarhāyām — for incapaz; patiḥ — o esposo; etat — isto; samāhitaḥ — com atenção.

Tradução

Entre esposo e esposa, basta uma pessoa para executar esse servi­ço devocional. Devido à boa relação vivida por eles, ambos desfrutarão dos resultados. Portanto, se a esposa for incapaz de executar esse processo, o esposo deve cuidadosamente se encarregar dele, e a esposa fiel compartilhará dos resultados.

Comentário

SIGNIFICADO—A relação entre esposo e esposa é firmemente estabelecida quando a esposa é fiel e o esposo é sincero. Então, mesmo que a esposa, sendo mais fraca, não consiga prestar serviço devocional com seu esposo, ela compartilhará da metade das atividades de seu esposo se ela for casta e sincera.

Texto

viṣṇor vratam idaṁ bibhran
na vihanyāt kathañcana
viprān striyo vīravatīḥ
srag-gandha-bali-maṇḍanaiḥ
arced ahar-ahar bhaktyā
devaṁ niyamam āsthitā
udvāsya devaṁ sve dhāmni
tan-niveditam agrataḥ
adyād ātma-viśuddhy-arthaṁ
sarva-kāma-samṛddhaye

Sinônimos

viṣṇoḥ — ao Senhor Viṣṇu; vratam — voto; idam — este; bibhrat — executando; na — não; vihanyāt — deve quebrar; kathañcana — por razão nenhuma; viprān — os brāhmaṇas; striyaḥ — mulheres; vīra­vatīḥ — que têm seus esposos e filhos; srak — com guirlandas; gan­dha — polpa de sândalo; bali — oferenda de alimento; maṇḍanaiḥ — e com adornos; arcet — a pessoa deve adorar; ahaḥ-ahaḥ — diariamente; bhaktyā — com devoção; devam — o Senhor Viṣṇu; niyamam — os princípios reguladores; āsthitā — seguindo; udvāsya — colocando; devam — o Senhor; sve — em Seu próprio; dhāmni — local de re­pouso; tat — a Ele; niveditam — o que foi oferecido; agrataḥ — após dividir primeiramente entre os outros; adyāt — deve-se comer; ātma-viśuddhi-artham — para a própria purificação; sarva-kāma — todos os desejos; samṛddhaye — para satisfazer.

Tradução

A pessoa deve aceitar este viṣṇu-vrata, que é um voto executado em serviço devocional, e ela não deve deixar de cumpri-lo para se ocupar em alguma outra atividade. Mediante o oferecimento de restos de prasāda, guirlanda de flores, polpa de sândalo e adornos, deve-se diariamente adorar os brāhmaṇas e adorar as mulheres que levam uma vida pacífica com o esposo e filhos. Todos os dias, cabe à es­posa continuar seguindo os princípios reguladores segundo os quais se deve adorar o Senhor Viṣṇu com muita devoção. Depois disso, o Senhor Viṣṇu deve ser deitado em Sua cama, e, em seguida, a pessoa deve aceitar prasāda. Dessa maneira, o esposo e a esposa se purificarão e todos os seus desejos serão satisfeitos.

Texto

etena pūjā-vidhinā
māsān dvādaśa hāyanam
nītvāthoparamet sādhvī
kārtike carame ’hani

Sinônimos

etena — com esta; pūjā-vidhinā — adoração regular; māsān dvāda­śa — doze meses; hāyanam — um ano; nītvā — após passar; atha — depois; uparamet — deve jejuar; sādhvī — a esposa casta; kārtike — em Kārttika; carame ahani — no dia final.

Tradução

Durante um ano, a esposa casta deve executar continuamente esse serviço devocional. Expirado esse período, ela deve jejuar no dia da lua cheia no mês de Kārttika [outubro-novembro].

Texto

śvo-bhūte ’pa upaspṛśya
kṛṣṇam abhyarcya pūrvavat
payaḥ-śṛtena juhuyāc
caruṇā saha sarpiṣā
pāka-yajña-vidhānena
dvādaśaivāhutīḥ patiḥ

Sinônimos

śvaḥ-bhūte — na manhã seguinte; apaḥ — água; upaspṛśya — entran­do em contato com a; kṛṣṇam — Senhor Kṛṣṇa; abhyarcya — adorando; pūrva-vat — do mesmo modo que antes; payaḥ-śṛtena — com leite fervido; juhuyāt — a pessoa deve apresentar; caruṇā — com uma oferenda de arroz-doce; saha — com; sarpiṣāghī; pāka-yajña-vidhāne­na — de acordo com os preceitos dos Gṛhya-sūtras; dvādaśa — doze; eva — na verdade; āhutīḥ — oblações; patiḥ — o esposo.

Tradução

Na manhã do dia seguinte, a pessoa deve lavar-se e, após seguir o mesmo processo de adoração ao Senhor Kṛṣṇa, deve preparar alimentos conforme o sistema prescrito nos Gṛhya-sūtras, que orien­tam como cozinhar para festivais. O arroz-doce deve ser cozido no ghī, e, com essa preparação, o esposo deve apresentar oblações ao fogo doze vezes.

Texto

āśiṣaḥ śirasādāya
dvijaiḥ prītaiḥ samīritāḥ
praṇamya śirasā bhaktyā
bhuñjīta tad-anujñayā

Sinônimos

āśiṣaḥ — bênçãos; śirasā — com a cabeça; ādāya — aceitando; dvi­jaiḥ — pelos brāhmaṇas; prītaiḥ — que estão satisfeitos; samīritāḥ — faladas; praṇamya — após prestar reverências; śirasā — com a cabeça; bhaktyā — com devoção; bhuñjīta — ele deve comer; tat-anujñayā — com a permissão deles.

Tradução

Depois disso, deve satisfazer os brāhmaṇas. Quando os brāhmaṇas, satisfeitos, concederem suas bênçãos, ele, com muita veneração, deve oferecer-lhes respeitosas reverências inclinando a cabeça e, com a permissão deles, deve aceitar prasāda.

Texto

ācāryam agrataḥ kṛtvā
vāg-yataḥ saha bandhubhiḥ
dadyāt patnyai caroḥ śeṣaṁ
suprajāstvaṁ susaubhagam

Sinônimos

ācāryam — o ācārya; agrataḥ — primeiro de tudo; kṛtvā — recebendo apropriadamente; vāk-yataḥ — controlando a fala; saha — com; bandhubhiḥ — amigos e parentes; dadyāt — ele deve dar; patnyai — à esposa; caroḥ — da oblação de arroz-doce; śeṣam — o resto; su-prajāstvam — que garante boa progênie; su-saubhagam — que garante boa fortuna.

Tradução

Antes de fazer sua refeição, o esposo primeiramente deve oferecer ao ācārya um assento confortável e, juntamente com seus pa­rentes e amigos, deve controlar sua fala e oferecer prasāda ao guru. Então, a esposa deve comer os restos da oblação de arroz-doce cozi­do com ghī. Comer os restos lhe assegurará um filho erudito e devotado e toda a boa fortuna.

Texto

etac caritvā vidhivad vrataṁ vibhor
abhīpsitārthaṁ labhate pumān iha
strī caitad āsthāya labheta saubhagaṁ
śriyaṁ prajāṁ jīva-patiṁ yaśo gṛham

Sinônimos

etat — este; caritvā — executando; vidhi-vat — de acordo com os preceitos dos śāstras; vratam — voto; vibhoḥ — do Senhor; abhīpsita — desejado; artham — objeto; labhate — obtém; pumān — um homem; iha — nesta vida; strī — uma mulher; ca — e; etat — isto; āsthāya — executando; labheta — pode obter; saubhagam — boa fortuna; śriyam — opulência; prajām — progênie; jīva-patim — um esposo com longa duração de vida; yaśaḥ — boa reputação; gṛham — lar.

Tradução

O homem que observa este voto ou cerimônia ritualística e segue a descrição contida nos śāstras, mesmo nesta vida, será capaz de receber do Senhor todas as bênçãos que desejar. A esposa que executa esta cerimônia ritualística certamente obterá boa fortuna, opu­lência, filhos, um esposo de vida longa, boa reputação e um lar agradável.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bengala, mesmo na atualidade, é tida como muito afortunada a mulher que vive muito tempo com seu esposo. Em geral, a mulher deseja um bom esposo, bons filhos, um lar agradável, prosperidade, opulência e assim por diante. Como antecipa este verso, a Suprema Personalidade de Deus concederá à mulher todas essas bênçãos desejadas, e o homem também se habilitará para receber do Senhor todas as bênçãos. Logo, executando essa classe específica de vrata, o homem e a mulher que estão em consciência de Kṛṣṇa serão feli­zes neste mundo material e, como são conscientes de Kṛṣṇa, serão promovidos para o mundo espiritual.

Texto

kanyā ca vindeta samagra-lakṣaṇaṁ
patiṁ tv avīrā hata-kilbiṣāṁ gatim
mṛta-prajā jīva-sutā dhaneśvarī
sudurbhagā subhagā rūpam agryam
vinded virūpā virujā vimucyate
ya āmayāvīndriya-kalya-deham
etat paṭhann abhyudaye ca karmaṇy
ananta-tṛptiḥ pitṛ-devatānām
tuṣṭāḥ prayacchanti samasta-kāmān
homāvasāne huta-bhuk śrī-hariś ca
rājan mahan marutāṁ janma puṇyaṁ
diter vrataṁ cābhihitaṁ mahat te

Sinônimos

kanyā — uma jovem solteira; ca — e; vindeta — pode obter; samagra­-lakṣaṇam — possuindo todas as boas qualidades; patim — um esposo; tu — e; avīrā — uma mulher sem esposo ou filho; hata-kilbiṣām — livre de defeitos; gatim — o destino; mṛta-prajā — uma mulher cujos filhos estão mortos; jīva-sutā — uma mulher cujo filho tem uma longa duração de vida; dhana-īśvarī — possuindo riquezas; su-durbhagā — desafortunada; su-bhagā — afortunada; rūpam — beleza; agryam — fina; vindet — pode obter; virūpā — uma mulher de má aparência; virujā — da doen­ça; vimucyate — fica livre; yaḥ — aquele que; āmayā- — um doente; indriya-kalya-deham — um corpo saudável; etat — isto; paṭhan — recitando; abhyudaye ca karmaṇi — e em uma cerimônia sacrificatória na qual se apresentam oblações aos antepassados e aos semideuses; ananta — ilimitada; tṛptiḥ — satisfação; pitṛ-devatānām — dos antepassados e dos semideuses; tuṣṭāḥ — estando contentes; prayacchanti­ — eles concedem; samasta — todos; kāmān — os desejos; homa-avasāne — na conclusão da cerimônia; huta-bhuk — o desfrutador do sacrifício; śrī-hariḥ — Senhor Viṣṇu; ca — também; rājan — ó rei; mahat — grande; marutām — dos Maruts; janma — nascimento; puṇyam — piedoso; diteḥ — de Diti; vratam — o voto; ca — também; abhihitam — explicado; mahat — grande; te — a ti.

Tradução

Se uma jovem solteira seguir este vrata, será capaz de obter um ótimo esposo. Se uma mulher que é avīrā – que não tem esposo ou filho – executar esta cerimônia ritualística, poderá ser promo­vida ao mundo espiritual. Uma mulher cujos filhos morreram após o nascimento poderá obter um filho muito longevo e também ter a boa sorte de possuir riquezas. Se uma mulher é desafortunada, ela se tornará afortunada, e, se tiver uma aparência ruim, ela se tornará bela. Ao observar este vrata, um homem doente poderá se livrar de sua doença e ter um corpo saudável que lhe propiciará ótimas condições para trabalhar. Se alguém recitar esta narração en­quanto apresenta oblações aos pitās e aos semideuses e, se isso ocorre especialmente durante a cerimônia śrāddha, os semideuses e habitantes de Pitṛloka ficarão satisfeitíssimos com ele e lhe concederão a concretização de todos os seus desejos. Depois que alguém exe­cuta esta cerimônia ritualística, o Senhor Viṣṇu e Sua esposa, mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, ficarão satisfeitos com ele. Ó rei Parīk­ṣit, acabo, portanto, de descrever na íntegra como foi que Diti executou esta cerimônia e teve bons filhos – os Maruts – e uma vida feliz. Tentei explicar-te isso da maneira mais elaborada possível.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do sexto canto, décimo nono capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Realização da Cerimônia Ritualística Puṁsavana”.

FIM DO SEXTO CANTO