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CAPÍTULO SEIS

A Queda de Saubhari Muni

Após descrever os descendentes de Mahārāja Ambarīṣa, Śukadeva Gosvāmī descreveu todos os reis, desde Śaśāda até Māndhātā, e, com relação a isso, descreveu também como o grande sábio Saubhari casou-se com as filhas de Māndhātā.

Mahārāja Ambarīṣa teve três filhos, chamados Virūpa, Ketumān e Śambhu. O filho de Virūpa foi Pṛṣadaśva, cujo filho foi Rathītara. Rathītara não teve filhos, mas, ao pedir o favor do grande sábio Aṅgirā, o sábio gerou vários filhos no ventre da esposa de Rathītara. Ao nascerem, os filhos tornaram-se a dinastia de Aṅgirā Ṛṣi e de Rathītara.

O filho de Manu foi Ikṣvāku, que teve cem filhos, dos quais Vikukṣi, Nimi e Daṇḍakā foram os mais velhos. Os filhos de Mahā­rāja Ikṣvāku tornaram-se os reis de diversas partes do mundo. Por violar as regras e regulações dos sacrifícios, um desses filhos, Vikuk­ṣi, foi banido do reino. Por misericórdia de Vasiṣṭha e pelo poder do yoga místico, Mahārāja Ikṣvāku alcançou a liberação após abando­nar seu corpo material. Quando terminou o tempo de Mahārāja Ikṣvāku, seu filho Vikukṣi retornou e se encarregou do reino. Ele realizou várias espé­cies de sacrifícios e, com isso, satisfez a Suprema Personalidade de Deus. Mais tarde, esse Vikukṣi tornou-se célebre como Śaśāda.

Em favor dos semideuses, o filho de Vikukṣi lutou contra os demônios e, devido ao seu valioso serviço, tornou-se famoso como Purañjaya, Indravāha e Kakutstha. O filho de Purañjaya foi Anenā, o filho de Anenā foi Pṛthu, e o filho de Pṛthu foi Viśvagandhi. O filho de Viśvagandhi foi Candra, o filho de Candra foi Yuvanāśva, e o filho deste foi Śrāvasta, que construiu Śrāvastī Purī. O filho de Śrāvasta foi Bṛhadaśva. Kuvalayāśva, o filho de Bṛhadaśva, matou um demônio chamado Dhundhu e, em razão disso, tornou-se célebre como Dhundhumāra, “aquele que exterminou Dhundhu”. Os filhos da­quele que matou Dhundhu foram Dṛḍhāśva, Kapilāśva e Bhadrāśva. Ele também teve milhares de outros filhos, mas eles foram reduzidos a cinzas no fogo que emanava de Dhundhu. O filho de Dṛḍhāśva foi Haryaśva, o filho de Haryaśva foi Nikumbha, o filho de Nikumbha foi Bahulāśva, e o filho de Bahulāśva foi Kṛśāśva. O filho de Kṛśāśva foi Senajit, cujo filho foi Yuvanāśva.

Yuvanāśva casou-se com cem esposas, mas não teve filhos, de modo que partiu para a floresta. Na floresta, os sábios realizaram em seu benefício um sacrifício conhecido como Indra-yajña. Porém, houve um momento na floresta em que o rei ficou com tanta sede que bebeu a água reservada para a realização do yajña. Consequen­temente, após algum tempo, um filho brotou do lado direito de seu abdômen. O filho, que era belíssimo, chorava, querendo beber leite materno, de modo que Indra deu seu dedo indicador para a criança chupar. Assim, o filho se tornou conhecido como Māndhātā. No decorrer do tempo, Yuvanāśva alcançou a perfeição executando austeridades.

Em seguida, Māndhātā tornou-se imperador e governou a Terra, que consiste em sete ilhas. Ladrões e assaltantes temiam muito esse poderoso rei, daí o rei ter ficado conhecido como Trasaddasyu, que significa “aquele que é muito temido pelos ladrões e assaltantes”. No ventre de sua esposa Bindumatī, Māndhātā gerou filhos. Esses filhos foram Purukutsa, Ambarīṣa e Mucukunda. Esses três filhos tiveram cinquenta irmãs, todas as quais se tornaram esposas do grande sábio conhecido como Saubhari.

Em relação a isso, Śukadeva Gosvāmī descreveu a história de Saubhari Muni, que, devido à agitação sensual causada por um peixe, caiu de seu yoga e, em busca de prazer sexual, quis casar-se com todas as filhas de Māndhātā. Mais tarde, Saubhari Muni arrepen­deu-se muito. Então, ele aceitou a ordem de vānaprastha, realizou aus­teridades rigorosíssimas e, dessa maneira, alcançou a perfeição. A esse respeito, Śukadeva Gosvāmī descreveu como as esposas de Saubhari Muni também se tornaram perfeitas.

Texto

śrī-śuka uvāca
virūpaḥ ketumāñ chambhur
ambarīṣa-sutās trayaḥ
virūpāt pṛṣadaśvo ’bhūt
tat-putras tu rathītaraḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; virūpaḥ — chamado Virūpa; ketumān — chamado Ketumān; śambhuḥ — chamado Śambhu; ambarīṣa — de Ambarīṣa Mahārāja; sutāḥ trayaḥ — os três filhos; vi­rūpāt — de Virūpa; pṛṣadaśvaḥ — chamado Pṛṣadaśva; abhūt — havia; tat-putraḥ — seu filho; tu — e; rathītaraḥ — chamado Rathītara.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Ó Mahārāja Parīkṣit, Ambarīṣa teve três filhos, chamados Virūpa, Ketumān e Śambhu. De Virūpa, surgiu um filho chamado Pṛṣadaśva, e de Pṛṣadaśva, veio um filho chamado Rathītara.

Texto

rathītarasyāprajasya
bhāryāyāṁ tantave ’rthitaḥ
aṅgirā janayām āsa
brahma-varcasvinaḥ sutān

Sinônimos

rathītarasya — de Rathītara; aprajasya — que não tinha filhos; bhāryāyām — em sua esposa; tantave — para aumentar a progênie; arthitaḥ — sendo solicitado; aṅgirāḥ — o grande sábio Aṅgirā; janayām āsa — fez nascerem; brahma-varcasvinaḥ — que tinham qualidades bramânicas; sutān — filhos.

Tradução

Rathītara não teve filhos e, portanto, pediu ao grande sábio Aṅgirā que gerasse filhos para ele. Devido a esse pedido, Aṅgirā gerou filhos no ventre da esposa de Rathītara. Todos esses filhos nasceram com poderes bramânicos.

Comentário

SIGNIFICADO—No período védico, com o propósito de gerar melhor progênie, às vezes um homem era convocado para gerar filhos no ventre da esposa de um homem inferior. Nesse caso, a mulher é comparada a um campo agrícola. O proprietário de um campo agrícola pode em­pregar outra pessoa para produzir grãos alimentícios nele, mas, como os grãos são produzidos em sua terra, eles são considerados propriedade do dono da terra. Igualmente, uma mulher, algumas vezes, recebia permissão de ser fecundada por uma pessoa que não era seu esposo, mas os filhos nascidos dela se tornavam filhos do es­poso dela. Semelhantes filhos chamavam-se kṣetra-jāta. Porque não tinha filhos, Rathītara tirou proveito deste método.

Texto

ete kṣetra-prasūtā vai
punas tv āṅgirasāḥ smṛtāḥ
rathītarāṇāṁ pravarāḥ
kṣetropetā dvi-jātayaḥ

Sinônimos

ete — os filhos gerados por Aṅgirā; kṣetra-prasūtāḥ — tornaram-se os filhos de Rathītara e pertenciam à sua família (porque nasceram do ventre de sua esposa); vai — na verdade; punaḥ — novamente; tu — mas; āṅgirasāḥ — da dinastia de Aṅgirā; smṛtāḥ — eles eram chamados; rathītarāām — de todos os filhos de Rathītara; pravarāḥ — os principais; kṣetra-upetāḥ — por nascerem do kṣetra (campo); dvi-jātayaḥ — chamados brāhmaṇas (sendo uma mistura de brāhmaṇa e kṣatriya).

Tradução

Tendo nascido do ventre da esposa de Rathītara, todos esses filhos eram conhecidos como pertencentes à dinastia de Rathītara, mas, como nasceram do sêmen de Aṅgirā, também eram conhecidos como a dinastia de Aṅgirā. Entre toda a progênie de Rathītara, esses filhos eram muito notáveis, pois, devido ao seu nascimento, eram consi­derados brāhmaṇas.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura apresenta o significado de dvi­-jātayaḥ como “casta mista”, indicando uma mistura de brāhmaṇa e kṣatriya.

Texto

kṣuvatas tu manor jajñe
ikṣvākur ghrāṇataḥ sutaḥ
tasya putra-śata-jyeṣṭhā
vikukṣi-nimi-daṇḍakāḥ

Sinônimos

kṣuvataḥ — enquanto espirrava; tu — mas; manoḥ — de Manu; jajñe — nasceu; ikṣvākuḥ — chamado Ikṣvāku; ghrāṇataḥ — das narinas; su­taḥ — o filho; tasya — de Ikṣvāku; putra-śata — cem filhos; jyeṣṭhāḥ — proeminentes; vikukṣi — chamado Vikukṣi; nimi — chamado Nimi; daṇḍakāḥ — chamado Daṇḍakā.

Tradução

O filho de Manu foi Ikṣvāku. Quando Manu espirrou, Ikṣvāku nasceu de suas narinas. O rei Ikṣvāku teve cem filhos, dentre os quais se destacavam Vikukṣi, Nimi e Daṇḍakā.

Comentário

SIGNIFICADO—De acordo com Śrīdhara Svāmī, embora o Bhāgavatam (9.1.11-12) tenha anteriormente incluído Ikṣvāku entre os dez filhos que Manu gerou em sua esposa Śraddhā, isso foi uma generalização. Aqui, explica-se especificamente que Ikṣvāku nasceu do simples espirro de Manu.

Texto

teṣāṁ purastād abhavann
āryāvarte nṛpā nṛpa
pañca-viṁśatiḥ paścāc ca
trayo madhye ’pare ’nyataḥ

Sinônimos

teṣām — entre todos esses filhos; purastāt — no lado oriental; abhavan — eles se tornaram; āryāvarte — no lugar dentro dos Himalaias e das montanhas Vindhya, conhecido como Āryāvarta; nṛpāḥ — reis; nṛpa — ó rei (Mahārāja Parīkṣit); pañca-viṁśatiḥ — vinte e cinco; paścāt — no lado ocidental; ca — também; trayaḥ — três deles; madhye — na região intermediária (entre o Ocidente e o Oriente); apare — outros; anyataḥ — em outros lugares.

Tradução

Dos cem filhos, vinte e cinco se tornaram reis na parte ocidental de Āryāvarta, um lugar situado entre os Himalaias e as montanhas Vindhya. Outros vinte e cinco filhos se tornaram reis na parte orien­tal de Āryāvarta, e os três principais filhos se tornaram reis na região central. Os outros filhos se tornaram reis em vários outros lugares.

Texto

sa ekadāṣṭakā-śrāddhe
ikṣvākuḥ sutam ādiśat
māṁsam ānīyatāṁ medhyaṁ
vikukṣe gaccha mā ciram

Sinônimos

saḥ — aquele rei (Mahārāja Ikṣvāku); ekadā — certa vez; aṣṭakā­-śrāddhe — durante janeiro, fevereiro e março, quando se fazem oferendas aos antepassados; ikṣvākuḥ — o rei Ikṣvāku; sutam — ao seu filho; ādiśat — ordenou; māṁsam — carne; ānīyatām — traze aqui; medhyam — pura (obtida na caça); vikukṣe — ó Vikukṣi; gaccha — vai imediatamente; mā ciram — sem demora.

Tradução

Durante os meses de janeiro, fevereiro e março, as oblações apre­sentadas aos antepassados se chamam aṣṭakā-śrāddha. A cerimônia śrāddha é realizada durante a quinzena da lua nova do respectivo mês. Quando Mahārāja Ikṣvāku fazia suas oblações nesta cerimô­nia, ele ordenou que seu filho Vikukṣi fosse imediatamente à floresta para trazer alguma carne pura.

Texto

tatheti sa vanaṁ gatvā
mṛgān hatvā kriyārhaṇān
śrānto bubhukṣito vīraḥ
śaśaṁ cādad apasmṛtiḥ

Sinônimos

tathā — de acordo com a orientação; iti — assim; saḥ — Vikukṣi; vanam — à floresta; gatvā — indo; mṛgān — animais; hatvā — matando; kriyā-arhaṇān — adequados para o oferecimento no yajña da ceri­mônia śrāddha; śrāntaḥ — quando estava fatigado; bubhukṣitaḥ — e faminto; vīraḥ — o herói; śaśam — um coelho; ca — também; ādat — ele comeu; apasmṛtiḥ — esquecendo-se (de que a carne se prestava a ser oferecida no śrāddha).

Tradução

Em seguida, o filho de Ikṣvāku, Vikukṣi, foi para a floresta e matou muitos animais que serviam perfeitamente para as oblações. Mas aconteceu que, fatigado e faminto, ele caiu vítima do esquecimento e comeu um coelho que matara.

Comentário

SIGNIFICADO—É evidente que os kṣatriyas matavam animais na floresta porque a carne dos animais era adequada para ser oferecida em uma determi­nada classe de yajña. Fazer oblações aos antepassados na cerimônia conhecida como śrāddha também é uma classe de yajña. Neste yajña, a carne obtida na floresta através da caça podia ser oferecida. Entretanto, na era atual, Kali-yuga, essa espécie de oferenda é proibida. Citando o Brahma-vaivarta Purāṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse:

aśvamedhaṁ gavālambhaṁ
sannyāsaṁ pala-paitṛkam
devareṇa sutotpattiṁ
kalau pañca vivarjayet

“Nesta era de Kali, proíbem-se cinco atividades: oferecer cavalos em sacrifício, oferecer vacas em sacrifício, aceitar a ordem de san­nyāsa, fazer oblações de carne aos antepassados, e gerar filhos com a esposa do irmão.” A palavra pala-paitṛkam refere-se ao ato que consiste em fazer oblação de carne aos antepassados. Outrora, per­mitia-se essa oferenda, mas, nesta era, não é mais permitida. Nesta era, Kali­-yuga, todos são hábeis em caçar animais, mas a maioria das pessoas é constituída de śūdras, e não de kṣatriyas. De acordo com os pre­ceitos védicos, entretanto, somente os kṣatriyas têm permissão de caçar, ao passo que os śūdras têm autorização para comer carne depois que se oferecem bodes ou outros animais insignificantes à deusa Kālī ou a semideuses representativos. Em geral, comer carne não é algo com­pletamente proibido; uma determinada classe de homens tem per­missão de comer carne de acordo com várias normas e circunstâncias. Quanto a comer carne de vaca, entretanto, isso é estritamente proi­bido para todos. Assim, na Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa pessoalmente fala de go-rakṣyam, proteção à vaca. Os comedores de carne, de acordo com suas diferentes posições e as orientações do śāstra, têm per­missão de comer carne, mas nunca carne de vaca. As vacas devem receber toda a proteção.

Texto

śeṣaṁ nivedayām āsa
pitre tena ca tad-guruḥ
coditaḥ prokṣaṇāyāha
duṣṭam etad akarmakam

Sinônimos

śeṣam — os restos; nivedayām āsa — ele ofereceu; pitre — a seu pai; tena — por ele; ca — também; tat-guruḥ — o sacerdote ou mestre espiritual deles; coditaiḥ — sendo solicitado; prokṣaṇāya — para purificar; āha — disse; duṣṭam — contaminada; etat — toda esta carne; akarma­kam — inapropriada para oferecer no śrāddha.

Tradução

Vikukṣi ofereceu os restos da carne ao rei Ikṣvāku, que a deu a Va­siṣṭha para que este a purificasse. Mas Vasiṣṭha percebeu imediatamente que parte da carne fora comida por Vikukṣi e, portanto, disse que ela não podia ser usada na cerimônia śrāddha.

Comentário

SIGNIFICADO—Aquilo que se destina a ser oferecido em yajña não pode ser experimentado por ninguém enquanto não for oferecido à Deidade. Em nossos templos, esse preceito também vigora. Ninguém pode comer o alimento a menos que ele seja oferecido à Deidade. Se algo é aceito antes de ser oferecido à Deidade, toda a preparação conta­mina-se e não pode mais ser oferecida. Aqueles que se ocupam em adorar a Deidade devem saber disso muito bem para que possam evitar cometer ofensas enquanto adoram a Deidade.

Texto

jñātvā putrasya tat karma
guruṇābhihitaṁ nṛpaḥ
deśān niḥsārayām āsa
sutaṁ tyakta-vidhiṁ ruṣā

Sinônimos

jñātvā — sabendo; putrasya — de seu filho; tat — aquela; karma — ação; guruṇā — pelo mestre espiritual (Vasiṣṭha); abhihitam — informado; nṛpaḥo rei (Ikṣvāku); deśāt — da região; niḥsārayām āsa — expulsou; sutam — seu filho; tyakta-vidhim — porque ele violou os princípios reguladores; ruṣā — irado.

Tradução

Ao receber esta informação de Vasiṣṭha, o rei Ikṣvāku compreen­deu o que seu filho Vikukṣi fizera e ficou extremamente irado. Então, ele ordenou que Vikukṣi deixasse aquela região, visto que Vikukṣi vio­lara os princípios reguladores.

Texto

sa tu vipreṇa saṁvādaṁ
jñāpakena samācaran
tyaktvā kalevaraṁ yogī
sa tenāvāpa yat param

Sinônimos

saḥ — Mahārāja Ikṣvāku; tu — na verdade; vipreṇa — com o brāhmaṇa (Vasiṣṭha); saṁvādam — comentário; jñāpakena — com o in­formante; samācaran — agindo conforme as instruções; tyaktvā — abandonando; kalevaram — este corpo; yogī — sendo um bhakti-yogī na ordem renunciada; saḥ — o rei; tena — através desta instrução; avāpa — alcançou; yat — aquela posição; param — suprema.

Tradução

Tendo sido instruído pelo grande e erudito brāhmaṇa Vasiṣṭha, que falava acerca da Verdade Absoluta, Mahārāja Ikṣvāku se tornou­ um renunciante. Seguindo os princípios de um yogī, ele certamente alcançou a perfeição suprema após abandonar seu corpo material.

Texto

pitary uparate ’bhyetya
vikukṣiḥ pṛthivīm imām
śāsad īje hariṁ yajñaiḥ
śaśāda iti viśrutaḥ

Sinônimos

pitari — quando seu pai; uparate — afastou-se do reino; abhyetya — tendo voltado; vikukṣiḥ — o filho chamado Vikukṣi; pṛthivīm — o planeta Terra; imām — este; śāsat — governando; īje — adorou; harim — a Suprema Personalidade de Deus; yajñaiḥ — executando vários sacrifícios; śaśa-adaḥ — Śaśāda (“o comedor de coelho”); iti — assim; viśru­taḥ — célebre.

Tradução

Após o desaparecimento de seu pai, Vikukṣi retornou à região e, então, tornou-se rei, governando o planeta Terra e realizando vários sacrifícios para satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Mais tarde, Vikukṣi tornou-se célebre como Śaśāda.

Texto

purañjayas tasya suta
indravāha itīritaḥ
kakutstha iti cāpy uktaḥ
śṛṇu nāmāni karmabhiḥ

Sinônimos

puram-jayaḥ — Purañjaya (“o conquistador da residência”); tasya — seu (de Vikukṣi); sutaḥ — filho; indra-vāhaḥ — Indravāha (“aquele cujo carregador é Indra”); iti — assim; īritaḥ — conhecido como tal; kakutsthaḥ — Kakutstha (“situado na corcova de um touro”); iti — assim; ca — também; api — na verdade; uktaḥ — conhecido como tal; śṛṇu — por favor, ouve; nāmāni — todos os nomes; karmabhiḥ — de acordo com a atividade por ele executada.

Tradução

O filho de Śaśāda foi Purañjaya, que também é conhecido como Indravāha e, às vezes, como Kakutstha. Por favor, ouve-me enquanto narro como ele recebeu diferentes nomes por diferentes atividades.

Texto

kṛtānta āsīt samaro
devānāṁ saha dānavaiḥ
pārṣṇigrāho vṛto vīro
devair daitya-parājitaiḥ

Sinônimos

kṛta-antaḥ — uma guerra devastadora; āsīt — houve; samaraḥ — uma luta; devānām — dos semideuses; saha — com; dānavaḥ — os demô­nios; pārṣṇigrāhaḥ — um ótimo assistente; vṛtaḥ — aceito; vīraḥ — um herói; devaiḥ — pelos semideuses; daitya — pelos demônios; parājitaiḥ — que foram derrotados.

Tradução

Outrora, houve uma guerra devastadora, travada entre os semideuses e os demônios. Os semideuses, tendo sido derrotados, aceita­ram Purañjaya como seu assistente e, então, venceram os demônios. Portanto, este herói é conhecido como Purañjaya, “aquele que con­quistou a residência dos demônios”.

Texto

vacanād deva-devasya
viṣṇor viśvātmanaḥ prabhoḥ
vāhanatve vṛtas tasya
babhūvendro mahā-vṛṣaḥ

Sinônimos

vacanāt — por ordem ou em obediência às palavras; deva-devasya — do Supremo Senhor de todos os semideuses; viṣṇoḥ — Senhor Viṣṇu; viśva-ātmanaḥ — a Superalma de toda a criação; prabhoḥ — o Senhor, o controlador; vāhanatve — devido ao fato de se tornar um carrega­dor; vṛtaḥ — ocupado; tasya — a serviço de Purañjaya; babhūva — ele se tornou; indraḥ — o rei dos céus; mahā-vṛṣaḥ — um grande touro.

Tradução

Com a condição de que Indra se tornasse seu carregador, Purañjaya concordou em matar todos os demônios. Devido ao orgulho, Indra não pôde aceitar essa proposta, até que mais tarde, por ordem do Senhor Supremo, Viṣṇu, Indra aceitou e tornou-se um grande touro, que serviu de montaria para Purañjaya.

Texto

sa sannaddho dhanur divyam
ādāya viśikhāñ chitān
stūyamānas tam āruhya
yuyutsuḥ kakudi sthitaḥ
tejasāpyāyito viṣṇoḥ
puruṣasya mahātmanaḥ
pratīcyāṁ diśi daityānāṁ
nyaruṇat tridaśaiḥ puram

Sinônimos

saḥ — ele, Purañjaya; sannaddhaḥ — estando bem equipado; dha­nuḥ divyam — um primoroso arco transcendental; ādāya — empunhan­do; viśikhān — flechas; śitān — muito afiadas; stūyamānaḥ — sendo muito louvado; tam — nele (o touro); āruhya — montando; yuyutsuḥ — preparou-se para lutar; kakudi — na corcova do touro; sthitaḥ — es­tando situado; tejasā — pelo poder; āpyāyitaḥ — sendo favorecido; viṣṇoḥ — do Senhor Viṣṇu; puruṣasya — a Pessoa Suprema; mahā-ātma­naḥ — a Superalma; pratīcyām — ocidental; diśi — na direção; daityā­nām — dos demônios; nyaruṇat — capturou; tridaśaiḥ — cercado pelos semideuses; puram — a residência.

Tradução

Bem protegido pelo escudo e desejando lutar, Purañjaya empunhou um arco transcendental e flechas muito afiadas, e, enquanto era altamente louvado pelos semideuses, montou nas costas do touro [Indra] e sentou-se sobre sua corcova. Por isso, ele é conhecido como Kakutstha. Sendo dotado de poder pelo Senhor Viṣṇu, que é a Su­peralma e a Pessoa Suprema, Purañjaya sentou-se no grande touro e, portanto, é conhecido como Indravāha. Cercado pelos semideuses, ele atacou a oeste a residência dos demônios.

Texto

tais tasya cābhūt pradhanaṁ
tumulaṁ loma-harṣaṇam
yamāya bhallair anayad
daityān abhiyayur mṛdhe

Sinônimos

taiḥ — com os demônios; tasya — dele, Purañjaya; ca — também; abhūt — houve; pradhanam — uma luta; tumulam — muito feroz; loma-harṣaṇam — ouvir a respeito dela faz os cabelos arrepiarem-se; yamāya — à residência de Yamarāja; bhallaiḥ — pelas flechas; anayat — enviados; daityān — os demônios; abhiyayuḥ — que se aproximavam dele; mṛdhe — naquela luta.

Tradução

Houve uma feroz batalha entre os demônios e Purañjaya. Na ver­dade, foi tão feroz que, quando alguém ouve acerca dela, seus cabe­los arrepiam-se. Todos os demônios corajosos o bastante para enfrentar Purañjaya foram atingidos por suas flechas e imediatamente enviados à residência de Yamarāja.

Texto

tasyeṣu-pātābhimukhaṁ
yugāntāgnim ivolbaṇam
visṛjya dudruvur daityā
hanyamānāḥ svam ālayam

Sinônimos

tasya — dele (de Purañjaya); iṣu-pāta — o arremesso de flechas; abhi­mukham — na frente de; yuga-anta — no final do milênio; agnim — as chamas; iva — exatamente como; ulbaṇam — ferozes; visṛjya — abandonando o ataque; dudruvuḥ — fugiram; daityāḥ — todos os demônios; hanyamānāḥ — sendo mortos (por Purañjaya); svam — própria; ālayam — para a residência.

Tradução

Para se salvarem das flechas abrasadoras de Indravāha, que pareciam as chamas da devastação no final do milênio, os demônios que sobreviveram quando o resto de seu exército foi morto fugiram às pressas para as suas respectivas residências.

Texto

jitvā paraṁ dhanaṁ sarvaṁ
sastrīkaṁ vajra-pāṇaye
pratyayacchat sa rājarṣir
iti nāmabhir āhṛtaḥ

Sinônimos

jitvā — derrotando; param — inimigos; dhanam — riqueza; sarvam — tudo; sa-strīkam — com suas esposas; vajra-pāṇaye — a Indra, que carrega o raio; pratyayacchat — devolveu; saḥ — este; rāja-ṛṣiḥ — rei santo (Purañjaya); iti — assim; nāmabhiḥ — pelos nomes; āhṛtaḥ — foi chamado.

Tradução

Após derrotar os inimigos, o santo rei Purañjaya deu tudo, incluindo as riquezas e esposas do inimigo, a Indra, que carrega um raio. Eis porque ele é festejado como Purañjaya. Assim, Purañjaya é conhecido por diferentes nomes devido às suas diferentes atividades.

Texto

purañjayasya putro ’bhūd
anenās tat-sutaḥ pṛthuḥ
viśvagandhis tataś candro
yuvanāśvas tu tat-sutaḥ

Sinônimos

purañjayasya — de Purañjaya; putraḥ — filho; abhūt — nasceu; anenāḥ — chamado Anenā; tat-sutaḥ — seu filho; pṛthuḥ — chamado Pṛthu; viśvagandhiḥ — chamado Viśvagandhi; tataḥ — seu filho; candraḥ — chamado Candra; yuvanāśvaḥ — chamado Yuvanāśva; tu — na verdade; tat-sutaḥ — seu filho.

Tradução

O filho de Purañjaya era conhecido como Anenā, o filho de Anenā foi Pṛthu, e o filho de Pṛthu foi Viśvagandhi. O filho de Viśva­gandhi foi Candra, e o filho de Candra foi Yuvanāśva.

Texto

śrāvastas tat-suto yena
śrāvastī nirmame purī
bṛhadaśvas tu śrāvastis
tataḥ kuvalayāśvakaḥ

Sinônimos

śrāvastaḥ — chamado Śrāvasta; tat-sutaḥ — o filho de Yuvanāśva; yena — por quem; śrāvastī — chamada Śrāvastī; nirmame — foi construída; purī — a grande província; bṛhadaśvaḥ — Bṛhadaśva; tu — entretanto; śrāvastiḥ — gerado por Śrāvasta; tataḥ — dele; kuvalayāśvakaḥ — chamado Kuvalayāśva.

Tradução

O filho de Yuvanāśva foi Śrāvasta, que construiu uma província conhecida como Śrāvastī Purī. O filho de Śrāvasta foi Bṛhadaśva, e seu filho foi Kuvalayāśva. Dessa maneira, a dinastia aumentava.

Texto

yaḥ priyārtham utaṅkasya
dhundhu-nāmāsuraṁ balī
sutānām eka-viṁśatyā
sahasrair ahanad vṛtaḥ

Sinônimos

yaḥ — aquele que; priya-artham — para a satisfação; utaṅkasya — do grande sábio Utaṅka; dhundhu-nāma — chamado Dhundhu; asuram — um demônio; balī — muito poderoso (Kuvalayāśva); sutānām — dos filhos; eka-viṁśatyā — por vinte e um; sahasraiḥ — mil; ahanat — matou; vṛtaḥ — cercado.

Tradução

Para satisfazer o sábio Utaṅka, o poderosíssimo Kuvalayāśva matou o demônio chamado Dhundhu. Ele conseguiu isso com a ajuda de seus vinte e um mil filhos.

Texto

dhundhumāra iti khyātas
tat-sutās te ca jajvaluḥ
dhundhor mukhāgninā sarve
traya evāvaśeṣitāḥ
dṛḍhāśvaḥ kapilāśvaś ca
bhadrāśva iti bhārata
dṛḍhāśva-putro haryaśvo
nikumbhas tat-sutaḥ smṛtaḥ

Sinônimos

dhundhu-māraḥ — aquele que matou Dhundhu; iti — assim; khyātaḥ — célebre; tat-sutāḥ — seus filhos; te — todos eles; ca — também; jajvaluḥ — queimados; dhundhoḥ — de Dhundhu; mukha-agninā — pelo fogo que emanava da boca; sarve — todos eles; trayaḥ — três; eva — apenas; avaśeṣitāḥ — permaneceram vivos; dṛḍhāśvaḥ — Dṛḍhāśva; kapilāśvaḥ — Kapilāśva; ca — e; bhadrāśvaḥ — Bhadrāśva; iti — assim; bhārata — ó Mahārāja Parīkṣit; dṛḍhāśva-putraḥ — o filho de Dṛḍhāśva; haryaśvaḥ — chamado Haryaśva; nikumbhaḥ — Nikumbha; tat-sutaḥ — seu filho; smṛtaḥ — famoso.

Tradução

Ó Mahārāja Parīkṣit, por essa razão, Kuvalayāśva é célebre como Dhundhumāra [“aquele que matou Dhundhu”]. Entretanto, exce­tuando-se três de seus filhos, todos os outros foram reduzidos a cinzas pelo fogo que emanava de boca de Dhundhu. Os filhos sobreviven­tes foram Dṛḍhāśva, Kapilāśva e Bhadrāśva. De Dṛḍhāśva, surgiu um filho chamado Haryaśva, cujo filho é célebre como Nikumbha.

Texto

bahulāśvo nikumbhasya
kṛśāśvo ’thāsya senajit
yuvanāśvo ’bhavat tasya
so ’napatyo vanaṁ gataḥ

Sinônimos

bahulāśvaḥchamado Bahulāśva; nikumbhasya — de Nikumbha; kṛśāśvaḥ — chamado Kṛśāśva; atha — em seguida; asya — de Kṛśāśva; senajit — Senajit; yuvanāśvaḥ — chamado Yuvanāśva; abhavat — nasceu; tasya — de Senajit; saḥ — ele; anapatyaḥ — sem filhos; vanam gataḥ — retirou-se para a floresta como vānaprastha.

Tradução

O filho de Nikumbha foi Bahulāśva, o filho de Bahulāśva foi Kṛśāśva, o filho de Kṛśāśva foi Senajit, e o filho de Senajit foi Yuvanāśva. Yuvanāśva não teve filhos e, em razão disso, retirou-se da vida fami­liar e foi para a floresta.

Texto

bhāryā-śatena nirviṇṇa
ṛṣayo ’sya kṛpālavaḥ
iṣṭiṁ sma vartayāṁ cakrur
aindrīṁ te susamāhitāḥ

Sinônimos

bhāryā-śatena — com cem esposas; nirviṇṇaḥ — muito melancólicas; ṛṣayaḥ — os sábios (na floresta); asya — com ele; kṛpālavaḥ — muito misericordiosos; iṣṭim — uma cerimônia ritualística; sma — no passado; vartayām cakruḥ — começaram a executar; aindrīm — conhecida como Indra-yajña; te — todos eles; su-samāhitāḥ — sendo muito cuidadosos e atentos.

Tradução

Embora tivessem acompanhado Yuvanāśva à floresta, todas as suas cem esposas ficaram muito melancólicas. Na floresta, entretan­to, os sábios, sendo muito bondosos com o rei, começaram muito cui­dadosa e atentamente a executar o Indra-yajña para que o rei pudesse ter um filho.

Comentário

SIGNIFICADO—Pode-se ingressar na ordem de vida vānaprastha com a esposa, mas a ordem vānaprastha significa afastar-se por completo da vida familiar. Embora o rei Yuvanāśva tivesse se retirado da vida fami­liar, ele e suas esposas viviam melancólicos porque ele não tinha filho algum.

Texto

rājā tad-yajña-sadanaṁ
praviṣṭo niśi tarṣitaḥ
dṛṣṭvā śayānān viprāṁs tān
papau mantra-jalaṁ svayam

Sinônimos

rājā — o rei (Yuvanāśva); tat-yajña-sadanam — a arena de sacrifício; praviṣṭaḥ — entrou em; niśi — à noite; tarṣitaḥ — estando com sede; dṛṣṭvā — vendo; śayānān — deitados; viprān — todos os brāhmaṇas; tān — todos eles; papau — bebeu; mantra-jalam — água santificada através de mantras; svayam — pessoalmente.

Tradução

Sentindo sede certa noite, o rei se adentrou na arena de sacrifício e, quando viu que todos os brāhmaṇas estavam deitados, ele pessoal­mente bebeu a água santificada destinada a ser bebida por sua esposa.

Comentário

SIGNIFICADO—Os yajñas que os brāhmaṇas realizam de acordo com as cerimô­nias ritualísticas védicas são tão potentes que, santificada através de mantras védicos, a água pode produzir o resultado desejado. Neste exemplo, os brāhmaṇas santificaram a água para que a esposa do rei pudesse bebê-la no yajña, mas, pela providência, o próprio rei foi até ali durante a noite e, estando com sede, bebeu a água.

Texto

utthitās te niśamyātha
vyudakaṁ kalaśaṁ prabho
papracchuḥ kasya karmedaṁ
pītaṁ puṁsavanaṁ jalam

Sinônimos

utthitāḥ — após despertarem; te — todos eles; niśamya — vendo; atha — em seguida; vyudakam — vazio; kalaśam — o cântaro; prabho — ó rei Parīkṣit; papracchuḥ — perguntaram; kasya — de quem; karma — ato; idam — este; pītam — bebida; puṁsavanam — que deveria propi­ciar o nascimento de um filho; jalam — água.

Tradução

Ao se levantarem da cama e ver o cântaro vazio, os brāhmaṇas quiseram saber quem foi que se atrevera a beber a água destinada a gerar um filho.

Texto

rājñā pītaṁ viditvā vai
īśvara-prahitena te
īśvarāya namaś cakrur
aho daiva-balaṁ balam

Sinônimos

rājñā — pelo rei; pītam — bebida; viditvā — entendendo isso; vai — na verdade; īśvara-prahitena — inspirado pela providência; te — todos eles; īśvarāya — à Suprema Personalidade de Deus, o controlador supremo; namaḥ cakruḥ — ofereceram respeitosas reverências; aho — oh!; daiva-balam — poder divino; balam — é verdadeiro poder.

Tradução

Ao compreenderem que o rei, inspirado pelo controlador supremo, bebera a água, todos os brāhmaṇas exclamaram: “Oh! O poder da providência é o verdadeiro poder! Ninguém pode combater o poder do Supremo.” Dessa maneira, eles ofereceram suas respeitosas reve­rências ao Senhor.

Texto

tataḥ kāla upāvṛtte
kukṣiṁ nirbhidya dakṣiṇam
yuvanāśvasya tanayaś
cakravartī jajāna ha

Sinônimos

tataḥ — em seguida; kāle — o tempo; upāvṛtte — tendo amadure­cido; kukṣim — parte inferior do abdômen; nirbhidya — trespassan­do; dakṣiṇam — o lado direito; yuvanāśvasya — do rei Yuvanāśva; tanayaḥ — um filho; cakravartī — com todos os bons sintomas de um rei; jajāna — gerado; ha — no passado.

Tradução

Então, no devido curso do tempo, um filho com todos os sintomas de um rei poderoso surgiu do lado inferior direito do abdômen do rei Yuvanāśva.

Texto

kaṁ dhāsyati kumāro ’yaṁ
stanye rorūyate bhṛśam
māṁ dhātā vatsa mā rodīr
itīndro deśinīm adāt

Sinônimos

kam — por quem; dhāsyati — será cuidada com leite materno; kumāraḥ — criança; ayam — esta; stanye — querendo beber leite materno; rorūyate — está chorando; bhṛśam — tanto; mām dhātā — por favor, beba-me; vatsa — minha querida criança; mā rodīḥ — não chores; iti — assim; indraḥ — o rei Indra; deśinīm — o dedo indicador; adāt — deu para ele chupar.

Tradução

O bebê chorava tanto por leite materno que todos os brāhmaṇas ficaram muito infelizes. “Quem cuidará desse bebê?”, eles se perguntavam. Então, Indra, que era adorado naquele yajña, apareceu e consolou o bebê. “Não chores”, disse Indra. Nesse momento, Indra colocou seu dedo indicador na boca do bebê e disse: “Pode beber-me.”

Texto

na mamāra pitā tasya
vipra-deva-prasādataḥ
yuvanāśvo ’tha tatraiva
tapasā siddhim anvagāt

Sinônimos

na — não; mamāra — morreu; pitā — o pai; tasya — do bebê; vipra-­deva-prasādataḥ — devido à misericórdia e bênçãos dos brāhmaṇas; yuvanāśvaḥ — rei Yuvanāśva; atha — em seguida; tatra eva — naquele mesmo lugar; tapasā — executando austeridades; siddhim — perfeição; anvagāt — alcançou.

Tradução

Porque foi abençoado pelos brāhmaṇas, Yuvanāśva, o pai do bebê, não caiu vítima da morte. Após esse episódio, ele realizou rigorosas austeridades e alcançou a perfeição, naquele mesmo lugar.

Texto

trasaddasyur itīndro ’ṅga
vidadhe nāma yasya vai
yasmāt trasanti hy udvignā
dasyavo rāvaṇādayaḥ
yauvanāśvo ’tha māndhātā
cakravarty avanīṁ prabhuḥ
sapta-dvīpavatīm ekaḥ
śaśāsācyuta-tejasā

Sinônimos

trasat-dasyuḥ — chamado Trasaddasyu (“aquele que é temido pelos ladrões e assaltantes”); iti — assim; indraḥ — o rei dos céus; aṅga — meu querido rei; vidadhe — deu; nāma — o nome; yasya — quem; vai — na verdade; yasmāt — de quem; trasanti — têm medo; hi — na verdade; udvignāḥ — a causa de ansiedade; dasyavaḥ — ladrões e assaltantes; rāvaṇa-ādayaḥ — encabeçados por grandes Rākṣasas, tais como Ravaṇa; yauvanāśvaḥ — o filho de Yuvanāśva; atha — assim; māndhātā — conhecido como Māndhātā; cakravartī — o imperador do mundo; avanīm — a superfície deste mundo; prabhuḥ — o mestre; sapta-dvīpa­-vatīm — consistindo em sete ilhas; ekaḥ — único, sozinho; śaśāsa — governou; acyuta-tejasā — sendo poderoso porque foi favorecido pela Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Māndhātā, o filho de Yuvanāśva, causava medo a Rāvaṇa e outros ladrões e assaltantes que traziam ansiedade. Ó rei Parīkṣit, visto que eles o temiam, o filho de Yuvanāśva era conhecido como Tra­saddasyu, nome este dado pelo rei Indra. Pela misericórdia da Su­prema Personalidade de Deus, o filho de Yuvanāśva era tão poderoso que, ao tornar-se o imperador, ele governou o mundo inteiro, que consiste em sete ilhas, sem a ajuda de nenhum outro governante.

Texto

īje ca yajñaṁ kratubhir
ātma-vid bhūri-dakṣiṇaiḥ
sarva-devamayaṁ devaṁ
sarvātmakam atīndriyam
dravyaṁ mantro vidhir yajño
yajamānas tathartvijaḥ
dharmo deśaś ca kālaś ca
sarvam etad yad ātmakam

Sinônimos

īje — ele adorou; ca — também; yajñam — o Senhor dos sacrifícios; kratubhiḥ — com importantes atividades ritualísticas; ātma-vit — plenamente consciente através da autorrealização; bhūri-dakṣiṇaiḥ — dando grandes contribuições aos brāhmaṇas; sarva-deva-mayam — consistindo em todos os semideuses; devam — o Senhor; sarva-ātmakam — a Superalma de todos; ati-indriyam — transcendentalmente situado; dravyam — ingredientes; mantraḥ — canto dos hinos védicos; vidhiḥ — princípios reguladores; yajñaḥ — adoração; yajamānaḥ — o executor; tathā — com; ṛtvijaḥ — os sacerdotes; dharmaḥ — princípios religiosos; deśaḥ — a região; ca — e; kālaḥ — o tempo; ca — também; sarvam — tudo; etat — todos esses aspectos; yat — aquilo que é; ātmakam — favo­rável à autorrealização.

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus não é diferente dos aspectos auspiciosos dos grandes sacrifícios, tais como os ingredientes do sacrifício, o canto de hinos védicos, os princípios reguladores, o exe­cutor, os sacerdotes, o resultado do sacrifício, a arena do sacrifício e o tempo do sacrifício. Conhecendo os princípios da autorrealização, Māndhātā adorou a Alma Suprema transcendentalmente situada, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, que abrange todos os semideuses. Ele também fez muitíssima caridade aos brāhmaṇas e, dessa maneira, realizou yajña para adorar o Senhor.

Texto

yāvat sūrya udeti sma
yāvac ca pratitiṣṭhati
tat sarvaṁ yauvanāśvasya
māndhātuḥ kṣetram ucyate

Sinônimos

yāvat — enquanto; sūryaḥ — o Sol; udeti — nasce no horizonte; sma — no passado; yāvat — enquanto; ca — também; pratitiṣṭhati — continua presente; tat — tudo aquilo acima mencionado; sarvam — tudo; yauvanāśvasya — do filho de Yuvanāśva; māndhātuḥ — chamado Māndhātā; kṣetram — localização; ucyate — afirma-se que é.

Tradução

Todos os lugares, desde o local onde o Sol nasce no horizonte, brilhando refulgentemente, até o local onde o Sol se põe, são conhecidos como propriedades do célebre Māndhātā, o filho de Yuvanāśva.

Texto

śaśabindor duhitari
bindumatyām adhān nṛpaḥ
purukutsam ambarīṣaṁ
mucukundaṁ ca yoginam
teṣāṁ svasāraḥ pañcāśat
saubhariṁ vavrire patim

Sinônimos

śaśabindoḥ — de um rei conhecido como Śaśabindu; duhitari — na filha; bindumatyām — cujo nome era Bindumatī; adhāt — gerou; nṛpaḥ — o rei (Māndhātā); purukutsam — Purukutsa; ambarīṣam — Ambarīṣa; mucukundam — Mucukunda; ca — e; yoginam — um místico muito elevado; teṣām — deles; svasāraḥ — as irmãs; pañcāśat — cinquenta; saubharim — ao grande sábio Saubhari; vavrire — aceitaram; patim — como esposo.

Tradução

Māndhātā gerou três filhos no ventre de Bindumatī, a filha de Śaśabindu. Esses filhos eram Purukutsa, Ambarīṣa e Mucukunda, um grande yogī místico. Esses três irmãos tinham cinquenta irmãs, todas as quais aceitaram como esposo o grande sábio Saubhari.

Texto

yamunāntar-jale magnas
tapyamānaḥ paraṁ tapaḥ
nirvṛtiṁ mīna-rājasya
dṛṣṭvā maithuna-dharmiṇaḥ
jāta-spṛho nṛpaṁ vipraḥ
kanyām ekām ayācata
so ’py āha gṛhyatāṁ brahman
kāmaṁ kanyā svayaṁvare

Sinônimos

yamunā-antaḥ-jale — nas profundezas da água do rio Yamunā; magnaḥ — completamente submerso; tapyamānaḥ — executando austeridades; param — incomum; tapaḥ — austeridade; nirvṛtim — prazer; mīna-rājasya — de um grande peixe; dṛṣṭvā — vendo; maithuna-dharmiṇaḥ — ocupado em atividades sexuais; jāta-spṛhaḥ — desejou sexo; nṛpam — ao rei (Māndhātā); vipraḥ — o brāhmaṇa (Saubhari Ṛṣi); kanyām ekām — uma filha; ayācata — pediu; saḥ — ele, o rei; api — também; āha — disse; gṛhyatām — podes levar; brahman — ó brāhmaṇa; kāmam — conforme ela deseje; kanyā — filha; svayaṁvare — uma escolha pessoal.

Tradução

Nas profundezas da água do rio Yamunā, Saubhari Ṛṣi estava ocupado em austeridades quando viu um casal de peixes dedicados à atividade sexual. Com isso, ele percebeu o prazer da vida sexual e, induzido por esse desejo, foi ter com o rei Māndhātā e pediu-lhe uma das filhas. Em resposta a esse pedido, o rei disse: “Ó brāhmaṇa, minhas filhas podem aceitar qualquer esposo que elas mesmas escolherem.”

Comentário

SIGNIFICADO—Este é o começo da história de Saubhari Ṛṣi. De acordo com Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, Māndhātā era o rei de Mathurā, e, submerso nas profundezas do rio Yamunā, Saubhari Ṛṣi estava ocupado em austeridades. Ao sentir o desejo sexual, o ṛṣi emergiu da água e foi até o rei Māndhātā para pedir que uma das filhas do rei se tor­nasse sua esposa.

Texto

sa vicintyāpriyaṁ strīṇāṁ
jaraṭho ’ham asan-mataḥ
valī-palita ejat-ka
ity ahaṁ pratyudāhṛtaḥ
sādhayiṣye tathātmānaṁ
sura-strīṇām abhīpsitam
kiṁ punar manujendrāṇām
iti vyavasitaḥ prabhuḥ

Sinônimos

saḥ — ele, Saubhari Muni; vicintya — pensando consigo; apriyam — não apreciado; strīṇām — pelas mulheres; juraṭhaḥ — sendo frágil devido à velhice; aham — eu; asat-mataḥ — não desejado por elas; valī — enrugado; palitaḥ — de cabelos grisalhos; ejat-kaḥ — com a cabeça sempre tremendo; iti — dessa maneira; aham — eu; pratyudāhṛtaḥ — rejeitado (por elas); sādhayiṣye — agirei de tal maneira; tathā — como; ātmānam — meu corpo; sura-strīṇām — às mulheres paradisíacas dos planetas ce­lestiais; abhīpsitam — desejável; kim — o que falar; punaḥ — todavia; manuja-indrāṇām — das filhas dos reis mundanos; iti — dessa maneira; vyavasitaḥ — determinou; prabhuḥ — Saubhari, o poderosíssimo místico.

Tradução

Saubhari Muni pensou: Agora estou debilitado devido à velhice. Meu cabelo tornou-se grisalho, minha pele está flácida e minha cabeça está sempre trêmula. Ademais, sou um yogī. Portanto, as mulheres não gostam de mim. Uma vez que o rei me rejeitou dessa maneira, devo modificar meu corpo de tal maneira que serei desejado não apenas pelas filhas de reis mundanos, mas até mesmo pelas mulheres celestiais.

Texto

muniḥ praveśitaḥ kṣatrā
kanyāntaḥpuram ṛddhimat
vṛtaḥ sa rāja-kanyābhir
ekaṁ pañcāśatā varaḥ

Sinônimos

muniḥ — Saubhari Muni; praveśitaḥ — admitido; kṣatrā — pelo mensageiro do palácio; kanyā-antaḥpuram — aos aposentos das princesas; ṛddhi-mat — extremamente opulentos sob todos os aspectos; vṛtaḥ — aceito; saḥ — ele; rāja-kanyābhiḥ — por todas as princesas; ekam — ele sozinho; pañcāśatā — de todas as cinquenta; varaḥ — o esposo.

Tradução

Então, quando Saubhari Muni se transformou em uma pessoa muito jovem e bela, o mensageiro do palácio o levou para o interior dos aposentos das princesas, que eram extremamente opulentos. Todas as cinquenta princesas aceitaram-no, então, como seu esposo, embora ele fosse apenas um único homem.

Texto

tāsāṁ kalir abhūd bhūyāṁs
tad-arthe ’pohya sauhṛdam
mamānurūpo nāyaṁ va
iti tad-gata-cetasām

Sinônimos

tāsām — de todas as princesas; kaliḥ — discórdia e desavença; abhūt — houve; bhūyān — muita; tat-arthe — por causa de Saubhari Muni; apohya — abandonando; sauhṛdam — uma boa relação; mama — minha; anurūpaḥ — a pessoa adequada; na — não; ayam — esta; vaḥ — tua; iti — dessa maneira; tat-gata-cetasām — sentindo-se atraídas por ele.

Tradução

Depois disso, as princesas, sentindo-se atraídas por Saubhari Muni, abandonaram seu relacionamento fraterno e brigaram entre si, cada uma delas alegando: “Este homem é exatamente adequado a mim, e não a ti.” Dessa maneira, surgiu grande discórdia.

Texto

sa bahv-ṛcas tābhir apāraṇīya-
tapaḥ-śriyānarghya-paricchadeṣu
gṛheṣu nānopavanāmalāmbhaḥ-
saraḥsu saugandhika-kānaneṣu
mahārha-śayyāsana-vastra-bhūṣaṇa-
snānānulepābhyavahāra-mālyakaiḥ
svalaṅkṛta-strī-puruṣeṣu nityadā
reme ’nugāyad-dvija-bhṛṅga-vandiṣu

Sinônimos

saḥ — ele, Saubhari Ṛṣi; bahu-ṛcaḥ — muito hábil em utilizar mantras védicos; tābhiḥ — com suas esposas; apāraṇīya — ilimitado; tapaḥ — o resultado da austeridade; śriyā — com opulências; anarghya — parafernália própria para o gozo; paricchadeṣu — equipados com diferentes roupas e vestes; gṛheṣu — na casa e nos aposentos; nānā — muitas variedades de; upavana — parques; amala — limpa; ambhaḥ — água; sa­raḥsu — nos lagos; saugandhika — muito perfumados; kānaneṣu — nos jardins; mahā-arha — muito caras; śayyā — roupas de cama; āsana — assentos; vastra — tecidos; bhūṣaṇa — ornamentos; snāna — locais de banho; anulepa — sândalo; abhyavahāra — pratos saborosos; mālya­kaiḥ — e com guirlandas; su-alaṅkṛta — devidamente vestidas e decora­das; strī — mulheres; puruṣeṣu — com homens também; nityadā — constantemente; reme — desfrutavam; anugāyat — acompanhados do canto de; dvija — pássaros; bhṛṅga — abelhas; vandiṣu — e cantores profissionais.

Tradução

Porque Saubhari Muni era hábil em cantar mantras perfeitamente, suas rigorosas austeridades propiciaram-lhe um lar opulento, com roupas, adornos, criados e criadas devidamente vestidos e decora­dos, e muitas variedades de parques com lagos de águas cristalinas e com jardins. Nos jardins, perfumados por muitas variedades de flores, os pássaros chilreavam e as abelhas zumbiam, cercados pelos cantores profissionais. O lar de Saubhari Muni era amplamente pro­vido de camas e assentos luxuosos, ornamentos e locais de banho, e havia muitas variedades de cremes de sândalo, guirlandas de flores e pratos saborosos. Cercado assim por opulenta parafernália, o Muni ocupava-se em afazeres familiares com suas numerosas esposas.

Comentário

SIGNIFICADO—Saubhari Ṛṣi era um grande yogī. A perfeição ióguica torna disponíveis oito opulências materiais – aṇimā, laghimā, mahimā, prāpti, prākāmya, īśitva, vaśitva e kāmāvasāyitā. Por força de sua perfei­ção ióguica, Saubhari Muni manifestou o que há de melhor no gozo material. A palavra bahv-ṛca significa “hábil em cantar mantras”. Assim como a opulência material pode ser alcançada através de métodos materiais comuns, pode também ser alcançada através de processos mântricos sutis. Através do canto de mantras, Saubhari Muni foi favorecido com opulência material, mas essa não é a perfeição da vida. Como será visto, Saubhari Muni ficou muito insatisfeito com a opulência material, em razão disso, deixou tudo, adotou a ordem de vānaprastha e voltou à floresta, conseguindo o sucesso final. Aqueles que não são ātma-tattva-vit, que não conhecem o valor da vida espiritual, podem satisfazer-se com a opulência material exter­na, mas aqueles que são ātma-tattva-vit não se deixam arrastar pela opulência material. Essa instrução podemos obter através dos ensina­mentos extraídos da vida e atividades de Saubhari Muni.

Texto

yad-gārhasthyaṁ tu saṁvīkṣya
sapta-dvīpavatī-patiḥ
vismitaḥ stambham ajahāt
sārvabhauma-śriyānvitam

Sinônimos

yat — aquele cuja; gārhasthyam — vida familiar, vida doméstica; tu — mas; saṁvīkṣya — observando; sapta-dvīpa-vatī-patiḥ — Mā­ndhā­tā, que era o rei do mundo todo, que consistia em sete ilhas; vismi­taḥ — ficou maravilhado; stambham — orgulho devido a uma posição prestigiosa; ajahāt — ele abandonou; sārva-bhauma — o imperador do mundo todo; śriyā-anvitam — abençoado com toda classe de opu­lências.

Tradução

Māndhātā, o rei do mundo todo, que consiste em sete ilhas, ficou maravilhado ao ver a opulência doméstica de Saubhari Muni. Assim, ele abandonou o falso prestígio que adquirira em sua posição de im­perador do mundo.

Comentário

SIGNIFICADO—Todos se orgulham de sua própria posição, mas aqui se apresenta­ uma experiência marcante, na qual, diante da opulência de Sau­bhari Muni, o imperador do mundo todo se sentiu derrotado no que se refere àquilo que a felicidade material possa oferecer nos mais diversos aspectos.

Texto

evaṁ gṛheṣv abhirato
viṣayān vividhaiḥ sukhaiḥ
sevamāno na cātuṣyad
ājya-stokair ivānalaḥ

Sinônimos

evam — dessa maneira; gṛheṣu — nos afazeres domésticos; abhirataḥ — estando sempre ocupado; viṣayān — parafernália material; vivi­dhaiḥ — com muitas variedades de; sukhaiḥ — felicidade; sevamānaḥ — desfrutando de; na — não; ca — também; atuṣyat — satisfê-lo; ājya­stokaiḥ — com gotas de gordura; iva — como; analaḥ — um fogo.

Tradução

Dessa maneira, Saubhari Muni experimentou gozo dos sentidos no mundo material, mas não ficou satisfeito de modo algum, assim como o fogo jamais se apaga caso constantemente alimentado por gotas de gordura.

Comentário

SIGNIFICADO—O desejo material é exatamente como um fogo ardente. Se o fogo é continuamente alimentado com gotas de gordura, o fogo aumenta cada vez mais e nunca se extingue. Portanto, se alguém se entrega à política de tentar satisfazer os desejos materiais cedendo aos im­pulsos da matéria, jamais será exitoso. Na civilização moderna, todos se ocupam em desenvolvimento econômico, que é uma das maneiras de constantemente gotejar gordura no fogo material. Os países ocidentais atingiram o ápice da civilização material, apesar do que as pessoas estão insatisfeitas. Verdadeira satisfação é a cons­ciência de Kṛṣṇa. Confirma isso a Bhagavad-gītā (5.29), onde Kṛṣṇa diz:

bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ
sarva-loka-maheśvaram
suhṛdaṁ sarva-bhūtānāṁ
jñātvā māṁ śāntim ṛcchati

“Os sábios, conhecendo-Me como o objetivo último de todos os sacrifícios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e semideuses e o benfeitor e benquerente de todas as entidades vivas, obtêm paz, aliviando-se das dores e sofrimentos materiais.” Deve-se, portanto, adotar a consciência de Kṛṣṇa e avançar em consciência de Kṛṣṇa, seguindo adequadamente os princípios reguladores. Então, pode-se alcançar uma eterna vida bem-aventurada, cheia de paz e conhecimento.

Texto

sa kadācid upāsīna
ātmāpahnavam ātmanaḥ
dadarśa bahv-ṛcācāryo
mīna-saṅga-samutthitam

Sinônimos

saḥ — ele, Saubhari Muni; kadācit — certo dia; upāsīnaḥ — sentado; ātma-apahnavam — descambando da plataforma de tapasya; ātmanaḥ — causado a si mesmo; dadarśa — observou; bahu-ṛca-ācāryaḥ — Saubhari Muni, que era hábil em cantar mantras; mīna-saṅga — as atividades sexuais de um peixe; samutthitam — causado por este incidente.

Tradução

Depois disso, certo dia em que Saubhari Muni, que era hábil em cantar mantras, estava sentado em um lugar solitário, ele pensou consigo sobre a causa de sua queda, a qual acontecera porque ele simplesmente ficara impressionado com a atividade sexual de um peixe.

Comentário

SIGNIFICADO—Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta que Saubhari Muni caíra de sua austeridade por ter cometido vaiṣṇava-aparādha. A história narra que, quando Garuḍa quis comer peixes, Saubhari Muni protegeu os peixes desnecessariamente. Visto que os planos de Garuḍa foram frustrados e ele, portanto, não conseguiu alimentar-se, Saubhari Muni decer­to cometeu uma grande ofensa contra um vaiṣṇava. Devido a esse vaiṣṇava-aparādha, uma ofensa aos pés de lótus de um vaiṣṇava, Saubhari Muni caiu de sua elevada posição de tapasya místico. Portanto, ninguém deve atrapalhar as atividades de um vaiṣṇava. Esta é a lição que devemos aprender neste incidente vivido por Saubhari Muni.

Texto

aho imaṁ paśyata me vināśaṁ
tapasvinaḥ sac-carita-vratasya
antarjale vāri-cara-prasaṅgāt
pracyāvitaṁ brahma ciraṁ dhṛtaṁ yat

Sinônimos

aho — ai de mim; imam — isto; paśyata — vê só; me — minha; vināśam — queda; tapasvinaḥ — que era um místico tão grandioso, realizando austeridade; sat-carita — de caráter excelente, seguindo todas as regras e regulações necessárias; vratasya — de alguém que fez um voto estrito; antaḥ-jale — nas profundezas da água; vāri-cara­-prasaṅgāt — devido às atividades dos seres aquáticos; pracyāvitam — caído; brahma — das atividades em que o Brahman é compreendido ou em que se executa austeridade; ciram — por um longo tempo; dhṛtam — executadas; yat — as quais.

Tradução

Ai de mim! Enquanto praticava austeridades, mesmo nas profundezas da água, e enquanto seguia todas as regras e regulações prati­cadas pelas pessoas santas, perdi os resultados de minhas grandes austeridades, simplesmente porque fiquei interessado nas atividades sexuais de um peixe. Todos devem pensar sobre essa queda e aprender algo com isso.

Texto

saṅgaṁ tyajeta mithuna-vratīnāṁ mumukṣuḥ
sarvātmanā na visṛjed bahir-indriyāṇi
ekaś caran rahasi cittam ananta īśe
yuñjīta tad-vratiṣu sādhuṣu cet prasaṅgaḥ

Sinônimos

saṅgam — associação; tyajeta — devem abandonar; mithuna-vratīnām — de uma pessoa ocupada em atividades sexuais, aprovadas ou censuradas; mumukṣuḥ — pessoas que desejam a liberação; sarva-ātma­nā — sob todos os aspectos; na — não; visṛjet — empregam; bahiḥ-in­driyāṇi — sentidos externos; ekaḥ — sozinhas; caram — movendo-se; rahasi — em um lugar solitário; cittam — o coração; anante īśe — fixo nos pés de lótus da ilimitada Suprema Personalidade de Deus; yuñ­jīta — alguém pode ocupar-se; tat-vratiṣu — com pessoas da mesma categoria (que desejam libertar-se do cativeiro material); sādhuṣu — semelhantes pessoas santas; cet — se; prasaṅgaḥ — ele quer associação.

Tradução

Alguém que deseja libertar-se do cativeiro material deve abando­nar a companhia de pessoas interessadas em vida sexual e não deve empregar seus sentidos em afazeres externos [isto é, em ver, ouvir, falar, caminhar e assim por diante], senão que deve sempre permanecer em um lugar solitário, fixando toda a sua mente nos pés de lótus da ili­mitada Personalidade de Deus, e se acaso quiser alguma associação, deve associar-se com pessoas cujas ocupações se coadunem com as suas.

Comentário

SIGNIFICADO—Saubhari Muni, mostrando as conclusões tiradas de sua experiência prática, instrui-nos que as pessoas interessadas em chegar ao outro lado do oceano material devem abandonar a companhia de pessoas que gostam de vida sexual e de acumular dinheiro. Isso também é aconselhado por Śrī Caitanya Mahāprabhu:

niṣkiñcanasya bhagavad-bhajanonmukasya
pāraṁ paraṁ jigamiṣor bhava-sāgarasya
sandarśanaṁ viṣayiṇām atha yoṣitāṁ ca
hā hanta hanta viṣa-bhakṣaṇato ’py asādhu

(Caitanya-candrodaya-nāṭaka 8.27)

“Oh! Para alguém que deseja seriamente cruzar o oceano material e ocupar-se em transcendental serviço amoroso ao Senhor sem motivação material, ver um materialista ocupado em gozo dos sentidos e ver mulheres que têm esse mesmo tipo de interesse é mais abominável do que beber veneno deliberadamente.”

Aquele que deseja libertar-se por completo do cativeiro material deve ocupar-se no transcendental serviço amoroso ao Senhor. Ele não deve associar-se com viṣayī – pessoas materialistas ou interessa­das em vida sexual. Todo materialista se interessa por sexo. Assim, sem rodeios, aconselha-se que as pessoas de elevada santidade evitem associar-se com aqueles que têm inclinações materialistas. Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura também recomenda que as pessoas se ocupem em servir aos ācāryas e, no caso de quererem associação, devem buscar a companhia de devotos (tāṅdera caraṇa sevi bhakta-sane vāsa). O movimento da consciência de Kṛṣṇa está abrindo muitos centros simplesmente para fazer devotos de modo que, associando-se com os membros desses centros, as pessoas automaticamente percam o interesse pelos assuntos materiais. Embora isso se trate de uma proposta ambiciosa, essa associação está mostrando-se eficaz graças à misericórdia de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Associando-se gradualmente com os membros do movimento da consciência de Kṛṣṇa, co­mendo prosāda e participando do canto do mantra Hare Kṛṣṇa, as pessoas comuns estão elevando-se consideravelmente. Saubhari Muni se lamenta do fato de ter-se dado a uma má companhia mesmo nas profundezas da água. Devido à má associação com o peixe ocupado em atividade sexual, ele caiu. Portanto, um lugar solitário também não é seguro, a menos que haja boas companhias.

Texto

ekas tapasvy aham athāmbhasi matsya-saṅgāt
pañcāśad āsam uta pañca-sahasra-sargaḥ
nāntaṁ vrajāmy ubhaya-kṛtya-manorathānāṁ
māyā-guṇair hṛta-matir viṣaye ’rtha-bhāvaḥ

Sinônimos

ekaḥ — apenas um; tapasvī — grande sábio; aham — eu; atha — assim; ambhasi — na água profunda; matsya-saṅgāt — ao associar-se com o peixe; pañcāśat — cinquenta; āsam — obtive esposas; uta — e o que dizer de gerar cem filhos em cada uma delas; pañca-sahasra-sargaḥ — procriação de cinco mil; na antam — nenhum fim; vrajāmi — posso encontrar; ubhaya-kṛtya — deveres desta vida e da próxima; manora­thānām — invenções mentais; māyā-guṇaiḥ — influenciado pelos modos da natureza material; hṛta — perdido; matiḥ viṣaye — grande atração pelas coisas materiais; artha-bhāvaḥ — temas de interesse pessoal.

Tradução

No começo, eu estava sozinho e ocupado em realizar as austerida­des do yogo místico. Mais tarde, porém, devido à associação com o peixe que estava ocupado em sexo, desejei casar-me. Então, tornei-me o esposo de cinquenta mulheres e, em cada uma delas, gerei cem filhos, e minha família recebeu esses cinco mil membros. Pela influência dos modos da natureza material, caí, pensando que seria feliz na vida material. Mas vejo que meus desejos de obter gozo ma­terial nunca terminam, nem nesta vida, nem na próxima.

Texto

evaṁ vasan gṛhe kālaṁ
virakto nyāsam āsthitaḥ
vanaṁ jagāmānuyayus
tat-patnyaḥ pati-devatāḥ

Sinônimos

evam — dessa maneira; vasan — vivendo; gṛhe — no lar; kālam — o tempo passando; viraktaḥ — desapegou-se; nyāsam — na ordem de vida renunciada; āsthitaḥ — situou-se; vanam — à floresta; jagāma — ele foi; anuyayuḥ — era seguido por; tat-patnyaḥ — todas as suas es­posas; pati-devatāḥ — porque o único objeto adorável delas era o seu esposo.

Tradução

Dessa maneira, durante algum tempo, ele passou sua vida envolvido com afazeres domésticos, mas, posteriormente, desapegou-se do gozo material. Para renunciar à associação material, aceitou a ordem de vānaprastha e foi para a floresta. Suas devotadas esposas seguiram-no, pois seu esposo era seu único abrigo.

Texto

tatra taptvā tapas tīkṣṇam
ātma-darśanam ātmavān
sahaivāgnibhir ātmānaṁ
yuyoja paramātmani

Sinônimos

tatra — na floresta; taptvā — executando austeridades; tapaḥ — a austeridade com base em princípios reguladores; tīkṣṇam — muito severamente; ātma-darśanam — que favorece a autorrealização; ātmavān — versado no eu; saha — com; eva — decerto; agnibhiḥ — fogo; ātmānam — o eu pessoal; yuyoja — ele se ocupou; parama-ātmani — lidando com a Alma Suprema.

Tradução

Quando Saubhari Muni, que era inteiramente versado no eu, foi para a floresta, ele realizou severas penitências. Dessa maneira, no fogo do momento da morte, ele se ocupou definitivamente a serviço da Suprema Personalidade de Deus.

Comentário

SIGNIFICADO—Na hora da morte, o fogo queima o corpo grosseiro, e, caso deixe de haver desejos de gozo material, o corpo sutil também acaba e, dessa maneira, sobra apenas a alma pura. Confirma isso a Bhagavad-­gītā (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti). Se alguém se livra do cativeiro que lhe é imposto pelos corpos materiais grosseiro e sutil e se ele permanece uma alma pura, ele retorna ao lar, retorna ao Supremo, para se ocupar a serviço do Senhor. Tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti: ele volta ao lar, volta ao Supremo. Assim, parece que Saubhari Muni alcançou essa etapa perfeita.

Texto

tāḥ sva-patyur mahārāja
nirīkṣyādhyātmikīṁ gatim
anvīyus tat-prabhāveṇa
agniṁ śāntam ivārciṣaḥ

Sinônimos

tāḥ — todas as esposas de Saubhari; sva-patyuḥ — com seu próprio esposo; mahārāja — ó rei Parīkṣit; nirīkṣya — observando; adhyātmi­kīm — espiritual; gatim — progresso; anvīyuḥ — seguiram; tat-prabhāveṇa — por influência de seu esposo (embora elas fossem desqualificadas, também puderam ir para o mundo espi­ritual por influência de seu esposo); agnim — no fogo; śāntam — imergirem por completo; iva — como; arciṣaḥ — as chamas.

Tradução

Ó Mahārāja Parīkṣit, observando o progresso que seu esposo alcançou em existência espiritual, as esposas de Saubhari Muni, através do seu poder espiritual, também foram capazes de entrar no mundo espiritual, assim como a chama de um fogo cessa quando o fogo se extingue.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma na Bhagavad-gītā (9.32), striyo vaiśyās tathā śūdrās te ’pi yānti parāṁ gatim. As mulheres não são tidas como muito capacitadas a seguir os princípios espirituais, mas, se uma mulher é assaz afortunada para obter um esposo adequado, que seja avançado espiritualmente, e se ela sempre se ocupa em servi-lo, re­cebe também o mesmo benefício alcançado por seu esposo. Aqui, afirma-se claramente que, por influência de seu esposo, as esposas de Saubhari Muni também entraram no mundo espiritual. Elas não eram qualificadas para isso, mas, como eram fiéis seguidoras de seu esposo, também entraram no mundo espiritual com ele. Logo, a mulher deve ser uma serva fiel de seu esposo e, se o esposo for avan­çado na vida espiritual, a mulher naturalmente obterá a oportunidade de ingressar no mundo espiritual.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do nono canto, sexto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “A Queda de Saubhari Muni”.