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Capítulo Dez

A Batalha entre os Semideuses e os Demônios

O resumo do capítulo dez é o seguinte. Devido à inveja, a luta entre os demônios e os semideuses prosseguiu. Quando os semideu­ses, estando quase derrotados pelas manobras demoníacas, ficaram melancólicos, o Senhor Viṣṇu apareceu para eles.

Tanto os semideuses quanto os demônios são hábeis em ativida­des que envolvem a energia material, mas os semideuses são devo­tos do Senhor, ao passo que os demônios são exatamente o oposto. Os semideuses e os demônios bateram o Oceano de Leite para obter dele o néctar, mas os demônios, não sendo devotos do Senhor, não colheram benefício algum. Após alimentar os semideuses com o néctar, o Senhor Viṣṇu, montado nas costas de Garuḍa, retornou à Sua morada, mas os demônios, estando muito ressentidos, voltaram a declarar guerra aos semideuses. Bali Mahārāja, filho de Virocana, tornou-se o comandante-em-chefe dos demônios. Logo no começo da batalha, os semideuses se prepararam para matar os demônios. Indra, o rei dos céus, lutou contra Bali, e outros semideuses, tais como Vāyu, Agni e Varuṇa, combateram outros líderes dos demô­nios. Nessa luta, os demônios foram derrotados e, para escaparem da morte, começaram a recorrer a manobras materiais, através das quais manifestaram muitas ilusões, matando diversos soldados que estavam do lado dos semideuses. Os semideuses, não encontrando nenhum outro recurso, voltaram a se render à Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, que então apareceu e anulou todas as ilusões produzidas pelos malabarismos dos demônios. Heróis entre os demô­nios, tais como Kālanemi, Mālī, Sumālī e Mālyavān, lutaram contra a Suprema Personalidade de Deus e foram todos mortos pelo Senhor. Assim, os semideuses se livraram de todos os perigos.

Texto

śrī-śuka uvāca
iti dānava-daiteyā
nāvindann amṛtaṁ nṛpa
yuktāḥ karmaṇi yattāś ca
vāsudeva-parāṅmukhāḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; iti — assim; dānava-­daiteyāḥ — os asuras e os demônios; na — não; avindan — alcançaram (o resultado desejado); amṛtam — néctar; nṛpa — ó rei; yuktāḥ — estan­do todos reunidos; karmaṇi — na batedura; yattāḥ — ocupados com plena atenção e empenho; ca — e; vāsudeva — da Suprema Personali­dade de Deus, Kṛṣṇa; parāṅmukhāḥ — porque não eram devotos.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, todos os demônios e Daityas ocupa­ram toda a sua atenção e esforço em bater o oceano, mas, como não eram devotos de Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, não conseguiram beber o néctar.

Texto

sādhayitvāmṛtaṁ rājan
pāyayitvā svakān surān
paśyatāṁ sarva-bhūtānāṁ
yayau garuḍa-vāhanaḥ

Sinônimos

sādhayitvā — após executar; amṛtam — produção do néctar; rājan — ó rei; pāyayitvā — e dar como alimento; svakān — para Seus próprios devotos; surān — aos semideuses; paśyatām — na presença de; sarva­-bhūtānām — todas as entidades vivas; yayau — foi embora; garuḍa-­vāhanaḥ — a Suprema Personalidade de Deus, carregado por Garuḍa.

Tradução

Ó rei, após concluir os afazeres que consistiram em bater o oceano e alimentar com néctar os semideuses, que são Seus queridos devo­tos, a Suprema Personalidade de Deus retirou-Se daquele local e, montado em Garuḍa, partiu rumo à Sua própria morada.

Texto

sapatnānāṁ parām ṛddhiṁ
dṛṣṭvā te diti-nandanāḥ
amṛṣyamāṇā utpetur
devān pratyudyatāyudhāḥ

Sinônimos

sapatnānām — dos seus rivais, os semideuses; parām — a melhor; ṛddhim — opulência; dṛṣṭvā — observando; te — todos eles; diti-nanda­nāḥ — os filhos de Diti, os Daityas; amṛṣyamāṇāḥ — estando inconformados; utpetuḥ — correram rumo a (apenas para criar distúrbios); devān — os semideuses; pratyudyata-āyudhāḥ — suas armas em riste.

Tradução

Vendo a vitória dos semideuses, os demônios ficaram inconforma­dos com sua opulência superior. Então, com as armas em riste, eles co­meçaram a marchar na direção dos semideuses.

Texto

tataḥ sura-gaṇāḥ sarve
sudhayā pītayaidhitāḥ
pratisaṁyuyudhuḥ śastrair
nārāyaṇa-padāśrayāḥ

Sinônimos

tataḥ — em seguida; sura-gaṇāḥ — os semideuses; sarve — todos eles; sudhayā — pelo néctar; pītayā — que fora bebido; edhitāḥ — estando fortificados devido a esse seu ato de beber; pratisaṁyuyudhuḥ — eles contra-atacaram os demônios; śastraiḥ — com armas convencionais; nārāyaṇa-pada-āśrayāḥ — sendo que sua verdadeira arma é o refúgio aos pés de lótus de Nārāyaṇa.

Tradução

Em seguida, estando fortificados por terem bebido o néctar, os semideuses, que sempre se abrigam nos pés de lótus de Nārāyaṇa, usaram suas várias armas para, em um espírito belicoso, contra-atacar os demônios.

Texto

tatra daivāsuro nāma
raṇaḥ parama-dāruṇaḥ
rodhasy udanvato rājaṁs
tumulo roma-harṣaṇaḥ

Sinônimos

tatra — ali (na praia do Oceano de Leite); daiva — os semideuses; asuraḥ — os demônios; nāma — como eles são conhecidos; raṇaḥ — luta; parama — muito; dāruṇaḥ — feroz; rodhasi — na orla marítima; udanvataḥ — do Oceano de Leite; rājan — ó rei; tumulaḥ — tumul­tuosa; roma-harṣaṇaḥ — pelos eriçados.

Tradução

Ó rei, às margens do Oceano de Leite, os semideuses e demônios passaram a travar uma furiosa batalha. A luta era tão terrível que bastava ouvir sobre ela para o ouvinte arrepiar-se.

Texto

tatrānyonyaṁ sapatnās te
saṁrabdha-manaso raṇe
samāsādyāsibhir bāṇair
nijaghnur vividhāyudhaiḥ

Sinônimos

tatra — depois disso; anyonyam — uns aos outros; sapatnāḥ — todos eles se tornando lutadores; te — eles; saṁrabdha — muito irados; ma­nasaḥ — mentalmente; raṇe — naquela batalha; samāsādya — conseguindo a oportunidade de lutar entre si; asibhiḥ — com espadas; bāṇaiḥ — com flechas; nijaghnuḥ — começaram a combater; vividha-āyudhaiḥ — com muitas variedades de armas.

Tradução

Naquela luta, ambos os grupos estavam extremamente irados no seu íntimo e, impelidos pela inimizade, golpeavam o rival com espa­das, flechas e várias outras armas.

Comentário

SIGNIFICADO—Sempre existem duas classes de homens neste universo; não apenas neste planeta, mas também nos sistemas planetários superiores. Todos os reis que dominam planetas da categoria do Sol e da Lua também têm inimigos como Rāhu. É devido aos ataques ocasionais que Rāhu lança ao Sol e à Lua que ocorrem os eclipses. A luta entre os demônios e os semideuses é perpétua; ela acabará somente quando, de ambos os lados, as pessoas inteligentes aceitarem a consciência de Kṛṣṇa.

Texto

śaṅkha-tūrya-mṛdaṅgānāṁ
bherī-ḍamariṇāṁ mahān
hasty-aśva-ratha-pattīnāṁ
nadatāṁ nisvano ’bhavat

Sinônimos

śaṅkha — dos búzios; tūrya — de grandes clarins; mṛdaṅgānām — e de tambores; bherī — de cornetas; ḍamariṇām — de timbales; mahān — grandes e tumultuosos; hasti — de elefantes; aśva — de cavalos; ratha-­pattīnām — dos lutadores sobre quadrigas e pisando o solo; nadatām — todos eles fazendo sons juntos; nisvanaḥ — um som tumultuoso; abhavat — assim se tornou.

Tradução

O som dos búzios, clarins, tambores, bherīs e ḍamarīs [timbales], bem como o barulho produzido pelos elefantes, cavalos e soldados, que lutavam tanto em quadrigas quanto a pé, eram tonitruantes.

Texto

rathino rathibhis tatra
pattibhiḥ saha pattayaḥ
hayā hayair ibhāś cebhaiḥ
samasajjanta saṁyuge

Sinônimos

rathinaḥ — lutadores em quadrigas; rathibhiḥ — com os quadrigá­rios inimigos; tatra — no campo de batalha; pattibhiḥ — com os solda­dos de infantaria; saha — com; pattayaḥ — a infantaria dos soldados inimigos; hayāḥ — os cavalos; hayaiḥ — com os soldados inimigos; ibhāḥ — os soldados lutando montados nas costas de elefantes; ca — e; ibhaiḥ — com os soldados inimigos montados em elefantes; sama­sajjanta — juntos, começaram a lutar em nível de igualdade; saṁyuge — no campo de batalha.

Tradução

Naquele campo de batalha, os quadrigários lutavam com quadri­gários inimigos, os soldados de infantaria com a infantaria inimiga, os soldados de cavalaria com a cavalaria inimiga, e os soldados montados em elefantes com os soldados adversários que estavam montados em elefantes. Dessa maneira, a luta acontecia entre os mesmos tipos de rivais.

Texto

uṣṭraiḥ kecid ibhaiḥ kecid
apare yuyudhuḥ kharaiḥ
kecid gaura-mukhair ṛkṣair
dvīpibhir haribhir bhaṭāḥ

Sinônimos

uṣṭraiḥ — nas costas de camelos; kecit — algumas pessoas; ibhaiḥ — nas costas dos elefantes; kecit — algumas pessoas; apare — outras; yu­yudhuḥ — ocupadas em lutar; kharaiḥ — nas costas de asnos; kecit — algumas pessoas; gaura-mukhaiḥ — sobre macacos de rosto branco; ṛkṣaiḥ — sobre macacos de rosto vermelho; dvīpibhiḥ — sobre as costas de tigres; haribhiḥ — sobre as costas de leões; bhaṭāḥ — todos os soldados ocupados dessa maneira.

Tradução

Alguns soldados lutavam montados em camelos; outros, em elefantes; alguns, em asnos; outros, em macacos de rosto branco ou de rosto vermelho; alguns ainda, em tigres, e outros, em leões. Dessa maneira, todos se dedicavam a lutar.

Texto

gṛdhraiḥ kaṅkair bakair anye
śyena-bhāsais timiṅgilaiḥ
śarabhair mahiṣaiḥ khaḍgair
go-vṛṣair gavayāruṇaiḥ
śivābhir ākhubhiḥ kecit
kṛkalāsaiḥ śaśair naraiḥ
bastair eke kṛṣṇa-sārair
haṁsair anye ca sūkaraiḥ
anye jala-sthala-khagaiḥ
sattvair vikṛta-vigrahaiḥ
senayor ubhayo rājan
viviśus te ’grato ’grataḥ

Sinônimos

gṛdhraiḥ — montados em abutres; kaṅkaiḥ — em águias; bakaiḥ — em patos; anye — outros; śyena — montados em falcões; bhāsaiḥ — em bhāsas; timiṅgilaiḥ — em grandes peixes conhecidos como timiṅgilas; śarabhaiḥ — em śarabhas; mahiṣaiḥ — em búfalos; khaḍgaiḥ — em rinocerontes; go — em vacas; vṛṣaiḥ — em touros; gavaya-aruṇaiḥ — em gavayas e aruas; śivābhiḥ — em chacais; ākhubhiḥ — em ratos grandes; kecit — algumas pessoas; kṛkalāsaiḥ — em lagartos grandes; śaśaiḥ — em coelhos grandes; naraiḥ — em seres humanos; bastaiḥ — em bodes; eke — alguns; kṛṣṇa-sāraiḥ — em veados negros; haṁsaiḥ — em cisnes; anye — outros; ca — também; sūkaraiḥ — montados em javalis; anye — outros; jala-sthala-khagaiḥ — animais que vivem na água, na terra e no céu; sattvaiḥ — por criaturas sendo usadas como veículos; vikṛta — são deformados; vigrahaiḥ — por esses animais cujos corpos; senayoḥ — dos dois grupos de soldados; ubhayoḥ — de ambos; rājan — o rei; viviśuḥ — entraram; te — todos eles; agrataḥ agrataḥ — adiantando-se face a face.

Tradução

Ó rei, alguns soldados lutavam montados em abutres, águias, patos, falcões e pássaros bhāsa. Alguns lutavam sobre as costas de timiṅgilas, que podem devorar enormes baleias, alguns lutavam montados em sarabhas, e outros o faziam montados em búfalos, rinocerontes, vacas, touros, vacas selvagens e aruṇas. Outros lutavam montados em chacais, ratos, lagartos, coelhos, seres humanos, bodes, veados negros, cisnes e ja­valis. Dessa maneira, montados em animais aquáticos, terrestres e aéreos, incluindo animais com corpos deformados, os dois exércitos se defrontaram e deram prosseguimento à luta.

Texto

citra-dhvaja-paṭai rājann
ātapatraiḥ sitāmalaiḥ
mahā-dhanair vajra-daṇḍair
vyajanair bārha-cāmaraiḥ
vātoddhūtottaroṣṇīṣair
arcirbhir varma-bhūṣaṇaiḥ
sphuradbhir viśadaiḥ śastraiḥ
sutarāṁ sūrya-raśmibhiḥ
deva-dānava-vīrāṇāṁ
dhvajinyau pāṇḍu-nandana
rejatur vīra-mālābhir
yādasām iva sāgarau

Sinônimos

citra-dhvaja-paṭaiḥ — com bandeiras muito bem decoradas e com dosséis; rājan — ó rei; ātapatraiḥ — com sombrinhas para proteger dos raios solares; sita-amalaiḥ — a maioria deles muito limpos e brancos; mahā-dhanaiḥ — com preciosíssimas; vajra-daṇḍaiḥ — com cabos feitos de joias preciosas e pérolas; vyajanaiḥ — com abanos; bārha-cāmaraiḥ — com outros abanos feitos de penas de pavão; vāta-uddhūta — balançando com a brisa; uttara-uṣṇīṣaiḥ — com roupas superiores e inferiores; arcirbhiḥ — pela refulgência; varma-bhūṣaṇaiḥ — com adornos e escudos; sphuradbhiḥ — brilhando; viśadaiḥ — afiadas e limpas; śastraiḥ — com armas; sutarām — excessivamente; sūrya-raśmibhiḥ — com a ofuscante iluminação do Sol; deva-dānava-vīrāṇām — de todos os heróis dos grupos dos demônios e semideuses; dhvajinyau — os dois grupos de soldados, cada um portando sua própria bandeira; pāṇḍu-nandana — ó descendente de Mahārāja Pāṇḍu; rejatuḥ — distintamente reconhecidos; vīra-mālā­bhiḥ — com guirlandas usadas por heróis; yādasām — de seres aquáticos; iva — assim como; sāgarau — dois oceanos.

Tradução

Ó rei, ó descendente de Mahārāja Pāṇḍu, os soldados dos semi­deuses e dos demônios estavam decorados com dosséis, bandeiras coloridas e sombrinhas com cabos feitos de joias preciosas e pérolas. Ademais, estavam decorados com abanos feitos de penas de pavão e também com outros abanos. Os soldados, com suas roupas superiores e inferiores balançando com a brisa, apresentavam uma marcante beleza natural, e, à luz do sol radiante, seus escudos, adornos e armas limpas e afiadas pareciam ofuscantes. Assim, as fileiras de soldados pareciam dois oceanos com grupos de seres aquá­ticos.

Texto

vairocano baliḥ saṅkhye
so ’surāṇāṁ camū-patiḥ
yānaṁ vaihāyasaṁ nāma
kāma-gaṁ maya-nirmitam
sarva-sāṅgrāmikopetaṁ
sarvāścaryamayaṁ prabho
apratarkyam anirdeśyaṁ
dṛśyamānam adarśanam
āsthitas tad vimānāgryaṁ
sarvānīkādhipair vṛtaḥ
bāla-vyajana-chatrāgryai
reje candra ivodaye

Sinônimos

vairocanaḥ — o filho de Virocana; baliḥ — Mahārāja Bali; saṅkhye — na batalha; saḥ — ele, tão célebre; asurāṇām — dos demônios; camū-­patiḥ — comandante-em-chefe; yānam — aeroplano; vaihāyasam — cha­mado Vaihāyasa; nāma — pelo nome; kāma-gam — capaz de voar a qualquer parte que desejasse; maya-nirmitam — feito pelo demônio Maya; sarva — todo; sāṅgrāmika-upetam — equipado com toda classe de armas indispensáveis na luta contra todas as diferentes classes de inimigos; sarva-āścarya-mayam — maravilhoso sob todos os aspec­tos; prabho — ó rei; apratarkyam — inexplicável; anirdeśyam — indes­critível; dṛśyamānam — às vezes, visível; adarśanam — às vezes, invisível; āsthitaḥ — estando sentado em tal; tat — aquele; vimāna-agryam — excelente aeroplano; sarva — todos; anīka-adhipaiḥ — pelos comandantes dos soldados; vṛtaḥ — cercado; bāla-vyajana-chatra-agryaiḥ — protegido por belas sombrinhas decoradas e pela melhor das cāmaras; reje — brilhantemente situada; candraḥ — a Lua; iva — como; udaye — no mo­mento de aparecer à noite.

Tradução

Para aquela batalha, o imensamente célebre comandante-em-chefe, Mahā­rāja Bali, filho de Virocana, sentou-se em um maravilhoso aeroplano chamado Vaihāyasa. Ó rei, esse aeroplano belamente decorado fora construído pelo demônio Maya e estava equipado com armas próprias para toda classe de combate. Ele era inconcebível e indescritível. Na verdade, era ora visível, ora invisível. Sentado nesse aeroplano, coberto por uma bela sombrinha protetora e sendo abanado pela melhor das cāmaras, Mahārāja Bali, cercado por seus capitães e comandantes, parecia a Lua a surgir à noite, ilu­minando todas as direções.

Texto

tasyāsan sarvato yānair
yūthānāṁ patayo ’surāḥ
namuciḥ śambaro bāṇo
vipracittir ayomukhaḥ
dvimūrdhā kālanābho ’tha
prahetir hetir ilvalaḥ
śakunir bhūtasantāpo
vajradaṁṣṭro virocanaḥ
hayagrīvaḥ śaṅkuśirāḥ
kapilo meghadundubhiḥ
tārakaś cakradṛk śumbho
niśumbho jambha utkalaḥ
ariṣṭo ’riṣṭanemiś ca
mayaś ca tripurādhipaḥ
anye pauloma-kāleyā
nivātakavacādayaḥ
alabdha-bhāgāḥ somasya
kevalaṁ kleśa-bhāginaḥ
sarva ete raṇa-mukhe
bahuśo nirjitāmarāḥ
siṁha-nādān vimuñcantaḥ
śaṅkhān dadhmur mahā-ravān
dṛṣṭvā sapatnān utsiktān
balabhit kupito bhṛśam

Sinônimos

tasya — dele (Mahārāja Bali); āsan — situados; sarvataḥ — por toda a volta; yānaiḥ — em diferentes veículos; yūthānām — dos soldados; patayaḥ — os comandantes; asurāḥ — demônios; namuciḥ — Namuci; śambaraḥ — Śambara; bāṇaḥ — Bāṇa; vipracittiḥ — Vipracitti; ayo­mukhaḥ — Ayomukha; dvimūrdhā — Dvimūrdhā; kālanābhaḥ — Kāla­nābha; atha — também; prahetiḥ — Praheti; hetiḥ — Heti; ilvalaḥ — Ilva­la; śakuniḥ — Śakuni; bhūtasantāpaḥ — Bhūtasantāpa; vajradaṁṣṭraḥ — Vajradaṁṣṭra; virocanaḥ — Virocana; hayagrīvaḥ — Hayagrīva; śaṅkuśirāḥ — Śaṅkuśirā; kapilaḥ — Kapila; meghadundubhiḥ — Me­ghadundubhi; tārakaḥ — Tāraka; cakradṛk — Cakradṛk; śumbhaḥ — Śumbha; niśumbhaḥ — Niśumbha; jambhaḥ — Jambha; utkalaḥ — Ut­kala; ariṣṭaḥ — Ariṣṭa; ariṣṭanemiḥ — Ariṣṭanemi; ca — e; mayaḥ ca — e Maya; tripurādhipaḥ — Tripurādhipa; anye — outros; pauloma-kā­leyāḥ — os filhos de Puloma e os Kāleyas; nivātakavaca-ādayaḥ — Nivātakavaca e outros demônios; alabdha-bhāgāḥ — todos incapa­zes de receber uma parte; somasya — do néctar; kevalam — meramente; kleśa-bhāginaḥ — os demônios compartilharam do trabalho; sarve — todos eles; ete — os demônios; raṇa-mukhe — na frente de batalha; bahuśaḥ — com força excessiva; nirjita-amarāḥ — sendo muito incômodas para os semideuses; siṁha-nādān — vibrações como aquelas dos leões; vimuñcantaḥ — proferindo; śaṅkhān — búzios; dadhmuḥ — so­praram; mahā-ravān — fazendo um som tumultuoso; dṛṣṭvā — após ver; sapatnān — seus rivais; utsiktān — ferozes; balabhit — (senhor Indra), temendo a força; kupitaḥ — ficando irado; bhṛśam — extrema­mente.

Tradução

Mahārāja Bali estava cercado por todos os lados pelos comandan­tes e capitães dos demônios, sentados em suas respectivas quadrigas. Entre eles, estavam os seguintes demônios: Namuci, Śambara, Bāṇa, Vipracitti, Ayomukha, Dvimūrdhā, Kālanābha, Praheti, Heti, Ilvala, Śakuni, Bhūtasantāpa, Vajradaṁṣṭra, Virocana, Hayagrīva, Śaṅkuśirā, Kapila, Meghadundubhi, Tāraka, Cakradṛk, Śumbha, Niśumbha, Jambha, Utkala, Ariṣṭa, Ariṣṭanemi, Tripurādhipa, Maya, os filhos de Puloma, os Kāleyas e Nivātakavaca. Todos esses demônios foram privados de sua parte do néctar e compartilharam mera­mente do trabalho de bater o oceano. Agora, eles lutavam contra os semideuses e, para animar seus exércitos, faziam um som tumul­tuoso como o rugir de leões e sopravam fortemente seus búzios. Ao ver essa situação de seus ferozes rivais, Balabhit, o senhor Indra, ficou extremamente irado.

Texto

airāvataṁ dik-kariṇam
ārūḍhaḥ śuśubhe sva-rāṭ
yathā sravat-prasravaṇam
udayādrim ahar-patiḥ

Sinônimos

airāvatam — Airāvata; dik-kariṇam — o grande elefante que podia ir a qualquer parte; ārūḍhaḥ — montado em; śuśubhe — ficou muito belo de se ver; sva-rāṭ — Indra; yathā — assim como; sravat — difluen­tes; prasravaṇam — ondas de vinho; udaya-adrim — em Udayagiri; ahaḥ-patiḥ — o Sol.

Tradução

Montado em Airāvata, um elefante que pode ir a qualquer lugar e que mantém um suprimento de água e vinho que são por ele es­guichados, o senhor Indra parecia exatamente o Sol nascendo em Udayagiri, onde existem reservatórios de água.

Comentário

SIGNIFICADO—No pico da montanha chamada Udayagiri, existem grandes lagos dos quais a água jorra continuamente, formando cachoeiras. De modo semelhante, Airāvata, o carregador de Indra, armazena um suprimento de água e vinho e o jorra na direção do senhor Indra. Assim, Indra, o rei dos céus, montado nas costas de Airāvata, pare­cia o Sol brilhante nascendo sobre Udayagiri.

Texto

tasyāsan sarvato devā
nānā-vāha-dhvajāyudhāḥ
lokapālāḥ saha-gaṇair
vāyv-agni-varuṇādayaḥ

Sinônimos

tasya — do senhor Indra; āsan — situados; sarvataḥ — por toda a volta; devāḥ — todos os semideuses; nānā-vāha — com muitas variedades de carregadores; dhvaja-āyudhāḥ — e com bandeiras e armas; loka-pālāḥ — todos os líderes dos vários sistemas planetários superio­res; saha — com; gaṇaiḥ — seus associados; vāyu — o semideus que controla o ar; agni — o semideus que controla o fogo; varuṇa — o se­mideus que controla a água; ādayaḥ — todos eles cercando o senhor Indra.

Tradução

Cercando o senhor Indra, o rei dos céus, estavam os semideuses, sentados em várias espécies de veículos e decorados com bandeiras e armas. Presentes entre eles, encontravam-se Vāyu, Agni, Varuṇa e outros governantes de vários planetas, juntamente com seus as­sociados.

Texto

te ’nyonyam abhisaṁsṛtya
kṣipanto marmabhir mithaḥ
āhvayanto viśanto ’gre
yuyudhur dvandva-yodhinaḥ

Sinônimos

te — todos eles (os semideuses e os demônios); anyonyam — uns dos outros; abhisaṁsṛtya — tendo-se aproximado face a face; kṣipan­taḥ — insultando-se mutuamente; marmabhiḥ mithaḥ — ferindo muito o âmago do coração um do outro; āhvayantaḥ — ao dirigirem-se uns aos outros; viśantaḥ — tendo entrado no campo de batalha; agre — fronte; yuyudhuḥ — lutaram; dvandva-yodhinaḥ — os combatentes se defrontando aos pares.

Tradução

Os semideuses e demônios se colocaram uns diante dos outros e se insultaram mutuamente com palavras que feriam o coração. Então, aproximaram-se e, aos pares, começaram a lutar face a face.

Texto

yuyodha balir indreṇa
tārakeṇa guho ’syata
varuṇo hetināyudhyan
mitro rājan prahetinā

Sinônimos

yuyodha — lutou; baliḥ — Mahārāja Bali; indreṇa — com o rei Indra; tārakeṇa — com Tāraka; guhaḥ — Kārttikeya; asyata — ocupado em lutar; varuṇaḥ — o semideus Varuṇa; hetinā — com Heti; ayudhyat — lutaram entre si; mitraḥ — o semideus Mitra; rājan — ó rei; praheti­nā — com Praheti.

Tradução

Ó rei, Mahārāja Bali lutou contra Indra; Kārttikeya, contra Tāraka; Varuṇa, contra Heti, e Mitra, contra Praheti.

Texto

yamas tu kālanābhena
viśvakarmā mayena vai
śambaro yuyudhe tvaṣṭrā
savitrā tu virocanaḥ

Sinônimos

yamaḥ — Yamarāja; tu — na verdade; kālanābhena — com Kāla­nābha; viśvakarmā — Viśvakarmā; mayena — com Maya; vai — na ver­dade; śambaraḥ — Śambara; yuyudhe — lutou; tvaṣṭrā — com Tvaṣṭā; savitrā — com o deus do Sol; tu — na verdade; virocanaḥ — o demônio Virocana.

Tradução

Yamarāja lutou contra Kālanābha; Viśvakarmā, contra Maya Dānava; Tvaṣṭā, contra Śambara, e o deus do Sol, contra Virocana.

Texto

aparājitena namucir
aśvinau vṛṣaparvaṇā
sūryo bali-sutair devo
bāṇa-jyeṣṭhaiḥ śatena ca
rāhuṇā ca tathā somaḥ
pulomnā yuyudhe ’nilaḥ
niśumbha-śumbhayor devī
bhadrakālī tarasvinī

Sinônimos

aparājitena — com o semideus Aparājita; namuciḥ — o demônio Namuci; aśvinau — os irmãos Aśvinī; vṛṣaparvaṇā — com o demônio Vṛṣaparvā; sūryaḥ — o deus do Sol; bali-sutaiḥ — com os filhos de Bali; devaḥ — o deus; bāṇa-jyeṣṭhaiḥ — o líder de quem é Bāṇa; śatena — totalizando cem; ca — e; rāhuṇā — com Rāhu; ca — também; tathā — bem como; somaḥ — o deus da Lua; pulomnā — Puloma; yuyudhe — combateu; anilaḥ — o semideus Anila, que controla o ar; niśumbha — o demônio Niśumbha; śumbhayoḥ — com Śumbha; devī — a deusa Durgā; bhadrakālī — Bhadra Kālī; tarasvinī — extremamente po­derosa.

Tradução

O semideus Aparājita lutou contra Namuci, e os dois irmãos Aśvinī-kumāra lutaram contra Vṛṣaparvā. O deus do Sol lutou contra os cem filhos de Mahārāja Bali, encabeçados por Bāṇa, e o deus da Lua lutou contra Rāhu. O semideus controlador do ar lutou contra Puloma, e Śumbha e Niśumbha lutaram contra a supremamente poderosa energia material, Durgādevī, que se chama Bhadra Kālī.

Texto

vṛṣākapis tu jambhena
mahiṣeṇa vibhāvasuḥ
ilvalaḥ saha vātāpir
brahma-putrair arindama
kāmadevena durmarṣa
utkalo mātṛbhiḥ saha
bṛhaspatiś cośanasā
narakeṇa śanaiścaraḥ
maruto nivātakavacaiḥ
kāleyair vasavo ’marāḥ
viśvedevās tu paulomai
rudrāḥ krodhavaśaiḥ saha

Sinônimos

vṛṣākapiḥ — senhor Śiva; tu — na verdade; jambhena — com Jambha; mahiṣeṇa — com Mahiṣāsura; vibhāvasuḥ — o deus do fogo; ilvalaḥ — o demônio Ilvala; saha vātāpiḥ — com seu irmão, Vātāpi; brahma­-putraiḥ — com os filhos de Brahmā, tais como Vasiṣṭha; arim-dama — ó Mahārāja Parīkṣit, exterminador dos inimigos; kāmadevena — com Kāmadeva; durmarṣaḥ — Durmarṣa; utkalaḥ — o demônio Utkala; mātṛbhiḥ saha — com as semideusas conhecidas como Mātṛkās; bṛhaspatiḥ — o semideus Bṛhaspati; ca — e; uśanasā — com Śukrācārya; na­rakeṇa — com o demônio conhecido como Naraka; śanaiścaraḥ — o semideus Śani, ou Saturno; marutaḥ — os semideuses do ar; nivāta­kavacaiḥ — com o demônio Nivātakavaca; kāleyaiḥ — com os Kālakeyas; vasavaḥ amarāḥ — os Vasus lutaram; viśvedevāḥ — os semideuses Viśve­devas; tu — na verdade; paulomaiḥ — com os Paulomas; rudrāḥ — os onze Rudras; krodhavaśaiḥ saha — com os demônios Krodhavaśas.

Tradução

Ó Mahārāja Parīkṣit, exterminador dos inimigos [Arindama], o senhor Śiva lutou contra Jambha, e Vibhāvasu lutou contra Mahiṣāsura. Ilvala, juntamente com seu irmão Vātāpi, bateu-se com os filhos do senhor Brahmā. Durmarṣa lutou contra o Cupido; o demônio Utkala, contra a semideusa Mātṛkā; Bṛhaspati, contra Śukrācārya, e Śanaiścara [Saturno], contra Narakāsura. Os Maruts lutaram contra Nivātakavaca; os Vasus, contra os demônios Kālakeyas; os semideuses Viśvedevas, contra os demônios Paulomas, e os Rudras, contra os demônios Krodhavaśas, que eram vítimas da ira.

Texto

ta evam ājāv asurāḥ surendrā
dvandvena saṁhatya ca yudhyamānāḥ
anyonyam āsādya nijaghnur ojasā
jigīṣavas tīkṣṇa-śarāsi-tomaraiḥ

Sinônimos

te — todos eles; evam — dessa maneira; ājau — no campo de bata­lha; asurāḥ — os demônios; sura-indrāḥ — e os semideuses; dvandve­na — de dois em dois; saṁhatya — agrupando-se; ca — e; yudhyamā­nāḥ — ocupados em lutar; anyonyam — uns com os outros; āsādya — aproximando-se; nijaghnuḥ — golpearam com armas e mataram; ojasā — com muita força; jigīṣavaḥ — todos desejando a vitória; tīkṣṇa — afiadas; śara — com flechas; asi — com espadas; tomaraiḥ — com lanças.

Tradução

Todos esses semideuses e demônios se reuniram no campo de ba­talha com ânimo belicoso e investiram uns contra os outros com muito ímpeto. Todos desejando a vitória, eles lutaram aos pares, agredindo-se severamente com flechas, espadas e lanças afiadas.

Texto

bhuśuṇḍibhiś cakra-gadarṣṭi-paṭṭiśaiḥ
śakty-ulmukaiḥ prāsa-paraśvadhair api
nistriṁśa-bhallaiḥ parighaiḥ samudgaraiḥ
sabhindipālaiś ca śirāṁsi cicchiduḥ

Sinônimos

bhuśuṇḍibhiḥ — com armas chamadas bhuśuṇḍis; cakra — com discos; gadā — com maças; ṛṣṭi — com as armas chamadas ṛṣṭis; paṭṭiśaiḥ — com as armas chamadas paṭṭiśas; śakti — com as armas śaktis; ulmukaiḥ — com as armas chamadas ulmukas; prāsa — com as armas prāsas; paraśvadhaiḥ — com as armas chamadas paraśvadhas; api — também; nistriṁśa — com nistriṁśas; bhallaiḥ — com lanças; parighaiḥ — com as armas chamadas parighas; sa-mudgaraiḥ — com as armas conhecidas como mudgaras; sa-bhindipālaiḥ — com as armas bhindipālas; ca — também; śirāṁsi — cabeças; cicchiduḥ — cortaram.

Tradução

Eles cortaram as cabeças uns dos outros usando armas tais como bhuśuṇḍis, cakras, maças, ṛṣṭis, paṭṭiśas, śaktis, ulmukas, prāsas, paraśvadhas, nistriṁśas, lanças, parighas, mudgaras e bhindipālas.

Texto

gajās turaṅgāḥ sarathāḥ padātayaḥ
sāroha-vāhā vividhā vikhaṇḍitāḥ
nikṛtta-bāhūru-śirodharāṅghrayaś
chinna-dhvajeṣvāsa-tanutra-bhūṣaṇāḥ

Sinônimos

gajāḥ — elefantes; turaṅgāḥ — cavalos; sa-rathāḥ — com quadrigas; padātayaḥ — soldados de infantaria; sāroha-vāhāḥ — carregadores com os condutores; vividhāḥ — muitas variedades; vikhaṇḍitāḥ — dilacerados; nikṛtta-bāhu — braços decepados; ūru — coxas; śirodhara — pesco­ços; aṅghrayaḥ — pernas; chinna — destroçados; dhvaja — bandeiras; iṣvāsa — arcos; tanutra — escudos; bhūṣaṇāḥ — adornos.

Tradução

Os elefantes, cavalos, quadrigas, quadrigários, soldados de infantaria e várias classes de carregadores, juntamente com os seus condutores, foram dilacerados. Os braços, coxas, pescoços e pernas dos solda­dos foram decepados, e suas bandeiras, arcos, escudos e ornamentos foram destroçados.

Texto

teṣāṁ padāghāta-rathāṅga-cūrṇitād
āyodhanād ulbaṇa utthitas tadā
reṇur diśaḥ khaṁ dyumaṇiṁ ca chādayan
nyavartatāsṛk-srutibhiḥ pariplutāt

Sinônimos

teṣām — de todas as pessoas ocupadas no campo de batalha; padāghāta — devido ao impacto produzido pelos pés dos semideuses e demônios ao se chocarem contra o solo; ratha-aṅga — e pelas rodas das quadrigas; cūrṇitāt — o qual virou nuvens de poeira; āyodhanāt — do campo de batalha; ulbaṇaḥ — com muita força; utthitaḥ — levantando-se; tadā — naquele momento; reṇuḥ — as partículas de poeira; diśaḥ — todas as direções; kham — espaço exterior; dyumaṇim — indo até o Sol; ca — também; chādayan — cobrindo todo o espaço até este ponto; nyavartata — deixaram de flutuar no ar; asṛk — de sangue; srutibhiḥ — pelas partículas; pariplutāt — por serem bastante salpicadas.

Tradução

Devido ao impacto produzido pelas pernas dos demônios e semideuses e pelas rodas das quadrigas ao entrarem em contato com a solo, partículas de poeira levantaram-se violentamente na direção do céu e fizeram uma nuvem de poeira que, estendendo-se até o Sol, cobria todas as direções do espaço exterior. Porém, quando às partículas de poeira se juntaram gotas de sangue que eram salpicadas por todo o espaço, a nuvem de poeira não pôde continuar flutuando no céu.

Comentário

SIGNIFICADO—A nuvem de poeira cobria todo o horizonte, mas, quando gotas de sangue jorraram até o Sol, a nuvem de poeira não pôde conti­nuar flutuando no céu. Um ponto a ser observado aqui é que, em­bora se afirme que o sangue tenha alcançado o Sol, não se diz que ele tenha alcançado a Lua. Aparentemente, portanto, e isso é mencionado em outras passagens do Śrīmad-Bhāgavatam, o Sol, e não a Lua, é o planeta mais próximo da Terra. Já comentamos este ponto em muitas ocasiões. Em sequência, temos primeiro o Sol, depois a Lua, Marte, Júpiter e assim por diante. Calcula-se que o Sol esteja a 148.800.000 quilômetros acima da superfície da Terra, e, no Śrīmad-Bhāgavatam, aprendemos que a Lua está a 2.560.000 qui­lômetros acima do Sol. Portanto, a distância entre a Terra e a Lua orçaria pelos 152.000.000 de quilômetros. Logo, se uma cápsula es­pacial viajar a uma velocidade de 29.000 quilômetros por hora, como ela poderá alcançar a Lua em quatro dias? Ir à Lua a essa velocida­de levaria pelo menos sete meses. Portanto, é impossível que, em uma viagem à Lua, uma cápsula espacial tenha gastado apenas quatro dias para atingir aquele planeta.

Texto

śirobhir uddhūta-kirīṭa-kuṇḍalaiḥ
saṁrambha-dṛgbhiḥ paridaṣṭa-dacchadaiḥ
mahā-bhujaiḥ sābharaṇaiḥ sahāyudhaiḥ
sā prāstṛtā bhūḥ karabhorubhir babhau

Sinônimos

śirobhiḥ — com as cabeças; uddhūta — separados, arrancados de; kirīṭa — tendo seus elmos; kuṇḍalaiḥ — e brincos; saṁrambha-dṛgbhiḥ — olhos fitando com ira (embora as cabeças estivessem arrancadas dos corpos); paridaṣṭa — tendo sido mordidos pelos dentes; daccha­daiḥ — os lábios; mahā-bhujaiḥ — com grandes braços; sa-ābhara­ṇaiḥ — decorados com adornos; saha-āyudhaiḥ — e com armas em suas mãos, embora as mãos estivessem decepadas; sā — aquele campo de batalha; prāstṛtā — coberto; bhūḥ — o campo de batalha; karabha­-ūrubhiḥ — e com coxas e pernas que pareciam trombas de elefantes; babhau — ficou assim.

Tradução

No decorrer da luta, o campo de batalha ficou coberto com as ca­beças decapitadas dos heróis, sendo que seus olhos ainda olhavam fixamente, e seus dentes persistiam comprimindo os lábios com muita ira. Os elmos e brincos desprenderam-se daquelas cabeças decepa­das. Igualmente, muitos braços, decorados com adornos e segurando várias armas, espalhavam-se em diversos locais, bem como muitas pernas e coxas, que pareciam trombas de elefantes.

Texto

kabandhās tatra cotpetuḥ
patita-sva-śiro-’kṣibhiḥ
udyatāyudha-dordaṇḍair
ādhāvanto bhaṭān mṛdhe

Sinônimos

kabandhāḥ — troncos (corpos sem cabeça); tatra — lá (no campo de batalha); ca — também; utpetuḥ — produzidos; patita — caída; sva­-śiraḥ-akṣibhiḥ — pelos olhos de sua cabeça; udyata — erguidos; āyudha — equipados com armas; dordaṇḍaiḥ — os braços de quem; ādhāvan­taḥ — precipitando-se em direção a; bhaṭān — os soldados; mṛdhe — no campo de batalha.

Tradução

Muitos troncos sem cabeça foram produzidos naquele campo de ba­talha. Empunhando armas, aqueles troncos fantasmais, que podiam ver com os olhos das cabeças caídas, arremetiam-se contra os soldados inimigos.

Comentário

SIGNIFICADO—Parece que os heróis que morreram no campo de batalha imediatamente se tornaram fantasmas e, embora suas cabeças tivessem sido separadas de seus corpos, produziram-se novos troncos, e esses novos troncos, vendo com os olhos das cabeças decepadas, começaram a atacar o inimigo. Em outras palavras, foram gerados muitos fantas­mas para entrarem na luta, e, portanto, novos troncos apareceram no campo de batalha.

Texto

balir mahendraṁ daśabhis
tribhir airāvataṁ śaraiḥ
caturbhiś caturo vāhān
ekenāroham ārcchayat

Sinônimos

baliḥ — Mahārāja Bali; mahā-indram — o rei dos céus; daśabhiḥ — com dez; tribhiḥ — com três; airāvatam — Airāvata, que carrega Indra; śaraiḥ — com flechas; caturbhiḥ — com quatro flechas; caturaḥ — os quatro; vāhān — soldados montados; ekena — com uma; āroham — o condutor dos elefantes; ārcchayat — atacou.

Tradução

Então, com dez flechas, Mahārāja Bali atacou Indra e, com três flechas, atacou Airāvata, o elefante carregador de Indra. Com quatro flechas, ele atacou os quatros cavaleiros que defendiam as pernas de Airāvata e, com uma flecha, atacou o condutor do elefante.

Comentário

SIGNIFICADO—A palavra vāhān se refere aos soldados que, a cavalo, protegiam as pernas dos elefantes carregadores. De acordo com o sistema de técnica militar, também se protegiam as pernas do elefante que car­regava o comandante.

Texto

sa tān āpatataḥ śakras
tāvadbhiḥ śīghra-vikramaḥ
ciccheda niśitair bhallair
asamprāptān hasann iva

Sinônimos

saḥ — ele (Indra); tān — flechas; āpatataḥ — enquanto se moviam em direção a ele e caíam; śakraḥ — Indra; tāvadbhiḥ — imediatamente; śīghra-vikramaḥ — era hábil em revidar muito rapidamente; ciccheda — despedaçou; niśitaiḥ — pontiaguda; bhallaiḥ — com outro tipo de flecha; asamprāptān — as flechas inimigas não sendo recebidas; hasan iva — como se sorrisse.

Tradução

Antes de que as flechas de Mahārāja Bali conseguissem atingi-lo, Indra, o rei dos céus, que é hábil no manuseio de flechas, sorriu e contra-atacou as flechas com flechas de outro tipo, conhecidas como bhalla, as quais eram extremamente pontiagudas.

Texto

tasya karmottamaṁ vīkṣya
durmarṣaḥ śaktim ādade
tāṁ jvalantīṁ maholkābhāṁ
hasta-sthām acchinad dhariḥ

Sinônimos

tasya — do rei Indra; karma-uttamam — o habilíssimo serviço na arte militar; vīkṣya — após observar; durmarṣaḥ — assumindo um temperamento irado; śaktim — a arma śakti; ādade — empunhou; tām — aquela arma; jvalantīm — fogo abrasador; mahā-ulkā-ābhām — parecendo um grande tição incendiário; hasta-sthām — enquanto ainda estava na mão de Bali; acchinat — despedaçou; hariḥ — Indra.

Tradução

Ao ver as hábeis façanhas militares de Indra, Bali Mahārāja não pôde conter a sua ira. Então, ele empunhou outra arma, conhecida como śakti, que ardia como um grande tição incendiário. Todavia, Indra despedaçou essa arma quando a mesma ainda estava nas mãos de Bali.

Texto

tataḥ śūlaṁ tataḥ prāsaṁ
tatas tomaram ṛṣṭayaḥ
yad yac chastraṁ samādadyāt
sarvaṁ tad acchinad vibhuḥ

Sinônimos

tataḥ — depois disso; śūlam — lança; tataḥ — depois disso; prāsam — a arma prāsa; tataḥ — em seguida; tomaram — a arma tomara; ṛṣṭayaḥ — as armas ṛṣṭis; yat yat — toda e qualquer; śastram — arma; samāda­dyāt — que Bali Mahārāja tentava usar; sarvam — todas elas; tat — aquelas mesmas armas; acchinat — despedaçava; vibhuḥ — o grande Indra.

Tradução

Em seguida, uma por uma, Mahārāja Bali usou a lança, prāsa, to­mara, ṛṣṭis e outras armas, mas todas as armas que ele empunhava eram imediatamente despedaçadas por Indra.

Texto

sasarjāthāsurīṁ māyām
antardhāna-gato ’suraḥ
tataḥ prādurabhūc chailaḥ
surānīkopari prabho

Sinônimos

sasarja — desfechou; atha — agora; āsurīm — demoníaca; māyām — ilusão; antardhāna — fora de visão; gataḥ — tendo ficado; asuraḥ — Bali Mahārāja; tataḥ — em seguida; prādurabhūt — apareceu; śailaḥ — grande montanha; sura-anīka-upari — acima da cabeça dos soldados dos semideuses; prabho — ó meu Senhor.

Tradução

Meu querido rei, Bali Mahārāja então desapareceu e recorreu a ilusões demoníacas. Em seguida, uma montanha gigante, gerada da ilusão, apareceu acima da cabeça dos soldados dos semideuses.

Texto

tato nipetus taravo
dahyamānā davāgninā
śilāḥ saṭaṅka-śikharāś
cūrṇayantyo dviṣad-balam

Sinônimos

tataḥ — daquela grande montanha; nipetuḥ — começaram a cair; taravaḥ — grandes árvores; dahyamānāḥ — ardendo em fogo; dava-agni­nā — pelo incêndio de floresta; śilāḥ — e pedras; sa-ṭaṅka-śikharāḥ — cujas bordas tinham pontas tão afiadas como picaretas de pedra; cūrṇayantyaḥ — esmagando; dviṣat-balam — a força dos inimigos.

Tradução

Daquela montanha, caíam árvores queimando em um incêndio florestal. Lascas de pedra, com bordas afiadas como picaretas, também caíam e esmagavam a cabeça dos soldados dos semideuses.

Texto

mahoragāḥ samutpetur
dandaśūkāḥ savṛścikāḥ
siṁha-vyāghra-varāhāś ca
mardayanto mahā-gajāḥ

Sinônimos

mahā-uragāḥ — grandes serpentes; samutpetuḥ — caíram sobre eles; dandaśūkāḥ — outros animais venenosos e insetos; sa-vṛścikāḥ — com escorpiões; siṁha — leões; vyāghra — tigres; varāhāḥ ca — e javalis da floresta; mardayantaḥ — esmagando; mahā-gajāḥ — grandes elefantes.

Tradução

Escorpiões, grandes serpentes e muitos outros animais venenosos, bem como leões, tigres, javalis e grandes elefantes, todos começaram a cair sobre os soldados dos semideuses, esmagando tudo.

Texto

yātudhānyaś ca śataśaḥ
śūla-hastā vivāsasaḥ
chindhi bhindhīti vādinyas
tathā rakṣo-gaṇāḥ prabho

Sinônimos

yātudhānyaḥ — mulheres carnívoras demoníacas; ca — e; śataśaḥ — centenas e centenas; śūla-hastāḥ — cada um deles com um tridente na mão; vivāsasaḥ — completamente nus; chindhi — despedaçai; bhin­dhi — trespassai; iti — assim; vādinyaḥ — falando; tathā — dessa manei­ra; rakṣaḥ-gaṇāḥ — um bando de Rākṣasas (uma espécie de demônio); prabho — ó meu rei.

Tradução

Ó meu rei, muitas centenas de demônias e demônios carnívoros, completamente nus e carregando tridentes em suas mãos, apareceram então, bradando os lemas: “Despedaçai-os! Tres­passai-os!”

Texto

tato mahā-ghanā vyomni
gambhīra-paruṣa-svanāḥ
aṅgārān mumucur vātair
āhatāḥ stanayitnavaḥ

Sinônimos

tataḥ — depois disso; mahā-ghanāḥ — grandes nuvens; vyomni — no céu; gambhīra-paruṣa-svanāḥ — emitindo sons retumbantes; aṅgārān — brasas; mumucuḥ — lançavam; vātaiḥ — pelos ventos fortes; āhatāḥ — fustigadas; stanayitnavaḥ — com o som de trovoada.

Tradução

Nuvens ameaçadoras, fustigadas por ventos fortes, apareceram em seguida no céu. Emitindo muito gravemente o som de trovoadas, começaram a derramar carvões em brasa.

Texto

sṛṣṭo daityena sumahān
vahniḥ śvasana-sārathiḥ
sāṁvartaka ivātyugro
vibudha-dhvajinīm adhāk

Sinônimos

sṛṣṭaḥ — criado; daityena — pelo demônio (Bali Mahārāja); su-mahān — enorme, devastador; vahniḥ — um fogo; śvasana-sārathiḥ — sendo carregado pela ventania; sāṁvartakaḥ — o fogo chamado Sāṁvartaka, que aparece no momento da dissolução; iva — assim como; ati — muito; ugraḥ — terrível; vibudha — dos semideuses; dhva­jinīm — os soldados; adhāk — reduziu a cinzas.

Tradução

Um grande fogo devastador criado por Bali Mahārāja começou a queimar todos os soldados dos semideuses. Esse fogo, acompanhado de rajadas de ventos, parecia tão terrível como o fogo Sāṁvartaka, que aparece no momento da dissolução.

Texto

tataḥ samudra udvelaḥ
sarvataḥ pratyadṛśyata
pracaṇḍa-vātair uddhūta-
taraṅgāvarta-bhīṣaṇaḥ

Sinônimos

tataḥ — depois disso; samudraḥ — o mar; udvelaḥ — ficando agita­do; sarvataḥ — por toda parte; pratyadṛśyata — apareceram diante da visão de todos; pracaṇḍa — ferozes; vātaiḥ — pelos ventos; uddhū­ta — revoltas; taraṅga — das ondas; āvarta — remoinhos de águas; bhīṣaṇaḥ — impetuosos.

Tradução

Depois, remoinhos aquáticos e ondas marítimas, agitados por ferozes rajadas de vento, apareceram em toda parte, diante da visão de todos, provocando uma furiosa inundação.

Texto

evaṁ daityair mahā-māyair
alakṣya-gatibhī raṇe
sṛjyamānāsu māyāsu
viṣeduḥ sura-sainikāḥ

Sinônimos

evam — assim; daityaiḥ — pelos demônios; mahā-māyaiḥ — que eram hábeis em criar ilusões; alakṣya-gatibhiḥ — todavia, invisíveis; raṇe — na luta; sṛjyamānāsu māyāsu — devido à criação dessa atmosfera ilu­sória; viṣeduḥ — ficaram taciturnos; sura-sainikāḥ — os soldados dos semideuses.

Tradução

Enquanto essa atmosfera mágica era criada na luta pelos demônios invisíveis, que eram hábeis nessas ilusões, os soldados dos semi­deuses sentiam-se abatidos.

Texto

na tat-pratividhiṁ yatra
vidur indrādayo nṛpa
dhyātaḥ prādurabhūt tatra
bhagavān viśva-bhāvanaḥ

Sinônimos

na — não; tat-pratividhim — extinção dessa atmosfera ilusória; yatra — onde; viduḥ — puderam entender; indra-ādayaḥ — os semideuses, encabeçados por Indra; nṛpa — ó rei; dhyātaḥ — sendo o objeto de meditação; prādurabhūt — apareceu ali; tatra — naquele lugar; bha­gavān — a Suprema Personalidade de Deus; viśva-bhāvanaḥ — o criador do universo.

Tradução

Ó rei, ao perceberem que não conseguiriam encontrar maneira al­guma de anular as atividades dos demônios, os semideuses, de todo o coração, meditaram na Suprema Personalidade de Deus, o criador do universo, que então apareceu imediatamente.

Texto

tataḥ suparṇāṁsa-kṛtāṅghri-pallavaḥ
piśaṅga-vāsā nava-kañja-locanaḥ
adṛśyatāṣṭāyudha-bāhur ullasac-
chrī-kaustubhānarghya-kirīṭa-kuṇḍalaḥ

Sinônimos

tataḥ — em seguida; suparṇa-aṁsa-kṛta-aṅghri-pallavaḥ — a Suprema Personalidade de Deus, cujos pés de lótus se apoiam nos ombros de Garuḍa; piśaṅga-vāsāḥ — cuja roupa é amarela; nava-kañja-loca­naḥ — e cujos olhos lembram as pétalas de um lótus que acaba de desabrochar; adṛśyata — tornou-Se visível (na presença dos semideuses); aṣṭa-āyudha — munido de oito espécies de armas; bāhuḥ — braços; ullasat — apresentando esplendorosamente; śrī — a deusa da fortuna; kaustubha — a joia Kaustubha; anarghya — de valor inestimável; ki­rīṭa — elmo; kuṇḍalaḥ — tendo brincos.

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus, cujos olhos parecem as pétalas de um lótus recém-desabrochado, sentou-Se nas costas de Garuḍa, apoiando Seus pés de lótus nos ombros deste. Vestido de amarelo, decorado pela joia Kaustubha e pela deusa da fortuna e usando um elmo e brincos inestimáveis, o Senhor Supremo, portando várias armas em Suas oito mãos, tornou-Se visível aos semideuses.

Texto

tasmin praviṣṭe ’sura-kūṭa-karmajā
māyā vineśur mahinā mahīyasaḥ
svapno yathā hi pratibodha āgate
hari-smṛtiḥ sarva-vipad-vimokṣaṇam

Sinônimos

tasmin praviṣṭe — com a entrada da Suprema Personalidade de Deus; asura — dos demônios; kūṭa-karma-jā — devido às atividades mágicas e ilusórias; māyā — as manifestações falsas; vineśuḥ — foram imediatamente suprimidas; mahinā — pelo poder superior; mahīya­saḥ — da Suprema Personalidade de Deus, que é maior do que o maior; svapnaḥ — sonhos; yathā — como; hi — na verdade; pratibo­dhe — quando o despertar; āgate — chegou; hari-smṛtiḥ — o ato de se lembrar da Suprema Personalidade de Deus; sarva-vipat — de toda classe de situações perigosas; vimokṣaṇam — imediatamente extermina.

Tradução

Assim como os perigos em um sonho cessam quando a pessoa desperta, as ilusões criadas pelos malabarismos dos demônios foram desfeitas pelo poder transcendental da Suprema Personalidade de Deus logo que Ele entrou no campo de batalha. Na verdade, pelo simples fato de se lembrar da Suprema Personalidade de Deus, o indivíduo se livra de todos os perigos.

Texto

dṛṣṭvā mṛdhe garuḍa-vāham ibhāri-vāha
āvidhya śūlam ahinod atha kālanemiḥ
tal līlayā garuḍa-mūrdhni patad gṛhītvā
tenāhanan nṛpa savāham ariṁ tryadhīśaḥ

Sinônimos

dṛṣṭvā — vendo; mṛdhe — no campo de batalha; garuḍa-vāham — a Suprema Personalidade de Deus, montado em Garuḍa; ibhāri­-vāhaḥ — o demônio, que era carregado por um grande leão; āvidhya — brandindo; śūlam — tridente; ahinot — disparou contra ele; atha — assim; kālanemiḥ — o demônio Kālanemi; tat — esse evento no qual o demô­nio atacou a Suprema Personalidade de Deus; līlayā — muito facilmente; garuḍa-mūrdhni — sobre a cabeça do Seu carregador, Garuḍa; patat­ — enquanto caía; gṛhītvā — após pegá-lo imediatamente, sem dificulda­de; tena — e com a mesma arma; ahanat — matou; nṛpa — ó rei; sa-­vāham — com seu carregador; arim — o inimigo; tri-adhīśaḥ — a Suprema Personalidade de Deus, o proprietário dos três mundos.

Tradução

Ó rei, ao ver que a Suprema Personalidade de Deus, montado em Garuḍa, estava no campo de batalha, o demônio Kālanemi, que era carregado por um leão, logo pegou de seu tridente, brandiu-o e disparou-o contra a cabeça de Garuḍa. A Suprema Personalidade de Deus, Hari, o mestre dos três mundos, imediatamente agarrou o tridente e, com a mesmíssima arma, matou o inimigo Kālanemi, juntamente com o seu carregador, o leão.

Comentário

SIGNIFICADO—Com relação a isso, Śrīla Madhvācārya diz:

kālanemy-ādayaḥ sarve
kariṇā nihatā api
śukreṇojjīvitāḥ santaḥ
punas tenaiva pātitāḥ

“Kālanemi e todos os outros demônios foram mortos pela Suprema Personalidade de Deus, Hari, e quando Śukrācārya, o mestre espiritual deles, ressuscitou-os, foram novamente mortos pela Suprema Personalidade de Deus.”

Texto

mālī sumāly atibalau yudhi petatur yac-
cakreṇa kṛtta-śirasāv atha mālyavāṁs tam
āhatya tigma-gadayāhanad aṇḍajendraṁ
tāvac chiro ’cchinad arer nadato ’riṇādyaḥ

Sinônimos

mālī sumālī — dois demônios chamados Mālī e Sumālī; ati-balau — poderosíssimos; yudhi — no campo de batalha; petatuḥ — tombaram; yat-cakreṇa — por cujo disco; kṛtta-śirasau — suas cabeças foram cortadas; atha — em seguida; mālyavān — Mālyavān; tam — a Suprema Personalidade de Deus; āhatya — atacando; tigma-gadayā — com uma maça muito potente; ahanat — tentou arremeter contra, matar; aṇḍa-ja-indram — Garuḍa, o rei de todos os pássaros, que são ovíparos; tāvat — naquele momento; śiraḥ — a cabeça; acchinat — decepou; areḥ — do inimigo; nadataḥ — rugindo como um leão; ariṇā — com o disco; ādyaḥ — a Personalidade de Deus original.

Tradução

Em seguida, dois poderosíssimos demônios chamados Mālī e Sumālī foram mortos pelo Senhor Supremo, que os decapitou com o Seu disco. Então, Mālyavān, outro demônio, atacou o Senhor. Com sua potente maça, o demônio, que rugia como um leão, arremeteu contra Garuḍa, o senhor dos pássaros, que nascem de ovos. Contudo, a Su­prema Personalidade de Deus, a pessoa original, usou Seu disco para também decepar a cabeça daquele inimigo.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do oita­vo canto, décimo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “A Batalha entre os Semideuses e os Demônios”.