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Capítulo Onze

O Rei Indra Aniquila os Demônios

Como se descreve neste capítulo, o grande santo Nārada Muni, sentindo muita compaixão dos demônios que foram mortos pelos se­mideuses, proibiu os semideuses de continuarem a matá-los. Foi então que Śukrācārya, através de seu poder místico, devolveu a vida a todos os demônios.

Tendo sido agraciados pela Suprema Personalidade de Deus, os semideuses, estando revigorados, voltaram a lutar contra os demônios. O rei Indra disparou o seu raio contra Bali, e, quando Bali caiu, seu amigo Jambhāsura atacou Indra, que, com seu raio, decapitou Jambhāsura. Ao tomar conhecimento de que Jambhāsura fora morto, Nārada Muni transmitiu a notícia aos parentes de Jambhāsura – Namuci, Bala e Pāka –, que se dirigiram então ao campo de ba­talha e atacaram os semideuses. Indra, o rei dos céus, decapitou Bala e Pāka e arremessou a arma conhecida como kuliśa, o raio, no ombro de Namuci. O raio, entretanto, não foi bem-sucedido, motivo pelo qual Indra ficou melancólico. Naquele momento, uma voz de alguém invisível veio do céu. A voz declarava: “Nenhuma arma seca ou úmida pode matar Namuci.” Ao ouvir essa voz, Indra começou a pensar em como Namuci poderia ser morto. Pensou, então, em usar espuma, que é algo que não é seco nem molhado. Usando uma arma de espu­ma, conseguiu matar Namuci. Assim, Indra e os outros semideuses mataram muitos demônios. Então, a pedido do senhor Brahmā, Nārada foi ter com os semideuses e os proibiu de continuar matando os demônios. Todos os semideuses, então, retornaram às suas moradas. Seguindo as instruções de Nārada, todos os demônios sobreviventes no campo de batalha levaram Bali Mahārāja até a montanha Asta. Ali, através do toque da mão de Śukrācārya, Bali Mahārāja recobrou seus sentidos e sua consciência, e aqueles demônios cujas cabeças e corpos não haviam sido completamente destroçados foram ressuscitados pelo poder místico de Śukrācārya.

Texto

śrī-śuka uvāca
atho surāḥ pratyupalabdha-cetasaḥ
parasya puṁsaḥ parayānukampayā
jaghnur bhṛśaṁ śakra-samīraṇādayas
tāṁs tān raṇe yair abhisaṁhatāḥ purā

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvaca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; atho — em seguida; surāḥ — todos os semideuses; pratyupalabdha-cetasaḥ — sendo vivificados novamente pelo reviver de sua consciência; parasya — do Su­premo; puṁsaḥ — da Personalidade de Deus; parayā — suprema; anukam­payā — pela misericórdia; jaghnuḥ — começaram a baterem; bhṛśam — repetidas vezes; śakra — Indra; samīraṇa — Vāyu; ādayaḥ — e outros; tān tān — para aqueles demônios; raṇe — na luta; yaiḥ — por quem; abhisaṁhatāḥ — eles foram agredidos; purā — antes.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Depois disso, pela suprema graça da Suprema Personalidade de Deus, Śrī Hari, todos os semideuses, encabeçados por Indra e Vāyu, reviveram. Uma vez vivificados, os semideuses co­meçaram a agredir severamente os mesmíssimos demônios que os haviam derrotado.

Texto

vairocanāya saṁrabdho
bhagavān pāka-śāsanaḥ
udayacchad yadā vajraṁ
prajā hā heti cukruśuḥ

Sinônimos

vairocanāya — contra Bali Mahārāja (simplesmente para matá-lo); saṁrabdhaḥ — estando muito irado; bhagavān — o poderosíssimo; pāka-śāsanaḥ — Indra; udayacchat — colocou em sua mão; yadā — naquele momento; vajram — o raio; prajāḥ — todos os demônios; hā hā — ai de nós, ai de nós; iti — assim; cukruśuḥ — começaram a proferir.

Tradução

Quando o poderosíssimo Indra ficou irado e pegou do seu raio para matar Mahārāja Bali, os demônios começaram a lamentar-se: “Ai de nós! Ai de nós!”

Texto

vajra-pāṇis tam āhedaṁ
tiraskṛtya puraḥ-sthitam
manasvinaṁ susampannaṁ
vicarantaṁ mahā-mṛdhe

Sinônimos

vajra-pāṇiḥ — Indra, que sempre carrega o raio em sua mão; tam — a Bali Mahārāja; āha — dirigiu-se; idam — dessa maneira; tiraskṛtya — castigando-o; puraḥ-sthitam — postado diante dele; manasvinam — muito sóbrio e tolerante; su-sampannam — bem equipado com parafernália bélica; vicarantam — locomovendo-se; mahā-mṛdhe — no grande campo de batalha.

Tradução

Sóbrio e tolerante e bem equipado com parafernália bélica, Bali Mahārāja se colocou diante de Indra no grande campo de batalha. O rei Indra, que sempre carrega o raio em sua mão, dirigiu a Bali Mahārāja a seguinte repreensão.

Texto

naṭavan mūḍha māyābhir
māyeśān no jigīṣasi
jitvā bālān nibaddhākṣān
naṭo harati tad-dhanam

Sinônimos

naṭa-vat — como um trapaceiro ou ladrão; mūḍha — seu patife; māyābhiḥ — exibiu truques; māyā-īśān — sobre os semideuses, que podem controlar todas essas manifestações ilusórias; naḥ — sobre nós; jigīṣasi — estás tentando sair vitorioso; jitvā — dominando; bālān — criancinhas; nibaddha-akṣān — tapando os olhos; na laḥ — um trapaceiro; naṭaḥ — arrebata; tat-dhanam — a propriedade possuída por uma criança.

Tradução

Indra disse: Ó patife, assim como um trapaceiro às vezes venda os olhos de uma criança e arrebata-lhe as posses, estás também ten­tando derrotar-nos apresentando certos poderes místicos, embora saibas que somos os mestres de todos esses poderes místicos.

Texto

ārurukṣanti māyābhir
utsisṛpsanti ye divam
tān dasyūn vidhunomy ajñān
pūrvasmāc ca padād adhaḥ

Sinônimos

ārurukṣanti — pessoas que desejam ir aos sistemas planetários superiores; māyābhiḥ — pelo suposto poder místico ou pelo avanço cientí­fico material; utsisṛpsanti — ou querem libertar-se através dessas falsas tentativas; ye — essas pessoas que; divam — o sistema planetário supe­rior conhecido como Svargaloka; tān — esses velhacos desordeiros; dasyūn — esses ladrões; vidhunomi — eu forço a sair; ajñān — patifes; pūrvasmāt — anterior; ca — também; padāt — da posição; adhaḥ — para baixo.

Tradução

Aqueles tolos e patifes que, através do poder místico ou de meios mecânicos, querem elevar-se ao sistema planetário superior, ou que até mesmo se esforçam por ultrapassar os planetas superiores e alcançar o mundo espiritual ou a liberação, faço com que sejam enviados à mais baixa região do universo.

Comentário

SIGNIFICADO—Sem dúvida, existem diferentes sistemas planetários reservados a diferentes pessoas. Como se afirma na Bhagavad-gītā (14.18), ūrdhvaṁ gacchanti sattva-sthāḥ: as pessoas no modo da bondade podem ir aos planetas superiores. Entretanto, aqueles que estão nos modos da escuridão e da paixão não têm permissão para entrar nos planetas superiores. A palavra divam se refere ao sistema planetário superior conhecido como Svargaloka. Indra, o rei do sistema plane­tário superior, tem o poder de afastar qualquer alma condicionada que, partindo dos planetas inferiores, tenta ir aos superiores, em­bora não possua as qualificações necessárias. A tentativa moderna através da qual se busca ir à Lua também é uma tentativa em que os homens inferiores querem ir a Svargaloka através de meios mecâ­nicos artificiais. Semelhante tentativa não pode ser exitosa. Portan­to, a afirmativa de Indra parece indicar que todo aquele que tente ir aos sistemas planetários superiores por meios mecânicos, que são aqui chamados de māyā, é condenado a precipitar-se para os planetas infernais, situados na parte inferior do universo. Para ir ao sistema planetário superior, a pessoa precisa ter virtudes em quantidade o bastante. Uma pessoa pecaminosa, situada no modo da ignorância e viciada em bebidas, consumo de carne e prática de sexo ilícito jamais entrará nos planetas superiores por meios mecânicos.

Texto

so ’haṁ durmāyinas te ’dya
vajreṇa śata-parvaṇā
śiro hariṣye mandātman
ghaṭasva jñātibhiḥ saha

Sinônimos

saḥ — sou a mesma pessoa poderosa; aham — eu; durmāyinaḥ — de ti, que, com ilusões, podes realizar tantos truques; te — tua; adya — hoje; vajreṇa — com o raio; śata-parvaṇā — que tem centenas de bordas afiadas; śiraḥ — a cabeça; hariṣye — separarei; manda-ātman — ó pessoa de pobre fundo de conhecimento; ghaṭasva — simplesmente tenta manter-te neste campo de batalha; jñātibhiḥ saha — com teus parentes e assistentes.

Tradução

Hoje, com meu raio, que tem centenas de bordas afiadas, eu, a mesma pessoa poderosa, deceparei tua cabeça, separando-a de teu corpo. Embora possas produzir tantos truques ilusórios, és dotado de um pobre fundo de conhecimento. Então, tenta persistir neste campo de batalha com teus amigos e parentes.

Texto

śrī-balir uvāca
saṅgrāme vartamānānāṁ
kāla-codita-karmaṇām
kīrtir jayo ’jayo mṛtyuḥ
sarveṣāṁ syur anukramāt

Sinônimos

śrī-baliḥ uvaca — Bali Mahārāja disse; saṅgrāme — no campo de batalha; vartamānānām — de todas as pessoas aqui presentes; kāla-­codita — influenciadas pelo fator tempo; karmaṇām — para pessoas ocupadas em lutar ou em quaisquer outras atividades; kīrtiḥ — reputação; jayaḥ — vitória; ajayaḥ — derrota; mṛtyuḥ — morte; sarveṣām — de todas elas; syuḥ — devem ser feitas; anukramāt — uma após outra.

Tradução

Bali Mahārāja respondeu: Todos que estão presentes neste campo de batalha decerto estão sob a influência do tempo eterno e, de acordo com as atividades que lhes são designadas, estão destinados a obter, consecutivamente, fama, vitória, derrota e morte.

Comentário

SIGNIFICADO—Se alguém sai vitorioso na batalha, torna-se famoso, mas, se ele não é vitorioso e sai derrotado, pode até mesmo morrer. Existe tanto a possibilida­de de vitória quanto a possibilidade de derrota, seja em um campo de batalha como esse, seja no campo de batalha da luta pela existência. Tudo ocorre de acordo com as leis da natureza (prakṛteḥ kriyamāṇāni guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ). Uma vez que todos, sem exceção, estão sujeitos aos modos da natureza material, quer alguém saia vitorioso, quer saia derrotado, ele não é independente, senão que está sob o controle da natureza material. Bali Mahārāja, portanto, era muito sensato. Ele sabia que a luta fora determinada pelo tempo eterno e que, sob a influência do tempo, todos devem aceitar os resultados de suas próprias atividades. Portanto, embora Indra estivesse ameaçando matar Bali Mahārāja disparando o raio, Bali Mahārāja não estava temeroso de modo algum. Este é o espírito do kṣatriya: yuddhe cāpy apalāyanam (Bhagavad-gītā 18.43). O kṣatriya deve ser tolerante em todas as circunstâncias, especialmente no campo de batalha. Logo, Bali Mahārāja afirmou que não estava temeroso da morte de maneira alguma, embora fosse ameaçado por uma personalidade tão grandiosa como o rei dos céus.

Texto

tad idaṁ kāla-raśanaṁ
jagat paśyanti sūrayaḥ
na hṛṣyanti na śocanti
tatra yūyam apaṇḍitāḥ

Sinônimos

tat — portanto; idam — todo este mundo material; kāla-raśanam — está se movendo devido ao tempo eterno; jagat — movendo-se para adiante (todo este universo); paśyanti — observam; sūrayaḥ — aqueles que são inteligentes porque admitem a verdade; na — não; hṛṣyanti — tornam-se jubilosos; na — nem; śocanti — lamentam-se; tatra — nisso; yūyam — todos vós, semideuses; apaṇḍitāḥ — não muito eruditos (tendo-se esquecido de que estais agindo sob a influência do tempo eterno).

Tradução

Vendo as ações do tempo, aqueles que conhecem a verdade incon­testável jamais se rejubilam ou se lamentam em virtude de diferentes circunstâncias. Portanto, como estás jubiloso devido à tua vitória, não deves ser considerado muito sábio.

Comentário

SIGNIFICADO—Bali Mahārāja sabia que Indra, o rei dos céus, era extremamen­te poderoso – mais poderoso do que ele próprio. Entretanto, Bali Mahārāja desafiou Indra, dizendo que Indra não era muito erudi­to. Na Bhagavad-gītā (2.11), Kṛṣṇa repreendeu Arjuna dizendo:

aśocyān anvaśocas tvaṁ
prajñā-vādāṁś ca bhāṣase
gatāsūn agatāsūṁś ca
nānuśocanti paṇḍitāḥ

“Enquanto falas palavras cultas, estás lamentando pelo que não é digno de pesar. Sábios são aqueles que não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos.” Assim, da mesma maneira que Kṛṣṇa desafiou Arjuna, dizendo que ele não era um paṇḍita, ou uma pessoa erudita, também Bali Mahārāja desafiou o rei Indra e seus associados. Neste mundo material, tudo acontece sob a influência do tempo. Consequentemen­te, para a pessoa erudita que percebe como os fenômenos transcor­rem, está fora de cogitação ficar aflita ou feliz devido às ondas da natureza material. Afinal, uma vez que estamos sendo ar­rastados por essas ondas, qual o significado de ficarmos tristes ou alegres? Aquele que é plenamente versado nas leis da natureza nunca se alegra ou se entristece devido às atividades da natureza. Na Bhagavad-gītā (2.14), Kṛṣṇa aconselha que sejamos tolerantes: tāṁs titikṣasva bhārata. Seguindo esse conselho de Kṛṣṇa, ninguém deve ficar me­lancólico ou infeliz em decorrência das mudanças circunstanciais. Esse é o sintoma de um devoto. O devoto executa o seu dever em consciência de Kṛṣṇa e jamais é infeliz em circunstâncias adversas. Ele tem fé plena de que, nessas circunstâncias, Kṛṣṇa protege o Seu devoto. Portanto, o devoto jamais se desvia de seu dever prescrito, o serviço devocional. As qualidades materiais de júbilo e melancolia estão presentes até mesmo nos semideuses, que estão bem elevadamente situados no sis­tema planetário superior. Portanto, quando alguém não se deixa perturbar pelas aparentes circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis deste mundo material, deve-se compreender que ele é brahma-bhūta, ou autorrealizado. Como se afirma na Bhagavad-gītā (18.54), brahma-bhūtaḥ prasannātmā na śocati na kāṅkṣati: “Aquele que está situado nessa posição transcendental compreende de imediato o Brahman Supremo e torna-se completamente feliz.” Quando alguém não se deixa perturbar pelas circunstâncias materiais, deve ser considerado como estando em uma fase transcendental, acima da reação dos três modos da natu­reza material.

Texto

na vayaṁ manyamānānām
ātmānaṁ tatra sādhanam
giro vaḥ sādhu-śocyānāṁ
gṛhṇīmo marma-tāḍanāḥ

Sinônimos

na — não; vayam — nós; manyamānānām — que estamos considerando; ātmānam — o eu; tatra — na vitória ou na derrota; sādhanam — a causa; giraḥ — as palavras; vaḥ — vossas; sādhu-śocyānām — que mere­cem a compaixão por parte das pessoas santas; gṛhṇīmaḥ — aceita­mos; marma- tāḍanāḥ — que afligem o coração.

Tradução

Vós, semideuses, pensais que vós mesmos sois a causa median­te a qual conquistais fama e vitória. Devido à vossa ignorância, as pessoas santas se compadecem de vós. Portanto, embora vossas pa­lavras aflijam o coração, não as aceitamos.

Texto

śrī-śuka uvāca
ity ākṣipya vibhuṁ vīro
nārācair vīra-mardanaḥ
ākarṇa-pūrṇair ahanad
ākṣepair āha taṁ punaḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; iti — assim; ākṣipya — castigando; vibhum — ao rei Indra; vīraḥ — o valente Bali Mahārāja; nārācaiḥ — com as flechas chamadas nārācas; vīra-mardanaḥ — Bali Mahārāja, que podia subjugar até mesmo grandes heróis; ākarṇa-pūrṇaiḥ — puxadas até o ouvido; ahanat — atacou; ākṣepaiḥ — com palavras repreensivas; āha — disse; tam — a ele; punaḥ — novamente.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Após dirigir a Indra, o rei dos céus, essas palavras cortantes, Bali Mahārāja, que podia subjugar qualquer outro herói, retesou seu arco e, puxando até o seu ouvido as flechas conhecidas como nārācas, lançou-as na direção de Indra. Então, ele voltou a castigar Indra com fortes palavras.

Texto

evaṁ nirākṛto devo
vairiṇā tathya-vādinā
nāmṛṣyat tad-adhikṣepaṁ
totrāhata iva dvipaḥ

Sinônimos

evam — assim; nirākṛtaḥ — sendo derrotado; devaḥ — rei Indra; vairiṇā — por seu inimigo; tathya-vādinā — que era competente em falar a verdade; na — não; amṛṣyat — lamentou-se; tat — dele (Bali); adhi­kṣepam — o castigo; totra — pelo cetro ou bastão; āhataḥ — sendo golpeado; iva — assim como; dvipaḥ — um elefante.

Tradução

Como os insultos que partiram de Mahārāja Bali diziam a verdade, o rei Indra não se ofendeu de modo algum, assim como um elefante açoitado pelo bastão de seu condutor não fica agitado.

Texto

prāharat kuliśaṁ tasmā
amoghaṁ para-mardanaḥ
sayāno nyapatad bhūmau
chinna-pakṣa ivācalaḥ

Sinônimos

prāharat — infligiu; kuliśam — raio parecido com um cetro; tasmai — a ele (Bali Mahārāja); amogham — infalível; para-mardanaḥ — Indra, que é hábil em derrotar o inimigo; sa-yānaḥ — com seu aeroplano; nyapatat — caiu; bhūmau — no solo; chinna-pakṣaḥ — cujas asas foram removidas; iva — como; acalaḥ — uma montanha.

Tradução

Quando Indra, o derrotador dos inimigos, estando desejoso de matar Bali Mahārāja, disparou contra este o seu infalível raio e cetro, Bali Mahārāja de fato caiu ao solo com o seu aeroplano, como uma montanha com suas asas cortadas.

Comentário

SIGNIFICADO—Em muitas descrições encontradas na literatura védica, menciona-se que as montanhas aladas também voam no céu. Ao morrerem, essas montanhas caem ao solo, onde permanecem como enormes cadáveres.

Texto

sakhāyaṁ patitaṁ dṛṣṭvā
jambho bali-sakhaḥ suhṛt
abhyayāt sauhṛdaṁ sakhyur
hatasyāpi samācaran

Sinônimos

sakhāyam — seu amigo íntimo; patitam — tendo caído; dṛṣṭvā — após ver; jambhaḥ — o demônio Jambha; bali-sakhaḥ — um amigo muito íntimo de Bali Mahārāja; suhṛt — e constante benquerente; abhyayāt — entrou em cena; sauhṛdam — amizade muito compassiva; sakhyuḥ — a seu amigo; hatasya — que fora ferido e caíra; api — embo­ra; samācaran — simplesmente para realizar seus deveres de amigo.

Tradução

Ao ver que o seu amigo Bali havia caído, o demônio Jambhāsura apareceu diante de Indra, o inimigo, simplesmente para prestar a Bali Mahārāja seu serviço amistoso.

Texto

sa siṁha-vāha āsādya
gadām udyamya raṁhasā
jatrāv atāḍayac chakraṁ
gajaṁ ca sumahā-balaḥ

Sinônimos

saḥ — Jambhāsura; siṁha-vāhaḥ — sendo carregado por um leão; āsādya — apresentando-se diante do rei Indra; gadām — sua maça; udyamya — empunhando; raṁhasā — com muita força; jatrau — na base do pescoço; atāḍayat — golpeou; śakram — Indra; gajam ca — bem como seu elefante; su-mahā-balaḥ — o poderosíssimo Jambhāsura.

Tradução

O poderosíssimo Jambhāsura, carregado por um leão, aproximou-se de Indra e, com sua maça, golpeou-o fortemente no ombro. Ele também atingiu o elefante de Indra.

Texto

gadā-prahāra-vyathito
bhṛśaṁ vihvalito gajaḥ
jānubhyāṁ dharaṇīṁ spṛṣṭvā
kaśmalaṁ paramaṁ yayau

Sinônimos

gadā-prahāra-vyathitaḥ — estando machucado devido ao golpe da maça de Jambhāsura; bhṛśam — muito; vihvalitaḥ — agitado; gajaḥ — o elefante; jānubhyām — com seus dois joelhos; dharaṇīm — a terra; spṛṣṭvā — tocando; kaśmalam — inconsciência; paramam — última; yayau — entrou em.

Tradução

Sendo golpeado pela maça de Jambhāsura, o elefante de Indra ficou confuso e ferido. Então, tocou seus joelhos no chão e perdeu a consciência.

Texto

tato ratho mātalinā
haribhir daśa-śatair vṛtaḥ
ānīto dvipam utsṛjya
ratham āruruhe vibhuḥ

Sinônimos

tataḥ — em seguida; rathaḥ — quadriga; mātalinā — pelo seu quadrigário, chamado Mātali; haribhiḥ — com cavalos; daśa-śataiḥ — dez vezes cem (mil); vṛtaḥ — atrelada; ānītaḥ — sendo trazida; dvipam — o elefante; utsṛjya — deixando de lado; ratham — a quadriga; āruruhe — montou em; vibhuḥ — o grande Indra.

Tradução

Em seguida, Mātali, o quadrigário de Indra, trouxe a quadriga de Indra, que era puxada por mil cavalos. Então, Indra deixou seu elefante e subiu na quadriga.

Texto

tasya tat pūjayan karma
yantur dānava-sattamaḥ
śūlena jvalatā taṁ tu
smayamāno ’hanan mṛdhe

Sinônimos

tasya — de Mātali; tat — aquele serviço (trazer a quadriga para Indra); pūjayan — apreciando; karma — esse serviço ao mestre; yantuḥ — do quadrigário; dānava-sat-tamaḥ — o melhor dos demônios, a saber, Jambhāsura; śūlena — com seu tridente; jvalatā — que ardia como fogo; tam — Mātali; tu — na verdade; smayamānaḥ — sorrindo; ahanat — golpeou; mṛdhe — na batalha.

Tradução

Apreciando o serviço de Mātali, Jambhāsura, o melhor dos demô­nios, sorriu. Entretanto, ele atingiu Mātali na batalha, acertando-lhe um tridente de fogo abrasador.

Texto

sehe rujaṁ sudurmarṣāṁ
sattvam ālambya mātaliḥ
indro jambhasya saṅkruddho
vajreṇāpāharac chiraḥ

Sinônimos

sehe — tolerou; rujam — a dor; su-durmarṣām — intolerável; sat­tvam — paciência; ālambya — refugiando-se na; mātaliḥ — o quadri­gário Mātali; indraḥ — rei Indra; jambhasya — do grande demônio Jambha; saṅkruddhaḥ — estando muito irado contra ele; vajreṇa — com seu raio; apāharat — separou; śiraḥ — a cabeça.

Tradução

Embora a dor fosse extremamente severa, Mātali tolerou-a com grande paciência. Indra, no entanto, que ficou deveras irado com Jambhāsura, golpeou-o com seu raio e, então, decepou-lhe a cabeça.

Texto

jambhaṁ śrutvā hataṁ tasya
jñātayo nāradād ṛṣeḥ
namuciś ca balaḥ pākas
tatrāpetus tvarānvitāḥ

Sinônimos

jambham — Jambhāsura; śrutvā — após ficarem sabendo; hatam — fora morto; tasya — seus; jñātayaḥ — amigos e parentes; nāradāt — por intermédio de Nārada; ṛṣeḥ — do grande santo; namuciḥ — o demônio Namuci; ca — também; balaḥ — o demônio Bala; pākaḥ — o demônio Pāka; tatra — lá; āpetuḥ — chegaram imediatamente; tvarā-anvitāḥ — com muita pressa.

Tradução

Quando Nārada Ṛṣi informou aos amigos e parentes de Jambhāsura que este fora morto, os três demônios chamados Namuci, Bala e Pāka apressaram-se em chegar ao campo de batalha.

Texto

vacobhiḥ paruṣair indram
ardayanto ’sya marmasu
śarair avākiran meghā
dhārābhir iva parvatam

Sinônimos

vacobhiḥ — com palavras ásperas; paruṣaiḥ — muito rudes e cruéis; indram — rei Indra; ardayantaḥ — castigando, ofendendo; asya — de Indra; marmasu — no coração etc.; śaraiḥ — com flechas; avākiran — coberto em toda a volta; meghāḥ — nuvens; dhārābhiḥ — com torren­tes de chuva; iva — assim como; parvatam — uma montanha.

Tradução

Repreendendo Indra com palavras ásperas e cruéis que machucavam o coração, esses demônios lançaram nele uma saraivada de flechas, assim como torrentes de chuva que lavam uma grande montanha.

Texto

harīn daśa-śatāny ājau
haryaśvasya balaḥ śaraiḥ
tāvadbhir ardayām āsa
yugapal laghu-hastavān

Sinônimos

harīn — cavalos; dośa-śatāni — dez vezes cem (mil); ājau — no campo de batalha; haryaśvasya — do rei Indra; balaḥ — o demônio Bala; śaraiḥ — com flechas; tāvadbhiḥ — com o mesmo número; ardayām āsa — atribulou; yugapat — simultaneamente; laghu-hastavān — com rápido domínio.

Tradução

Dominando rapidamente a situação no campo de batalha, o demônio Bala causou tribulações a todos os mil cavalos de Indra, si­multaneamente despedaçando todos eles com o mesmo número de flechas.

Texto

śatābhyāṁ mātaliṁ pāko
rathaṁ sāvayavaṁ pṛthak
sakṛt sandhāna-mokṣeṇa
tad adbhutam abhūd raṇe

Sinônimos

śatābhyām — com duzentas flechas; mātalim — contra o quadrigá­rio Mātali; pākaḥ — o demônio chamado Pāka; ratham — a quadri­ga; sa-avayavam — com toda a parafernália; pṛthak — separadamente; sakṛt — de uma vez; sandhāna — ajustando as flechas ao arco; mokṣe­ṇa — e disparando; tat — tal ação; adbhutam — maravilhosa; abhūt — tornou-se então; raṇe — no campo de batalha.

Tradução

Pāka, outro demônio, atacou tanto a quadriga, com toda a sua parafernália, quanto o quadrigário Mātali, ajustando duas mil flechas a seu arco e disparando todas elas de uma só vez. Esse ato no campo de batalha foi de fato maravilhoso.

Texto

namuciḥ pañca-daśabhiḥ
svarṇa-puṅkhair maheṣubhiḥ
āhatya vyanadat saṅkhye
satoya iva toyadaḥ

Sinônimos

namuciḥ — o demônio chamado Namuci; pañca-daśabhiḥ — com quinze; svarṇa-puṅkhaiḥ — às quais estavam presas penas douradas; mahā-iṣubhiḥ — flechas muito poderosas; āhatya — penetrantes; vya­nadat — ressoaram; saṅkhye — no campo de batalha; sa-toyaḥ — carregado de água; iva — como; toya-daḥ — uma nuvem carregada.

Tradução

Então, Namuci, outro demônio, atacou Indra e o feriu com quinze poderosíssimas flechas de pena dourada, que rugiam como uma nuvem cheia de água.

Texto

sarvataḥ śara-kūṭena
śakraṁ saratha-sārathim
chādayām āsur asurāḥ
prāvṛṭ-sūryam ivāmbudāḥ

Sinônimos

sarvataḥ — em toda a volta; śara-kūṭena — por uma densa nuvem de flechas; śakram — Indra; sa-ratha — com sua quadriga; sārathim — e com seu quadrigário; chādayām āsuḥ — cobriram; asurāḥ — todos os demônios; prāvṛṭ — na estação das chuvas; sūryam — o Sol; iva — como; ambu-dāḥ — nuvens.

Tradução

Outros demônios alvejaram Indra, juntamente com sua quadriga e o seu quadrigário, com incessantes chuvas de flechas, assim como as nuvens cobrem o Sol na estação das chuvas.

Texto

alakṣayantas tam atīva vihvalā
vicukruśur deva-gaṇāḥ sahānugāḥ
anāyakāḥ śatru-balena nirjitā
vaṇik-pathā bhinna-navo yathārṇave

Sinônimos

alakṣayantaḥ — sendo incapazes de ver; tam — o rei Indra; atīva — ferozmente; vihvalāḥ — confusos; vicukruśuḥ — começaram a lamentar-se; deva-gaṇāḥ — todos os semideuses; saha-anugāḥ — com seus seguidores; anāyakāḥ — sem nenhum capitão ou líder; śatru-balena — pelo poder superior de seus inimigos; nirjitāḥ — severamente oprimidos; vaṇik-pathāḥ — mercadores; bhinna-navaḥ — cuja nau está avariada; yathā arṇave — como no meio do oceano.

Tradução

Os semideuses, sendo severamente oprimidos por seus inimigos e incapazes de ver Indra no campo de batalha, ficaram muito ansiosos. Não tendo capitão ou líder, começaram a se lamentar, como merca­dores em uma nau que sofre avarias no meio do oceano.

Comentário

SIGNIFICADO—Através desta afirmativa, parece que, no sistema planetário supe­rior, há navegação, e que lá os navegadores têm esse dever ocupacio­nal. Às vezes, como neste planeta, esses mercadores naufragam no meio do oceano. Tudo indica que, mesmo no sistema planetário su­perior, tais calamidades acontecem ocasionalmente. O sistema plane­tário superior criado pelo Senhor decerto não é vazio nem desprovido de entidades vivas. Consta do Śrīmad-Bhāgavatam que, assim como a Terra, todos os planetas estão cheios de entidades vivas. Não há razão para alguém aceitar que não existem seres vivos em outros planetas.

Texto

tatas turāṣāḍ iṣu-baddha-pañjarād
vinirgataḥ sāśva-ratha-dhvajāgraṇīḥ
babhau diśaḥ khaṁ pṛthivīṁ ca rocayan
sva-tejasā sūrya iva kṣapātyaye

Sinônimos

tataḥ — depois disso; turāṣāt — outro nome de Indra; iṣu-baddha­-pañjarāt — da gaiola formada pela rede de flechas; vinirgataḥ — libertando-se; sa — com; aśva — cavalos; ratha — quadriga; dhvaja — bandeira; agraṇīḥ — e quadrigário; babhau — tornou-se; diśaḥ — todas as direções; kham — o céu; pṛthivīm — a Terra; ca — e; rocayan — satisfazendo toda parte; sva-tejasā — com sua refulgência pessoal; sūryaḥ — o Sol; iva — como; kṣapā-atyaye — no final da noite.

Tradução

Depois disso, Indra libertou-se da gaiola formada pela rede de flechas. Aparecendo com sua quadriga, bandeira, cavalo e quadrigário e, assim, satisfazendo o céu, a Terra e todas as direções, ele brilhava com muito fulgor, tal qual o Sol depois que a noite termina. Todos viram que Indra estava belo e resplandecente.

Texto

nirīkṣya pṛtanāṁ devaḥ
parair abhyarditāṁ raṇe
udayacchad ripuṁ hantuṁ
vajraṁ vajra-dharo ruṣā

Sinônimos

nirīkṣya — após observar; pṛtanām — seus próprios soldados; devaḥ — o semideus Indra; paraiḥ — pelos inimigos; abhyarditām — postos em grandes dificuldades ou oprimidos; raṇe — no campo de batalha; udayacchat — pegou de; ripum — os inimigos; hantum — para matar; vajram — o raio; vajra-dharaḥ — o portador do raio; ruṣā — com muita ira.

Tradução

Ao ver que seus próprios soldados estavam sendo bastante oprimidos pelos inimigos no campo de batalha, Indra, que é conhecido como Vajra-dhara, o portador do raio, ficou muito irado. Foi então que ele empunhou seu raio para matar os inimigos.

Texto

sa tenaivāṣṭa-dhāreṇa
śirasī bala-pākayoḥ
jñātīnāṁ paśyatāṁ rājañ
jahāra janayan bhayam

Sinônimos

saḥ — ele (Indra); tena — com isto; eva — na verdade; aṣṭa-dhāreṇa — com o raio; śirasī — as duas cabeças; bala-pākayoḥ — dos dois demônios conhecidos como Bala e Pāka; jñātīnām paśyatām — enquanto seus parentes e soldados observavam; rājan — ó rei; jahāra — (Indra) cor­tou; janayan — criando; bhayam — medo (entre eles).

Tradução

Ó rei Parīkṣit, o rei Indra usou seu raio para cortar a cabeça de Bala e Pāka na presença de todos os seus parentes e seguidores. Dessa maneira, ele criou uma atmosfera muito amedrontadora no campo de batalha.

Texto

namucis tad-vadhaṁ dṛṣṭvā
śokāmarṣa-ruṣānvitaḥ
jighāṁsur indraṁ nṛpate
cakāra paramodyamam

Sinônimos

namuciḥ — o demônio Namuci; tat — daqueles dois demônios; vadham — o massacre; dṛṣṭvā — após ver; śoka-amarṣa — lamentação e pesar; ruṣā-anvitaḥ — estando muito irado com isso; jighāṁsuḥ — quis matar; indram — rei Indra; nṛ-pate — ó Mahārāja Parīkṣit; cakāra — fez; parama — um grande; udyamam — esforço.

Tradução

Ó rei, ao ver o extermínio de Bala e Pāka, Namuci, outro demônio, ficou cheio de pesar e lamentação. Então, com muita ira, tentou seriamente matar Indra.

Texto

aśmasāramayaṁ śūlaṁ
ghaṇṭāvad dhema-bhūṣaṇam
pragṛhyābhyadravat kruddho
hato ’sīti vitarjayan
prāhiṇod deva-rājāya
ninadan mṛga-rāḍ iva

Sinônimos

aśmasāra-mayam — de aço; śūlam — uma lança; ghaṇṭā-vat — à qual estavam presos alguns sinos; hema-bhūṣaṇam — decorada com ornamentos de ouro; pragṛhya — empunhando; abhyadravat — dirigiu-se com arrojo; kruddhaḥ — em um temperamento de ira; hataḥ asi iti — agora, morrerás; vitarjayan — rugindo dessa maneira; prāhiṇot — arremessou; deva-rājāya — contra o rei Indra; ninadan — bramindo; mṛga-rāṭ — um leão; iva — como.

Tradução

Estando irado e rugindo como um leão, o demônio Namuci empunhou uma lança de aço, à qual estavam presos alguns sinos e que estava decorada com ornamentos de ouro. Ele gritou muito alto: “Agora, morrerás!” Então, apresentando-se diante de Indra para matá-lo, Namuci disparou sua arma.

Texto

tadāpatad gagana-tale mahā-javaṁ
vicicchide harir iṣubhiḥ sahasradhā
tam āhanan nṛpa kuliśena kandhare
ruṣānvitas tridaśa-patiḥ śiro haran

Sinônimos

tadā — naquele momento; apatat — caindo como um meteoro; gagana-tale — sob o céu ou no chão; mahā-javam — extremamente podero­sa; vicicchide — despedaçou; hariḥ — Indra; iṣubhiḥ — com suas flechas; sahasradhā — em milhares de pedaços; tam — aquele Namuci; āhanat — golpeou; nṛpa — ó rei; kuliśena — com seu raio; kandhare — no ombro; ruṣā-anvitaḥ — estando muito irado; tridaśa-patiḥ — Indra, o rei dos semideuses; śiraḥ — a cabeça; haran — para separar.

Tradução

Ó rei, ao ver essa poderosíssima lança caindo ao chão como um meteoro abrasador, Indra, o rei dos céus, imediatamente a despedaçou com suas flechas. Então, estando muito irado, golpeou o ombro de Namuci com seu raio a fim de decepar sua cabeça.

Texto

na tasya hi tvacam api vajra ūrjito
bibheda yaḥ sura-patinaujaseritaḥ
tad adbhutaṁ param ativīrya-vṛtra-bhit
tiraskṛto namuci-śirodhara-tvacā

Sinônimos

na — não; tasya — dele (Namuci); hi — na verdade; tvacam api — nem mesmo a pele; vajraḥ — o raio; ūrjitaḥ — muito poderoso; bibhe­da — pôde trespassar; yaḥ — a arma que; sura-patinā — pelo rei dos semideuses; ojasā — muito impetuosamente; īritaḥ — foi arremessada; tat — portanto; adbhutam param — era muito surpreendente; ativī­rya-vṛtra-bhit — tão poderosa que podia dilacerar o corpo do podero­síssimo Vṛtrāsura; tiraskṛtaḥ — (agora, passado algum tempo) que havia sido repelida; namuci-śirodhara-tvacā — pela pele do pescoço de Namuci.

Tradução

Embora o rei Indra arremessasse com muita força o seu raio contra Namuci, não pôde nem mesmo trespassar sua pele. É muito surpreendente que o famoso raio que havia varado o corpo de Vṛtrāsura nem mesmo pôde ferir levemente a pele do pescoço de Namuci.

Texto

tasmād indro ’bibhec chatror
vajraḥ pratihato yataḥ
kim idaṁ daiva-yogena
bhūtaṁ loka-vimohanam

Sinônimos

tasmāt — portanto; indraḥ — o rei dos céus; abibhet — ficou muito amedrontado; śatroḥ — do inimigo (Namuci); vajraḥ — o raio; pratihataḥ — foi incapaz de ferir e retornou; yataḥ — porque; kim idam — o que é isso; daiva-yogena — devido a alguma força superior; bhūtam — isso aconteceu; loka-vimohanam — tão maravilhoso para as pessoas em geral.

Tradução

Ao perceber que o raio ricocheteou após alcançar o inimi­go, Indra ficou com muito medo e começou a se perguntar se isso havia acontecido em razão de algum poder miraculoso superior.

Comentário

SIGNIFICADO—O raio de Indra é invencível, de modo que, ao ver que o raio regres­sara sem causar nenhum ferimento em Namuci, Indra decerto ficou muito temeroso.

Texto

yena me pūrvam adrīṇāṁ
pakṣa-cchedaḥ prajātyaye
kṛto niviśatāṁ bhāraiḥ
patattraiḥ patatāṁ bhuvi

Sinônimos

yena — com o mesmo raio; me — por mim; pūrvam — outrora; adrīṇām — das montanhas; pakṣa-cchedaḥ — o ato de cortar as asas; prajā-atyaye — quando havia morte das pessoas em geral; kṛtaḥ — foi feito; niviśatām — daquelas montanhas que entravam; bhāraiḥ — devido ao grande peso; patattraiḥ — com asas; patatām — caindo; bhuvi — no chão.

Tradução

Indra pensou: Outrora, quando muitas montanhas aladas voavam no céu e caíam ao chão, matando as pessoas, eu cortava suas asas com este mesmo raio.

Texto

tapaḥ-sāramayaṁ tvāṣṭraṁ
vṛtro yena vipāṭitaḥ
anye cāpi balopetāḥ
sarvāstrair akṣata-tvacaḥ

Sinônimos

tapaḥ — austeridades; sāra-mayam — poderosíssimas; tvāṣṭram — realizadas por Tvaṣṭā; vṛtraḥ — Vṛtrāsura; yena — pelo qual; vipāṭitaḥ — foi morto; anye — outros; ca — também; api — na verdade; bala-upetāḥ — pessoas muito poderosas; sarva — todas as categorias; astraiḥ — por armas; akṣata — não ficando ferida; tvacaḥ — a pele deles.

Tradução

Vṛtrāsura era a essência das austeridades a que Tvaṣṭā se subme­teu, apesar do que o raio o matou. Na verdade, não apenas ele, mas também muitos outros heróis intrépidos, cuja pele não podia ser fe­rida por nenhuma classe de armas, foram mortos pelo mesmo raio.

Texto

so ’yaṁ pratihato vajro
mayā mukto ’sure ’lpake
nāhaṁ tad ādade daṇḍaṁ
brahma-tejo ’py akāraṇam

Sinônimos

saḥ ayam — portanto, este raio; pratihataḥ — repelido; vajraḥ — raio; mayā — por mim; muktaḥ — arremessado; asure — contra aquele demônio; alpake — menos importante; na — não; aham — eu; tat — isto; ādade — segurar; daṇḍam — agora ele é como um mero bastão; brahma-­tejaḥ — tão poderoso como um brahmāstra; api — embora; akāra­ṇam — agora ele é inútil.

Tradução

Mas agora, embora tenha sido arremessado contra um demônio menos importante, o mesmo raio não surtiu efeito. Portanto, embora ele estivesse na mesma categoria de um brahmāstra, tornou-se inútil como um bastão ordinário. Por conseguinte, deixarei de mantê-lo em minha posse.

Texto

iti śakraṁ viṣīdantam
āha vāg aśarīriṇī
nāyaṁ śuṣkair atho nārdrair
vadham arhati dānavaḥ

Sinônimos

iti — dessa maneira; śakram — a Indra; viṣīdantam — lamentando-se; āha — falou; vāk — uma voz; aśarīriṇī — sem nenhum corpo, ou vinda do céu; na — não; ayam — isto; śuṣkaiḥ — por nada seco; atho — também; na — nem; ārdraiḥ — por nada úmido; vadham — aniquila­ção; arhati — está sujeito a; dānavaḥ — este demônio (Namuci).

Tradução

Śukadeva Gosvāmī continuou: Enquanto Indra estava taciturno e lamentava-se dessa maneira, ouviu-se uma voz sentenciosa proferir no céu as seguintes palavras: “Este demônio Namuci não pode ser aniquilado por nada seco nem úmido.”

Texto

mayāsmai yad varo datto
mṛtyur naivārdra-śuṣkayoḥ
ato ’nyaś cintanīyas te
upāyo maghavan ripoḥ

Sinônimos

mayā — por mim; asmai — a ele; yat — porque; varaḥ — uma bênção; dattaḥ — foi concedida; mṛtyuḥ — morte; na — não; eva — na verdade; ārdra — quer por algo úmido; śuṣkayoḥ — ou por algo seco; ataḥ — portanto; anyaḥ — algum outro método; cintanīyaḥ — deve ser descoberto; te — por ti; upāyaḥ — meio; maghavan — ó Indra; ripoḥ — do teu inimigo.

Tradução

A voz também disse: “Ó Indra, porque dei a esse demônio a bênção de que ele jamais será morto por alguma arma seca ou úmida, deves descobrir outra maneira de matá-lo.”

Texto

tāṁ daivīṁ giram ākarṇya
maghavān susamāhitaḥ
dhyāyan phenam athāpaśyad
upāyam ubhayātmakam

Sinônimos

tām — aquela; daivīm — agourenta; giram — voz; ākarṇya — após ouvir; maghavān — senhor Indra; su-samāhitaḥ — ficando muito cauteloso; dhyāyan — meditando; phenam — aparência de espuma; atha — depois disso; apaśyat — ele viu; upāyam — o meio; ubhaya-ātmakam — simultaneamente seca e molhada.

Tradução

 Após ouvir a voz agourenta, Indra, com muita atenção, começou a meditar em como matar o demônio. Foi então que ele deduziu que deveria usar a espuma, visto que ela não é nem seca nem molhada.

Texto

na śuṣkeṇa na cārdreṇa
jahāra namuceḥ śiraḥ
taṁ tuṣṭuvur muni-gaṇā
mālyaiś cāvākiran vibhum

Sinônimos

na — nem; śuṣkeṇa — por meios secos; na — nem; ca — também; ār­dreṇa — com uma arma molhada; jahāra — ele separou; namuceḥ — ­de Namuci; śiraḥ — a cabeça; tam — a ele (Indra); tuṣṭuvuḥ — satisfizeram; muni-gaṇāḥ — todos os sábios; mālyaiḥ — com guirlandas de flores; ca — também; avākiran — cobriram; vibhum — aquela grande personalidade.

Tradução

Assim, Indra, o rei dos céus, decepou a cabeça de Namuci com uma arma de espuma, que não era nem seca nem molhada. Então, todos os sábios satisfizeram Indra, a excelsa personalidade, derramando flores e guirlandas sobre ele, encobrindo-o quase completa­mente.

Comentário

SIGNIFICADO—Com relação a isso, os śruti-mantras dizem que apāṁ phenena namuceḥ śira indro ’dārayat: Indra matou Namuci com uma espuma aquosa, a qual não é nem seca, nem molhada.

Texto

gandharva-mukhyau jagatur
viśvāvasu-parāvasū
deva-dundubhayo nedur
nartakyo nanṛtur mudā

Sinônimos

gandharva-mukhyau — os dois líderes dos Gandharvas; jagatuḥ — começaram a cantar belas canções; viśvāvasu — chamado Viśvāvasu; parāvasū — chamado Parāvasu; deva-dundubhayaḥ — os timbales tocados pelos semideuses; neduḥ — faziam seu som; nartakyaḥ — as dançarinas conhecidas como Apsarās; nanṛtuḥ — começaram a dançar; mudā — com grande felicidade.

Tradução

Viśvāvasu e Parāvasu, os dois líderes dos Gandharvas, cantaram com grande felicidade. Os timbales dos semideuses ressoaram, e as Apsarās dançaram com alegria.

Texto

anye ’py evaṁ pratidvandvān
vāyv-agni-varuṇādayaḥ
sūdayām āsur asurān
mṛgān kesariṇo yathā

Sinônimos

anye — outros; api — também; evam — dessa maneira; pratidvan­dvān — o grupo oposto de beligerantes; vāyu — o semideus conhecido como Vāyu; agni — o semideus conhecido como Agni; varuṇa-ādayaḥ — o semideus conhecido como Varuṇa e outros; sūdayām āsuḥ — começaram a matar vigorosamente; asurān — todos os demônios; mṛgān — veado; kesariṇaḥ — leões; yathā — assim como.

Tradução

Assim como leões matam veados em uma floresta, Vāyu, Agni, Varuṇa e outros semideuses começaram a matar os demônios que se opunham a eles.

Texto

brahmaṇā preṣito devān
devarṣir nārado nṛpa
vārayām āsa vibudhān
dṛṣṭvā dānava-saṅkṣayam

Sinônimos

brahmaā — pelo senhor Brahmā; preṣitaḥ — enviado; devān — aos semideuses; deva-ṛṣiḥ — o grande sábio dos planetas celestiais; nāradaḥ — Nārada Muni; nṛpa — ó rei; vārayām āsa — proibiu; vibudhān — todos os semideuses; dṛṣṭvā — após ver; dānava-saṅkṣayam — a aniquilação total dos demônios.

Tradução

Ó rei, ao ver que era iminente a total aniquilação dos demônios, o senhor Brahmā enviou uma mensagem através de Nārada, que se apresentou perante os semideuses para fazê-los descontinuarem a luta.

Texto

śrī-nārada uvāca
bhavadbhir amṛtaṁ prāptaṁ
nārāyaṇa-bhujāśrayaiḥ
śriyā samedhitāḥ sarva
upāramata vigrahāt

Sinônimos

śrī-nāradaḥ uvāca — Nārada Muni pediu aos semideuses; bhavad­bhiḥ — por todos vós; amṛtam — néctar; prāptam — foi obtido; nārāyaṇa — da Suprema Personalidade de Deus; bhuja-āśrayaiḥ — sendo protegidos pelos braços; śriyā — por toda a fortuna; samedhitāḥ — prosperastes; sarve — todos vós; upāramata — agora cessai; vigrahāt — esta luta.

Tradução

O grande sábio Nārada disse: Todos vós, semideuses, sois protegidos pelos braços de Nārāyaṇa, a Suprema Personalidade de Deus, e, por Sua graça, obtivestes o néctar. Pela graça da deusa da fortu­na, sois gloriosos em todos os sentidos. Portanto, por favor, cessai esta luta.

Texto

śrī-śuka uvāca
saṁyamya manyu-saṁrambhaṁ
mānayanto muner vacaḥ
upagīyamānānucarair
yayuḥ sarve triviṣṭapam

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; saṁyamya — controlando; manyu — da ira; saṁrambham — a exacerbação; mānayantaḥ — aceitando; muneḥ vacaḥ — as palavras de Nārada Muni; upagīya­māna — sendo louvados; anucaraiḥ — por seus seguidores; yayuḥ — retornaram; sarve — todos os semideuses; triviṣṭapam — aos planetas celestiais.

Tradução

Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Aceitando as palavras de Nārada, os semideuses abrandaram sua ira e pararam de lutar. Louvados por seus seguidores, eles retornaram aos seus planetas celestiais.

Texto

ye ’vaśiṣṭā raṇe tasmin
nāradānumatena te
baliṁ vipannam ādāya
astaṁ girim upāgaman

Sinônimos

ye — alguns dos demônios que; avaśiṣṭāḥ — permaneceram; raṇe — nas lutas; tasmin — naquela; nārada-anumatena — por ordem de Nārada; te — todos eles; balim — Mahārāja Bali; vipannam — em situação adversa; ādāya — pegando; astam — chamada Asta; girim — à montanha; upāgaman — foram.

Tradução

Seguindo as ordens de Nārada Muni, todos os demônios que permaneceram no campo de batalha pegaram Bali Mahārāja, que esta­va em uma situação precária, e o levaram à colina conhecida como Astagiri.

Texto

tatrāvinaṣṭāvayavān
vidyamāna-śirodharān
uśanā jīvayām āsa
saṁjīvanyā sva-vidyayā

Sinônimos

tatra — naquela colina; avinaṣṭa-avayavān — os demônios que foram mortos, mas não haviam perdido as partes de seu corpo; vidyamāna-­śirodharān — cujas cabeças ainda permaneciam em seus corpos; uśanāḥ — Śukrācārya; jīvayām āsa — ressuscitou; saṁjīvanyā — através do mantra Saṁjīvanī; sva-vidyayā — por seu próprio mérito.

Tradução

Ali naquela colina, Śukrācārya ressuscitou todos os soldados demoníacos que, embora mortos, não houvessem perdido a cabeça, o tronco e os membros. Ele conseguiu isso através de seu mantra pessoal, co­nhecido como Saṁjīvanī.

Texto

baliś cośanasā spṛṣṭaḥ
pratyāpannendriya-smṛtiḥ
parājito ’pi nākhidyal
loka-tattva-vicakṣaṇaḥ

Sinônimos

baliḥ — Mahārāja Bali; ca — também; uśanasā — por Śukrācārya; spṛṣṭaḥ — sendo tocado; pratyāpanna — foi trazida de volta; indriya-­smṛtiḥ — percepção das ações dos sentidos e da memória; parāji­taḥ — ele foi derrotado; api — embora; na akhidyat — ele não se lamentou; loka-tattva-vicakṣaṇaḥ — porque era muito experiente nos afazeres universais.

Tradução

Bali Mahārāja era muito experiente nos afazeres universais. Quando, pela graça de Śukrācārya, recobrou seus sentidos e sua memória, pôde entender tudo o que havia acontecido. Portanto, embora tenha sido derrotado, não ficou lamentando-se.

Comentário

SIGNIFICADO—É expressivo que Bali Mahārāja seja aqui definido como muito experiente. Embora derrotado, ele não ficou pesaroso de modo algum, pois sabia que nada podia acontecer sem a sanção da Suprema Personalidade de Deus. Porque era um devoto, ele aceitou sua derrota e não se lamentou. Como a Suprema Personalidade de Deus afirma na Bhagavad-gītā (2.47): karmaṇy evādhikāras te mā phaleṣu kadācana. Todas as pessoas em consciência de Kṛṣṇa devem executar o seu dever, sem se preocuparem com a vitória ou com a derrota. Todos devem executar o seu dever conforme a ordem de Kṛṣṇa ou de Seu representante, o mestre espiritual. Ānukūlyena kṛṣṇānuśīlanaṁ bhaktir uttamā. No serviço devocional perfeito, sempre são acatadas as ordens e a vontade de Kṛṣṇa.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do oitavo canto, décimo primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Rei Indra Aniquila os Demônios”.