CAPÍTULO QUARENTA E UM
Kṛṣṇa e Balarāma Entram em Mathurā
Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa entrou na cidade de Mathurā, matou um lavadeiro e abençoou um tecelão e um guirlandeiro chamado Sudāmā.
Depois de mostrar Sua forma de Viṣṇu a Akrūra nas águas do Yamunā e de receber as preces de Akrūra, o Senhor Kṛṣṇa recolheu aquela visão da mesma forma que um ator encerra sua apresentação. Akrūra emergiu da água e, com grande espanto, aproximou-se do Senhor, que lhe perguntou se ele vira algo maravilhoso durante o banho. Akrūra respondeu: “Quaisquer coisas maravilhosas que existam nos reinos aquáticos, terrestres ou celestiais, todas têm sua existência dentro de Vós. Então, quando alguém Vos viu, nada mais resta a ser visto.” Em seguida, Akrūra começou outra vez a dirigir a quadriga.
Kṛṣṇa, Balarāma e Akrūra chegaram a Mathurā no fim da tarde. Após reunirem-Se com Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros que tinham vindo na frente, Kṛṣṇa pediu a Akrūra que voltasse para casa, prometendo ir visitá-lo depois de ter matado Kaṁsa. Akrūra despediu-se com tristeza do Senhor, foi ao rei Kaṁsa informar-lhe que Kṛṣṇa e Balarāma haviam chegado e, em seguida, dirigiu-se para sua casa.
Kṛṣṇa e Balarāma levaram os vaqueirinhos para conhecer a esplêndida cidade. Enquanto todos entravam em Mathurā, as mulheres da cidade saíram ansiosas de suas casas para verem Kṛṣṇa. Elas tinham ouvido falar dEle muitas vezes e há muito tinham desenvolvido profunda atração por Ele. Mas agora que O viam de fato, elas estavam dominadas pela felicidade, e toda a sua aflição decorrente da ausência dEle esvaiu-se.
Kṛṣṇa e Balarāma, então, depararam-Se com o perverso lavadeiro de Kaṁsa. Kṛṣṇa pediu-lhe algumas das primorosas roupas que ele levava, mas este negou e até mesmo repreendeu os dois Senhores. Kṛṣṇa ficou muito aborrecido com isso e, com as pontas de Seus dedos, decapitou o homem. Os ajudantes do lavadeiro, vendo seu fim prematuro, largaram ali mesmo seus fardos de roupas e correram para todos os lados. Kṛṣṇa e Balarāma, então, pegaram algumas das roupas de que mais gostaram.
Depois, um tecelão aproximou-se dos dois Senhores e adornou-Os de forma conveniente, recebendo de Kṛṣṇa, por este serviço, opulências nesta vida e liberação na próxima. Kṛṣṇa e Balarāma, então, foram à casa do guirlandeiro Sudāmā. Sudāmā ofereceu-Lhes suas completas reverências, adorou-Os banhando-Lhes os pés e oferecendo-Lhes artigos tais como arghya e pasta de sândalo, e cantou preces em honra dEles. Ornou-Os, em seguida, com guirlandas de flores fragrantes. Satisfeitos, os Senhores ofereceram-lhe quaisquer bênçãos que ele desejasse, após o que seguiram em frente.
Texto
stuvatas tasya bhagavān
darśayitvā jale vapuḥ
bhūyaḥ samāharat kṛṣṇo
naṭo nāṭyam ivātmanaḥ
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; stuvataḥ — enquanto orava; tasya — ele, Akrūra; bhagavān — o Senhor Supremo; darśayitvā — tendo mostrado; jale — na água; vapuḥ — Sua forma pessoal; bhūyaḥ — de novo; samāharat — retirou; kṛṣṇaḥ — Śrī Kṛṣṇa; naṭaḥ — um ator; nāṭyam — a apresentação; iva — como; ātmanaḥ — sua própria.
Tradução
Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto Akrūra ainda oferecia orações, o Supremo Senhor Kṛṣṇa retirou a forma que Ele revelara na água, do mesmo modo que um ator encerra sua apresentação.
Comentário
SIGNIFICADO—O Senhor Kṛṣṇa retirou da vista de Akrūra a forma de Viṣṇu e a visão do céu espiritual e seus eternos habitantes.
Texto
jalād unmajya satvaraḥ
kṛtvā cāvaśyakaṁ sarvaṁ
vismito ratham āgamat
Sinônimos
saḥ — ele, Akrūra; api — de fato; ca — e; antarhitam — desaparecida; vīkṣya — vendo; jalāt — da água; unmajya — emergindo; satvaraḥ — rapidamente; kṛtvā — executando; ca — e; āvaśyakam — seus deveres prescritos; sarvam — todos; vismitaḥ — surpreso; ratham — à quadriga; āgamat — foi.
Tradução
Quando viu desaparecer a visão, Akrūra saiu da água e terminou bem depressa seus vários deveres ritualísticos. Então, maravilhado, voltou à quadriga.
Texto
kiṁ te dṛṣṭam ivādbhutam
bhūmau viyati toye vā
tathā tvāṁ lakṣayāmahe
Sinônimos
tam — a ele; apṛcchat — perguntou; hṛṣīkeśaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; kim — se; te — por ti; dṛṣṭam — visto; iva — de fato; adbhutam — algo excepcional; bhūmau — na terra; viyati — no céu; toye — na água; va — ou; tathā — então; tvām — de ti; lakṣayāmahe — suspeitamos.
Tradução
O Senhor Kṛṣṇa perguntou a Akrūra: Viste algo maravilhoso na terra, no céu ou na água? Por tua aparência, suspeitamos que sim.
Texto
adbhutānīha yāvanti
bhūmau viyati vā jale
tvayi viśvātmake tāni
kiṁ me ’dṛṣṭaṁ vipaśyataḥ
Sinônimos
śrī-akrūraḥ uvāca — Śrī Akrūra disse; adbhutāni — coisas admiráveis; iha — neste mundo; yāvanti — sejam quais forem; bhūmau — na terra; viyati — no céu; vā — ou; jale — na água; tvayi — em Vós; viśvaātmake — que abrangeis tudo; tāni — elas; kim — quais; me — por mim; adṛṣṭam — não vistas; vipaśyataḥ — vendo (a Vós).
Tradução
Śrī Akrūra disse: Quaisquer coisas maravilhosas que a terra, o céu ou a água contenham, todas existem em Vós. Como abranges tudo, ao ver-Vos, o que falta ser visto?
Texto
bhūmau viyati vā jale
taṁ tvānupaśyato brahman
kiṁ me dṛṣṭam ihādbhutam
Sinônimos
yatra — em quem; adbhutāni — coisas surpreendentes; sarvāṇi — todas; bhūmau — na terra; viyati — no céu; vā — ou; jale — na água; tam — aquela pessoa; tvā — a Vós; anupaśyataḥ — vendo; brahman — a Suprema Verdade Absoluta; kim — o que; me — por mim; dṛṣṭam — visto; iha — neste mundo; adbhutam — surpreendente.
Tradução
E agora que Vos vejo, ó Suprema Verdade Absoluta, em quem reside tudo o que há de admirável na terra, no céu e na água, o que de surpreendente eu poderia ver neste mundo?
Comentário
SIGNIFICADO—Akrūra agora entendeu que o Senhor Kṛṣṇa não é apenas seu sobrinho.
Texto
syandanaṁ gāndinī-sutaḥ
mathurām anayad rāmaṁ
kṛṣṇaṁ caiva dinātyaye
Sinônimos
iti — assim; uktvā — dizendo; codayām āsa — dirigiu; syandanam — a quadriga; gāndinī-sutaḥ — o filho de Gāndinī, Akrūra; mathurām — para Mathurā; anayat — conduziu; rāmam — o Senhor Balarāma; kṛṣṇam — o Senhor Kṛṣṇa; ca — e; eva — também; dina — do dia; atyaye — no final.
Tradução
Tendo dito estas palavras, Akrūra, o filho de Gāndinī, colocou-se a dirigir a quadriga. No fim do dia, ele chegou a Mathurā com o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa.
Texto
tatra tatropasaṅgatāḥ
vasudeva-sutau vīkṣya
prītā dṛṣṭiṁ na cādaduḥ
Sinônimos
mārge — na estrada; grāma — das vilas; janāḥ — as pessoas; rājan — ó rei (Parīkṣit); tatra tatra — aqui e ali; upasaṅgatāḥ — aproximando-se; vasudeva-sutau — aos dois filhos de Vasudeva; vīkṣya — olhando; prītāḥ — satisfeitos; dṛṣṭim — sua visão; na — não; ca — e; ādaduḥ — conseguiam tirar.
Tradução
Por onde passavam na estrada, ó rei, as pessoas da vila, com grande prazer, adiantavam-se para olhar os dois filhos de Vasudeva. De fato, os moradores da vila não conseguiam desviar os olhos dEles.
Texto
nanda-gopādayo ’grataḥ
puropavanam āsādya
pratīkṣanto ’vatasthire
Sinônimos
tāvat — então; vraja-okasaḥ — os habitantes de Vraja; tatra — lá; nanda-gopa-ādayaḥ — encabeçados por Nanda, o rei dos vaqueiros; agrataḥ — antes; pura — da cidade; upavanam — um jardim; āsādya — chegando a; pratīkṣantaḥ — esperando; avatasthire — ali ficaram.
Tradução
Nanda Mahārāja e os outros residentes de Vṛndāvana, tendo chegado a Mathurā antes da quadriga, pararam em um jardim nos arredores da cidade para aguardar Kṛṣṇa e Balarāma.
Comentário
SIGNIFICADO—Nanda e os outros chegaram primeiro a Mathurā porque a quadriga que levava Kṛṣṇa e Balarāma atrasou-se por causa do banho de Akrūra.
Texto
akrūraṁ jagad-īśvaraḥ
gṛhītvā pāṇinā pāṇiṁ
praśritaṁ prahasann iva
Sinônimos
tān — com eles; sametya — encontrando-Se; āha — disse; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; akrūram — a Akrūra; jagat-īśvaraḥ — o Senhor do universo; gṛhītvā — tomando; pāṇinā — com Sua mão; pāṇim — a mão dele; praśritam — que era humilde; prahasan — sorrindo; iva — de fato.
Tradução
Depois de Se juntar a Nanda e os outros, o Supremo Senhor Kṛṣṇa, o controlador do universo, tomou a mão do humilde Akrūra em Sua própria e, sorrindo, falou o seguinte.
Texto
saha-yānaḥ purīṁ gṛham
vayaṁ tv ihāvamucyātha
tato drakṣyāmahe purīm
Sinônimos
bhavān — tu; praviśatām — deves entrar; agre — na frente; saha — junto de; yānaḥ — o veículo; purīm — na cidade; gṛham — e tua casa; vayam — nós; tu — porém; iha — aqui; avamucya — descendo; atha — então; tataḥ — depois; drakṣyāmahe — veremos; purīm — a cidade.
Tradução
[O Senhor Kṛṣṇa disse:] Pega a quadriga e entra na cidade antes de nós. Depois, vai para casa. Após descansarmos aqui um pouco, iremos ver a cidade.
Texto
nāhaṁ bhavadbhyāṁ rahitaḥ
pravekṣye mathurāṁ prabho
tyaktuṁ nārhasi māṁ nātha
bhaktaṁ te bhakta-vatsala
Sinônimos
śrī-akrūraḥ uvāca — Śrī Akrūra disse; na — não posso; aham — eu; bhavadbhyām — de Vós dois; rahitaḥ — privado; pravekṣye — entrar; mathurām — em Mathurā; prabho — ó mestre; tyaktum — abandonar; na arhasi — não deveis; mām — a mim; nātha — ó Senhor; bhaktam — devoto; te — Vosso; bhakta-vatsala — ó Vós que tendes afeição paternal por Vossos devotos.
Tradução
Śrī Akrūra disse: Ó mestre, não entrarei em Mathurā sem Vós dois. Sou Vosso devoto, ó Senhor, logo não é justo que me abandoneis, visto que sois sempre afetuosos com Vossos devotos.
Texto
sa-nāthān kurv adhokṣaja
sahāgrajaḥ sa-gopālaiḥ
suhṛdbhiś ca suhṛttama
Sinônimos
āgaccha — por favor, vinde; yāma — vamos; gehān — para a casa; naḥ — nossa; sa — tendo; nāthān — um senhor; kuru — por favor, faze-o; adhokṣaja — ó Senhor transcendental; saha — com; agra-jaḥ — Vosso irmão mais velho; sa-gopālaiḥ — com os vaqueiros; suhṛdbhiḥ — com Vossos amigos; ca — e; suhṛt-tama — ó supremo benquerente.
Tradução
Vinde! Vamos para minha casa com Vosso irmão mais velho, os vaqueiros e Vossos companheiros. Ó melhor dos amigos, ó Senhor transcendental, por favor, agraciai desse modo minha casa e seu dono.
Texto
gṛhān no gṛha-medhinām
yac-chaucenānutṛpyanti
pitaraḥ sāgnayaḥ surāḥ
Sinônimos
punīhi — por favor, purificai; pāda — de Vossos pés; rajasā — com a poeira; gṛhān — o lar; naḥ — de nós; gṛha-medhinām — que estamos apegados aos deveres ritualísticos domésticos; yat — pela qual; śaucena — purificação; anutṛpyanti — ficarão satisfeitos; pitaraḥ — meus antepassados; sa — junto de; agnayaḥ — os fogos de sacrifício; surāḥ — e os semideuses.
Tradução
Sou simplesmente um pai de família comum e apegado a sacrifícios ritualísticos, então, por favor, purificai meu lar com a poeira de Vossos pés de lótus. Por esse ato de purificação, meus antepassados, os fogos de sacrifício e os semideuses, todos ficarão satisfeitos.
Texto
āsīt ślokyo balir mahān
aiśvaryam atulaṁ lebhe
gatiṁ caikāntināṁ tu yā
Sinônimos
avanijya — banhando; aṅghri-yugalam — os dois pés; āsīt — tornou-se; ślokyaḥ — glorioso; baliḥ — o rei Bali; mahān — o grande; aiśvaryam — poder; atulam — inigualável; lebhe — alcançou; gatīm — o destino; ca — e; ekāntinām — dos imaculados devotos do Senhor; tu — de fato; yā — que.
Tradução
Por banhar Vossos pés, o grandioso Bali Mahārāja alcançou não só gloriosa fama e poder inigualável, mas também o destino final dos devotos puros.
Texto
trīḻ lokān śucayo ’punan
śirasādhatta yāḥ śarvaḥ
svar yātāḥ sagarātmajāḥ
Sinônimos
āpaḥ — a água (isto é, o rio Ganges); te — Vossos; aṅghri — dos pés; avanejanyaḥ — vinda do banho; trīn — os três; lokān — mundos; śucayaḥ — sendo puramente espiritual; apunan — purificou; śirasā — em sua cabeça; ādhatta — tomou; yāḥ — que; śarvaḥ — o senhor Śiva; svaḥ — para o céu; yātāḥ — foram; sagara-ātmajāḥ — os filhos do rei Sagara.
Tradução
A água do rio Ganges purificou os três mundos, tendo-se tornado transcendental por banhar Vossos pés. O senhor Śiva aceitou essa água sobre sua cabeça, e, pela graça dessa água, os filhos do rei Sagara alcançaram o céu.
Texto
puṇya-śravaṇa-kīrtana
yadūttamottamaḥ-śloka
nārāyaṇa namo ’stu te
Sinônimos
deva-deva — ó Senhor dos senhores; jagat-nātha — ó mestre do universo; puṇya — piedoso; śravaṇa — ouvir; kīrtana — e cantar (sobre o qual); yadu-uttama — ó melhor dos Yadus; uttamaḥ-śloka — ó Vós que sois glorificado em versos excelentes; nārāyaṇa — ó Supremo Senhor Nārāyaṇa; namaḥ — reverências; astu — sejam prestadas; te — para Vós.
Tradução
Ó Senhor dos senhores, mestre do universo, são atos absolutamente piedosos ouvir e cantar Vossas glórias! Ó melhor dos Yadus, ó Vós cuja fama é narrada em excelente poesia! Ó Supremo Senhor Nārāyaṇa, ofereço-Vos minhas reverências.
Texto
āyāsye bhavato geham
aham arya-samanvitaḥ
yadu-cakra-druhaṁ hatvā
vitariṣye suhṛt-priyam
Sinônimos
śrī-bhagavān uvāca — o Senhor Supremo disse; āyāsye — irei; bhavataḥ — a tua; geham — casa; aham — Eu; ārya — por Meu (irmão) mais velho (Balarāma); samanvitaḥ — acompanhado; yadu-cakra — do círculo dos Yadus; druham — o inimigo (Kaṁsa); hatvā — matando; vitariṣye — concederei; suhṛt — a Meus benquerentes; priyam — satisfação.
Tradução
O Senhor Supremo disse: Irei à tua casa com Meu irmão mais velho, mas antes devo satisfazer Meus amigos e benquerentes matando o inimigo do clã dos Yadus.
Comentário
SIGNIFICADO—Akrūra glorificou Kṛṣṇa no verso dezesseis como yadūttama, “o melhor dos Yadus”. Śrī Kṛṣṇa confirma isso dizendo, com efeito: “Já que sou o melhor dos Yadus, devo matar o inimigo dos Yadus, Kaṁsa, após o que irei à tua casa.”
Texto
evam ukto bhagavatā
so ’krūro vimanā iva
purīṁ praviṣṭaḥ kaṁsāya
karmāvedya gṛhaṁ yayau
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; evam — assim; uktaḥ — tendo falado; bhagavatā — o Senhor; saḥ — com ele; akrūraḥ — Akrūra; vimanāḥ — desalentado; iva — um tanto; purīm — na cidade; praviṣṭaḥ — entrando; kaṁsāya — Kaṁsa; karma — de suas atividades; āvedya — informando; gṛham — para a sua casa; yayau — foi.
Tradução
Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo o Senhor falado assim com ele, Akrūra entrou na cidade com o coração pesaroso. Ele informou ao rei Kaṁsa acerca do sucesso de sua missão e, então, foi para casa.
Texto
kṛṣṇaḥ saṅkarṣaṇānvitaḥ
mathurāṁ prāviśad gopair
didṛkṣuḥ parivāritaḥ
Sinônimos
atha — então; apara-ahne — à tarde; bhagavān — o Senhor Supremo; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; saṅkarṣaṇa-anvitaḥ — junto do Senhor Balarāma; mathurām — em Mathurā; prāviśat — entrou; gopaiḥ — pelos vaqueirinhos; didṛkṣuḥ — querendo ver; parivāritaḥ — acompanhado.
Tradução
Como o Senhor Kṛṣṇa desejava ver Mathurā, Ele, no fim da tarde, levou conSigo o Senhor Balarāma e os vaqueirinhos e entrou na cidade.
Texto
dvārāṁ bṛhad-dhema-kapāṭa-toraṇām
tāmrāra-koṣṭhāṁ parikhā-durāsadām
udyāna-ramyopavanopaśobhitām
śreṇī-sabhābhir bhavanair upaskṛtām
vaidūrya-vajrāmala-nīla-vidrumair
muktā-haridbhir valabhīṣu vediṣu
āviṣṭa-pārāvata-barhi-nāditām
saṁsikta-rathyāpaṇa-mārga-catvarāṁ
prakīrṇa-mālyāṅkura-lāja-taṇḍulām
prasūna-dīpāvalibhiḥ sa-pallavaiḥ
sa-vṛnda-rambhā-kramukaiḥ sa-ketubhiḥ
sv-alaṅkṛta-dvāra-gṛhāṁ sa-paṭṭikaiḥ
Sinônimos
dadarśa — Ele viu; tam — aquela (cidade); sphāṭika — de cristal; tuṅga — altas; gopura — cujos portões principais; dvārām — e portões de casas; bṛhat — imensos; hema — ouro; kapāṭa — cujas portas; toraṇām — e arcos ornamentais; tāmra — de cobre; āra — e bronze; koṣṭhām — cujos armazéns; parikhā — com seus canais; durāsadām — invioláveis; udyāna — com jardins públicos; ramya — atraentes; upavana — e parques; upaśobhitam — embelezada; sauvarṇa — de ouro; śṛṅgāṭaka — com encruzilhadas; harmya — mansões; niṣkuṭaiḥ — e jardins aprazíveis; śreṇī — de grêmios; sabhābhiḥ — com os salões de assembleias; bhavanaiḥ — e com casas; upaskṛtām — ornamentada; vaidūrya — com joias vaidūrya; vajra — diamantes; amala — quartzos de cristal; nīla — safiras; vidrumaiḥ — e corais; muktā — com pérolas; haridbhiḥ — e esmeraldas; valabhīṣu — nos painéis de madeira que decoram os caibros na frente das casas; vediṣu — em varandas com colunas; juṣṭeṣu — enfeitados; jāla-āmukha — das treliças das janelas; randhra — nas aberturas; kuṭṭimeṣu — e em assoalhos incrustados com pedras preciosas; āviṣṭa — sentado; pārāvata — com os pombos de estimação; barhi — e os pavões; nāditām — ressoando; saṁsikta — borrifados de água; rathyā — com avenidas reais; āpaṇa — ruas comerciais; mārga — outras estradas; catvarām — e quintais; prakīrṇa — espalhados; mālya — com guirlandas de flores; aṅkura — brotos novos; lāja — cereais torrados; taṇḍulām — e arroz; āpūrṇa — cheios; kumbhaiḥ — com potes; dadhi — com iogurte; candana — e pasta de sândalo; ukṣitaiḥ — ungidas; prasūna — com pétalas de flores; dīpa-āvalibhiḥ — e fileiras de lamparinas; sa-pallavaiḥ — com folhas; sa-vṛnda — com buquês de flores; rambhā — com troncos de bananeiras; kramukaiḥ — e troncos de nogueiras de bétel; sa-ketubhiḥ — com bandeiras; su-alaṅkṛta — belamente adornadas; dvāra — com portas; gṛhām — cujas casas; sa-paṭṭikaiḥ — com fitas.
Tradução
O Senhor viu Mathurā, com seus altos portões e entradas domiciliares feitos de cristal, seus imensos arcos e portais de ouro, seus celeiros e outros depósitos feitos de cobre e bronze, e seus fossos inexpugnáveis. Embelezando a cidade, havia jardins e parques agradáveis. As principais encruzilhadas eram enfeitadas de ouro, e havia mansões com jardins de recreio particulares, junto de salões para reunião e muitas outras construções. Mathurā ressoava com os gritos de pavões e pombos de estimação, que se sentavam nas pequenas aberturas das treliças das janelas e nos assoalhos incrustados de pedras preciosas e também nas varandas sustentadas por colunas e nos caibros ornados na frente das casas. Estas varandas e caibros eram adornados com pedras vaidūrya, diamantes, quartzos de cristal, safiras, corais, pérolas e esmeraldas. Todas as avenidas reais e ruas comerciais, bem como as travessas e quintais, estavam borrifadas de água, e guirlandas de flores, brotos recémcrescidos, cereais torrados e arroz tinham sido espalhados por toda parte. Enfeitando os portais das casas, havia potes belamente decorados cheios de água, que eram enfeitados com folhas de manga, untados com iogurte e pasta de sândalo, e rodeados de pétalas de flores e fitas. Junto aos potes, havia bandeiras, fileiras de lamparinas, buquês de flores, troncos de bananeiras e nogueiras de bétel.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura fornece esta descrição dos potes belamente decorados: “Do lado de cada porta, em cima do arroz espalhado, há um pote. Rodeando cada pote, há pétalas de flores; em seu gargalo, há fitas, e em sua boca, há folhas de mangueira e de outras árvores. Em cima de cada pote, em um prato de ouro, há fileiras de lamparinas. Um tronco de bananeira fica dos dois lados de cada pote, e um tronco de nogueira de bétel fica na frente e também atrás. Bandeiras apoiam-se nos potes.”
Texto
vṛtau vayasyair naradeva-vartmanā
draṣṭuṁ samīyus tvaritāḥ pura-striyo
harmyāṇi caivāruruhur nṛpotsukāḥ
Sinônimos
tām — nela (Mathurā); sampraviṣṭau — entrando; vasudeva — de Vasudeva; nandanau — os dois filhos; vṛtau — rodeados; vayasyaiḥ — por Seus jovens amigos; nara-deva — do rei; vartmanā — pela estrada; draṣṭum — para ver; samīyuḥ — adiantaram-se juntas; tvaritāḥ — apressadas; pura — da cidade; striyaḥ — as mulheres; harmyāṇi — suas casas; ca — e; eva — também; āruruhuḥ — subiram no alto das; nṛpa — ó rei (Parīkṣit); utsukāḥ — ávidas.
Tradução
As mulheres de Mathurā reuniram-se apressadamente e adiantaram-se para ver os dois filhos de Vasudeva enquanto Eles entravam na cidade pela estrada real, rodeados por Seus amigos vaqueirinhos. Algumas das mulheres, meu querido rei, subiram com muita avidez aos terraços de suas casas para vê-lOs.
Texto
vismṛtya caikaṁ yugaleṣv athāparāḥ
kṛtaika-patra-śravanaika-nūpurā
nāṅktvā dvitīyaṁ tv aparāś ca locanam
Sinônimos
kaścit — algumas delas; viparyak — para trás; dhṛta — vestindo; vastra — suas roupas; bhūṣaṇaḥ — e ornamentos; vismṛtya — esquecendo; ca — e; ekam — um; yugaleṣu — dos pares; atha — e; aparāḥ — outras; kṛta — colocando; eka — somente um; patra — brinco; śravaṇa — em suas orelhas; eka — ou um; nūpurāḥ — conjunto de enfeites de tornozelo; na aṅktvā — não ungindo; dvitīyam — o segundo; tu — mas; aparāḥ — outras senhoras; ca — e; locanam — um olho.
Tradução
Algumas das mulheres puseram suas roupas e ornamentos ao contrário, outras esqueceram um de seus brincos ou tornozeleiras, e outras aplicaram maquiagem apenas em um dos olhos.
Comentário
SIGNIFICADO—As mulheres estavam muito ansiosas para ver Kṛṣṇa e, em sua pressa e empolgação, esqueceram-se de si mesmas.
Texto
abhyajyamānā akṛtopamajjanāḥ
svapantya utthāya niśamya niḥsvanaṁ
prapāyayantyo ’rbham apohya mātaraḥ
Sinônimos
aśnantyaḥ — comendo suas refeições; ekaḥ — algumas; tat — isto; apāsya — abandonando; sa-utsavaḥ — alegremente; abhyajyamānāḥ — sendo massageadas; akṛta — não acabando; upamajjanāḥ — seu banho; svapantyaḥ — dormindo; utthāya — levantando-se; niśamya — tendo ouvido; niḥsvanam — os altos sons; prapāyayantyaḥ — amamentando; arbham — a um bebê; apohya — punham de lado; mātaraḥ — mães.
Tradução
Algumas mulheres que estavam comendo abandonaram a refeição, outras saíram sem acabar seus banhos ou massagens, ainda outras que dormiam, ao ouvirem o tumulto, levantaram-se na mesma hora, e mães que amamentavam seus bebês simplesmente puseram-nos de lado.
Texto
pragalbha-līlā-hasitāvalokaiḥ
jahāra matta-dviradendra-vikramo
dṛśāṁ dadac chrī-ramaṇātmanotsavam
Sinônimos
manāṁsi — as mentes; tāsām — delas; aravinda — como o lótus; locanaḥ — Ele cujos olhos; pragalbha — ousados; līlā — com Seus passatempos; hasita — sorridentes; avalokaiḥ — com Seus olhares; jahāra — levou embora; matta — no cio; dvirada-indra — (como) um majestoso elefante; vikramaḥ — cujo andar; dṛśām — a seus olhos; dadat — dando; śrī — da deusa da fortuna; ramaṇa — que é a fonte de prazer; ātmanā — com Seu corpo; utsavam — um festival.
Tradução
O Senhor de olhos de lótus, sorrindo enquanto recordava Seus ousados passatempos, cativou a mente daquelas damas com Seus olhares. Ele andava com o passo de um majestoso elefante no cio, criando um festival para os olhos delas com Seu corpo transcendental, que é a fonte de prazer para a divina deusa da fortuna.
Texto
taṁ tat-prekṣaṇotsmita-sudhokṣaṇa-labdha-mānāḥ
ānanda-mūrtim upaguhya dṛśātma-labdhaṁ
hṛṣyat-tvaco jahur anantam arindamādhim
Sinônimos
dṛṣṭvā — vendo; muhuḥ — repetidamente; śrutam — ouvido; anudruta — derretidos; cetasaḥ — cujos corações; tam — a Ele; tat — dEle; prekṣaṇa — dos olhares; ut-smita — e os largos sorrisos; sudhā — pelo néctar; ukṣaṇa — do borrifo; labdha — recebendo; mānāḥ — honra; ānanda — do êxtase; mūrtim — a forma pessoal; upaguhya — abraçando; dṛśā — através de seus olhos; ātma — dentro de si mesmas; labdham — ganho; hṛṣyat — arrepiando-se; tvacaḥ — a pele delas; jahuḥ — abandonaram; anantam — da ilimitada; arim-dama — ó subjugador dos inimigos (Parīkṣit); ādhim — aflição mental.
Tradução
As damas de Mathurā haviam escutado sobre Kṛṣṇa repetidas vezes, e, por isso, logo que O viram, seus corações se derreteram. Elas se sentiam honradas por Ele derramar sobre elas o néctar de Seus olhares e largos sorrisos. Colocando-O em seus corações através de seus olhos, elas abraçaram o Senhor, a personificação de todo o êxtase, e, com seus pelos arrepiados, ó subjugador dos inimigos, esqueceram a ilimitada aflição causada por Sua ausência.
Texto
prīty-utphulla-mukhāmbujāḥ
abhyavarṣan saumanasyaiḥ
pramadā bala-keśavau
Sinônimos
prāsāda — das mansões; śikhara — aos terraços; ārūḍhāḥ — tendo subido; prīti — de afeição; utphulla — florescentes; mukha — seus rostos; ambujāḥ — que eram como lótus; abhyavarṣan — lançavam chuvas; saumanasyaiḥ — de flores; pramadāḥ — as atraentes mulheres; bala-keśavau — sobre Balarāma e Kṛṣṇa.
Tradução
Com seus rostos de lótus florescendo de afeição, as damas que haviam subido aos terraços das mansões lançavam chuvas de flores sobre o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa.
Texto
srag-gandhair abhyupāyanaiḥ
tāv ānarcuḥ pramuditās
tatra tatra dvijātayaḥ
Sinônimos
dadhi — com iogurte; akṣataiḥ — cevada integral; sa — e; uda-pātraiḥ — com potes cheios d’água; srak — com guirlandas; gandhaiḥ — e substâncias fragrantes; abhyupāyanaiḥ — e também com outros artigos de adoração; tau — a Eles dois; ānarcuḥ — adoravam; pramuditāḥ — alegres; tatra tatra — em vários lugares; dvi-jātayaḥ — brāhmaṇas.
Tradução
Postados ao longo do caminho, brāhmaṇas honravam os dois Senhores com presentes de iogurte, cevada integral, potes cheios d’água, guirlandas, substâncias perfumadas, como pasta de sândalo, e outros artigos de adoração.
Texto
tapaḥ kim acaran mahat
yā hy etāv anupaśyanti
nara-loka-mahotsavau
Sinônimos
ūcuḥ — disseram; paurāḥ — as mulheres da cidade; aho — ah; gopyaḥ — as vaqueirinhas (de Vṛndāvana); tapaḥ — austeridade; kim — o que; acaran — executaram; mahat — grande; yāḥ — quem; hi — de fato; etau — a estes dois; anupaśyanti — veem constantemente; nara-loka — para a sociedade humana; mahā-utsavau — que são a maior fonte de prazer.
Tradução
As mulheres de Mathurā exclamaram: Oh! Que severas austeridades as gopīs devem ter praticado para conseguirem ver regularmente Kṛṣṇa e Balarāma, que são a maior fonte de prazer para toda a humanidade!
Texto
raṅga-kāraṁ gadāgrajaḥ
dṛṣṭvāyācata vāsāṁsi
dhautāny aty-uttamāni ca
Sinônimos
rajakam — lavador de roupas; kañcit — um; āyāntam — aproximando-se; raṅga-kāram — ocupado em tingir; gada-agrajaḥ — o Senhor Śrī Kṛṣṇa, o irmão mais velho de Gada; dṛṣṭvā — vendo; ayācata — pediu; vāsāṁsi — roupas; dhautāni — limpas; ati-uttamāni — de primeira classe; ca — e.
Tradução
Vendo aproximar-se um lavador de roupas com alguns trajes que estivera tingindo, Kṛṣṇa pediu-lhe as roupas lavadas mais finas que ele tivesse.
Texto
aṅga vāsāṁsi cārhatoḥ
bhaviṣyati paraṁ śreyo
dātus te nātra saṁśayaḥ
Sinônimos
dehi — por favor, dá; āvayoḥ — para Nós dois; samucitāni — convenientes; aṅga — Meu caro; vāsāṁsi — roupas; ca — e; arhatoḥ — aos dois que merecem; bhaviṣyati — haverá; param — supremo; śreyaḥ — benefício; dātuḥ — para o doador; te — para ti; na — não há; atra — neste assunto; saṁśayaḥ — dúvida.
Tradução
[O Senhor Kṛṣṇa disse:] Por favor, entrega roupas convenientes para Nós dois, que as merecemos com certeza. Se fizeres esta caridade, não há dúvida de que receberás o mais alto benefício.
Texto
paripūrṇena sarvataḥ
sākṣepaṁ ruṣitaḥ prāha
bhṛtyo rājñaḥ su-durmadaḥ
Sinônimos
saḥ — ele; yācitaḥ — solicitado; bhagavatā — pelo Senhor Supremo; paripūrṇena — que é absolutamente completo; sarvataḥ — em todos os aspectos; sa-ākṣepam — com insultos; ruṣitaḥ — irado; prāha — falou; bhṛtyaḥ — o servo; rājñaḥ — do rei; su — muito; durmadaḥ — falsamente orgulhoso.
Tradução
Solicitado assim pelo Senhor Supremo, que é perfeitamente completo em todos os aspectos, aquele arrogante servidor do rei ficou irado e respondeu com insultos.
Texto
nityaṁ giri-vane-caraḥ
paridhatta kim udvṛttā
rāja-dravyāṇy abhīpsatha
Sinônimos
īdṛśāni — desta espécie; eva — de fato; vāsāṁsi — roupas; nityam — sempre; giri — nas montanhas; vane — e nas florestas; carāḥ — aqueles que viajam; paridhatta — vestiriam; kim — se; udvṛttāḥ — descarados; rāja — do rei; dravyāṇi — coisas; abhīpsatha — quereis.
Tradução
[O lavador de roupas disse:] Seus meninos descarados! Estais acostumados a perambular por montanhas e florestas, e ainda ousaríeis vestir roupas desta categoria! Sabei que é propriedade do rei o que estais pedindo!
Texto
prārthyaṁ yadi jijīvīṣā
badhnanti ghnanti lumpanti
dṛptaṁ rāja-kulāni vai
Sinônimos
yāta — ide; āśu — logo; bāliśaḥ — tolos; mā — não; evam — dessa maneira; prārthyam — mendigueis; yadi — se; jijīviṣā — desejais viver; badhnanti — amarram; ghnanti — matam; lumpanti — e saqueiam (sua casa); dṛptam — quem é atrevido; rāja-kulāni — os homens do rei; vai — de fato.
Tradução
Tolos, deixai este lugar sem demora! Não mendigueis assim se quereis continuar vivos. Quando alguém é atrevido demais, os homens do rei prendem-no, matam-no e tomam todos os seus bens.
Texto
kupito devakī-sutaḥ
rajakasya karāgreṇa
śiraḥ kāyād apātayat
Sinônimos
evam — assim; vikatthamānasya — que falava com insolência; kupitaḥ — irado; devakī-sutaḥ — Kṛṣṇa, o filho de Devakī; rajakasya — do lavador de roupas; kara — de uma mão; agreṇa — com a frente; śiraḥ — a cabeça; kāyāt — do corpo; apātayat — fez cair.
Tradução
Enquanto o lavador de roupas falava com essa insolência, o filho de Devakī ficou irado e, então, apenas com as pontas dos dedos, decapitou o homem.
Texto
vāsaḥ-kośān visṛjya vai
dudruvuḥ sarvato mārgaṁ
vāsāṁsi jagṛhe ’cyutaḥ
Sinônimos
tasya — seus; anujīvinaḥ — empregados; sarve — todos; vāsaḥ — de roupas; kośān — os fardos; visṛjya — deixando para trás; vai — de fato; dudruvuḥ — fugiram; sarvataḥ — em todas as direções; mārgam — estrada abaixo; vāsāṁsi — roupas; jagṛhe — pegou; acyutaḥ — o Senhor Kṛṣṇa.
Tradução
Todos os empregados do lavador de roupas largaram seus fardos de roupas e fugiram estrada abaixo, dispersando-se em todas as direções. O Senhor Kṛṣṇa, então, pegou as roupas.
Texto
kṛṣṇaḥ saṅkarṣaṇas tathā
śeṣāṇy ādatta gopebhyo
visṛjya bhuvi kānicit
Sinônimos
vasitvā — vestindo-Se; ātma-priye — que Lhe agradou; vastre — com um conjunto de roupas; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; saṅkarṣaṇaḥ — Balarāma; tathā — também; śeṣāṇi — o resto; ādatta — Ele deu; gopebhyaḥ — aos vaqueirinhos; visṛjya — jogando; bhuvi — no chão; kānicit — várias.
Tradução
Kṛṣṇa vestiu um conjunto de roupas que Lhe agradou de modo especial, e o mesmo fez Balarāma. Kṛṣṇa, então, distribuiu os trajes restantes entre os vaqueirinhos, deixando alguns espalhados no chão.
Texto
tayor veṣam akalpayat
vicitra-varṇaiś caileyair
ākalpair anurūpataḥ
Sinônimos
tataḥ — então; tu — além disso; vāyakaḥ — um tecelão; prītaḥ — com afeição; tayoḥ — por Eles dois; veṣam — a roupa; akalpayat — arrumou; vicitra — várias; varṇaiḥ — com cores; caileyaiḥ — feitas de tecidos; ākalpaiḥ — com ornamentos; anurūpataḥ — de forma adequada.
Tradução
Logo em seguida, adiantou-se um tecelão e, sentindo afeição pelos Senhores, adornou Seus trajes com belos enfeites de tecido de várias cores.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Jīva Gosvāmī explica que o tecelão adornou os Senhores com braceletes de pano e brincos que pareciam joias. A palavra anurūpataḥ indica que as cores combinavam muito bem.
Texto
kṛṣṇa-rāmau virejatuḥ
sv-alaṅkṛtau bāla-gajau
parvaṇīva sitetarau
Sinônimos
nānā — várias; lakṣaṇa — que tinham belas qualidades; veṣābhyām — com Suas roupas individuais; kṛṣṇa-rāmau — Kṛṣṇa e Balarāma; virejatuḥ — pareciam resplandecentes; su-alaṅkṛtau — bem enfeitados; bāla — jovens; gajau — elefantes; parvaṇi — durante um festival; iva — como se; sita — branco; itarau — e o oposto (preto).
Tradução
Satisfeito com o tecelão, o Supremo Senhor Kṛṣṇa o abençoou com a dádiva de que, após a morte, ele conseguiria a liberação em que se tem uma forma semelhante à do Senhor, e que, enquanto vivesse neste mundo, desfrutaria de suprema opulência, força física, influência, memória e vigor sensorial.
Texto
prādāt sārūpyam ātmanaḥ
śriyaṁ ca paramāṁ loke
balaiśvarya-smṛtīndriyam
Sinônimos
tasya — com ele; prasannaḥ — satisfeito; bhagavān — o Senhor Supremo; prādāt — concedeu; sārūpyam — a liberação em que se tem a mesma forma; ātmanaḥ — que Ele; śriyam — opulência; ca — e; paramām — suprema; loke — neste mundo; bala — força física; aiśvarya — influência; smṛti — força de memória; indriyam — destreza dos sentidos.
Tradução
Kṛṣṇa e Balarāma pareciam resplandecentes, cada um com Seu traje incomparável e maravilhosamente ornamentado. Assemelhavam-se a um par de jovens elefantes, um branco e outro preto, enfeitados para uma ocasião festiva.
Texto
mālā-kārasya jagmatuḥ
tau dṛṣṭvā sa samutthāya
nanāma śirasā bhuvi
Sinônimos
tataḥ — então; sudāmnaḥ — de Sudāmā; bhavanam — à casa; mālā-kārasya — de um guirlandeiro; jagmatuḥ — ambos foram; tau — a Eles; dṛṣṭvā — vendo; saḥ — ele; samutthāya — levantando-se; nanāma — prostrou-se; śirasā — com a cabeça; bhuvi — no chão.
Tradução
Então, os dois Senhores foram à casa do guirlandeiro Sudāmā. Ao vê-lOs, Sudāmā levantou-se de imediato e, em seguida, prostrou-se, colocando a cabeça no chão.
Texto
pādyaṁ cārghyārhaṇādibhiḥ
pūjāṁ sānugayoś cakre
srak-tāmbūlānulepanaiḥ
Sinônimos
tayoḥ — para Eles; āsanam — assentos; ānīya — trazendo; pādyam — água para lavar os pés; ca — e; arghya — com água para lavar as mãos; arhaṇa — presentes; ādibhiḥ — etc.; pūjām — adoração; sa-anugayoḥ — dos dois, junto de Seus companheiros; cakre — ele fez; srak — com guirlanda; tāmbūla — preparação de noz de bétel (pān); anulepanaiḥ — e pasta de sândalo.
Tradução
Depois de Lhes oferecer assentos e lavar Seus pés, Sudāmā adorou Kṛṣṇa e Balarāma e Seus companheiros com arghya, guirlandas, pān, pasta de sândalo e outros presentes.
Texto
pāvitaṁ ca kulaṁ prabho
pitṛ-devarṣayo mahyaṁ
tuṣṭā hy āgamanena vām
Sinônimos
prāha — ele disse; naḥ — nosso; sa-arthakam — proveitoso; janma — nascimento; pāvitam — purificada; ca — e; kulam — a família; prabho — ó Senhor; pitṛ — meus antepassados; deva — os semideuses; ṛṣayaḥ — e os grandes sábios; mahyam — comigo; tuṣṭāḥ — estão satisfeitos; hi — de fato; āgamanena — com a chegada; vām — de Vós dois.
Tradução
[Sudāmā disse:] Ó Senhor, meu nascimento agora está santificado, e minha família, livre de contaminação. Agora que Vós dois viestes aqui, meus antepassados, os semideuses e os grandes sábios com certeza estão todos satisfeitos comigo.
Texto
jagataḥ kāraṇaṁ param
avatīrṇāv ihāṁśena
kṣemāya ca bhavāya ca
Sinônimos
bhavantau — Vós dois; kila — de fato; viśvasya — do inteiro; jagataḥ — universo; kāraṇam — a causa; param — última; avatīrṇau — tendo feito Vosso advento; iha — aqui; aṁśena — com Vossas porções plenárias; kṣemāya — para o benefício; ca — e; bhavāya — para a prosperidade; ca — também.
Tradução
Vós dois, Senhores, sois a causa última de todo este universo. A fim de proporcionar amparo e prosperidade a este reino, fizestes Vosso advento com Vossas expansões plenárias.
Texto
suhṛdor jagad-ātmanoḥ
samayoḥ sarva-bhūteṣu
bhajantaṁ bhajator api
Sinônimos
na — não há; hi — de fato; vām — de Vossa parte; viṣamā — parcial; dṛṣṭiḥ — visão; suhṛdoḥ — que sois amigos benquerentes; jagat — do universo; ātmanoḥ — a Alma; samayoḥ — iguais; sarva — para todos; bhūteṣu — os seres vivos; bhajantam — àqueles que Vos adoram; bhajatoḥ — correspondendo; api — até mesmo.
Tradução
Por serdes Vós os amigos benquerentes e a Alma Suprema de todo o universo, vedes a todos com visão imparcial. Portanto, embora correspondais à adoração amorosa de Vossos devotos, permaneceis sempre igualmente dispostos para com todos os seres vivos.
Texto
kim ahaṁ karavāṇi vām
puṁso ’ty-anugraho hy eṣa
bhavadbhir yan niyujyate
Sinônimos
tau — Eles; ājñāpayatam — devem ordenar, por favor; bhṛtyam — a Seu servo; kim — o que; aham — eu; karavāṇi — devo fazer; vām — por Vós; puṁsaḥ — para qualquer pessoa; ati — extrema; anugrahaḥ — misericórdia; hi — de fato; eṣaḥ — esta; bhavadbhiḥ — por Vós; yat — em que; niyujyate — ele está ocupado.
Tradução
Por favor, ordenai-me, Vosso servo, a fazer o que quer que desejais. Estar ocupado por Vós em algum serviço é decerto uma grande bênção para qualquer pessoa.
Texto
sudāmā prīta-mānasaḥ
śastaiḥ su-gandhaiḥ kusumair
mālā viracitā dadau
Sinônimos
iti — assim falando; abhipretya — compreendendo a intenção dEles; rāja-indra — ó melhor dos reis (Parīkṣit); sudāmā — Sudāmā; prīta-mānasaḥ — satisfeito no coração; śastaiḥ — frescas; su-gandhaiḥ — e perfumadas; kusumaiḥ — com flores; malaḥ — guirlandas; viracitāḥ — feitas; dadau — concedeu.
Tradução
[Śukadeva Gosvāmī continuou:] Ó melhor dos reis, tendo falado estas palavras, Sudāmā pôde compreender o que Kṛṣṇa e Balarāma queriam. Então, com grande prazer, ele Os presenteou com guirlandas de flores frescas e perfumadas.
Texto
kṛṣṇa-rāmau sahānugau
praṇatāya prapannāya
dadatur vara-dau varān
Sinônimos
tābhiḥ — com aquelas (guirlandas); su-alaṅkṛtau — belamente ornamentados; prītau — satisfeitos; kṛṣṇa-rāmau — Kṛṣṇa e Balarāma; saha — junto de; anugau — Seus companheiros; praṇatāya — que estava prostrado; prapannāya — ao rendido (Sudāmā); dadatuḥ — deram; varadau — os dois abençoadores; varān — uma variedade de bênçãos.
Tradução
Belamente adornados com essas guirlandas, Kṛṣṇa e Balarāma sentiram extremo prazer, e o mesmo se passou com Seus companheiros. Os dois Senhores, então, ofereceram ao rendido Sudāmā, que estava prostrado diante dEles, quaisquer bênçãos que desejasse.
Texto
tasminn evākhilātmani
tad-bhakteṣu ca sauhārdaṁ
bhūteṣu ca dayāṁ parām
Sinônimos
saḥ — ele; api — e; vavre — escolheu; acalām — inabalável; bhaktim — devoção; tasmin — a Ele; eva — somente; akhila — de tudo; ātmani — a Alma Suprema; tat — com Seus; bhakteṣu — devotos; ca — e; sauhārdam — amizade; bhūteṣu — pelos seres vivos em geral; ca — e; dayām — misericórdia; parām — transcendental.
Tradução
Sudāmā escolheu devoção inabalável a Kṛṣṇa, a Alma Suprema de toda a existência; amizade com Seus devotos, e compaixão transcendental por todos os seres vivos.
Texto
śriyaṁ cānvaya-vardhinīm
balam āyur yaśaḥ kāntiṁ
nirjagāma sahāgrajaḥ
Sinônimos
iti — assim; tasmai — a ele; varam — a bênção; dattvā — dando; śriyam — opulência; ca — e; anvaya — sua família; vardhinīm — expandindo; balam — força; āyuḥ — longa vida; yaśaḥ — fama; kāntim — beleza; nirjagāma — partiu; saha — junto de; agra-jaḥ — Seu irmão mais velho, o Senhor Balarāma.
Tradução
O Senhor Kṛṣṇa não só concedeu essas bênçãos a Sudāmā, mas também lhe deu força, longevidade, fama, beleza e prosperidade sempre crescente para sua família. Então, Kṛṣṇa e Seu irmão mais velho Se despediram.
Comentário
SIGNIFICADO—Podemos ver uma nítida diferença entre a relação de Kṛṣṇa com o insolente lavador de roupas e Sua relação com o devotado florista Sudāmā. O Senhor é tão duro quanto o raio para aqueles que O desafiam e tão suave quanto uma rosa para os que se rendem a Ele. Portanto, devemos todos nos render com sinceridade ao Senhor Kṛṣṇa, dado que isso é claramente do nosso interesse.
Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda referentes ao décimo canto, quadragésimo primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Kṛṣṇa e Balarāma Entram em Mathurā”.