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CAPÍTULO QUARENTA E UM

Kṛṣṇa e Balarāma Entram em Mathurā

Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa entrou na cidade de Mathurā, matou um lavadeiro e abençoou um tecelão e um guirlandeiro chamado Sudāmā.

Depois de mostrar Sua forma de Viṣṇu a Akrūra nas águas do Yamunā e de receber as preces de Akrūra, o Senhor Kṛṣṇa recolheu aquela visão da mesma forma que um ator encerra sua apresenta­ção. Akrūra emergiu da água e, com grande espanto, aproximou-se do Senhor, que lhe perguntou se ele vira algo maravilhoso durante o banho. Akrūra respondeu: “Quaisquer coisas maravilhosas que existam nos reinos aquáticos, terrestres ou celestiais, todas têm sua existên­cia dentro de Vós. Então, quando alguém Vos viu, nada mais resta a ser visto.” Em seguida, Akrūra começou outra vez a dirigir a quadriga.

Kṛṣṇa, Balarāma e Akrūra chegaram a Mathurā no fim da tarde. Após reunirem-Se com Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros que ti­nham vindo na frente, Kṛṣṇa pediu a Akrūra que voltasse para casa, prometendo ir visitá-lo depois de ter matado Kaṁsa. Akrūra despediu­-se com tristeza do Senhor, foi ao rei Kaṁsa informar-lhe que Kṛṣṇa e Balarāma haviam chegado e, em seguida, dirigiu-se para sua casa.

Kṛṣṇa e Balarāma levaram os vaqueirinhos para conhecer a esplêndida cidade. Enquanto todos entravam em Mathurā, as mulheres da cidade saíram ansiosas de suas casas para verem Kṛṣṇa. Elas tinham ou­vido falar dEle muitas vezes e há muito tinham desenvolvido profun­da atração por Ele. Mas agora que O viam de fato, elas estavam dominadas pela felicidade, e toda a sua aflição decorrente da ausên­cia dEle esvaiu-se.

Kṛṣṇa e Balarāma, então, depararam-Se com o perverso lavadeiro de Kaṁsa. Kṛṣṇa pediu-lhe algumas das primorosas roupas que ele levava, mas este negou e até mesmo repreendeu os dois Senhores. Kṛṣṇa ficou muito aborrecido com isso e, com as pontas de Seus dedos, decapitou o homem. Os ajudantes do lavadeiro, vendo seu fim prematuro, larga­ram ali mesmo seus fardos de roupas e correram para todos os lados. Kṛṣṇa e Balarāma, então, pegaram algumas das roupas de que mais gostaram.

Depois, um tecelão aproximou-se dos dois Senhores e adornou-Os de forma conveniente, recebendo de Kṛṣṇa, por este serviço, opulências nesta vida e liberação na próxima. Kṛṣṇa e Balarāma, então, foram à casa do guirlandeiro Sudāmā. Sudāmā ofereceu-Lhes suas completas reverências, adorou-Os banhando-Lhes os pés e oferecendo-Lhes artigos tais como arghya e pasta de sândalo, e cantou preces em honra dEles. Ornou-Os, em seguida, com guirlandas de flores fragrantes. Satisfeitos, os Senhores ofereceram-lhe quaisquer bênçãos que ele desejasse, após o que seguiram em frente.

Texto

śrī-śuka uvāca
stuvatas tasya bhagavān
darśayitvā jale vapuḥ
bhūyaḥ samāharat kṛṣṇo
naṭo nāṭyam ivātmanaḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; stuvataḥ — enquanto orava; tasya — ele, Akrūra; bhagavān — o Senhor Supremo; darśayitvā — tendo mostrado; jale — na água; vapuḥ — Sua forma pessoal; bhūyaḥ — de novo; samāharat — retirou; kṛṣṇaḥ — Śrī Kṛṣṇa; naṭaḥ — um ator; nāṭyam — a apresentação; iva — como; ātmanaḥ — sua própria.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto Akrūra ainda oferecia orações, o Supremo Senhor Kṛṣṇa retirou a forma que Ele revelara na água, do mesmo modo que um ator encerra sua apresentação.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Kṛṣṇa retirou da vista de Akrūra a forma de Viṣṇu e a visão do céu espiritual e seus eternos habitantes.

Texto

so ’pi cāntarhitaṁ vīkṣya
jalād unmajya satvaraḥ
kṛtvā cāvaśyakaṁ sarvaṁ
vismito ratham āgamat

Sinônimos

saḥ — ele, Akrūra; api — de fato; ca — e; antarhitam — desaparecida; vīkṣya — vendo; jalāt — da água; unmajya — emergindo; satvaraḥ — rapidamente; kṛtvā — executando; ca — e; āvaśyakam — seus deveres prescritos; sarvam — todos; vismitaḥ — surpreso; ratham — à quadriga; āgamat — foi.

Tradução

Quando viu desaparecer a visão, Akrūra saiu da água e terminou bem depressa seus vários deveres ritualísticos. Então, maravilhado, voltou à quadriga.

Texto

tam apṛcchad dhṛṣīkeśaḥ
kiṁ te dṛṣṭam ivādbhutam
bhūmau viyati toye vā
tathā tvāṁ lakṣayāmahe

Sinônimos

tam — a ele; apṛcchat — perguntou; hṛṣīkeśaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; kim — se; te — por ti; dṛṣṭam — visto; iva — de fato; adbhutam — algo excepcional; bhūmau — na terra; viyati — no céu; toye — na água; va — ou; tathā — então; tvām — de ti; lakṣayāmahe — suspeitamos.

Tradução

O Senhor Kṛṣṇa perguntou a Akrūra: Viste algo maravilhoso na terra, no céu ou na água? Por tua aparência, suspeitamos que sim.

Texto

śrī-akrūra uvāca
adbhutānīha yāvanti
bhūmau viyati vā jale
tvayi viśvātmake tāni
kiṁ me ’dṛṣṭaṁ vipaśyataḥ

Sinônimos

śrī-akrūraḥ uvāca — Śrī Akrūra disse; adbhutāni — coisas admiráveis; iha — neste mundo; yāvanti — sejam quais forem; bhūmau — na terra; viyati — no céu; — ou; jale — na água; tvayi — em Vós; viśva­ātmake — que abrangeis tudo; tāni — elas; kim — quais; me — por mim; adṛṣṭam — não vistas; vipaśyataḥ — vendo (a Vós).

Tradução

Śrī Akrūra disse: Quaisquer coisas maravilhosas que a terra, o céu ou a água contenham, todas existem em Vós. Como abran­ges tudo, ao ver-Vos, o que falta ser visto?

Texto

yatrādbhutāni sarvāṇi
bhūmau viyati vā jale
taṁ tvānupaśyato brahman
kiṁ me dṛṣṭam ihādbhutam

Sinônimos

yatra — em quem; adbhutāni — coisas surpreendentes; sarvāṇi — todas; bhūmau — na terra; viyati — no céu; — ou; jale — na água; tam — aquela pessoa; tvā — a Vós; anupaśyataḥ — vendo; brahman — a Suprema Verdade Absoluta; kim — o que; me — por mim; dṛṣṭam — visto; iha — neste mundo; adbhutam — surpreendente.

Tradução

E agora que Vos vejo, ó Suprema Verdade Absoluta, em quem reside tudo o que há de admirável na terra, no céu e na água, o que de surpreendente eu poderia ver neste mundo?

Comentário

SIGNIFICADO—Akrūra agora entendeu que o Senhor Kṛṣṇa não é apenas seu sobrinho.

Texto

ity uktvā codayām āsa
syandanaṁ gāndinī-sutaḥ
mathurām anayad rāmaṁ
kṛṣṇaṁ caiva dinātyaye

Sinônimos

iti — assim; uktvā — dizendo; codayām āsa — dirigiu; syandanam — a quadriga; gāndinī-sutaḥ — o filho de Gāndinī, Akrūra; mathurām — para Mathurā; anayat — conduziu; rāmam — o Senhor Balarāma; kṛṣṇam — o Senhor Kṛṣṇa; ca — e; eva — também; dina — do dia; atyaye — no final.

Tradução

Tendo dito estas palavras, Akrūra, o filho de Gāndinī, colocou-se a dirigir a quadriga. No fim do dia, ele chegou a Mathurā com o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa.

Texto

mārge grāma-janā rājaṁs
tatra tatropasaṅgatāḥ
vasudeva-sutau vīkṣya
prītā dṛṣṭiṁ na cādaduḥ

Sinônimos

mārge — na estrada; grāma — das vilas; janāḥ — as pessoas; rā­jan — ó rei (Parīkṣit); tatra tatra — aqui e ali; upasaṅgatāḥ — aproxi­mando-se; vasudeva-sutau — aos dois filhos de Vasudeva; vīkṣya — olhando; prītāḥ — satisfeitos; dṛṣṭim — sua visão; na — não; ca — e; āda­duḥ — conseguiam tirar.

Tradução

Por onde passavam na estrada, ó rei, as pessoas da vila, com grande prazer, adiantavam-se para olhar os dois filhos de Vasudeva. De fato, os moradores da vila não conseguiam desviar os olhos dEles.

Texto

tāvad vrajaukasas tatra
nanda-gopādayo ’grataḥ
puropavanam āsādya
pratīkṣanto ’vatasthire

Sinônimos

tāvat — então; vraja-okasaḥ — os habitantes de Vraja; tatra — lá; nanda-gopa-ādayaḥ — encabeçados por Nanda, o rei dos vaqueiros; agrataḥ — antes; pura — da cidade; upavanam — um jardim; āsādya — chegando a; pratīkṣantaḥ — esperando; avatasthire — ali ficaram.

Tradução

Nanda Mahārāja e os outros residentes de Vṛndāvana, tendo chegado a Mathurā antes da quadriga, pararam em um jardim nos arredores da cidade para aguardar Kṛṣṇa e Balarāma.

Comentário

SIGNIFICADO—Nanda e os outros chegaram primeiro a Mathurā porque a quadri­ga que levava Kṛṣṇa e Balarāma atrasou-se por causa do banho de Akrūra.

Texto

tān sametyāha bhagavān
akrūraṁ jagad-īśvaraḥ
gṛhītvā pāṇinā pāṇiṁ
praśritaṁ prahasann iva

Sinônimos

tān — com eles; sametya — encontrando-Se; āha — disse; bhaga­vān — a Suprema Personalidade de Deus; akrūram — a Akrūra; jagat-­īśvaraḥ — o Senhor do universo; gṛhītvā — tomando; pāṇinā — com Sua mão; pāṇim — a mão dele; praśritam — que era humilde; praha­san — sorrindo; iva — de fato.

Tradução

Depois de Se juntar a Nanda e os outros, o Supremo Senhor Kṛṣṇa, o controlador do universo, tomou a mão do humilde Akrūra em Sua própria e, sorrindo, falou o seguinte.

Texto

bhavān praviśatām agre
saha-yānaḥ purīṁ gṛham
vayaṁ tv ihāvamucyātha
tato drakṣyāmahe purīm

Sinônimos

bhavān — tu; praviśatām — deves entrar; agre — na frente; saha — junto de; yānaḥ — o veículo; purīm — na cidade; gṛham — e tua casa; vayam — nós; tu — porém; iha — aqui; avamucya — descendo; atha — então; tataḥ — depois; drakṣyāmahe — veremos; purīm — a cidade.

Tradução

[O Senhor Kṛṣṇa disse:] Pega a quadriga e entra na cidade antes de nós. Depois, vai para casa. Após descansarmos aqui um pouco, iremos ver a cidade.

Texto

śrī-akrūra uvāca
nāhaṁ bhavadbhyāṁ rahitaḥ
pravekṣye mathurāṁ prabho
tyaktuṁ nārhasi māṁ nātha
bhaktaṁ te bhakta-vatsala

Sinônimos

śrī-akrūraḥ uvāca — Śrī Akrūra disse; na — não posso; aham — eu; bhavadbhyām — de Vós dois; rahitaḥ — privado; pravekṣye — entrar; mathurām — em Mathurā; prabho — ó mestre; tyaktum — abandonar; na arhasi — não deveis; mām — a mim; nātha — ó Senhor; bhaktam — devoto; te — Vosso; bhakta-vatsala — ó Vós que tendes afeição pater­nal por Vossos devotos.

Tradução

Śrī Akrūra disse: Ó mestre, não entrarei em Mathurā sem Vós dois. Sou Vosso devoto, ó Senhor, logo não é justo que me aban­doneis, visto que sois sempre afetuosos com Vossos devotos.

Texto

āgaccha yāma gehān naḥ
sa-nāthān kurv adhokṣaja
sahāgrajaḥ sa-gopālaiḥ
suhṛdbhiś ca suhṛttama

Sinônimos

āgaccha — por favor, vinde; yāma — vamos; gehān — para a casa; naḥ — nossa; sa — tendo; nāthān — um senhor; kuru — por favor, faze-o; adhokṣaja — ó Senhor transcendental; saha — com; agra-jaḥ — Vosso irmão mais velho; sa-gopālaiḥ — com os vaqueiros; suhṛdbhiḥ — com Vossos amigos; ca — e; suhṛt-tama — ó supremo benquerente.

Tradução

Vinde! Vamos para minha casa com Vosso irmão mais velho, os vaqueiros e Vossos companheiros. Ó melhor dos amigos, ó Senhor transcendental, por favor, agraciai desse modo minha casa e seu dono.

Texto

punīhi pāda-rajasā
gṛhān no gṛha-medhinām
yac-chaucenānutṛpyanti
pitaraḥ sāgnayaḥ surāḥ

Sinônimos

punīhi — por favor, purificai; pāda — de Vossos pés; rajasā — com a poeira; gṛhān — o lar; naḥ — de nós; gṛha-medhinām — que estamos apegados aos deveres ritualísticos domésticos; yat — pela qual; śaucena — purificação; anutṛpyanti — ficarão satisfeitos; pitaraḥ — meus antepassados; sa — junto de; agnayaḥ — os fogos de sacrifício; surāḥ — e os semideuses.

Tradução

Sou simplesmente um pai de família comum e apegado a sacrifícios ritualísticos, então, por favor, purificai meu lar com a poeira de Vossos pés de lótus. Por esse ato de purificação, meus antepassados, os fogos de sacrifício e os semideuses, todos ficarão satis­feitos.

Texto

avanijyāṅghri-yugalam
āsīt ślokyo balir mahān
aiśvaryam atulaṁ lebhe
gatiṁ caikāntināṁ tu yā

Sinônimos

avanijya — banhando; aṅghri-yugalam — os dois pés; āsīt — tornou-se; ślokyaḥ — glorioso; baliḥ — o rei Bali; mahān — o grande; aiśva­ryam — poder; atulam — inigualável; lebhe — alcançou; gatīm — o des­tino; ca — e; ekāntinām — dos imaculados devotos do Senhor; tu — de fato; — que.

Tradução

Por banhar Vossos pés, o grandioso Bali Mahārāja alcançou não só gloriosa fama e poder inigualável, mas também o destino final dos devotos puros.

Texto

āpas te ’ṅghry-avanejanyas
trīḻ lokān śucayo ’punan
śirasādhatta yāḥ śarvaḥ
svar yātāḥ sagarātmajāḥ

Sinônimos

āpaḥ — a água (isto é, o rio Ganges); te — Vossos; aṅghri — dos pés; avanejanyaḥ — vinda do banho; trīn — os três; lokān — mundos; śucayaḥ — sendo puramente espiritual; apunan — purificou; śirasā — em sua cabeça; ādhatta — tomou; yāḥ — que; śarvaḥ — o senhor Śiva; svaḥ — para o céu; yātāḥ — foram; sagara-ātmajāḥ — os filhos do rei Sagara.

Tradução

A água do rio Ganges purificou os três mundos, tendo-se tornado transcendental por banhar Vossos pés. O senhor Śiva acei­tou essa água sobre sua cabeça, e, pela graça dessa água, os filhos do rei Sagara alcançaram o céu.

Texto

deva-deva jagan-nātha
puṇya-śravaṇa-kīrtana
yadūttamottamaḥ-śloka
nārāyaṇa namo ’stu te

Sinônimos

deva-deva — ó Senhor dos senhores; jagat-nātha — ó mestre do universo; puṇya — piedoso; śravaṇa — ouvir; kīrtana — e cantar (sobre o qual); yadu-uttama — ó melhor dos Yadus; uttamaḥ-śloka — ó Vós que sois glorificado em versos excelentes; nārāyaṇa — ó Supremo Senhor Nārāyaṇa; namaḥ — reverências; astu — sejam prestadas; te — para Vós.

Tradução

Ó Senhor dos senhores, mestre do universo, são atos absolutamente piedosos ouvir e cantar Vossas glórias! Ó melhor dos Yadus, ó Vós cuja fama é narrada em excelente poesia! Ó Supremo Senhor Nārāyaṇa, ofereço-Vos minhas reverências.

Texto

śrī-bhagavān uvāca
āyāsye bhavato geham
aham arya-samanvitaḥ
yadu-cakra-druhaṁ hatvā
vitariṣye suhṛt-priyam

Sinônimos

śrī-bhagavān uvāca — o Senhor Supremo disse; āyāsye — irei; bhavataḥ — a tua; geham — casa; aham — Eu; ārya — por Meu (irmão) mais velho (Balarāma); samanvitaḥ — acompanhado; yadu-cakra — do círculo dos Yadus; druham — o inimigo (Kaṁsa); hatvā — matando; vita­riṣye — concederei; suhṛt — a Meus benquerentes; priyam — satisfação.

Tradução

O Senhor Supremo disse: Irei à tua casa com Meu irmão mais velho, mas antes devo satisfazer Meus amigos e benquerentes matando o inimigo do clã dos Yadus.

Comentário

SIGNIFICADO—Akrūra glorificou Kṛṣṇa no verso dezesseis como yadūttama, “o melhor dos Yadus”. Śrī Kṛṣṇa confirma isso dizendo, com efeito: “Já que sou o melhor dos Yadus, devo matar o inimigo dos Yadus, Kaṁsa, após o que irei à tua casa.”

Texto

śrī-śuka uvāca
evam ukto bhagavatā
so ’krūro vimanā iva
purīṁ praviṣṭaḥ kaṁsāya
karmāvedya gṛhaṁ yayau

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; evam — assim; uktaḥ — tendo falado; bhagavatā — o Senhor; saḥ — com ele; akrūraḥ — Akrūra; vimanāḥ — desalentado; iva — um tanto; purīm — na cidade; praviṣṭaḥ — entrando; kaṁsāya — Kaṁsa; karma — de suas atividades; āvedya — informando; gṛham — para a sua casa; yayau — foi.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo o Senhor falado assim com ele, Akrūra entrou na cidade com o coração pesaroso. Ele infor­mou ao rei Kaṁsa acerca do sucesso de sua missão e, então, foi para casa.

Texto

athāparāhne bhagavān
kṛṣṇaḥ saṅkarṣaṇānvitaḥ
mathurāṁ prāviśad gopair
didṛkṣuḥ parivāritaḥ

Sinônimos

atha — então; apara-ahne — à tarde; bhagavān — o Senhor Supremo; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; saṅkarṣaṇa-anvitaḥ — junto do Senhor Balarāma; mathurām — em Mathurā; prāviśat — entrou; gopaiḥ — pelos vaqueirinhos; didṛkṣuḥ — querendo ver; parivāritaḥ — acompanhado.

Tradução

Como o Senhor Kṛṣṇa desejava ver Mathurā, Ele, no fim da tarde, levou conSigo o Senhor Balarāma e os vaqueirinhos e entrou na cidade.

Texto

dadarśa tāṁ sphāṭika-tuṇga-gopura-
dvārāṁ bṛhad-dhema-kapāṭa-toraṇām
tāmrāra-koṣṭhāṁ parikhā-durāsadām
udyāna-ramyopavanopaśobhitām
sauvarṇa-śṛṅgāṭaka-harmya-niṣkuṭaiḥ
śreṇī-sabhābhir bhavanair upaskṛtām
vaidūrya-vajrāmala-nīla-vidrumair
muktā-haridbhir valabhīṣu vediṣu
juṣṭeṣu jālāmukha-randhra-kuṭṭimeṣv
āviṣṭa-pārāvata-barhi-nāditām
saṁsikta-rathyāpaṇa-mārga-catvarāṁ
prakīrṇa-mālyāṅkura-lāja-taṇḍulām
āpūrṇa-kumbhair dadhi-candanokṣitaiḥ
prasūna-dīpāvalibhiḥ sa-pallavaiḥ
sa-vṛnda-rambhā-kramukaiḥ sa-ketubhiḥ
sv-alaṅkṛta-dvāra-gṛhāṁ sa-paṭṭikaiḥ

Sinônimos

dadarśa — Ele viu; tam — aquela (cidade); sphāṭika — de cristal; tuṅga — altas; gopura — cujos portões principais; dvārām — e portões de casas; bṛhat — imensos; hema — ouro; kapāṭa — cujas portas; to­raṇām — e arcos ornamentais; tāmra — de cobre; āra — e bronze; koṣṭhām — cujos armazéns; parikhā — com seus canais; durāsadām — invioláveis; udyāna — com jardins públicos; ramya — atraentes; upavana — e parques; upaśobhitam — embelezada; sauvarṇa — de ouro; śṛṅgāṭa­ka — com encruzilhadas; harmya — mansões; niṣkuṭaiḥ — e jardins apra­zíveis; śreṇī — de grêmios; sabhābhiḥ — com os salões de assembleias; bhavanaiḥ — e com casas; upaskṛtām — ornamentada; vaidūrya — com joias vaidūrya; vajra — diamantes; amala — quartzos de cristal; nīla — safiras; vidrumaiḥ — e corais; muktā — com pérolas; haridbhiḥ — e esmeraldas; valabhīṣu — nos painéis de madeira que decoram os caibros na frente das casas; vediṣu — em varandas com colunas; juṣṭeṣu — enfeitados; jāla-āmukha — das treliças das janelas; randhra — nas aberturas; kuṭṭimeṣu — e em assoalhos incrustados com pedras preciosas; āviṣṭa — sentado; pārāvata — com os pombos de estimação; barhi — e os pavões; nāditām — ressoando; saṁsikta — borrifados de água; ra­thyā — com avenidas reais; āpaṇa — ruas comerciais; mārga — outras estradas; catvarām — e quintais; prakīrṇa — espalhados; mālya — com guirlandas de flores; aṅkura — brotos novos; lāja — cereais torrados; taṇḍulām — e arroz; āpūrṇa — cheios; kumbhaiḥ — com potes; dadhi — com iogurte; candana — e pasta de sândalo; ukṣitaiḥ — ungidas; pra­sūna — com pétalas de flores; dīpa-āvalibhiḥ — e fileiras de lamparinas; sa-pallavaiḥ — com folhas; sa-vṛnda — com buquês de flores; rambhā — com troncos de bananeiras; kramukaiḥ — e troncos de nogueiras de bétel; sa-ketubhiḥ — com bandeiras; su-alaṅkṛta — belamen­te adornadas; dvāra — com portas; gṛhām — cujas casas; sa-paṭṭikaiḥ — com fitas.

Tradução

O Senhor viu Mathurā, com seus altos portões e entradas domiciliares feitos de cristal, seus imensos arcos e portais de ouro, seus celeiros e outros depósitos feitos de cobre e bronze, e seus fossos inexpugnáveis. Embelezando a cidade, havia jardins e parques agradáveis. As principais encruzilhadas eram enfeitadas de ouro, e havia mansões com jardins de recreio particulares, junto de salões para reunião e muitas outras construções. Mathurā ressoava com os gritos de pavões e pombos de estimação, que se sentavam nas pequenas aberturas das treliças das janelas e nos assoalhos incrustados de pedras preciosas e também nas varandas sustentadas por colunas e nos caibros ornados na frente das casas. Estas varandas e cai­bros eram adornados com pedras vaidūrya, diamantes, quartzos de cristal, safiras, corais, pérolas e esmeraldas. Todas as avenidas reais e ruas comerciais, bem como as travessas e quintais, esta­vam borrifadas de água, e guirlandas de flores, brotos recém­crescidos, cereais torrados e arroz tinham sido espalhados por toda parte. Enfeitando os portais das casas, havia potes bela­mente decorados cheios de água, que eram enfeitados com folhas de manga, untados com iogurte e pasta de sândalo, e rodeados de pétalas de flores e fitas. Junto aos potes, havia bandeiras, fileiras de lamparinas, buquês de flores, troncos de bananeiras e nogueiras de bétel.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura fornece esta descrição dos potes belamente decorados: “Do lado de cada porta, em cima do arroz espalhado, há um pote. Rodeando cada pote, há pétalas de flores; em seu gargalo, há fitas, e em sua boca, há folhas de mangueira e de outras árvores. Em cima de cada pote, em um prato de ouro, há fileiras de lamparinas. Um tronco de bananeira fica dos dois lados de cada pote, e um tronco de nogueira de bétel fica na frente e também atrás. Bandeiras apoiam-se nos potes.”

Texto

tāṁ sampraviṣṭau vasudeva-nandanau
vṛtau vayasyair naradeva-vartmanā
draṣṭuṁ samīyus tvaritāḥ pura-striyo
harmyāṇi caivāruruhur nṛpotsukāḥ

Sinônimos

tām — nela (Mathurā); sampraviṣṭau — entrando; vasudeva — de Vasudeva; nandanau — os dois filhos; vṛtau — rodeados; vayasyaiḥ — por Seus jovens amigos; nara-deva — do rei; vartmanā — pela estrada; draṣṭum — para ver; samīyuḥ — adiantaram-se juntas; tvaritāḥ — apressadas; pura — da cidade; striyaḥ — as mulheres; harmyāṇi — suas casas; ca — e; eva — também; āruruhuḥ — subiram no alto das; nṛpa — ó rei (Parīkṣit); utsukāḥ — ávidas.

Tradução

As mulheres de Mathurā reuniram-se apressadamente e adiantaram-se para ver os dois filhos de Vasudeva enquanto Eles entravam na cidade pela estrada real, rodeados por Seus amigos vaqueirinhos. Algumas das mulheres, meu querido rei, subiram com muita avidez aos terraços de suas casas para vê-lOs.

Texto

kāścid viparyag-dhṛta-vastra-bhūṣaṇā
vismṛtya caikaṁ yugaleṣv athāparāḥ
kṛtaika-patra-śravanaika-nūpurā
nāṅktvā dvitīyaṁ tv aparāś ca locanam

Sinônimos

kaścit — algumas delas; viparyak — para trás; dhṛta — vestindo; vastra — suas roupas; bhūṣaṇaḥ — e ornamentos; vismṛtya — esquecendo; ca — e; ekam — um; yugaleṣu — dos pares; atha — e; aparāḥ — outras; kṛta — colocando; eka — somente um; patra — brinco; śravaṇa — em suas orelhas; eka — ou um; nūpurāḥ — conjunto de enfeites de tornozelo; na aṅktvā — não ungindo; dvitīyam — o segundo; tu — mas; aparāḥ — outras senhoras; ca — e; locanam — um olho.

Tradução

Algumas das mulheres puseram suas roupas e ornamentos ao contrário, outras esqueceram um de seus brincos ou tornozeleiras, e outras aplicaram maquiagem apenas em um dos olhos.

Comentário

SIGNIFICADO—As mulheres estavam muito ansiosas para ver Kṛṣṇa e, em sua pressa e empolgação, esqueceram-se de si mesmas.

Texto

aśnantya ekās tad apāsya sotsavā
abhyajyamānā akṛtopamajjanāḥ
svapantya utthāya niśamya niḥsvanaṁ
prapāyayantyo ’rbham apohya mātaraḥ

Sinônimos

aśnantyaḥ — comendo suas refeições; ekaḥ — algumas; tat — isto; apāsya — abandonando; sa-utsavaḥ — alegremente; abhyajyamānāḥ — sendo massageadas; akṛta — não acabando; upamajjanāḥ — seu banho; svapan­tyaḥ — dormindo; utthāya — levantando-se; niśamya — tendo ouvido; niḥsvanam — os altos sons; prapāyayantyaḥ — amamentando; arbham — a um bebê; apohya — punham de lado; mātaraḥ — mães.

Tradução

Algumas mulheres que estavam comendo abandonaram a refeição, outras saíram sem acabar seus banhos ou massagens, ainda outras que dormiam, ao ouvirem o tumulto, levantaram-se na mesma hora, e mães que amamentavam seus bebês simplesmente puseram-nos de lado.

Texto

manāṁsi tāsām aravinda-locanaḥ
pragalbha-līlā-hasitāvalokaiḥ
jahāra matta-dviradendra-vikramo
dṛśāṁ dadac chrī-ramaṇātmanotsavam

Sinônimos

manāṁsi — as mentes; tāsām — delas; aravinda — como o lótus; locanaḥ — Ele cujos olhos; pragalbha — ousados; līlā — com Seus passatempos; hasita — sorridentes; avalokaiḥ — com Seus olhares; jahāra — levou embora; matta — no cio; dvirada-indra — (como) um majestoso elefante; vikramaḥ — cujo andar; dṛśām — a seus olhos; dadat — dando; śrī — da deusa da fortuna; ramaṇa — que é a fonte de prazer; ātma­nā — com Seu corpo; utsavam — um festival.

Tradução

O Senhor de olhos de lótus, sorrindo enquanto recordava Seus ousados passatempos, cativou a mente daquelas damas com Seus olhares. Ele andava com o passo de um majestoso elefante no cio, criando um festival para os olhos delas com Seu corpo transcendental, que é a fonte de prazer para a divina deusa da fortuna.

Texto

dṛṣṭvā muhuḥ śrutam anudruta-cetasas
taṁ tat-prekṣaṇotsmita-sudhokṣaṇa-labdha-mānāḥ
ānanda-mūrtim upaguhya dṛśātma-labdhaṁ
hṛṣyat-tvaco jahur anantam arindamādhim

Sinônimos

dṛṣṭvā — vendo; muhuḥ — repetidamente; śrutam — ouvido; anudruta — derretidos; cetasaḥ — cujos corações; tam — a Ele; tat — dEle; prekṣaṇa — dos olhares; ut-smita — e os largos sorrisos; sudhā — pelo néctar; ukṣaṇa — do borrifo; labdha — recebendo; mānāḥ — honra; ānanda — do êxtase; mūrtim — a forma pessoal; upaguhya — abraçando; dṛśā — através de seus olhos; ātma — dentro de si mesmas; labdham — ganho; hṛṣyat — arrepiando-se; tvacaḥ — a pele delas; jahuḥ — abandonaram; anantam — da ilimitada; arim-dama — ó subjugador dos inimi­gos (Parīkṣit); ādhim — aflição mental.

Tradução

As damas de Mathurā haviam escutado sobre Kṛṣṇa repetidas vezes, e, por isso, logo que O viram, seus corações se derreteram. Elas se sentiam honradas por Ele derramar sobre elas o néctar de Seus olhares e largos sorrisos. Colocando-O em seus corações através de seus olhos, elas abraçaram o Senhor, a personificação de todo o êxtase, e, com seus pelos arrepiados, ó subjugador dos inimigos, esqueceram a ilimitada aflição causada por Sua ausência.

Texto

prāsāda-śikharārūḍhāḥ
prīty-utphulla-mukhāmbujāḥ
abhyavarṣan saumanasyaiḥ
pramadā bala-keśavau

Sinônimos

prāsāda — das mansões; śikhara — aos terraços; ārūḍhāḥ — tendo subido; prīti — de afeição; utphulla — florescentes; mukha — seus rostos; ambujāḥ — que eram como lótus; abhyavarṣan — lançavam chuvas; saumanasyaiḥ — de flores; pramadāḥ — as atraentes mulheres; bala-­keśavau — sobre Balarāma e Kṛṣṇa.

Tradução

Com seus rostos de lótus florescendo de afeição, as damas que haviam subido aos terraços das mansões lançavam chuvas de flores sobre o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa.

Texto

dadhy-akṣataiḥ soda-pātraiḥ
srag-gandhair abhyupāyanaiḥ
tāv ānarcuḥ pramuditās
tatra tatra dvijātayaḥ

Sinônimos

dadhi — com iogurte; akṣataiḥ — cevada integral; sa — e; uda-pātraiḥ — com potes cheios d’água; srak — com guirlandas; gandhaiḥ — e substâncias fragrantes; abhyupāyanaiḥ — e também com outros artigos de adoração; tau — a Eles dois; ānarcuḥ — adoravam; pramuditāḥ — alegres; tatra tatra — em vários lugares; dvi-jātayaḥbrāhmaṇas.

Tradução

Postados ao longo do caminho, brāhmaṇas honravam os dois Senhores com presentes de iogurte, cevada integral, potes cheios d’água, guirlandas, substâncias perfumadas, como pasta de sânda­lo, e outros artigos de adoração.

Texto

ūcuḥ paurā aho gopyas
tapaḥ kim acaran mahat
yā hy etāv anupaśyanti
nara-loka-mahotsavau

Sinônimos

ūcuḥ — disseram; paurāḥ — as mulheres da cidade; aho — ah; gopyaḥ — as vaqueirinhas (de Vṛndāvana); tapaḥ — austeridade; kim — o que; acaran — executaram; mahat — grande; yāḥ — quem; hi — de fato; etau — a estes dois; anupaśyanti — veem constantemente; nara-loka — para a sociedade humana; mahā-utsavau — que são a maior fonte de prazer.

Tradução

As mulheres de Mathurā exclamaram: Oh! Que severas austeridades as gopīs devem ter praticado para conseguirem ver regular­mente Kṛṣṇa e Balarāma, que são a maior fonte de prazer para toda a humanidade!

Texto

rajakaṁ kañcid āyāntaṁ
raṅga-kāraṁ gadāgrajaḥ
dṛṣṭvāyācata vāsāṁsi
dhautāny aty-uttamāni ca

Sinônimos

rajakam — lavador de roupas; kañcit — um; āyāntam — aproximando­-se; raṅga-kāram — ocupado em tingir; gada-agrajaḥ — o Senhor Śrī Kṛṣṇa, o irmão mais velho de Gada; dṛṣṭvā — vendo; ayācata — pediu; vāsāṁsi — roupas; dhautāni — limpas; ati-uttamāni — de primeira classe; ca — e.

Tradução

Vendo aproximar-se um lavador de roupas com alguns trajes que estivera tingindo, Kṛṣṇa pediu-lhe as roupas lavadas mais finas que ele tivesse.

Texto

dehy āvayoḥ samucitāny
aṅga vāsāṁsi cārhatoḥ
bhaviṣyati paraṁ śreyo
dātus te nātra saṁśayaḥ

Sinônimos

dehi — por favor, dá; āvayoḥ — para Nós dois; samucitāni — convenientes; aṅga — Meu caro; vāsāṁsi — roupas; ca — e; arhatoḥ — aos dois que merecem; bhaviṣyati — haverá; param — supremo; śreyaḥ — benefício; dātuḥ — para o doador; te — para ti; na — não há; atra — neste assunto; saṁśayaḥ — dúvida.

Tradução

[O Senhor Kṛṣṇa disse:] Por favor, entrega roupas convenientes para Nós dois, que as merecemos com certeza. Se fizeres esta ca­ridade, não há dúvida de que receberás o mais alto benefício.

Texto

sa yācito bhagavatā
paripūrṇena sarvataḥ
sākṣepaṁ ruṣitaḥ prāha
bhṛtyo rājñaḥ su-durmadaḥ

Sinônimos

saḥ — ele; yācitaḥ — solicitado; bhagavatā — pelo Senhor Supremo; paripūrṇena — que é absolutamente completo; sarvataḥ — em todos os aspectos; sa-ākṣepam — com insultos; ruṣitaḥ — irado; prāha — falou; bhṛtyaḥ — o servo; rājñaḥ — do rei; su — muito; durmadaḥ — falsamen­te orgulhoso.

Tradução

Solicitado assim pelo Senhor Supremo, que é perfeitamente completo em todos os aspectos, aquele arrogante servidor do rei ficou irado e respondeu com insultos.

Texto

īdṛśāny eva vāsāṁsī
nityaṁ giri-vane-caraḥ
paridhatta kim udvṛttā
rāja-dravyāṇy abhīpsatha

Sinônimos

īdṛśāni — desta espécie; eva — de fato; vāsāṁsi — roupas; nityam — sempre; giri — nas montanhas; vane — e nas florestas; carāḥ — aqueles que viajam; paridhatta — vestiriam; kim — se; udvṛttāḥ — descarados; rāja — do rei; dravyāṇi — coisas; abhīpsatha — quereis.

Tradução

[O lavador de roupas disse:] Seus meninos descarados! Estais acostumados a perambular por montanhas e florestas, e ainda ousaríeis vestir roupas desta categoria! Sabei que é propriedade do rei o que estais pedindo!

Texto

yātāśu bāliśā maivaṁ
prārthyaṁ yadi jijīvīṣā
badhnanti ghnanti lumpanti
dṛptaṁ rāja-kulāni vai

Sinônimos

yāta — ide; āśu — logo; bāliśaḥ — tolos; — não; evam — dessa maneira; prārthyam — mendigueis; yadi — se; jijīviṣā — desejais viver; ba­dhnanti — amarram; ghnanti — matam; lumpanti — e saqueiam (sua casa); dṛptam — quem é atrevido; rāja-kulāni — os homens do rei; vai — de fato.

Tradução

Tolos, deixai este lugar sem demora! Não mendigueis assim se quereis conti­nuar vivos. Quando alguém é atrevido demais, os homens do rei prendem-no, matam-no e tomam todos os seus bens.

Texto

evaṁ vikatthamānasya
kupito devakī-sutaḥ
rajakasya karāgreṇa
śiraḥ kāyād apātayat

Sinônimos

evam — assim; vikatthamānasya — que falava com insolência; kupitaḥ — irado; devakī-sutaḥ — Kṛṣṇa, o filho de Devakī; rajakasya — do lavador de roupas; kara — de uma mão; agreṇa — com a frente; śiraḥ — a cabeça; kāyāt — do corpo; apātayat — fez cair.

Tradução

Enquanto o lavador de roupas falava com essa insolência, o filho de Devakī ficou irado e, então, apenas com as pontas dos dedos, decapitou o homem.

Texto

tasyānujīvinaḥ sarve
vāsaḥ-kośān visṛjya vai
dudruvuḥ sarvato mārgaṁ
vāsāṁsi jagṛhe ’cyutaḥ

Sinônimos

tasya — seus; anujīvinaḥ — empregados; sarve — todos; vāsaḥ — de roupas; kośān — os fardos; visṛjya — deixando para trás; vai — de fato; dudruvuḥ — fugiram; sarvataḥ — em todas as direções; mārgam — estrada abaixo; vāsāṁsi — roupas; jagṛhe — pegou; acyutaḥ — o Senhor Kṛṣṇa.

Tradução

Todos os empregados do lavador de roupas largaram seus fardos de roupas e fugiram estrada abaixo, dispersando-se em todas as direções. O Senhor Kṛṣṇa, então, pegou as roupas.

Texto

vasitvātma-priye vastre
kṛṣṇaḥ saṅkarṣaṇas tathā
śeṣāṇy ādatta gopebhyo
visṛjya bhuvi kānicit

Sinônimos

vasitvā — vestindo-Se; ātma-priye — que Lhe agradou; vastre — com um conjunto de roupas; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; saṅkarṣaṇaḥ — Balarāma; tathā — também; śeṣāṇi — o resto; ādatta — Ele deu; gopebhyaḥ — aos vaqueirinhos; visṛjya — jogando; bhuvi — no chão; kānicit — várias.

Tradução

Kṛṣṇa vestiu um conjunto de roupas que Lhe agradou de modo especial, e o mesmo fez Balarāma. Kṛṣṇa, então, distribuiu os tra­jes restantes entre os vaqueirinhos, deixando alguns espalhados no chão.

Texto

tatas tu vāyakaḥ prītas
tayor veṣam akalpayat
vicitra-varṇaiś caileyair
ākalpair anurūpataḥ

Sinônimos

tataḥ — então; tu — além disso; vāyakaḥ — um tecelão; prītaḥ — com afeição; tayoḥ — por Eles dois; veṣam — a roupa; akalpayat — arru­mou; vicitra — várias; varṇaiḥ — com cores; caileyaiḥ — feitas de teci­dos; ākalpaiḥ — com ornamentos; anurūpataḥ — de forma adequada.

Tradução

Logo em seguida, adiantou-se um tecelão e, sentindo afeição pelos Senhores, adornou Seus trajes com belos enfeites de tecido de várias cores.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Jīva Gosvāmī explica que o tecelão adornou os Senhores com braceletes de pano e brincos que pareciam joias. A palavra anurū­pataḥ indica que as cores combinavam muito bem.

Texto

nānā-lakṣaṇa-veṣābhyāṁ
kṛṣṇa-rāmau virejatuḥ
sv-alaṅkṛtau bāla-gajau
parvaṇīva sitetarau

Sinônimos

nānā — várias; lakṣaṇa — que tinham belas qualidades; veṣābhyām — com Suas roupas individuais; kṛṣṇa-rāmau — Kṛṣṇa e Balarāma; virejatuḥ — pareciam resplandecentes; su-alaṅkṛtau — bem enfeitados; bāla — jovens; gajau — elefantes; parvaṇi — durante um festival; iva — como se; sita — branco; itarau — e o oposto (preto).

Tradução

Satisfeito com o tecelão, o Supremo Senhor Kṛṣṇa o abençoou com a dádiva de que, após a morte, ele conseguiria a liberação em que se tem uma forma semelhante à do Senhor, e que, enquanto vivesse neste mundo, desfrutaria de suprema opulência, força física, influência, memória e vigor sensorial.

Texto

tasya prasanno bhagavān
prādāt sārūpyam ātmanaḥ
śriyaṁ ca paramāṁ loke
balaiśvarya-smṛtīndriyam

Sinônimos

tasya — com ele; prasannaḥ — satisfeito; bhagavān — o Senhor Supremo; prādāt — concedeu; sārūpyam — a liberação em que se tem a mesma forma; ātmanaḥ — que Ele; śriyam — opulência; ca — e; paramām — suprema; loke — neste mundo; bala — força física; aiśvarya — influência; smṛti — força de memória; indriyam — destreza dos sentidos.

Tradução

Kṛṣṇa e Balarāma pareciam resplandecentes, cada um com Seu traje incomparável e maravilhosamente ornamentado. Assemelhavam-se a um par de jovens elefantes, um branco e outro preto, enfeitados para uma ocasião festiva.

Texto

tataḥ sudāmno bhavanaṁ
mālā-kārasya jagmatuḥ
tau dṛṣṭvā sa samutthāya
nanāma śirasā bhuvi

Sinônimos

tataḥ — então; sudāmnaḥ — de Sudāmā; bhavanam — à casa; mālā-­kārasya — de um guirlandeiro; jagmatuḥ — ambos foram; tau — a Eles; dṛṣṭvā — vendo; saḥ — ele; samutthāya — levantando-se; nanāma — prostrou-se; śirasā — com a cabeça; bhuvi — no chão.

Tradução

Então, os dois Senhores foram à casa do guirlandeiro Sudāmā. Ao vê-lOs, Sudāmā levantou-se de imediato e, em seguida, prostrou-se, colocando a cabeça no chão.

Texto

tayor āsanam ānīya
pādyaṁ cārghyārhaṇādibhiḥ
pūjāṁ sānugayoś cakre
srak-tāmbūlānulepanaiḥ

Sinônimos

tayoḥ — para Eles; āsanam — assentos; ānīya — trazendo; pādyam — água para lavar os pés; ca — e; arghya — com água para lavar as mãos; arhaṇa — presentes; ādibhiḥ — etc.; pūjām — adoração; sa-anugayoḥ — dos dois, junto de Seus companheiros; cakre — ele fez; srak — com guirlanda; tāmbūla — preparação de noz de bétel (pān); anulepanaiḥ — e pasta de sândalo.

Tradução

Depois de Lhes oferecer assentos e lavar Seus pés, Sudāmā adorou Kṛṣṇa e Balarāma e Seus companheiros com arghya, guirlandas, pān, pasta de sândalo e outros presentes.

Texto

prāha naḥ sārthakaṁ janma
pāvitaṁ ca kulaṁ prabho
pitṛ-devarṣayo mahyaṁ
tuṣṭā hy āgamanena vām

Sinônimos

prāha — ele disse; naḥ — nosso; sa-arthakam — proveitoso; janma — nascimento; pāvitam — purificada; ca — e; kulam — a família; prabho — ó Senhor; pitṛ — meus antepassados; deva — os semideuses; ṛṣayaḥ — e os grandes sábios; mahyam — comigo; tuṣṭāḥ — estão satisfeitos; hi — de fato; āgamanena — com a chegada; vām — de Vós dois.

Tradução

[Sudāmā disse:] Ó Senhor, meu nascimento agora está santificado, e minha família, livre de contaminação. Agora que Vós dois viestes aqui, meus antepassados, os semideuses e os grandes sábios com certeza estão todos satisfeitos comigo.

Texto

bhavantau kila viśvasya
jagataḥ kāraṇaṁ param
avatīrṇāv ihāṁśena
kṣemāya ca bhavāya ca

Sinônimos

bhavantau — Vós dois; kila — de fato; viśvasya — do inteiro; jagataḥ — universo; kāraṇam — a causa; param — última; avatīrṇau — tendo feito Vosso advento; iha — aqui; aṁśena — com Vossas porções plenárias; kṣe­māya — para o benefício; ca — e; bhavāya — para a prosperidade; ca — também.

Tradução

Vós dois, Senhores, sois a causa última de todo este universo. A fim de proporcionar amparo e prosperidade a este reino, fizestes Vosso advento com Vossas expansões plenárias.

Texto

na hi vāṁ viṣamā dṛṣṭiḥ
suhṛdor jagad-ātmanoḥ
samayoḥ sarva-bhūteṣu
bhajantaṁ bhajator api

Sinônimos

na — não há; hi — de fato; vām — de Vossa parte; viṣamā — parcial; dṛṣṭiḥ — visão; suhṛdoḥ — que sois amigos benquerentes; jagat — do universo; ātmanoḥ — a Alma; samayoḥ — iguais; sarva — para todos; bhūteṣu — os seres vivos; bhajantam — àqueles que Vos adoram; bhajatoḥ — correspondendo; api — até mesmo.

Tradução

Por serdes Vós os amigos benquerentes e a Alma Suprema de todo o universo, vedes a todos com visão imparcial. Portanto, embora correspondais à adoração amorosa de Vossos devotos, permaneceis sempre igualmente dispostos para com todos os seres vivos.

Texto

tāv ajñāpayataṁ bhṛtyaṁ
kim ahaṁ karavāṇi vām
puṁso ’ty-anugraho hy eṣa
bhavadbhir yan niyujyate

Sinônimos

tau — Eles; ājñāpayatam — devem ordenar, por favor; bhṛtyam — a Seu servo; kim — o que; aham — eu; karavāṇi — devo fazer; vām — por Vós; puṁsaḥ — para qualquer pessoa; ati — extrema; anugrahaḥ — misericórdia; hi — de fato; eṣaḥ — esta; bhavadbhiḥ — por Vós; yat — em que; niyujyate — ele está ocupado.

Tradução

Por favor, ordenai-me, Vosso servo, a fazer o que quer que desejais. Estar ocupado por Vós em algum serviço é decerto uma grande bênção para qualquer pessoa.

Texto

ity abhipretya rājendra
sudāmā prīta-mānasaḥ
śastaiḥ su-gandhaiḥ kusumair
mālā viracitā dadau

Sinônimos

iti — assim falando; abhipretya — compreendendo a intenção dEles; rāja-indra — ó melhor dos reis (Parīkṣit); sudāmā — Sudāmā; prīta­-mānasaḥ — satisfeito no coração; śastaiḥ — frescas; su-gandhaiḥ — e perfumadas; kusumaiḥ — com flores; malaḥ — guirlandas; viracitāḥ­ — feitas; dadau — concedeu.

Tradução

[Śukadeva Gosvāmī continuou:] Ó melhor dos reis, tendo fa­lado estas palavras, Sudāmā pôde compreender o que Kṛṣṇa e Balarāma queriam. Então, com grande prazer, ele Os presenteou com guirlandas de flores frescas e perfumadas.

Texto

tābhiḥ sv-alaṅkṛtau prītau
kṛṣṇa-rāmau sahānugau
praṇatāya prapannāya
dadatur vara-dau varān

Sinônimos

tābhiḥ — com aquelas (guirlandas); su-alaṅkṛtau — belamente ornamentados; prītau — satisfeitos; kṛṣṇa-rāmau — Kṛṣṇa e Balarāma; saha — junto de; anugau — Seus companheiros; praṇatāya — que estava prostrado; prapannāya — ao rendido (Sudāmā); dadatuḥ — deram; varadau — os dois abençoadores; varān — uma variedade de bênçãos.

Tradução

Belamente adornados com essas guirlandas, Kṛṣṇa e Balarāma sentiram extremo prazer, e o mesmo se passou com Seus companheiros. Os dois Senhores, então, ofereceram ao rendido Sudāmā, que estava prostrado diante dEles, quaisquer bênçãos que de­sejasse.

Texto

so ’pi vavre ’calāṁ bhaktiṁ
tasminn evākhilātmani
tad-bhakteṣu ca sauhārdaṁ
bhūteṣu ca dayāṁ parām

Sinônimos

saḥ — ele; api — e; vavre — escolheu; acalām — inabalável; bhaktim — devoção; tasmin — a Ele; eva — somente; akhila — de tudo; ātmani — a Alma Suprema; tat — com Seus; bhakteṣu — devotos; ca — e; sauhār­dam — amizade; bhūteṣu — pelos seres vivos em geral; ca — e; dayām — misericórdia; parām — transcendental.

Tradução

Sudāmā escolheu devoção inabalável a Kṛṣṇa, a Alma Supre­ma de toda a existência; amizade com Seus devotos, e compaixão transcendental por todos os seres vivos.

Texto

iti tasmai varaṁ dattvā
śriyaṁ cānvaya-vardhinīm
balam āyur yaśaḥ kāntiṁ
nirjagāma sahāgrajaḥ

Sinônimos

iti — assim; tasmai — a ele; varam — a bênção; dattvā — dando; śriyam — opulência; ca — e; anvaya — sua família; vardhinīm — expandindo; balam — força; āyuḥ — longa vida; yaśaḥ — fama; kāntim — beleza; nirjagāma — partiu; saha — junto de; agra-jaḥ — Seu irmão mais velho, o Senhor Balarāma.

Tradução

O Senhor Kṛṣṇa não só concedeu essas bênçãos a Sudāmā, mas também lhe deu força, longevidade, fama, beleza e prosperidade sempre crescente para sua família. Então, Kṛṣṇa e Seu irmão mais velho Se despediram.

Comentário

SIGNIFICADO—Podemos ver uma nítida diferença entre a relação de Kṛṣṇa com o insolente lavador de roupas e Sua relação com o devotado florista Sudāmā. O Senhor é tão duro quanto o raio para aqueles que O desafiam e tão suave quanto uma rosa para os que se rendem a Ele. Portanto, devemos todos nos render com sinceridade ao Senhor Kṛṣṇa, dado que isso é claramente do nosso interesse.

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhu­pāda referentes ao décimo canto, quadragésimo primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Kṛṣṇa e Balarāma Entram em Mathurā”.