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CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

A Quebra do Arco do Sacrifício

Este capítulo descreve a bênção que Trivakrā recebeu, a quebra do arco do sacrifício, a destruição dos soldados de Kaṁsa, os inauspi­ciosos presságios vistos por Kaṁsa e as festividades na arena de luta.

Depois de deixar a casa de Sudāmā, o Senhor Kṛṣṇa encontrou-Se com Trivakrā, uma jovem corcunda serva de Kaṁsa que carregava uma bandeja de bálsamos finos. O Senhor perguntou quem ela era e pediu-lhe alguns bálsamos. Fascinada por Sua beleza e palavras divertidas, Trivakrā deu a Kṛṣṇa e Balarāma uma grande quantidade de bálsamos. Em troca, Kṛṣṇa pisou nos dedos dos pés dela com Seus pés de lótus, segurou seu queixo e ergueu-a, endireitando-lhe dessa maneira a espinha. A agora bela e charmosa Trivakrā agarrou então a borda da roupa superior de Kṛṣṇa e pediu-Lhe que viesse à sua casa. Kṛṣṇa respondeu que, depois de resolver alguns assuntos, certa­mente iria e a aliviaria de seu tormento mental. Então, os dois Senho­res continuaram a visitar os lugares turísticos de Mathurā.

Enquanto Kṛṣṇa e Balarāma caminhavam pela estrada real, os mercadores Os adoravam com várias oferendas. Kṛṣṇa perguntou onde aconteceria o sacrifício do arco e, ao chegar à arena, viu o maravi­lhoso arco, que parecia o arco do senhor Indra. A despeito dos protes­tos dos guardas, Kṛṣṇa pegou à força o arco, facilmente o encordoou e, em um instante, partiu-o ao meio, produzindo um barulho ensurdecedor que encheu os céus e aterrorizou o coração de Kaṁsa. Os inúmeros guardas atacaram Kṛṣṇa, gritando: “Agarrai-O! Matai-O!” Mas Kṛṣṇa e Balarāma apenas pegaram as duas metades do arco e bateram nos guardas até matá-los. Em seguida, os Senhores aniquila­ram uma companhia de soldados enviados por Kaṁsa, após o que dei­xaram a arena e continuaram Seu passeio.

Ao ver o surpreendente poder e beleza de Kṛṣṇa e Balarāma, o povo da cidade pensou que Eles deviam ser dois grandes semideuses. De fato, enquanto contemplavam os Senhores, os residentes de Mathurā desfrutavam de todas as bênçãos que as gopīs haviam predito.

Ao cair do sol, Kṛṣṇa e Balarāma retornaram ao acampamento dos vaqueiros para o jantar. Então, passaram a noite descansando confortavelmente. Mas o rei Kaṁsa não foi tão afortunado. Quando soube com que facilidade Kṛṣṇa e Balarāma tinham quebrado o poderoso arco e destruído seus soldados, ele passou a noite em grande ansiedade. Tanto acordado quanto sonhando, ele via muitos maus agouros pres­sagiando sua morte iminente, e esse medo arruinou-lhe toda possibilidade de repouso.

Ao raiar do dia, começou o festival de luta. Multidões de pessoas da cidade e de distritos vizinhos entraram na arena e tomaram seus lugares nas galerias exuberantemente decoradas. Kaṁsa, com o coração trêmulo, sentou-se no camarote real e convidou Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros para virem tomar seus lugares, e, após ofere­cerem-lhe seus presentes, eles o fizeram. A abertura musical come­çou então, enquanto ressoavam os sons dos lutadores batendo em seus braços.

Texto

śrī-śuka uvāca
atha vrajan rāja-pathena mādhavaḥ
striyaṁ gṛhītāṅga-vilepa-bhājanām
vilokya kubjāṁ yuvatīṁ varānanāṁ
papraccha yāntīṁ prahasan rasa-pradaḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; atha — então; vrajan — caminhando; rāja-pathena — pela estrada do rei; mādhavaḥ — Kṛṣṇa; striyam — uma mulher; gṛhīta — segurando; aṅga — para o corpo; vi­lepa — com bálsamos; bhājanām — uma bandeja; vilokya — vendo; kubjām — corcunda; yuvatīm — jovem; vara-ānanām — de rosto atraente; papraccha — Ele perguntou; yāntīm — indo; prahasan — sorrindo; rasa — do prazer do amor; pradaḥ — o outorgador.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto caminhava pela estrada real, o Senhor Mādhava viu aproximar-se uma jovem corcunda de rosto atraente, trazendo uma bandeja de bálsamos perfuma­dos. O outorgador do êxtase do amor sorriu e perguntou-lhe o seguinte.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, a jovem corcunda era de fato uma expansão parcial da esposa do Senhor, Satyabhāmā. Satyabhāmā é a energia interna do Senhor conhecida como Bhū-śakti, e esta expansão dela, conhecida como Pṛthivī, representa a Terra, que estava encurvada devido ao grande fardo de incontáveis governantes perversos. O Senhor Kṛṣṇa fez Seu advento para eliminar esses governan­tes perversos, de modo que Seu passatempo de endireitar a corcunda Tri­vakrā, como se explica nestes versos, representa Sua ação de retificar a condição sobrecarregada da Terra. Ao mesmo tempo, o Senhor concedeu a Trivakrā uma relação conjugal com Ele.

Além do sentido apresentado, a expressão rasa-pradaḥ indica que o Senhor divertiu Seus amigos vaqueirinhos com Sua maneira de proceder com a jovem corcunda.

Texto

kā tvaṁ varorv etad u hānulepanaṁ
kasyāṅgane vā kathayasva sādhu naḥ
dehy āvayor aṅga-vilepam uttamaṁ
śreyas tatas te na cirād bhaviṣyati

Sinônimos

— quem; tvam — tu; vara-ūru — ó mulher de belas coxas; etat — este; u ha — aḥ, de fato; anulepanam — bálsamo; kasya — para quem; aṅgane — Minha cara mulher; — ou; kathayasva — dize, por favor; sādhu — honestamente; naḥ — para Nós; dehi — dá, por favor; āvayoḥ — a Nós ambos; aṅga-vilepam — unguento para o corpo; uttamam — excelente; śreyaḥ — benefício; tataḥ — depois; te — teu; na cirāt — logo; bhaviṣyati — haverá.

Tradução

Quem és, ó mulher de belas coxas? Ah, bálsamo! Para quem é, Minha querida moça? Por favor, dize-Nos a verdade. Concede a Nós dois um pouco de teu melhor bálsamo e logo receberás uma grande bênção.

Comentário

SIGNIFICADO—Por brincadeira, o Senhor dirigiu-Se à moça chamando-a de varoru, “ó mulher de belas coxas”. Seu gracejo não foi malicioso, porque Ele de fato estava prestes a torná-la bonita.

Texto

sairandhry uvāca
dāsy asmy ahaṁ sundara kaṁsa-sammatā
trivakra-nāmā hy anulepa-karmaṇi
mad-bhāvitaṁ bhoja-pater ati-priyaṁ
vinā yuvāṁ ko ’nyatamas tad arhati

Sinônimos

sairandhrī uvāca — a serva disse; dāsī — uma serva; asmi — sou; aham — eu; sundara — ó bela pessoa; kaṁsa — por Kaṁsa; sammatā — respeitada; trivakra-nāmā — chamada Trivakrā (“curvada em três lugares”); hi — de fato; anulepa — com bálsamos; karmaṇi — por meu trabalho; mat — por mim; bhāvitam — preparados; bhoja-pateḥ — pelo líder dos Bhojas; ati-priyam — muito apreciados; vinā — exceto; yuvām — Vós dois; kaḥ — quem; anyatamaḥ — senão; tat — isto; arhati — merece.

Tradução

A serva respondeu: Ó belo rapaz, sou serva do rei Kaṁsa, que me tem em alta estima pelos bálsamos que fabrico. Meu nome é Trivakrā. Quem, senão Vós dois, merece meus bálsamos, que o senhor dos Bhojas tanto aprecia?

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que Trivakrā, que também é conhecida como Kubjā, usou o vocativo singular, sundara, “ó belo”, para insinuar que sentia desejo conjugal por Kṛṣṇa apenas, e usou a forma dual, yuvām, “para Vós ambos”, para tentar esconder seu sentimento conjugal. O nome da corcunda, Trivakrā, indica que seu corpo era curvado no pescoço, no peito e na cintura.

Texto

rūpa-peśala-mādhurya
hasitālāpa-vīkṣitaiḥ
dharṣitātmā dadau sāndram
ubhayor anulepanam

Sinônimos

rūpa — por Sua beleza; peśala — encanto; mādhurya — doçura; hasita — sorrisos; ālāpa — fala; vīkṣitaiḥ — e olhares; dharṣita — dominada; ātmā — sua mente; dadau — ela deu; sāndram — abundante; ubhayoḥ — a Eles dois; anulepanam — bálsamo.

Tradução

Sua mente dominada pela beleza, encanto, doçura, sorrisos, palavras e olhares de Kṛṣṇa, Trivakrā deu a Kṛṣṇa e Balarāma abundante quantidade de bálsamo.

Comentário

SIGNIFICADO—O Viṣṇu Purāṇa (5.20.7) também descreve este incidente:

śrutvā tam āha sā kṛṣṇaṁ
gṛhyatām iti sādaram
anulepanaṁ pradadau
gātra-yogyam athobhayoḥ

“Ao ouvir isso, ela respeitosamente respondeu ao Senhor Kṛṣṇa: ‘Por favor, aceitai-o’, e Lhes entregou dois bálsamos próprios para aplicar em Seus corpos.”

Texto

tatas tāv aṅga-rāgeṇa
sva-varṇetara-śobhinā
samprāpta-para-bhāgena
śuśubhāte ’nurañjitau

Sinônimos

tataḥ — então; tau — Eles; aṅga — de Seus corpos; rāgeṇa — com os cosméticos corantes; sva — Suas próprias; varṇa — com cores; itara — além de; śobhinā — adornando; samprāpta — que exibiam; para — a mais alta; bhāgena — excelência; śuśubhāte — Eles pareciam belos; anurañjitau — ungidos.

Tradução

Ungidos com aqueles excelentíssimos cosméticos, que Os adornavam com matizes contrastantes com a cor de Sua pele, os dois Senhores pareciam extremamente belos.

Comentário

SIGNIFICADO—Os ācāryas sugerem que Kṛṣṇa aplicou bálsamo amarelo em Seu corpo, e Balarāma aplicou bálsamo azul no Seu.

Texto

prasanno bhagavān kubjāṁ
trivakrāṁ rucirānanām
ṛjvīṁ kartuṁ manaś cakre
darśayan darśane phalam

Sinônimos

prasannaḥ — satisfeito; bhagavān — o Senhor Supremo; kubjām — a corcunda; trivakrā — Trivakrā; rucira — atraente; ānanām — cujo rosto; ṛjvīm — direito; kartum — fazer; manaḥ cakre — decidiu; darśayan — mostrando; darśane — de vê-lO; phalam — o resultado.

Tradução

O Senhor Kṛṣṇa ficou satisfeito com Trivakrā, e então, só para demonstrar o resultado de vê-lO, decidiu endireitar a jovem corcunda de rosto encantador.

Texto

padbhyām ākramya prapade
dry-aṅguly-uttāna-pāṇinā
pragṛhya cibuke ’dhyātmam
udanīnamad acyutaḥ

Sinônimos

padbhyām — com ambos os pés; ākramya — pressionando para baixo; prapade — os dedos dos pés dela; dvi — tendo dois; aṅguli — dedos; uttāna — apontando para cima; pāṇinā — com as mãos; pragṛhya — segurando; cibuke — seu queixo; adhyātmam — seu corpo; udanīnamat — ergueu; acyutaḥ — o Senhor Kṛṣṇa.

Tradução

Pisando com Seus dois pés nos dedos dos pés dela, o Senhor Acyuta colocou sob o queixo dela um dedo de cada mão aponta­do para cima e ergueu-a endireitando-lhe o corpo.

Texto

sā tadarju-samānāṅgī
bṛhac-chroṇi-payodharā
mukunda-sparśanāt sadyo
babhūva pramadottamā

Sinônimos

— ela; tadā — então; ṛju — direitos; samāna — regulares; aṅgī — seus membros; bṛhat — grandes; śroṇi — seus quadris; payaḥ-dharā — e seios; mukunda-sparśanāt — pelo toque do Senhor Mukunda; sadyaḥ — de repente; babhūva — tornou-se; pramadā — mulher; uttamā — perfeitíssima.

Tradução

Pelo mero toque do Senhor Mukunda, Trivakrā de repente se transformou em uma mulher de primorosa beleza, com membros perfeitos e de belas proporções, e grandes quadris e seios.

Texto

tato rūpa-guṇaudārya-
sampannā prāha keśavam
uttarīyāntam akṛṣya
smayantī jāta-hṛc-chayā

Sinônimos

tataḥ — então; rūpa — com beleza; guṇa — bom caráter; audārya — e generosidade; sampannā — dotada; prāha — ela se dirigiu; keśavam — ao Senhor Kṛṣṇa; uttarīya — de Sua roupa superior; antam — a ponta; ākṛṣya — puxando; smayantī — sorrindo; jāta — tendo desenvolvido; hṛt-śayā — sentimentos luxuriosos.

Tradução

Dotada agora de beleza, bom caráter e generosidade, Trivakrā começou a sentir desejos luxuriosos pelo Senhor Keśava. Segurando a ponta de Sua roupa superior, ela sorriu e disse-Lhe o seguinte.

Texto

ehi vīra gṛhaṁ yāmo
na tvāṁ tyaktum ihotsahe
tvayonmathita-cittāyāḥ
prasīda puruṣarṣabha

Sinônimos

ehi — vem; vīra — ó herói; gṛham — para minha casa; yāmaḥ — vamos; na — não; tvām — a Ti; tyaktum — deixar; iha — aqui; utsahe — posso suportar; tvayā — por Ti; unmathita — agitada; cittāyāḥ — dela, cuja mente; prasīda — por favor, tem misericórdia; puruṣa-ṛṣabha — ó melhor dos homens.

Tradução

Ó herói, vamos para minha casa. Não posso suportar deixar-Te aqui. Ó melhor dos homens, por favor, tem piedade de mim, pois agitaste minha mente.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī fornece a seguinte conversa:

Kṛṣṇa: É para jantar que Me estás convidando para a tua casa?

Trivakrā: Simplesmente não consigo deixar-Te aqui.

Kṛṣṇa: Mas as pessoas aqui na estrada real vão interpretar mal o que estás dizendo e vão rir. Por isso, por favor, não fales assim.

Trivakrā: Não consigo aquietar minha agitação. Cometeste o erro de tocar-me. Não é minha culpa.

Texto

evaṁ striyā yācyamānaḥ
kṛṣṇo rāmasya paśyataḥ
mukhaṁ vīkṣyānu gopānāṁ
prahasaṁs tām uvāca ha

Sinônimos

evam — deste modo; striyā — pela mulher; yācya nānaḥ — sendo solicitado; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; rāmasya — de Balarāma; paśyataḥ — que estava observando; mukham — o rosto; vīkṣya — olhando; anu — então; gopānām — dos vaqueirinhos; prahasan — rindo; tām — a ela; uvāca ha — disse.

Tradução

Solicitado assim pela mulher, o Senhor Kṛṣṇa primeiro olhou para o rosto de Balarāma, que assistia ao incidente, e depois para os rostos dos vaqueirinhos. Com um riso, então, Kṛṣṇa respondeu da seguinte maneira.

Texto

eṣyāmi te gṛhaṁ su-bhru
puṁsām ādhi-vikarśanam
sādhitārtho ’gṛhāṇāṁ naḥ
pānthānāṁ tvaṁ parāyaṇam

Sinônimos

eṣyāmi — irei; te — tua; gṛham — à casa; su-bhru — ó tu de belas sobrancelhas; puṁsām — dos homens; ādhi — a aflição mental; vikarśanam — que erradicas; sādhita — tendo cumprido; arthaḥ — Meu propósito; agṛhānām — que não temos casa; naḥ — para Nós; pānthānām — que viajamos na estrada; tvam — tu; para — o melhor; ayaṇam — abrigo.

Tradução

[O Senhor Kṛṣṇa disse:] Ó dama de belas sobrancelhas, logo que Eu cumprir o Meu propósito, com certeza visitarei a tua casa, onde os homens podem aliviar sua ansiedade. De fato, és o melhor refúgio para Nós, viajantes sem lar.

Comentário

SIGNIFICADO—Mediante a palavra agṛhānām, Śrī Kṛṣṇa indicou não só que Ele não tinha residência fixa, mas também que ainda não era casado.

Texto

visṛjya mādhvyā vāṇyā tām
vrajan mārge vaṇik-pathaiḥ
nānopāyana-tāmbūla-
srag-gandhaiḥ sāgrajo ’rcitaḥ

Sinônimos

visṛjya — deixando; mādhvyā — com doces; vāṇyā — palavras; tām — a ela; vrajan — caminhando; mārge — ao longo da estrada; vaṇik­-pathaiḥ — pelos mercadores; nānā — com várias; upāyana — oferendas respeitosas; tāmbūla — noz de bétel; srak — guirlandas; gandhaiḥ — e substâncias perfumadas; sa — junto de; agra-jaḥ — Seu irmão mais velho; arcitaḥ — adorado.

Tradução

Deixando-a com estas doces palavras, o Senhor Kṛṣṇa prosseguiu estrada abaixo. Ao longo do caminho, os mercadores adoravam o Senhor Kṛṣṇa e Seu irmão mais velho presenteando-Os com várias oferendas respeitosas, incluindo pān, guirlandas e substâncias per­fumadas.

Texto

tad-darśana-smara-kṣobhād
ātmānaṁ nāvidan striyaḥ
visrasta-vāsaḥ-kavara
valayā lekhya-mūrtayaḥ

Sinônimos

tat — a Ele; darśana — por verem; smara — devido aos efeitos de Cupido; kṣobhāt — por sua agitação; ātmānam — a si mesmas; na avidan — não podiam reconhecer; striyaḥ — as mulheres; visrasta — em desalinho; vāsaḥ — as roupas; kavara — os cachos de cabelo; valayāḥ — e seus braceletes; lekhya — (como que) desenhadas em um quadro; mūrtayaḥ — suas formas.

Tradução

A visão de Kṛṣṇa despertou o Cupido no coração das mulheres da cidade. Assim agitadas, esqueceram-se de si. Suas roupas, tranças e braceletes ficaram em desalinho, e ficaram tão paralisadas como figuras em um quadro.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī diz que, como as mulheres de Mathurā de imediato experimentaram sintomas de atração conjugal ao verem Kṛṣṇa, elas eram os devotos mais avançados na cidade. Os dez efeitos do Cupido assim se descrevem, cakṣū-rāgaḥ prathamaṁ cittāsaṅgas tato ’tha saṅkalpaḥ nidrā-cchedas tanutā viṣaya-nivṛttis trapā-nasaḥ/ unmādo mūrcchā mṛtir ity etāḥ smara-daśā daśaiva syuḥ: “Primeiramente, vem a atração expressa pelos olhos, depois intenso apego na mente, a seguir determinação, perda de sono, emagrecimento, desinteresse por coisas externas, falta de vergonha, loucura, estupefação e morte. Estas são as dez fases dos efeitos do Cupido.”

Śrīla Viśvanātha Cakravartī também salienta que, em geral, os devotos que possuem amor puro por Deus não exibem o sintoma da morte, pois isso é inauspicioso em relação a Kṛṣṇa. Eles, porém, manifestam os outros nove sintomas, que culminam com a estupefa­ção em êxtase.

Texto

tataḥ paurān pṛcchamāno
dhanuṣaḥ sthānam acyutaḥ
tasmin praviṣṭo dadṛśe
dhanur aindram ivādbhutam

Sinônimos

tataḥ — então; paurān — dos residentes da cidade; pṛcchamānaḥ — indagando; dhanuṣaḥ — do arco; sthānam — o lugar; acyutaḥ — o infalível Senhor Supremo; tasmin — lá; praviṣṭaḥ — entrando; dadṛśe — viu; dhanuḥ — o arco; aindram — aquele do senhor Indra; iva — como; adbhu­tam — estupendo.

Tradução

O Senhor Kṛṣṇa, então, perguntou às pessoas do local onde fi­cava a arena em que se daria o sacrifício do arco. Quando chegou lá, Ele viu o estupendo arco, que se assemelhava ao arco do senhor Indra.

Texto

puruṣair bahubhir guptam
arcitaṁ paramarddhimat
vāryamāṇo nṛbhiḥ kṛṣṇaḥ
prasahya dhanur ādade

Sinônimos

puruṣaiḥ — por homens; bahubhiḥ — muitos; guptam — guardado; arcitam — sendo adorado; parama — suprema; ṛddhi — opulência; mat — que possuía; vāryamāṇaḥ — vigiado; nṛbhiḥ — pelos guardas; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; prasahya — à força; dhanuḥ — o arco; ādade — apanhou.

Tradução

Aquele opulentíssimo arco era guardado por uma grande com­panhia de homens, que o estavam adorando com muito respeito. Kṛṣṇa abriu caminho aos empurrões e, apesar dos esforços dos guardas para impedi-lO, apanhou o arco.

Texto

kareṇa vāmena sa-līlam uddhṛtaṁ
sajyaṁ ca kṛtvā nimiṣeṇa paśyatām
nṛṇāṁ vikṛṣya prababhañja madhyato
yathekṣu-daṇḍaṁ mada-kary urukramaḥ

Sinônimos

kareṇa — com a mão; vāmena — esquerda; sa-līlam — de brincadeira; uddhṛtam — erguido; sajyam — a corda; ca — e; kṛtvā — fazendo; nimiṣeṇa — no piscar de um olho; paśyatām — enquanto olhavam; nṛṇām — os guardas; vikṛṣya — esticando-o; prababhañja — quebrou-o; madhya­taḥ — no meio; yathā — conto; ikṣu — de cana-de-açúcar; daṇḍam — um caule; mada-karī — um elefante agitado; urukramaḥ — o Senhor Kṛṣṇa.

Tradução

Erguendo facilmente o arco com a mão esquerda, o Senhor Urukrama encordoou o mesmo em uma fração de segundo enquanto os guar­das do rei olhavam. Então, Ele puxou a corda com força e partiu o arco ao meio, assim como um elefante agitado quebraria um caule de cana-de-açúcar.

Texto

dhanuṣo bhajyamānasya
śabdaḥ khaṁ rodasī diśaḥ
pūrayām āsa yaṁ śrutvā
kaṁsas trāsam upāgamat

Sinônimos

dhanuṣaḥ — do arco; bhajyamānasya — que estava quebrando; śabdaḥ — o som; kham — a terra; rodasī — os céus; diśaḥ — e todas as direções; pūrayām āsa — encheu; yam — o qual; śrutvā — ouvindo; kaṁsaḥ — o rei Kaṁsa; trāsam — medo; upāgamat — experimentou.

Tradução

O som da quebra do arco encheu a terra e os céus em todas as direções. Ao ouvi-lo, Kaṁsa encheu-se de terror.

Texto

tad-rakṣiṇaḥ sānucaraṁ
kupitā ātatāyinaḥ
gṛhītu-kāmā āvavrur
gṛhyatāṁ vadhyatām iti

Sinônimos

tat — seus; rakṣiṇaḥ — guardas; sa — com; anucaram — meus companheiros; kupitāḥ — irados; ātatāyinaḥ — armados; gṛhītu — pegar; kāmāḥ — querendo; āvavruḥ — rodearam; gṛhyatām — agarrai-O; vadhyatām — matai-O; iti — assim falando.

Tradução

Então, os enfurecidos guardas apanharam suas armas e, querendo agarrar Kṛṣṇa e Seus companheiros, rodearam-nos e gritaram: “Capturai-O! Matai-O!”

Texto

atha tān durabhiprāyān
vilokya bala-keśavau
kruddhau dhanvana ādāya
śakale tāṁś ca jaghnatuḥ

Sinônimos

atha — então; tān — a eles; durabhiprāyān — com intenção malévola; vilokya — vendo; bala-keśavau — Balarāma e Kṛṣṇa; kruddhau — irados; dhanvanaḥ — do arco; ādāya — pegando; śakale — os dois pe­daços quebrados; tān — a eles; ca — e; jaghnatuḥ — atacaram.

Tradução

Vendo que os guardas se aproximavam dEles com intenções nocivas, Balarāma e Keśava pegaram as duas metades do arco e começaram a derrubá-los.

Texto

balaṁ ca kaṁsa-prahitaṁ
hatvā śālā-mukhāt tataḥ
niṣkramya ceratur hṛṣṭau
nirīkṣya pura-sampadaḥ

Sinônimos

balam — uma força armada; ca — e; kaṁsa-prahitam — enviada por Kaṁsa; hatvā — tendo matado; śālā — da arena do sacrifício; mukhāt — pelo portão; tataḥ — então; niṣkramya — excitando; ceratuḥ — Eles dois continuaram andando; hṛṣṭau — felizes; nirīkṣya — o observa; pura­ — da cidade; sampadaḥ — a riqueza.

Tradução

Depois de matarem também um contingente de soldados envia­do por Kaṁsa, Kṛṣṇa e Balarāma deixaram a arena de sacrifício pelo portão principal e continuaram Seu passeio pela cidade, olhando alegremente as opulentas atrações turísticas.

Texto

tayos tad adbhutaṁ vīryaṁ
niśāmya pura-vāsinaḥ
tejaḥ prāgalbhyaṁ rūpaṁ ca
menire vibudhottamau

Sinônimos

tayoḥ — dEles; tat — aquele; adbhutam — espantoso; vīryam — feito heroico; niśāmya — vendo; pura-vāsinaḥ — os residentes da cidade; tejaḥ — Sua força; prāgalbhyam — ousadia; rūpam — beleza; ca — e; menire — consideraram; vibudha — dos semideuses; uttamau — dois dos melhores.

Tradução

Tendo testemunhado a surpreendente façanha de Kṛṣṇa e Balarāma, e vendo Sua força, ousadia e beleza, o povo da cidade pensou que Eles deviam ser dois preeminentes semideuses.

Texto

tayor vicaratoḥ svairam
ādityo ’stam upeyivān
kṛṣṇa-rāmau vṛtau gopaiḥ
purāc chakaṭam īyatuḥ

Sinônimos

tayoḥ — enquanto Eles; vicaratoḥ — passeavam; svairam — à von­tade; ādityaḥ — o Sol; astam — do poente; upeyivān — aproximou-se; kṛṣṇa-rāmau — Kṛṣṇa e Balarāma; vṛtau — acompanhados; gopaiḥ — pelos vaqueirinhos; purāt — da cidade; śakaṭam — ao lugar onde as carroças tinham sido desatreladas; īyatuḥ — foram.

Tradução

Enquanto passeavam à vontade, o Sol começou a se pôr, de modo que Eles saíram da cidade com os vaqueirinhos e retornaram ao acampamento onde se encontravam as carroças dos vaqueiros.

Texto

gopyo mukunda-vigame virahāturā yā
āśāsatāśiṣa ṛtā madhu-pury abhūvan
sampaśyatāṁ puruṣa-bhūṣaṇa-gātra-lakṣmīṁ
hitvetarān nu bhajataś cakame ’yanaṁ śrīḥ

Sinônimos

gopyaḥ — as gopīs; mukunda-vigame — quando o Senhor Mukunda estava partindo; viraha — por sentimentos de separação; āturāḥ — atormentadas; yāḥ — que; āśāsata — tinham dito; āśiṣaḥ — as bênçãos; ṛtāḥ — verdadeiras; madhu-puri — em Mathurā; abhūvan — tornaram-se; sampaśyatām — para os que estão vendo por completo; puruṣa — de homens; bhūṣaṇa — do ornamento; gātra — de Seu corpo; lakṣmīm — a beleza; hitvā — abandonando; itarān — outros; nu — de fato; bhajataḥ — que a estavam adorando; cakame — desejado; ayanam — abrigo; śrīḥ — a deusa da fortuna.

Tradução

Na ocasião em que Mukunda [Kṛṣṇa] partiu de Vṛndāvana, as gopīs predisseram que os residentes de Mathurā desfrutariam muitas bênçãos, e agora as predições das gopīs se realizavam, pois aqueles residentes estavam contemplando a beleza de Kṛṣṇa, a joia entre os homens. De fato, a deusa da fortuna desejou tanto o abrigo daquela beleza que abandonou muitos outros homens, embora eles a adorassem.

Texto

avaniktāṅghri-yugalau
bhuktvā kṣīropasecanam
ūṣatus tāṁ sukhaṁ rātriṁ
jñātvā kaṁsa-cikīrṣitam

Sinônimos

avanikta — banhados; aṅghri-yugalau — os dois pés de cada um dEles; bhuktvā — comendo; kṣīra-upasecanam — arroz cozido e borrifado com leite; ūṣatuḥ — ficaram lá; tām — durante aquela; sukham — confortavelmente; rātrim — noite; jñātvā — conhecendo; kaṁsa-cikīrṣi­tam — o que Kaṁsa pretendia fazer.

Tradução

Depois que os pés de Kṛṣṇa e Balarāma foram banhados, os dois Senhores comeram arroz com leite. Então, ainda que soubes­sem o que Kaṁsa pretendia fazer, Eles passaram confortavel­mente a noite ali.

Texto

kaṁsas tu dhanuṣo bhaṅgaṁ
rakṣiṇāṁ sva-balasya ca
vadhaṁ niśamya govinda-
rāma-vikrīḍitaṁ param
dīrgha-prajāgaro bhīto
durnimittāni durmatiḥ
bahūny acaṣṭobhayathā
mṛtyor dautya-karāṇi ca

Sinônimos

kaṁsaḥ — o rei Kaṁsa; tu — mas; dhanuṣaḥ — do arco; bhaṅgam — da quebra; rakṣiṇām — dos guardas; sva — dele; balasya — do exérci­to; ca — e; vadham — da morte; niśamya — ouvindo falar; govinda­-rāma — de Kṛṣṇa e Balarāma; vikrīḍitam — a brincadeira; param — me­ramente; dīrgha — por longo tempo; prajāgaraḥ — ficando acordado; bhītaḥ — com medo; durnimittāni — maus agouros; durmatiḥ — do mal-intencionado; bahūni — muitos; acaṣṭa — viu; ubhayathā — em ambos os estados (sono e vigília); mṛtyoḥ — da morte; dautya-karāṇi — os mensageiros; ca — e.

Tradução

O perverso rei Kaṁsa, por outro lado, estava aterrorizado, após ter ouvido como Kṛṣṇa e Balarāma tinham quebrado o arco e matado seus guardas e soldados, tudo de forma tão simples como um jogo. Ele ficou acordado por muito tempo, e tanto desperto quanto sonhando viu muitos maus agouros, mensageiros da morte.

Texto

adarśanaṁ sva-śirasaḥ
pratirūpe ca saty api
asaty api dvitīye ca
dvai-rūpyaṁ jyotiṣāṁ tathā
chidra-pratītiś chāyāyāṁ
prāṇa-ghoṣānupaśrutiḥ
svarṇa-pratītir vṛkṣeṣu
sva-padānām adarśanam
svapne preta-pariṣvaṅgaḥ
khara-yānaṁ viṣādanam
yāyān nalada-māly ekas
tailābhyakto dig-ambaraḥ
anyāni cetthaṁ-bhūtāni
svapna-jāgaritāni ca
paśyan maraṇa-santrasto
nidrāṁ lebhe na cintayā

Sinônimos

adarśanam — a invisibilidade; sva — de sua própria; śirasaḥ — cabeça; pratirūpe — seu reflexo; ca — e; sati — estando presente; api — mesmo; asati — não havendo; api — mesmo; dvitīye — uma causa para duplicação; ca — e; dvai-rūpyam — imagem dupla; jyotiṣām — dos corpos celestes; tathā — também; chidra — de um buraco; pratītiḥ — a visão; chāyāyām — em sua sombra; prāṇa — de seu ar vital; ghoṣa — a reverberação; anupaśrutiḥ — a incapacidade de ouvir; svarṇa — de cor dourada; pratītiḥ — a percepção; vṛkṣeṣu — nas árvores; sva — suas próprias; padānām — pegadas; adarśanam — não vendo; svapne — enquanto dormia; preta — por espíritos espectrais; pariṣvaṅgaḥ — sendo abra­çado; khara — montado em um asno; yānam — viajando; viṣa — veneno; adanam — engolindo; yāyāt — estava passeando; nalada — de flores de nardo-da-índia; mālī — usando uma guirlanda; ekaḥ — alguém; taila — com óleo; abhyaktaḥ — untado; dik-ambaraḥ — nu; anyāni — outros (presságios); ca — e; ittham-bhūtāni — como esses; svapna — dormindo; jāga­ritāni — acordado; ca — também; paśyan — vendo; maraṇa — pela morte; santrastaḥ — aterrorizado; nidrām — sono; lebhe — ele podia conseguir; na — não; cintayā — por causa de ansiedade.

Tradução

Quando olhava para seu reflexo, não podia ver a cabeça; sem razão alguma, a Lua e as estrelas pareciam duplicadas; via um buraco em sua sombra; não podia ouvir o som de sua respiração; as árvores pareciam cobertas por um matiz dourado, e não podia ver suas pegadas. Sonhava que estava sendo abraçado por fantasmas, cavalgando um asno e bebendo veneno, e também que um homem nu untado de óleo passava com uma guirlanda de flores nalada. Vendo esses e outros maus presságios semelhan­tes, tanto sonhando quanto acordado, Kaṁsa ficou aterrorizado com a perspectiva da morte, e não conseguia dormir por causa da ansiedade.

Texto

vyuṣṭāyāṁ niśi kauravya
sūrye cādbhyaḥ samutthite
kārayām āsa vai kaṁso
malla-krīḍā-mahotsavam

Sinônimos

vyuṣṭāyām — tendo passado; niśi — a noite; kauravya — ó descen­dente de Kuru (Parīkṣit); sūrye — o Sol; ca — e; adbhyaḥ — da água; samutthite — surgindo; kārayām āsa — tinha realizado; vai — de fato; kaṁsaḥ — Kaṁsa; malla — dos lutadores; krīḍā — do esporte; mahā­-utsavam — o grande festival.

Tradução

Quando, afinal, acabou a noite, e o Sol surgiu da água, Kaṁsa colocou-se a organizar o grandioso festival de luta.

Texto

ānarcuḥ puruṣā raṅgaṁ
tūrya-bheryaś ca jaghnire
mañcāś cālaṅkṛtāḥ sragbhiḥ
patākā-caila-toraṇaiḥ

Sinônimos

ānarcuḥ — adoraram; puruṣāḥ — os homens do rei; raṅgam — a arena; tūrya — instrumentos musicais; bheryaḥ — tambores; ca — e; jaghni­re — vibraram; mañcāḥ — as plataformas do público; ca — e; alaṅkṛtāḥ — foram enfeitadas; sragbhiḥ — com guirlandas; patākā — com bandeiras; caila — fitas de pano; toraṇaiḥ — e portões.

Tradução

Os homens do rei executaram a adoração ritualística da arena de luta, soaram tambores e outros instrumentos e decoraram as galerias do público com guirlandas, bandeiras, faixas e arcos.

Texto

teṣu paurā jānapadā
brahma-kṣatra-purogamāḥ
yathopajoṣaṁ viviśū
rājānaś ca kṛtāsanāḥ

Sinônimos

teṣu — nessas (plataformas); paurāḥ — os moradores da cidade; jānapadāḥ — e as pessoas dos subúrbios; brahma — pelos brāhmaṇas; kṣatra — e os kṣatriyas; puraḥ-gamāḥ — liderados; yathā-upajoṣam — como convinha a seu conforto; viviśuḥ — vieram e sentaram-se; rājānaḥ — os reis; ca — também; kṛta — recebidos; asanāḥ — assentos especiais.

Tradução

Os moradores da cidade e dos distritos vizinhos, liderados pelos brāhmaṇas e kṣatriyas, vieram e sentaram-se confortavelmente nas galerias. Os convidados nobres receberam assentos especiais.

Texto

kaṁsaḥ parivṛto ’mātyai
rāja-mañca upāviśat
maṇḍaleśvara-madhya-stho
hṛdayena vidūyatā

Sinônimos

kaṁsaḥ — Kaṁsa; parivṛtaḥ — rodeado; amātyaiḥ — por seus ministros; rāja-mañce — no camarote do rei; upāviśati — sentou-se; maṇḍala-­īśvara — de governantes secundários de várias regiões; madhya — no meio; sthaḥ — situado; hṛdayena — com o coração; vidūyatā — tremendo.

Tradução

Rodeado por seus ministros, Kaṁsa tomou seu lugar no camarote imperial. Contudo, mesmo sentado entre seus vários governantes provinciais, seu coração tremia.

Texto

vādyamānesu tūryeṣu
malla-tālottareṣu ca
mallāḥ sv-alaṅkṛtāḥ dṛptāḥ
sopādhyāyāḥ samāsata

Sinônimos

vādyamāneṣu — enquanto eram tocados; tūryeṣu — os instrumentos musicais; malla — adequados à luta; tāla — com ritmos; uttareṣu — importantes; ca — e; mallāḥ — os lutadores; su-alaṅkṛtāḥ — bem ornamentados; dṛptāḥ — orgulhosos; sa-upādhyāyāḥ — com seus instrutores; samāsata — vieram e sentaram-se.

Tradução

Enquanto os instrumentos musicais eram tocados bem forte em ritmos próprios para eventos de luta, os lutadores, com magníficos ornamentos, entraram orgulhosamente na arena acompanhados de seus treinadores e sentaram-se.

Texto

cāṇūro muṣṭikaḥ kūtaḥ
śalas tośala eva ca
ta āsedur upasthānaṁ
valgu-vādya-praharṣitāḥ

Sinônimos

cāṇūraḥ muṣṭikaḥ kūṭaḥ — os lutadores Cāṇūra, Muṣṭika e Kūṭa; śalaḥ tośalaḥ — Śala e Tośala; eva ca — também; te — eles; āseduḥ — sentaram-se; upasthānam — na esteira do ringue de luta; valgu — agradável; vādya — pela música; praharṣitāḥ — entusiasmados.

Tradução

Entusiasmados pela música agradável, Cāṇūra, Muṣṭika, Kūṭa, Śala e Tośala sentaram-se na esteira de luta.

Texto

nanda-gopādayo gopā
bhoja-rāja-samāhutāḥ
niveditopāyanās ta
ekasmin mañca āviśan

Sinônimos

nanda-gopa-ādayaḥ — encabeçados por Nanda Gopa; gopāḥ — os vaqueiros; bhoja-rāja — por Kaṁsa, rei dos Bhojas; samāhutāḥ — chamados para a frente; nivedita — presenteando; upāyanāḥ — suas oferendas; te — eles; ekasmin — em uma; mañce — galeria de público; āviśan — sentaram-se.

Tradução

Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros, convidados pelo rei dos Bhojas, ofereceram-lhe seus presentes e, então, tomaram seus assentos em uma das galerias.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, a palavra samāhutāḥ indica que o rei Kaṁsa, com muito respeito, chamou os líderes de Vraja para que eles pudessem ofertar seus tributos ao governo central. Se­gundo o ācārya, Kaṁsa tranquilizou Nanda com as seguintes palavras: “Meu querido rei de Vraja, és o mais importante de meus governantes de vila. Mas mesmo tendo vindo de tua vila pastoril a Mathurā, não vieste visitar-me. Isso é porque estás assustado? Não penses que teus dois filhos são maus por terem quebrado o arco. Con­videi-Os para vir aqui porque ouvi falar que Eles são poderosíssimos, e organizei esta competição de luta como um teste para Sua força. Logo, aproxima-te, por favor, sem hesitação. Não tenhas medo.”

Śrīla Viśvanātha Cakravartī diz ainda que Nanda Mahārāja notou que seus dois filhos não estavam presentes. Ao que tudo indica, desrespeitando a ordem do rei Kaṁsa, Eles tinham saído de manhã para ir a outro lugar.

Por isso, Kaṁsa enviou alguns vaqueiros para que fossem procurá-lOs e aconselhá-lOs a comportarem-Se bem e voltar para a arena de luta. O ācārya também afirma que a razão de Nanda Mahārāja e os outros vaqueiros terem sentado nas galerias foi que eles não conseguiram achar lugar para sentar no camarote real.

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhu­pāda referentes ao décimo canto, quadragésimo segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “A Quebra do Arco do Sacrifício”.