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Capítulo Sete

Bebendo Veneno, o Senhor Śiva Salva o Universo

O resumo do sétimo capítulo é o seguinte. Como se descreve neste capítulo, a Suprema Personalidade de Deus, aparecendo sob Sua encarnação de tartaruga, mergulhou muito fundo no oceano para carregar sobre Suas costas a montanha Mandara. Primeiramente, a batedura ocorrida no oceano produziu o veneno kālakūṭa. Todos temiam esse veneno, mas o senhor Śiva agradou a todos bebendo o veneno.

Tendo chegado a um acordo de que, quando o néctar fosse produzido através da batedura, eles o repartiriam igualmente, os semi­deuses e demônios trouxeram então Vāsuki para ser usado como a corda do bastão com o qual se realizaria a batedura. Pelo hábil ar­ranjo da Suprema Personalidade de Deus, os demônios seguraram a serpente perto da boca, ao passo que os semideuses seguraram a cauda da grande serpente. Então, com grande esforço, eles começa­ram a puxar a serpente em ambas as direções. Visto que o bastão que seria utilizado na batedura, a montanha Mandara, era muito pe­sado e não tinha nenhum suporte na água, ele afundou no oceano, e, dessa maneira, a força dos demônios e dos semideuses se esgotou. Então, a Suprema Personalidade de Deus apareceu sob a forma de tartaruga e sustentou sobre Suas costas a montanha Mandara. Com isso, a batedura voltou então a ser realizada com muito ím­peto. Como resultado da batedura, produziu-se uma enorme quanti­dade de veneno. Os prajāpatis, não vendo outrem capaz de salvá-los, aproximaram-se do senhor Śiva e ofereceram-lhe orações cheias de verdades. O senhor Śiva se chama Āśutoṣa porque fica muito satisfeito se alguém é um devoto. Portanto, ele facilmente concor­dou em beber todo o veneno gerado pela batedura. A deusa Durgā, Bhavānī, esposa do senhor Śiva, não se assustou nem um pouco quando ele concordou em beber o veneno, pois ela conhecia o poder do senhor Śiva. Na verdade, ela expressou seu prazer com essa decisão tomada pelo senhor Śiva. Então, o senhor Śiva reuniu o veneno devastador, que estava espalhado por toda parte, colo­cou o mesmo em sua mão e o bebeu. Após beber o veneno, seu pescoço se tornou azulado. Uma pequena quantidade de veneno escorregou de suas mãos, caindo ao chão. É por causa desse veneno que existem neste mundo serpentes e escorpiões venenosos, plantas tóxicas e outras entidades peçonhentas.

Texto

śrī-śuka uvāca
te nāga-rājam āmantrya
phala-bhāgena vāsukim
parivīya girau tasmin
netram abdhiṁ mudānvitāḥ
ārebhire surā yattā
amṛtārthe kurūdvaha

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; te — todos eles (os semideuses e os demônios); nāga-rājam — o rei das Nāgas, serpentes; āmantrya — convidando, ou solicitando; phala-bhāgena — prometendo uma parte do néctar; vāsukim — a serpente Vāsuki; parivīya — contornando; girau — montanha Mandara; tasmin — a ela; netram — a corda utilizada na batedura; abdhim — o oceano de leite; mudā anvitāḥ — todos tomados de grande prazer; ārebhire — começaram a agir; surāḥ — os semideuses; yattāḥ — com grande esforço; amṛta-arthe — para produzir o néctar; kuru-udvaha — ó rei Parīkṣit, melhor dos Kurus.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Ó melhor dos Kurus, Mahārāja Parīkṣit, os semideuses e demônios convocaram Vāsuki, o rei das serpentes, pedindo-lhe que viesse e prometendo dar-lhe uma parte do néctar. Enrolando Vāsuki em torno da montanha Mandara para que servisse de corda a ser utilizada na batedura, eles, com grande prazer, esforçaram-se por produzir néctar, batendo o oceano de leite.

Texto

hariḥ purastāj jagṛhe
pūrvaṁ devās tato ’bhavan

Sinônimos

hariḥ — a Suprema Personalidade de Deus, Ajita; purastāt — da frente; jagṛhe — pegou; pūrvam — primeiro; devāḥ — os semideuses; tataḥ — em seguida; abhavan — pegaram a parte anterior de Vāsuki.

Tradução

A Personalidade de Deus, Ajita, agarrou a parte dianteira da serpente, e, em seguida, os semideuses fizeram o mesmo.

Texto

tan naicchan daitya-patayo
mahā-puruṣa-ceṣṭitam
na gṛhṇīmo vayaṁ puccham
aher aṅgam amaṅgalam
svādhyāya-śruta-sampannāḥ
prakhyātā janma-karmabhiḥ

Sinônimos

tat — aquele arranjo; na aicchan — não gostando de; daitya-pa­tayaḥ — os líderes dos demônios; mahā-puruṣa — da Suprema Personalidade de Deus; ceṣṭitam — tentativa; na — não; gṛhṇīmaḥ — devemos pegar; vayam — todos nós (os Daityas); puccham — a cauda; aheḥ — da serpente; aṅgam — parte do corpo; amaṅgalam — inauspiciosa, in­ferior; svādhyāya — com estudo védico; śruta — e conhecimento védico; sampannāḥ — plenamente equipados; prakhyātāḥ — proeminentes; janma-karmabhiḥ — em virtude do nascimento e atividades.

Tradução

Os líderes dos demônios julgaram imprudente segurar a cauda, a parte inauspiciosa da serpente. Em vez disso, queriam segurar a parte da frente, a qual a Personalidade de Deus e os semideuses pegaram, porque essa parte era auspiciosa e gloriosa. Então, os demô­nios, sob o pretexto de que eram todos estudantes altamente avançados em conhecimento védico e famosos em virtude de seu nascimento e atividades, protestaram, pois queriam agarrar a extremidade dianteira da serpente.

Comentário

SIGNIFICADO—Os demônios achavam que a frente da cobra era auspiciosa e que segurar aquela parte seria mais nobre. Além disso, os Daityas sempre desejam fazer o oposto dos semideuses. É essa a natureza deles. De fato, temos visto isso acontecer em relação ao nosso movimento da consciência de Kṛṣṇa. Estamos ensinando que se devem proteger as vacas e encorajamos as pessoas a beberem mais leite e comerem preparações saborosas feitas à base de leite, mas os demônios, apenas para se oporem a essas propostas, alegam serem avançados em conhecimento científico, como descrevem aqui as pa­lavras svādhyāya-śruta-sampannāḥ. Eles dizem que, de acordo com seu processo científico, descobriram que o leite é perigoso e que o bife obtido através do abate de vacas é muito nutritivo. Essa diver­gência de opinião sempre existirá. Na verdade, persiste desde os tempos mais remotos. Milhões de anos atrás, havia a mesma competição. Os demônios, como resultado de seu suposto estudo védico, preferi­ram segurar o lado que ficava perto da boca da serpente. A Suprema Personalidade de Deus julgou sensato segurar a parte perigosa da serpente e deixar os demônios agarrar a cauda, que não era perigosa, mas, devido ao espírito competitivo, os demônios acharam sábio segurar perto da boca da serpente. Se os semideuses fossem beber o veneno, os demônios se decidiriam desta maneira: “Por que não pegamos um pouco do veneno e morremos gloriosamente, bebendo-o?”

No que diz respeito às palavras svādhyāya-śruta-sampannāḥ prakhyātā janma-karmabhiḥ, pode-se levantar outra questão. Se alguém é realmente instruído no tocante ao conhecimento védico, famoso devido ao fato de realizar atividades prescritas e ter nascido em prestigiosa família aristocrática, por que deveria ser chamado de demônio? A resposta é que, embora alguém seja altamente instruído e tenha nascido em família aristocrática, se ele for um ateísta, se não seguir as instru­ções de Deus, contará entre os demônios. Na história, existem muitos exemplos de homens como Hiraṇyakaśipu, Rāvaṇa e Kaṁsa, que receberam boa instrução, nasceram em famílias aristocráti­cas e eram muito poderosos e nobres na luta, mas que, devido ao fato de zombarem da Suprema Personalidade de Deus, eram chamados Rākṣasas, ou demônios. Talvez alguém tenha recebido ótima educação, mas, se não discerne o que é a consciência de Kṛṣṇa nem presta nenhuma obediência ao Senhor Supremo, ele será um mero demô­nio. Na Bhagavad-gītā (7.15), o próprio Senhor descreve isto:

na māṁ duṣkṛtino mūḍhāḥ
prapadyante narādhamāḥ
māyayāpahṛta-jñānā
āsuraṁ bhāvam āśritāḥ

“Os canalhas que são grosseiramente tolos, que são os mais baixos da humanidade, cujo conhecimento é roubado pela ilusão e que compartilham da natureza ateísta dos demônios, não se rendem a Mim.” Āsuraṁ bhāvam se aplica àquele que não aceita a existência de Deus ou as instruções transcendentais da Personalidade de Deus. A Bhagavad-gītā consiste claramente nas instruções transcendentais transmitidas diretamente pela Suprema Personalidade de Deus. Mas os asuras, em vez de simplesmente aceitarem essas instruções, fazem comentários de acordo com seus próprios critérios caprichosos e desencaminham a todos, sem vantagem alguma sequer para eles próprios. Portanto, todos devem tomar muito cuidado com as pessoas demoníacas e impiedosas. De acordo com as palavras do Senhor Kṛṣṇa, mesmo que tenha muita instrução, o demônio ateísta deve ser considerado mūḍha, narādhama e māyayāpahṛta jñāna.

Texto

iti tūṣṇīṁ sthitān daityān
vilokya puruṣottamaḥ
smayamāno visṛjyāgraṁ
pucchaṁ jagrāha sāmaraḥ

Sinônimos

iti — assim; tūṣṇīm — em silêncio; sthitān — permanecendo; daityān — os demônios; vilokya — vendo; puruṣa-uttamaḥ — a Personalidade de Deus; smayamānaḥ — sorrindo; viṣrjya — largando; agram — a parte dianteira da serpente; puccham — a parte traseira; jagrāha — segurou; sa-amaraḥ — com os semideuses.

Tradução

Assim, os demônios permaneceram silenciosos, opondo-se ao desejo dos semideuses. Observando os demônios e compreendendo seus motivos, a Personalidade de Deus sorriu. Sem entrar em discus­são, Ele imediatamente aceitou a proposta deles, pegando a cauda da serpente, e os semideuses imitaram-nO.

Texto

kṛta-sthāna-vibhāgās ta
evaṁ kaśyapa-nandanāḥ
mamanthuḥ paramaṁ yattā
amṛtārthaṁ payo-nidhim

Sinônimos

kṛta — estipulando; sthāna-vibhāgāḥ — a divisão dos lugares que deveriam segurar; te — eles; evam — dessa maneira; kaśyapa-nandanāḥ — os filhos de Kaśyapa (os semideuses e os demônios); mamanthuḥ — bateram; paramam — com grande; yattāḥ — empenho; amṛta-artham — para obter o néctar; payaḥ-nidhim — o oceano de leite.

Tradução

Após fazerem esse acordo segundo o qual a serpente seria segurada dessa maneira, os filhos de Kaśyapa, tanto os semideuses quanto os demônios, come­çaram suas atividades desejando obter o néctar ao baterem o oceano de leite.

Texto

mathyamāne ’rṇave so ’drir
anādhāro hy apo ’viśat
dhriyamāṇo ’pi balibhir
gauravāt pāṇḍu-nandana

Sinônimos

mathyamāne — enquanto prosseguia a batedura; arṇave — no oceano de leite; saḥ — aquela; adriḥ — montanha; anādhāraḥ — não tendo suporte algum; hi — na verdade; apaḥ — na água; aviśat — submergiu; dhriyamāṇaḥ — capturada; api — embora; balibhiḥ — pelos poderosos semideuses e demônios; gauravāt — devido ao fato de ser muito pesada; pāṇḍu-nandana — ó filho de Pāṇḍu (Mahārāja Parīkṣit).

Tradução

Ó filho da dinastia Pāṇḍu, quando estava sendo usada como um bastão para bater o oceano de leite, a montanha Mandara não tinha suporte algum e, portanto, embora fosse segurada pelas fortes mãos dos semideuses e dos demônios, ela afundou na água.

Texto

te sunirviṇṇa-manasaḥ
parimlāna-mukha-śriyaḥ
āsan sva-pauruṣe naṣṭe
daivenātibalīyasā

Sinônimos

te — todos eles (os semideuses e os demônios); sunirviṇṇa-manasaḥ — suas mentes estando muito desapontadas; parimlāna — seca; mukha-śriyaḥ — a beleza de seus rostos; āsan — tornou-se; sva-pauruṣe — com seus próprios poderes; naṣṭe — ficando perdidos; daivena — por um arranjo da providência; ati-balīyasā — que sempre é mais forte do que qualquer outra coisa.

Tradução

Porque a montanha afundara por força da providência, os se­mideuses e demônios ficaram desapontados, e as expressões em suas faces pareceram murchar.

Texto

vilokya vighneśa-vidhiṁ tadeśvaro
duranta-vīryo ’vitathābhisandhiḥ
kṛtvā vapuḥ kacchapam adbhutam mahat
praviśya toyaṁ girim ujjahāra

Sinônimos

vilokya — observando; vighna — o obstáculo (a submersão da montanha); īśa-vidhim — por arranjo da providência; tadā — então; īśvaraḥ — a Suprema Personalidade de Deus; duranta-vīryaḥ — inconcebivel­mente poderoso; avitatha — infalível; abhisandhiḥ — cuja determinação; kṛtvā — em expansão; vapuḥ — corpo; kacchapam — tartaruga; adbhu­tam — maravilhoso; mahat — muito grande; praviśya — entrando; toyam — na água; girim — a montanha (Mandara); ujjahāra — ergueu.

Tradução

Vendo a situação que fora criada por Sua própria vontade, o Senhor ilimitadamente poderoso, cuja determinação é infalível, assu­miu uma maravilhosa forma de tartaruga, entrou na água e ergueu a grande montanha Mandara.

Comentário

SIGNIFICADO—Temos aqui uma evidência de que a Suprema Personalidade de Deus é o supremo controlador de todas as coisas. Como descre­vemos anteriormente, existem duas classes de homens – os demô­nios e os semideuses –, mas nenhum deles é supremo em poder. Todos têm a experiência de que o poder supremo pode apresentar­-nos obstáculos. Os demônios interpretam que esses obstáculos são meros acidentes ou acasos, mas os devotos aceitam-nos como atos do governante supremo. Quando se deparam com obstáculos, por­tanto, os devotos oram ao Senhor. Tat te ’nukampāṁ susamīkṣamāṇo bhuñjāna evātma-kṛtaṁ vipākam. Os devotos toleram os obstáculos, aceitando-os como causados pela Suprema Personalidade de Deus e considerando-os como bênçãos. Os demônios, entretan­to, sendo incapazes de entender o controlador supremo, consideram esses obstáculos como acidentais. Aqui, é claro, a Suprema Persona­lidade de Deus em pessoa estava presente. Foi por Sua vontade que ocorreram obstáculos, e, por Sua vontade, esses obstáculos foram removidos. O Senhor apareceu como tartaruga para sustentar a grande montanha. Kṣitir iha vipulatare tava tiṣṭhati pṛṣṭhe. O Senhor susten­tou a grande montanha sobre Suas costas. Keśava dhṛta-kūrma-śarīra jaya jagadīśa hare. Os perigos podem ser criados pela Suprema Personalidade de Deus, e também podem ser eliminados por Ele. Os devotos sabem disso, mas os demônios não podem compreender esse fato.

Texto

tam utthitaṁ vīkṣya kulācalaṁ punaḥ
samudyatā nirmathituṁ surāsurāḥ
dadhāra pṛṣṭhena sa lakṣa-yojana-
prastāriṇā dvīpa ivāparo mahān

Sinônimos

tam — aquela montanha; utthitam — erguida; vīkṣya — observando; kulācalam — conhecida como Mandara; punaḥ — novamente; samudyatāḥ — animados; nirmathitum — a bater o oceano de leite; sura-asurāḥ — os semideuses e os demônios; dadhāra — carregou; pṛṣṭhena — nas costas; saḥ — o Senhor Supremo; lakṣa-yojana — cem mil yojanas (um milhão e duzentos e oitenta mil quilômetros); prastāriṇā — atingindo; dvīpaḥ — uma grande ilha; iva — como; aparaḥ — outra; mahān — muito grande.

Tradução

Ao verem que a montanha Mandara fora erguida, os semideuses e demônios reanimaram-se, sentindo-se cheios de disposição para reiniciar a batedura. A montanha repousava sobre as costas da grande tartaruga, cuja extensão era de um milhão e duzentos e oitenta mil quilômetros, como uma grande ilha.

Texto

surāsurendrair bhuja-vīrya-vepitaṁ
paribhramantaṁ girim aṅga pṛṣṭhataḥ
bibhrat tad-āvartanam ādi-kacchapo
mene ’ṅga-kaṇḍūyanam aprameyaḥ

Sinônimos

sura-asura-indraiḥ — pelos líderes dos demônios e dos semideuses; bhuja-vīrya — pela força de seus braços; vepitam — movendo-se; paribhramantam — girando; girim — a montanha; aṅga — ó Mahārāja Parīkṣit; pṛṣṭhataḥ — sobre Suas costas; bibhrat — sustentou; tat — disso; āvartanam — a rotação; ādi-kacchapaḥ — como a suprema tartaruga original; mene — considerou; aṅga-kaṇḍūyanam — como uma agradável coçadura no corpo; aprameyaḥ — ilimitado.

Tradução

Ó rei, quando os semideuses e demônios, com a força de seus braços, giraram a montanha Mandara sobre as costas da extraordinária tartaruga, a tartaruga acolheu a rotação da montanha como uma atividade que servia para coçar Seu corpo, e isso Lhe dava uma sensação agradável.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus é sempre ilimitada. Embo­ra a Suprema Personalidade de Deus, em Seu corpo de tartaruga, mantivesse em Suas costas a maior de todas as montanhas, Mandara-­parvata, Ele não sentia nenhum desconforto. Ao contrário, aparentemente sentia um pouco de coceira, de modo que a rotação da montanha decerto Lhe era muito agradável.

Texto

tathāsurān āviśad āsureṇa
rūpeṇa teṣāṁ bala-vīryam īrayan
uddīpayan deva-gaṇāṁś ca viṣṇur
daivena nāgendram abodha-rūpaḥ

Sinônimos

tathā — depois disso; asurān — nos demônios; āviśat — entrou; āsureṇa — com a qualidade da paixão; rūpeṇa — em tal forma; teṣām — deles; bala-vīryam — força e energia; īrayan — aumentando; uddī­payan — encorajando; deva-gaṇān — os semideuses; ca — também; viṣṇuḥ — o Senhor Viṣṇu; daivena — com o aspecto da bondade; nāga-indram — no rei das serpentes, Vāsuki; abodha-rūpaḥ — com a qualidade da ignorância.

Tradução

Em seguida, o Senhor Viṣṇu entrou nos demônios como a qualidade da paixão; nos semideuses, como a qualidade da bondade, e em Vāsuki, como a qualidade da ignorância. Ele o fez a fim de encorajá-los e intensi­ficar suas várias classes de forças e energias.

Comentário

SIGNIFICADO—Neste mundo material, todos são influenciados pelos diversos modos da natureza material. Por ocasião da batedura em que se uti­lizou a montanha Mandara, houve a participação de três diferentes grupos – os semideuses, que estavam no modo da bondade; os de­mônios, que estavam no modo da paixão, e a serpente Vāsuki, que estava no modo da ignorância. Uma vez que todos estavam fican­do esgotados (Vāsuki estava até mesmo prestes a morrer), o Senhor Viṣṇu, para encorajá-los a continuar o trabalho de bater o oceano, entrou neles de acordo com seus respectivos modos da natureza – bondade, paixão e ignorância.

Texto

upary agendraṁ giri-rāḍ ivānya
ākramya hastena sahasra-bāhuḥ
tasthau divi brahma-bhavendra-mukhyair
abhiṣṭuvadbhiḥ sumano-’bhivṛṣṭaḥ

Sinônimos

upari — no pico da; agendram — grande montanha; giri-rāṭ — o rei das montanhas; iva — como; anyaḥ — outra; ākramya — segurando; hastena — com apenas uma mão; sahasra-bāhuḥ — manifestando milha­res de mãos; tasthau — situados; divi — no céu; brahma — o senhor Brahmā; bhava — senhor Śiva; indra — o rei dos céus; mukhyaiḥ — en­cabeçados por; abhiṣṭuvadbhiḥ — ofereceram orações ao Senhor; su­manaḥ — com flores; abhivṛṣṭaḥ — sendo lançadas.

Tradução

Manifestando-Se com milhares de mãos, o Senhor, parecendo outra montanha enorme, apareceu, então, no pico da montanha Mandara e, com Sua mão, sustentou a montanha Mandara. Nos sistemas planetários superiores, o senhor Brahmā e o senhor Śiva, juntamente com Indra, o rei dos céus, e outros semideuses, ofereceram orações ao Senhor e lançaram sobre Ele uma chuva de flores.

Comentário

SIGNIFICADO—Para equilibrar a montanha Mandara enquanto ela era puxada de ambos os lados, o próprio Senhor apareceu em Seu pico como outra grande montanha. O senhor Brahmā, o senhor Śiva e o rei Indra expandiram-se, então, e derramaram flores sobre o Senhor.

Texto

upary adhaś cātmani gotra-netrayoḥ
pareṇa te prāviśatā samedhitāḥ
mamanthur abdhiṁ tarasā madotkaṭā
mahādriṇā kṣobhita-nakra-cakram

Sinônimos

upari — em cima; adhaḥ ca — e embaixo; ātmani — nos demônios e semideuses; gotra-netrayoḥ — na montanha e em Vāsuki, que era usado como uma corda; pareṇa — a Suprema Personalidade de Deus; te — eles; prāviśatā — entrando neles; samedhitāḥ — bastante agitado; mamanthuḥ — batido; abdhim — o oceano de leite; tarasā — com muita força; mada-utkatāḥ — estando loucos; mahā-adriṇā — com a grande montanha Mandara; kṣobhita — agitados; nakra-cakram — todos os crocodilos da água.

Tradução

Na tentativa de obter o néctar, os semideuses e os demônios se empenhavam quase como se tivessem perdido sua sanidade, e esse seu frenesi era impulsionado pelo Senhor, que estava acima e abaixo da montanha e que entrara nos semideu­ses, nos demônios, em Vāsuki e na própria montanha. Devido à grande força dos semideuses e demônios, o oceano de leite foi tão intensamente agitado que, na água, todos os crocodilos ficaram muito perturbados. Entretanto, a batedura do oceano continuou dessa maneira.

Texto

ahīndra-sāhasra-kaṭhora-dṛṅ-mukha-
śvāsāgni-dhūmāhata-varcaso ’surāḥ
pauloma-kāleya-balīlvalādayo
davāgni-dagdhāḥ saralā ivābhavan

Sinônimos

ahīndra — do rei das serpentes; sāhaśra — com milhares; kaṭhora — muitíssimo pungente; dṛk — todas as direções; mukha — através da boca; śvāsa — respirando; agni — fogo saindo; dhūma — fumaça; āhata — sendo afetados; varcasaḥ — pelos raios; asurāḥ — os demô­nios; pauloma — Pauloma; kāleya — Kāleya; bali — Bali; ilvala — Ilvala; ādayaḥ — encabeçados por; dava-agni — por um incêndio florestal; dagdhāḥ — queimados; saralāḥ — árvores sarala; iva — como; abhavan — todos eles se tornaram.

Tradução

Vāsuki tinha milhares de olhos e bocas. De suas bocas, exalava fumaça e um fogo abrasador, que afetavam os demônios, encabeçados por Pauloma, Kāleya, Bali e Ilvala. Assim, os demônios, que pare­ciam árvores sarala queimadas por um incêndio florestal, gradual­mente perderam o seu poder.

Texto

devāṁś ca tac-chvāsa-śikhā-hata-prabhān
dhūmrāmbara-srag-vara-kañcukānanān
samabhyavarṣan bhagavad-vaśā ghanā
vavuḥ samudrormy-upagūḍha-vāyavaḥ

Sinônimos

devān — todos os semideuses; ca — também; tat — de Vāsuki; śvāsa — da respiração; śikhā — pelas chamas; hata — sendo afetados; prabhān — seu brilho corpóreo; dhūmra — esfumaçadas; ambara — roupas; srak-vara — guirlandas excelentes; kañcuka — armamentos; ānanān — e rostos; samabhyavarṣan — derramaram chuvas o bastante; bhagavat-vaśāḥ — sob o controle da Suprema Personalidade de Deus; ghanāḥ — nuvens; vavuḥ — sopraram; samudra — do oceano de leite; ūrmi — das ondas; upagūḍha — carregando fragmentos de água; vāyavaḥ — brisas.

Tradução

Visto que os semideuses também ficaram afetados pela respiração abrasadora de Vāsuki, seu brilho corpóreo diminuiu, e suas roupas, guirlandas, armas e rostos ficaram enegrecidos pela fumaça. Entretanto, pela graça da Suprema Personalidade de Deus, apareceram nuvens no mar, derramando torrentes de chuvas, e as brisas sopra­ram, carregando partículas de água das ondas do mar, e ambos os fenômenos serviram para aliviar os semideuses.

Texto

mathyamānāt tathā sindhor
devāsura-varūtha-paiḥ
yadā sudhā na jāyeta
nirmamanthājitaḥ svayam

Sinônimos

mathyamānāt — sendo suficientemente batido; tathā — dessa maneira; sindhoḥ — do oceano de leite; deva — dos semideuses; asura — e dos demônios; varūtha paiḥ — pelos melhores; yadā — quando; sudhā — néctar; na jāyeta — não aparecia; nirmamantha — bateu; ajitaḥ — a Su­prema Personalidade de Deus, Ajita; svayam — pessoalmente.

Tradução

Visto que, depois de tanto esforço desempenhado pelos melhores semideuses e demônios, o néctar não surgia no oceano de leite, a Su­prema Personalidade de Deus, Ajita, pessoalmente começou a bater o oceano.

Texto

megha-śyāmaḥ kanaka-paridhiḥ karṇa-vidyota-vidyun
mūrdhni bhrājad-vilulita-kacaḥ srag-dharo rakta-netraḥ
jaitrair dorbhir jagad-abhaya-dair dandaśūkaṁ gṛhītvā
mathnan mathnā pratigirir ivāśobhatātho dhṛtādriḥ

Sinônimos

megha-śyāmaḥ — escuro como uma nuvem; kanaka paridhiḥ — usando roupas amarelas; karṇa — nas orelhas; vidyota-vidyut — cujos brincos emitiam raios brilhantes; mūrdhni — à cabeça; bhrājat — somando; vilulita — revoltos; kacaḥ — cujos cabelos; srak-dharaḥ — usando uma guirlanda de flores; rakta-netraḥ — com olhos verme­lhos; jaitraiḥ — vitoriosos; dorbhiḥ — com braços; jagat — ao univer­so; abhaya-daiḥ — que infundem destemor; dandaśūkam — a serpente (Vāsuki); gṛhītvā — após pegar; mathnan — batendo; mathnā — com o bastão a ser utilizado na batedura (montanha Mandara); pratigi­riḥ — outra montanha; iva — tal qual; aśobhata — Ele parecia; atho — então; dhṛta-adriḥ — tendo segurado a montanha.

Tradução

O Senhor parecia uma nuvem escura. Ele vestia roupas amarelas, Seus brincos em Suas orelhas emitiam raios brilhantes, e Seu cabe­lo caía espalhado pelos ombros. Ele usava uma guirlanda de flores, e Seus olhos eram rosados. Com Seus braços fortes e gloriosos, que inspiram destemor em todo o universo, Ele segurou Vāsuki e, usando a montanha Mandara como o bastão com o qual se realizaria a ba­tedura, começou a bater o oceano. Enquanto executava essa ta­refa, o Senhor parecia uma bela montanha chamada Indranīla.

Texto

nirmathyamānād udadher abhūd viṣaṁ
maholbaṇaṁ hālahalāhvam agrataḥ
sambhrānta-mīnonmakarāhi-kacchapāt
timi-dvipa-grāha-timiṅgilākulāt

Sinônimos

nirmathyamānāt — enquanto prosseguiam as atividades de bater; udadheḥ — do oceano; abhūt — houve; viṣam — veneno; mahā-ulbanam — muito cruel; hālahala-āhvam — chamado hālahala; agrataḥ — primeiramente; sambhrānta — agitados e indo de um lugar a outro; mīna — várias espécies de peixes; unmakara — tubarões; ahi — diferen­tes classes de serpentes; kacchapāt — e muitas espécies de tartarugas; timi — baleias; dvipa — elefantes aquáticos; grāha — crocodilos; timiṅgila — baleias que podem engolir baleias; ākulāt — estando muito agitados.

Tradução

Os peixes, tubarões, tartarugas e serpentes ficaram muito agitados e perturbados. Todo o oceano se tornou turbulento, e até mesmo os maiores animais aquáticos, tais como as baleias, elefantes aquá­ticos, crocodilos e os peixes timiṅgilas [enormes baleias que podem engolir pequenas baleias] subiram à superfície. Enquanto era batido dessa maneira, o oceano primeiramente produziu um veneno perigoso chamado hālahala.

Texto

tad ugra-vegaṁ diśi diśy upary adho
visarpad utsarpad asahyam aprati
bhītāḥ prajā dudruvur aṅga seśvarā
arakṣyamāṇāḥ śaraṇaṁ sadāśivam

Sinônimos

tat — aquele; ugra-vegam — veneno muito cruel e potente; diśi diśi — em todas as direções; upari — para cima; adhaḥ — para baixo; visar­pat — ondeando; utsarpat — subindo; asahyam — insuportável; aprati — incontrolável; bhītāḥ — estando com muito medo; prajāḥ — os habi­tantes de todos os mundos; dudruvuḥ — moviam-se de um lado a outro; aṅga — ó Mahārāja Parīkṣit; sa-īśvarāḥ — com o Senhor Supremo; arakṣyamāṇāḥ — não estando protegidos; śaraṇam — abrigo; sadāśivam — aos pés de lótus do senhor Śiva.

Tradução

Ó rei, vendo que aquele veneno incontrolável se espalhava implacavelmente para cima e para baixo e em todas as direções, todos os semideuses, juntamente com o próprio Senhor, aproximaram-se do senhor Śiva [Sadāśiva]. Sentindo-se desprotegidos e amedronta­dos, buscaram refúgio nele.

Comentário

SIGNIFICADO—Alguém poderia perguntar: Visto que a Suprema Personalidade de Deus estava pessoalmente presente, por que Ele Se deu ao tra­balho de acompanhar todos os semideuses e pessoas em geral que foram refugiar-se no senhor Sadāśiva, em vez de intervir pessoal­mente? Em relação a isso, Śrīla Madhvācārya adverte:

rudrasya yaśaso ’rthāya
svayaṁ viṣṇur viṣaṁ vibhuḥ
na sañjahre samartho ’pi
vāyuṁ coce praśāntaye

O Senhor Viṣṇu era competente para retificar a situação, mas, para que o mérito ficasse com o senhor Śiva, que mais tarde bebeu todo o veneno e o manteve em seu pescoço, o Senhor Viṣṇu não agiu.

Texto

vilokya taṁ deva-varaṁ tri-lokyā
bhavāya devyābhimataṁ munīnām
āsīnam adrāv apavarga-hetos
tapo juṣāṇaṁ stutibhiḥ praṇemuḥ

Sinônimos

vilokya — observando; tam — a ele; deva-varam — o melhor dos semideuses; tri-lokyāḥ — dos três mundos; bhavāya — para a prosperidade; devyā — com sua esposa, Bhavānī; abhimatam — aceito por; munī­nām — grandes pessoas santas; āsīnan — sentados juntos; adrau — no topo da colina Kailāsa; apavarga-hetoḥ — desejando a liberação; tapaḥ — em austeridade; juṣāṇam — sendo servido por eles; stutibhiḥ — com orações; praṇemuḥ — ofereceram suas respeitosas reverências.

Tradução

Os semideuses observaram que, no topo da colina Kailāsa, o senhor Śiva estava sentado com sua esposa, Bhavānī, para que ocorresse o auspicioso desenvolvimento dos três mundos. Ele era adorado por grandes pessoas santas que desejavam a liberação. Com grande respeito, os semideuses lhe ofereceram reverências e orações.

Texto

śrī-prajāpataya ūcuḥ
deva-deva mahā-deva
bhūtātman bhūta-bhāvana
trāhi naḥ śaraṇāpannāṁs
trailokya-dahanād viṣāt

Sinônimos

śrī-prajāpatayaḥ ūcuḥ — os prajāpatis disseram; deva-deva — ó Senhor Mahādeva, ó melhor dos semideuses; mahā-deva — ó grande semideus; bhūta-ātman — ó vida e alma de todos os seres deste mundo; bhūta-bhāvana — ó causa da felicidade e prosperidade de todos eles; trāhi — liberta; naḥ — a nós; śaraṇa-āpannān — que nos refugiamos em teus pés de lótus; trailokya — dos três mundos; daha­nāt — que está causando o ardor; viṣāt — deste veneno.

Tradução

Os prajāpatis disseram: Ó maior de todos os semideuses, Mahādeva, a Superalma de todas as entidades vivas e a causa de sua felicidade e prosperidade, viemos refugiar-nos em teus pés de lótus. Portanto, sê bondoso conosco e salva-nos deste veneno ardente, que está se espalhando por todos os três mundos.

Comentário

SIGNIFICADO—Uma vez que o senhor Śiva é encarregado da aniquilação, por que alguém deveria procurá-lo em busca de proteção, o que é dado pelo Senhor Viṣṇu? O senhor Brahmā cria e o senhor Śiva aniquila, mas ambos são encarnações do Senhor Viṣṇu e são conhecidos como śaktyāveśa-avatāras. Eles são dotados com um poder especial, à semelhança do Senhor Viṣṇu, que, em verdade, é onipenetrante em Suas atividades. Portanto, sempre que se oferecem ao senhor Śiva orações solicitando proteção, elas são dirigidas, na verdade, ao Senhor Viṣṇu, pois o senhor Śiva encarrega-se de realizar a destruição. O senhor Śiva é um dos īśvaras, ou controladores conhecidos como śaktyāveśa-avatāras. Portanto, ele pode ser tratado como possuidor das qualidades do Senhor Viṣṇu.

Texto

tvam ekaḥ sarva-jagata
īśvaro bandha-mokṣayoḥ
taṁ tvām arcanti kuśalāḥ
prapannārti-haraṁ gurum

Sinônimos

tvam ekaḥ — Vossa Onipotência é de fato; sarva-jagataḥ — dos três mundos; īśvaraḥ — o controlador; bandha-mokṣayoḥ — tanto do cativeiro quanto da liberação; tam — esse controlador; tvām arcanti — adoram-te; kuśalāḥ — pessoas que desejam boa fortuna; prapanna-ārti-haram — que podes mitigar todas as aflições de um devoto que se refugia; gurum — tu que ages como um bom conselheiro de todas as almas caídas.

Tradução

Ó senhor, és a causa do cativeiro e liberação a que se submete todo o universo porque és o seu governante. Aqueles que são avançados em consciência espiritual rendem-se a ti e, portanto, de ti é que vem a mitigação de suas aflições, e também sua liberação. Por­tanto, adoramos Vossa Onipotência.

Comentário

SIGNIFICADO—De fato, o Senhor Viṣṇu mantém e traz a consumação de toda boa fortuna. Se a pessoa deve refugiar-se no Senhor Viṣṇu, por que os se­mideuses se refugiaram no senhor Śiva? Eles adotaram esse procedi­mento porque, no processo de criação do mundo material, o Senhor Viṣṇu age através do senhor Śiva. O senhor Śiva age em nome do Senhor Viṣṇu. Quando o Senhor diz na Bhagavad-gītā (14.4) que Ele é o pai de todas as entidades vivas (ahaṁ bīja-pradaḥ pitā), isso se refere às ações que o Senhor Viṣṇu realiza por intermédio do senhor Śiva. O Senhor Viṣṇu sempre está desapegado das atividades materiais, e, quando as atividades materiais precisam ser realizadas, o Senhor Viṣṇu realiza as mesmas através do senhor Śiva. Portanto, o senhor Śiva é adorado ao nível do Senhor Viṣṇu. Quando não é tocado pela energia externa, o Senhor Viṣṇu é o Senhor Viṣṇu, mas, quando está em contato com a energia externa, Ele aparece sob Seu aspecto de senhor Śiva.

Texto

guṇa-mayyā sva-śaktyāsya
sarga-sthity-apyayān vibho
dhatse yadā sva-dṛg bhūman
brahma-viṣṇu-śivābhidhām

Sinônimos

guṇa-mayyā — agindo nos três modos de atividades; sva-śaktyā — pela energia externa de Vossa Onipotência; asya — deste mundo material; sarga-sthiti-apyayān — criação, manutenção e aniquilação; vibho — ó senhor; dhatse — executas; yadā — quando; sva-dṛk — te manifestas; bhūman — ó pessoa grandiosa; brahma-viṣṇu-śiva-abhidhām — como senhor Brahmā, Senhor Viṣṇu ou senhor Śiva.

Tradução

Ó senhor, és autorrefulgente e supremo. Através de tua energia pessoal, crias este mundo material e assumes os nomes Brahmā, Viṣṇu e Maheśvara quando ages na criação, manutenção e aniquilação.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta oração é realmente oferecida ao Senhor Viṣṇu, o puru­ṣa, que, sob Suas encarnações de guṇa-avatāras, assume os nomes Brahmā, Viṣṇu e Maheśvara.

Texto

tvaṁ brahma paramaṁ guhyaṁ
sad-asad-bhāva-bhāvanam
nānā-śaktibhir ābhātas
tvam ātmā jagad-īśvaraḥ

Sinônimos

tvam — Vossa Onipotência; brahma — Brahman impessoal; para­mam — supremo; guhyam — confidencial; sat-asat-bhāva-bhāvanam — ­a causa das variedades da criação, sua causa e efeito; nānā-śakti­bhiḥ — com diversas potências; ābhātaḥ — manifestas; tvam — és; ātmā — a Superalma; jagat-īśvaraḥ — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

És a causa de todas as causas, o autorrefulgente e inconcebível Brahman impessoal, que é originalmente Parabrahman. Apresentas várias potências nesta manifestação cósmica.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta oração é oferecida ao Brahman impessoal, que consiste nos raios refulgentes do Parabrahman. Parabrahman é a Suprema Personalidade de Deus (paraṁ brahma paraṁ dhāma pavitraṁ paramaṁ bhavān). Quando o senhor Śiva é adorado como Parabrahman, a adoração é dirigida ao Senhor Viṣṇu.

Texto

tvaṁ śabda-yonir jagad-ādir ātmā
prāṇendriya-dravya-guṇaḥ svabhāvaḥ
kālaḥ kratuḥ satyam ṛtaṁ ca dharmas
tvayy akṣaraṁ yat tri-vṛd-āmananti

Sinônimos

tvam — Vossa Onipotência; śabda-yoniḥ — a origem e fonte da literatura védica; jagat-ādiḥ — a causa que origina a criação material; ātmā — a alma; prāṇa — a força vital; indriya — os sentidos; dravya — os elementos materiais; guṇaḥ — as três qualidades; sva-bhāvaḥ — natureza material; kālaḥ — tempo eterno; kratuḥ — sacrifício; satyam — verdade; ṛtam — veracidade; ca — e; dharmaḥ — duas diferentes classes de religião; tvayi — a ti; akṣaram — a sílaba original, o oṁkāra; yat — aquilo que; tri-vṛt — consistindo nas letras a, u e m; āmananti — eles dizem.

Tradução

Ó senhor, és a fonte que origina a literatura védica. És a causa que origina a criação material, a força vital, os sentidos, os cinco elementos, os três modos e o mahat-tattva. És o tempo eterno, a determinação e os dois sistemas religiosos chamados verdade [satya] e veracidade [ṛta]. És o refúgio da sílaba oṁ, a qual é composta das três letras “a-u-m”.

Texto

agnir mukhaṁ te ’khila-devatātmā
kṣitiṁ vidur loka-bhavāṅghri-paṅkajam
kālaṁ gatiṁ te ’khila-devatātmano
diśaś ca karṇau rasanaṁ jaleśam

Sinônimos

agniḥ — fogo; mukham — boca; te — de Vossa Onipotência; akhila­-devatā-ātmā — a origem de todos os semideuses; kṣitim — a superfície do globo; viduḥ — eles sabem; loka-bhava — ó origem de todos os planetas; aṅghri-paṅkajam — teus pés de lótus; kālam — tempo eterno; gatim — progresso; te — de Vossa Onipotência; akhila-devatā-ātmanaḥ — o conjunto total de todos os semideuses; diśaḥ — todas as direções; ca — e; karṇau — teus ouvidos; rasanam — sabor; jala-īśam — o semideus controlador da água.

Tradução

Ó pai de todos os planetas, os estudiosos eruditos sabem que o fogo é tua boca, a superfície do globo são teus pés de lótus, o tempo eterno é teu movimento, todas as direções são teus ouvidos, e Varuṇa, o senhor das águas, é tua língua.

Comentário

SIGNIFICADO—Nos śruti-mantras, afirma-se que agniḥ sarva-devatāḥ: “O fogo é o agregado de todos os semideuses.” Agni é a boca da Suprema Personalidade de Deus. É através de Agni, ou do fogo, que o Senhor aceita todas as oblações sacrificiais.

Texto

nābhir nabhas te śvasanaṁ nabhasvān
sūryaś ca cakṣūṁṣi jalaṁ sma retaḥ
parāvarātmāśrayaṇaṁ tavātmā
somo mano dyaur bhagavan śiras te

Sinônimos

nābhiḥ — umbigo; nabhaḥ — o céu; te — de Vossa Onipotência; śvasanam — respiração; nabhasvān — o ar; sūryaḥ ca — e o globo solar; cakṣūṁṣi — teus olhos; jalam — a água; sma — na verdade; retaḥ — sêmen; para-avara-ātma-āśrayaṇam — o refúgio de todas as entida­des vivas, superiores e inferiores; tava — teu; ātmā — eu; somaḥ — a Lua; manaḥ — mente; dyauḥ — os sistemas planetários superiores; bhagavan — ó onipotência; śiraḥ — cabeça; te — tua.

Tradução

Ó senhor, o céu é teu umbigo; o ar, tua respiração; o Sol, teus olhos, e a água, teu sêmen. És o refúgio de toda classe de entidades vivas, superiores e inferiores. O deus da Lua é tua mente, e o sistema planetário superior, tua cabeça.

Texto

kukṣiḥ samudrā girayo ’sthi-saṅghā
romāṇi sarvauṣadhi-vīrudhas te
chandāṁsi sākṣāt tava sapta dhātavas
trayī-mayātman hṛdayaṁ sarva-dharmaḥ

Sinônimos

kukṣiḥ — abdômen; samudrāḥ — os oceanos; girayaḥ — as monta­nhas; asthi — ossos; saṅghāḥ — combinação; romāṇi — os pelos do corpo; sarva — todas; auṣadhi — as substâncias medicinais; vīrudhaḥ — plantas e trepadeiras; te — teu; chandāṁsimantras védicos; sākṣāt — diretamente; tava — teu; sapta — sete; dhātavaḥ — camadas do corpo; trayī-maya-ātman — ó três Vedas personificados; hṛdayam — âmago do coração; sarva-dharmaḥ — toda classe de religião.

Tradução

Ó senhor, és os três Vedas personificados. Os sete mares são teu abdômen, e as montanhas, teus ossos. Todas as substâncias medicinais, trepadeiras e vegetais são os pelos do teu corpo; os mantras védicos, como o Gāyatrī, são as sete camadas do teu corpo, e o sistema religioso védico é o âmago do teu coração.

Texto

mukhāni pañcopaniṣadas taveśa
yais triṁśad-aṣṭottara-mantra-vargaḥ
yat tac chivākhyaṁ paramātma-tattvaṁ
deva svayaṁ-jyotir avasthitis te

Sinônimos

mukhāni — rostos; pañca — cinco; upaniṣadaḥ — textos védicos; tava — teus; īśa — ó senhor; yaiḥ — pelos quais; triṁśat-aṣṭa-uttara­-mantra-vargaḥ — na categoria dos trinta e oito importantes mantras védicos; yat — isto; tat — como é; śiva-ākhyam — célebre pelo nome Śiva; paramātma-tattvam — que determina a verdade acerca de Paramātmā; deva — ó senhor; svayam-jyotiḥ — autoiluminado; avasthi­tiḥ — situação; te — de Vossa Onipotência.

Tradução

Ó senhor, os cinco importantes mantras védicos são representados por teus cinco rostos, a partir dos quais foram gerados os trinta e oito mantras védicos mais célebres. Vossa Onipotência, sendo famoso como senhor Śiva, é autoiluminado. Estás diretamente situado como a verdade suprema, conhecida como Paramātmā.

Comentário

SIGNIFICADO—Os cinco mantras mencionados neste contexto são os seguintes: (1) Puruṣa, (2) Aghora, (3) Sadyojāta, (4) Vāmadeva e (5) Īśāna. Esses cinco mantras estão dentro do rol dos trinta e oito mantras especiais cantados pelo senhor Śiva, que, portanto, é célebre como Śiva ou Mahādeva. Outra razão pela qual o senhor Śiva é chamado Śiva, que significa “muito auspicioso”, é que ele é autoiluminado, exatamente como o Senhor Viṣṇu, que é o Paramātmā. Porque é precisamente uma encarnação do Senhor Viṣṇu, o senhor Śiva está na posição de representante direto do Senhor Viṣṇu. Esse fato é cor­roborado por um mantra védico: patiṁ viśvasyātmeśvaraṁ śāśvatam. śivam acyutam. A Superalma é chamada por muitos nomes, entre os quais Maheśvara, Śiva e Acyuta recebem menção especial.

Texto

chāyā tv adharmormiṣu yair visargo
netra-trayaṁ sattva-rajas-tamāṁsi
sāṅkhyātmanaḥ śāstra-kṛtas tavekṣā
chandomayo deva ṛṣiḥ purāṇaḥ

Sinônimos

chāyā — sombra; tu — mas; adharma-ūrmiṣu — nas ondas da irreligião, como kāma, krodha, lobha e moha; yaiḥ — pelas quais; visar­gaḥ — tantas variedades de criação; netra-trayam — três olhos; sattva — bondade; rajaḥ — paixão; tamāṁsi — e escuridão; sāṅkhya-ātmanaḥ — a origem de todos os textos védicos; śāstra — escrituras; kṛtaḥ — feitas; tava — por ti; īkṣā — através do simples fato de olhar; chandaḥ-mayaḥ — cheios de versos védicos; deva — ó senhor; ṛṣiḥ — todos os textos védicos; purāṇaḥ — e os Purāṇas, os Vedas suplementares.

Tradução

Ó senhor, tua sombra se projeta sob a forma de irreligião, que provoca muitas variedades de criações irreligiosas. Os três modos da natureza – bondade, paixão e ignorância – são teus três olhos. Todos os textos védicos, que estão cheios de versos, são tuas emana­ções, pois foi após receberem teu olhar que aqueles encarregados de compilá-los escreveram as várias escrituras.

Texto

na te giri-trākhila-loka-pāla-
viriñca-vaikuṇṭha-surendra-gamyam
jyotiḥ paraṁ yatra rajas tamaś ca
sattvaṁ na yad brahma nirasta-bhedam

Sinônimos

na — não; te — de Vossa Onipotência; giri-tra — ó rei das monta­nhas; akhila-loka-pāla — todos os diretores dos departamentos das atividades materiais; viriñca — senhor Brahmā; vaikuṇṭha — Senhor Viṣṇu; sura-indra — o rei dos céus; gamyam — podem entender; jyo­tiḥ — refulgência; param — transcendental; yatra — onde; rajaḥ — o modo da paixão; tamaḥ ca — e o modo da ignorância; sattvam — o modo da bondade; na — não; yat brahma — que é o Brahman impes­soal; nirasta-bhedam — sem distinção entre semideuses e seres humanos.

Tradução

Ó Senhor Girīśa, uma vez que a refulgência Brahman impessoal é transcendental aos modos materiais manifestos sob a forma de bondade, paixão e ignorância, os vários diretores deste mundo mate­rial decerto não podem apreciá-la ou sequer saber onde ela está. Ela não é compreensível nem mesmo ao senhor Brahmā, ao Senhor Viṣṇu ou a Mahendra, o rei dos céus.

Comentário

SIGNIFICADO—O brahmajyoti é de fato a refulgência da Suprema Personalidade de Deus. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (5.40):

yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-
koṭiṣv aśeṣa-vasudhādi-vibhūti-bhinnam
tad brahma niṣkalam anantam aśeṣa-bhūtaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Adoro Govinda, o Senhor primordial, que é dotado de grande poder. A refulgência brilhante de Sua forma transcendental é o Brahman impessoal, que é absoluto, completo e ilimitado e que manifesta incontáveis e variados planetas, os quais, com suas diferentes opulências, estão presentes em milhões e milhões de universos.” Embora o aspecto impessoal do Absoluto seja uma expansão dos raios da Suprema Personalidade de Deus, Ele não precisa Se preocupar com os impersonalistas que entram no brahmajyoti. Na Bhagavad-gītā (9.4), Kṛṣṇa diz que mayā tatam idaṁ sarvaṁ jagad avyakta-mūrtinā: “Sob Meu aspecto impessoal, Eu penetro todo este universo.” Logo, a avyakta-mūrti, o aspecto impessoal, decerto é uma expansão da energia de Kṛṣṇa. Como preferem imergir nessa refulgência Brahman, os māyāvādīs adoram o senhor Śiva. Os mantras a que o verso 29 alude são chamados mukhāni pañcopaniṣadas taveśa. Em sua adoração ao senhor Śiva, os māyāvādīs levam todos esses mantras muito a sério. Esses mantras são os se­guintes: (1) tat puruṣāya vidmahe śāntyai, (2) mahā-devāya dhīmahi vidyāyai, (3) tan no rudraḥ pratiṣṭhāyai, (4) pracodayāt dhṛtyai, (5) aghorebhyas tamā..., (6) atha ghorebhyo mohā..., (7) aghorebhyo rakṣā..., (8) aghoratarebhyo nidrā..., (9) sarvebhyaḥ sarva-vyādhyai, (10) sarva-sarvebhyo mṛtyave, (11) namas te ’stu kṣudhā..., (12) rudra-rūpebhyas tṛṣṇā..., (13) vāmadevāya rajā..., (14) jyeṣṭhāya svāhā..., (15) śreṣṭhāya ratyai, (16) rudrāya kalyāṇyai, (17) kālāya kāmā..., (18) kala-vikaraṇāya sandhinyai, (19) bala-vikaraṇāya kriyā..., (20) balāya vṛddhyai, (21) balacchāyā..., (22) pramathanāya dhātryai, (23) sarva-bhūta-damanāya bhrāmaṇyai, (24) manaḥ-śoṣiṇyai, (25) unmanāya jvarā..., (26) sadyojātaṁ prapadyāmi siddhyai, (27) sadyojātāya vai namaḥ ṛddhyai, (28) bhave dityai, (29) abhave lakṣmyai, (30) nātibhave medhā..., (31) bhajasva māṁ kāntyai, (32) bhava svadhā..., (33) udbhavāya prabhā..., (34) īśānaḥ sarva-vidyānāṁ śaśinyai, (35) īśvaraḥ sarva-bhūtānām abhaya-dā..., (36) brahmādhipatir brahmaṇodhipatir brahman brahmeṣṭa-dā..., (37) śivo me astu marīcyai, (38) sadāśivaḥ jvālinyai.

O Brahman impessoal é desconhecido até mesmo por parte dos outros administradores da criação material, incluindo o senhor Brahmā, o senhor Indra e também o Senhor Viṣṇu. Isso não significa, entretan­to, que o Senhor Viṣṇu não seja onisciente. O Senhor Viṣṇu é onisciente, mas Ele não precisa entender o que está acontecendo em Sua expansão onipenetrante. Na Bhagavad-gītā, portanto, o Senhor diz que, embora tudo seja uma expansão dEle (mayā tatam idaṁ sarvam), Ele não precisa Se encarregar de tudo (na cāhaṁ teṣv avasthitaḥ), uma vez que existem vários administradores, tais como o senhor Brahmā, o senhor Śiva e Indra.

Texto

kāmādhvara-tripura-kālagarādy-aneka-
bhūta-druhaḥ kṣapayataḥ stutaye na tat te
yas tv anta-kāla idam ātma-kṛtaṁ sva-netra-
vahni-sphuliṅga-śikhayā bhasitaṁ na veda

Sinônimos

kāma-adhvara — sacrifícios com o propósito de se obter gozo dos sentidos (como o Dakṣa-yajña, os sacrifícios realizados por Dakṣa); tripura — o demônio chamado Tripurāsura; kālagara — Kālagara; ādi — e outros; aneka — muitos; bhūta-druhaḥ — que se prestam a causar problemas às entidades vivas; kṣapayataḥ — estando ocupado em sua destruição; stutaye — tua oração; na — não; tat — isto; te — falando a ti; yaḥ tu — porque; anta-kāle — no momento da aniquilação; idam — deste mundo material; ātma-kṛtam — realizada por ti; sva-netra — por teus olhos; vahni-sphuliṅga-śikhayā — pelas centelhas de fogo; bhasitam — reduzido a cinzas; na veda — não sei como isso acontece.

Tradução

Quando a aniquilação é efetuada por meio das chamas e centelhas que emanam de teus olhos, toda a criação é reduzida a cinzas. Entretanto, não sabes como isso acontece. Porém, que se há de dizer de tuas atividades em que destróis o Dakṣa-yajña, Tripurāsura e o veneno kālakūṭa? Tais atividades não podem ser os temas das orações oferecidas a ti.

Comentário

SIGNIFICADO—Uma vez que o senhor Śiva considera insignificantes os grandes atos que ele executa, muito mais irrisório lhe seria neutralizar o forte veneno produzido pelo processo de bater o oceano de leite. Indiretamente, os semideuses oraram pedindo que o senhor Śiva anulasse o veneno kālakūṭa, que estava se espalhando por todo o universo.

Texto

ye tv ātma-rāma-gurubhir hṛdi cintitāṅghri-
dvandvaṁ carantam umayā tapasābhitaptam
katthanta ugra-paruṣaṁ nirataṁ śmaśāne
te nūnam ūtim avidaṁs tava hāta-lajjāḥ

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — na verdade; ātma-rāma-gurubhiḥ — entre aquelas que são autossatisfeitas e que são consideradas mestres espirituais do mundo; hṛdi — dentro do coração; cintita-aṅghri-dvandvam — pensando em ambos os teus pés de lótus; carantam — andando; umayā — com tua consorte, Umā; tapasā abhitaptam — altamente avançado através da prática de austeridade e penitência; katthante — criti­cam teus atos; ugra-paruṣam — uma pessoa descortês; niratam — sempre; śmaśāne — no crematório; te — tais pessoas; nūnam — na verdade; ūtim — essas atividades; avidan — desconhecendo; tava — tuas atividades; hāta-lajjāḥ — desavergonhados.

Tradução

As pessoas magnânimas, autossatisfeitas e que pregam para o mundo inteiro pensam constantemente em teus pés de lótus dentro de seus corações. Todavia, quando aqueles que não conhecem tuas austeridades te veem caminhando com Umā, confundem-te com alguém luxurioso ou, quando te veem perambulando pelos crematórios, pensam que és cruel e invejoso. Com certeza, eles são sujeitos desavergonhados que não podem entender tuas atividades.

Comentário

SIGNIFICADO—O senhor Śiva é o vaiṣṇava mais elevado (vaiṣṇavānāṁ yathā śambhuḥ). Portanto, afirma-se que vaiṣṇavera kriyā-mudrā vijñe nā bujhaya. Nem mesmo a pessoa mais inteligente pode entender o que um vaiṣṇava como o senhor Śiva está fazendo ou como ele age. Aqueles que são dominados por desejos luxuriosos e pela ira não podem avaliar as glórias do senhor Śiva, cuja posição é sempre transcendental. Em todas as atividades associadas com dese­jos luxuriosos, o senhor Śiva é um exemplo perfeito de ātma-rāma. As pessoas comuns, portanto, não devem tentar compreender o senhor Śiva e suas atividades. Aquele que tenta criticar as atividades do senhor Śiva é alguém que perdeu o senso de ridículo.

Texto

tat tasya te sad-asatoḥ parataḥ parasya
nāñjaḥ svarūpa-gamane prabhavanti bhūmnaḥ
brahmādayaḥ kim uta saṁstavane vayaṁ tu
tat-sarga-sarga-viṣayā api śakti-mātram

Sinônimos

tat — portanto; tasya — disto; te — de Vossa Onipotência; sat-asa­toḥ — das entidades vivas, móveis e inertes; parataḥ —situado transcendental­mente; parasya — muito difícil de se entender; na — nem; añjaḥ — como é; svarūpa-gamane — aproximar-se de tua realidade; prabhavanti — é possível; bhūmnaḥ — ó pessoa grandiosa; brahma­-ādayaḥ — mesmo pessoas tais como o senhor Brahmā; kim uta — o que dizer de outros; saṁstavane — em oferecer orações; vayam tu — no que se refere a nós; tat — de ti; sarga-sarga-viṣayāḥ — criações da criação; api — embora; śakti-mātram — dentro de nossa capacidade.

Tradução

Nem mesmo personalidades como o senhor Brahmā e outros semideuses podem entender tua posição, pois estás situado além da criação móvel e imóvel. Uma vez que ninguém consegue entender-te de verdade, como alguém poderia oferecer-te orações? Isso é impossível. No que se refere a nós, somos entidades incluídas na criação realizada pelo senhor Brahmā. Nessas circunstâncias, portanto, não podemos oferecer-te orações adequadas, mas, na medida em que nossa ha­bilidade o permite, expressamos os nossos sentimentos.

Texto

etat paraṁ prapaśyāmo
na paraṁ te maheśvara
mṛḍanāya hi lokasya
vyaktis te ’vyakta-karmaṇaḥ

Sinônimos

etat — todas estas coisas; param — transcendentais; prapaśyāmaḥ — podemos ver; na — não; param — a verdadeira posição transcenden­tal; te — de Vossa Onipotência; mahā-īśvara — ó grande governante; mṛḍanāya — para a felicidade; hi — na verdade; lokasya — do mundo inteiro; vyaktiḥ — manifesta; te — de Vossa Onipotência; avyakta-­karmaṇaḥ — cujas atividades são desconhecidas de todos.

Tradução

Ó maior de todos os governantes, tua verdadeira identidade é im­possível de ser entendida por nós. Até onde podemos ver, tua pre­sença traz para todos uma próspera felicidade. Ninguém pode apreciar as outras atividades que executas. Nossa compreensão se resume a isso.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando os semideuses ofereceram essas orações ao senhor Śiva, seu propósito íntimo era satisfazê-lo para que ele pudesse corrigir a situação perturbadora criada pelo veneno hālahala. Como se afirma na Bhagavad-gītā (7.20), kāmais tais tair hṛta jñānāḥ prapadyante ’nya-devatāḥ: quando alguém adora os semideuses, isso na certa se deve aos desejos profundamente enraizados que ele quer satisfazer valendo-se da misericórdia desses semideuses. De um modo geral, ao prestarem adoração aos semideuses, as pessoas são impelidas por algum motivo subjacente.

Texto

śrī-śuka uvāca
tad-vīkṣya vyasanaṁ tāsāṁ
kṛpayā bhṛśa-pīḍitaḥ
sarva-bhūta-suhṛd deva
idam āha satīṁ priyām

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvamī disse; tat — esta situação; vīkṣya — vendo; vyasanam — perigosa; tāsām — de todos os semideuses; kṛpayā — por compaixão; bhṛśa-pīḍitaḥ — muito consternado; sarva-bhūta-suhṛt — o amigo de todas as entidades vivas; devaḥ — Mahādeva; idam — isto; āha — disse; satīm — a Satīdevī; priyām — sua querida esposa.

Tradução

Śrīla Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: O senhor Śiva é sempre be­nevolente para com todas as entidades vivas. Ao perceber que as entidades vivas estavam muito assustadas com o veneno, que se espalhava por toda parte, ele se compadeceu delas. Então, dirigiu a Satī, sua eterna consorte, as seguintes palavras.

Texto

śrī-śiva uvāca
aho bata bhavāny etat
prajānāṁ paśya vaiśasam
kṣīroda-mathanodbhūtāt
kālakūṭād upasthitam

Sinônimos

śrī-śivaḥ uvāca — Śrī Śiva disse; aho bata — quão lamentável; bhavāni — minha querida esposa, Bhavānī; etat — esta situação; prajānām — de todas as entidades vivas; paśya — olha só; vaiśasam — muito perigosa; kṣīra-uda — do oceano de leite; mathana-udbhūtāt — decorrente da batedura; kālakūṭāt — devido à produção de veneno; upas­thitam — a atual situação.

Tradução

O senhor Śiva disse: Minha querida Bhavānī, observa como todas estas entidades vivas foram postas em perigo devido ao veneno pro­duzido pela batedura do oceano de leite.

Texto

āsāṁ prāṇa-parīpsūnāṁ
vidheyam abhayaṁ hi me
etāvān hi prabhor artho
yad dīna-paripālanam

Sinônimos

āsām — todas estas entidades vivas; prāṇa-parīpsūnām — desejando muito fortemente proteger suas vidas; vidheyam — algo deve ser feito; abhayam — segurança; hi — na verdade; me — por mim; etāvān — tudo isto; hi — na verdade; prabhoḥ — do mestre; arthaḥ — dever; yat — aquilo que; dīna-paripālanam — para dar proteção à humanidade sofredora.

Tradução

É meu dever dar proteção e segurança a todas as entidades vivas que lutam pela existência. Certamente é dever do mestre proteger seus dependentes que sofrem.

Texto

prāṇaiḥ svaiḥ prāṇinaḥ pānti
sādhavaḥ kṣaṇa-bhaṅguraiḥ
baddha-vaireṣu bhūteṣu
mohiteṣv ātma-māyayā

Sinônimos

prāṇaiḥ — pelas vidas; svaiḥ — suas próprias; prāṇinaḥ — outras entidades vivas; pānti — protegem; sādhavaḥ — devotos; kṣaṇa-bhaṅguraiḥ — temporárias; baddha-vaireṣu — desnecessariamente ocupadas em animosidades; bhūteṣu — contra as entidades vivas; mohiteṣu — confundidas; ātma-māyayā — pela energia externa do Senhor.

Tradução

A população em geral, estando desorientada pela energia ilusória da Suprema Personalidade de Deus, está sempre ocupada em lutar entre si. Mas os devotos, mesmo arriscando suas próprias vidas temporárias, esforçam-se para salvá-la.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta é a característica do vaiṣṇava. Para-duḥkha-duḥkhī: o vaiṣṇava fica sempre infeliz ao ver as almas condicionadas imersas na infelicidade. É por isso que ele lhes ensina como se tor­narem felizes. Na vida material, as pessoas certamente se ocupam em atos de animosidade. A vida material, portanto, é compa­rada a saṁsāra-dāvānala, um grande incêndio florestal que ocorre inesperadamente. O senhor Śiva e seus seguidores no sistema de paramparā tentam salvar a população tirando-a dessa condição material tão perigosa. Esse é o dever dos devotos que seguem os princípios do senhor Śiva e pertencem ao Rudra-sampradāya. Existem quatro sampradāyas vaiṣṇavas, e o Rudra-sampradāya é um deles porque o senhor Śiva (Rudra) é o melhor dos vaiṣṇavas (vaiṣṇavānāṁ yathā śambhuḥ). Na verdade, como veremos, o senhor Śiva bebeu o veneno para o benefício de toda a humanidade.

Texto

puṁsaḥ kṛpayato bhadre
sarvātmā prīyate hariḥ
prīte harau bhagavati
prīye ’haṁ sacarācaraḥ
tasmād idaṁ garaṁ bhuñje
prajānāṁ svastir astu me

Sinônimos

puṁsaḥ — com uma pessoa; kṛpayataḥ — ocupada em atividades benéficas; bhadre — ó gentílima Bhavānī; sarva-ātmā — a Superalma; prīyate — fica satisfeita; hariḥ — a Suprema Personalidade de Deus; prīte — devido ao Seu prazer; harau — o Senhor Supremo, Hari; bhagavati — a Personalidade de Deus; prīye — também fico satisfeito; aham — eu; sa-cara-acaraḥ — com todos os outros, móveis e inertes; tasmāt — portanto; idam — este; garam — veneno; bhuñje — que eu beba; prajānām — das entidades vivas; svastiḥ — bem-estar; astu — que ocorra; me — por meu intermédio.

Tradução

Minha querida e gentil esposa Bhavānī, quando alguém realiza atividades benéficas para os outros, a Suprema Personalidade de Deus, Hari, fica muito satisfeito. E, quando o Senhor está satisfeito, eu também fico satisfeito, juntamente com todas as outras criaturas vivas. Portanto, beberei este veneno para que eu ajude todas as entidades vivas a se tornarem felizes.

Texto

śrī-śuka uvāca
evam āmantrya bhagavān
bhavānīṁ viśva-bhāvanaḥ
tad viṣaṁ jagdhum ārebhe
prabhāva-jñānvamodata

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; evam — dessa maneira; āmantrya — dirigindo-se; bhagavān — o senhor Śiva; bhavānīm — a Bhavānī; viśva-bhāvanaḥ — o benquerente de todo o universo; tat viṣam — aquele veneno; jagdhum — a beber; ārebhe — começou; prabhāva-jñā — mãe Bhavānī, que conhecia perfeitamente a capacidade do senhor Śiva; anvamodata — concedeu sua permissão.

Tradução

Śrīla Śukadeva Gosvāmī continuou: Após transmitir a Bhavānī esta informação, o senhor Śiva passou a beber o veneno, e Bhavānī, que conhecia perfeitamente bem a capacidade do senhor Śiva, concedeu-lhe a permissão para que ele assim procedesse.

Texto

tataḥ karatalī-kṛtya
vyāpi hālāhalaṁ viṣam
abhakṣayan mahā-devaḥ
kṛpayā bhūta-bhāvanaḥ

Sinônimos

tataḥ — em seguida; karatalī-kṛtya — colocando em sua mão; vyāpi — difuso; hālāhalam — chamado hālahala; viṣam — veneno; abhakṣayat — bebeu; mahā-devaḥ — senhor Śiva; kṛpayā — por compaixão; bhūta­bhāvanaḥ — para o bem-estar de todas as entidades vivas.

Tradução

Em seguida, o senhor Śiva, que se dedica a realizar trabalho aus­picioso e benévolo em prol da humanidade, compassivamente colocou todo aquele veneno na palma da mão e o bebeu.

Comentário

SIGNIFICADO—Embora a quantidade de veneno fosse tamanha a ponto de ele ter-se espalhado por todo o universo, o senhor Śiva tinha tamanho poder que reduziu o veneno a uma quantidade tão pequena que pôde segurá-lo com a palma de sua mão. Ninguém deve tentar imitar o senhor Śiva. Ele pode fazer o que bem quiser, mas aqueles que tentam imitá-lo, fumando gañja e outras substâncias venenosas, de­certo acabarão morrendo devido a essas atividades.

Texto

tasyāpi darśayām āsa
sva-vīryaṁ jala-kalmaṣaḥ
yac cakāra gale nīlaṁ
tac ca sādhor vibhūṣaṇam

Sinônimos

tasya — do senhor Śiva; api — também; darśayām āsa — manifestou; sva-vīryam — sua própria potência; jala-kalmaṣaḥ — aquele veneno nascido da água; yat — o qual; cakāra — fez; gale — no pescoço; nīlam — linha azulada; tat — isto; ca — também; sādhoḥ — da pessoa santa; vibhūṣaṇam — adorno.

Tradução

Como se fosse uma difamação, o veneno nascido do oceano de leite manifestou sua potência marcando o pescoço do senhor Śiva com uma linha azulada. Essa linha, entretanto, agora é aceita como um adorno do senhor.

Texto

tapyante loka-tāpena
sādhavaḥ prāyaśo janāḥ
paramārādhanaṁ tad dhi
puruṣasyākhilātmanaḥ

Sinônimos

tapyante — sofrem voluntariamente; loka-tāpena — devido ao sofrimento da população em geral; sādhavaḥ — pessoas santas; prāyaśaḥ — quase sempre; janāḥ — tais pessoas; parama-ārādhanam — o método mais elevado de adoração; tat — essa atividade; hi — na verdade; pu­ruṣasya — à Pessoa Suprema; akhila-ātmanaḥ — que é a Superalma de todos.

Tradução

Afirma-se que grandes personalidades quase sempre aceitam sofri­mentos voluntários para poderem debelar o sofrimento da população em geral. Esse é considerado o método mais elevado de adorar a Su­prema Personalidade de Deus, que está presente no coração de todos.

Comentário

SIGNIFICADO—Eis uma explicação de como aqueles que estão ocupados em atividades em prol do bem-estar alheio são muito prontamente reconhecidos pela Suprema Personalidade de Deus. Na Bhagavad-gītā (18.68-69), o Senhor diz que ya idaṁ paramaṁ guhyaṁ mad-bhakteṣv abhidhāsyati... na ca tasmān manuṣyeṣu kaścin me priya-kṛttamaḥ: “Aquele que prega a mensagem da Bhagavad-gītā para Meus devotos Me é muito querido. Nenhuma adoração pode satisfazer-Me mais do que esta que por ele Me é prestada.” Neste mundo material, exis­tem diversas classes de atividades de bem-estar, mas a suprema atividade beneficente é difundir a consciência de Kṛṣṇa. Outras atividades beneficentes não podem ser eficazes, pois as leis da natureza e os resultados do karma não podem ser suprimidos. É por força do destino, ou das leis do karma, que alguém sofre ou desfruta. Por exemplo, se alguém recebe uma sentença judicial, tem que aceitar essa sentença, quer ela lhe traga sofrimento, quer lhe traga alguma vantagem. Igualmente, todos estão sujeitos ao karma e suas reações. Ninguém pode mudar isso. Portanto, o śāstra diz:

tasyaiva hetoḥ prayateta kovido
na labhyate yad bhramatām upary adhaḥ

As pessoas devem esforçar-se em busca daquilo que, para ser obtido, não é preciso que se fique divagando por todo o universo, como acontece a alguém que se submete às reações do seu karma. Em outras palavras, todos devem esforçar-se por tornarem-se conscien­tes de Kṛṣṇa. Se alguém tenta espalhar a consciência de Kṛṣṇa pelo mundo inteiro, deve-se entender que ele está realizando a melhor atividade beneficente. O Senhor fica grandemente satisfeito com ele. Se o Senhor fica satisfeito com ele, o que lhe pode faltar? Se alguém é reconhecido pelo Senhor, mesmo que não Lhe peça nada, o Senhor, que está dentro de todos, fornecerá a essa pessoa tudo o que ela deseja. Também se confirma isso na Bhagavad-gītā (teṣāṁ nityābhiyuktānāṁ yoga-kṣemaṁ vahāmy aham). Aqui também se afirma que tapyante loka-tāpena sādhavaḥ prāyaśo janāḥ. Elevar as pessoas à platafor­ma da consciência de Kṛṣṇa é a melhor atividade beneficente, pois o único motivo pelo qual as almas condicionadas sofrem é a falta de consciência de Kṛṣṇa. O próprio Senhor também vem para mitigar o sofrimento da humanidade.

yadā yadā hi dharmasya
glānir bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya
tadātmānaṁ sṛjāmy aham
paritrāṇāya sādhūnāṁ
vināśāya ca duṣkṛtām
dharma-saṁsthāpanārthāya
sambhavāmi yuge yuge

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante de irreligião – aí então Eu próprio descendo. Para libertar os piedosos e aniquilar os descrentes, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo venho, milênio após milênio.” (Bhagavad-gītā 4.7-8) Todos os śāstras concluem, portanto, que espalhar o movimento da consciên­cia de Kṛṣṇa é a atividade mais benéfica para o mundo. Devido ao grande benefício que isso concede às pessoas em geral, o Senhor reconhece muito prontamente tal serviço que o devoto realiza.

Texto

niśamya karma tac chambhor
deva-devasya mīḍhuṣaḥ
prajā dākṣāyaṇī brahmā
vaikuṇṭhaś ca śaśaṁsire

Sinônimos

niśamya — após ouvirem; karma — o ato; tat — aquele; śambhoḥ — do senhor Śiva; deva-devasya — que é adorado até mesmo pelos semideuses; mīḍhuṣaḥ — aquele que concede grandes bênçãos às pessoas em geral; prajāḥ — a população em geral; dākṣāyaṇī — Bhavānī, a filha de Dakṣa; brahmā — senhor Brahmā; vaikuṇṭhaḥ ca — o Senhor Viṣṇu também; śaśaṁsire — louvaram muito.

Tradução

Ao ouvirem sobre esse ato, todos, incluindo Bhavānī [a filha de Mahārāja Dakṣa], o senhor Brahmā, o Senhor Viṣṇu e a população em geral, louvaram calorosamente essa façanha realizada pelo senhor Śiva, o qual é adorado pelos semideuses e concede bênçãos às pessoas.

Texto

praskannaṁ pibataḥ pāṇer
yat kiñcij jagṛhuḥ sma tat
vṛścikāhi-viṣauṣadhyo
dandaśūkāś ca ye ’pare

Sinônimos

praskannam — espalhado em várias partes; pibataḥ — do senhor Śiva, enquanto ele bebia; pāṇeḥ — da palma da mão; yat — que; kiñcit — muito pouco; jagṛhuḥ — aproveitaram-se da oportunidade para beber; sma — na verdade; tat — isto; vṛścika — os escorpiões; ahi — as cobras; viṣa-auṣadhyaḥ — drogas venenosas; dandaśūkāḥ ca — e animais cujas picadas são peçonhentas; ye — que; apare — outras entidades vivas.

Tradução

Enquanto o senhor Śiva tomava o veneno, os escorpiões, as cobras, as drogas venenosas e outros animais cujas picadas são peçonhentas aproveitaram-se da oportunidade para beber qualquer resquício de veneno que caiu da mão do senhor Śiva e se espalhou enquanto ele bebia.

Comentário

SIGNIFICADO—Os mosquitos, os chacais, os cães e outras variedades de danda­śūka, ou animais cujas mordidas e picadas são venenosas, beberam o veneno do samudra-manthana, o oceano agitado, visto que isso se tornou disponível depois de cair das palmas das mãos do senhor Śiva.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do oitavo canto, sétimo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Bebendo Veneno, o Senhor Śiva Salva o Universo”.