CAPÍTULO CINQUENTA E NOVE
O Extermínio do Demônio Naraka
Este capítulo narra como o Senhor Kṛṣṇa matou Narakāsura, o filho da deusa da Terra, e casou-Se com as milhares de donzelas que o demônio raptara. Descreve também como o Senhor roubou dos céus a árvore pārijāta e como Ele Se comportava tal qual um pai de família comum em cada um de Seus palácios.
Depois que Narakāsura roubou o guarda-sol do Senhor Varuṇa, os brincos de mãe Aditi e o parque de diversões dos semideuses conhecido como Maṇi-parvata, Indra foi a Dvārakā e descreveu ao Senhor Kṛṣṇa as transgressões do demônio. Juntamente com a rainha Satyabhāmā, o Senhor montou em Seu transportador Garuḍa e viajou para a capital do reino de Narakāsura. Em um campo nos arredores da cidade, Ele decapitou com Seu disco o demônio Mura. Então, lutou contra os sete filhos de Mura e mandou-os todos para a morada da morte, depois do que o próprio Narakāsura entrou no campo de batalha montado em um elefante. Naraka arremessou sua lança śakti contra Śrī Kṛṣṇa, mas a arma mostrou-se ineficaz, e o Senhor desbaratou todo o exército do demônio. Por fim, com Seu disco afiado, Kṛṣṇa decepou a cabeça de Narakāsura.
A deusa da Terra, Pṛthivī, aproximou-se, então, do Senhor Kṛṣṇa e deu-Lhe os vários artigos que Narakāsura roubara. Ela ofereceu orações ao Senhor e entregou o amedrontado filho de Naraka aos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa. Depois de tranquilizar o filho do demônio, Kṛṣṇa entrou no palácio de Narakāsura, onde encontrou dezesseis mil e cem jovens. Logo que avistaram o Senhor, todas elas decidiram aceitá-lO como marido. O Senhor as mandou para Dvārakā junto de uma grande quantidade de tesouro e, então, foi com a rainha Satyabhāmā para a morada de Indra. Ali, devolveu os brincos de Aditi, e Indra e sua esposa, Śacīdevī, adoraram-nO. A pedido de Satyabhāmā, o Senhor Kṛṣṇa arrancou a árvore celestial pārijāta e colocou-a nas costas de Garuḍa. Após derrotar Indra e os outros semideuses que se opuseram a que Ele levasse a árvore, Kṛṣṇa regressou com a rainha Satyabhāmā a Dvārakā, onde a plantou em um jardim adjacente ao palácio de Satyabhāmā.
Indra, a princípio, viera ao Senhor Kṛṣṇa oferecendo reverências e pedindo que este matasse Narakāsura, mas depois, quando seu problema fora resolvido, ele brigou com o Senhor. Os semideuses são propensos à ira porque se deixam embriagar pelo orgulho em virtude de suas opulências.
O infalível Senhor Supremo manifestou-Se em dezesseis mil e cem formas separadas e casou-Se com cada uma das dezesseis mil e cem noivas em um templo diferente. Ele assumiu as atividades necessárias à vida de casado exatamente como uma pessoa qualquer, aceitando várias espécies de serviço de cada uma de Suas muitas esposas.
Texto
bhaumo yene ca tāḥ striyaḥ
niruddhā etad ācakṣva
vikramaṁ śārṅga-dhanvanaḥ
Sinônimos
śrī-rājā uvāca — o rei (Parīkṣit) disse; yathā — como; hataḥ — morto; bhagavatā — pelo Senhor Supremo; bhaumaḥ — Narakāsura, o filho de Bhūmi, a deusa da Terra; yena — por quem; ca — e; tāḥ — essas; striyaḥ — mulheres; niruddhāḥ — capturadas; etat — esta; ācakṣva — por favor, conta; vikramam — aventura; śārṅga-dhanvanaḥ — do Senhor Kṛṣṇa, o possuidor do arco Śārṅga.
Tradução
[O rei Parīkṣit disse:] Como Bhaumāsura, que raptou tantas mulheres, foi morto pelo Senhor Supremo? Por favor, narra esta aventura do Senhor Śārṅgadhanvā.
Texto
indreṇa hṛta-chatreṇa
hṛta-kuṇḍala-bandhunā
hṛtāmarādri-sthānena
jñāpito bhauma-ceṣṭitam
prāg-jyotiṣa-puraṁ yayau
giri-durgaiḥ śastra-durgair
jalāgny-anila-durgamam
mura-pāśāyutair ghorair
dṛḍhaiḥ sarvata āvṛtam
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; indreṇa — pelo senhor Indra; hṛta-chatreṇa — que sofrera o furto do guarda-sol (de Varuṇa); hṛta-kuṇḍala — o furto dos brincos; bandhunā — de sua parente (sua mãe Aditi); hṛta — e o furto; amara-adri — na montanha dos semideuses (Mandara); sthānena — do lugar especial (a área de recreio e seu pico, conhecido como Maṇi-parvata); jñāpitaḥ — informado; bhauma-ceṣṭitam — das atividades de Bhauma; sa — junto com; bhāryaḥ — Sua esposa (Satyabhāmā); garuḍa-ārūḍhaḥ — montando na ave gigante, Garuḍa; prāg-jyotiṣa-puram — à cidade de Prāgjyotiṣa-pura, capital de Bhauma (que existe até hoje em Tejpur, em Assam); yayau — foi; giri — constituídas de montanhas; durgaiḥ — por fortificações; śastra — que consistiam em armas; durgaiḥ — por fortificações; jala — de água; agni — fogo; anila — e vento; durgamam — tornada inacessível por fortificações; mura-pāśa — por uma perigosa parede de cabos; ayutaiḥ — dezenas de milhares; ghoraiḥ — terríveis; dṛḍhaiḥ — e fortes; sarvataḥ — por todos os lados; āvṛtam — rodeada
Tradução
Śukadeva Gosvāmī disse: Depois de Bhauma ter roubado os brincos pertencentes à mãe de Indra, bem como o guarda-sol de Varuṇa e o parque de diversões dos semideuses, que fica situado no pico da montanha Mandara, Indra foi ter com o Senhor Kṛṣṇa e informou-O desses crimes. O Senhor, levando Sua esposa Satyabhāmā conSigo, então montou em Garuḍa e dirigiu-Se para Prāgjyotiṣa-pura, que era cercada de todos os lados por fortificações constituídas de colinas, armas automáticas, água, fogo e vento, e por obstáculos de fio mura-pāśa.
Comentário
SIGNIFICADO—Os ācāryas explicaram de várias maneiras plausíveis por que o Senhor Kṛṣṇa levou Sua esposa Satyabhāmā conSigo. Śrīla Śrīdhara Svāmī começa dizendo que o Senhor queria proporcionar à Sua aventureira esposa uma experiência nova e, por isso, levou-a à cena dessa batalha extraordinária. Além disso, o Senhor Kṛṣṇa certa vez concedera a Bhūmi, a deusa da Terra, a bênção de que não mataria seu filho demoníaco sem sua permissão. Visto ser Bhūmi uma expansão de Satyabhāmā, esta podia autorizar Kṛṣṇa a fazer o que fosse necessário com o incomumente sórdido Bhaumāsura.
Por fim, Satyabhāmā se ofendera quando Nārada Muni trouxe para a rainha Rukmiṇī uma flor pārijāta celestial. Para acalmar Satyabhāmā, o Senhor Kṛṣṇa lhe prometera: “Eu te darei toda uma árvore dessas flores”, e assim o Senhor programou em Seu itinerário esta aquisição de uma árvore celestial.
Mesmo hoje em dia, maridos dedicados levam suas esposas às compras, e, desse modo, o Senhor Kṛṣṇa levou Satyabhāmā aos planetas celestiais para conseguir uma árvore celestial, bem como para recuperar os bens que Bhaumāsura roubara e devolvê-los a seus legítimos proprietários.
Śrīla Viśvanātha Cakravartī observa que no calor da batalha, a rainha Satyabhāmā naturalmente ficava ansiosa pela segurança do Senhor Kṛṣṇa e orava para que a batalha terminasse. Assim ela, sem demora, iria permitir que Kṛṣṇa matasse o filho de sua expansão, Bhūmi.
Texto
śastra-durgāṇi sāyakaiḥ
cakreṇāgniṁ jalaṁ vāyuṁ
mura-pāśāṁs tathāsinā
Sinônimos
gadayā — com Sua maça; nirbibheda — abriu caminho quebrando; adrīn — as colinas; śastra-durgāṇi — os obstáculos constituídos de armas; sāyakaiḥ — com Suas flechas; cakreṇa — com Seu disco; agnim — o fogo; jalam — água; vāyum — e vento; mura-pāśān — os obstáculos constituídos de cabos; tathā — igualmente; asinā — com Sua espada.
Tradução
Com Sua maça, o Senhor abriu caminho quebrando as fortificações de rocha; com Suas flechas, as fortificações de armas; com Seu disco, as fortificações de fogo, água e vento; e com Sua espada, os cabos mura-pāśa.
Texto
hṛdayāni manasvinām
prākāraṁ gadayā gurvyā
nirbibheda gadādharaḥ
Sinônimos
śaṅkha — de Seu búzio; nādena — com o ressoar; yantrāṇi — os talismãs místicos; hṛdayāni — os corações; manasvinām — dos valentes guerreiros; prākāram — os baluartes; gadayā — com Sua maça; gurvyā — pesada; nirbibheda — quebrou; gadādharaḥ — o Senhor Kṛṣṇa.
Tradução
Então, com o som de Seu búzio, o Senhor Gadādhara destroçou as proteções mágicas da fortaleza, bem como os corações de seus valentes defensores, e, com Sua pesada maça, demoliu os baluartes de terra circunjacentes.
Texto
yugāntaśani-bhīṣaṇam
muraḥ śayāna uttasthau
daityaḥ pañca-śirā jalāt
Sinônimos
pāñcajanya — de Pañcajanya, o búzio do Senhor Kṛṣṇa; dhvanim — a vibração; śrutvā — ouvindo; yuga — da era universal; anta — no fim; aśani — (como o som) do relâmpago; bhīṣaṇam — aterradora; muraḥ — Mura; śayānaḥ — dormindo; uttasthau — levantou-se; daityaḥ — o demônio; pañca-śirāḥ — de cinco cabeças; jalāt — da água (do fosso que rodeava a fortaleza).
Tradução
Mura, o demônio de cinco cabeças, que dormia no fundo do fosso da cidade, acordou e imergiu da água ao ouvir a vibração do búzio Pāñcajanya do Senhor Kṛṣṇa, a qual era tão aterradora quanto o trovão ouvido no fim da era cósmica.
Texto
yugānta-sūryānala-rocir ulbaṇaḥ
grasaṁs tri-lokīm iva pañcabhir mukhair
abhyadravat tārkṣya-sutaṁ yathoragaḥ
Sinônimos
tri-śūlam — seu tridente; udyamya — levantando; su — muito; durnirīkṣaṇaḥ — difícil de se olhar; yuga-anta — no fim do milênio; sūrya — do Sol; anala — (como) o fogo; rociḥ — cuja refulgência; ulbaṇaḥ — terrível; grasan — engolindo; tri-lokīm — os três mundos; iva — como se; pañcabhiḥ — com suas cinco; mukhaiḥ — bocas; abhyadravat — atacou; tārkṣya-sutam — Garuḍa, o filho de Tārkṣya; yathā — como; uragaḥ — uma cobra.
Tradução
Brilhando com a ofuscante e terrível refulgência do fogo do Sol no fim do milênio, Mura parecia estar engolindo os três mundos com suas cinco bocas. Ele brandiu seu tridente e precipitou-se contra Garuḍa, o filho de Tārkṣya, tal qual uma cobra em ofensiva.
Texto
nirasya vaktrair vyanadat sa pañcabhiḥ
sa rodasī sarva-diśo ’mbaraṁ mahān
āpūrayann aṇḍa-kaṭāham āvṛṇot
Sinônimos
āvidhya — girando; śūlam — seu tridente; tarasā — com grande força; garutmate — contra Garuḍa; nirasya — arremessando-o; vaktraiḥ — com suas bocas; vyanadat — rugia; saḥ — ele; pañcabhiḥ — cinco; saḥ — aquele; rodasī — a terra e o céu; sarva — todas; diśaḥ — as direções; ambaram — espaço sideral; mahān — o grande (rugido); āpūrayan — enchendo; aṇḍa — da cobertura oval do universo; kaṭāham — o pote; āvṛṇot — coberto.
Tradução
Mura girou seu tridente e, então, arremessou-o ferozmente contra Garuḍa, rugindo por suas cinco bocas. O som encheu a terra e o céu, todas as direções e os limites do espaço sideral, até reverberar contra a própria cobertura do universo.
Texto
hariḥ śarābhyām abhinat tridhojasā
mukheṣu taṁ cāpi śarair atāḍayat
tasmai gadāṁ so ’pi ruṣā vyamuñcata
Sinônimos
tadā — então; āpatat — voando; vai — de fato; tri-śikham — o tridente; garutmate — em direção a Garuḍa; hariḥ — o Senhor Kṛṣṇa; śarābhyām — com duas flechas; abhinat — quebrou; tridhā — em três pedaços; ojasā — com força; mukheṣu — em seus rostos; tam — a ele, Mura; ca — e; api — também; śaraiḥ — com flechas; atāḍayat — atingiu; tasmai — a Ele, o Senhor Kṛṣṇa; gadām — sua maça; saḥ — ele, Mura; api — e; ruṣā — com ira; vyamuñcata — soltou.
Tradução
Então, com duas flechas, o Senhor Hari atingiu o tridente que voava em direção a Garuḍa e quebrou-o em três pedaços. Em seguida, o Senhor feriu os rostos de Mura com várias flechas, e o demônio, com ira, lançou sua maça contra o Senhor.
Texto
gadāgrajo nirbibhide sahasradhā
udyamya bāhūn abhidhāvato ’jitaḥ
śirāṁsi cakreṇa jahāra līlayā
Sinônimos
tām — aquela; āpatantīm — que voava em direção a; gadayā — com Sua maça; gadām — a maça; mṛdhe — no campo de batalha; gada-agrajaḥ — o Senhor Kṛṣṇa, o irmão mais velho de Gada; nirbibhide — quebrou; sahasradhā — em milhares de pedaços; udyamya — erguendo; bāhūn — os braços; abhidhāvataḥ — daquele que corria para ele; ajitaḥ — o invencível Senhor Kṛṣṇa; śirāṁsi — as cabeças; cakreṇa — com Seu disco; jahāra — retirou; līlayā — com facilidade.
Tradução
Enquanto a maça de Mura voava em direção a Ele no campo de batalha, o Senhor Gadāgraja interceptou a mesma com a Sua e a quebrou em milhares de pedaços. Mura, então, levantou os braços e precipitou-se contra o invencível Senhor, que, com muita facilidade, retalhou suas cabeças com Sua arma disco.
Texto
nikṛtta-śṛṅgo ’drir ivendra-tejasā
tasyātmajāḥ sapta pitur vadhāturāḥ
pratikriyāmarṣa-juṣaḥ samudyatāḥ
Sinônimos
vyasuḥ — sem vida; papāta — caiu; ambhasi — na água; kṛtta — decepadas; śīrṣaḥ — suas cabeças; nikṛtta — cortado; śṛṅgaḥ — cujo pico; adriḥ — uma montanha; iva — como se; indra — do senhor Indra; tejasā — pelo poder (isto é, por seu relâmpago); tasya — dele, Mura; ātma-jāḥ — filhos; sapta — sete; pituḥ — de seu pai; vadha — pelo extermínio; āturāḥ — muito aflitos; pratikriyā — para retribuição; amarṣa — fúria; juṣaḥ — sentindo; samudyatāḥ — incitados para a ação.
Tradução
Sem vida, o corpo decapitado de Mura caiu na água tal qual uma montanha cujo pico foi cortado pelo poder do relâmpago do senhor Indra. Os sete filhos do demônio, enfurecidos com a morte de seu pai, prepararam-se para a retaliação.
Texto
vasur nabhasvān aruṇaś ca saptamaḥ
pīṭhaṁ puraskṛtya camū-patiṁ mṛdhe
bhauma-prayuktā niragan dhṛtāyudhāḥ
Sinônimos
tāmraḥ antarikṣaḥ śravaṇaḥ vibhāvasuḥ — Tāmra, Antarikṣa, Śravaṇa e Vibhāvasu; vasuḥ nabhasvān — Vasu e Nabhasvān; aruṇaḥ — Aruṇa; ca — e; saptamaḥ — o sétimo; pīṭham — Pīṭha; puraḥ-kṛtya — pondo à frente; camū-patim — seu comandante-em-chefe; mṛdhe — no campo de batalha; bhauma — por Bhaumāsura; prayuktāḥ — encarregados; niragan — saíram (da fortaleza); dhṛta — carregando; āyudhāḥ — armas.
Tradução
Por ordem de Bhaumāsura, os sete filhos de Mura – Tāmra, Antarikṣa, Śravaṇa, Vibhāvasu, Vasu, Nabhasvān e Aruṇa –, levando suas armas, seguiram o general deles, Pīṭha, até o campo de batalha.
Texto
śakty-ṛṣṭi-śūlāny ajite ruṣolbaṇāḥ
tac-chastra-kūṭaṁ bhagavān sva-mārgaṇair
amogha-vīryas tilaśaś cakarta ha
Sinônimos
prāyuñjata — usaram; āsādya — atacando; śarān — flechas; asīn — espadas; gadāḥ — maças; śakti — arpões; ṛṣti — lanças; śūlāni — e tridentes; ajite — contra o Senhor Kṛṣṇa, o invencível; ruṣā — com ira; ulbaṇāḥ — ferozes; tat — deles; śastra — de armas; kūṭam — a montanha; bhagavān — o Senhor Supremo; sva — com Suas próprias; mārgaṇaiḥ — flechas; amogha — jamais frustrada; vīryaḥ — cuja valentia; tilaśaḥ — em partículas do tamanho de sementes de gergelim; cakarta ha — cortou.
Tradução
Estes ferozes guerreiros atacaram iradamente o invencível Senhor Kṛṣṇa com flechas, espadas, maças, arpões, lanças e tridentes, mas o Senhor Supremo, com valentia infalível e usando Suas flechas, cortou essa montanha de armas em pedaços minúsculos.
Texto
nikṛtta-śīrṣoru-bhujāṅghri-varmaṇaḥ
svānīka-pān acyuta-cakra-sāyakais
tathā nirastān narako dharā-sutaḥ
nirīkṣya durmarṣaṇa āsravan-madair
gajaiḥ payodhi-prabhavair nirākramāt
Sinônimos
tān — a eles; pīṭha-mukhyān — encabeçados por Pīṭha; anayat — enviou; yama — de Yamarāja, o senhor da morte; kṣayam — à morada; nikṛtta — cortadas; śīrṣa — suas cabeças; ūru — coxas; bhuja — braços; aṅghri — pernas; varmaṇaḥ — e armadura; sva — seu; anīka — do exército; pān — os líderes; acyuta — do Senhor Kṛṣṇa; cakra — pelo disco; sāyakaiḥ — e flechas; tathā — assim; nirastān — retiradas; narakaḥ — Bhauma; dharā — da deusa da Terra; sutaḥ — o filho; nirīkṣya — vendo; durmarṣaṇaḥ — incapaz de tolerar; āsravat — que exsudavam; madaiḥ — uma secreção viscosa produzida das testas de elefantes agitados; gajaiḥ — com elefantes; payaḥ-dhi — do oceano de leite; prabhavaiḥ — nascidos; nirākramāt — saiu.
Tradução
O Senhor decepou a cabeça, coxas, braços, pernas e armadura daqueles adversários liderados por Pīṭha e enviou-os todos para a morada de Yamarāja. Narakāsura, o filho da Terra, não pôde conter sua fúria ao ver o destino de seus líderes militares. Dessa maneira, ele saiu da cidadela com elefantes nascidos do oceano de leite e que, devido à excitação, exsudavam mada de suas testas.
Texto
sūryopariṣṭāt sa-taḍid ghanaṁ yathā
kṛṣṇaṁ sa tasmai vyasṛjac chata-ghnīṁ
yodhāś ca sarve yugapac ca vivyadhuḥ
Sinônimos
dṛṣṭvā — vendo; sa-bhāryam — com Sua esposa; garuḍa-upari — sobre Garuḍa; sthitam — sentado; sūrya — o Sol; upariṣṭāt — mais alto que; sa-taḍit — com relâmpago; ghanam — uma nuvem; yathā — como; kṛṣṇam — o Senhor Kṛṣṇa; saḥ — ele, Bhauma; tasmai — contra Ele; vyasṛjat — atirou; śata-ghnīm — Śataghnī (o nome de sua lança śakti); yodhāḥ — seus soldados; ca — e; sarve — todos; yugapat — ao mesmo tempo; ca — e; vivyadhuḥ — atacaram.
Tradução
O Senhor Kṛṣṇa e Sua esposa, montados em Garuḍa, pareciam uma nuvem com relâmpago situada acima do Sol. Vendo o Senhor, Bhauma arremessou sua arma Śataghnī contra Ele, ao mesmo tempo em que todos os soldados de Bhauma atacavam-nO com suas armas.
Texto
vicitra-vājair niśitaiḥ śilīmukhaiḥ
nikṛtta-bāhūru-śirodhra-vigrahaṁ
cakāra tarhy eva hatāśva-kuñjaram
Sinônimos
tat — aquele; bhauma-sainyam — exército de Bhaumāsura; bhagavān — o Senhor Supremo; gadāgrajaḥ — Kṛṣṇa; vicitra — variadas; vājaiḥ — cujas penas; niśitaiḥ — afiadas; śilīmukhaiḥ — com flechas; nikṛtta — cortados; bāhu — com braços; ūru — coxas; śiraḥ-dhra — e pescoços; vigraham — cujos corpos; cakāra — fez; tarhi eva — naquele mesmo momento; hata — mortos; aśva — os cavalos; kuñjaram — e elefantes.
Tradução
Naquele momento, o Senhor Gadāgraja atirou Suas afiadas flechas contra o exército de Bhaumāsura. Essas flechas, decoradas com diversos tipos de penas, logo reduziram aquele exército a uma massa de corpos destituídos de braços, coxas e pescoço. O Senhor matou de modo semelhante os cavalos e elefantes oponentes.
Texto
śastrāstrāṇi kurūdvaha
haris tāny acchinat tīkṣṇaiḥ
śarair ekaikaśas trībhiḥ
pakṣābhyāṁ nighnatā gajān
gurutmatā hanyamānās
tuṇḍa-pakṣa-nakher gajāḥ
puram evāviśann ārtā
narako yudhy ayudhyata
Sinônimos
yāni — aquelas que; yodhaiḥ — pelos guerreiros; prayuktāni — usadas; śastra — armas cortantes; astrāṇi — e armas mísseis; kuru-udvaha — ó herói dos Kurus (rei Parīkṣit); hariḥ — o Senhor Kṛṣṇa; tāni — a elas; acchinat — cortou em pedaços; tīkṣṇaiḥ — afiadas; śaraiḥ — com flechas; ekaśaḥ — cada uma; tribhiḥ — com três; uhyamānāḥ — sendo levado; su-parṇena — por aquele que tem grandes asas (Garuḍa); pakṣābhyām — com suas duas asas; nighnatā — que golpeava; gajān — os elefantes; gurutmatā — por Garuḍa; hanyamānāḥ — sendo atingidos; tuṇḍa — com seu bico; pakṣa — asas; nakheḥ — e garras; gajāḥ — os elefantes; puram — na cidade; eva — de fato; āviśann — reentrando; ārtāḥ — aflitos; narakaḥ — Naraka (Bhauma); yudhi — na batalha; ayudhyata — continuou lutando.
Tradução
O Senhor Hari, então, derrubou todos os mísseis e armas que os soldados inimigos atiravam nEle, ó herói dos Kurus, destruindo cada uma com três flechas afiadas. Nesse ínterim, Garuḍa, enquanto transportava o Senhor, golpeava os elefantes do inimigo com suas asas. Fustigados pelas asas, bico e garras de Garuḍa, os elefantes fugiram de volta para a cidade, deixando Narakāsura sozinho no campo de batalha para enfrentar Kṛṣṇa.
Texto
garuḍenārditaṁ svakaṁ
taṁ bhaumaḥ prāharac chaktyā
vajraḥ pratihato yataḥ
nākampata tayā viddho
mālāhata iva dvipaḥ
Sinônimos
dṛṣṭvā — vendo; vidrāvitam — repelido; sainyam — o exército; garuḍena — por Garuḍa; arditam — atormentado; svakam — dele; tam — a ele, Garuḍa; bhaumaḥ — Bhaumāsura; prāharat — atacou; śaktyā — com sua lança; vajraḥ — o relâmpago (do senhor Indra); pratihataḥ — contra-atacado; yataḥ — pelo qual; na akampata — ele (Garuḍa) não ficou abalado; tayā — por ele; viddhaḥ — golpeado; mālā — por uma guirlanda de flores; āhataḥ — atingido; iva — como; dvipaḥ — um elefante.
Tradução
Vendo seu exército repelido e atormentado por Garuḍa, Bhauma atacou-o com sua lança, que certa vez derrotara o raio do senhor Indra. Todavia, embora atingido por aquela arma poderosa, Garuḍa não se abalou. De fato, ele reagiu como um elefante atingido por uma guirlanda de flores.
Texto
ādade vitathodyamaḥ
tad-visargāt pūrvam eva
narakasya śiro hariḥ
apāharad gaja-sthasya
cakreṇa kṣura-neminā
Sinônimos
śūlam — seu tridente; bhaumaḥ — Bhauma; acyutam — o Senhor Kṛṣṇa; hantum — para matar; ādade — apanhou; vitatha — frustrados; udyamaḥ — cujos esforços; tat — de seu; visargāt — disparo; pūrvam — antes; eva — mesmo; narakasya — de Bhauma; śiraḥ — a cabeça; hariḥ — o Senhor Kṛṣṇa; apāharat — removeu; gaja — em seu elefante; sthasya — que estava sentado; cakreṇa — com Seu disco; kṣura — afiada como navalha; neminā — sua borda.
Tradução
Bhauma, frustrado em todas as suas tentativas, brandiu seu tridente com o intuito de matar o Senhor Kṛṣṇa. Contudo, antes que o demônio pudesse arremessá-lo de cima de seu elefante, o Senhor decepou a cabeça do demônio com Seu cakra afiado.
Comentário
SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, quando Bhauma ergueu seu invencível tridente, Satyabhāmā, sentada em Garuḍa com o Senhor, disse a Kṛṣṇa: “Mata-o agora mesmo”, e Kṛṣṇa procedeu precisamente dessa maneira.
Texto
babhau pṛthivyāṁ patitam samujjvalam
ha heti sādhv ity ṛṣayaḥ sureśvarā
mālyair mukundaṁ vikiranta īdire
Sinônimos
sa — junto de; kuṇḍalam — brincos; cāru — atraente; kirīṭa — com elmo; bhūṣaṇam — decorada; babhau — brilhava; pṛthivyām — no chão; patitam — caída; samujjvalam — resplandecente; hā hā iti — “oh! oh!”; sādhu iti — “excelente!”; ṛṣayaḥ — os sábios; sura-īśvarāḥ — e os principais semideuses; mālyaiḥ — de guirlandas de flores; mukundam — o Senhor Kṛṣṇa; vikirantaḥ — lançando chuvas; īḍire — adoravam.
Tradução
Caída no chão, a cabeça de Bhaumāsura brilhava esplendidamente, estando decorada com brincos e um atraente elmo. Enquanto ressoavam gritos de “Oh! Oh!” e “Excelente!”, os sábios e principais dos semideuses adoravam o Senhor Mukunda lançando sobre Ele chuvas de guirlandas de flores.
Texto
pratapta-jāmbūnada-ratna-bhāsvare
sa-vaijayantyā vana-mālayārpayat
prācetasaṁ chatram atho mahā-maṇim
Sinônimos
tataḥ — então; ca — e; bhūḥ — a deusa da Terra; kṛṣṇam — do Senhor Kṛṣṇa; upetya — aproximando-se; kuṇḍale — os dois brincos (pertencentes a Aditi); pratapta — reluzente; jāmbūnada — ouro; ratna — com joias; bhāsvare — brilhantes; sa — junto de; vaijayantyā — chamada Vaijayantī; vana-mālayā — e com uma guirlanda de flores; arpayat — presenteou; prācetasam — de Varuṇa; chatram — o guarda-sol; atha u — então; mahā-maṇim — Maṇi-parvata, o pico da montanha Mandara.
Tradução
A deusa da Terra, então, aproximou-se do Senhor Kṛṣṇa e presenteou-O com os brincos de Aditi, que eram feitos de ouro reluzente incrustado de pedras preciosas brilhantes. Ela também Lhe deu uma guirlanda de flores Vaijayantī, o guarda-sol de Varuṇa e o pico da montanha Mandara.
Texto
devī deva-varārcitam
prāñjaliḥ praṇatā rājan
bhakti-pravaṇayā dhiyā
Sinônimos
astauṣīt — louvou; atha — então; viśva — do universo; īśam — o Senhor; devī — a deusa; deva — dos semideuses; vara — pelos melhores; arcitam — que é adorado; prāñjaliḥ — de mãos postas; praṇatā — prostrada; rājan — ó rei (Parīkṣit); bhakti — de devoção; pravaṇayā — plena; dhiyā — com mentalidade.
Tradução
Ó rei, depois de prostrar-se diante dEle e, então, ficar de pé com as mãos postas, a deusa, com sua mente plena de devoção, colocou-se a louvar o Senhor do universo, a quem os melhores dos semideuses oferecem orações.
Texto
namas te deva-deveśa
śaṅkha-cakra-gadā-dhara
bhaktecchopātta-rūpāya
paramātman namo ’stu te
Sinônimos
bhūmiḥ uvāca — a deusa da Terra disse; namaḥ — reverências; te — a Vós; deva-deva — dos senhores dos semideuses; īśa — ó Senhor; śaṅkha — do búzio; cakra — disco; gadā — e maça; dhara — ó portador; bhakta — de Vossos devotos; icchā — pelo desejo; upātta — que assumistes; rūpāya — Vossas formas; parama-ātman — ó Alma Suprema; namaḥ — reverências; astu — que haja; te — para Vós.
Tradução
A deusa Bhūmi disse: Reverências a Vós, ó Senhor dos principais semideuses, ó portador do búzio, disco e maça. Ó Alma Suprema dentro do coração, assumis Vossas várias formas para satisfazer os desejos de Vossos devotos. Reverências a Vós.
Texto
namaḥ paṅkaja-māline
namaḥ paṅkaja-netrāya
namas te paṅkajāṅghraye
Sinônimos
namaḥ — todas as respeitosas reverências; paṅkaja-nābhāya — ao Senhor que tem uma depressão específica semelhante a uma flor de lótus no centro do abdômen; namaḥ — reverências; paṅkaja-māline — aquele que está sempre adornado com uma guirlanda de flores de lótus; namaḥ — reverências; paṅkaja-netrāya — aquele cujo olhar é refrescante como uma flor de lótus; namaḥ te — respeitosas reverências a Vós; paṅkaja-aṅghraye — a Vós, cujas solas dos pés estão gravadas com flores de lótus (e que, por isso, se diz que tendes pés de lótus).
Tradução
Minhas respeitosas reverências a Vós, ó Senhor, cujo abdômen é marcado por uma depressão semelhante a uma flor de lótus, que estais sempre enfeitado com guirlandas de flores de lótus, cujo olhar é tão refrescante quanto o lótus e cujos pés estão gravados com marcas de lótus.
Comentário
SIGNIFICADO—A rainha Kuntī ofereceu esta mesma prece, que se encontra no primeiro canto do Śrīmad-Bhāgavatam, capítulo 8, verso 22. Os sinônimos e a tradução dados aqui são tirados da tradução feita por Śrīla Prabhupāda.
Também podemos notar que, embora a prece de Kuntī apareça antes no Bhāgavatam, ela a ofereceu muitos anos depois do incidente descrito nesta passagem.
Texto
vāsudevāya viṣṇave
puruṣāyādi-bījāya
pūrṇa-bodhāya te namaḥ
Sinônimos
namaḥ — reverências; bhagavate — à Divindade Suprema; tubhyam — a Vós; vāsudevāya — o Senhor Vāsudeva, o abrigo de todos os seres criados; viṣṇave — o onipenetrante Senhor Viṣṇu; puruṣāya — a pessoa primordial; ādi — original; bījāya — a semente; pūrṇa — pleno; bodhāya — conhecimento; te — a Vós; namaḥ — reverências.
Tradução
Reverências a Vós, o Supremo Senhor Vāsudeva, Viṣṇu, a pessoa primordial, a semente original. Reverências a Vós, o onisciente.
Texto
brahmaṇe ’nanta-śaktaye
parāvarātman bhūtātman
paramātman namo ’stu te
Sinônimos
ajāya — ao não nascido; janayitre — o progenitor; asya — deste (universo); brahmaṇe — o Absoluto; ananta — ilimitadas; śaktaye — cujas energias; para — do superior; avara — e inferior; ātman — ó Alma; bhūta — da criação material; ātman — ó Alma; parama-ātman — ó Alma Suprema, que sois onipenetrante; namaḥ — reverências; astu — haja; te — para Vós.
Tradução
Reverências a Vós, o não nascido progenitor deste universo, o Absoluto, possuidor de energias ilimitadas. Ó Alma dos seres superiores e inferiores, ó Alma dos elementos criados, ó onipenetrante Alma Suprema, reverências a Vós.
Texto
tamo nirodhāya bibharṣy asaṁvṛtaḥ
sthānāya sattvaṁ jagato jagat-pate
kālaḥ pradhānaṁ puruṣo bhavān paraḥ
Sinônimos
tvam — Vós; vai — de fato; sisṛkṣuḥ — desejando criar; ajaḥ — não nascido; utkaṭam — preeminente; prabho — ó senhor; tamaḥ — o modo da ignorância; nirodhāya — para a aniquilação; bibharṣi — assumis; asaṁvṛtaḥ — não coberto; sthānāya — para a manutenção; sattvam — o modo da bondade; jagataḥ — do universo; jagat-pate — ó Senhor do universo; kālaḥ — tempo; pradhānam — natureza material (em seu estado original, não diferenciado); puruṣaḥ — o criador (que interage com a natureza material); bhavān — Vós; paraḥ — distinto.
Tradução
Desejando criar, ó senhor não nascido, aumentais e depois assumis o modo da paixão. Fazeis o mesmo com o modo da ignorância quando desejais aniquilar o universo, e com o modo da bondade quando desejais mantê-lo. Entretanto, permaneceis descoberto por esses modos. Sois o tempo, o pradhāna e o puruṣa, ó Senhor do universo, mas, ainda assim, sois separado e distinto.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra jagataḥ na terceira linha deste verso indica que as funções de criação, manutenção e aniquilação são mencionadas aqui em um contexto cósmico.
A palavra utkaṭam indica que, quando se executa uma função em particular, seja a criação, seja a manutenção, seja a aniquilação universal, a qualidade material específica associada àquela função torna-se predominante.
Texto
mātrāṇi devā mana indriyāṇi
kartā mahān ity akhilaṁ carācaraṁ
tvayy advitīye bhagavan ayaṁ bhramaḥ
Sinônimos
aham — eu mesma (terra); payaḥ — água; jyotiḥ — fogo; atha — e; anilaḥ — ar; nabhaḥ — éter; mātrāṇi — os vários objetos dos sentidos (correspondentes a cada um dos cinco elementos grosseiros); devāḥ — os semideuses; manaḥ — a mente; indriyāṇi — os sentidos; kartā — “o agente”, o falso ego; mahān — a energia material total (mahat-tattva); iti — assim; akhilam — tudo; cara — móvel; acaram — e inerte; tvayi — dentro de Vós; advitīye — que sois único e inigualável; bhagavan — ó Senhor; ayam — isto; bhramaḥ — ilusão.
Tradução
Pensar que terra, água, fogo, ar, éter, objetos dos sentidos, semideuses, mente, os sentidos, o falso ego e a energia material total existam independentemente de Vós não passa de ilusão. De fato, eles estão todos dentro de Vós, meu Senhor, que sois único e inigualável.
Comentário
SIGNIFICADO—A deusa da Terra, em suas orações, aborda diretamente as sutilezas da filosofia transcendental, esclarecendo que, embora o Senhor Supremo seja incomparável e distinto de Sua criação, esta não tem existência independente e sempre repousa dentro dEle. Dessa maneira, o Senhor e tudo o que Ele criou são unos e diferentes ao mesmo tempo, como explicou Śrī Caitanya Mahāprabhu há quinhentos anos.
Dizer que tudo é Deus, sem nenhuma distinção, não tem sentido, pois nada pode agir como Deus. É quase impossível que cachorros, sapatos e seres humanos sejam onipotentes ou oniscientes, tampouco podem criar o universo. Por outro lado, existe um sentido real em que todas as coisas são unas, pois tudo é parte da mesma realidade suprema e absoluta. O Senhor Caitanya apresentou a utilíssima analogia do Sol e dos raios solares. O Sol e seu brilho são uma única realidade, pois o Sol é o corpo celeste que brilha. Por outro lado, é certo que qualquer um pode distinguir entre o globo do Sol e os raios solares. Desse modo, a simultânea unidade e diferença de Deus com Sua criação é a explicação final e satisfatória da realidade. Tudo o que existe é a potência do Senhor, apesar do que Ele dota a potência superior, os seres vivos, de livre-arbítrio de modo que eles possam tornar-se responsáveis pela qualidade moral e espiritual de suas decisões e atividades.
Toda esta ciência transcendental é explicada de maneira clara e racional no Śrīmad-Bhāgavatam.
Texto
bhītaḥ prapannārti-haropasāditaḥ
tat pālayainaṁ kuru hasta-paṅkajaṁ
śirasy amuṣyākhila-kalmaṣāpaham
Sinônimos
tasya — dele (Bhaumāsura); ātma-jaḥ — filho; ayam — este; tava — Vossos; pāda — pés; paṅkajam — semelhantes ao lótus; bhītaḥ — com medo; prapanna — daqueles que se abrigam; ārti — a aflição; hara — ó Vós que retirais; upasāditaḥ — aproximou-se; tat — portanto; pālaya — por favor, protegei; enam — a ele; kuru — colocai; hasta-paṅkajam — Vossa mão de lótus; śirasi — sobre a cabeça; amuṣya — dele; akhila — todos; kalmaṣa — os pecados; apaham — que erradica.
Tradução
Eis aqui o filho de Bhaumāsura. Assustado, ele está aproximando-se de Vossos pés de lótus, pois afastais a aflição daqueles que buscam refúgio em Vós. Por favor, protegei-o. Colocai Vossa mão de lótus, que dissipa todos os pecados, sobre a cabeça dele.
Comentário
SIGNIFICADO—Aqui a deusa da Terra busca proteção para seu neto, que ficou assustado com todos os violentíssimos incidentes que acabaram de acontecer.
Texto
iti bhūmy-arthito vāgbhir
bhagavān bhakti-namrayā
dattvābhayaṁ bhauma-gṛham
prāviśat sakalarddhimat
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; iti — assim; bhūmi — pela deusa Bhūmi; arthitaḥ — solicitado; vāgbhiḥ — com aquelas palavras; bhagavān — o Senhor Supremo; bhakti — com devoção; namrayā — humildes; dattvā — dando; abhayam — destemor; bhauma-gṛham — na residência de Bhaumāsura; prāviśat — entrou; sakala — todas; ṛddhi — de opulências; mat — dotadas.
Tradução
Śukadeva Gosvāmī disse: Solicitado assim pela deusa Bhūmi com palavras plenas de humilde devoção, o Senhor Supremo concedeu destemor a seu neto e, então, entrou no palácio de Bhaumāsura, que estava repleto de toda espécie de riqueza.
Texto
ṣaṭ-sahasrādhikāyutam
bhaumāhṛtānāṁ vikramya
rājabhyo dadṛśe hariḥ
Sinônimos
tatra — lá; rājanya — da ordem real; kanyānām — de donzelas; ṣaṭsahasra — seis mil; adhika — mais de; ayutam — dez mil; bhauma — por Bhauma; āhṛtānām — arrebatadas; vikramya — à força; rājabhyaḥ — de reis; dadṛśe — viu; hariḥ — o Senhor Kṛṣṇa.
Tradução
Ali, o Senhor Kṛṣṇa viu dezesseis mil donzelas reais, que Bhauma arrebatara à força de vários reis.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī fornece evidência do sábio Parāśara, segundo citação no Viṣṇu Purāṇa (5.29.31), para explicar que havia de fato 16.100 donzelas reais aprisionadas no palácio de Bhauma:
ṣoḍaśātulya-vikramaḥ
śatādhikāni dadṛśe
sahasrāṇi mahā-mate
“Dentro dos aposentos das donzelas, ó sábio, aquele Senhor de valentia inigualável encontrou 16.100 princesas.”
Outro relevante verso do Viṣṇu Purāṇa (5.29.9) afirma o seguinte:
nṛpānāṁ ca janārdana
hṛtvā hi so ’suraḥ kanyā
rurodha nija-mandire
“O demônio [Bhaumāsura] raptou as filhas solteiras de semideuses, siddhas, asuras e reis, ó Janārdana, e aprisionou-as em seu palácio.”
Texto
nara-varyaṁ vimohitāḥ
manasā vavrire ’bhīṣṭaṁ
patiṁ daivopasāditam
Sinônimos
tam — a Ele; praviṣṭam — que havia entrado; striyaḥ — as mulheres; vīkṣya — vendo; nara — de homens; varyam — o mais excelente; vimohitāḥ — encantadas; manasā — em suas mentes; vavrire — escolheram; abhīṣṭam — desejável; patim — como seu marido; daiva — pelo destino; upasāditam — trazido.
Tradução
As mulheres ficaram encantadas ao verem entrar aquele excelentíssimo varão. Em suas mentes, cada uma delas aceitou Kṛṣṇa, que fora levado ali pelo destino, como seu marido escolhido.
Texto
dhātā tad anumodatām
iti sarvāḥ pṛthak kṛṣṇe
bhāvena hṛdayaṁ dadhuḥ
Sinônimos
bhūyāt — possa tornar-se; patiḥ — marido; ayam — Ele; mahyam — meu; dhātā — providência; tau — aquele; anumodatām — possa, por favor, conceder; iti — assim; sarvāḥ — todas elas; pṛthak — individualmente; kṛṣṇe — em Kṛṣṇa; bhāvena — com a ideia; hṛdayam — seus corações; dadhuḥ — colocaram.
Tradução
Enquanto pensavam: “Que a providência conceda que este homem se torne meu marido”, cada uma das princesas absorveu seu coração em contemplar Kṛṣṇa.
Texto
su-mṛṣṭa-virajo-’mbarāḥ
nara-yānair mahā-kośān
rathāśvān draviṇaṁ mahāt
Sinônimos
tāḥ — a elas; prāhiṇot — enviou; dvāravatīm — a Dvārakā; su-mṛṣṭa — bem limpas; virajaḥ — imaculadas; ambarāḥ — com roupas; nara-yānaiḥ — por meio de transporte humano (palanquins); mahā — grandes; kośān — tesouros; ratha — quadrigas; aśvān — e cavalos; draviṇam — riqueza; mahat — vasta.
Tradução
O Senhor mandou vestir as princesas com trajes limpos e imaculados e, então, enviou-as em palanquins para Dvārakā, junto de grandes tesouros, tais como quadrigas, cavalos e outros artigos de valor.
Texto
catur-dantāṁs tarasvinaḥ
pāṇḍurāṁś ca catuḥ-ṣaṣṭiṁ
prerayām āsa keśavaḥ
Sinônimos
airāvata — de Airāvata, o transportador do senhor Indra; kula — da família; ibhān — elefantes; ca — também; catuḥ — quatro; dantān — com presas; tarasvinaḥ — velozes; pāṇḍurān — brancos; ca — e; catuḥ-ṣaṣṭim — sessenta e quatro; prerayām āsa — despachou; keśavaḥ — o Senhor Kṛṣṇa.
Tradução
O Senhor Kṛṣṇa também despachou sessenta e quatro velozes elefantes brancos, descendentes de Airāvata, que ostentavam quatro presas cada um.
Texto
dattvādityai ca kuṇḍale
pūjitas tridaśendreṇa
mahendryāṇyā ca sa-priyaḥ
pārījātaṁ garutmati
āropya sendrān vibudhān
nirjityopānayat puram
Sinônimos
gatvā — indo; sura — dos semideuses; indra — do rei; bhavanam — à morada; dattvā — dando; adityai — a Aditi, a mãe de Indra; ca — e; kuṇḍale — seus brincos; pūjitaḥ — adorado; tridaśa — dos trinta (principais semideuses); indreṇa — pelo chefe; mahā-indryāṇyā — pela esposa do senhor Indra; ca — e; sa — junto de; priyaḥ — Sua amada (rainha Satyabhāmā); coditaḥ — incitado; bhāryayā — por Sua esposa; utpāṭya — arrancando pela raiz; pārijātam — a árvore pārijāta; garutmati — sobre Garuḍa; āropya — colocando; sa-indrān — incluindo Indra; vibudhān — os semideuses; nirjitya — derrotando; upānayat — levou; puram — para Sua cidade.
Tradução
O Senhor, depois disso, foi para a morada de Indra, o rei dos semideuses, e deu a mãe Aditi seus brincos. Ali, Indra e sua esposa adoraram Kṛṣṇa e Sua amada consorte Satyabhāmā. Então, a pedido de Satyabhāmā, o Senhor arrancou a árvore pārijāta celestial e colocou-a no dorso de Garuḍa. Após derrotar Indra e todos os outros semideuses, Kṛṣṇa levou a árvore pārijāta para Sua capital.
Texto
gṛhodyānopaśobhanaḥ
anvagur bhramarāḥ svargāt
tad-gandhāsava-lampaṭāḥ
Sinônimos
sthāpitaḥ — estabelecida; satyabhāmāyāḥ — de Satyabhāmā; gṛha — da residência; udyāna — o jardim; upaśobhanaḥ — embelezando; anvaguḥ — seguiram; bhramarāḥ — abelhas; svargāt — dos céus; tat — por sua; gandha — fragrância; āsava — e doce seiva; lampaṭāḥ — ávidas.
Tradução
Uma vez plantada, a árvore pārijāta embelezou o jardim do palácio da rainha Satyabhāmā. Abelhas seguiram a árvore todo o caminho desde os céus, ávidas por sua fragrância e doce seiva.
Texto
pādau spṛśann acyutam artha-sādhanam
siddhārtha etena vigṛhyate mahān
aho surāṇāṁ ca tamo dhig āḍhyatām
Sinônimos
yayāca — ele (o senhor Indra) suplicou; ānamya — prostrando-se; kirīṭa — de sua coroa; koṭibhiḥ — com as pontas; pādau — Seus pés; spṛśan — tocando; acyutam — ao Senhor Kṛṣṇa; artha — o propósito (de Indra); sādhanam — que cumpriu; siddha — cumprido; arthaḥ — cujo propósito; etena — com Ele; vigṛhyate — disputa; mahān — a grande alma; aho — de fato; surāṇām — dos semideuses; ca — e; tamaḥ — a ignorância; dhik — condenação; āḍhyatām — sobre a riqueza deles.
Tradução
Mesmo depois que Indra se prostrou diante do Senhor Acyuta, tocou-Lhe os pés com a ponta de sua coroa e suplicou ao Senhor que satisfizesse seu desejo, aquele insigne semideus, tendo alcançado seu propósito, decidiu lutar contra o Senhor Supremo. Que ignorância paira entre os deuses! Para o inferno a sua opulência!
Comentário
SIGNIFICADO—É bem sabido que a riqueza e o poder materiais tendem a gerar arrogância, em razão do que uma vida opulenta pode muitas vezes constituir a estrada real para o inferno.
Texto
nānāgāreṣu tāḥ striyaḥ
yathopayeme bhagavān
tāvad-rūpa-dharo ’vyayaḥ
Sinônimos
atha u — e então; muhūrte — no momento auspicioso; ekasmin — mesmo; nānā — várias; agāreṣu — em residências; tāḥ — aquelas; striyaḥ — mulheres; yathā — de modo conveniente; upayeme — casou; bhagavān — o Senhor Supremo; tāvat — tantas; rūpa — formas; dharaḥ — assumindo; avyayaḥ — o imperecível.
Tradução
Então, a imperecível Personalidade Suprema, assumindo uma forma distinta para cada noiva, casou-Se devidamente com todas as princesas ao mesmo tempo, cada uma em seu próprio palácio.
Comentário
SIGNIFICADO—Conforme explica Śrīla Śrīdhara Svāmī, a palavra yathā, neste contexto, indica que cada casamento foi devidamente realizado. Isso quer dizer que todos os parentes do Senhor, incluindo Sua mãe Devakī, apareceram em cada palácio e assistiram a cada casamento. Visto que todos esses casamentos aconteceram ao mesmo tempo, este episódio foi com certeza uma manifestação da inconcebível potência do Senhor.
Quando o Senhor Kṛṣṇa faz algo, Ele o faz com o mais apurado estilo. Logo, não é de estranhar que o Senhor tenha aparecido ao mesmo tempo em 16.100 cerimônias de casamento que aconteciam em 16.100 palácios reais, acompanhado em cada palácio por todos os Seus parentes. De fato, é desta maneira que se esperaria que a Suprema Personalidade de Deus procedesse com Seus afazeres. Afinal, Ele não é um ser humano comum.
Śrīla Śrīdhara Svāmī explica ainda que, nesta ocasião em particular, o Senhor manifestou Sua forma original em cada um de Seus palácios. Em outras palavras, para participar nos votos de casamento, Ele manifestou formas idênticas (prakāśa) em todos os palácios.
Texto
nirasta-sāmyātiśayeṣv avasthitaḥ
reme ramābhir nija-kāma-sampluto
yathetaro gārhaka-medhikāṁś caran
Sinônimos
gṛheṣu — nas residências; tāsām — delas; anapāyī — nunca deixando; atarka — inconcebíveis; kṛt — realizando feitos; nirasta — que refutavam; sāmya — igualdade; atiśayeṣu — e superioridade; avasthitaḥ — permanecendo; reme — desfrutava; ramābhiḥ — com as mulheres agradáveis; nija — dEle; kāma — no prazer; samplutaḥ — absorto; yathā — como; itaraḥ — qualquer outro homem; gārhaka-medhikān — os deveres da vida de casado; caran — cumprindo.
Tradução
O Senhor, realizador de feitos inconcebíveis, permanecia constantemente nos palácios de cada uma de Suas rainhas, os quais não eram igualados nem superados por nenhuma outra residência. Ali, embora plenamente satisfeito em Si mesmo, Ele desfrutava com Suas agradáveis esposas e, tal qual um marido comum, cumpria Seus deveres domésticos.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra atarka-kṛt é significativa nesta passagem. Tarka quer dizer “lógica”, e atarka significa “o que está além da lógica”. O Senhor pode realizar (kṛt) aquilo que está além da lógica mundana e é, portanto, inconcebível. Ainda assim, as atividades do Senhor podem ser apreciadas e compreendidas até um ponto significativo por aqueles que se rendem a Ele. Esse é o segredo de bhakti, a devoção amorosa ao Senhor Supremo.
Śrīla Śrīdhara Svāmī comenta que o Senhor estava sempre em casa, exceto quando tinha de sair para cumprir deveres domésticos comuns. E Śrīla Viśvanātha Cakravartī ressalta que, como o Senhor Nārāyaṇa desfruta com apenas uma deusa da fortuna nos planetas Vaikuṇṭha e, em Dvārakā, Kṛṣṇa desfruta com milhares de rainhas, deve-se considerar Dvārakā como superior a Vaikuṇṭha. A esse respeito, Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita a seguinte passagem do Skanda Purāṇa:
gopyas tawra samāgatāḥ
haṁsa eva mataḥ kṛṣṇaḥ
paramātmā janārdanaḥ
ṣoḍaśaiva prakīṛtitāḥ
candra-rūpī mataḥ kṛṣṇaḥ
kalā-rūpās tu tāḥ smṛtāḥ
mālinī ṣoḍaśī kalā
ṣoḍaśaiva kalā yāsu
gopī-rūpā varāṅgane
sahasreṇa pṛthak pṛthak
“Naquele lugar, dezesseis mil gopīs se reuniram com Kṛṣṇa, que é considerado o Supremo, a Superalma, o abrigo de todos os seres vivos. Essas gopīs são Suas célebres dezesseis potências, ó deusa. Kṛṣṇa é como a Lua, e as gopīs são como suas fases, e todo o contingente das gopīs é como a sequência completa das dezesseis fases da Lua. Cada uma dessas dezesseis divisões de gopīs, minha querida Varāṅganā, subdivide-se em mil partes.”
Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita ainda a seção Kārttika-māhātmya do Padma Purāṇa, kaiśore gopa-kanyās tā yauvane rāja-kanyakāḥ: “Aquelas que eram filhas de vaqueiros em sua tenra juventude tornaram-se princesas reais em sua maturidade.” O ācārya acrescenta: “Portanto, assim como o Senhor de Dvārakā é uma expansão plenária do sumamente completo Senhor de Śrī Vṛndāvana, da mesma forma Suas principais rainhas são expansões plenárias de Suas potências de prazer sumamente completas, as gopīs.
Texto
brahmādayo ’pi na viduḥ padavīṁ yadīyām
bhejur mudāviratam edhitayānurāga
hāsāvaloka-nava-saṅgama-jalpa-lajjāḥ
Sinônimos
ittham — dessa maneira; ramā-patim — Senhor da deusa da fortuna; avāpya — obtendo; patim — como esposo; striyaḥ — as mulheres; tāḥ — elas; brahmā-ādayaḥ — o senhor Brahmā e outros semideuses; api — mesmo; na viduḥ — não conhecem; padavīm — os meios de alcançar; yadīyām — a quem; bhejuḥ — partilhavam; mudā — com prazer; aviratam — incessantemente; edhitayā — aumentando; anurāga — atração amorosa; hāsa — sorridentes; avaloka — olhares; nava — sempre nova; saṅgama — associação; jalpa — conversas alegres; lajjāḥ — e timidez.
Tradução
Dessa maneira, aquelas mulheres obtiveram como esposo o amo da deusa da fortuna, embora nem mesmo eminentes semideuses como Brahmā saibam como aproximar-se dEle. Com prazer sempre crescente, elas experimentavam atração amorosa por Ele, trocavam olhares sorridentes com Ele e reciprocavam com Ele em intimidade sempre renovada, cheia de gracejos e timidez feminina.
Texto
tāmbūla-viśramaṇa-vījana-gandha-mālyaiḥ
keśa-prasāra-śayana-snapanopahāryaiḥ
dāsī-śatā api vibhor vidadhuḥ sma dāsyam
Sinônimos
pratyudgama — aproximando-se; āsana — oferecendo um assento; vara — de primeira classe; arhaṇa — adoração; pāda — Seus pés; śauca — lavando; tāmbūla — (oferecendo) preparação de noz de bétel; viśramaṇa — ajudando-O a relaxar (massageando-Lhe os pés); vījana — abanando; gandha — (oferecendo) substâncias aromáticas; mālyaiḥ — e guirlandas de flores; keśa — Seu cabelo; prasāra — arrumando; śayana — colocando para dormir; snapana — banhando; upahāryaiḥ — e presenteando; dāsī — criadas; śatāḥ — tendo centenas de; api — embora; vibhoḥ — para o Senhor onipotente; vidadhuḥ sma — executavam; dāsyam — serviço.
Tradução
Embora tivessem cada uma centenas de criadas, as rainhas do Senhor Supremo preferiam servi-lO pessoalmente aproximando-se dEle com humildade, oferecendo-Lhe um assento, adorando-O com excelente parafernália, banhando e massageando-Lhe os pés, dando-Lhe pān para mascar, abanando-O, ungindo-O com pasta de sândalo aromático, adornando-O com guirlandas de flores, penteando-Lhe o cabelo, preparando Sua cama, banhando-O e ofertando-Lhe vários presentes.
Comentário
Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda referentes ao décimo canto, quinquagésimo nono capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Extermínio do Demônio Naraka”.