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Capítulo Dezesseis

Como Parīkṣit Recebeu a Era de Kali

Texto

sūta uvāca
tataḥ parīkṣid dvija-varya-śikṣayā
mahīṁ mahā-bhāgavataḥ śaśāsa ha
yathā hi sūtyām abhijāta-kovidāḥ
samādiśan vipra mahad-guṇas tathā

Sinônimos

sūtaḥ uvāca — Sūta Gosvāmī disse; tataḥ — depois disso; parīkṣit — Mahārāja Parīkṣit; dvija-varya — os grandes brāhmaṇas duas vezes nascidos; śikṣayā pelas instruções deles; mahīm — a Terra; mahā-bhāgavataḥ — o grande devoto; śaśāsa — governou; ha — no passado; yathā como eles o disseram; hi — certamente; sūtyām — na ocasião de seu nascimento; abhijāta-kovidāḥ — competentes astrólogos na ocasião do nascimento; samādiśan — deram suas opiniões; vipra — ó brāhmaṇas; mahat-guṇaḥ — grandes qualidades; tathā fiel a isso.

Tradução

Sūta Gosvāmī disse: Ó brāhmaṇas eruditos, Mahārāja Parīkṣit, então, começou a governar o mundo como um grande devoto do Senhor, sob as instruções dos melhores entre os brāhmaṇas duas vezes nascidos. Ele governou com aquelas grandes qualidades que foram preditas por competentes astrólogos na ocasião de seu nascimento.

Comentário

SIGNIFICADO—Por ocasião do nascimento de Mahārāja Parīkṣit, os competentes brāhmaṇas astrólogos predisseram algumas de suas qualidades. Mahārāja Parīkṣit desenvolveu todas essas qualidades, sendo grande devoto do Senhor. A verdadeira qualificação de alguém é tornar-se devoto do Senhor, e, gradualmente, todas as boas qualidades dignas de serem possuídas desenvolvem-se nele. Mahārāja Parīkṣit era um mahā-bhāgavata, ou devoto de primeira classe, que era não somente bem versado na ciência da devoção, como também capaz de converter outras pessoas em devotos através de suas instruções transcendentais. Portanto, Mahārāja Parīkṣit era devoto de primeira ordem, e assim ele costumava consultar grandes sábios e brāhmaṇas eruditos, que podiam aconselhá-lo através dos śāstras sobre a maneira de conduzir a administração do estado. Esses grandes reis eram mais responsáveis que os eletivos líderes executivos modernos, porque eles agradavam as grandes autoridades ao seguir suas instruções, deixadas nas literaturas védicas. Não havia necessidade que tolos inexperientes baixassem diariamente um novo projeto de lei e, de acordo com as conveniências, o alterasse repetidamente para servir a algum propósito. As regras e regulações já estavam estabelecidas por grandes sábios como Manu, Yājnavalkya, Parāśara e outros sábios liberados, e os decretos eram todos apropriados a todas as eras em todos os lugares. Portanto, as regras e regulações eram padronizadas e sem falhas ou defeitos. Reis como Mahārāja Parīkṣit tinham sua junta de conselheiros, e todos os membros daquela junta eram ou grandes sábios ou brāhmaṇas de primeira ordem. Eles não aceitavam nenhum salário, nem dele tinham qualquer necessidade. O estado obtinha o melhor conselho sem nenhuma despesa. Eles próprios eram sama-darśī, iguais com todos, tanto homens quanto animais. Eles não tinham o hábito de aconselhar o rei a proteger o homem e de instrui-lo a matar os pobres animais. Esses membros conselheiros não eram tolos ou representantes para organizar um paraíso de tolos. Eram todos almas autorrealizadas, e sabiam perfeitamente bem que todos os seres vivos do estado seriam felizes, tanto nesta vida quanto na próxima. Eles não estavam interessados na filosofia hedonista de comer, beber, acasalar-se e desfrutar. Eram filósofos na verdadeira acepção da palavra, e sabiam bem qual é a missão da vida humana. Sob a égide desses compromissos, a junta de conselheiros do rei dava orientações corretas, e o rei, ou líder executivo, sendo ele próprio um devoto qualificado do Senhor, as seguia minuciosamente, para o bem-estar do estado. O estado, nos dias de Mahārāja Yudhiṣṭhira ou Mahārāja Parīkṣit, era um estado próspero, no verdadeiro sentido do termo, porque ninguém era infeliz ali, fosse homem ou animal. Mahārāja Parīkṣit foi o rei ideal para uma situação de segurança social no mundo.

Texto

sa uttarasya tanayām
upayema irāvatīm
janamejayādīṁś caturas
tasyām utpādayat sutān

Sinônimos

saḥ ele; uttarasya — do rei Uttara; tanayām — filha; upayeme casou-se; irāvatīm — Irāvatī; janamejaya-ādīn encabeçados por Mahārāja Janamejaya; caturaḥ — quatro; tasyām — nela; utpādayat — gerou; sutān — filhos.

Tradução

O rei Parīkṣit se casou com a filha do rei Uttara e gerou quatro filhos, encabeçados por Mahārāja Janamejaya.

Comentário

SIGNIFICADO—Mahārāja Uttara era filho de Virāṭa e tio materno de Mahārāja Parīkṣit. Irāvatī, sendo filha de Mahārāja Uttara, era prima-irmã de Mahārāja Parīkṣit; permitia-se, porém, que primos-irmãos e primas-irmãs se casassem se eles não pertencessem ao mesmo gotra, ou família. No sistema védico de casamento, a importância do gotra, ou família, era ressaltada. Arjuna também se casou com Subhadrā, embora ela fosse sua prima-irmã por parte de mãe.

Janamejaya: Um dos reis rājarṣis e o famoso filho de Mahārāja Parīkṣit. O nome de sua mãe era Irāvatī, ou, segundo alguns, Mādravatī. Mahārāja Janamejaya gerou dois filhos, chamados Jñātānīka e Śaṅkukarṇa. Celebrou diversos sacrifícios no local de peregrinação de Kurukṣetra, e teve três irmãos mais novos chamados Śrutasena, Ugrasena e Bhīmasena II. Invadiu Takṣaśilā (Ajanta) e decidiu vingar-se da maldição injusta sobre seu grande pai, Mahārāja Parīkṣit. Executou um grande sacrifício chamado sarpa-yajña, para matar a raça de serpentes, inclusive a takṣaka, que havia mordido fatalmente seu pai. A pedido de muitos sábios e semideuses influentes, ele teve que mudar sua decisão de matar a raça de serpentes, mas, a despeito de interromper o sacrifício, ele satisfez a todos os interessados no sacrifício recompensando-os adequadamente. Mahāmuni Vyāsadeva também esteve presente na cerimônia, e narrou pessoalmente a história da Guerra de Kurukṣetra diante do rei. Mais tarde, por ordem de Vyāsadeva, seu discípulo Vaiśampāyana narrou diante do rei o tema do Mahābhārata. Ele ficou muito impressionado com a morte prematura de seu grande pai e estava muito ansioso por revê-lo; por isso, expressou seu desejo diante do grande sábio Vyāsadeva. Vyāsadeva satisfez, então, seu desejo. Seu pai apresentou-se diante dele, e ele adorou tanto seu pai quanto Vyāsadeva com grande pompa e respeito. Estando plenamente satisfeito, ele deu, com muita magnanimidade, caridade aos brāhmaṇas presentes no sacrifício.

Texto

ājahārāśva-medhāṁs trīn
gaṅgāyāṁ bhūri-dakṣiṇān
śāradvataṁ guruṁ kṛtvā
devā yatrākṣi-gocarāḥ

Sinônimos

ājahāra realizou; aśva-medhān sacrifícios de cavalo; trīn — três; gaṅgāyām a margem do Ganges; bhūri — suficientemente; dakṣiṇān recompensas; śāradvatam — a Kṛpācārya; gurum — mestre espiritual; kṛtvā tendo escolhido; devāḥ os semideuses; yatra — em que; akṣi — olhos; gocarāḥ — ao alcance de.

Tradução

Após escolher Kṛpācārya como o mestre espiritual que o orientaria, Mahārāja Parīkṣit realizou três sacrifícios de cavalo às margens do Ganges. Eles foram executados com suficientes recompensas aos participantes. E naqueles sacrifícios, mesmo o homem comum podia ver os semideuses.

Comentário

SIGNIFICADO—Depreende-se por este verso que a viagem interplanetária por parte dos cidadãos dos planetas superiores é fácil. Em muitas afirmações no Bhāgavatam, temos observado que os semideuses do céu costumavam visitar esta Terra para participar de sacrifícios realizados por reis e imperadores influentes. Aqui também encontramos que, durante a ocasião da cerimônia do sacrifício de cavalo de Mahārāja Parīkṣit, os semideuses eram visíveis mesmo pelo homem comum, graças à cerimônia sacrificatória. Geralmente, os semideuses não são visíveis pelos homens comuns, assim como o Senhor não é visível. Porém, assim como o Senhor, por Sua misericórdia sem causa, desce para ser visível ao homem comum, de modo semelhante os semideuses também se tornam visíveis ao homem comum por graça deles mesmos. Embora os seres celestiais não sejam visíveis aos olhos nus dos habitantes desta Terra, foi devido à influência de Mahārāja Parīkṣit que os semideuses também concordaram em tornar-se visíveis. Os reis costumavam gastar prodigamente durante esses sacrifícios, assim como uma nuvem distribui chuvas. Uma nuvem nada mais é que outra forma de água, ou, em outras palavras, as águas da terra transformam-se em nuvens. Analogamente, a caridade feita pelos reis em tais sacrifícios era apenas outra forma dos impostos coletados junto aos cidadãos. Porém, assim como as chuvas caem muito prodigamente e parecem ser mais do que o necessário, a caridade feita por tais reis também parece ser mais do que os cidadãos necessitam. Os cidadãos satisfeitos jamais organizariam agitação contra o rei, e assim não havia necessidade de mudar o estado monárquico.

Mesmo um rei como Mahārāja Parīkṣit necessitava de um mestre espiritual que o orientasse. Sem tal orientação, ninguém pode progredir na vida espiritual. O mestre espiritual tem que ser genuíno, e aquele que deseja ter autorrealização deve aproximar-se de um mestre espiritual fidedigno e abrigar-se nele para alcançar o verdadeiro sucesso.

Texto

nijagrāhaujasā vīraḥ
kaliṁ digvijaye kvacit
nṛpa-liṅga-dharaṁ śūdraṁ
ghnantaṁ go-mithunaṁ padā

Sinônimos

nijagrāha — punido suficientemente; ojasā pela intrepidez; vīraḥ — herói valente; kalim — a Kali, o senhor da era; digvijaye — a caminho de conquistar o mundo; kvacit — certa vez; nṛpa-liṅga-dharam — aquele que se faz passar por rei; śūdram — a classe inferior; ghnantam — ferindo; go-mithunam — uma vaca e um touro; padā na perna.

Tradução

Certa vez, quando Mahārāja Parīkṣit estava a caminho de conquistar o mundo, ele viu o senhor de Kali-yuga, que era inferior a um śūdra, disfarçado de rei e ferindo as pernas de um touro e uma vaca. O rei capturou-o de imediato para puni-lo o suficiente.

Comentário

SIGNIFICADO—O propósito da saída de um rei para conquistar o mundo não é o de autoengrandecimento. Mahārāja Parīkṣit saiu para conquistar o mundo após sua ascensão ao trono, mas isso não foi com o propósito de agressão a outros estados. Ele era o imperador do mundo, e todos os pequenos estados já estavam sob seu regime. Seu propósito ao sair era ver como andavam as coisas em termos de um estado divino. O rei, sendo o representante do Senhor, tem de executar devidamente a vontade do Senhor. Não se trata de autoengrandecimento. Assim, logo que Mahārāja Parīkṣit viu que um homem de classe inferior, disfarçado como rei, estava ferindo as pernas de uma vaca e de um touro, ele imediatamente o prendeu e o puniu. O rei não pode tolerar insultos ao mais importante dos animais, a vaca, nem pode tolerar desrespeito ao mais importante dos homens, o brāhmaṇa. Civilização humana significa avanço a serviço da cultura bramânica, e, para mantê-la, a proteção às vacas é essencial. Há um milagre no leite, pois ele contém todas as vitaminas necessárias à manutenção das condições psicológicas humanas para realizações superiores. A cultura bramânica pode avançar somente quando o homem é educado a desenvolver a qualidade da bondade, e, para isso, há uma necessidade primordial de alimentos preparados com leite, frutas e cereais. Mahārāja Parīkṣit ficou atônito ao ver que um śūdra negro, vestido como se fosse governante, estava maltratando uma vaca, o animal mais importante na sociedade humana.

A era de Kali significa má administração e desavença. E a causa fundamental de toda a má administração e desavença é que homens indignos, com espírito de homens da classe inferior, que não têm nenhuma ambição superior na vida, tomam a direção da administração do estado. Tais homens no posto de rei, com certeza, ferem primeiramente a vaca e a cultura bramânica, arrastando, desse modo, toda a sociedade para o inferno. Mahārāja Parīkṣit, treinado como era, descobriu esta causa fundamental de toda a desavença no mundo. Assim, ele quis detê-la desde o seu início.

Texto

śaunaka uvāca
kasya hetor nijagrāha
kaliṁ digvijaye nṛpaḥ
nṛdeva-cihna-dhṛk śūdra-
ko ’sau gāṁ yaḥ padāhanat
tat kathyatāṁ mahā-bhāga
yadi kṛṣṇa-kathāśrayam

Sinônimos

śaunakaḥ uvāca — Śaunaka Ṛṣi disse; kasya — por que; hetoḥ — razão; nijagrāha — punido o bastante; kalim — o senhor da era de Kali; digvijaye — durante a ocasião de sua viagem pelo mundo; nṛpaḥ — o rei; nṛ-deva — pessoa real; cihna-dhṛk — decorado como; śūdrakaḥ — mais baixo dos śūdras; asau — ele; gām — vaca; yaḥ — aquele que; padā ahanat ferida em sua perna; tat — tudo que; kathyatām — por favor, descreve; mahā-bhāga — ó afortunadíssimo; yadi — se, contudo; kṛṣṇa — sobre Kṛṣṇa; kathā-āśrayam — relacionado com Seus tópicos.

Tradução

Śaunaka Ṛṣi indagou: Por que Mahārāja Parīkṣit apenas o puniu, uma vez que ele era o mais baixo dos śūdras, tendo se vestido como se fosse rei e ferido uma vaca em sua perna? Por favor, descreve todos esses incidentes se eles têm relação com os tópicos sobre o Senhor Kṛṣṇa.

Comentário

SIGNIFICADO—Śaunaka e os ṛṣis ficaram atônitos ao ouvir que o piedoso Mahārāja Parīkṣit apenas puniu o réu, mas não o matou. Isso sugere que um rei piedoso como Mahārāja Parīkṣit deveria ter matado imediatamente um ofensor que queria enganar o público vestindo-se como rei e, ao mesmo tempo, ousando insultar o mais puro dos animais, uma vaca. Os ṛṣis naqueles dias, contudo, não podiam sequer imaginar que, nos dias avançados da era de Kali, os mais baixos dos śūdras seriam eleitos como administradores e abririam matadouros organizados para a matança de vacas. De qualquer forma, embora ouvir sobre um śūdraka que era trapaceiro e insultador de uma vaca, não fosse muito interessante para os grandes ṛṣis, não obstante eles queriam ouvir sobre isso para ver se o evento tinha alguma relação com o Senhor Kṛṣṇa. Eles estavam apenas interessados nos tópicos sobre o Senhor Kṛṣṇa, pois qualquer coisa relacionada com a narração sobre Kṛṣṇa é digna de se ouvir. No Bhāgavatam, há muitos tópicos sobre sociologia, política, economia, atividades culturais etc., mas todos eles estão relacionados com Kṛṣṇa, e, portanto, todos eles são dignos de serem ouvidos. Kṛṣṇa é o ingrediente purificador em todos os temas, não importando quais sejam. No mundo mortal, tudo é impuro por ser produto das três qualidades mundanas. Contudo, Kṛṣṇa é o agente purificador.

Texto

athavāsya padāmbhoja-
makaranda-lihāṁ satām
kim anyair asad-ālāpair
āyuṣo yad asad-vyayaḥ

Sinônimos

athavā de outra forma; asya — de Seus (do Senhor Kṛṣṇa); pada-ambhoja — pés de lótus; makaranda-lihām — daqueles que lambem o mel dessa flor de lótus; satām — daqueles que se destinam a existir eternamente; kim anyaiḥ qual é a utilidade de qualquer outra coisa; asat — ilusórios; ālāpaiḥ — tópicos; āyuṣaḥ — da duração da vida; yat — aquilo que é; asat-vyayaḥ — desnecessário desperdício de vida.

Tradução

Os devotos do Senhor estão habituados a lamber o mel disponível nos pés de lótus do Senhor. Qual seria a utilidade de tópicos que apenas contribuíssem para desperdiçar nossa preciosa vida?

Comentário

SIGNIFICADO—Tanto o Senhor Kṛṣṇa quanto Seus devotos estão no plano transcendental; portanto, os tópicos sobre o Senhor Kṛṣṇa e Seus devotos puros são igualmente bons. A Guerra de Kurukṣetra está cheia de política e diplomacia, mas, porque os tópicos estão relacionados com o Senhor Kṛṣṇa, a Bhagavad-gitā é, portanto, adorada em todo o mundo. Não há necessidade de erradicar a política, economia, sociologia etc., que são mundanas para os mundanos. Para um devoto puro, que está realmente relacionado com o Senhor, essas coisas mundanas são transcendentais se ajustadas ao Senhor ou Seus devotos puros. Já ouvimos e falamos sobre as atividades dos Pāṇḍavas, e agora estamos lidando com os tópicos sobre Mahārāja Parīkṣit, mas, porque todos esses tópicos estão relacionados com o Senhor Śrī Kṛṣṇa, todos eles são transcendentais, e os devotos puros têm grande interesse em ouvi-los. Já discutimos este assunto em relação às orações de Bhīṣmadeva.

Nossa duração de vida não é muito longa, e não há certeza de quando receberemos ordem de deixar tudo para partirmos rumo ao próximo estágio. Desse modo, é nosso dever zelar para que nenhum momento de nossa vida seja desperdiçado com tópicos que não estão relacionados com o Senhor Kṛṣṇa. Qualquer tópico, por mais agradável que seja, não é digno de ser ouvido se está desprovido de sua relação com Kṛṣṇa.

O planeta espiritual, Goloka Vṛndāvana, a morada eterna do Senhor Kṛṣṇa, tem o formato do verticilo de uma flor de lótus. Mesmo quando o Senhor desce a qualquer um dos planetas mundanos, Ele o faz manifestando Sua própria morada como ela é. Assim, Seus pés permanecem sempre sobre o mesmo grande verticilo da flor de lótus. Além disso, Seus pés são tão belos como a flor de lótus. Por isso se diz que o Senhor Kṛṣṇa tem pés de lotus.

Um ser vivo é eterno por constituição. Ele está, por assim dizer, no redemoinho de nascimentos e mortes devido a seu contato com a energia material. Livre de tal energia material, uma entidade viva se libera e se torna apta a voltar ao lar, voltar ao Supremo. Aqueles que querem viver para sempre, sem mudar seus corpos materiais, não devem desperdiçar o tempo precioso com outros tópicos além daqueles que se relacionam com o Senhor Kṛṣṇa e Seus devotos.

Texto

kṣudrāyuṣāṁ nṛṇām aṅga
martyānām ṛtam icchatām
ihopahūto bhagavān
mṛtyuḥ śāmitra-karmaṇi

Sinônimos

kṣudra — muito pequena; āyuṣām — da duração de vida; nṛṇām — dos seres humanos; aṅga — ó Sūta Gosvāmī; martyānām — daqueles que com certeza encontrarão a morte; ṛtam vida eterna; icchatām daqueles que o desejam; iha — aqui; upahūtaḥ chamado para estar presente; bhagavān — representando o Senhor; mṛtyuḥ — o controlador da morte, Yamarāja; śāmitra — suprimindo; karmaṇi — realizações.

Tradução

Ó Sūta Gosvāmī, há entre os homens aqueles que desejam libertar-se da morte e obter a vida eterna. Eles escapam do processo de matança ao chamarem o controlador da morte, Yamarāja.

Comentário

SIGNIFICADO—A entidade viva, à medida que se desenvolve, do estado de vida animal inferior até o estado de ser humano superior e, gradualmente, até uma inteligência superior, torna-se ansiosa por livrar-se das garras da morte. Os cientistas modernos tentam evitar a morte através do avanço do conhecimento fisioquímico, mas, pobres deles, o controlador da morte, Yamarāja, é tão cruel que não poupa nem mesmo a vida do próprio cientista. O cientista, que apresenta a teoria de deter a morte pelo avanço do conhecimento científico, torna-se ele próprio uma vítima da morte quando é chamado por Yamarāja. O que dizer, então, de deter a morte, se ninguém pode prorrogar o curto período de vida nem mesmo por uma fração de segundo? A única esperança de suspender o cruel processo de matança de Yamarāja é chamá-lo para ouvir e cantar o santo nome do Senhor. Yamarāja é um grande devoto do Senhor, e gosta de ser convidado para kīrtanas e sacrifícios pelos devotos puros, que estão constantemente ocupados no serviço devocional ao Senhor. Desse modo, os grandes sábios, encabeçados por Śaunaka e outros, convidaram Yamarāja a presenciar o sacrifício executado em Naimiṣāraṇya. Isso foi bom para aqueles que não queriam morrer.

Texto

na kaścin mriyate tāvad
yāvad āsta ihāntakaḥ
etad-arthaṁ hi bhagavān
āhūtaḥ paramarṣibhiḥ
aho nṛ-loke pīyeta
hari-līlāmṛtaṁ vacaḥ

Sinônimos

na — não; kaścit — qualquer pessoa; mriyate — morrerá; tāvat — desde que; yāvat — enquanto; āste — estiver presente; iha — aqui; antakaḥ — aquele que causa o fim da vida; etat — esta; artham — razão; hi — certamente; bhagavān — o representante do Senhor; āhūtaḥ — convidado; parama-ṛṣibhiḥ — pelos grandes sábios; aho — oh!; nṛ-loke — na sociedade humana; pīyeta — que bebam; hari-līlā — passatempos transcendentais do Senhor; amṛtam — néctar para a vida eterna; vacaḥ — narrações.

Tradução

Enquanto Yamarāja, que causa a morte de todos, estiver presente aqui, ninguém se encontrará com a morte. Os grandes sábios convidaram o controlador da morte, Yamarāja, que é o representante do Senhor. Os seres vivos que estão sob seu jugo devem tirar proveito disso ouvindo o néctar da imortalidade sob a forma desta narração dos passatempos transcendentais do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—Nenhum ser humano gosta de encontrar a morte, mas ninguém sabe como escapar da morte. O remédio mais seguro para evitar a morte é acostumar-se a ouvir os nectáreos passatempos do Senhor, conforme são sistematicamente narrados no texto do Śrīmad-Bhāgavatam. Aqui se aconselha, portanto, que qualquer ser humano que deseje libertar-se da morte deve adotar este método de vida recomendado pelos ṛṣis encabeçados por Śaunaka.

Texto

mandasya manda-prajñasya
vayo mandāyuṣaś ca vai
nidrayā hriyate naktaṁ
divā ca vyartha-karmabhiḥ

Sinônimos

mandasya dos preguiçosos; manda — mesquinha; prajñasya — de inteligência; vayaḥ — idade; manda curta; āyuṣaḥ — da duração de vida; ca — e; vai — exatamente; nidrayā dormindo; hriyate passa; naktam noite; divā — dia; ca — também; vyartha — inúteis; karmabhiḥ por atividades.

Tradução

Os seres humanos preguiçosos, com inteligência mesquinha e uma curta duração de vida, passam a noite dormindo e o dia fazendo atividades inúteis.

Comentário

SIGNIFICADO—Os menos inteligentes não conhecem o verdadeiro valor da forma humana de vida. A forma humana é uma dádiva especial da natureza material no decorrer de sua imposição de rigorosas leis de sofrimento sobre o ser vivo. É uma oportunidade de alcançar o bem supremo da vida, a saber, sair do enredamento de repetidos nascimentos e mortes. As pessoas inteligentes cuidam dessa importante dádiva, esforçando-se energicamente para sair do enredamento. Contudo, os menos inteligentes são preguiçosos e incapazes de dar valor à dádiva do corpo humano para alcançar a liberação do cativeiro material; eles ficam mais interessados no chamado desenvolvimento econômico e trabalham arduamente a vida inteira, simplesmente para o gozo dos sentidos do corpo temporário. O gozo dos sentidos também é permitido aos animais inferiores pela lei da natureza, e, dessa maneira, um ser humano também se destina a uma determinada quantidade de gozo dos sentidos, de acordo com sua vida passada ou presente. Porém, deve-se tentar compreender definitivamente que o gozo dos sentidos não é a meta última da vida humana. Aqui se diz que, durante o dia, trabalha-se “em vão” porque a meta nada mais é que o gozo dos sentidos. Podemos observar particularmente como o ser humano ocupa-se inutilmente nas grandes cidades e metrópoles industriais. Há muitas coisas fabricadas pela energia humana, mas todas elas se destinam ao gozo dos sentidos e não nos ajudam a sair do cativeiro material. E, após trabalhar arduamente durante o dia, um homem cansado ou dorme ou se ocupa em práticas sexuais à noite. Esse é o programa de vida civilizada materialista para as pessoas menos inteligentes. Aqui, portanto, elas são designadas como preguiçosas, desventuradas e de vida curta.

Texto

sūta uvāca
yadā parīkṣit kuru-jāṅgale ’vasat
kaliṁ praviṣṭaṁ nija-cakravartite
niśamya vārtām anatipriyāṁ tataḥ
śarāsanaṁ saṁyuga-śauṇḍir ādade

Sinônimos

sūtaḥ uvāca — Sūta Gosvāmī disse; yadā — quando; parīkṣit — Mahārāja Parīkṣit; kurujāṅgale – na capital do império Kuru; avasat — residia; kalim — os sintomas da era de Kali; praviṣṭam — entraram; nijacakravartite – dentro de sua jurisdição; niśamya — ouvindo assim; vārtām — notícia; anatipriyām – não muito agradável; tataḥ — a seguir; śarāsanam — arco e flechas; saṁyuga — tendo obtido uma oportunidade de; śauṇḍiḥ — atividades marciais; ādade — apanhou.

Tradução

Sūta Gosvāmī disse: Enquanto Mahārāja Parīkṣit residia na capital do império Kuru, os sintomas da era de Kali começaram a infiltrar-se dentro da jurisdição de seu estado. Quando ele soube disso, não considerou o assunto muito agradável. Isso lhe deu, contudo, uma oportunidade de lutar. Ele apanhou seu arco e flechas e preparou-se para atividades militares.

Comentário

SIGNIFICADO—A administração estadual de Mahārāja Parīkṣit era tão perfeita que ele podia ficar sentado pacificamente em sua capital. Ele, porém, recebeu a notícia de que os sintomas da era de Kali já haviam se infiltrado dentro da jurisdição de seu estado, e ele não gostou dessa notícia. Quais são os sintomas da era de Kali? Eles são (1) ligação ilícita com mulheres, (2) indulgência com comer carne, (3) intoxicação e (4) complacência em jogos. Era de Kali significa, literalmente, era das desavenças, e os quatro sintomas acima mencionados na sociedade humana são as causas fundamentais de todas as espécies de desavenças. Mahārāja Parīkṣit ouviu falar que algumas pessoas do estado já tinham adotado esses sintomas, e ele quis tomar medidas imediatas contra essas causas de inquietação. Isso significa que, pelo menos até o regime de Mahārāja Parīkṣit, esses sintomas de vida pública eram praticamente desconhecidos, e logo que eles foram levemente detectados, o rei quis desarraigá-los. A notícia não o agradou muito, mas, de certa maneira, o agradou, porque Mahārāja Parīkṣit obteve uma oportunidade de lutar. Não havia necessidade de lutar com os pequenos estados porque todos estavam pacificamente sob sua subordinação, mas os canalhas de Kali-yuga deram a seu espírito de luta uma oportunidade de se expor. Um kṣatriya perfeito fica sempre jubiloso quando obtém uma oportunidade de lutar, assim como um esportista fica ansioso quando surge a oportunidade de uma competição esportiva. Não é correto o argumento de que, na era de Kali, esses sintomas são predestinados. Se fosse assim, por que haveria preparação para lutar contra tais sintomas? Esses argumentos são apresentados por homens preguiçosos e desventurados. Na estação das chuvas, a chuva é predestinada, e, ainda assim, as pessoas tomam precauções para proteger-se. Analogamente, na era de Kali, os sintomas acima mencionados com toda a certeza se infiltrarão na vida social, mas é dever do estado salvar os cidadãos da associação dos agentes da era de Kali. Mahārāja Parīkṣit queria punir os canalhas que favoreciam os sintomas de Kali e, dessa forma, salvar os cidadãos inocentes que guardavam hábitos puros devido ao cultivo da religião. É dever do rei dar essa proteção, e Mahārāja Parīkṣit estava perfeitamente certo quando se preparou para lutar.

Texto

svalaṅkṛtaṁ śyāma-turaṅga-yojitaṁ
rathaṁ mṛgendra-dhvajam āśritaḥ purāt
vṛto rathāśva-dvipapatti-yuktayā
sva-senayā digvijayāya nirgataḥ

Sinônimos

su-alaṅkṛtam — muito bem decorada; śyāma — negros; turaṅga — cavalos; yojitam — equipada; ratham — quadriga; mṛga-indra — leão; dhvajam — embandeirada; āśritaḥ — sob a proteção; purāt — da capital; vṛtaḥ — cercado por; ratha — quadrigários; aśva — cavalaria; dvipapatti — elefantes; yuktayā — estando assim equipado; sva-senayā — juntamente com a infantaria; digvijayāya — com o propósito de conquistar; nirgataḥ — saiu.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit sentou-se em uma quadriga puxada por cavalos negros. Sua bandeira estava marcada com o emblema de um leão. Estando assim decorado e cercado por quadrigários, cavalaria, elefantes e soldados de infantaria, ele deixou a capital para efetuar conquistas em todas as direções.

Comentário

SIGNIFICADO—Mahārāja Parīkṣit distingue-se de seu avô Arjuna, pois cavalos negros puxavam sua quadriga, ao invés de brancos. Ele marcava sua bandeira com a marca de um leão, e seu avô marcava a sua com a marca de Hanumānjī. Um cortejo real como o de Mahārāja Parīkṣit, cercado por quadrigas bem decoradas, cavalaria, elefantes, infantaria e banda é não somente agradável aos olhos, mas também sinal de uma civilização que é estética mesmo na frente de batalha.

Texto

bhadrāśvaṁ ketumālaṁ ca
bhārataṁ cottarān kurūn
kimpuruṣādīni varṣāṇi
vijitya jagṛhe balim

Sinônimos

bhadrāśvam — Bhadrāśva; ketumālam — Ketumāla; ca — também; bhāratam — Bhārata; ca — e; uttarān — os países setentrionais; kurūn — o reino da dinastia Kuru; kimpuruṣa-ādīni — um país além do lado setentrional dos Himālayas; varṣāṇi — partes do planeta Terra; vijitya — conquistando, jagṛhe – exigiu; balim — força.

Tradução

Então, Mahārāja Parīkṣit conquistou todas as partes do planeta Terra – Bhadrāśva, Ketumāla, Bhārata, o Kuru setentrional, Kimpuruṣa etc. – e exigiu tributos de seus respectivos governantes.

Comentário

SIGNIFICADO—Bhadrāśva: É uma extensão de terra perto de Meru Parvata, que vai de Gandha-mādana Parvata até o oceano de água salgada. Há uma descrição deste varṣa no Mahābhārata (Bhīṣma-parva 7.14-18), que foi narrada por Sañjaya a Dhṛtarāṣṭra.

Mahārāja Yudhiṣṭhira também conquistou esse varṣa, de modo que a província foi anexada à jurisdição de seu império. Mahārāja Parīkṣit foi anteriormente declarado imperador de todas as terras governadas por seu avô, mas, ainda assim, teve que estabelecer sua supremacia enquanto esteve fora de sua capital para exigir tributos desses estados.

Ketumāla: Este planeta Terra é dividido em sete dvīpas por sete oceanos, e o dvīpa central, chamado Jambudvīpa, divide-se em nove varṣas, ou partes, por oito extensas montanhas. Bhārata-varṣa é um dos nove varṣas acima mencionados, e Ketumāla também é descrito como um dos varṣas acima. Afirma-se que, no varṣa Ketumāla, as mulheres são as mais belas. Esse varṣa também foi conquistado por Arjuna. Uma descrição dessa parte do mundo encontra-se no Mahābhārata (Sabhā 28.6).

Afirma-se que esta parte do mundo está situada no lado ocidental de Meru Parvata, e os habitantes dessa província costumavam viver até dez mil anos (Bhīṣma-parva 6.31). Os seres humanos que vivem nessa parte do globo são de cor dourada, e as mulheres assemelham-se aos anjos do céu. Os habitantes são livres de todos os tipos de doenças e aflições.

Bhārata-varṣa: Esta parte do mundo também é um dos nove varṣas de Jambudvīpa. Uma descrição de Bhārata-varṣa é dada no Mahābhārata (Bhīṣma-parva, capítulos 9 e l0).

No centro de Jambudvīpa, encontramos Ilāvṛta-varṣa, e, ao sul de llāvṛta-varṣa, está Hari-varṣa. A descrição desses varṣas é dada no Mahābhārata (Sabhā-parva 28.7-8) da seguinte maneira:

nagarāṁś ca vanāṁś caiva
nadīś ca vimalodakāḥ
puruṣān deva-kalpāṁś ca
nārīś ca priya-darśanāḥ
adṛṣṭa-pūrvān subhagān
sa dadarśa dhanañjayaḥ
sadanāni ca śubhrāṇi
nārīś cāpsarasāṁ nibhāḥ

Menciona-se aqui que as mulheres em ambos esses varṣas são belas, e algumas delas são iguais às apsarās, ou mulheres celestiais.

Uttarakuru: De acordo com a geografia védica, a porção mais setentrional de Jambudvīpa é chamada de Uttarakuru-varṣa. Ela está cercada pelo oceano de água salgada por três lados e é dividida pela montanha Śṛṅgavān a partir do Hiraṇmaya-varṣa.

Kimpuruṣa-varṣa: Afirma-se que está situado ao norte da grande montanha Himālaya, que tem oitenta mil milhas de extensão e altura e que cobre uma largura de dezesseis mil milhas. Essas partes do mundo também foram conquistadas por Arjuna (Sabhā 28.1-2). Os kimpuruṣas são descendentes de uma filha de Dakṣa. Quando Mahārāja Yudhiṣṭhira executou um yajña de sacrifício de cavalo, os habitantes desses países também estiveram presentes para participar do festival, e eles pagaram tributos ao imperador. Essa parte do mundo é chamada de Kimpuruṣa-varṣa, ou, às vezes, as províncias himalaias (Himavatī). Afirma-se que Śukadeva Gosvāmī nasceu nessas províncias himalaias e que ele foi a Bhārata-varṣa após cruzar os países himalaios.

Em outras palavras, Mahārāja Parīkṣit conquistou todo o mundo. Ele conquistou todos os continentes contíguos a todos os mares e oceanos em todas as direções, a saber, as partes oriental, ocidental, setentrional e meridional do mundo.

Texto

tatra tatropaśṛṇvānaḥ
sva-pūrveṣāṁ mahātmanām
pragīyamāṇaṁ ca yaśaḥ
kṛṣṇa-māhātmya-sūcakam
ātmānaṁ ca paritrātam
aśvatthāmno ’stra-tejasaḥ
snehaṁ ca vṛṣṇi-pārthānāṁ
teṣāṁ bhaktiṁ ca keśave
tebhyaḥ parama-santuṣṭaḥ
prīty-ujjṛmbhita-locanaḥ
mahā-dhanāni vāsāṁsi
dadau hārān mahā-manāḥ

Sinônimos

tatra tatra — onde quer que o rei visitasse; upaśṛṇvānaḥ — ele ouvia continuamente; sva-pūrveṣām — sobre seus próprios antepassados; mahā-ātmanām — que eram todos grandes devotos do Senhor; pragīyamāṇam — àqueles que estavam assim falando; ca — também; yaśaḥ — glórias; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; māhātmya — atos gloriosos; sūcakam — indicando; ātmānam — seu eu pessoal; ca — também; paritrātam — atirada; aśvatthāmnaḥ — de Aśvatthāmā; astra — arma; tejasaḥ raios poderosos; sneham — afeição; ca — também; vṛṣṇipārthānām – entre os descendentes de Vṛṣṇi e os de Pṛthā; teṣām — de todos eles; bhaktim — devoção; ca — também; keśave — ao Senhor Kṛṣṇa; tebhyaḥ — a eles; parama — extremamente; santuṣṭaḥ — satisfeitos; prīti — atração; ujjṛmbhita — agradavelmente abertos; locanaḥ — aquele que tem esses olhos; mahā-dhanāni — riquezas valiosas; vāsāṁsi — roupas; dadau — deu em caridade; hārān — colar; mahā-manāḥ — aquele que tem uma visão mais ampla.

Tradução

Onde quer que o rei visitasse, ele ouvia continuamente as glórias de seus grandes antepassados, que eram todos devotos do Senhor, e também ouvia sobre os gloriosos atos do Senhor Kṛṣṇa. Ele também ouvia como ele mesmo fora protegido pelo Senhor contra o poderoso calor da arma de Aśvatthāmā. As pessoas também mencionavam a grande afeição entre os descendentes de Vṛṣṇi e Pṛthā devido à grande devoção da última pelo Senhor Keśava. O rei, estando muito satisfeito com os cantadores dessas glórias, abriu seus olhos com grande satisfação. Magnânimo como era, teve prazer em presenteá-los com colares e roupas muito preciosos.

Comentário

SIGNIFICADO—Os reis e grandes personalidades do estado são presenteados com mensagens de boas-vindas. Esse é um sistema que vem de tempos imemoriais, e Mahārāja Parīkṣit, uma vez que era um dos famosos imperadores do mundo, também foi presenteado com mensagens de boas-vindas em todas as partes do mundo quando visitou aqueles lugares. O tema dessas mensagens de boas-vindas era Kṛṣṇa. Kṛṣṇa significa Kṛṣṇa e Seus devotos eternos, assim como o rei significa o rei e seus associados confidenciais.

Kṛṣṇa e Seus devotos imaculados não podem ser separados, de modo que glorificar o devoto significa glorificar o Senhor, e vice-versa. Mahārāja Parīkṣit não teria sentido prazer em ouvir as glórias de seus antepassados como Mahārāja Yudhiṣṭhira e Arjuna se elas não estivessem ligadas aos atos do Senhor Kṛṣṇa. O Senhor desce especialmente para libertar Seus devotos (paritrāṇāya sādhūnām). Os devotos são glorificados pela presença do Senhor porque eles não podem viver um momento sequer sem a presença do Senhor e Suas diferentes energias. O Senhor está presente para o devoto através de Seus atos e de Suas glórias, e, portanto, Mahārāja Parīkṣit sentia a presença do Senhor enquanto Ele era glorificado por Seus atos, especialmente quando ele foi salvo pelo Senhor no ventre de sua mãe. Os devotos do Senhor nunca estão em perigo, mas, no mundo material, que é cheio de perigos a cada passo, os devotos são aparentemente postos em situações perigosas, e, quando eles são salvos pelo Senhor, o Senhor é glorificado. O Senhor Kṛṣṇa não teria sido glorificado como o orador da Bhagavad-gītā se Seus devotos como os Pāṇḍavas não tivessem sido envolvidos no Campo de Batalha de Kurukṣetra. Todos esses atos do Senhor foram mencionados nas mensagens de boas-vindas, e Mahārāja Parīkṣit, com plena satisfação, recompensou aqueles que apresentaram essas mensagens. A diferença entre a oferta de mensagem de boas-vindas de hoje e daqueles dias é que, antigamente, as mensagens de boas-vindas eram oferecidas a pessoas como Mahārāja Parīkṣit. As mensagens de boas-vindas eram cheias de fatos e dados, e aqueles que ofereciam essas mensagens eram suficientemente recompensados, ao passo que, nos dias atuais, as mensagens de boas-vindas são oferecidas nem sempre com afirmações verdadeiras, mas oferecidas para agradar ao detentor do poder, e frequentemente estão cheias de mentiras bajuladoras. E raramente aqueles que apresentam tais mensagens de boas-vindas são recompensados pelo pobre homenageado.

Texto

sārathya-pāraṣada-sevana-sakhya-dautya-
vīrāsanānugamana-stavana-praṇāmān
snigdheṣu pāṇḍuṣu jagat-praṇatiṁ ca viṣṇor
bhaktiṁ karoti nṛ-patiś caraṇāravinde

Sinônimos

sārathya — aceitação do posto de quadrigário; pāraṣada — aceitação da presidência na assembleia do sacrifício Rājasūya; sevana — ocupando a mente constantemente no serviço ao Senhor; sakhya — considerar o Senhor como um amigo; dautya — aceitação do posto de mensageiro; vīra-āsana — aceitação do posto de vigia noturno com espada desembainhada; anugamana — seguindo os passos; stavana — oferecimento de orações; praṇāmān — oferecendo reverências; snigdheṣu — àqueles que são maleáveis à vontade do Senhor; pāṇḍuṣu — aos filhos de Pāṇḍu; jagat — o universal; praṇatim — aquele que é obedecido; ca — e; viṣṇoḥ — de Viṣṇu; bhaktim — devoção; karoti — fica; nṛ-patiḥ — o rei; caraṇa-aravinde — a Seus pés de lótus.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit ouviu que, por Sua misericórdia sem causa, o Senhor Kṛṣṇa [Viṣṇu], que é obedecido universalmente, prestou todos os tipos de serviços aos maleáveis filhos de Pāṇḍu, aceitando postos que iam desde quadrigário até presidente, mensageiro, amigo, vigia noturno, etc., de acordo com a vontade dos Pāṇḍavas, obedecendo-lhes como se fosse um servo e oferecendo reverências como uma pessoa de idade mais jovem. Quando ouviu isso, Mahārāja Parīkṣit encheu-se de devoção aos pés de lótus do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Kṛṣṇa é tudo para os devotos imaculados, como os Pāṇḍavas. O Senhor era, para eles, o Senhor Supremo, o mestre espiritual, a Deidade adorável, o guia, o quadrigário, o amigo, o servo, o mensageiro e tudo que eles pudessem conceber. E, assim, o Senhor também correspondia aos sentimentos dos Pāṇḍavas. Mahārāja Parīkṣit, sendo um devoto puro do Senhor, podia apreciar a reciprocação transcendental do Senhor aos sentimentos de Seus devotos, e, desse modo, ele próprio também ficou imerso nos relacionamentos do Senhor. Simplesmente apreciando os relacionamentos do Senhor com Seus devotos puros pode-se alcançar a salvação. Os relacionamentos do Senhor com Seus devotos parecem ser relações humanas comuns, mas aquele que os conhece de verdade torna-se imediatamente apto a voltar ao lar, voltar ao Supremo. Os Pāṇḍavas eram tão maleáveis à vontade do Senhor que podiam sacrificar qualquer quantidade de energia para o serviço ao Senhor, e, com essa determinação imaculada, eles podiam conseguir a misericórdia do Senhor em qualquer aspecto que desejassem.

Texto

tasyaivaṁ vartamānasya
pūrveṣāṁ vṛttim anvaham
nātidūre kilāścaryaṁ
yad āsīt tan nibodha me

Sinônimos

tasya — de Mahārāja Parīkṣit; evam — assim; vartamānasya — permanecendo absorto em tal pensamento; pūrveṣām — de seus antepassados; vṛttim — boas ocupações; anvaham — dia após dia; na — não; ati-dūre remoto; kila — realmente; āścaryam — espantoso; yat — aquilo; āsīt era; tat — que; nibodha — sabei; me — de mim.

Tradução

Agora podes ouvir de mim o que aconteceu enquanto Mahārāja Parīkṣit passava seus dias ouvindo sobre as boas ocupações de seus antepassados e absorvia-se em pensar neles.

Texto

dharmaḥ padaikena caran
vicchāyām upalabhya gām
pṛcchati smāśru-vadanāṁ
vivatsām iva mātaram

Sinônimos

dharmaḥ — a personalidade dos princípios religiosos; padā — perna; ekena — em uma só; caran — perambulando; vicchāyām — dominada pela sombra do pesar; upalabhya — tendo encontrado; gām — a vaca; pṛcchati sma — perguntou; aśruvadanām – com lágrimas no rosto; vivatsām — aquela que perdeu sua progênie; iva — como; mātaram — a mãe.

Tradução

A personalidade dos princípios religiosos, Dharma, estava perambulando sob a forma de um touro. E ele se encontrou com a personalidade da Terra sob a forma de uma vaca, que parecia tão pesarosa como uma mãe que perdeu seu filho. Ela tinha lágrimas em seus olhos, e a beleza de seu corpo se perdera. Então, o Dharma interrogou a Terra da seguinte maneira.

Comentário

SIGNIFICADO—O touro é o símbolo do princípio moral, e a vaca é a representante da Terra. Quando o touro e a vaca estão jubilosos, deve-se entender que a população do mundo também está jubilosa. A razão é que o touro ajuda na produção de cereais na lavoura, e a vaca dá leite, o alimento milagroso de valores nutritivos completos. A sociedade humana, portanto, mantém esses dois importantes animais muito cuidadosamente, para que eles possam vagar por toda parte com alegria. Atualmente, porém, nesta era de Kali, tanto o touro quanto a vaca estão sendo abatidos e comidos como alimento por uma classe de homens que não conhecem a cultura bramânica. O touro e a vaca podem ser protegidos para o bem de toda a sociedade humana simplesmente pela difusão da cultura bramânica como a perfeição máxima de todos os assuntos culturais. Através do avanço dessa cultura, a moral da sociedade mantém-se devidamente, e, dessa maneira, a paz e a prosperidade também são atingidas sem esforços dispersivos. Quando a cultura bramânica se deteriora, a vaca e o touro são maltratados, e as ações resultantes sobressaem através dos seguintes sintomas.

Texto

dharma uvāca
kaccid bhadre ’nāmayam ātmanas te
vicchāyāsi mlāyateṣan mukhena
ālakṣaye bhavatīm antarādhiṁ
dūre bandhuṁ śocasi kañcanāmba

Sinônimos

dharmaḥ uvāca — Dharma perguntou; kaccit — acaso; bhadre — madame; anāmayam — completamente forte e vigorosa; ātmanaḥ — eu; te — a ti; vicchāyā asi — pareces estar coberta com a sombra do pesar; mlāyatā — que escurece; īṣat — levemente; mukhena — pelo rosto; ālakṣaye — tu pareces; bhavatīm — a ti mesma; antarādhim — alguma doença interior; dūre — muito distante; bandhum — amigo; śocasi — pensando em; kañcana — alguém; amba — ó mãe.

Tradução

Dharma [na forma de um touro] perguntou: Madame, não estás forte e vigorosa? Por que estás coberta com a sombra do pesar? Parece, por teu rosto, que te enegreceste. Estás sofrendo de alguma doença interna, ou estás pensando em algum parente ausente em um lugar distante?

Comentário

SIGNIFICADO—A população do mundo nesta era de Kali está sempre cheia de ansiedades. Todos estão adoentados com algum tipo de padecimento. Nos próprios rostos das pessoas desta era, podemos encontrar o reflexo de suas mentes. Todos sentem a ausência de parentes que estão fora de casa. O sintoma particular da era de Kali é que nenhuma família tem a bênção de viver junto. Para ganhar a vida, o pai vive em um lugar distante do filho, ou a esposa vive separada do esposo e assim por diante. Há sofrimentos originados de doenças internas, separação das pessoas íntimas e queridas, e ansiedades para manter o status quo. Esses são apenas alguns fatores importantes que fazem a população desta era sempre infeliz.

Texto

pādair nyūnaṁ śocasi maika-pādam
ātmānaṁ vā vṛṣalair bhokṣyamāṇam
āho surādīn hṛta-yajña-bhāgān
prajā uta svin maghavaty avarṣati

Sinônimos

pādaiḥ — por três pernas; nyūnam — diminuído; śocasi — se estás te lamentando por isso; — minhas; eka-pādam — somente uma perna; ātmānam — próprio corpo; — ou; vṛṣalaiḥ — pelos ilegais comedores de carne; bhokṣyamāṇam — ser explorada; āhoḥ — em sacrifício; sura-ādīn — os semideuses autorizados; hṛta-yajña — privados do sacrificatório; bhāgān — quinhão; prajāḥ — os seres vivos; uta — aumentando; svit — acaso; maghavati — na fome e escassez; avarṣati — por causa da seca.

Tradução

Perdi minhas três pernas e agora permaneço sobre uma só. Estás te lamentando por meu estado de existência? Ou estás em grande ansiedade porque, de agora em diante, os ilegais comedores de carne irão explorar-te? Ou te sentes magoada devido aos semideuses agora estarem privados de seu quinhão das oferendas sacrificatórias porque atualmente nenhum sacrifício está sendo executado? Ou estás pesarosa pelos seres vivos por causa de seus sofrimentos decorrentes da fome e da seca?

Comentário

SIGNIFICADO—Com o progresso da era de Kali, aos poucos diminuirão particularmente quatro coisas, a saber, a duração da vida, a misericórdia, o poder de lembrança e os princípios religiosos ou morais. Uma vez que o dharma, ou os princípios da religião, seriam perdidos na proporção de três quartos, o touro simbólico permanecia sobre uma só perna. Quando três quartos da população de todo o mundo tornam-se irreligiosos, a situação converte-se num inferno para os animais. Na era de Kali, as civilizações ateístas criarão muitas pretensas sociedades religiosas, nas quais a Personalidade de Deus será direta ou indiretamente desafiada. E, desse modo, as sociedades de homens infiéis farão o mundo inabitável para a seção mais sadia da população. Há gradações de seres vivos em termos de fé proporcional na Suprema Personalidade de Deus. Os homens fiéis de primeira classe são os vaiṣṇavas e os brāhmaṇas, depois os kṣatriyas, então os vaiśyas, a seguir os śūdras, então os mlecchas, os yavanas e, finalmente, os caṇḍālas. A degradação do instinto humano começa a partir dos mlecchas, e o estado de vida caṇḍāla é a última palavra na degradação humana. Nenhum dos termos acima mencionados nas literaturas védicas se referem, de modo algum, a alguma comunidade ou nascimento em particular. Trata-se de diferentes qualificações dos seres humanos em geral. Não se trata de uma questão de direito de nascimento ou de comunidade. Uma pessoa pode adquirir as respectivas qualificações através de seus próprios esforços, e, desse modo, o filho de um vaiṣṇava pode tornar-se um mleccha, ou o filho de um caṇḍāla pode tornar-se mais que um brāhmaṇa, tudo de acordo com suas associações e relações íntimas com o Senhor Supremo.

Os carnívoros, geralmente, são denominados mlecchas. Mas nem todos os carnívoros são mlecchas. Aqueles que aceitam a carne em termos dos preceitos escriturais não são mlecchas, mas aqueles que aceitam a carne sem restrições são denominados mlecchas. Os bifes são proibidos nas escrituras, e os touros e as vacas recebem proteção especial dos seguidores dos Vedas. Porém, nesta era de Kali, as pessoas explorarão o corpo do touro e da vaca como quiserem e, assim fazendo, atrairão sobre si sofrimentos de vários tipos.

As pessoas desta era não executarão nenhum sacrifício. A população mleccha pouco se importará com as execuções de sacrifícios, embora a execução de sacrifício seja essencial para as pessoas que estão materialmente ocupadas no gozo dos sentidos. Na Bhagavad-gītā, a execução de sacrifício é fortemente recomendada. (Bhagavad-gītā 3.14-16)

Os seres vivos são criados pelo criador Brahmā, e, simplesmente para manter a criatura trilhando progressivamente o caminho de volta ao Supremo, Brahmā criou também o sistema de execução de sacrifício. O sistema é que os seres vivos se alimentam da produção de cereais e vegetais e, por comerem tais alimentos, eles obtêm poder vital corpóreo, sob a forma de sangue e sêmen, e, através do sangue e do sêmen, um ser vivo é capaz de criar outros seres vivos. Mas a produção de cereais, gramíneas etc. torna-se possível com a chuva, e, para que essa chuva caia, o meio adequado é a execução dos sacrifícios recomendados. Esses sacrifícios são orientados pelos ritos dos Vedas, a saber, Sāma, Yajur, Ṛg e Atharva. No Manu-smṛti, recomenda-se que, através de oferecimentos de sacrifício no altar do fogo, o deus do Sol fica satisfeito. Quando o deus do Sol está satisfeito, ele recolhe adequadamente a água do mar, após o que nuvens suficientes se reúnem no horizonte e a chuva cai. Depois de suficiente queda de chuva, há suficiente produção de cereais para os homens e todos os animais, e, assim, o ser vivo adquire energia para executar atividades progressivas. Os mlecchas, contudo, fazem planos para instalar matadouros a fim de matar touros e vacas, além de outros animais, pensando que prosperarão ao aumentarem o número de fábricas e se alimentarem de comida animal, sem se importarem com a execução de sacrifícios e a produção de cereais. Todavia, eles devem saber que, mesmo para obter os animais, eles têm que produzir pasto e vegetais, pois, de outro modo, os animais não podem viver. E, para produzir pasto para os animais, eles precisam de chuvas o suficiente. Portanto, têm que depender, em última análise, da misericórdia dos semideuses, como o deus do Sol, Indra e Candra, e tais semideuses devem ser comprazidos pelas execuções de sacrifícios.

Este mundo material é uma espécie de presídio, como temos afirmado diversas vezes. Os semideuses são os servos do Senhor que zelam pela manutenção apropriada do presídio. Esses semideuses querem fazer com que os seres vivos rebeldes, que desejam sobreviver incredulamente, voltem-se, pouco a pouco, para o poder supremo do Senhor. Por isso, recomenda-se o sistema de oferecimento de sacrifícios nas escrituras.

Os homens materialistas querem trabalhar arduamente e desfrutar dos resultados fruitivos para o gozo dos sentidos. Desse modo, eles estão cometendo muitos tipos de pecados a cada passo da vida. No entanto, aqueles que estão conscientemente ocupados no serviço devocional ao Senhor são transcendentais a todas as variedades de pecado e virtude. Suas atividades estão livres da contaminação dos três modos da natureza material. Para os devotos, não há necessidade de executar sacrifícios prescritos, porque a própria vida do devoto é um símbolo de sacrifício. Porém, as pessoas que estão ocupadas em atividades fruitivas para o gozo dos sentidos têm que executar os sacrifícios prescritos, pois esse é o único meio que os trabalhadores fruitivos têm de libertar-se das reações de todos os pecados cometidos por eles. O sacrifício é o meio de neutralizar esses pecados acumulados. Os semideuses ficam satisfeitos quando esses sacrifícios são executados, assim como os funcionários da prisão ficam satisfeitos quando os prisioneiros se transformam em cidadãos obedientes. O Senhor Caitanya, contudo, recomenda somente um yajña, ou sacrifício, chamado saṅkīrtana-yajña, o canto de Hare Kṛṣṇa, do qual todos podem participar. Desse modo, tanto os devotos quanto os trabalhadores fruitivos podem obter igual benefício das realizações de saṅkīrtana-yajña.

Texto

arakṣyamāṇāḥ striya urvi bālān
śocasy atho puruṣādair ivārtān
vācaṁ devīṁ brahma-kule kukarmaṇy
abrahmaṇye rāja-kule kulāgryān

Sinônimos

arakṣyamāṇāḥ — desprotegidas; striyaḥ — mulheres; urvi — sobre a Terra; bālān — crianças; śocasi — estás sentindo compaixão; atho — como tal; puruṣa-ādaiḥ — pelos homens; iva — assim; ārtān — aqueles que são infelizes; vācam — vocabulário; devīm — a deusa; brahmakule – na família dos brāhmaṇas; kukarmaṇi — atos contrários aos princípios da religião; abrahmaṇye — pessoas contra a cultura bramânica; rāja-kule — na família administrativa; kula-agryān — quase todas as famílias (os brāhmaṇas).

Tradução

Estás pesarosa pelas mulheres e crianças infelizes que são deixadas ao desamparo por pessoas inescrupulosas? Ou estás infeliz porque a deusa da sabedoria está sendo manipulada por brāhmaṇas entregues a atos contrários aos princípios da religião? Ou lamentas ver que os brāhmaṇas têm se refugiado em famílias administrativas que não respeitam a cultura bramânica?

Comentário

SIGNIFICADO—Na era de Kali, as mulheres e as crianças, juntamente com os brāhmaṇas e as vacas, serão grosseiramente negligenciados e deixados ao desamparo. Nesta era, a relação ilícita com mulheres deixará desprotegidas muitas mulheres e crianças. Circunstancialmente, as mulheres tentarão tornar-se independentes da proteção dos homens, e o casamento será realizado por uma questão de acordo formal entre homem e mulher. Na maioria dos casos, os filhos não receberão atendimento apropriado. Os brāhmaṇas, tradicionalmente, são homens inteligentes, e eles serão capazes de elevar a educação moderna ao grau máximo, mas, quanto aos princípios morais e religiosos, serão os mais decaídos. Educação e mau caráter casam-se mal, mas essas coisas correrão lado a lado. Os líderes administrativos, como uma classe, condenarão as doutrinas da sabedoria védica e darão preferência a conduzir um estado secular, e os ditos brāhmaṇas serão comprados por esses administradores inescrupulosos. Mesmo um filósofo e escritor de muitos livros sobre princípios religiosos também poderá aceitar um posto elevado num governo que nega todos os códigos morais dos śāstras. Os brāhmaṇas são especificamente proibidos de aceitar um serviço desse tipo. Nesta era, entretanto, eles não apenas aceitarão o serviço, como também o farão mesmo que ele seja da mais baixa qualidade. Esses são alguns dos sintomas da era de Kali, os quais são nocivos para o bem-estar geral da sociedade humana.

Texto

kiṁ kṣatra-bandhūn kalinopasṛṣṭān
rāṣṭrāṇi vā tair avaropitāni
itas tato vāśana-pāna-vāsaḥ-
snāna-vyavāyonmukha-jīva-lokam

Sinônimos

kim — acaso; kṣatra-bandhūn — os administradores indignos; kalinā — pela influência da era de Kali; upasṛṣṭān — confundidos; rāṣṭrāṇi — afazeres do estado; — ou; taiḥ — por eles; avaropitāni — postos em desordem; itaḥ — aqui; tataḥ — ali; — ou; aśana — aceitando alimentos; pāna — bebem; vāsaḥ — residência; snāna — banho; vyavāya — intercurso sexual; unmukha — propensos; jīva-lokam — sociedade humana.

Tradução

Os ditos administradores agora estão desorientados pela influência desta era de Kali e, desse modo, puseram em desordem todos os afazeres do estado. Agora te lamentas por essa desordem? Neste momento, a população em geral não segue as regras e regulações no comer, dormir, beber, acasalar-se etc., e estão propensos a executar essas atividades em toda e qualquer parte. Estás infeliz por causa disso?

Comentário

SIGNIFICADO—Há algumas necessidades da vida semelhantes às dos animais inferiores, e elas são comer, dormir, temer e acasalar-se. Essas demandas corporais pertencem tanto aos seres humanos quanto aos animais. O ser humano, porém, não tem que satisfazer esses desejos como os animais, mas como ser um humano. Um cão pode copular com uma cadela diante dos olhos do público, sem hesitação, mas, se um ser humano o faz, o ato será considerado uma afronta ao público, e a pessoa será processada criminalmente. Portanto, para o ser humano, há algumas regras e regulações, mesmo para satisfazer as necessidades comuns. A sociedade humana evita essas regras e regulações quando está desorientada pela influência da era de Kali. Nesta era, as pessoas estão se entregando a essas necessidades da vida sem seguir as regras e regulações, e essa deterioração das regras morais e sociais é certamente lamentável, por causa dos efeitos nocivos desse comportamento bestial. Nesta era, os pais e tutores não ficam felizes com o comportamento de seus tutelados. Eles devem saber que tantas crianças inocentes são vítimas da má companhia oferecida pela influência desta era de Kali. Sabemos, através do Śrīmad-Bhāgavatam, que Ajāmila, um filho inocente de um brāhmaṇa, caminhava por uma estrada e viu um casal de śūdras abraçando-se sexualmente. Isso atraiu o rapaz, que mais tarde se tornou vítima de toda devassidão. De um brāhmaṇa puro, ele caiu à posição de um devasso desgraçado, e tudo isso devido à má companhia. Havia apenas uma vítima como Ajāmila naqueles dias, mas, nesta era de Kali, os pobres estudantes inocentes são vitimados todos os dias pelos cinemas, que atraem os homens apenas para a complacência sexual. Os supostos administradores são todos destreinados nos afazeres de um kṣatriya. Os kṣatriyas se destinam à administração, assim como os brāhmaṇas se destinam ao conhecimento e à orientação. A palavra kṣatra-bandhu refere-se aos supostos administradores ou pessoas promovidas ao posto de administrador sem treinamento adequado através da cultura e da tradição. Hoje em dia, eles são promovidos a esses postos elevados pelos votos de pessoas que são, elas mesmas, caídas em relação às regras e regulações da vida. Como essas pessoas podem escolher um homem adequado quando elas mesmas são caídas em seu padrão de vida? Portanto, pela influência da era de Kali, em toda parte, política, social ou religiosamente, tudo está às avessas, e, portanto, para o homem são, isso é inteiramente deplorável.

Texto

yadvāmba te bhūri-bharāvatāra-
kṛtāvatārasya harer dharitri
antarhitasya smaratī visṛṣṭā
karmāṇi nirvāṇa-vilambitāni

Sinônimos

yadvā — isto pode ser; amba — ó mãe; te — teu; bhūri — pesado; bhara — fardo; avatāra — aliviando o fardo; kṛta — feitas; avatārasya — aquele que encarnou; hareḥ — do Senhor Śrī Kṛṣṇa; dharitri — ó Terra; antarhitasya — dEle, que agora está fora de vista; smaratī — enquanto pensa em; visṛṣṭā todas as que foram realizadas; karmāṇi — atividades; nirvāṇa — salvação; vilambitāni — aquilo que ocasiona.

Tradução

Ó mãe Terra, a Suprema Personalidade de Deus, Hari, encarnou como o Senhor Śrī Kṛṣṇa justamente para aliviar-te de teu pesado fardo. Todas as Suas atividades aqui são transcendentais, e elas pavimentam o caminho da liberação. Agora estás privada da presença dEle. Provavelmente estás pensando naquelas atividades neste momento, e sentindo-te pesarosa na ausência delas.

Comentário

SIGNIFICADO—As atividades do Senhor incluem a liberação, mas elas são mais saborosas que o prazer derivado do nirvāṇa, ou liberação. Segundo Śrīla Jīva Gosvāmī e Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, a palavra usada aqui é nirvāṇa-vilambitāni, “aquilo que minimiza o valor da liberação”. Para alcançar o nirvāṇa, a liberação, é preciso submeter-se a um severo tipo de tapasya, austeridade, mas o Senhor é tão misericordioso que encarna para diminuir o fardo da Terra. Simplesmente por lembrar essas atividades, podemos menosprezar o prazer obtido do nirvāṇa e alcançar a morada transcendental do Senhor para nos associarmos com Ele, eternamente ocupados em Seu bem-aventurado serviço amoroso.

Texto

idaṁ mamācakṣva tavādhi-mūlaṁ
vasundhare yena vikarśitāsi
kālena vā te balināṁ balīyasā
surārcitaṁ kiṁ hṛtam amba saubhagam

Sinônimos

idam — isto; mama — a mim; ācakṣva — informa, por favor; tava — tuas; ādhimūlam — a causa fundamental de tuas tribulações; vasundhare — ó reservatório de todas as riquezas; yena — pelas quais; vikarśitā asi — reduzida a tal estado de fraqueza; kālena — pela influência do tempo; — ou; te — tua; balinām — muito poderosa; balīyasā — mais poderoso; suraarcitam – adorada pelos semideuses; kim — acaso; hṛtam — tomado; amba — mãe; saubhagam — fortuna.

Tradução

Ó mãe, és o reservatório de todas as riquezas. Por favor, informa-me sobre a causa fundamental de tuas tribulações, pelas quais tens sido reduzida a tal estado de fraqueza. Creio que a poderosa influência do tempo, que conquista até mesmo o mais poderoso, deve ter tomado à força toda a tua boa fortuna, que era adorada mesmo pelos semideuses.

Comentário

SIGNIFICADO—Pela graça do Senhor, todo e cada um dos planetas é criado com equipamentos completos. Assim, a Terra não somente está completamente equipada com todas as riquezas para a manutenção de seus habitantes, mas também, quando o Senhor desce à Terra, toda a Terra se torna tão enriquecida com todos os tipos de opulências que mesmo os cidadãos do céu a adoram com toda a afeição. Porém, pela vontade do Senhor, toda a Terra pode ser transformada de imediato. Ele pode fazer e desfazer uma coisa a Seu bel-prazer. Portanto, ninguém deve considerar-se autossuficiente ou independente do Senhor.

Texto

dharaṇy uvāca
bhavān hi veda tat sarvaṁ
yan māṁ dharmānupṛcchasi
caturbhir vartase yena
pādair loka-sukhāvahaiḥ

Sinônimos

dharaṇī uvāca — a mãe Terra respondeu; bhavān — vossa graça; hi — certamente; veda — sabes; tat sarvam — tudo que me perguntaste; yat — isto; mām — de mim; dharma — ó personalidade dos princípios religiosos; anupṛcchasi — perguntaste uma após outra; caturbhiḥ — por quatro; vartase — tu existes; yena — pelas quais; pādaiḥ — pelas pernas; loka — em todo e cada um dos planetas; sukha-āvahaiḥ — aumentando a felicidade.

Tradução

A deidade terrestre [sob a forma de uma vaca] respondeu assim à personalidade dos princípios religiosos [sob a forma de um touro]: Ó Dharma, ficarás sabendo de tudo sobre o que me perguntaste. Tentarei responder a todas essas perguntas. Outrora, tu também te sustentavas nas tuas quatro pernas, e aumentavas a felicidade em todo o universo, pela misericórdia do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—Os princípios da religião são estabelecidos pelo próprio Senhor, e o executor dessas leis é Dharmarāja, ou Yamarāja. Esses princípios atuam plenamente na era de Satya-yuga; em Tretā-yuga, eles são reduzidos a uma fração de três quartos; em Dvāpara-yuga, eles são reduzidos à metade, e, em Kali-yuga, são reduzidos a um quarto, diminuindo gradualmente até o ponto zero, quando, então, ocorre a devastação. A felicidade no mundo depende proporcionalmente da manutenção dos princípios religiosos, individual ou coletivamente. A melhor parte da coragem é manter os princípios apesar de todas as contrariedades. Assim podemos ser felizes durante nosso período de vida e, por fim, regressar ao Supremo.

Texto

satyaṁ śaucaṁ dayā kṣāntis
tyāgaḥ santoṣa ārjavam
śamo damas tapaḥ sāmyaṁ
titikṣoparatiḥ śrutam
jñānaṁ viraktir aiśvaryaṁ
śauryaṁ tejo balaṁ smṛtiḥ
svātantryaṁ kauśalaṁ kāntir
dhairyaṁ mārdavam eva ca
prāgalbhyaṁ praśrayaḥ śīlaṁ
saha ojo balaṁ bhagaḥ
gāmbhīryaṁ sthairyam āstikyaṁ
kīrtir māno ’nahaṅkṛtiḥ
ete cānye ca bhagavan
nityā yatra mahā-guṇāḥ
prārthyā mahattvam icchadbhir
na viyanti sma karhicit
tenāhaṁ guṇa-pātreṇa
śrī-nivāsena sāmpratam
śocāmi rahitaṁ lokaṁ
pāpmanā kalinekṣitam

Sinônimos

satyam — veracidade; śaucam — limpeza; dayā — intolerância à infelicidade alheia; kṣāntiḥ — autocontrole mesmo quando há causa de ira; tyāgaḥ — magnanimidade; santoṣaḥ — autossatisfação; ārjavam — retidão; śamaḥ — fixação mental; damaḥ — controle dos órgãos dos sentidos; tapaḥ — compromisso diante das responsabilidades pessoais; sāmyam — ausência de discriminação entre amigo e inimigo; titikṣā — tolerância diante das ofensas alheias; uparatiḥ — indiferença a perda e ganho; śrutam — seguir os preceitos escriturais; jñānam — conhecimento (autorrealização); viraktiḥ — desapego do gozo dos sentidos; aiśvaryam — liderança; śauryam — cavalheirismo; tejaḥ — influência; balam — tornar possível aquilo que é impossível; smṛtiḥ — encontrar seu próprio dever; svātantryam — não depender de outros; kauśalam — destreza em todas as atividades; kāntiḥ — beleza; dhairyam — liberdade da perturbação; mārdavam — amabilidade; eva — assim; ca — também; prāgalbhyam — talento; praśrayaḥ — gentileza; śīlam — delicadeza; sahaḥ — determinação; ojaḥ — conhecimento perfeito; balam — execução adequada; bhagaḥ — objeto de gozo; gāmbhīryam — jovialidade; sthairyam — imobilidade; āstikyam — fidelidade; kīrtiḥ — fama; mānaḥ — digno de ser adorado; anahaṅkṛtiḥ — isenção de orgulho; ete — todas essas; ca anye — muitas outras também; ca — e; bhagavan — a Personalidade de Deus; nityāḥ — duradouras; yatra — onde; mahāguṇāḥ – grandes qualidades; prārthyāḥ — dignas de se possuir; mahattvam — grandeza; icchadbhiḥ — aqueles que o desejam; na — nunca; viyanti — deteriora; sma — jamais; karhicit — em tempo algum; tena — por Ele; aham — eu; guṇa-pātreṇa — o reservatório de todas as qualidades; śrī — a deusa da fortuna; nivāsena — pelo lugar de descanso; sāmpratam — muito recentemente; śocāmi — estou pensando em; rahitam — privada de; lokam — planetas; pāpmanā — pelo acúmulo de todos os pecados; kalinā — por Kali; īkṣitam — é visto.

Tradução

No Senhor, habitam (1) a veracidade, (2) a limpeza, (3) a intolerância com a infelicidade alheia, (4) o poder de controlar a ira, (5) a autossatisfação, (6) a retidão, (7) a estabilidade mental, (8) o controle dos órgãos dos sentidos, (9) a responsabilidade, (10) a igualdade, (11) a tolerância, (12) a equanimidade, (13) a fidelidade, (14) o conhecimento, (15) a ausência de gozo dos sentidos, (16) a liderança, (17) o cavalheirismo, (18) a influência, (19) o poder de tornar tudo possível, (20) o desempenho apropriado do dever, (21) a independência completa, (22) a destreza, (23) a plenitude de toda a beleza, (24) a serenidade, (25) a amabilidade, (26) o talento, (27) a gentileza, (28) a magnanimidade, (29) a determinação, (30) a perfeição em todo o conhecimento, (31) a execução adequada, (32) a posse de todos os objetos de gozo, (33) a jovialidade, (34) a imobilidade, (35) a lealdade, (36) a fama, (37) a adoração, (38) a isenção de orgulho, (39) o ato de ser (como a Personalidade de Deus), (40) a eternidade, e muitas outras qualidades transcendentais, que estão eternamente presentes nEle e nunca podem ser separadas dEle. Essa Personalidade de Deus, o reservatório de toda bondade e beleza, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, acaba de encerrar Seus passatempos transcendentais sobre a face da Terra. Em Sua ausência, a era de Kali está espalhando sua influência por toda parte, de modo que estou muito pesarosa de ver esta condição de existência.

Comentário

SIGNIFICADO—Mesmo que fosse possível contar todos os átomos após reduzir a Terra a pó, não seria possível avaliar as insondáveis qualidades transcendentais do Senhor. É dito que o Senhor Anantadeva tem tentado expor as qualidades transcendentais do Senhor Supremo com Suas inúmeras línguas, e que, por inumeráveis anos a fio, tem sido impossível estimar as qualidades do Senhor. A afirmação acima sobre as qualidades do Senhor é simplesmente para que se possam avaliar Suas qualidades na medida em que um ser humano é capaz de vê-lO. Mesmo assim, porém, as qualidades acima podem ser divididas em muitos subtítulos. Segundo Śrīla Jīva Gosvāmī, a terceira qualidade, “intolerância com a infelicidade alheia”, pode ser subdividida em (1) proteção das almas rendidas e (2) benquerença em relação aos devotos. Na Bhagavad-gītā, o Senhor afirma que Ele quer que todas as almas se rendam a Ele apenas, e garante a todos que, se o fizerem, Ele dará proteção contra as reações de todos os pecados. As almas não rendidas não são devotos do Senhor, e, desse modo, não há proteção particular para todos em geral. Para os devotos, Ele tem todos os bons votos, e, para aqueles que estão realmente ocupados no transcendental serviço amoroso ao Senhor, Ele dá atenção particular. Ele orienta esses devotos puros para ajudá-los no desempenho de suas responsabilidades no caminho de volta ao Supremo. Através da igualdade (10), o Senhor é igualmente bondoso com todos, assim como o Sol é igual ao distribuir seus raios sobre todos. Todavia, há muitos que são incapazes de aproveitar os raios do Sol. Analogamente, o Senhor diz que se render a Ele é a garantia de toda a proteção da Sua parte, mas as pessoas desventuradas são incapazes de aceitar essa proposta, daí elas sofrerem de todas as dores materiais. Assim, muito embora o Senhor seja igualmente benquerente de todos, o ser vivo desventurado, unicamente devido à má companhia, é incapaz de aceitar Suas instruções in toto, e o Senhor nunca deve ser culpado por isso. Ele é chamado de o benquerente só dos devotos. Ele parece ser parcial com Seus devotos, mas, de fato, cabe ao ser vivo aceitar ou rejeitar o tratamento igual por parte do Senhor.

O Senhor nunca Se desvia de Sua palavra de honra. Quando Ele dá garantia de proteção, a promessa é cumprida em todas as circunstâncias. É dever do devoto puro estar fixo no desempenho do dever a ele confiado pelo Senhor ou pelo representante autêntico do Senhor, o mestre espiritual. O resto fica por conta do Senhor, sem falta.

A responsabilidade do Senhor também é única. O Senhor não tem responsabilidade porque todo o Seu trabalho é feito por Suas diferentes energias nomeadas. Mas, ainda assim, Ele aceita responsabilidades voluntárias ao revelar diferentes papéis em Seus passatempos transcendentais. Como menino, Ele representava o papel de vaqueirinho. Como filho de Nanda Mahārāja, Ele executava Suas responsabilidades perfeitamente. De forma semelhante, quando Ele representava o papel de kṣatriya, como filho de Mahārāja Vasudeva, Ele revelou toda a perícia de um kṣatriya de espírito marcial. Em quase todos os casos, o rei kṣatriya tem de conseguir uma esposa através de luta ou rapto. Essa espécie de comportamento para um kṣatriya é louvável no sentido de que um kṣatriya deve mostrar seu poder de cavalheirismo à sua futura esposa para que a filha de kṣatriya possa ver a intrepidez de seu futuro esposo. Mesmo a Personalidade de Deus Śrī Rāma revelou tal espírito de cavalheirismo durante Seu casamento. Ele quebrou o mais forte dos arcos, chamado Haradhanur, e obteve a mão de Sītādevī, a mãe de toda a opulência. O espírito kṣatriya é exposto durante os festivais de casamento, e não há nada de errado nessa luta. O Senhor Śrī Kṛṣṇa executou plenamente essa responsabilidade porque, embora Ele tivesse mais que dezesseis mil esposas, em todo e cada um dos casos Ele lutou como um kṣatriya corajoso e, assim, conseguiu essas esposas. Lutar dezesseis mil vezes para conseguir dezesseis mil esposas, com certeza, só é possível para a Suprema Personalidade de Deus. De forma similar, Ele demonstrou plena responsabilidade em todas as ações de Seus diferentes passatempos transcendentais.

A décima quarta qualidade, o conhecimento, pode desdobrar-se posteriormente em cinco subtítulos, a saber, (1) inteligência, (2) gratidão, (3) capacidade de entender os meios circunstanciais de lugar, objeto e tempo, (4) conhecimento perfeito de tudo, e (5) conhecimento do eu. Somente os tolos são ingratos para com seus benfeitores. O Senhor, contudo, não requer benefício de ninguém além dEle mesmo, porque Ele é pleno em Si mesmo; ainda assim, Ele Se sente beneficiado pelos serviços imaculados de Seus devotos. O Senhor Se sente agradecido a Seus devotos por tal serviço simples e incondicional, e tenta reciprocá-lo prestando-lhes serviço, embora o devoto não tenha esse desejo em seu coração. O transcendental serviço ao Senhor é, em si mesmo, um benefício transcendental para o devoto, daí o devoto nada ter a esperar do Senhor. Sobre a afirmação do aforismo védico sarvaṁ khalv idaṁ brahma, podemos entender que o Senhor, através dos raios onipresentes de Sua refulgência, de nome brahmajyoti, é onipenetrante dentro ou fora de tudo, assim como o onipresente céu material, e, desse modo, Ele também é onisciente.

No que diz respeito à beleza do Senhor, Ele tem alguns aspectos especiais que O distinguem de todos os outros seres vivos, e, acima disso, Ele tem alguns belos aspectos especialmente atrativos pelos quais Ele atrai até mesmo a mente de Rādhārāṇī, a suprema beleza criada pelo Senhor. Ele é conhecido, portanto, como Madana-mohana, ou aquele que atrai até mesmo a mente de Cupido. Śrīla Jīva Gosvāmī Prabhu analisa minuciosamente outras qualidades transcendentais do Senhor e afirma que o Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Absoluta Suprema Personalidade de Deus (Parabrahman). Ele é onipotente através de Suas inconcebíveis energias e, portanto, é Yogeśvara, ou o mestre supremo de todos os poderes místicos. Sendo o Yogeśvara, Sua forma eterna é espiritual, uma combinação de eternidade, bem-aventurança e conhecimento. A classe dos não-devotos não pode entender a natureza dinâmica de Seu conhecimento porque eles se contentam em atingir Sua forma eterna de conhecimento. Todas as grandes almas aspiram a serem iguais a Ele em conhecimento. Isso significa que qualquer outro conhecimento é sempre insuficiente, flexível e mensurável, ao passo que o conhecimento do Senhor é sempre fixo e insuperável. Śrīla Sūta Gosvāmī afirma no Bhāgavatam que, embora Ele fosse observado todos os dias pelos cidadãos de Dvārakā, eles estavam sempre cada vez mais ansiosos por vê-lO repetidamente. Os seres vivos podem apreciar as qualidades do Senhor como a meta última, mas eles não podem alcançar o status quo de tal igualdade. Este mundo material é um produto do mahat-tattva, o qual é um estado da condição onírica do Senhor em Seu sono místico yoga-nidrā, no Oceano Causal, e, no entanto, toda a criação parece ser uma apresentação real de Sua criação. Isso significa que as condições oníricas do Senhor também são manifestações reais. Portanto, Ele pode trazer tudo sob Seu controle transcendental, e, assim, sempre e onde quer que o Senhor apareça, Ele o faz em Sua plenitude.

Sendo o Senhor tudo aquilo que acima se descreve, Ele mantém os afazeres da criação e, por fazê-lo, Ele salva inclusive Seus inimigos que são mortos por Ele. Ele é atrativo mesmo para a suprema alma liberada e, assim, Ele é adorável mesmo para Brahmā e Śiva, os maiores de todos os semideuses. Mesmo em Sua encarnação de puruṣa-avatāra, Ele é o Senhor da energia criativa. A energia material criativa funciona sob Sua direção, como se confirma na Bhagavad-gītā (9.10). Ele é a chave de controle da energia material e, para controlar a energia material nos inumeráveis universos, Ele é a causa fundamental das inúmeras encarnações em todos os universos. Há mais de quinhentas mil encarnações de Manu em apenas um universo, além de outras encarnações em diferentes universos. No mundo espiritual, contudo, além do mahat-tattva, não se trata de encarnações, mas, sim, de expansões plenárias do Senhor em diferentes Vaikuṇṭhas. Os planetas no céu espiritual são pelo menos três vezes mais numerosos do que aqueles dentro dos inúmeros universos no mahat-tattva. E todas as formas Nārāyaṇa do Senhor são apenas expansões de Seu aspecto Vāsudeva, e, assim, Ele é Vāsudeva, Nārāyaṇa e Kṛṣṇa, simultaneamente. Ele é śrī-kṛṣṇa govinda hare murāre he nātha nārāyaṇa vāsudeva, todos em um só. Suas qualidades, portanto, não podem ser enumeradas por ninguém, por maior que seja.

Texto

ātmānaṁ cānuśocāmi
bhavantaṁ cāmarottamam
devān pitṝn ṛṣīn sādhūn
sarvān varṇāṁs tathāśramān

Sinônimos

ātmānam — eu mesma; ca — também; anuśocāmi — lamentando; bhavantam — tu mesmo; ca — bem como; amara-uttamam — o melhor entre os semideuses; devān — nos semideuses; pitṝn — nos cidadãos do planeta Pitṛloka; ṛṣīn — nos sábios; sādhūn — nos devotos; sarvān — todos eles; varṇān — seções; tathā — como também; āśramān — ordens da sociedade humana.

Tradução

Estou pensando em mim mesma e também, ó melhor entre os semideuses, em ti, bem como em todos os semideuses, sábios, cidadãos de Pitṛloka, devotos do Senhor e todos os homens obedientes ao sistema de varṇa e āśrama na sociedade humana.

Comentário

SIGNIFICADO—Para efetivar a perfeição da vida humana, há cooperação entre homens e semideuses, sábios, cidadãos de Pitṛloka, devotos do Senhor e o sistema científico das ordens de vida varṇa e āśrama. A distinção entre vida humana e vida animal, portanto, começa com o sistema científico de varṇa e āśrama, orientado pela experiência dos sábios em relação com os semideuses, elevando-se gradualmente ao ápice do restabelecimento de nossa relação eterna com a Suprema Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa. Quando o varṇāśrama-dharma feito por Deus, que se destina estritamente a transformar a consciência animal em consciência humana, e a consciência humana em consciência divina, é rompido pelo avanço da tolice, todo o sistema de vida pacífica e progressista é imediatamente perturbado. Na era de Kali, o primeiro ataque da serpente venenosa atinge o varṇāśrama-dharma feito por Deus, e, desse modo, uma pessoa devidamente qualificada como brāhmaṇa é chamada de śūdra, e um śūdra por qualificação passa por brāhmaṇa, tudo com base na alegação de um falso direito de nascimento. Tornar-se um brāhmaṇa através da alegação do direito de nascimento não é de maneira alguma algo fidedigno, embora isso possa preencher uma das condições. Contudo, a verdadeira qualificação de um brāhmaṇa é controlar a mente e os sentidos, e cultivar tolerância, simplicidade, limpeza, conhecimento, veracidade, devoção e fé na sabedoria védica. Na era atual, a consideração da qualificação necessária está sendo negligenciada, e a falsa alegação do direito de nascimento está sendo apoiada mesmo por um poeta popular e sofisticado, o autor do Rāma-carita-mānasa.

Tudo isso se deve à influência da era de Kali. Desse modo, a mãe Terra, representada por uma vaca, estava se lamentando dessa condição deplorável.

Texto

brahmādayo bahu-tithaṁ yad-apāṅga-mokṣa-
kāmās tapaḥ samacaran bhagavat-prapannāḥ
sā śrīḥ sva-vāsam aravinda-vanaṁ vihāya
yat-pāda-saubhagam alaṁ bhajate ’nuraktā
tasyāham abja-kuliśāṅkuśa-ketu-ketaiḥ
śrīmat-padair bhagavataḥ samalaṅkṛtāṅgī
trīn atyaroca upalabhya tato vibhūtiṁ
lokān sa māṁ vyasṛjad utsmayatīṁ tad-ante

Sinônimos

brahma-ādayaḥ — semideuses tais como Brahmā; bahu-titham — por muitos dias; yat — de Lakṣmī, a deusa da fortuna; apāṅga-mokṣa — olhar encantador; kāmāḥ — estando desejosos de; tapaḥ — penitências; samacaran — executando; bhagavat — à Personalidade de Deus; prapannāḥ — renderam-se; — ela (a deusa da fortuna); śrīḥ — Lakṣmījī; sva-vāsam — sua própria morada; aravinda-vanam — a floresta de flores de lótus; vihāya — deixando de lado; yat — cujos; pāda — pés; saubhagam — todo-venturoso; alam — sem hesitação; bhajate — adora; anuraktā — sendo apegada; tasya — Seus; aham — eu própria; abja — flor de lótus; kuliśa — raio; aṅkuśa — bastão para conduzir elefantes; ketu — bandeira; ketaiḥ — impressões; śrīmat — o proprietário de toda a opulência; padaiḥ — pelas solas dos pés; bhagavataḥ — da Personalidade de Deus; samalaṅkṛta-aṅgī — aquele cujo corpo é assim decorado; trīn — três; ati — suplantar; aroce — belamente decorada; upalabhya — tendo obtido; tataḥ — a seguir; vibhūtim — poderes específicos; lokān — sistemas planetários; saḥ — Ele; mām — me; vyasṛjat — abandonou; utsmayatīm — enquanto me sentia orgulhosa; tat-ante — afinal.

Tradução

Lakṣmījī, a deusa da fortuna, cujo olhar encantador era cobiçado por semideuses como Brahmā e por quem eles se renderam por muitos dias à Personalidade de Deus, abandonou sua própria morada na floresta de flores de lótus e ocupou-se a serviço dos pés de lótus do Senhor. Eu fui dotada com poderes específicos para suplantar a fortuna de todos os três sistemas planetários ao ser decorada com as impressões da bandeira, do raio, do bastão de conduzir elefantes e da flor de lótus, que são sinais dos pés de lótus do Senhor. Mas, por fim, quando estava me sentindo tão afortunada, o Senhor me deixou.

Comentário

SIGNIFICADO—A beleza e a opulência do mundo podem ser realçadas pela graça do Senhor, e não por algum planejamento feito pelo homem. Quando o Senhor Śrī Kṛṣṇa esteve presente sobre esta Terra, as impressões dos sinais especiais de Seus pés de lótus ficaram estampadas na poeira, e, como resultado dessa graça específica, toda a Terra se fez tão perfeita quanto possível. Em outras palavras, os rios, os mares, as florestas, as colinas e as minas, que são os agentes supridores das necessidades dos homens e animais, estavam desempenhando plenamente seus respectivos deveres. Assim, as riquezas do mundo superavam todas as riquezas de todos os outros planetas nos três sistemas planetários do universo. Devemos, por conseguinte, pedir que a graça do Senhor esteja sempre presente sobre a Terra, para que sejamos favorecidos por Sua misericórdia sem causa e sejamos felizes, tendo todas as coisas necessárias à vida. Pode ser que alguém pergunte como podemos deter o Senhor Supremo nesta Terra logo que Sua missão esteja cumprida e Ele resolva deixar esta Terra em direção à Sua própria morada. A resposta é que não há necessidade de deter o Senhor. O Senhor, sendo onipresente, pode estar presente conosco se O queremos realmente. Através de Sua onipresença, Ele pode estar sempre conosco se nos apegamos a Seu serviço devocional através de ouvir, cantar, lembrar etc.

Não há nada no mundo de que o Senhor esteja desligado. A única coisa que devemos aprender é a escavar a fonte de ligação e, assim, ligarmo-nos a Ele pelo serviço sem ofensas. Podemos nos ligar a Ele através da representação sonora transcendental do Senhor. O santo nome do Senhor e o Senhor em pessoa são idênticos, e aquele que canta o santo nome do Senhor de maneira inofensiva pode imediatamente compreender que o Senhor está presente diante dele. Mesmo através da vibração do som radiofônico, podemos compreender parcialmente a relatividade do som, e, por soar o som da transcendência, podemos realmente sentir a presença do Senhor. Nesta era, em que tudo está poluído pela contaminação de Kali, instruem-nos as escrituras e prega-nos o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu que, através do canto do santo nome do Senhor, podemos livrar-nos de imediato da contaminação e, pouco a pouco, elevar-nos ao status da transcendência e voltar ao Supremo. O cantor inofensivo do santo nome do Senhor é tão auspicioso quanto o próprio Senhor, e o movimento dos devotos puros do Senhor em todo o mundo pode de imediato mudar a face problemática do mundo. Unicamente pela propagação do cantar do santo nome do Senhor é que podemos ficar imunes a todos os efeitos da era de Kali.

Texto

yo vai mamātibharam āsura-vaṁśa-rājñām
akṣauhiṇī-śatam apānudad ātma-tantraḥ
tvāṁ duḥstham ūna-padam ātmani pauruṣeṇa
sampādayan yaduṣu ramyam abibhrad aṅgam

Sinônimos

yaḥ — Ele que; vai — certamente; mama — minha; ati-bharam — demasiadamente oprimida; āsura-vaṁśa — descrentes; rājñām — dos reis; akṣauhiṇī — uma divisão militar1; śatam — centenas de tais divisões; apānudat — extirpadas; ātma-tantraḥ — autossuficiente; tvām — a ti; duḥstham — posto em dificuldade; ūna-padam — destituído de força para ficar em pé; ātmani — interna; pauruṣeṇa — em virtude da energia; sampādayan — para executar; yaduṣu — na dinastia Yadu; ramyam transcendentalmente belo; abibhrat — aceito; aṅgam — corpo.

Tradução

Ó personalidade da religião, eu estava demasiadamente oprimida pelas hostis falanges militares dispostas pelos reis ateístas, mas fui aliviada pela graça da Personalidade de Deus. De modo semelhante, tu também estavas numa condição aflitiva, enfraquecido em tua força de sustentação, e, então, Ele encarnou através de Sua energia interna na família dos Yadus, para aliviar-te.

Comentário

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SIGNIFICADO—Os asuras querem desfrutar na vida do gozo dos sentidos, mesmo à custa da felicidade dos outros. Para satisfazer essa ambição, os asuras, especialmente os reis ateístas, ou líderes executivos do estado, tentam equipar-se com todas as espécies de armas letais para levar à guerra sociedades pacíficas. Eles não têm nenhuma ambição além do engrandecimento pessoal, e, assim, a mãe Terra sente-se oprimida por tais aumentos indevidos de força militar. Com o aumento da população de asuras, aqueles que seguem os princípios da religião tornam-se infelizes, especialmente os devotos, ou devas.

Em tal situação, a Personalidade de Deus encarna para exterminar os asuras indesejáveis e para restabelecer os verdadeiros princípios da religião. Essa era a missão do Senhor Śrī Kṛṣṇa, e Ele a cumpriu.

Texto

kā vā saheta virahaṁ puruṣottamasya
premāvaloka-rucira-smita-valgu-jalpaiḥ
sthairyaṁ samānam aharan madhu-māninīnāṁ
romotsavo mama yad-aṅghri-viṭaṅkitāyāḥ

Sinônimos

— quem; — ou; saheta — pode tolerar; viraham — separação; puruṣa-uttamasya — da Suprema Personalidade de Deus; prema — amoroso; avaloka — olhar; rucira-smita — sorriso agradável; valgujalpaiḥ – apelos cordiais; sthairyam — gravidade; sa-mānam — juntamente com a ira passional; aharat — conquistou; madhu — amadas; māninīnām — mulheres tais como Satyabhāmā; roma-utsavaḥ — cabelos arrepiados devido ao prazer; mama — minha; yat — cujos; aṅghri — pés; viṭaṅkitāyāḥ — pressionada com.

Tradução

Quem, portanto, pode tolerar as dores da separação dessa Suprema Personalidade de Deus? Ele pôde conquistar a gravidade e a ira passional de Suas amadas, como Satyabhāmā, com Seu doce sorriso amoroso, olhar agradável e apelos cordiais. Quando Ele atravessava a minha [da Terra] superfície, eu ficava imersa na poeira de Seus pés de lótus e, assim, ficava suntuosamente coberta de grama, que se assemelhava a cabelos sobre mim arrepiados devido ao prazer.

Comentário

SIGNIFICADO—Havia possibilidade de separação entre o Senhor e Suas milhares de rainhas por causa da ausência do lar por parte do Senhor, mas, no que diz respeito à Sua ligação com a Terra, o Senhor atravessava a Terra com Seus pés de lótus, de modo que não havia possibilidade de separação. Quando o Senhor deixou a superfície da Terra para retornar à Sua morada espiritual, os sentimentos de saudade da Terra foram, por isso, mais intensos.

Texto

tayor evaṁ kathayatoḥ
pṛthivī-dharmayos tadā
parīkṣin nāma rājarṣiḥ
prāptaḥ prācīṁ sarasvatīm

Sinônimos

tayoḥ — entre eles; evam — assim; kathayatoḥ — conversando; pṛthivī — Terra; dharmayoḥ — e a personalidade da religião; tadā — nessa altura; parīkṣit — rei Parīkṣit; nāma — chamado; rāja-ṛṣiḥ — um santo entre os reis; prāptaḥ — chegou; prācīm — fluindo rumo ao leste; sarasvatīm — rio Sarasvatī.

Tradução

Enquanto a Terra e a personalidade da religião estavam assim conversando, o santo rei Parīkṣit alcançou a margem do rio Sarasvatī, que fluía rumo ao leste.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do primeiro canto, décimo sexto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Como Parīkṣit Recebeu a Era de Kali”.