CAPÍTULO DOZE
A Morte do Demônio Aghāsura
Este capítulo descreve pormenorizadamente o passatempo em que Kṛṣṇa mata Aghāsura.
Certo dia, Kṛṣṇa desejou fazer um piquenique na floresta, e, portanto, saindo bem cedo, foi para a floresta juntamente com os outros vaqueirinhos, acompanhados de seus respectivos grupos de bezerros. Enquanto eles estavam desfrutando de seu piquenique, Aghāsura, o irmão mais novo de Pūtanā e Bakāsura, apareceu ali, desejando matar Kṛṣṇa e Seus companheiros. O demônio, que fora enviado por Kaṁsa, assumiu a forma de um píton, medindo treze quilômetros de comprimento e tendo a altura de uma montanha. Sua boca parecia estender-se da superfície da Terra até os planetas celestiais. Após assumir essa aparência, Aghāsura deitou-se na estrada. Os amigos de Kṛṣṇa, os vaqueirinhos, pensavam que a forma do demônio era um dos belos lugares de Vṛndāvana. Por isso, eles quiseram entrar na boca desse píton gigantesco. A gigantesca figura do píton tornou-se o tema de seus divertimentos, e eles começaram a rir, confiantes de que, mesmo se essa figura fosse perigosa, Kṛṣṇa estava ali para protegê-los. Dessa maneira, eles seguiram rumo à boca da gigantesca figura.
Kṛṣṇa sabia tudo sobre Aghāsura, de modo que tentou impedir que Seus amigos entrassem na boca do demônio, mas, enquanto isso, todos os vaqueirinhos, juntamente com seus grupos de bezerros, entraram na boca daquela gigantesca criatura. Kṛṣṇa estava esperando do lado de fora, e Aghāsura ficou aguardando Kṛṣṇa, pensando que, logo que Kṛṣṇa entrasse, ele fecharia sua boca para que todos morressem. Porque esperava por Kṛṣṇa, ele não engoliu os meninos. Nesse ínterim, Kṛṣṇa pensava em como salvar os meninos e matar Aghāsura. Então, Ele entrou na boca do gigantesco asura e, quando estava dentro da boca do demônio, juntamente com Seus amigos, Ele expandiu Seu corpo a uma extensão tal que o asura morreu por falta de ar. Depois disso, Kṛṣṇa, lançando sobre Seus amigos Seu olhar nectáreo, trouxe-os de volta à vida, e, cheios de alegria, todos saíram ilesos da grande boca. Assim, Kṛṣṇa encorajou todos os semideuses, e eles expressaram sua alegria e felicidade. Para uma pessoa perversa e pecaminosa, não existe a possibilidade de sāyujya-mukti, ou tornar-se uno com a refulgência de Kṛṣṇa, mas, como a Suprema Personalidade de Deus entrou no corpo de Aghāsura, esse demônio obteve, através de Seu contato, a oportunidade de imergir na refulgência Brahman e, dessa maneira, alcançar sāyujya-mukti.
Por ocasião deste passatempo, Kṛṣṇa tinha apenas cinco anos de idade. Um ano mais tarde, quando Ele tinha seis anos de idade e ingressou na faixa etária paugaṇḍa, este passatempo foi revelado aos habitantes de Vraja. Parīkṣit Mahārāja perguntou: “Como é que este passatempo foi revelado somente após um ano e, ainda assim, os habitantes de Vraja pensavam que ele fora realizado naquele mesmíssimo dia?” Feita essa pergunta, termina o décimo segundo capítulo.
Texto
kvacid vanāśāya mano dadhad vrajāt
prātaḥ samutthāya vayasya-vatsapān
prabodhayañ chṛṅga-raveṇa cāruṇā
vinirgato vatsa-puraḥsaro hariḥ
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; kvacit — certo dia; vana-āśāya — apenas para fazer um piquenique na floresta; manaḥ — mente; dadhat — deu atenção; vrajāt — e saiu de Vrajabhūmi; prātaḥ — de manhã bem cedo; samutthāya — acordando; vayasya-vatsa-pān — os vaqueirinhos e os bezerros; prabodhayan — para fazer todos levantarem-se, despertando-os e informando-os; śṛṅga-raveṇa — ressoando a corneta feita de chifre; cāruṇā — muito belo; vinirgataḥ — saiu de Vrajabhūmi; vatsa-puraḥsaraḥ — mantendo na frente os respectivos grupos de bezerros; hariḥ — a Suprema Personalidade de Deus.
Tradução
Śukadeva Gosvāmī continuou: Ó rei, certo dia, Kṛṣṇa decidiu fazer de Seu desjejum um piquenique na floresta. Tendo despertado de manhã cedo, Ele soprou Sua corneta de chifre e, com seu belo som, despertou todos os vaqueirinhos e bezerros. Então, Kṛṣṇa e os meninos, mantendo seus respectivos grupos de bezerros diante deles, saíram de Vrajabhūmi rumo à floresta.
Texto
snigdhāḥ suśig-vetra-viṣāṇa-veṇavaḥ
svān svān sahasropari-saṅkhyayānvitān
vatsān puraskṛtya viniryayur mudā
Sinônimos
tena — a Ele; eva — na verdade; sākam — acompanhados por; pṛthukāḥ — os meninos; sahasraśaḥ — aos milhares; snigdhāḥ — muito atraentes; su — belos; śik — lancheiras; vetra — varas para controlar os bezerros; viṣāṇa — cornetas de chifre; veṇavaḥ — flautas; svān svān — suas respectivas; sahasra-upari-saṅkhyayā anvitān — acima de mil; vatsān — os bezerros; puraḥ-kṛtya — mantendo na frente; viniryayuḥ — eles saíram; mudā — com grande prazer.
Tradução
Naquele momento, centenas e milhares de vaqueirinhos saíram de seus respectivos lares em Vrajabhūmi e juntaram-se a Kṛṣṇa, mantendo diante deles centenas e milhares de grupos de bezerros. Os meninos eram muito belos, e estavam equipados com lancheiras, cornetas e varas para controlar os bezerros.
Texto
yūthī-kṛtya sva-vatsakān
cārayanto ’rbha-līlābhir
vijahrus tatra tatra ha
Sinônimos
kṛṣṇa — do Senhor Kṛṣṇa; vatsaiḥ — juntamente com os bezerros; asaṅkhyātaiḥ — ilimitados; yūthī-kṛtya — reuniu-os; sva-vatsakān — próprios bezerros; cārayantaḥ — executando; arbha-līlābhiḥ — através dos passatempos pueris; vijahruḥ — desfrutou; tatra tatra — aqui e ali; ha — na verdade.
Tradução
Juntamente com os vaqueirinhos e seus próprios grupos de bezerros, Kṛṣṇa partiu com um número ilimitado de bezerros reunidos. Então, todos os meninos começaram a se divertir na floresta com um espírito muito brincalhão.
Comentário
SIGNIFICADO—Neste verso, as palavras kṛṣṇa-vatsair asaṅkhyātaiḥ são significativas. A palavra asaṅkhyāta significa “ilimitado”. Os bezerros de Kṛṣṇa eram ilimitados. Podemos falar de centenas, milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões, bilhões, trilhões, dezenas de trilhões, e assim por diante, mas, quando continuamos e passamos a falar de números impossíveis de ser contados por nós, estaremos falando de números ilimitados. Esses números ilimitados são aqui indicados pela palavra asaṅkhyātaiḥ. Kṛṣṇa é ilimitado, Sua potência é ilimitada, Suas vacas e Seus bezerros são ilimitados, e Seu espaço é ilimitado. Logo, a Bhagavad-gītā descreve-O como Parabrahman. A palavra brahman significa “ilimitado”, e Kṛṣṇa é o Supremo Ilimitado, Parabrahman. Portanto, não devemos considerar as afirmações deste verso como mitológicas. Elas são reais, mas inconcebíveis. Kṛṣṇa pode estar relacionado com um ilimitado número de bezerros e uma ilimitada extensão de espaço. Isso não é mitológico nem falso, mas, se estudarmos a potência de Kṛṣṇa com nosso conhecimento limitado, jamais seremos capazes de entender essa potência. Ataḥ śrī-kṛṣṇa-nāmādi na bhaved grāhyam indriyaiḥ. (Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.109) Nossos sentidos não conseguem entender como Ele podia manter um ilimitado número de bezerros e vacas e dispor de espaço ilimitado para executar Sua ação. Mas isso é respondido no Bṛhad-bhāgavatāmṛta:
dhāmnaś ca samayasya ca
avicintya-prabhāvatvād
atra kiñcin na durghaṭam
No Bṛhad-bhāgavatāmṛta, Śrī Sanātana Gosvāmī afirma que, uma vez que tudo o que se refere a Kṛṣṇa é ilimitado, nada Lhe é impossível. É nesse contexto que devemos procurar entender este verso.
Texto
sumanaḥ-piccha-dhātubhiḥ
kāca-guñjā-maṇi-svarṇa-
bhūṣitā apy abhūṣayan
Sinônimos
phala — frutas da floresta; prabāla — folhas verdes; stavaka — ramalhetes; sumanaḥ — belas flores; piccha — penas de pavão; dhātubhiḥ — maneiras muito suaves e coloridos; kāca — uma espécie de joia; guñjā — pequenos búzios; maṇi — pérolas; svarṇa — ouro; bhūṣitāḥ — embora decorados; api abhūṣayan — apesar de estarem decorados por suas mães, os meninos continuaram enfeitando-se com os artigos acima mencionados.
Tradução
Embora todos esses meninos já tivessem sido enfeitados por suas mães com adornos de kāca, guñjā, pérolas e ouro, ao entrarem na floresta, continuaram enfeitando-se com frutos, folhas verdes, ramalhetes de flores, penas de pavão e minerais suaves.
Texto
jñātān ārāc ca cikṣipuḥ
tatratyāś ca punar dūrād
dhasantaś ca punar daduḥ
Sinônimos
muṣṇantaḥ — roubando; anyonya — uns dos outros; śikya-ādīn — lancheiras e outros pertences; jñātān — tendo sido percebido pelo proprietário da lancheira; ārāt ca — a um lugar distante; cikṣipuḥ — lançada; tatratyāḥ ca — aqueles que também estavam naquele lugar; punaḥ dūrāt — então novamente jogavam mais longe; hasantaḥ ca punaḥ daduḥ — quando viam o proprietário, eles a jogavam mais longe e ficavam rindo, e quando o proprietário às vezes chorava, sua lancheira lhe era devolvida.
Tradução
Todos os vaqueirinhos costumavam roubar as lancheiras uns dos outros. Quando um menino notava que sua lancheira fora levada, os outros meninos atiravam-na bem longe, a um lugar mais distante, e aqueles que ali estavam atiravam-na ainda mais longe. Quando o proprietário da lancheira ficava desapontado, os outros meninos riam, o proprietário chorava e, então, a lancheira lhe era devolvida.
Comentário
SIGNIFICADO—Este tipo de brincadeira e roubo entre meninos ainda existe mesmo no mundo material porque essa espécie de prazer esportivo está presente no mundo espiritual, de onde emana essa ideia de desfrute. Janmādy asya yataḥ. (Vedānta-sūtra 1.1.2) Esse mesmo desfrute é manifestado por Kṛṣṇa e Seus associados no mundo espiritual, mas, ali, o desfrute é eterno, ao passo que aqui, na plataforma material, é temporário – lá, o desfrute é Brahman, e aqui o desfrute é jaḍa. O movimento da consciência de Kṛṣṇa presta-se a ensinar todos a transferirem-se de jaḍa para o Brahman, porque a vida humana tem essa finalidade. Athāto brahma jijñāsā. (Vedānta-sūtra 1.1.1) Kṛṣṇa desce para nos ensinar como podemos desfrutar com Ele na plataforma espiritual, no mundo espiritual. Ele não apenas vem, senão que manifesta pessoalmente Seus passatempos em Vṛndāvana e atrai as pessoas para o prazer espiritual.
Texto
vana-śobhekṣaṇāya tam
ahaṁ pūrvam ahaṁ pūrvam
iti saṁspṛśya remire
Sinônimos
yadi — se; dūram — a um lugar distante; gataḥ — ia; kṛṣṇaḥ — a Suprema Personalidade de Deus; vana-śobha — a beleza da floresta; īkṣaṇāya — para ver e apreciar; tam — em Kṛṣṇa; aham — eu; pūrvam — primeiro; aham — eu; pūrvam — primeiro; iti — dessa maneira; saṁspṛśya — tocando-O; remire — eles desfrutavam da vida.
Tradução
Certas vezes, Kṛṣṇa ia a um lugar um pouco distante para apreciar a beleza da floresta. Então, todos os outros meninos corriam para acompanhá-lO, cada um dizendo: “Serei eu quem correrá mais depressa e tocará Kṛṣṇa! Tocarei Kṛṣṇa primeiro!” Dessa maneira, eles desfrutavam da vida, repetidas vezes tocando em Kṛṣṇa.
Texto
dhmāntaḥ śṛṅgāṇi kecana
kecid bhṛṅgaiḥ pragāyantaḥ
kūjantaḥ kokilaiḥ pare
gacchantaḥ sādhu-haṁsakaiḥ
bakair upaviśantaś ca
nṛtyantaś ca kalāpibhiḥ
ārohantaś ca tair drumān
vikurvantaś ca taiḥ sākaṁ
plavantaś ca palāśiṣu
saritaḥ srava-samplutāḥ
vihasantaḥ praticchāyāḥ
śapantaś ca pratisvanān
dāsyaṁ gatānāṁ para-daivatena
māyāśritānāṁ nara-dārakeṇa
sākaṁ vijahruḥ kṛta-puṇya-puñjāḥ
Sinônimos
kecit — alguns deles; veṇūn — flautas; vādayantaḥ — soprando; dhmāntaḥ — tocando; śṛṅgāṇi — as cornetas de chifre; kecana — outrem; kecit — alguém; bhṛṅgaiḥ — com as abelhas; pragāyantaḥ — cantando juntamente com; kūjantaḥ — imitando o som de; kokilaiḥ — com os cucos; pare — outros; vicchāyābhiḥ — com sombras que corriam; pradhāvantaḥ — alguns correndo no chão atrás dos pássaros; gacchantaḥ — acompanhando; sādhu — belos; haṁsakaiḥ — com os cisnes; bakaiḥ — com os patos sentados em um lugar; upaviśantaḥ ca — sentados silenciosamente como eles; nṛtyantaḥ ca — e dançando com; kalāpibhiḥ — com os pavões; vikarṣantaḥ — atraindo; kīśa-bālān — os macacos moços; ārohantaḥ ca — deslizando por; taiḥ — com os macacos; drumān — as árvores; vikurvantaḥ ca — imitando-os exatamente; taiḥ — com os macacos; sākam — juntamente com; plavantaḥ ca — pulando; palāśiṣu — nas árvores; sākam — juntamente com; bhekaiḥ — com as rãs; vilaṅghantaḥ — pulando como elas; saritaḥ — a água; srava-samplutāḥ — molharam-se na água do rio; vihasantaḥ — rindo; praticchāyāḥ — das sombras; śapantaḥ ca — censuravam; pratisvanān — o som de seus ecos; ittham — dessa maneira; satām — dos transcendentalistas; brahma-sukha-anubhūtyā — com Kṛṣṇa, a fonte de brahma-sukha (Kṛṣṇa é Parabrahman, e dEle origina-se Sua refulgência pessoal); dāsyam — atitude de serviço; gatānām — os devotos que aceitaram; para-daivatena — com a Suprema Personalidade de Deus; māyā-āśritānām — para aqueles nas garras da energia material; nara-dārakeṇa — com Ele que é como uma criança comum; sākam — juntamente com; vijahruḥ — desfrutavam; kṛta-puṇya-puñjāḥ — todos estes meninos que, vida após vida, acumularam os resultados das atividades piedosas.
Tradução
Todos os meninos tinham diferentes ocupações. Alguns sopravam suas flautas, e outros soavam cornetas de chifre. Alguns imitavam o zumbido das abelhas, e outros imitavam a voz do cuco. Alguns meninos imitavam aves em pleno voo, correndo atrás das sombras que as aves projetavam sobre o chão. Alguns imitavam os belos movimentos e atraentes poses dos cisnes. Alguns se sentavam silenciosamente com os patos, e outros imitavam a dança dos pavões. Alguns meninos atraíam jovens macacos nas árvores. Alguns pulavam nas árvores, imitando os macacos. Alguns faziam caretas, como os macacos costumam fazer, enquanto outros pulavam de galho em galho. Alguns meninos iam até as cascatas e cruzavam o rio, pulando com as rãs, e, quando viam seus próprios reflexos na água, eles riam. Eles também censuravam o som de seus próprios ecos. Dessa maneira, todos os vaqueirinhos costumavam brincar com Kṛṣṇa, que é a fonte da refulgência Brahman para os jñānīs que desejam imergir nessa refulgência, que é a Suprema Personalidade de Deus para os devotos que aceitaram a eterna atitude de serviço, e que, para as pessoas comuns, não passa de outra criança comum. Os vaqueirinhos, tendo acumulado os resultados de atividades piedosas por muitas vidas, eram capazes de ter essa associação com a Suprema Personalidade de Deus. Como alguém pode explicar a grande fortuna deles?
Comentário
SIGNIFICADO—Como recomenda Śrīla Rūpa Gosvāmī, tasmāt kenāpy upāyena manaḥ kṛṣṇe niveśayet. (Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.4) De alguma maneira, quer se pense em Kṛṣṇa como uma criança humana comum, como a fonte da refulgência Brahman, como a origem do Paramātmā, ou como a Suprema Personalidade de Deus, deve-se concentrar toda a atenção nos pés de lótus de Kṛṣṇa. Essa também é a instrução da Bhagavad-gītā (18.66): sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja. O Śrīmad-Bhāgavatam é o processo mais fácil pelo qual podemos aproximar-nos diretamente de Kṛṣṇa. Īśvaraḥ sadyo hṛdy avarudhyate ’tra kṛtibhiḥ śuśrūṣubhis tat-kṣaṇāt. (Śrīmad-Bhāgavatam 1.1.2) Fixar mesmo um pouco de nossa atenção em Kṛṣṇa e nas atividades conscientes de Kṛṣṇa imediatamente capacita-nos a alcançar a perfeição máxima da vida. Esse é o propósito do movimento da consciência de Kṛṣṇa. Lokasyājānato vidvāṁś cakre sātvata-saṁhitām. (Śrīmad-Bhāgavatam 1.7.6) Porque o segredo do sucesso é desconhecido pelas pessoas em geral, Śrīla Vyāsadeva, tendo compaixão das pobres almas neste mundo material, especialmente nesta era de Kali, deu-nos o Śrīmad-Bhāgavatam. Śrīmad-bhāgavataṁ purāṇam amalaṁ yad vaiṣṇavānāṁ priyam. (Śrīmad-Bhāgavatam 12.13.18) Para os vaiṣṇavas que realizaram algum avanço, ou que conhecem a fundo as glórias e potências do Senhor, o Śrīmad-Bhāgavatam é uma obra védica muito estimada. Afinal, teremos de mudar de corpo (tathā dehāntara-prāptiḥ). Se não nos importarmos com a Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam, não saberemos qual será o nosso próximo corpo. Mas se alguém aceita estes dois livros – a Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam –, é certo que terá a companhia de Kṛṣṇa em sua próxima vida (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti so ’rjuna). Portanto, a distribuição do Śrīmad-Bhāgavatam em todo o mundo é a atividade mais benéfica para os teólogos, filósofos, transcendentalistas e yogīs (yoginām api sarveṣām), bem como para a população em geral. Janma-lābhaḥ paraḥ puṁsām ante nārāyaṇa-smṛtiḥ (Śrīmad-Bhāgavatam 2.1.6): Se, de algum modo, pudermos nos lembrar de Kṛṣṇa, Nārāyaṇa, no fim da vida, seremos bem-sucedidos.
Texto
dhṛtātmabhir yogibhir apy alabhyaḥ
sa eva yad-dṛg-viṣayaḥ svayaṁ sthitaḥ
kiṁ varṇyate diṣṭam ato vrajaukasām
Sinônimos
yat — cujos; pāda-pāṁsuḥ — poeira dos pés de lótus; bahu-janma — em muitos nascimentos; kṛcchrataḥ — nos quais se submetem a rigorosas austeridades e penitências como um meio de praticar yoga, meditação etc.; dhṛta-ātmabhiḥ — pelas pessoas capazes de controlar a mente; yogibhiḥ — por esses yogīs (jñana-yogīs, rāja-yogīs, dhyāna-yogīs etc.); api — na verdade; alabhyaḥ — não pode ser alcançada; saḥ — a Suprema Personalidade de Deus; eva — na verdade; yat-dṛk-viṣayaḥ — tornou-Se o objeto da visão direta, face a face; svayam — pessoalmente; sthitaḥ — presente diante deles; kim — o que; varṇyate — pode ser descrito; diṣṭam — sobre a fortuna; ataḥ — portanto; vraja-okasām — dos habitantes de Vrajabhūmi, Vṛndāvana.
Tradução
Os yogīs talvez se submetam a rigorosas austeridades e penitências por muitos nascimentos, praticando yama, niyama, āsana e prāṇāyāma, nenhuma das quais é fácil de ser realizada. Entretanto, no decorrer do tempo, mesmo quando esses yogīs alcançam a perfeição e controlam a mente, são incapazes de saborear mesmo uma só partícula de poeira dos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus. Então, como podemos descrever a grande fortuna dos habitantes de Vrajabhūmi, Vṛndāvana, com quem a Suprema Personalidade de Deus conviveu pessoalmente e que viram o Senhor face a face?
Comentário
SIGNIFICADO—Podemos apenas imaginar a grande fortuna dos habitantes de Vṛndāvana. É impossível descrever como, depois de muitas e muitas vidas de atividades piedosas, tornaram-se tão afortunados.
Texto
teṣāṁ sukha-krīḍana-vīkṣaṇākṣamaḥ
nityaṁ yad-antar nija-jīvitepsubhiḥ
pītāmṛtair apy amaraiḥ pratīkṣyate
Sinônimos
atha — em seguida; agha-nāma — um demônio muito poderoso chamado Agha; abhyapatat — apareceu naquele lugar; mahā-asuraḥ — um demônio grande e extremamente poderoso; teṣām — dos vaqueirinhos; sukha-krīḍana — o gozo de seus passatempos transcendentais; vīkṣaṇa-akṣamaḥ — sendo incapaz de ver, ele não podia tolerar a felicidade transcendental dos vaqueirinhos; nityam — perpetuamente; yat-antaḥ — o fim da vida de Aghāsura; nija-jīvita-īpsubhiḥ — apenas para viverem sem serem perturbados por Aghāsura; pīta-amṛtaiḥ api — embora bebessem néctar todos os dias; amaraiḥ — por esses semideuses; pratīkṣyate — também estava sendo aguardado (os semideuses também esperavam a morte do grande demônio Aghāsura).
Tradução
Meu querido rei Parīkṣit, em seguida, apareceu ali um grande demônio chamado Aghāsura, cuja morte era aguardada até mesmo pelos semideuses. Muito embora os semideuses bebessem néctar todos os dias, eles temiam esse grande demônio e ansiavam vê-lo morrer. Esse demônio não podia tolerar o prazer transcendental que os vaqueirinhos desfrutavam na floresta.
Comentário
SIGNIFICADO—Talvez alguém pergunte como os passatempos de Kṛṣṇa podiam ser interrompidos por um demônio. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura responde a essa pergunta dizendo que, embora o prazer transcendental desfrutado pelos vaqueirinhos não pudesse ser interrompido, eles não poderiam comer seu almoço a menos que eles parassem suas várias atividades prazerosamente transcendentais. Portanto, na hora do almoço, Aghāsura apareceu por arranjo de yogamāyā, para que eles pudessem parar momentaneamente suas atividades e almoçar. A variedade é a mãe do prazer. Os vaqueirinhos divertiam-se continuamente, depois paravam, e então inventavam outra brincadeira. Portanto, todos os dias um demônio vinha e interrompia seus passatempos divertidos. Depois que o demônio era morto, os meninos voltavam a ocupar-se em seus passatempos transcendentais.
Texto
kaṁsānuśiṣṭaḥ sa bakī-bakānujaḥ
ayaṁ tu me sodara-nāśa-kṛt tayor
dvayor mamainaṁ sa-balaṁ haniṣye
Sinônimos
dṛṣṭvā — após ver; arbhakān — todos os vaqueirinhos; kṛṣṇa-mukhān — encabeçados por Kṛṣṇa; aghāsuraḥ — o demônio chamado Aghāsura; kaṁsa-anuśiṣṭaḥ — enviado por Kaṁsa; saḥ — ele (Aghāsura); bakī-baka-anujaḥ — o irmão mais novo de Pūtanā e Bakāsura; ayam — este Kṛṣṇa; tu — na verdade; me — meus; sodara-nāśa-kṛt — o matador do meu irmão e da minha irmã; tayoḥ — por meu irmão e minha irmã; dvayoḥ — por eles dois; mama — meus; enam — Kṛṣṇa; sa-balam — juntamente com Seus assistentes, os vaqueirinhos; haniṣye — matarei.
Tradução
Aghāsura, que fora enviado por Kaṁsa, era o irmão mais novo de Pūtanā e Bakāsura. Portanto, quando ele veio e viu Kṛṣṇa na frente de todos os vaqueirinhos, ele pensou: “Este Kṛṣṇa matou minha irmã e meu irmão, Pūtanā e Bakāsura. Portanto, para o agrado de ambos, matarei este Kṛṣṇa, juntamente com Seus assistentes, os outros vaqueirinhos.”
Texto
kṛtās tadā naṣṭa-samā vrajaukasaḥ
prāṇe gate varṣmasu kā nu cintā
prajāsavaḥ prāṇa-bhṛto hi ye te
Sinônimos
ete — este Kṛṣṇa e Seus associados, os vaqueirinhos; yadā — quando; mat-suhṛdoḥ — do meu irmão e da minha irmã; tila-āpaḥ kṛtāḥ — tornarem-se a última oferenda cerimonial ritualística de sésamo e água; tadā — naquele momento; naṣṭa-samāḥ — sem vida; vraja-okasaḥ — todos os habitantes de Vrajabhūmi, Vṛndāvana; prāṇe — quando a força vital; gate — tiver sido retirada do corpo; varṣmasu — no que diz respeito ao corpo; kā — o que; nu — na verdade; cintā — consideração; prajā-asavaḥ — aqueles cujo amor por seus filhos é igual ao amor pelas suas próprias vidas; prāṇa-bhṛtaḥ — aqueles seres vivos; hi — na verdade; ye te — todos os habitantes de Vrajabhūmi.
Tradução
Aghāsura pensou: Se, de alguma maneira, eu conseguir fazer com que Kṛṣṇa e Seus associados sirvam de última oferenda de gergelim e água para as almas de meu irmão e de minha irmã que partiram, então os habitantes de Vrajabhūmi, para quem esses meninos são a vida e alma, automaticamente morrerão. Se não há vida, pode-se dispensar o corpo; consequentemente, quando seus filhos estiverem mortos, naturalmente todos os habitantes de Vraja morrerão.
Texto
sa yojanāyāma-mahādri-pīvaram
dhṛtvādbhutaṁ vyātta-guhānanaṁ tadā
pathi vyaśeta grasanāśayā khalaḥ
Sinônimos
iti — dessa maneira; vyavasya — decidindo; ājagaram — píton; bṛhat vapuḥ — um corpo enorme; saḥ — Aghāsura; yojana-āyāma — ocupando uma extensão de treze quilômetros de terra; mahā-adri-pīvaram — da largura de uma grande montanha; dhṛtvā — assumindo esta forma; adbhutam — maravilhosa; vyātta — escancarou; guhā-ānanam — tendo uma boca semelhante a uma grande caverna na montanha; tadā — naquele momento; pathi — na estrada; vyaśeta — ocupada; grasana-āśayā — querendo engolir todos os vaqueirinhos; khalaḥ — o astuciosíssimo.
Tradução
Após tomar essa decisão, o astucioso Aghāsura assumiu a forma de um enorme píton, da largura de uma grande montanha e medindo treze quilômetros de comprimento. Tendo assumido esse maravilhoso corpo de serpente, ele abriu sua boca como se esta fosse uma grande caverna nas montanhas e deitou-se na estrada, esperando pela oportunidade de engolir Kṛṣṇa e Seus associados, os vaqueirinhos.
Texto
dary-ānanānto giri-śṛṅga-daṁṣṭraḥ
dhvāntāntar-āsyo vitatādhva-jihvaḥ
paruṣānila-śvāsa-davekṣaṇoṣṇaḥ
Sinônimos
dharā — na superfície do globo; adhara-oṣṭhaḥ — cujo lábio inferior; jalada-uttara-oṣṭhaḥ — cujo lábio superior tocava as nuvens; darī-ānana-antaḥ — cuja boca se expandia muito amplamente como uma caverna de montanha; giri-śṛṅga — como um pico de montanha; daṁṣṭraḥ — cujos dentes; dhvānta-antaḥ-āsyaḥ — dentro de cuja boca a atmosfera era a mais escura possível; vitata-adhva-jihvaḥ — cuja língua era como uma larga estrada; paruṣa-anila-śvāsa — cuja respiração era como um vento morno; dava-īkṣaṇa-uṣṇaḥ — e cujo olhar era como chamas de fogo.
Tradução
Seu lábio inferior repousava na superfície da Terra, e seu lábio superior tocava as nuvens no céu. Os cantos de sua boca pareciam os lados de uma grande caverna na montanha, e a parte intermediária de sua boca era o mais escuro possível. Sua língua parecia uma larga estrada, sua respiração exalava um vento morno, e seus olhos ardiam como o fogo.
Texto
matvā vṛndāvana-śriyam
vyāttājagara-tuṇḍena
hy utprekṣante sma līlayā
Sinônimos
dṛṣṭvā — vendo; tam — esse Aghāsura; tādṛśam — naquela postura; sarve — Kṛṣṇa e todos os vaqueirinhos; matvā — pensaram isso; vṛndāvana-śriyam — era uma bela estátua de Vṛndāvana; vyātta — aberta; ajagara-tuṇḍena — com a forma da boca de um píton; hi — na verdade; utprekṣante — como se observassem; sma — no passado; līlayā — uma razão para os passatempos.
Tradução
Ao verem esta maravilhosa forma do demônio, que parecia um grande píton, os meninos pensavam tratar-se de um belo cenário de Vṛndāvana. Depois, imaginaram que aquilo parecia a boca de um grande píton. Em outras palavras, os meninos, não sentindo nenhum medo, pensavam que era uma estátua que, em forma de um grande píton, fora feita para alegrar os seus passatempos.
Comentário
SIGNIFICADO—Alguns meninos, ao verem esse maravilhoso fenômeno, pensaram que de fato aquilo era uma serpente, e fugiram dali. Mas os outros disseram: “Por que estais fugindo? Não é possível que um píton como este fique por aqui. Este é um lugar muito belo para brincar.” Foi isso o que eles imaginaram.
Texto
sattva-kūṭaṁ puraḥ sthitam
asmat-saṅgrasana-vyātta-
vyāla-tuṇḍāyate na vā
Sinônimos
aho — oh; mitrāṇi — amigos; gadata — simplesmente deixai-nos saber; sattva-kūṭam — um píton morto; puraḥ sthitam — como está bem diante de todos nós; asmat — todos nós; saṅgrasana — para devorar-nos juntos; vyātta-vyāla-tuṇḍā-yate — o píton escancarou sua boca; na vā — se isto é um fato ou não.
Tradução
Os meninos disseram: Queridos amigos, acaso esta criatura está morta, ou se trata, na verdade, de uma serpente viva, com sua boca escancarada apenas para engolir todos nós? Por favor, esclareçamos esta dúvida.
Comentário
SIGNIFICADO—Os amigos começaram a comentar entre si a respeito da maravilhosa criatura que estava deitada diante deles. Ela estava morta ou, na verdade, era um píton vivo e com a intenção de engoli-los?
Texto
uttarā-hanuvad ghanam
adharā-hanuvad rodhas
tat-praticchāyayāruṇam
Sinônimos
satyam — agora os meninos chegaram à conclusão de que aquilo de fato era um píton vivo; arka-kara-āraktam — parecendo o brilho solar; uttarā-hanuvat ghanam — na nuvem semelhante ao lábio superior; adharā-hanuvat — parecendo o lábio inferior; rodhaḥ — grande rampa; tat-praticchāyayā — pelo reflexo do brilho solar; aruṇam — avermelhado.
Tradução
Enfim, chegaram à seguinte conclusão: Queridos amigos, certamente se trata de um animal sentado aqui para engolir cada um de nós. Seu lábio superior parece uma nuvem avermelhada pelo brilho do Sol, e seu lábio inferior parece as avermelhadas sombras de uma nuvem.
Texto
savyāsavye nagodare
tuṅga-śṛṅgālayo ’py etās
tad-daṁṣṭrābhiś ca paśyata
Sinônimos
pratispardhete — parecendo-se com precisão; sṛkkabhyām — com os cantos da boca; savya-asavye — esquerdo e direito; naga-udare — cavernas de uma montanha; tuṅga-śṛṅga-ālayaḥ — os altos picos de montanha; api — embora isso seja assim; etāḥ tat-daṁṣṭrābhiḥ — parecem os dentes do animal; ca — e; paśyata — vede só.
Tradução
À esquerda e à direita, as duas depressões semelhantes a cavernas de montanha são os cantos de sua boca, e os altos picos das montanhas são seus dentes.
Texto
rasanāṁ pratigarjati
eṣāṁ antar-gataṁ dhvāntam
etad apy antar-ānanam
Sinônimos
āstṛta-āyāma — o comprimento e a largura; mārgaḥ ayam — uma larga estrada; rasanām — a língua; pratigarjati — parece; eṣām antaḥ-gatam — no interior das montanhas; dhvāntam — escuridão; etat — isto; api — na verdade; antaḥ-ānanam — o interior da boca.
Tradução
Em largura e comprimento, a língua do animal se assemelha a uma larga estrada, e o interior de sua boca é muitíssimo escuro, como a caverna de uma montanha.
Texto
śvāsavad bhāti paśyata
tad-dagdha-sattva-durgandho
’py antar-āmiṣa-gandhavat
Sinônimos
dāva-uṣṇa-khara-vātaḥ ayam — respiração quente emanando exatamente como o fogo; śvāsa-vat bhāti paśyata — vede só como isso se parece com a sua respiração; tat-dagdha-sattva — de cadáveres queimados; durgandhaḥ — o mau cheiro; api — na verdade; antaḥ-āmiṣa-gandha-vat — é como o cheiro de carne que vem de dentro.
Tradução
O vento quente e ardente é a respiração que provém de sua boca, que exala o mau cheiro de carne queimada devido a todos os cadáveres que ele comeu.
Texto
ayaṁ tathā ced bakavad vinaṅkṣyati
kṣaṇād aneneti bakāry-uśan-mukhaṁ
vīkṣyoddhasantaḥ kara-tāḍanair yayuḥ
Sinônimos
asmān — todos nós; kim — se; atra — aqui; grasitā — engolirá; niviṣṭān — que tentamos entrar; ayam — neste animal; tatha — assim; cet — se; baka-vat — como Bakāsura; vinaṅkṣyati — será aniquilado; kṣaṇāt — imediatamente; anena — por este Kṛṣṇa; iti — dessa maneira; baka-ari-uśat-mukham — o belo rosto de Kṛṣṇa, o inimigo de Bakāsura; vīkṣya — observando, olhando para; uddhasantaḥ — rindo alto; kara-tāḍanaiḥ — com o bater de palmas; yayuḥ — entraram na boca.
Tradução
Então, os meninos disseram: “Será que esta criatura viva veio engolir-nos? Se ela tomar essa atitude, será imediatamente morta como Bakāsura. Então, eles olharam para o belo rosto de Kṛṣṇa, o inimigo de Bakāsura, e, rindo alto e batendo palmas, entraram na boca do píton.
Comentário
SIGNIFICADO—Após conversarem sobre o terrível animal, eles decidiram entrar na boca do demônio. Eles tinham plena fé em Kṛṣṇa porque tinham experiência de como Kṛṣṇa os salvara da boca de Bakāsura. Agora, ali estava outro asura, Aghāsura. Portanto, eles quiseram desfrutar da brincadeira de entrar na boca do demônio e serem salvos por Kṛṣṇa, o inimigo de Bakāsura.
Texto
śrutvā vicintyety amṛṣā mṛṣāyate
rakṣo viditvākhila-bhūta-hṛt-sthitaḥ
svānāṁ niroddhuṁ bhagavān mano dadhe
Sinônimos
ittham — dessa maneira; mithaḥ — ou de outra; atathyam — um assunto que não é um fato; a-tat-jña — sem conhecimento; bhāṣitam — enquanto estavam falando; śrutvā — Kṛṣṇa os ouvia; vicintya — pensando; iti — assim; amṛṣā — realmente, verdadeiramente; mṛṣāyate — que tenta aparecer como algo falso (na verdade, o animal era Aghāsura, mas, devido ao conhecimento escasso, eles pensavam que fosse um píton morto); rakṣaḥ — (Kṛṣṇa, entretanto, podia entender que) ele era um demônio; viditvā — sabendo disso; akhila-bhūta-hṛt-sthitaḥ — porque Ele é antaryāmī, situado em toda parte, no âmago dos corações de todos; svānām — de Seus próprios associados; niroddhum — simplesmente para impedi-los; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; manaḥ dadhe — tomou uma decisão.
Tradução
A Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, que como o antaryāmī, a Superalma, está situado no âmago do coração de todos, ouviu os meninos falando entre si sobre o píton artificial. Eles não sabiam que ele, na realidade, era Aghāsura, um demônio que aparecera como um píton. Mas Kṛṣṇa, sabendo disso, queria impedir que Seus companheiros entrassem na boca do demônio.
Texto
paraṁ na gīrṇāḥ śiśavaḥ sa-vatsāḥ
pratīkṣamāṇena bakāri-veśanaṁ
hata-sva-kānta-smaraṇena rakṣasā
Sinônimos
tāvat — nesse ínterim; praviṣṭāḥ — todos entraram; tu — na verdade; asura-udara-antaram — na barriga do grande demônio; param — mas; na gīrṇāḥ — eles não foram engolidos; śiśavaḥ — todos os meninos; sa-vatsāḥ — juntamente com seus bezerros; pratīkṣamāṇena — que estava simplesmente esperando por; baka-ari — do inimigo de Bakāsura; veśanam — a entrada; hata-sva-kānta-smaraṇena — o asura pensava em seus próprios parentes mortos, que só ficariam satisfeitos caso Kṛṣṇa fosse morto; rakṣasā — pelo demônio.
Tradução
Nesse ínterim, enquanto Kṛṣṇa tentava descobrir um jeito de impedi-los, todos os vaqueirinhos entraram na boca do demônio. O demônio, entretanto, não os engoliu, pois estava pensando em seus parentes mortos por Kṛṣṇa e simplesmente aguardava Kṛṣṇa entrar em sua boca.
Texto
hy ananya-nāthān sva-karād avacyutān
dīnāṁś ca mṛtyor jaṭharāgni-ghāsān
ghṛṇārdito diṣṭa-kṛtena vismitaḥ
Sinônimos
tān — todos aqueles meninos; vīkṣya — vendo; kṛṣṇaḥ — a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa; sakala-abhaya-pradaḥ — que é a fonte do destemor para todos; hi — na verdade; ananya-nāthān — especialmente para os vaqueirinhos, que não conheciam ninguém exceto Kṛṣṇa; sva-karāt — do controle de Sua mão; avacyutān — agora tinham escapado; dīnān ca — desamparados; mṛtyoḥ jaṭhara-agni-ghāsān — que haviam todos entrado como palhas no fogo do abdômen de Aghāsura, que era muito arrojado e estava faminto, como a morte personificada (porque assumira um corpo enorme, o asura certamente tinha um apetite muito forte); ghṛṇā-arditaḥ — portanto, sendo compassivo devido à misericórdia imotivada; diṣṭa-kṛtena — com as ações executadas por Sua potência interna; vismitaḥ — Ele também, por enquanto, ficou atônito.
Tradução
Kṛṣṇa viu que todos os vaqueirinhos, que conheciam apenas a Ele como seu Senhor, acabavam de escapar de Suas mãos e estavam desamparados, entrando como palhas no fogo do abdômen de Aghāsura, que era a morte personificada. Para Kṛṣṇa, era intolerável separar-Se de Seus amigos, os vaqueirinhos. Portanto, como se percebesse aquilo como um ato de Sua potência interna, Kṛṣṇa, por um momento, ficou espantado e sem saber o que fazer.
Texto
na vā amīṣāṁ ca satāṁ vihiṁsanam
dvayaṁ kathaṁ syād iti saṁvicintya
jñātvāviśat tuṇḍam aśeṣa-dṛg ghariḥ
Sinônimos
kṛtyam kim — o que fazer; atra — nesta situação; asya khalasya — deste demônio invejoso; jīvanam — a existência; na — não deve haver; vā — ou; amīṣām ca — e daqueles que são inocentes; satām — dos devotos; vihiṁsanam — a morte; dvayam — ambas as ações (matar o demônio e salvar os meninos); katham — como; syāt — será possível; iti saṁvicintya — pensando muito seriamente no assunto; jñātvā — e decidindo o que fazer; aviśat — entrou; tuṇḍam — na boca do demônio; aśeṣa-dṛk hariḥ — Kṛṣṇa, que tem potência ilimitada, podia entender o passado, o futuro e o presente.
Tradução
Agora, o que se há de fazer? Como matar este demônio e salvar os devotos ao mesmo tempo? Kṛṣṇa, tendo potência ilimitada, decidiu descobrir uma maneira inteligente pela qual pudesse salvar os meninos e matar o demônio simultaneamente. Foi então que Ele entrou na boca de Aghāsura.
Comentário
SIGNIFICADO—Kṛṣṇa é conhecido como ananta-vīrya-sarvajña porque tudo Lhe é conhecido. Porque Ele conhece tudo perfeitamente bem, não Lhe foi difícil encontrar o meio pelo qual poderia salvar os meninos e, ao mesmo tempo, matar o demônio. Assim, Ele decidiu que também entraria na boca do demônio.
Texto
bhayād dhā-heti cukruśuḥ
jahṛṣur ye ca kaṁsādyāḥ
kauṇapās tv agha-bāndhavāḥ
Sinônimos
tadā — naquele momento; ghana-chadāḥ — atrás das nuvens; devāḥ — todos os semideuses; bhayāt — farejando perigo porque Kṛṣṇa entrara na boca do demônio; hā-hā — ai de nós, ai de nós; iti — dessa maneira; cukruśuḥ — eles exclamaram; jahṛṣuḥ — ficaram jubilosos; ye — aqueles; ca — também; kaṁsa-ādyāḥ — Kaṁsa e outros; kauṇapāḥ — os demônios; tu — na verdade; agha-bāndhavāḥ — os amigos de Aghāsura.
Tradução
Quando Kṛṣṇa entrou na boca de Aghāsura, os semideuses, escondidos atrás das nuvens, exclamaram: “Ai de nós! Ai de nós!” Mas os amigos de Aghāsura, tais como Kaṁsa e outros demônios, ficaram jubilosos.
Texto
tv avyayaḥ sārbha-vatsakam
cūrṇī-cikīrṣor ātmānaṁ
tarasā vavṛdhe gale
Sinônimos
tat — aquela exclamação de hā-hā; śrutvā — ouvindo; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; tu — na verdade; avyayaḥ — inexpugnável; sa-arbha-vatsakam — juntamente com os vaqueirinhos e os bezerros; cūrṇī-cikīrṣoḥ — daquele demônio, que desejava esmagar dentro do abdômen; ātmānam — pessoalmente, Ele próprio; tarasā — bem depressa; vavṛdhe — avolumou-Se; gale — dentro da garganta.
Tradução
Quando a invencível Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, ouviu os semideuses gritando “Ai de nós! Ai de nós!” por detrás das nuvens, Ele de imediato Se agigantou dentro da garganta do demônio, simplesmente para salvar-Se, bem como salvar os vaqueirinhos, Seus companheiros, do demônio que queria esmagá-los.
Comentário
SIGNIFICADO—Assim são as atividades de Kṛṣṇa. Paritrāṇāya sādhūnāṁ vināśāya ca duṣkṛtām. (Bhagavad-gītā 4.8) Agigantando-Se dentro da garganta do demônio, Kṛṣṇa o sufocou até a morte e, ao mesmo tempo, salvou-Se, bem como salvou Seus associados, da morte iminente. Além disso, poupou os semideuses da lamentação.
Texto
hy udgīrṇa-dṛṣṭer bhramatas tv itas tataḥ
pūrṇo ’ntar-aṅge pavano niruddho
mūrdhan vinirbhidya vinirgato bahiḥ
Sinônimos
tataḥ — depois que Kṛṣṇa procedeu com a morte do demônio quando estava dentro da boca do mesmo; ati-kāyasya — daquele grande demônio, que expandira seu corpo a um tamanho enorme; niruddha-mārgiṇaḥ — devido à asfixia, todas as saídas estavam obstruídas; hi udgīrṇa-dṛṣṭeḥ — cujos olhos ficaram esbugalhados; bhramataḥ tu itaḥ tataḥ — os globos oculares, ou o ar vital, movendo-se de um lado para o outro; pūrṇaḥ — completamente cheio; antaḥ-aṅge — dentro do corpo; pavanaḥ — o ar vital; niruddhaḥ — sendo obstruído; mūrdhan — o orifício no topo da cabeça; vinirbhidya — rompendo; vinirgataḥ — foi; bahiḥ — para fora.
Tradução
Depois, porque Kṛṣṇa aumentara o tamanho de Seu corpo, o demônio estendeu seu próprio corpo a um tamanho muito grande. Entretanto, com sua respiração interrompida, ele ficou sufocado, e seus olhos, esbugalhados, giraram de um lado para o outro. O ar vital do demônio, porém, não conseguia escapar por nenhuma saída, até que saiu através de um orifício no topo da cabeça do demônio.
Texto
prāṇeṣu vatsān suhṛdaḥ paretān
dṛṣṭyā svayotthāpya tad-anvitaḥ punar
vaktrān mukundo bhagavān viniryayau
Sinônimos
tena eva — através daquele brahma-randhra, ou o orifício no topo da cabeça; sarveṣu — todo o ar dentro do corpo; bahiḥ gateṣu — tendo escapado; prāṇeṣu — os ares vitais, juntamente com a força vital; vatsān — os bezerros; suhṛdaḥ — os amigos vaqueirinhos; paretān — que estavam todos mortos lá dentro; dṛṣṭyā svayā — pelo fato de Kṛṣṇa lançar Seu olhar sobre; utthāpya — trouxe-os de volta à vida; tat-anvitaḥ — assim acompanhado por eles; punaḥ — novamente; vaktrāt — da boca; mukundaḥ — a Suprema Personalidade de Deus; bhagavān — Kṛṣṇa; viniryayau — saiu.
Tradução
Quando todo o ar vital do demônio passou por aquele orifício no topo de sua cabeça, Kṛṣṇa lançou Seu olhar para os bezerros e vaqueirinhos mortos e os ressuscitou. Então, Mukunda, que pode conceder a liberação a todos, saiu da boca do demônio com Seus amigos e os bezerros.
Texto
jyotiḥ sva-dhāmnā jvalayad diśo daśa
pratīkṣya khe ’vasthitam īśa-nirgamaṁ
viveśa tasmin miṣatāṁ divaukasām
Sinônimos
pīna — muito grande; ahi-bhoga-utthitam — emanando do corpo da serpente, que buscava o gozo material; adbhutam — muito maravilhosa; mahat — grande; jyotiḥ — refulgência; sva-dhāmnā — com sua própria iluminação; jvalayat — tornando fulgurantes; diśaḥ daśa — todas as dez direções; pratīkṣya — esperando; khe — no céu; avasthitam — permanecendo individualmente; īśa-nirgamam — até que a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, saísse; viveśa — entrou; tasmin — no corpo de Kṛṣṇa; miṣatām — enquanto observavam; divaukasām — todos os semideuses.
Tradução
Do corpo do gigantesco píton, surgiu uma refulgência deslumbrante, iluminando todas as direções, e permaneceu individualmente no céu até Kṛṣṇa sair da boca do cadáver. Então, sob o olhar de todos os semideuses, essa refulgência entrou no corpo de Kṛṣṇa.
Comentário
SIGNIFICADO—Aparentemente, a serpente chamada Aghāsura, por ter recebido a associação de Kṛṣṇa, obteve mukti, entrando no corpo de Kṛṣṇa. Entrar no corpo de Kṛṣṇa se chama sāyujya-mukti, mas os versos posteriores provam que Aghāsura, como Dantavakra e outros, recebeu sārūpya-mukti. Isso foi amplamente descrito por Śrīla Viśvanatha Cakravartī Ṭhākura, citando referências do Vaiṣṇava-toṣaṇī, de Śrīla Jīva Gosvāmī. Aghāsura alcançou sārūpya-mukti e foi promovido aos planetas Vaikuṇṭha para viver com os mesmos traços corpóreos de Viṣṇu, que tem quatro braços. A explicação desse fenômeno pode ser resumida da seguinte maneira.
A refulgência saiu do corpo da serpente e purificou-se, alcançando śuddha-sattva espiritual – a fase em que se fica livre da contaminação material –, porque Kṛṣṇa permanecera dentro do corpo da serpente, mesmo após a morte desta. Talvez alguém duvide que semelhante demônio, cheio de atividades malévolas, pudesse alcançar a liberação sob a forma de sārūpya ou sāyujya, e talvez fique surpreso com isso. Mas Kṛṣṇa é tão bondoso que, para afastar essa dúvida, fez a refulgência, a vida individual do pitou, esperar algum tempo em sua individualidade, na presença de todos os semideuses.
Kṛṣṇa é a refulgência completa, e todo ser vivo é parte integrante dessa refulgência. Como se prova aqui, a refulgência é individual em todo ser vivo. Por algum tempo, a refulgência permaneceu fora do corpo do demônio, individualmente, e não se uniu à refulgência total, o brahmajyoti. A refulgência Brahman não é visível aos olhos materiais, mas, para provar que todo ser vivo é individual, Kṛṣṇa fez essa refulgência individual permanecer fora do corpo do demônio por algum tempo, de modo que todos vissem. Em seguida, Kṛṣṇa mostrou que qualquer pessoa morta por Ele alcança a liberação, seja sāyujya, sārūpya, sāmīpya ou qualquer outro tipo.
Contudo, a liberação alcançada por aqueles que estão na plataforma de amor e afeição transcendentais é vimukti, liberação especial. Assim, a serpente primeiro entrou no corpo de Kṛṣṇa pessoalmente e juntou-se à refulgência Brahman. Essa imersão se chama sāyujya-mukti. Nos versos posteriores, todavia, nós observamos que Aghāsura obteve sārūpya-mukti. O verso 38 explica que Aghāsura alcançou um corpo exatamente como o de Viṣṇu, e o verso seguinte a esse também afirma claramente que ele alcançou um corpo inteiramente espiritual, como o de Nārāyaṇa. Portanto, em duas ou três passagens, o Bhāgavatam confirma que Aghāsura alcançou sārūpya-mukti. Pode-se, então, argumentar: Como foi que ele se juntou à refulgência Brahman? Como resposta, menciona-se que, assim como Jaya e Vijaya, após três nascimentos, voltaram a alcançar sārūpya-mukti e a associação com o Senhor, Aghāsura recebeu uma liberação semelhante.
Texto
puṣpaiḥ sugā apsarasaś ca nartanaiḥ
gītaiḥ surā vādya-dharāś ca vādyakaiḥ
stavaiś ca viprā jaya-niḥsvanair gaṇāḥ
Sinônimos
tataḥ — em seguida; ati-hṛṣṭāḥ — todos ficaram muito satisfeitos; sva-kṛtaḥ — próprios deveres respectivos; akṛta — executaram; arhanam — sob a forma de adoração à Suprema Personalidade de Deus; puṣpaiḥ — derramando dos céus flores cultivadas em Nandana-kānana; su-gāḥ — os cantores celestiais; apsarasaḥ ca — e as dançarinas celestiais; nartanaiḥ — dançando; gītaiḥ — cantando canções celestiais; surāḥ — todos os semideuses; vādya-dharāḥ ca — aqueles que tocavam tambores musicais; vādyakaiḥ — tocando respectivamente; stavaiḥ ca — e oferecendo orações; viprāḥ — os brahmaṇas; jaya-niḥsvanaiḥ — simplesmente glorificando a Suprema Personalidade de Deus; gaṇāḥ — todos.
Tradução
Em seguida, estando todos satisfeitos, os semideuses começaram a derramar flores de Nandana-kānana, as dançarinas celestiais começaram a dançar, e os Gandharvas, que são famosos cantores, ofereceram canções oracionais. Os percussionistas começaram a bater seus timbales, e os brahmaṇas ofereceram hinos védicos. Dessa maneira, tanto no céu quanto na Terra, todos começaram a realizar seus deveres pessoais, glorificando o Senhor.
Comentário
SIGNIFICADO—Cada um tem um determinado dever. Os śāstras concluem (nirūpitaḥ) que, através de suas qualificações pessoais, todos devem glorificar a Suprema Personalidade de Deus. Se você é um cantor, sempre glorifique o Senhor Supremo cantando primorosamente. Se você é instrumentista, glorifique o Senhor Supremo tocando instrumentos musicais. Svanuṣṭhitasya dharmasya saṁsiddhir hari-toṣaṇam. (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.13) A perfeição da vida é satisfazer a Personalidade de Deus. Portanto, começando desta Terra e indo até o reino celestial, todos se ocuparam em glorificar a Suprema Personalidade de Deus. É a opinião de todas as grandes pessoas santas que quaisquer qualificações que alguém tenha adquirido devem ser utilizadas para glorificar o Senhor Supremo.
sviṣṭasya sūktasya ca buddhi-dattayoḥ
avicyuto ’rthaḥ kavibhir nirūpito
yad uttamaśloka-guṇānuvarṇanam
“Os círculos eruditos concluíram positivamente que o propósito infalível do avanço de conhecimento, a saber, austeridades, estudo dos Vedas, sacrifício, canto de hinos e caridade, culmina nas descrições transcendentais do Senhor, que é definido em poemas seletos.” (Śrīmad-Bhāgavatam 1.5.22) Esta é a perfeição da vida. Todos devem aprender a glorificar a Suprema Personalidade de Deus através de suas respectivas qualidades. Educação, austeridade, penitência, ou, no mundo moderno, negócios, indústria, educação e assim por diante – tudo deve ser ocupado em glorificar o Senhor. Então, todos no mundo serão felizes.
Kṛṣṇa vem, portanto, para manifestar Suas atividades transcendentais, de modo que as pessoas tenham a oportunidade de glorificá-lO sob todos os aspectos. Entender como glorificar o Senhor é o verdadeiro processo de investigação. Ninguém deve pensar que algo pode ser entendido sem Deus. Essa é uma atitude condenável.
jātiḥ śāstraṁ japas tapaḥ
aprāṇasyaiva dehasya
maṇḍanaṁ loka-rañjanam
(Hari-bhakti-sudhodaya 3.11)
Sem bhagavad-bhakti, sem glorificação do Senhor Supremo, tudo o que nos resta é a simples decoração de um cadáver.
Texto
jayādi-naikotsava-maṅgala-svanān
śrutvā sva-dhāmno ’nty aja āgato ’cirād
dṛṣṭvā mahīśasya jagāma vismayam
Sinônimos
tat — aquela celebração realizada pelos semideuses no sistema planetário superior; adbhuta — maravilhosa; stotra — orações; su-vādya — gloriosos sons musicais de tambores e outros instrumentos; gītikā — canções celestiais; jaya-ādi — sons de jaya etc.; na-eka-utsava — celebrações simplesmente para glorificar a Suprema Personalidade de Deus; maṅgala-svanān — sons transcendentais, auspiciosos para todos; śrutva — ouvindo esses sons; sva-dhāmnaḥ — de sua morada; anti — nas cercanias; ajaḥ — senhor Brahmā; āgataḥ — vindo ali; acirāt — bem depressa; dṛṣṭvā — vendo; mahi — a glorificação; īśasya — do senhor Kṛṣṇa; jagāma vismayam — ficou espantado.
Tradução
Ao tomar conhecimento da maravilhosa cerimônia que ocorria perto de seu planeta, acompanhada de música, canções e sons de “Jaya! Jaya!”, o senhor Brahmā imediatamente desceu para assistir à solenidade. Ao ver tanta glorificação ao Senhor Kṛṣṇa, ele ficou completamente atônito.
Comentário
SIGNIFICADO—Aqui, a palavra anti significa “perto”, indicando que até mesmo nos sistemas planetários superiores perto de Brahmaloka, tais como Maharloka, Janaloka e Tapoloka, estava em andamento o festival em glorificação do Senhor Kṛṣṇa.
Texto
śuṣkaṁ vṛndāvane ’dbhutam
vrajaukasāṁ bahu-tithaṁ
babhūvākrīḍa-gahvaram
Sinônimos
rājan — ó Mahārāja Parīkṣit; ājagaram carma — o corpo seco de Aghāsura, que permanecia apenas como uma grande pele; śuṣkam — ao secar por completo; vṛndāvane adbhutam — como uma maravilhosa peça de museu em Vṛndāvana; vraja-okasām — para os habitantes de Vrajabhūmi, Vṛndāvana; bahu-titham — por muitos dias, ou por muito tempo; babhūva — tornou-se; ākrīḍa — lugar de recreação; gahvaram — uma caverna.
Tradução
Ó rei Parīkṣit, quando o corpo de píton de Aghāsura definhou, restando apenas uma grande pele, tornou-se um lugar maravilhoso para os habitantes de Vṛndāvana visitarem, e permaneceu nesse estado por muitíssimo tempo.
Texto
harer ātmāhi-mokṣaṇam
mṛtyoḥ paugaṇḍake bālā
dṛṣṭvocur vismitā vraje
Sinônimos
etat — este incidente que consistiu em libertar da morte Aghāsura e os associados de Kṛṣṇa; kaumāra-jam karma — executado durante sua idade kaumāra (aos cinco anos de idade); hareḥ — da Suprema Personalidade de Deus; ātma — os devotos são a vida e alma do Senhor; ahi-mokṣaṇam — sua libertação e a libertação do píton; mṛtyoḥ — do caminho de repetidos nascimentos e mortes; paugaṇḍake — na idade de paugaṇḍa, que começa com o sexto ano (um ano depois); bālāḥ — todos os meninos; dṛṣṭvā ūcuḥ — revelaram o fato um ano depois; vismitāḥ — como se tivesse acontecido naquele mesmo dia; vraje — em Vṛndāvana.
Tradução
Este incidente em que Kṛṣṇa salvou da morte a Si mesmo e Seus amigos e libertou Aghāsura, que assumira a forma de um píton, aconteceu quando Kṛṣṇa tinha cinco anos de idade. Após um ano, ele foi revelado em Vrajabhūmi como se tivesse ocorrido naquele mesmo dia.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra mokṣaṇam significa “liberação”. Os associados de Kṛṣṇa e o próprio Kṛṣṇa não precisam tentar obter a liberação, pois, estando no mundo espiritual, eles já são liberados. No mundo material, há nascimento, morte, velhice e doença, mas, no mundo espiritual, não existe nada disso, dado que tudo é eterno. Quanto ao píton, através da associação de Kṛṣṇa e Seus devotos, Aghāsura também foi favorecido com a vida eterna. Portanto, como aqui indica a palavra ātmāhi-mokṣaṇam, se o píton Aghāsura pôde receber a associação eterna com a Suprema Personalidade de Deus, o que se pode dizer daqueles que já são associados do Senhor? Sākaṁ vijahruḥ kṛta-puṇya-puñjāḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 10.12.11) Eis a prova de que Deus é bom para todos. Mesmo quando Ele mata alguém, essa pessoa alcança a liberação. O que se pode dizer, então, daqueles que já estão na associação do Senhor?
Texto
parāvarāṇāṁ paramasya vedhasaḥ
agho ’pi yat-sparśana-dhauta-pātakaḥ
prāpātma-sāmyaṁ tv asatāṁ sudurlabham
Sinônimos
na — não; etat — isto; vicitram — é maravilhoso; manuja-arbha-māyinaḥ — de Kṛṣṇa, que apareceu como o filho de Nanda Mahārāja e Yaśodā, sendo compassivo com eles; para-avarāṇām — de todas as causas e efeitos; paramasya vedhasaḥ — do criador supremo; aghaḥ apī — Aghāsura também; yat-sparśana — simplesmente devido à ligeira associação de quem; dhauta-pātakaḥ — libertou-se de toda a contaminação da existência material; prāpa — elevou-se; ātma-sāmyam — a um corpo exatamente semelhante ao de Nārāyaṇa; tu — mas; asatām sudurlabham — que não é possível, de modo algum, de ser obtido por almas contaminadas (mas tudo pode ser possível através da misericórdia do Senhor Supremo).
Tradução
Kṛṣṇa é a causa de todas as causas. As causas e os efeitos do mundo material, tanto superiores quanto inferiores, são todos criados pelo Senhor Supremo, o controlador original. Ao aparecer como o filho de Nanda Mahārāja e Yaśodā, Kṛṣṇa agiu através de Sua misericórdia imotivada. Portanto, o fato de Ele manifestar Sua opulência ilimitada não foi nenhum feito maravilhoso. Na verdade, Ele mostrou tamanha misericórdia que mesmo Aghāsura, o mais pecaminoso canalha, elevou-se à posição na qual se tornou um de Seus associados e alcançou sārūpya-mukti, o que é realmente impossível de ser alcançado por parte de pessoas materialmente contaminadas.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra māyā também é usada em relação ao amor. Por māyā, amor, um pai tem afeição por seu filho. Portanto, a palavra māyinaḥ indica que Kṛṣṇa, por amor, apareceu como filho de Nanda Mahārāja e assumiu a forma de uma criança humana (manujārbha). Kṛṣṇa é a causa de todas as causas. Ele é o criador da causa e do efeito, e é o controlador supremo. Nada Lhe é impossível. Logo, o fato de mesmo um ser vivo como Aghāsura ter sido capacitado a atingir a salvação sob a forma de sārūpya-mukti não foi algo surpreendente de modo algum, considerando-se quem é Kṛṣṇa. Ao entrar na boca de Aghāsura juntamente com Seus associados, Kṛṣṇa divertiu-Se com grande alegria. Portanto, quando Aghāsura, através dessa alegre associação que existe no mundo espiritual, purificou-se de toda a contaminação, ele atingiu sārūpya-mukti e vimukti pela graça de Kṛṣṇa. Kṛṣṇa conceder isso não é algo surpreendente de modo algum.
Texto
manomayī bhāgavatīṁ dadau gatim
sa eva nityātma-sukhānubhūty-abhi-
vyudasta-māyo ’ntar-gato hi kiṁ punaḥ
Sinônimos
sakṛt — apenas uma vez; yat — cuja; aṅga-pratimā — forma do Senhor Supremo (há muitas formas, mas Kṛṣṇa é a forma original); antaḥ-āhitā — colocando no âmago do coração, de uma maneira ou outra; manaḥ-mayī — pensando nEle, mesmo à força; bhāgavatīm — que é competente para oferecer serviço devocional ao Senhor; dadau — Kṛṣṇa deu; gatim — o melhor destino; saḥ — Ele (a Suprema Personalidade de Deus); eva — na verdade; nitya — sempre; ātma — de todas as entidades vivas; sukha-anubhūti — qualquer um que pense nEle imediatamente desfruta de prazer transcendental; abhivyudasta-māyaḥ — porque toda a ilusão é inteiramente removida por Ele; antaḥ-gataḥ — Ele está sempre presente no âmago do coração; hi — na verdade; kim punaḥ — o que dizer.
Tradução
Se mesmo apenas uma vez ou mesmo à força alguém introduz a forma da Suprema Personalidade de Deus em sua mente, ele pode alcançar a salvação suprema através da misericórdia de Kṛṣṇa, como aconteceu com Aghāsura. O que se pode dizer, então, daqueles em cujo coração a Suprema Personalidade de Deus entra ao aparecer como uma encarnação, ou daqueles que sempre pensam nos pés de lótus do Senhor, que é a fonte da bem-aventurança transcendental de todas as entidades vivas e por quem toda a ilusão é inteiramente removida?
Comentário
SIGNIFICADO—Descreve-se aqui o processo através do qual se recebe o favor da Suprema Personalidade de Deus. Yat-pāda-paṅkaja-palāśa-vilāsa-bhaktyā. (Śrīmad-Bhāgavatam 4.22.39) Pelo simples fato de pensar em Kṛṣṇa, a pessoa pode alcançá-lO muito facilmente. Também se descreve Kṛṣṇa como aquele que está sempre com Seus pés de lótus no coração de Seus devotos (bhagavān bhakta-hṛdi sthitaḥ). No caso de Aghāsura, pode-se argumentar que ele não era um devoto. A resposta é que, por um momento, ele pensou em Kṛṣṇa com devoção. Bhaktyāham ekayā grāhyaḥ. Sem devoção, ninguém pode pensar em Kṛṣṇa, e, por outro lado, sempre que alguém pensa em Kṛṣṇa, é certo que ele tem devoção. Embora Aghāsura tivesse como objetivo matar Kṛṣṇa, Aghāsura pensou em Kṛṣṇa com devoção por um momento, e Kṛṣṇa e Seus associados quiseram brincar dentro da boca de Aghāsura. Do mesmo modo, Pūtanā quis matar Kṛṣṇa envenenando-O, mas Kṛṣṇa tomou-a por Sua mãe porque Ele aceitara o leite de seu seio. Svalpam apy asya dharmasya trāyate mahato bhayāt. (Bhagavad-gītā 2.40) Em especial quando Kṛṣṇa aparece como um avatāra, alguém que pensa em Kṛṣṇa sob Suas diferentes encarnações (rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan), e em especial sob Sua original forma de Kṛṣṇa, alcança a salvação. Há muitos exemplos disso, entre os quais está Aghāsura, que alcançou a salvação sārūpya-mukti. Portanto, o processo é satataṁ kīrtayanto māṁ yatantaś ca dṛḍha-vratāḥ. (Bhagavad-gītā 9.14) Aqueles que são devotos sempre se ocupam em glorificar Kṛṣṇa. Advaitam acyutam anādim ananta-rūpam: Quando falamos de Kṛṣṇa, referimo-nos a todos os Seus avatāras, tais como Kṛṣṇa, Govinda, Nārāyaṇa, Viṣṇu, Senhor Caitanya, Kṛṣṇa-Balarāma e Śyamasundara. Alguém que sempre pensa em Kṛṣṇa certamente alcança vimukti, a salvação especial como um associado pessoal do Senhor, não necessariamente em Vṛndāvana, mas pelo menos em Vaikuṇṭha. Isso se chama sārūpya-mukti.
Texto
itthaṁ dvijā yādavadeva-dattaḥ
śrutvā sva-rātuś caritaṁ vicitram
papraccha bhūyo ’pi tad eva puṇyaṁ
vaiyāsakiṁ yan nigṛhīta-cetāḥ
Sinônimos
śrī-sūtaḥ uvāca — Śrī Sūta Gosvāmī falou aos santos reunidos em Naimiṣāraṇya; ittham — dessa maneira; dvijāḥ — ó brāhmaṇas eruditos; yādava-deva-dattaḥ — Mahārāja Parīkṣit (ou Mahārāja Yudhiṣṭhira), que era protegido por Yādavadeva, Kṛṣṇa; śrutvā — ouvindo; sva-rātuḥ — de Kṛṣṇa, que o salvou quando ele estava no ventre de sua mãe, Uttarā; caritam — as atividades; vicitram — muitíssimo maravilhosas; papraccha — perguntou; bhūyaḥ api — também de novo; tat eva — tais atividades; puṇyam — que são sempre plenas de atividades piedosas; (śṛṇvatāṁ sva-kathāḥ kṛṣṇaḥ puṇya-śravaṇa-kīrtanaḥ: ouvir sobre Kṛṣṇa é sempre piedoso); vaiyāsakim — a Śukadeva Gosvāmī; yat — porque; nigṛhīta-cetāḥ — Parīkṣit Mahārāja já se tornara fixo em ouvir sobre Kṛṣṇa.
Tradução
Śrī Sūta Gosvāmī disse: Ó santos eruditos, os passatempos infantis de Śrī Kṛṣṇa são muito maravilhosos. Mahārāja Parīkṣit, após ouvir sobre esses passatempos de Kṛṣṇa, que o salvou quando ele estava no ventre de sua mãe, ficou fixo em sua mente e voltou a pedir que Śukadeva Gosvāmī falasse sobre essas atividades piedosas.
Texto
brahman kālāntara-kṛtaṁ
tat-kālīnaṁ kathaṁ bhavet
yat kaumāre hari-kṛtaṁ
jaguḥ paugaṇḍake ’rbhakāḥ
Sinônimos
śrī-rājā uvāca — Mahārāja Parīkṣit perguntou; brahman — ó brāhmaṇa erudito (Śukadeva Gosvāmī); kāla-antara-kṛtam — coisas feitas no passado, em uma época diferente (na idade kaumāra); tat-kālīnam — descritas como tendo acontecido agora (na idade paugaṇḍa); katham bhavet — por que foi assim; yat — passatempo que; kaumāre — na idade kaumāra; hari-kṛtam — foi feito por Kṛṣṇa; jaguḥ — eles descreveram; paugaṇḍake — na idade paugaṇḍa (um ano depois); arbhakāḥ — todos os meninos.
Tradução
Mahārāja Parīkṣit perguntou: Ó grande sábio, por que os acontecimentos passados foram descritos como episódios atuais? Durante Sua idade kaumāra, o Senhor Śrī Kṛṣṇa realizou este passatempo em que Ele mata Aghāsura. Por que, então, durante Sua idade paugaṇḍa, os meninos descreveram este incidente como tendo acontecido recentemente?
Texto
paraṁ kautūhalaṁ guro
nūnam etad dharer eva
māyā bhavati nānyathā
Sinônimos
tat brūhi — portanto, por favor, explica isto; me — para mim; mahā-yogin — ó grande yogī; param — muita; kautūhalam — curiosidade; guro — ó meu senhor, meu mestre espiritual; nūnam — de outro modo; etat — este incidente; hareḥ — da Suprema Personalidade de Deus; eva — na verdade; māyā — a ilusão; bhavati — torna-se; na anyathā — nada mais.
Tradução
Ó maior dos yogīs, meu mestre espiritual, por favor, descreve por que isso aconteceu. Estou muito curioso em relação a isso. Acredito que não foi nada além de outra ilusão causada por Kṛṣṇa.
Comentário
SIGNIFICADO—Kṛṣṇa tem muitas potências: parāsya śaktir vividhaiva śrūyate. (Śvetāśvatara Upaniṣad 6.8) O episódio referente a Aghāsura foi revelado um ano depois. Alguma ação realizada pela potência de Kṛṣṇa deveria estar envolvida. Portanto, Mahārāja Parīkṣit estava muito curioso em relação a isso, e pediu que Śukadeva Gosvāmī descrevesse o que de fato acontecera.
Texto
guro ’pi kṣatra-bandhavaḥ
vayaṁ pibāmo muhus tvattaḥ
puṇyaṁ kṛṣṇa-kathāmṛtam
Sinônimos
vayam — somos; dhanya-tamāḥ — muito glorificado; loke — neste mundo; guro — ó meu senhor, meu mestre espiritual; api — embora; kṣatra-bandhavaḥ — o mais baixo dos kṣatriyas (porque não agimos como kṣatriyas); vayam — estamos; pibāmaḥ — bebendo; muhuḥ — sempre; tvattaḥ — de ti; puṇyam — piedoso; kṛṣṇa-kathā-amṛtam — o néctar de kṛṣṇa-kathā.
Tradução
Ó meu senhor, meu mestre espiritual, embora eu seja o mais baixo dos kṣatriyas, sou glorificado e beneficiado porque tenho a oportunidade de sempre ouvir-te falar sobre o néctar das atividades piedosas da Suprema Personalidade de Deus.
Comentário
SIGNIFICADO—As atividades piedosas da Suprema Personalidade de Deus são muito confidenciais. Habitualmente, consegue ouvir essas atividades apenas quem é muitíssimo afortunado. Parīkṣit Mahārāja colocou-se na posição de kṣatra-bandhavaḥ, que significa “o mais baixo dos kṣatriyas”. As qualidades do kṣatriya são descritas na Bhagavad-gītā, e, embora a qualidade geral do kṣatriya seja īśvara-bhāva, a tendência a governar, não compete ao kṣatriya governar um brāhmaṇa. Em razão disso, Mahārāja Parīkṣit lamentou ter desejado governar os brāhmaṇas, pois foi por essa razão que ele fora amaldiçoado. Ele se considerava o mais baixo dos kṣatriyas. Dānam īśvara-bhāvaś ca kṣātraṁ karma svabhāvajam. (Bhagavad-gītā 18.43) Não havia dúvidas de que Mahārāja Parīkṣit tinha as boas qualidades de um kṣatriya, mas, como devoto, ele se apresentava, com submissão e humildade, como o mais baixo dos kṣatriyas, lembrando-se de como colocara uma serpente morta em volta do pescoço de um brāhmaṇa. O estudante e discípulo tem o direito de perguntar ao guru sobre qualquer serviço confidencial, e é dever do guru explicar ao seu discípulo esses assuntos confidenciais.
Texto
itthaṁ sma pṛṣṭaḥ sa tu bādarāyaṇis
tat-smāritānanta-hṛtākhilendriyaḥ
kṛcchrāt punar labdha-bahir-dṛśiḥ śanaiḥ
pratyāha taṁ bhāgavatottamottama
Sinônimos
śrī-sūtaḥ uvāca — Śrī Sūta Gosvāmī disse; ittham — dessa maneira; sma — no passado; pṛṣṭaḥ — sendo interrogado por; saḥ — ele; tu — na verdade; bādarāyaṇiḥ — Śukadeva Gosvāmī; tat — por ele (Śukadeva Gosvāmī); smārita-ananta — logo que o Senhor Kṛṣṇa foi lembrado; hṛta — imerso em êxtase; akhila-indriyaḥ — todas as ações dos sentidos externos; kṛcchrāt — com grande dificuldade; punaḥ — novamente; labdha-bahiḥ-dṛśiḥ — tendo recuperado sua percepção sensorial externa; śanaiḥ — lentamente; pratyāha — respondeu; tam — a Mahārāja Parīkṣit; bhāgavata-uttama-uttama — ó grande pessoa santa, maior de todos os devotos (Śaunaka).
Tradução
Sūta Gosvāmī disse: Ó Śaunaka, maior entre os santos e devotos, quando Mahārāja Parīkṣit fez a Śukadeva Gosvāmī essa pergunta, Śukadeva Gosvāmī, imediatamente se lembrando dos tópicos sobre Kṛṣṇa presentes no âmago de seu coração, perdeu externamente o contato com as ações dos seus sentidos. Em seguida, com grande dificuldade, ele recuperou sua percepção sensorial externa e começou a falar a Mahārāja Parīkṣit sobre kṛṣṇa-kathā.
Comentário
Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do décimo canto, décimo segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “A Morte do Demônio Aghāsura”.