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Capítulo Quinze

Bali Mahārāja Conquista os Planetas Celestiais

Este capítulo descreve como Bali, após realizar o Viśvajit-yajña, foi abençoado e, então, recebeu uma quadriga e várias classes de parafernália bélica, com as quais atacou o rei dos céus. Todos os semideuses, temendo-o, deixaram os planetas celestiais e fugiram, seguindo as instruções de seu guru.

Mahārāja Parīkṣit queria compreender como o Senhor Vāmanadeva, sob o pretexto de que receberia de Bali Mahārāja três passos de terra, tirou-lhe tudo e o prendeu. Śukadeva Gosvāmī respondeu a essa pergunta com a seguinte explicação. Na luta entre os demônios e os semideuses, descrita no décimo primeiro capítulo deste canto, Bali foi derrotado e morreu na luta, mas, pela graça de Śukrācārya, recobrou sua vida. Então, ele se ocupou no serviço a Śukrācārya, seu mestre espiritual. Os descendentes de Bhṛgu, estando satisfeitos com ele, ocuparam-no na realização do Viśvajit-yajña. Quando esse yajña foi rea­lizado, surgiu do seu fogo uma quadriga, cavalos, uma bandeira, um arco, uma armadura e duas aljavas de flechas. Mahārāja Prahlāda, o avô de Bali Mahārāja, deu-lhe uma guirlanda de flores eternas, e Śukrācārya lhe deu um búzio. Bali Mahārāja, após oferecer reverên­cias a Prahlāda, aos brāhmaṇas e a seu mestre espiritual, Śukrācārya, equipou-se para lutar com Indra e, reunindo seus soldados, dirigiu­-se a Indrapurī. Soprando seu búzio, ele atacou as fronteiras do reino de Indra. Ao ver o poder de Bali Mahārāja, Indra foi ter com seu mestre espiritual, Bṛhaspati, falou-lhe sobre a força de Bali e indagou sobre seu dever. Bṛhaspati informou aos semideuses que, devido ao fato de que os brāhmaṇas haviam outorgado poder extra­ordinário a Bali, os semideuses não conseguiriam lutar contra ele. Sua única esperança era obter o favor da Suprema Personalidade de Deus. Na verdade, não havia nenhuma alternativa. Nessas circunstân­cias, Bṛhaspati aconselhou aos semideuses que deixassem os planetas celestiais e se mantivessem invisíveis em alguma parte. Os semideu­ses seguiram essas ordens, e Bali Mahārāja, juntamente com seus as­sociados, ganhou todo o reino de Indra. Os descendentes de Bhṛgu Muni, sentindo muita afeição pelo seu discípulo Bali Mahārāja, ocupa­ram-no em realizar cem aśvamedha-yajñas. Dessa maneira, Bali des­frutou das opulências dos planetas celestiais.

Texto

śrī-rājovāca
baleḥ pada-trayaṁ bhūmeḥ
kasmād dharir ayācata
bhūteśvaraḥ kṛpaṇa-val
labdhārtho ’pi babandha tam
etad veditum icchāmo
mahat kautūhalaṁ hi naḥ
yācñeśvarasya pūrṇasya
bandhanaṁ cāpy anāgasaḥ

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — o rei disse; baleḥ — de Bali Mahārāja; pada-trayam — três passos; bhūmeḥ — de terra; kasmāt — por que; hariḥ — a Suprema Personalidade de Deus (sob a forma de Vāmana); ayācata — pediu; bhūta-īśvaraḥ — o proprietário de todo o universo; kṛpaṇa-vat — tal qual um pobre; labdha-arthaḥ — obtivesse o presente; api — embora; babandha — prendeu; tam — a ele (Bali); etat — tudo isso; veditum — entender; icchāmaḥ — desejamos; mahat — enorme; kautūhalam — ansiedade; hi — na verdade; naḥ — nossa; yācñā — rogo; īśvarasya — da Suprema Personalidade de Deus; pūrṇasya — que é pleno de tudo; bandhanam — aprisionamento; ca — também; api — embora; anāgasaḥ — daquele que não tinha defeitos.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit perguntou: A Suprema Personalidade de Deus é o proprietário de tudo. Por que Ele, tal qual um homem pobre, pediu que Bali Mahārāja Lhe desse como esmola três passos de terra, e, após ter obtido o que esmolara, por que insistiu em prender Bali Mahārāja? Estou muito ansioso por conhecer o mistério dessas con­tradições.

Texto

śrī-śuka uvāca
parājita-śrīr asubhiś ca hāpito
hīndreṇa rājan bhṛgubhiḥ sa jīvitaḥ
sarvātmanā tān abhajad bhṛgūn baliḥ
śiṣyo mahātmārtha-nivedanena

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; parājita — sendo derrotado; śrīḥ — de opulências; asubhiḥ ca — da vida também; hāpitaḥ — privado; hi — na verdade; indrena — pelo rei Indra; rājan — ó rei; bhṛgubhiḥ — pelos descendentes de Bhṛgu Muni; saḥ — ele (Bali Mahārāja); jīvitaḥ — ressuscitado; sarva-ātmanā — em plena submis­são; tān — a eles; abhajat — adorou; bhṛgūn — os descendentes de Bhṛgu Muni; baliḥ — Mahārāja Bali; śiṣyaḥ — um discípulo; mahāt­mā — a grande alma; artha-nivedanena — dando-lhes tudo.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, quando Bali Mahārāja perdeu toda a sua opulência e morreu na luta, Śukrācārya, um descendente de Bhṛgu Muni, ressuscitou-o. Em razão disso, a grande alma Bali Mahārāja tornou-se discípulo de Śukrācārya e passou a servi-lo com muita fé, oferecendo-lhe todas as suas posses.

Texto

taṁ brāhmaṇā bhṛgavaḥ prīyamāṇā
ayājayan viśvajitā tri-ṇākam
jigīṣamāṇaṁ vidhinābhiṣicya
mahābhiṣekeṇa mahānubhāvāḥ

Sinônimos

tam — com ele (Bali Mahārāja); brāhmaṇāḥ — todos os brāhmaṇas; bhṛgavaḥ — os descendentes de Bhṛgu Muni; prīyamāṇāḥ — estando muito satisfeitos; ayājayan — ocuparam-no em realizar um sacrifício; viśvajitā — conhecido como Viśvajit; tri-nākam — os planetas celestiais; jigīṣamāṇam — desejando conquistar; vidhinā — de acordo com os princípios reguladores; abhiṣicya — após purificarem; mahā-abhiṣekeṇa — banhando-o em uma grande cerimônia de abhiṣeka; mahā-anu­bhāvāḥ — os brāhmaṇas notáveis.

Tradução

Os brāhmaṇas descendentes de Bhṛgu Muni estavam muito satis­feitos com Bali Mahārāja, que desejava conquistar o reino de Indra. Portanto, após purificarem-no e banharem-no devidamente de acordo com os princípios reguladores, ocuparam-no em realizar o yajña co­nhecido como Viśvajit.

Texto

tato rathaḥ kāñcana-paṭṭa-naddho
hayāś ca haryaśva-turaṅga-varṇāḥ
dhvajaś ca siṁhena virājamāno
hutāśanād āsa havirbhir iṣṭāt

Sinônimos

tataḥ — depois disso; rathaḥ — uma quadriga; kāñcana — com ouro; paṭṭa — e tecidos de seda; naddhaḥ — coberta; hayāḥ ca — cavalos também; haryaśva-turaṅga-varṇāḥ — exatamente da mesma cor que os cavalos de Indra (amarelos); dhvajaḥ ca — uma bandeira também; siṁhena — com uma marca de leão; virājamānaḥ — existindo; huta-aśanāt — do fogo abrasador; āsa — houve; havirbhiḥ — com oferendas de manteiga clarificada; iṣṭāt — adorou.

Tradução

Quando o ghī [manteiga clarificada] foi oferecido no fogo do sacrifício, surgiu do fogo uma quadriga celestial coberta com ouro e seda. Também apareceram cavalos amarelos como os de Indra, e uma bandeira marcada com um leão.

Texto

dhanuś ca divyaṁ puraṭopanaddhaṁ
tūṇāv ariktau kavacaṁ ca divyam
pitāmahas tasya dadau ca mālām
amlāna-puṣpāṁ jalajaṁ ca śukraḥ

Sinônimos

dhanuḥ — um arco; ca — também; divyam — incomum; puraṭa-upa­naddham — coberto com ouro; tūṇau — duas aljavas; ariktau — infalíveis; kavacam ca — e uma armadura; divyam — celestial; pitāmahaḥ tasya — seu avô, a saber, Prahlāda Mahārāja; dadau — deu; ca — e; mālām — uma guirlanda; amlāna-puṣpām — feita de flores que nunca murcham; jala jam — um búzio (que nasce na água); ca — bem como; śukraḥ — Śukrācārya.

Tradução

Um arco dourado, duas aljavas de flechas infalíveis e uma armadura celestial também apareceram. O avô de Bali Mahārāja, Prahlāda Mahārāja, ofereceu-lhe uma guirlanda de flores que nunca murcham, e Śukrācārya deu-lhe um búzio.

Texto

evaṁ sa viprārjita-yodhanārthas
taiḥ kalpita-svastyayano ’tha viprān
pradakṣiṇī-kṛtya kṛta-praṇāmaḥ
prahrādam āmantrya namaś-cakāra

Sinônimos

evam — dessa maneira; saḥ — ele (Bali Mahārāja); vipra-arjita — ganho pela graça dos brāhmaṇas; yodhana-arthaḥ — possuindo equipamento bélico; taiḥ — por eles (os brāhmaṇas); kalpita — conselho; svastyayanaḥ — execução ritualística; atha — como; viprān — todos os brāhmaṇas (Śukrācārya e outros); pradakṣiṇī-kṛtya — circungirando; kṛta-praṇāmaḥ — ofereceu suas respeitosas reverências; prahrādam — a Prahlāda Mahārāja; āmantrya — dirigindo-se; namaḥ-cakāra — ofereceu-lhe reverências.

Tradução

Quando, seguindo as ordens dos brāhmaṇas, Bali Mahārāja reali­zou essa cerimônia ritualística especial e, pela graça deles, recebeu o equipamento de combate, ele circungirou os brāhmaṇas e lhes ofere­ceu reverências. Ele também saudou Prahlāda Mahārāja e ofe­receu-lhe reverências.

Texto

athāruhya rathaṁ divyaṁ
bhṛgu-dattaṁ mahārathaḥ
susrag-dharo ’tha sannahya
dhanvī khaḍgī dhṛteṣudhiḥ
hemāṅgada-lasad-bāhuḥ
sphuran-makara-kuṇḍalaḥ
rarāja ratham ārūḍho
dhiṣṇya-stha iva havyavāṭ

Sinônimos

atha — depois disso; āruhya — subindo; ratham — na quadriga; divyam — celestial; bhṛgu-dattam — dada por Śukrācārya; mahā-rathaḥ — Bali Mahārāja, o grande quadrigário; su-srak-dharaḥ — decorado com uma bela guirlanda; atha — assim; sannahya — cobrindo seu corpo com a armadura; dhanvī — munido de um arco; khaḍgī — empunhando uma espada; dhṛta-iṣudhiḥ — pegando de uma aljava de flechas; hema-aṅgada-lasat-bāhuḥ — braços decorados com bracele­tes de ouro; sphurat-makara-kuṇḍalaḥ — decorado com brincos relu­zentes, similares a safiras; rarāja — refulgia; ratham ārūḍhaḥ — subindo na quadriga; dhiṣṇya-sthaḥ — situado no altar do sacrifício; iva — como; havya-vāṭ — fogo adorável.

Tradução

Então, após subir na quadriga dada por Śukrācārya, Bali Mahārāja, decorado com uma bela guirlanda, colocou em si a armadura protetora, muniu-se de um arco, e empunhou uma espada e uma al­java de flechas. Ao sentar-se no banco da quadriga, estando seus braços decorados com braceletes de ouro e seus ouvidos com brincos de safira, ele brilhava como um fogo adorável.

Texto

tulyaiśvarya-bala-śrībhiḥ
sva-yūthair daitya-yūthapaiḥ
pibadbhir iva khaṁ dṛgbhir
dahadbhiḥ paridhīn iva
vṛto vikarṣan mahatīm
āsurīṁ dhvajinīṁ vibhuḥ
yayāv indra-purīṁ svṛddhāṁ
kampayann iva rodasī

Sinônimos

tulya-aiśvarya — iguais em opulência; bala — em força; śrībhiḥ — e em beleza; sva-yūthaiḥ — por seus próprios homens; daitya-yūtha­-paiḥ — e pelos líderes dos demônios; pibadbhiḥ — bebendo; iva — como se estivessem; kham — o céu; dṛgbhiḥ — com a visão; dahad­bhiḥ — queimando; paridhīn — em todas as direções; iva — como que; vṛtaḥ — cercado; vikarṣan — atraindo; mahatīm — muito grandes; āsurīm — demoníacos; dhvajinīm — soldados; vibhuḥ — muito poderosos; yayau — dirigiu-se; indra-purīm — à capital do rei Indra; su-ṛddhām — muito opulenta; kampayan — fazendo tremer; iva — como que; rodasī — toda a superfície do mundo.

Tradução

Quando se reuniu com seus soldados e os principais demônios, que o igualavam em força, opulência e beleza, era como se fossem capazes de engolir o céu e queimar todas as direções com seus olhos. Após ter ajuntado os soldados demoníacos, Bali Mahārāja partiu para a opulenta capital de Indra. Na verdade, ele parecia fazer toda a superfície do mundo tremer.

Texto

ramyām upavanodyānaiḥ
śrīmadbhir nandanādibhiḥ
kūjad-vihaṅga-mithunair
gāyan-matta-madhuvrataiḥ
pravāla-phala-puṣporu-
bhāra-śākhāmara-drumaiḥ

Sinônimos

ramyām — muito aprazíveis; upavana — com pomares; udyānaiḥ — e jardins; śrīmadbhiḥ — muito belos de se ver; nandana-ādibhiḥ — tais como Nandana; kūjat — chilreantes; vihaṅga — pássaros; mithu­naiḥ — aos pares; gāyat — canoras; matta — loucas; madhu-vrataiḥ — com abelhas; pravāla — de folhas; phala-puṣpa — frutas e flores; uru — enorme; bhāra — suportando o peso; śākhā — cujos galhos; amara­-drumaiḥ — com árvores eternas.

Tradução

A cidade do rei Indra estava cheia de aprazíveis pomares e jardins, tais como o jardim Nandana. Devido ao peso das flores, folhas e frutas, os galhos das árvores eternamente existentes inclinavam-se. Os jardins eram visitados por casais de pássaros chilreantes e abelhas canoras. Toda a atmosfera era celestial.

Texto

haṁsa-sārasa-cakrāhva-
kāraṇḍava-kulākulāḥ
nalinyo yatra krīḍanti
pramadāḥ sura-sevitāḥ

Sinônimos

haṁsa — de cisnes; sārasa — grous; cakrāhva — pássaros conhecidos como cakravākas; kāraṇḍava — e galinhas-d’água; kula — por grupos; ākulāḥ — congestionados; nalinyaḥ — flores de lótus; yatra — onde; krīḍanti — se divertiam; pramadāḥ — belas mulheres; sura-sevitāḥ — protegidas pelos semideuses.

Tradução

Belas mulheres, protegidas pelos semideuses, divertiam-se nos jardins, que tinham lagos de lótus cheios de cisnes, grous, cakravākas e patos.

Texto

ākāśa-gaṅgayā devyā
vṛtāṁ parikha-bhūtayā
prākāreṇāgni-varṇena
sāṭṭālenonnatena ca

Sinônimos

ākāśa-gaṅgayā — pela água do Ganges conhecida como Ākāśa-­gaṅgā; devyā — a deusa sempre adorável; vṛtām — cercada; parikha­-bhūtayā — como uma vala; prākāreṇa — por parapeitos; agni-varṇena — semelhantes ao fogo; sa-aṭṭālena — com fortificações onde lutar; unnatena — muito altas; ca — e.

Tradução

A cidade era cercada por valas cheias de água do Ganges, conhecidas como Ākāśa-gaṅgā, e por um muro alto, que era da cor do fogo. Em cima desse muro, havia parapeitos próprios para serem utilizados em combate.

Texto

rukma-paṭṭa-kapāṭaiś ca
dvāraiḥ sphaṭika-gopuraiḥ
juṣṭāṁ vibhakta-prapathāṁ
viśvakarma-vinirmitām

Sinônimos

rukma-paṭṭa — possuindo placas feitas de ouro; kapāṭaiḥ — cujas portas; ca — e; dvāraiḥ — com entradas; sphaṭika-gopuraiḥ — com portões feitos de mármore excelente; juṣṭām — ligados; vibhakta-prapathām — a muitas diferentes vias públicas; viśvakarma-vinirmitām — construída por Viśvakarmā, o arquiteto celestial.

Tradução

As portas eram feitas de sólidas placas de ouro, e os portões eram de mármore excelente, e davam acesso a várias vias públicas. Toda a cidade fora construída por Viśvakarmā.

Texto

sabhā-catvara-rathyāḍhyāṁ
vimānair nyarbudair yutām
śṛṅgāṭakair maṇimayair
vajra-vidruma-vedibhiḥ

Sinônimos

sabhā — com assembleias; catvara — pátios; rathya — e vias públicas; āḍhyām — opulentas; vimānaiḥ — por aeroplanos; nyarbudaiḥ — não menos de cem milhões; yutām — dotada; śṛṅga-āṭakaiḥ — com encruzilhadas; maṇi-mayaiḥ — feitas de pérolas; vajra — feitos de diamantes; vidruma — e de coral; vedibhiḥ — com assentos.

Tradução

A cidade estava cheia de pátios, largas estradas, assembleias e possuía pelo menos cem milhões de aeroplanos. As encruzilhadas eram feitas de pérolas, e havia assentos feitos de diamante e coral.

Texto

yatra nitya-vayo-rūpāḥ
śyāmā viraja-vāsasaḥ
bhrājante rūpavan-nāryo
hy arcirbhir iva vahnayaḥ

Sinônimos

yatra — naquela cidade; nitya-vayaḥ-rūpāḥ — que eram sempre belas e jovens; śyāmāḥ — possuindo a qualidade śyāmā; viraja-vāsasaḥ — sempre vestidas com roupas limpas; bhrājante — fulgor; rūpa-vat­ — bem decoradas; nāryaḥ — mulheres; hi — decerto; arcirbhiḥ — com muitas chamas; iva — como; vahnayaḥ — fogos.

Tradução

Mulheres jovens e eternamente belas, vestidas com roupas limpas, reluziam na cidade como um fogo abrasador. Todas eram dotadas com a qualidade śyāmā.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura indica o que é a qualidade da mulher śyāmā.

śīta-kāle bhaved uṣṇā
uṣma-kāle suśītalāḥ
stanau sukaṭhinau yāsāṁ
tāḥ śyāmāḥ parikīrtitāḥ

A mulher cujo corpo é cálido durante o inverno e frio durante o verão e que geralmente tem seios muito firmes chama-se śyāmā.

Texto

sura-strī-keśa-vibhraṣṭa-
nava-saugandhika-srajām
yatrāmodam upādāya
mārga āvāti mārutaḥ

Sinônimos

sura-strī — das mulheres dos semideuses; keśa — do cabelo; vibhraṣṭa — caídas; nava-saugandhika — feitas de flores frescas e fragrantes; srajām — das guirlandas de flores; yatra — onde; āmodam — a fragrân­cia; upādāya — transportando; mārge — nas estradas; āvāti — sopra; mārutaḥ — a brisa.

Tradução

As brisas que sopravam nas ruas da cidade transportavam a fragrância das flores que caíam dos cabelos das mulheres dos semideuses.

Texto

hema-jālākṣa-nirgacchad-
dhūmenāguru-gandhinā
pāṇḍureṇa praticchanna-
mārge yānti sura-priyāḥ

Sinônimos

hema-jāla-akṣa — de graciosas janelinhas feitas de entrelaçamentos de ouro; nirgacchat — emanando; dhūmena — com fumaça; aguru­-gandhinā — fragrante devido à queima do incenso conhecido como aguru; pāṇḍureṇa — muito branca; praticchanna — cobria; mārge — na rua; yānti — passam; sura-priyāḥ — belas mulheres públicas conhe­cidas como apsarās, moças celestiais.

Tradução

As apsarās passavam pelas ruas, que estavam cobertas com a branca e fragrante fumaça do incenso aguru que emanava de janelas com filigranas de ouro.

Texto

muktā-vitānair maṇi-hema-ketubhir
nānā-patākā-valabhībhir āvṛtām
śikhaṇḍi-pārāvata-bhṛṅga-nāditāṁ
vaimānika-strī-kala-gīta-maṅgalām

Sinônimos

muktā-vitānaiḥ — por dosséis decorados com pérolas; maṇi-hema­-ketubhiḥ — com bandeiras feitas de pérolas e ouro; nānā-patākā — possuindo várias espécies de bandeiras; valabhībhiḥ — com as cúpulas dos palácios; āvṛtām — cobertas; śikhaṇḍi — de pássaros, tais como os pavões; pārāvata — pombos; bhṛṅga — abelhas; nāditām — vibra­dos os respectivos sons; vaimānika — instaladas em aeroplanos; strī — de mulheres; kala-gīta — do canto em coro; maṅgalām — cheio de ventura.

Tradução

Dosséis decorados com pérolas davam sombra à cidade, e as cúpulas dos palácios tinham bandeiras de pérola e ouro. Na cidade, sempre ressoavam as vibrações emitidas pelos pavões, pombos e abelhas, e sobre ela voavam aeroplanos repletos de belas mulheres que constantemente cantavam melodias auspiciosas que muito agra­davam ao ouvido.

Texto

mṛdaṅga-śaṅkhānaka-dundubhi-svanaiḥ
satāla-vīṇā-murajeṣṭa-veṇubhiḥ
nṛtyaiḥ savādyair upadeva-gītakair
manoramāṁ sva-prabhayā jita-prabhām

Sinônimos

mṛdaṅga — de tambores; śaṅkha — búzios; ānaka-dundubhi — e timbales; svanaiḥ — pelos sons; sa-tāla — melodiosos; vīṇā — um instrumento de corda; muraja — uma espécie de tambor; iṣṭa-veṇubhiḥ — acompanhados pelo agradabilíssimo som da flauta; nṛtyaiḥ — com dança; sa-vādyaiḥ — com instrumentos harmoniosos; upadeva-gīta­kaiḥ — com o canto de semideuses secundários, tais como os Gan­dharvas; manoramām — bela e agradável; sva-prabhayā — por seu brilho pessoal; jita-prabhām — a personificação da beleza capitulou.

Tradução

A cidade estava repleta de sons de mṛdaṅgas, búzios, timbales, flautas e afinadíssimos instrumentos de corda, todos tocando em harmonia. Havia dança constante, e os Gandharvas cantavam. A beleza combinada de Indrapurī derrotava a beleza personificada.

Texto

yāṁ na vrajanty adharmiṣṭhāḥ
khalā bhūta-druhaḥ śaṭhāḥ
māninaḥ kāmino lubdhā
ebhir hīnā vrajanti yat

Sinônimos

yām — nas ruas da cidade; na — não; vrajanti — passam; adharmiṣṭhāḥ — pessoas irreligiosas; khalāḥ — pessoas invejosas; bhūta-druhaḥ — pessoas violentas com outras entidades vivas; śaṭhāḥ — trapaceiros; māninaḥ — que buscam o falso prestígio; kāminaḥ — luxuriosos; lub­dhāḥ — cobiçosos; ebhiḥ — esses; hīnāḥ — completamente desprovidos de; vrajanti — caminham; yat — na rua.

Tradução

Nenhuma pessoa pecaminosa, invejosa, violenta com outras entidades vivas, ardilosa, falsamente orgulhosa, luxuriosa ou avara tinha permissão de entrar naquela cidade, cujos habitantes eram todos desprovidos desses defeitos.

Texto

tāṁ deva-dhānīṁ sa varūthinī-patir
bahiḥ samantād rurudhe pṛtanyayā
ācārya-dattaṁ jalajaṁ mahā-svanaṁ
dadhmau prayuñjan bhayam indra-yoṣitām

Sinônimos

tām — aquele; deva-dhānīm — lugar onde Indra vivia; saḥ — ele (Bali Mahārāja); varūthinī-patiḥ — o comandante dos soldados; bahiḥ — fora de; samantāt — de todos os lados; rurudhe — atacado; pṛtanyayā — pelos soldados; ācārya-dattam — dado por Śukrācārya; jala-jam — o búzio; mahā-svanam — um som alto; dadhmau — produziu; prayuñ­jan — criando; bhayam — medo; indra-yoṣitām — em todas as damas protegidas por Indra.

Tradução

Bali Mahārāja, que era comandante de inúmeros soldados, reuniu-os fora dessa morada de Indra e atacou por todos os lados. Ele soprou o búzio que lhe fora dado por seu mestre espiritual, Śukrācārya, criando assim uma situação assustadora para as mulheres protegi­das por Indra.

Texto

maghavāṁs tam abhipretya
baleḥ paramam udyamam
sarva-deva-gaṇopeto
gurum etad uvāca ha

Sinônimos

maghavān — Indra; tam — a situação; abhipretya — compreendendo; baleḥ — de Bali Mahārāja; paramam udyamam — grande entusiasmo; sarva-deva-gaṇa — por todos os semideuses; upetaḥ — acompanhado; gurum — ao mestre espiritual; etat — as seguintes palavras; uvāca — disse; ha — na verdade.

Tradução

Vendo o enérgico esforço de Bali Mahārāja e compreendendo suas intenções, o rei Indra, juntamente com os outros semideuses, aproximou-se do seu mestre espiritual, Bṛhaspati, e falou-lhe as seguintes palavras.

Texto

bhagavann udyamo bhūyān
baler naḥ pūrva-vairiṇaḥ
aviṣahyam imaṁ manye
kenāsīt tejasorjitaḥ

Sinônimos

bhagavan — ó meu senhor; udyamaḥ — entusiasmo; bhūyān — grande; baleḥ — de Bali Mahārāja; naḥ — nosso; pūrva-vairiṇaḥ — antigo inimigo; aviṣahyam — insuportável; imam — isto; manye — penso; kena — por quem; āsīt — obtido; tejasā — poder; ūrjitaḥ — alcançado.

Tradução

Meu senhor, nosso velho inimigo, Bali Mahārāja, renovou seu entusiasmo e obteve um poder tão espantoso que julgamos que talvez seja impossível resistirmos ao seu ataque.

Texto

nainaṁ kaścit kuto vāpi
prativyoḍhum adhīśvaraḥ
pibann iva mukhenedaṁ
lihann iva diśo daśa
dahann iva diśo dṛgbhiḥ
saṁvartāgnir ivotthitaḥ

Sinônimos

na — não; enam — este cortejo; kaścit — pessoa alguma; kutaḥ — de parte alguma; vā api — ou; prativyoḍhum — de contra-atacar; adhīśvaraḥ — capaz; piban iva — como se estivesse bebendo; mukhena — com a boca; idam — este (mundo); lihan iva — como se estivesse lam­bendo; diśaḥ daśa — todas as dez direções; dahan iva — como se esti­vesse queimando; diśaḥ — todas as direções; dṛgbhiḥ — com seus olhos; saṁvarta-agniḥ — o fogo conhecido como saṁvarta; iva — como; ut­thitaḥ — acabou de surgir.

Tradução

Em parte alguma, ninguém pode fazer frente a esta comitiva militar de Bali. Parece até mesmo que Bali está tentando sorver todo o universo com sua boca, lamber as dez direções com sua língua e atear fogo a todos os quadrantes com seus olhos. Na verdade, ele surgiu como o fogo aniquilador conhecido como saṁvartaka.

Texto

brūhi kāraṇam etasya
durdharṣatvasya mad-ripoḥ
ojaḥ saho balaṁ tejo
yata etat samudyamaḥ

Sinônimos

brūhi — por favor, informa-nos; kāraṇam — a causa; etasya — de tudo isso; durdharṣatvasya — da impetuosidade; mat-ripoḥ — do meu inimigo; ojaḥ — poder; sahaḥ — energia; balam — força; tejaḥ — influência; yataḥ — de onde; etat — tudo isso; samudyamaḥ — determinação.

Tradução

Por favor, dize-me qual a causa da força, determinação, influência e vitória de Bali Mahārāja. Como ele conseguiu tanto entusiasmo?

Texto

śrī-gurur uvāca
jānāmi maghavañ chatror
unnater asya kāraṇam
śiṣyāyopabhṛtaṁ tejo
bhṛgubhir brahma-vādibhiḥ

Sinônimos

śrī-guruḥ uvāca — Bṛhaspati disse; jānāmi — conheço; maghavan — ó Indra; śatroḥ — do inimigo; unnateḥ — da elevação; asya — dele; kāraṇam — a causa; śiṣyāya — ao discípulo; upabhṛtam — dado; tejaḥ — poder; bhṛgubhiḥ — pelos descendentes de Bhṛgu; brahma-vādi­bhiḥbrāhmaṇas todo-poderosos.

Tradução

Bṛhaspati, o mestre espiritual dos semideuses, disse: Ó Indra, co­nheço o motivo pelo qual teu inimigo tornou-se tão poderoso. Os brāhmaṇas descendentes de Bhṛgu Muni, tendo sido bem tratados por Bali Mahārāja, seu discípulo, dotaram-no com esse poder extra­ordinário.

Comentário

SIGNIFICADO—Bṛhaspati, o mestre espiritual dos semideuses, informou a Indra: “Pelos métodos corriqueiros, Bali e suas forças não conseguiriam todo esse poder, mas parece que os brāhmaṇas descendentes de Bhṛgu Muni, ficando satisfeitos com Bali Mahārāja, dotaram-no com esse poder espiritual.” Em outras palavras, Bṛhaspati infor­mou a Indra que o poder de Bali Mahārāja não procedia dele mesmo, mas do seu nobre guru, Śukrācārya. Em nossas orações diárias, can­tamos: yasya prasādād bhagavat-prasādo yasyāprasādān na gatiḥ kuto ’pi. Através do prazer do mestre espiritual, obtém-se um poder extraordinário, especialmente no que se refere ao avanço espiritual. As bênçãos do mestre espiritual são mais poderosas do que o esforço que alguém pessoalmente empreende ao tentar conseguir esse avanço. Narottama Dāsa Ṭhākura, portanto, diz:

guru-mukha-padma-vākya, cittete kariyā aikya,
āra nā kariha mane āśā

Especialmente para o avanço espiritual, deve-se executar a ordem ge­nuína do mestre espiritual. Então, através do sistema paramparā, pode-se receber o poder espiritual original, proveniente da Suprema Personalidade de Deus (evaṁ paramparā-prāptam imaṁ rājarṣayo viduḥ).

Texto

ojasvinaṁ baliṁ jetuṁ
na samartho ’sti kaścana
bhavad-vidho bhavān vāpi
varjayitveśvaraṁ harim
vijeṣyati na ko ’py enaṁ
brahma-tejaḥ-samedhitam
nāsya śaktaḥ puraḥ sthātuṁ
kṛtāntasya yathā janāḥ

Sinônimos

ojasvinam — muito poderoso; balim — Bali Mahārāja; jetum — de vencer; na — não; samarthaḥ — capaz; asti — é; kaścana — ninguém; bhavat-vidhaḥ — como tu; bhavān — tu próprio; vā api — ou; varjayi­tvā — exceto; īśvaram — o controlador supremo; harim — a Suprema Personalidade de Deus; vijeṣyati — derrotará; na — não; kaḥ api — ninguém; enam — a ele (Bali Mahārāja); brahma-tejaḥ-samedhitam — agora dotado de brahma-tejas, extraordinário poder espiritual; na — não; asya — dele; śaktaḥ — é capaz; puraḥ — diante; sthātum — de perma­necer; kṛta-antasya — de Yamarāja; yathā — como; janāḥ — as pessoas.

Tradução

Nem tu nem teus homens podeis derrotar o poderosíssimo Bali. Na verdade, ninguém, a não ser a Suprema Personalidade de Deus, pode vencê-lo, pois agora ele está equipado com o poder espiritual supremo [brahma-tejas]. Assim como ninguém pode colocar-se diante de Yamarāja, ninguém pode confrontar Bali Mahārāja.

Texto

tasmān nilayam utsṛjya
yūyaṁ sarve tri-viṣṭapam
yāta kālaṁ pratīkṣanto
yataḥ śatror viparyayaḥ

Sinônimos

tasmāt — portanto; nilayam — invisíveis; utsṛjya — abandonando; yūyam — vós; sarve — todos; tri-viṣṭapam — o reino celestial; yāta­ — ide a alguma outra parte; kālam — o tempo; pratīkṣantaḥ — esperando; yataḥ — de onde; śatroḥ — de vosso inimigo; viparyayaḥ — a condição adversa chegue.

Tradução

Portanto, esperando até que a situação de vossos inimigos se torne adversa, deveis todos partir deste planeta celestial e ir a outra parte, onde ninguém vos possa ver.

Texto

eṣa vipra-balodarkaḥ
sampraty ūrjita-vikramaḥ
teṣām evāpamānena
sānubandho vinaṅkṣyati

Sinônimos

eṣaḥ — este (Bali Mahārāja); vipra-bala-udarkaḥ — prosperando devido ao poder bramânico que lhe foi concedido; samprati — no presen­te momento; ūrjita-vikramaḥ — extremamente poderoso; teṣām — aos mesmos brāhmaṇas; eva — na verdade; apamānena — pelo insulto; sa-anubandhaḥ — com amigos e assistentes; vinaṅkṣyati — será subjugado.

Tradução

Agora, Bali Mahārāja se tornou extremamente poderoso devido às bênçãos que lhe foram dadas pelos brāhmaṇas, mas, quando ele mais tarde insultar os brāhmaṇas, será subjugado, juntamente com seus amigos e assistentes.

Comentário

SIGNIFICADO—Bali Mahārāja e Indra eram inimigos. Portanto, quando Bṛhaspati, o mestre espiritual dos semideuses, predisse que Bali Mahārāja seria subjugado ao insultar os brāhmaṇas por cuja graça ele havia se tornado tão poderoso, os inimigos de Bali Mahārāja estavam naturalmente ansiosos por saberem quando aconteceria aquele momento oportuno. Para apaziguar o rei Indra, Bṛhaspati lhe assegurou que o referido momento com certeza viria, pois Bṛhaspati podia ver que, no futuro, Bali Mahārāja desobedeceria às ordens de Śukrācārya a fim de satisfazer o Senhor Viṣṇu, Vāmanadeva. Evidentemente, para avançar em consciência de Kṛṣṇa, devem-se correr todos os riscos. Para satisfazer Vāmanadeva, Bali Mahārāja desafiou as ordens do seu mestre espiritual, Śukrācārya. Devido a isso, ele perderia toda a sua propriedade, apesar do que, em virtude do serviço devocional ao Senhor, obteria mais do que esperava e, no futuro, no oitavo manvantara, reocuparia o trono de Indra.

Texto

evaṁ sumantritārthās te
guruṇārthānudarśinā
hitvā tri-viṣṭapaṁ jagmur
gīrvāṇāḥ kāma-rūpiṇaḥ

Sinônimos

evam — assim; su-mantrita — sendo muito bem aconselhados; arthāḥ — sobre os deveres; te — eles (os semideuses); guruṇā — pelo mestre espiritual; artha-anudarśinā — cujas instruções eram completamente apropriadas; hitvā — abandonando; tri-viṣṭapam — o reino celestial; jagmuḥ — foram; gīrvāṇāḥ — os semideuses; kāma-rūpiṇaḥ — que podiam assumir qualquer forma que quisessem.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Os semideuses, tendo recebido de Bṛhaspati esse conselho que era para o próprio benefício dele, imediatamente aceitaram suas palavras. Assumindo as formas que desejaram, deixaram o reino celestial e dispersaram-se, sem serem notados pelos demônios.

Comentário

SIGNIFICADO—A palavra kāma-rūpiṇaḥ indica que os semideuses, os habitantes dos planetas celestiais, podem assumir qualquer forma que deseja­rem. Portanto, não lhes foi nem um pouco difícil passarem desperce­bidos diante dos olhos dos demônios.

Texto

deveṣv atha nilīneṣu
balir vairocanaḥ purīm
deva-dhānīm adhiṣṭhāya
vaśaṁ ninye jagat-trayam

Sinônimos

deveṣu — todos os semideuses; atha — dessa maneira; nilīneṣu — quando desapareceram; baliḥ — Bali Mahārāja; vairocanaḥ — o filho de Virocana; purīm — o reino celestial; deva-dhānīm — a residência dos semideuses; adhiṣṭhāya — tomando posse de; vaśam — sob contro­le; ninye — manteve; jagat-trayam — os três mundos.

Tradução

Quando os semideuses desapareceram, Bali Mahārāja, o filho de Virocana, entrou no reino celestial, de onde manteve os três mundos sob seu controle.

Texto

taṁ viśva-jayinaṁ śiṣyaṁ
bhṛgavaḥ śiṣya-vatsalāḥ
śatena hayamedhānām
anuvratam ayājayan

Sinônimos

tam — a ele (Bali Mahārāja); viśva-jayinam — o conquistador de todo o universo; śiṣyam — porque ele era um discípulo; bhṛgavaḥ — os brāhmaṇas descendentes de Bhṛgu, como Śukrācārya; śiṣya-vatsalāḥ — estando muito satisfeitos com o discípulo; śatena — cem; haya­-medhānām — sacrifícios conhecidos como aśvamedha; anuvratam — seguindo a instrução dos brāhmaṇas; ayājayan — fizeram executar.

Tradução

Os brāhmaṇas descendentes de Bhṛgu, estando muito satisfeitos com seu discípulo, que havia conquistado todo o universo, ocuparam-no em realizar cem sacrifícios aśvamedha.

Comentário

SIGNIFICADO—Vimos na disputa entre Mahārāja Pṛthu e Indra que, quando Mahārāja Pṛthu quis realizar cem aśvamedha-yajñas, Indra tentou impedi-lo, pois foi devido a esses grandes sacrifícios que Indra se tornou rei dos céus. Aqui, os brāhmaṇas descendentes de Bhṛgu decidiram que, embora estivesse sentado no trono de Indra, Mahārāja Bali não conseguiria permanecer nessa situação a menos que realizasse esses sacrifícios. Portanto, eles aconselharam que Bali Mahārāja realizasse pelo menos tantos aśvamedha-yajñas quanto Indra. A palavra ayājayan indica que todos os brāhmaṇas induziram Bali Mahārāja a realizar esses sacrifícios.

Texto

tatas tad-anubhāvena
bhuvana-traya-viśrutām
kīrtiṁ dikṣu-vitanvānaḥ
sa reja uḍurāḍ iva

Sinônimos

tataḥ — depois disso; tat-anubhāvena — devido ao fato de realizar esses grandes sacrifícios; bhuvana-traya — nos três mundos; viśrutām — festejado; kīrtim — reputação; dikṣu — em todas as direções; vitanvānaḥ — espalhando; saḥ — ele (Bali Mahārāja); reje — tornou-se refulgente; uḍurāṭ — a Lua; iva — como.

Tradução

Ao realizar esses sacrifícios, Bali Mahārāja obteve uma grande reputação em todos os recantos de todos os três mundos. Assim, tal qual a resplandecente Lua no céu, ele brilhou em sua posição.

Texto

bubhuje ca śriyaṁ svṛddhāṁ
dvija-devopalambhitām
kṛta-kṛtyam ivātmānaṁ
manyamāno mahāmanāḥ

Sinônimos

bubhuje — desfrutou de; ca — também; śriyam — opulência; su-ṛddhām — prosperidade; dvija — dos brāhmaṇas; deva — tão bons quanto os semideuses; upalambhitām — alcançadas devido ao favor; kṛta-kṛtyam — muito satisfeitos com suas atividades; iva — dessa maneira; ātmānam — ele próprio; manyamānaḥ — pensando; mahā-manāḥ — o magnânimo.

Tradução

Devido ao favor dos brāhmaṇas, a grande alma Bali Mahārāja, julgando-se muito satisfeito, tornou-se muito opulento e próspero e passou a desfrutar do reino.

Comentário

SIGNIFICADO—Os brāhmaṇas são chamados dvija-deva, e os kṣatriyas são geralmente chamados nara-deva. A palavra deva se refere de fato à Suprema Personalidade de Deus. Os brāhmaṇas dão à sociedade humana a orientação de que ela procure ser feliz satisfazendo o Senhor Viṣṇu, e é também com base em seu conselho que os kṣatriyas, que são chamados nara-deva, mantêm a lei e a ordem para que as outras pessoas, a saber, os vaiśyas e śūdras, possam seguir apropriadamente os princípios reguladores. Dessa maneira, as pessoas aos poucos se elevam à consciência de Kṛṣṇa.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do oitavo canto, décimo quinto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Bali Mahārāja Conquista os Planetas Celestiais”.