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CAPÍTULO SETENTA E CINCO

Duryodhana Humilhado

Este capítulo descreve a gloriosa conclusão do sacrifício Rājasūya e a humilhação que o príncipe Duryodhana passou no palácio do rei Yudhiṣṭhira.

Por ocasião do sacrifício Rājasūya do rei Yudhiṣṭhira, muitos de seus parentes e benquerentes se esforçaram em agradar-lhe com a prestação de serviços necessários. Quando o sacrifício terminou, o rei adornou os sacerdotes, os membros ilustres da assembleia e seus próprios parentes com pasta aromática de sândalo, guirlandas de flores e roupas finas. Então, foram todos para as margens do Ganges realizar o banho ritualístico que marca o fim do período de iniciação do patrocinador do sacrifício. Antes do banho final, houve muito di­vertimento no rio entre os homens e mulheres participantes. Borrifadas com água aromática e outros líquidos, Draupadī e as outras damas pareciam muito belas, com seus rostos brilhantes a realçar­-lhes o riso tímido.

Depois que os sacerdotes tinham executado os rituais finais, o rei e sua rainha, Śrīmatī Draupadī, banharam-se no Ganges. Em segui­da, todos os presentes que pertenciam às ordens do varṇāśrama se banharam. Yudhiṣṭhira vestiu roupas novas e adorou os brāhmaṇas eruditos, sua família, amigos e benquerentes conforme convinha a cada um, e ofereceu a todos eles vários presentes. Os hóspedes, então, partiram para suas casas. O rei Yudhiṣṭhira, no entanto, estava tão ansioso por causa da iminente separação daqueles que lhe eram queridos que obrigou muitos dos parentes e amigos mais próximos, inclusive o Senhor Kṛṣṇa, a ficarem em Indraprastha mais algum tempo.

O palácio real do rei Yudhiṣṭhira fora construído por Maya Dānava, que o dotara de muitas características e opulências maravilhosas. O rei Duryodhana ardeu de inveja quando viu essas riquezas. Certo dia, Yudhiṣṭhira estava sentado com o Senhor Kṛṣṇa em seu salão de assembleias real. Auxiliado por seus subordinados e familiares, ele ma­nifestava magnificência igual à do senhor Indra. Naquele momento, Duryodhana, mal-humorado, entrou no salão. Enganado pela habi­lidade mística de Maya Dānava, Duryodhana confundiu uma parte do assoalho com água e, por isso, levantou sua roupa, ao passo que, em outro lugar, caiu na água, pensando que era o piso sólido. Ao verem isso, Bhīmasena, as mulheres da corte e os príncipes presentes começaram a rir. Embora Mahārāja Yudhiṣṭhira tentasse impedi-los de rir, o Senhor Kṛṣṇa incentivou o riso deles. Em completo embaraço, Du­ryodhana saiu furioso do salão de assembleias e partiu imediatamente para Hastināpura.

Texto

śrī-rājovāca
ajāta-śatros tam dṛṣṭvā
rājasūya-mahodayam
sarve mumudire brahman
nṛ-devā ye samāgatāḥ
duryodhanaṁ varjayitvā
rājānaḥ sarṣayaḥ surāḥ
iti śrutaṁ no bhagavaṁs
tatra kāraṇam ucyatām

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — o rei (Parīkṣit) disse; ajāta-śatroḥ — de Yudhiṣṭhira, cujo inimigo jamais nasceu; tam — aquela; dṛṣṭvā — vendo; rājasūya — do sacrifício Rājasūya; mahā — grande; udayam — a festivi­dade; sarve — todos; mumudire — deleitaram-se; brahman — ó brāhmaṇa (Śukadeva); nṛ-devāḥ — os reis; ye — que; samāgatāḥ — reunidos; duryodhanam — Duryodhana; varjayitvā — exceto; rājānaḥ — reis; sa — juntamente com; ṛṣayaḥ — sábios; surāḥ — e semideuses; iti — assim; śrutam — ouvido; naḥ — por nós; bhagavan — meu senhor; tatra — por aquela; kāraṇam — a razão; ucyatām — por favor, fala.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit disse: Ó brāhmaṇa, segundo o que ouvi de ti, todos os reis, sábios e semideuses reunidos se deleitaram ao ver as maravilhosas festividades do sacrifício Rājasūya do rei Ajātaśatru, sendo Duryodhana a única excessão. Por favor, conta­-me o motivo disso, meu senhor.

Texto

śrī-bādarāyaṇir uvāca
pitāmahasya te yajñe
rājasūye mahātmanaḥ
bāndhavāḥ paricaryāyāṁ
tasyāsan prema-bandhanāḥ

Sinônimos

śrī-bādarāyaṇiḥ uvāca — Śrī Bādarāyaṇi (Śukadeva Gosvāmī) disse; pitāmahasya — do avô; te — teu; yajñe — no sacrifício; rājasūye — Rā­jasūya; mahā-ātmanaḥ — da grande alma; bāndhavāḥ — membros da família; paricaryāyām — em serviço humilde; tasya — para ele; āsan — estavam situados; prema — por amor; bandhanāḥ — que estavam presos.

Tradução

Śrī Bādarāyaṇi disse: No sacrifício Rājasūya de teu santo avô, os membros da família deste, atados por seu amor a ele, ocupa­ram-se em ajudá-lo prestando diversos serviços humildes.

Comentário

SIGNIFICADO—O rei Yudhiṣṭhira não forçou seus parentes a aceitarem diferentes ta­refas no sacrifício. Em vez disso, devido a seu amor pelo rei, ofereceram-se como voluntários para tais trabalhos.

Texto

bhīmo mahānasādhyakṣo
dhanādhyakṣaḥ suyodhanaḥ
sahadevas tu pūjāyāṁ
nakulo dravya-sādhane
guru-śuśrūṣaṇe jiṣṇuḥ
kṛṣṇaḥ pādāvanejane
pariveṣaṇe drupada-jā
karṇo dāne mahā-manāḥ
yuyudhāno vikarṇaś ca
hārdikyo vidurādayaḥ
bāhlīka-putrā bhūry-ādyā
ye ca santardanādayaḥ
nirūpitā mahā-yajñe
nānā-karmasu te tadā
pravartante sma rājendra
rājñaḥ priya-cikīrṣavaḥ

Sinônimos

bhīmaḥ — Bhīma; mahānasa — da cozinha; adhyakṣaḥ — o supervi­sor; dhana — da tesouraria; adhyakṣaḥ — o supervisor; suyodhanaḥ — Suyodhana (Duryodhana); sahadevaḥ — Sahadeva; tu — e; pūjāyām — em adorar (os hóspedes à medida que chegavam); nakulaḥ — Nakula; dravya — objetos necessários; sādhane — em providenciar; guru — os anciãos respeitáveis; śuśrūṣaṇe — em servir; jiṣṇuḥ — Arjuna; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; pāda — pés; avanejane — em lavar; pariveṣaṇe — em distribuir (alimento); drupada-jā — a filha de Drupada (Draupadī); karṇaḥ­ — Karṇa; dāne — em dar presentes; mahā-manāḥ — magnânimo; yuyudhā­naḥ vikarṇaḥ ca — Yuyudhāna e Vikarṇa; hārdikyaḥ vidura-ādayaḥ — Hārdikya (Kṛtavarmā), Vidura e outros; bāhlīka-putrāḥ — os filhos de Bāhlīka-rāja; bhūri-ādyāḥ — chefiados por Bhūriśravā; ye — que; ca­ — e; santardana-ādayaḥ — Santardana e assim por diante; nirūpitāḥ — ocupados; mahā — gigantesco; yajñe — no sacrifício; nānā — vários; karmasu — em deveres; te — eles; tadā — naquela ocasião; pravartante sma — executaram; rāja-indra — ó melhor dos reis (Parīkṣit); rājñaḥ — do rei (Yudhiṣṭhira); priya — satisfação; cikīrṣavaḥ — desejando realizar.

Tradução

Bhīma supervisionou a cozinha, Duryodhana encarregou-se da tesouraria, enquanto Sahadeva recebeu respeitosamente os hós­pedes que chegavam. Nakula providenciou os objetos necessá­rios, Arjuna atendeu os respeitáveis anciãos, e Kṛṣṇa lavou os pés de todos, enquanto Draupadī serviu a comida, e o generoso Karṇa distribuiu os presentes. Muitos outros, tais como Yuyu­dhāna, Vikarṇa, Hārdikya, Vidura, Bhūriśravā e outros filhos de Bāhlīka, e Santardana, também se ofereceram para realizar várias tarefas durante o primoroso sacrifício. Eles fizeram isso por causa de sua avidez por agradar Mahārāja Yudhiṣṭhira, ó melhor dos reis.

Texto

ṛtvik-sadasya-bahu-vitsu suhṛttameṣu
sv-iṣṭeṣu sūnṛta-samarhaṇa-dakṣiṇābhiḥ
caidye ca sātvata-pateś caraṇaṁ praviṣṭe
cakrus tatas tv avabhṛtha-snapanaṁ dyu-nadyām

Sinônimos

ṛtvik — os sacerdotes; sadasya — os membros importantes da as­sembleia que ajudaram a oficiar o sacrifício; bahu-vitsu — aqueles que eram muito eruditos; suhṛt-tameṣu — os melhores benquerentes; su — bem; iṣṭeṣu — sendo honrados; sūnṛta — com palavras agradá­veis; samarhaṇa — oferendas auspiciosas; dakṣiṇābhiḥ — e presentes que expressavam gratidão; caidye — o rei de Cedi (Śiśupāla); ca — e; sātvata-pateḥ — do Senhor dos Sātvatas (Kṛṣṇa); caraṇam — nos pés; praviṣṭe — tendo entrado; cakruḥ — executaram; tataḥ — então; tu — e; avabhṛtha-snapanam — o banho avabhṛtha, que encerrava o sacrifí­cio; dyu — do céu; nadyām — no rio (o Yamunā).

Tradução

Depois que os sacerdotes, os ilustres delegados, os eruditíssi­mos santos e os mais íntimos benquerentes do rei haviam todos recebido as devidas honras sob a forma de palavras agradáveis, oferendas auspiciosas e vários presentes como remuneração, e depois que o rei de Cedi imergira nos pés de lótus do Senhor dos Sātvatas, realizou-se, então, o banho avabhṛtha no divino rio Ya­munā.

Comentário

SIGNIFICADO—Os presentes oferecidos aos distintos hóspedes incluíam joias valiosas.

Texto

mṛdaṅga-śaṅkha-paṇava-
dhundhury-ānaka-gomukhāḥ
vāditrāṇi vicitrāṇi
nedur āvabhṛthotsave

Sinônimos

mṛdaṅga — tambores; śaṅkha — búzios; paṇava — tambores menores; dhundhuri — uma espécie de grande tambor militar; ānaka — timbales; go-mukhāḥ — um instrumento de sopro; vāditrāṇi — música; vicitrāṇi — variegada; neduḥ — soou; āvabhṛtha — do banho avabhṛtha; utsave — durante a celebração.

Tradução

Durante a celebração do avabhṛtha, ressoou a música de muitas espécies de instrumentos, tais como mṛdaṅgas, búzios, paṇavas, dhundhuris, timbales e chifres gomukhas.

Texto

nārtakyo nanṛtur hṛṣṭā
gāyakā yūthaśo jaguḥ
vīṇā-veṇu-talonnādas
teṣāṁ sa divam aspṛśat

Sinônimos

nārtakyaḥ — dançarinas; nanṛtuḥ — dançavam; hṛṣṭāḥ — alegres; gāyakāḥ — cantores; yūthaśaḥ — em grupos; jaguḥ — cantavam; vīṇā — de vīṇās; veṇu — flautas; tala — e címbalos de mão; unnādaḥ — o som alto; teṣām — deles; saḥ — ele; divam — o céu; aspṛśat — tocava.

Tradução

Dançarinas bailavam em grande júbilo, e coros cantavam, en­quanto as altas vibrações de vīṇās, flautas e címbalos de mão che­gavam até as regiões celestes.

Texto

citra-dhvaja-patākāgrair
ibhendra-syandanārvabhiḥ
sv-alaṅkṛtair bhaṭair bhūpā
niryayū rukma-mālinaḥ

Sinônimos

citra — de várias cores; dhvaja — com bandeiras; patāka — e flâmu­las; agraiḥ — excelentes; ibha — com elefantes; indra — majestosos; syandana — quadrigas; arvabhiḥ — e cavalos; su-alaṅkṛtaiḥ — bem ornamentados; bhaṭaiḥ — com soldados de infantaria; bhū-pāḥ — os reis; niryayuḥ — partiram; rukma — de ouro; mālinaḥ — usando colares.

Tradução

Todos os reis, usando colares de ouro, partiram, então, para o Yamunā. Eles levavam bandeiras e flâmulas de várias cores e estavam acompanhados de soldados de infantaria e soldados bem enfeitados sobre elefantes majestosos, quadrigas e ca­valos.

Texto

yadu-sṛñjaya-kāmboja-
kuru-kekaya-kośalāḥ
kampayanto bhuvaṁ sainyair
yayamāna-puraḥ-sarāḥ

Sinônimos

yadu-sṛñjaya-kāmboja — os Yadus, Sṛñjayas e Kāmbojas; kuru­-kekaya-kośalāḥ — os Kurus, Kekayas e Kośalas; kampayantaḥ — fa­zendo tremer; bhuvam — a terra; sainyaiḥ — com seus exércitos; ya­jamāna — o realizador do sacrifício (Mahārāja Yudhiṣṭhira); puraḥ-­sarāḥ — pondo à frente deles.

Tradução

Os exércitos reunidos dos Yadus, Sṛñjayas, Kāmbojas, Kurus, Kekayas e Kośalas faziam tremer a terra enquanto seguiam em procissão Yudhiṣṭhira Mahārāja, o realizador do sacrifício.

Texto

sadasyartvig-dvija-śreṣṭhā
brahma-ghoṣeṇa bhūyasā
devarṣi-pitṛ-gandharvās
tuṣṭuvuḥ puṣpa-varṣiṇaḥ

Sinônimos

sadasya — as testemunhas oficiantes; ṛtvik — os sacerdotes; dvija — e brāhmaṇas; śreṣṭhāḥ — excelentíssimos; brahma — dos Vedas; gho­ṣeṇa — com o som; bhūyasā — abundante; deva — os semideuses; ṛṣi­ — sábios divinos; pitṛ — antepassados; gandharvāḥ — e cantores do céu; tuṣṭuvuḥ — recitavam louvores; puṣpa — flores; varṣiṇaḥ — fazendo chover.

Tradução

Os dirigentes da assembleia, os sacerdotes e outros excelentes brāhmaṇas vibravam com retumbância os mantras védicos, enquanto os semideuses, sábios divinos, Pitās e Gandharvas cantavam louvores e lançavam chuvas de flores.

Texto

sv-alaṇkṛtā narā nāryo
gandha-srag-bhūṣaṇāmbaraiḥ
vilimpantyo ’bhisiñcantyo
vijahrur vividhai rasaiḥ

Sinônimos

su-alaṅkṛtāḥ — bem decorados; narāḥ — homens; nāryaḥ — e mulheres; gandha — com pasta de sândalo; srak — guirlandas de flores; bhūṣaṇa — joias; ambaraiḥ — e roupas; vilimpantyaḥ — untando; abhiṣiñcantyaḥ — e borrifando; vijahruḥ — brincavam; vividhaiḥ — vários; rasaiḥ — com líquidos.

Tradução

Homens e mulheres, todos enfeitados com pasta de sândalo, guirlandas de flores, joias e roupas finas, divertiam-se untando e borrifando uns aos outros com vários líquidos.

Texto

taila-gorasa-gandhoda-
haridrā-sāndra-kuṅkumaiḥ
pumbhir liptāḥ pralimpantyo
vijahrur vāra-yoṣitaḥ

Sinônimos

taila — com óleo vegetal; go-rasa — iogurte; gandha-uda — água perfumada; haridrā — cúrcuma; sāndra — abundante; kuṅkumaiḥ — e com pó de vermelhão; pumbhiḥ — pelos homens; liptāḥ — untadas; pralimpantyaḥ — untando-os por sua vez; vijahruḥ — brincavam; vāra-yoṣitaḥ — as cortesãs.

Tradução

Os homens lambuzavam as cortesãs com grande quantidade de óleo, iogurte, água perfumada, cúrcuma e vermelhão em pó, e as cortesãs brincavam de lambuzar os homens com as mesmas substâncias.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda descreve assim esta cena: “Os homens e mulhe­res de Indraprastha, com seus corpos ungidos com perfumes e óleos de flores, estavam elegantemente vestidos com roupas coloridas e decorados com guirlandas, joias e ornamentos. Eles todos estavam se divertindo na cerimônia e atiravam uns nos outros substâncias líqui­das como água, óleo, leite, manteiga e iogurte. Alguns chegavam a lambuzar os outros com essas substâncias. Dessa maneira, eles des­frutavam a ocasião. As prostitutas profissionais alegremente passa­vam essas substâncias líquidas nos corpos dos homens, e os homens reciprocavam da mesma forma. Todas as substâncias líquidas tinham sido misturadas com cúrcuma e açafrão, e sua cor era amarelo lus­troso.”

Texto

guptā nṛbhir niragamann upalabdhum etad
devyo yathā divi vimāna-varair nṛ-devyo
tā mātuleya-sakhibhiḥ pariṣicyamānāḥ
sa-vrīḍa-hāsa-vikasad-vadanā virejuḥ

Sinônimos

guptāḥ — guardadas; nṛbhiḥ — por soldados; niragaman — saíram; upalabdhum — para ver de perto; etat — isto; devyaḥ — as esposas dos semideuses; yathā — como; divi — no céu; vimāna — em seus aeropla­nos; varaiḥ — excelentes; nṛ-devyaḥ — as rainhas (do rei Yudhiṣṭhira); tāḥ — elas; mātuleya — por seus primos maternos (o Senhor Kṛṣṇa e Seus irmãos, tais como Gada e Sāraṇa); sakhibhiḥ — e por seus ami­gos (tais como Bhīma e Arjuna); pariṣicyamānāḥ — sendo borrifadas; sa-vrīḍa — tímidos; hāsa — com sorrisos; vikasat — que floresciam; va­danāḥ — cujos rostos; virejuḥ — pareciam esplêndidas.

Tradução

Rodeadas por guardas, as rainhas do rei Yudhiṣṭhira saíram em suas quadrigas para ver a diversão, assim como as esposas dos semideuses aparecem no céu em aeroplanos celestiais. Con­forme os primos maternos e amigos íntimos borrifavam líquidos nas rainhas, os rostos das damas desabrochavam em tímidos sor­risos, realçando-lhes a esplêndida beleza.

Comentário

SIGNIFICADO—Os primos maternos a que se faz referência aqui são o Senhor Kṛṣṇa e irmãos dEle tais como Gada e Sāraṇa, e os amigos mencio­nados são pessoas tais como Bhīma e Arjuna.

Texto

tā devarān uta sakhīn siṣicur dṛtībhiḥ
klinnāmbarā vivṛta-gātra-kucoru-madhyāḥ
autsukya-mukta-kavarāc cyavamāna-mālyāḥ
kṣobhaṁ dadhur mala-dhiyāṁ rucirair vihāraiḥ

Sinônimos

tāḥ — elas, as rainhas; devarān — os irmãos de seu marido; uta — e também; sakhīn — seus amigos; siṣicuḥ — esguichavam; dṛtībhiḥ — com bisnagas; klinna — encharcadas; ambarāḥ — cujas roupas; vivṛta — visíveis; gātra — cujos braços; kuca — seios; ūru — coxas; madhyāḥ — e cinturas; autsukya — devido à sua agitação; mukta — soltas; kavarāt — das tranças de seus cabelos; cyavamāna — escorregando; mālyāḥ — cujas pequenas guirlandas de flores; kṣobham — agitação; dadhuḥ — criavam; mala — suja; dhiyam — para aqueles cuja consciência; ruci­raiḥ — encantadora; vihāraiḥ — com sua brincadeira.

Tradução

Enquanto as rainhas, com bisnagas na mão, esguichavam água em seus cunhados e outros companheiros, as roupas delas se enchar­caram, revelando seus braços, seios, coxas e cinturas. Em sua agitação, as flores caíram de suas tranças soltas. Com esses en­cantadores passatempos, elas inquietavam os homens de consciência contaminada.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “Tal comportamento entre homens e mu­lheres puros é prazeroso, mas as pessoas afetadas pela contaminação material ficam luxuriosas.”

Texto

sa samrāḍ ratham āruḍhaḥ
sad-aśvaṁ rukma-mālinam
vyarocata sva-patnībhiḥ
kriyābhiḥ kratu-rāḍ iva

Sinônimos

saḥ — ele; samrāṭ — o imperador, Yudhiṣṭhira; ratham — em sua quadriga; āruḍhaḥ — montado; sat — excelentes; aśvam — cujos cavalos; rukma — de ouro; mālinam — com coleiras; vyarocata — brilhava; sva­patnībhiḥ — com suas esposas; kriyābhiḥ — com seus rituais; kratu — dos sacrifícios; rāṭ — o rei (Rājasūya); iva — como se.

Tradução

O imperador, montado em sua quadriga que era puxada por excelentes cavalos enfeitados com arreios de ouro, parecia esplêndido em companhia de suas esposas, assim como o brilhan­te sacrifício Rājasūya rodeado por seus vários rituais.

Comentário

SIGNIFICADO—O rei Yudhiṣṭhira com suas rainhas parecia o sacrifício Rājasūya personificado rodeado por seus belos rituais.

Texto

patnī-samyājāvabhṛthyaiś
caritvā te tam ṛtvijaḥ
ācāntaṁ snāpayāṁ cakrur
gaṅgāyāṁ saha kṛṣṇayā

Sinônimos

patnī-saṁyāja — o ritual realizado pelo patrono do sacrifício e sua esposa, o qual consistia em oblações a Soma, Tvaṣṭā, Agni e às es­posas de certos semideuses; avabhṛthyaiḥ — e os rituais que celebram o encerramento do sacrifício; caritvā — tendo executado; te — eles; tam — a ele; ṛtvijaḥ — os sacerdotes; ācāntam — tendo sorvido água para se purificar; snāpayām cakruḥ — fizeram-no banhar-se; gaṅgāyām — no Ganges; saha — juntamente com; kṛṣṇayā — Draupadī.

Tradução

Os sacerdotes orientaram o rei através da execução dos rituais finais chamados patnī-saṁyāja e avabhṛthya. Então, solicitaram que ele e a rainha Draupadī sorvessem água para se purificar e se banhassem no Ganges.

Texto

deva-dundubhayo nedur
nara-dundubhibhiḥ samam
mumucuḥ puṣpa-varṣāṇi
devarṣi-pitṛ-mānavāḥ

Sinônimos

deva — dos semideuses; dundubhayaḥ — os timbales; neduḥ — ressoa­vam; nara — de seres humanos; dundubhibhiḥ — timbales; samam — juntamente com; mumucuḥ — soltavam; puṣpa — de flores; varṣāṇi — chuvas; deva — semideuses; ṛṣi — sábios; pitṛ — antepassados; mānavāḥ — e seres humanos.

Tradução

Os timbales dos deuses ressoavam, juntamente com os dos homens. Ao mesmo tempo, semideuses, sábios, antepassados e seres hu­manos lançavam chuvas de flores.

Texto

sasnus tatra tataḥ sarve
varṇāśrama-yutā narāḥ
mahā-pātaky api yataḥ
sadyo mucyeta kilbiṣāt

Sinônimos

sasnuḥ — banharam-se; tatra — lá; tataḥ — depois disso; sarve — todos; varṇa-āśrama — ao sistema social das santificadas ordens ocupacio­nais e espirituais; yutāḥ — os que pertenciam; narāḥ — seres huma­nos; mahā — grandemente; pātakī — quem é pecador; api — até mesmo; yataḥ — pelo qual; sadyaḥ — de imediato; mucyeta — pode se libertar; kilbiṣāt — da contaminação.

Tradução

Todos os cidadãos incluídos nas várias ordens de varṇa e āśra­ma banharam-se, então, naquele lugar, onde até mesmo o mais cruel pecador pode libertar-se de imediato de todas as reações pecaminosas.

Texto

atha rājāhate kṣaume
paridhāya sv-alaṅkṛtaḥ
ṛtvik-sadasya-viprādīn
ānarcābharaṇāmbaraiḥ

Sinônimos

atha — em seguida; rājā — o rei; ahate — novas; kṣaume — um par de roupas de seda; paridhāya — vestindo; su-alaṅkṛtaḥ — com belos ornamentos; ṛtvik — os sacerdotes; sadasya — os membros oficiantes da assembleia; vipra — os brāhmaṇas; ādīn — e outros; ānarca — ado­rou; ābharaṇa — com ornamentos; ambaraiḥ — e roupas.

Tradução

Em seguida, o rei vestiu roupas de seda novas e adornou-se com requintadas joias. Então, honrou os sacerdotes, dirigentes da as­sembleia, brāhmaṇas eruditos e outros hóspedes presenteando-os com ornamentos e roupas.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “O rei não só vestiu e enfeitou a si pró­prio, como também deu roupas e ornamentos de presente a todos os sacerdotes e pessoas que haviam participado nos yajñas. Desta ma­neira, adorou todos os envolvidos.”

Texto

bandhūñ jñātīn nṛpān mitra-
suhṛdo ’nyāṁś ca sarvaśaḥ
abhīkṣnaṁ pūjayām āsa
nārāyaṇa-paro nṛpaḥ

Sinônimos

bandhūn — seus parentes mais distantes; jñātīn — os membros de sua família imediata; nṛpān — os reis; mitra — seus amigos; suhṛdaḥ — e benquerentes; anyān — outros; ca — também; sarvaśaḥ — de todas as maneiras; abhīkṣṇam — constantemente; pūjayām āsa — adorou; nārāyaṇa-paraḥ — devotado ao Senhor Nārāyaṇa; nṛpaḥ — o rei.

Tradução

De várias maneiras, o rei Yudhiṣṭhira, que dedicara sua vida por completo ao Senhor Nārāyaṇa, honrou continuamente seus parentes, família imediata, outros reis, amigos e benquerentes, bem como todos os presentes na cerimônia.

Texto

sarve janāḥ sura-ruco maṇi-kuṇḍala-srag-
uṣṇīṣa-kañcuka-dukūla-mahārghya-hārāḥ
nāryaś ca kuṇḍala-yugālaka-vṛnda-juṣṭa-
vaktra-śriyaḥ kanaka-mekhalayā virejuḥ

Sinônimos

sarve — todos; janāḥ — os homens; sura — como a dos semideuses; rucaḥ — cuja tez refulgente; maṇi — de pedras preciosas; kuṇḍala — com brincos; srak — guirlandas de flores; uṣṇīṣa — turbantes; kañ­cuka — jaquetas; dukūla — roupas de seda; mahā-arghya — muito pre­ciosos; hārāḥ — e colares de pérolas; nāryaḥ — as mulheres; ca — e; kuṇḍala — de brincos; yuga — com pares; alaka-vṛnda — e cachos de cabelos; juṣṭa — adornados; vaktra — de cujos rostos; śriyaḥ — a beleza; kanaka — de ouro; mekhalayā — com cinturões; virejuḥ — tinham um brilho refulgente.

Tradução

Adornados com brincos de pedras preciosas, guirlandas de flores, turbantes, coletes, dhotīs de seda e valiosos colares de pé­rolas, todos os homens ali brilhavam como semideuses. Os gra­ciosos rostos das mulheres eram embelezados por seus formosos brincos e cachos de cabelo, e todas elas usavam cinturões de ouro.

Texto

athartvijo mahā-śīlāḥ
sadasyā brahma-vādinaḥ
brahma-kṣatriya-viṭ-śudrā-
rājāno ye samāgatāḥ
devarṣi-pitṛ-bhūtāni
loka-pālāḥ sahānugāḥ
pūjitās tam anujñāpya
sva-dhāmāni yayur nṛpa

Sinônimos

atha — então; ṛtvijaḥ — os sacerdotes; mahā-śīlāḥ — de caráter nobre; sadasyāḥ — os dirigentes do sacrifício; brahma — nos Vedas; vādinaḥ — autoridades peritas; brahma — os brāhmaṇas; kṣatriyakṣatriyas; viṭvaiśyas; śūdrāḥ — e śūdras; rājānaḥ — os reis; ye — que; samāgatāḥ — tinham vindo; deva — os semideuses; ṛṣi — sábios; pitṛ — antepassa­dos; bhūtāni — e espíritos espectrais; loka — dos planetas; pālāḥ — os governantes; saha — com; anugāḥ — seus seguidores; pūjitāḥ — adora­dos; tam — dele; anujñāpya — tomando permissão; sva — suas; dhāmā­ni — às moradas; yayuḥ — foram; nṛpa — ó rei (Parīkṣit).

Tradução

Então, os cultíssimos sacerdotes, as eminentes autoridades védi­cas que haviam servido como testemunhas do sacrifício, os reis es­pecialmente convidados, os brāhmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas, śūdras, semideuses, sábios, antepassados e espíritos místicos, e os princi­pais governantes planetários e seus seguidores – todos eles, tendo sido adorados pelo rei Yudhiṣṭhira, receberam permissão e par­tiram, ó rei, cada qual para a sua própria morada.

Texto

hari-dāsasya rājarṣe
rājasūya-mahodayam
naivātṛpyan praśaṁsantaḥ
piban martyo ’mṛtaṁ yathā

Sinônimos

hari — do Senhor Kṛṣṇa; dāsasya — do servo; rāja-ṛṣeḥ — do santo rei; rājasūya — do sacrifício Rājasūya; mahā-udayam — a formidável celebração; na — não; eva — de fato; atṛpyan — ficavam saciados; praśaṁsantaḥ — glorificando; piban — bebendo; martyaḥ — um homem mortal; amṛtam — néctar imortal; yathā — como.

Tradução

Enquanto todos glorificavam o admirável Rājasūya-yajña exe­cutado por aquele notável rei santo e servo do Senhor Hari, eles não se saciavam, assim como um homem comum jamais se sacia de beber néctar.

Texto

tato yudhiṣṭhiro rājā
suhṛt-sambandhi-bāndhavān
premṇā nivārayām āsa
kṛṣṇaṁ ca tyāga-kātaraḥ

Sinônimos

tataḥ — então; yudhiṣṭhiraḥ rājā — o rei Yudhiṣṭhira; suhṛt — seus amigos; sambandhi — membros da família; bāndhavān — e parentes; premṇā — por amor; nivārayām āsa — impediram-nos; kṛṣṇam — o Senhor Kṛṣṇa; ca — e; tyāga — pela separação; kātaraḥ — aflito.

Tradução

Naquela ocasião, Rājā Yudhiṣṭhira impediu que vários de seus amigos, parentes próximos e familiares distantes, dentre os quais o Senhor Kṛṣṇa, partissem. Por amor, Yudhiṣṭhira não podia deixá-los partir, pois sentia a dor da separação iminente.

Texto

bhagavān api tatrāṅga
nyāvātsīt tat-priyaṁ-karaḥ
prasthāpya yadu-vīrāṁś ca
sāmbādīṁś ca kuśasthalīm

Sinônimos

bhagavān — o Senhor Supremo; api — e; tatra — lá; aṅga — meu que­rido (rei Parīkṣit); nyāvātsīt — permaneceu; tat — para sua (de Yudhiṣṭhira); priyam — satisfação; karaḥ — agindo; prasthāpya — enviando; yadu-vīrān — os heróis da dinastia Yadu; ca — e; sāmba-ādīn — enca­beçados por Sāmba; ca — e; kuśasthalīm — para Dvārakā.

Tradução

Meu querido Parīkṣit, depois de ter enviado Sāmba e os outros heróis Yadus de volta para Dvārakā, o Senhor Supremo perma­neceu lá por algum tempo para agradar ao rei.

Texto

itthaṁ rājā dharma-suto
manoratha-mahārṇavam
su-dustaraṁ samuttīrya
kṛṣṇenāsīd gata-jvaraḥ

Sinônimos

ittham — dessa maneira; rājā — o rei; dharma — do senhor da religião (Yamarāja); sutaḥ — o filho; manaḥ-ratha — de seus desejos; mahā — imenso; arṇavam — o oceano; su — muito; dustaram — difícil de atravessar; samuttīrya — atravessando com sucesso; kṛṣṇena — com o au­xílio do Senhor Kṛṣṇa; āsīt — tornou-se; gata-jvaraḥ — livre de sua condição febril.

Tradução

Dessa maneira, o rei Yudhiṣṭhira, o filho de Dharma, tendo pela graça do Senhor Kṛṣṇa atravessado com sucesso o vasto e formidável oceano de seus desejos, mitigou enfim sua ardente ambição.

Comentário

SIGNIFICADO—Os capítulos antecedentes do Śrīmad-Bhāgavatam deixam bem claro que o rei Yudhiṣṭhira tinha o intenso desejo de demonstrar ao mundo a supremacia de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, e as bênçãos recebidas por aqueles que se rendem a Ele. Para concre­tizar esse anseio, o rei Yudhiṣṭhira realizou o sacrifício Rājasūya, uma tarefa muito difícil.

A esse respeito, escreve Śrīla Prabhupāda: “No mundo material, todos têm algum desejo específico a se realizar, mas ninguém jamais consegue satisfação plena com a concretização de seus desejos. Mas o rei Yudhiṣṭhira, por causa de sua inabalável devoção a Kṛṣṇa, pôde satisfazer todos os seus desejos com sucesso mediante a execução do sacrifício Rājasūya. Pela descrição do Rājasūya-yajña, parece que semelhante função é um grande oceano de desejos opulentos. Não é possível que um homem comum atravesse tal oceano; não obstante, pela graça do Senhor Kṛṣṇa, o rei Yudhiṣṭhira foi capaz de atravessá­-lo com muita facilidade e, assim, livrou-se de todas as ansiedades.”

Texto

ekadāntaḥ-pure tasya
vīkṣya duryodhanaḥ śriyam
atapyad rājasūyasya
mahitvaṁ cācyutātmanaḥ

Sinônimos

ekadā — certo dia; antaḥ-pure — dentro do palácio; tasya — dele (de Mahārāja Yudhiṣṭhira); vīkṣya — observando; duryodhanaḥ — Duryodhana; śrīyam — opulência; atapyat — ficou aflito; rājasūyasya — do sacrifício Rājasūya; mahitvam — a grandeza; ca — e; acyuta-ātmanaḥ — daquele (o rei Yudhiṣṭhira) cuja própria alma era o Senhor Acyuta.

Tradução

Certo dia, Duryodhana, enquanto observava a opulência do palácio do rei Yudhiṣṭhira, sentiu-se muito incomodado com a magnificência tanto do sacrifício Rājasūya quanto de seu exe­cutor, o rei, cuja vida e alma era o Senhor Acyuta.

Texto

yasmiṁs narendra-ditijendra-surendra-lakṣmīr
nānā vibhānti kila viśva-sṛjopakḷptāḥ
tābhiḥ patīn drupada-rāja-sutopatasthe
yasyāṁ viṣakta-hṛdayaḥ kuru-rāḍ atapyat

Sinônimos

yasmin — no qual (palácio); nara-indra — dos reis entre os homens; ditija-indra — dos reis dos demônios; sura-indrae dos reis dos se­mideuses; lakṣmīḥ — as opulências; nānā — variadas; vibhānti — mani­festavam-se; kila — de fato; viśva-sṛjā — pelo fabricante cósmico (Maya Dānava); upakḷptāḥ — providas; tābhiḥ — com elas; patīn — seus ma­ridos, os Pāṇḍavas; drupada-rāja — do rei Drupada; sutā — a filha, Draupadī; upatasthe — servia; yasyām — por quem; viṣakta — apegado; hṛdayaḥ — cujo coração; kuru-rāṭ — o príncipe Kuru, Duryodhana; ata­pyat — lamentava-se.

Tradução

Naquele palácio, todas as opulências reunidas dos reis dos homens, demônios e deuses manifestavam-se com esplendor, pois foi Maya Dānava, o inventor cósmico, que as levou para lá. Com aquelas riquezas, Draupadī servia a seus maridos, e Duryodhana, o príncipe dos Kurus, lamentava-se porque sentia muita atração por ela.

Texto

yasmin tadā madhu-pater mahiṣī-sahasraṁ
śroṇī-bhareṇa śanakaiḥ kvaṇad-aṅghri-śobham
madhye su-cāru kuca-kuṅkuma-śoṇa-hāraṁ
śrīman-mukhaṁ pracala-kuṇḍala-kuntalāḍhyam

Sinônimos

yasmin — no qual; tadā — naquela ocasião; madhu — de Mathurā; pateḥ — do Senhor; mahiṣī — de rainhas; sahasram — as milhares; śroṇī — de seus quadris; bhareṇa — com o peso; śanakaiḥ — lentamen­te; kvaṇat — tilintando; aṅghri — de cujos pés; śobham — o encanto; madhye — no meio (na cintura); su-cāru — muito atraente; kuca — de seus seios; kuṅkuma — com o pó de kuṅkuma; śoṇa — avermelhados; hāram — seus colares de pérolas; śrīmat — belos; mukham — cujos rostos; pracala — que se moviam; kuṇḍala — com brincos; kuntala — e cachos de cabelo; āḍhyam — ricamente dotadas.

Tradução

As milhares de rainhas do Senhor Madhupati também perma­neciam no palácio. Seus pés se moviam devagar, devido ao peso de seus quadris, e os guizos de seus tornozelos tilintavam encan­tadoramente. A cintura delas era muito fina, o kuṅkuma de seus seios avermelhava seus colares de pérolas, e seus balançantes brincos e graciosos cachos de cabelo realçavam a beleza primo­rosa de seus rostos.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “Depois de olhar tais beldades no pa­lácio do rei Yudhiṣṭhira, Duryodhana sentiu inveja. Ele ficou ainda mais invejoso e luxurioso ao ver a beleza de Draupadī, haja vista que, desde que esta se casara com os Pāṇḍavas, ele acalentava uma atração es­pecial por ela. Na assembleia para a escolha do esposo de Draupadī, Duryodhana também esteve presente e, com outros príncipes, ele se cativou pela beleza de Draupadī, mas não conseguiu obtê-la em casamento.”

Texto

sabhāyāṁ maya-kḷptāyāṁ
kvāpi dharma-suto ’dhirāṭ
vṛto ’nugair bandhubhiś ca
kṛṣṇenāpi sva-cakṣuṣā
āsīnaḥ kāñcane sākṣād
āsane maghavān iva
pārameṣṭhya-śrīyā juṣṭaḥ
stūyamānaś ca vandibhiḥ

Sinônimos

sabhāyām — no salão de assembleias; maya — por Maya Dānava; kḷptāyām — construído; kva api — certa ocasião; dharma-sutaḥ — o filho de Yamarāja (Yudhiṣṭhira); adhirāṭ — o imperador; vṛtaḥ — acompanha­do; anugaiḥ — por seus auxiliares; bandhubhiḥ — pelos membros da família; ca — e; kṛṣṇena — pelo Senhor Kṛṣṇa; api — também; sva — seu; cakṣuṣā — olho; āsīnaḥ — sentado; kāñcane — feito de ouro; sākṣāt — em pessoa; āsane — em um trono; maghavān — o senhor Indra; iva — como se; pārameṣṭhya — de Brahmā, ou do governo supremo; śriyā — com as opulências; juṣṭaḥ — junto; stūyamānaḥ — sendo louvado; ca — e; vandibhiḥ — pelos poetas da corte.

Tradução

Certo dia, o imperador Yudhiṣṭhira, o filho de Dharma, esta­va sentado exatamente como Indra em um trono de ouro no salão de assembleias construído por Maya Dānava. Presentes com ele, estavam seus auxiliares e membros da família, e também o Senhor Kṛṣṇa, seu olho especial. Enquanto exibia as opulências do próprio Brahmā, o rei Yudhiṣṭhira era louvado pelos poetas da corte.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī explica que o Senhor Kṛṣṇa é descrito aqui como o olho especial de Yudhiṣṭhira porque Ele aconselhava o rei sobre o que era benéfico e o que não era.

Texto

tatra duryodhano mānī
parīto bhrātṛbhir nṛpa
kirīṭa-mālī nyaviśad
asi-hastaḥ kṣipan ruṣā

Sinônimos

tatra — lá; duryodhanaḥ — Duryodhana; mānī — orgulhoso; parītaḥ — rodeado; bhrātṛbhiḥ — por seus irmãos; nṛpa — ó rei; kirīṭa — usando uma coroa; mālī — e um colar; nyaviśat — entrou; asi — uma espada; hastaḥ — em sua mão; kṣipan — insultando (os porteiros); ruṣā — com ira.

Tradução

O orgulhoso Duryodhana, com uma espada em punho e usan­do coroa e colar, entrou irado no palácio em companhia de seus irmãos, ó rei, e insultou os porteiros enquanto passava.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve que Duryodhana “estava sempre cheio de inveja e ira e, devido a isso, por uma pequena provocação, ele falou com muita rispidez com os porteiros e mostrou-se irritado”.

Texto

sthale ’bhyagṛhṇād vastrāntaṁ
jalaṁ matvā sthale ’patat
jale ca sthala-vad bhrāntyā
maya-māyā-vimohitaḥ

Sinônimos

sthale — em chão firme; abhyagṛhṇāt — ergueu; vastra — de sua roupa; antam — a ponta; jalam — água; matvā — pensando; sthale — e em outro lugar; apatat — caiu; jale — na água; ca — e; sthala — piso sólido; vat — como se; bhrāntyā — pela ilusão; maya — de Maya Dāna­va; māyā — pela mágica; vimohitaḥ — confundido.

Tradução

Desorientado pelas ilusões criadas através da mágica de Maya Dānava, Duryodhana confundiu o chão firme com água e, em razão disso, ergueu a ponta de sua roupa. Em outro lugar, caiu na água, pensando que se tratava de piso sólido.

Texto

jahāsa bhīmas taṁ dṛṣṭvā
striyo nṛpatayo pare
nivāryamāṇā apy aṅga
rājñā kṛṣṇānumoditāḥ

Sinônimos

jahāsa — riu; bhīmaḥ — Bhīma; tam — a ele; dṛṣṭvā — vendo; striyaḥ — as mulheres; nṛ-patayaḥ — reis; apare — e outros; nivāryamāṇāḥ — sendo impedidos; api — ainda que; aṅga — meu querido (Parīkṣit); rājñā — pelo rei (Yudhiṣṭhira); kṛṣṇa — pelo Senhor Kṛṣṇa; anumodi­tāḥ — aprovados.

Tradução

Meu querido Parīkṣit, Bhīma riu ao ver isso, e o mesmo o fi­zeram as mulheres, os reis e outras pessoas presentes. O rei Yudhiṣṭhira tentou impedi-los, mas o Senhor Kṛṣṇa mostrou Sua aprovação.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī menciona que o rei Yudhiṣṭhira tentou impedir o riso olhando para as mulheres e Bhīma. O Senhor Kṛṣṇa, porém, deu Sua aprovação com um sinal de sobrancelhas. O Senhor viera à Terra para remover o fardo manifesto sob a forma desses reis perversos, e esse incidente não deixava de ter relação com o propó­sito do Senhor.

Texto

sa vrīḍito ’vag-vadano ruṣā jvalan
niṣkramya tūṣṇīṁ prayayau gajāhvayam
hā-heti śabdaḥ su-mahān abhūt satām
ajāta-śatrur vimanā ivābhavat
babhūva tūṣṇīṁ bhagavān bhuvo bharaṁ
samujjihīrṣur bhramati sma yad-dṛśā

Sinônimos

saḥ — ele, Duryodhana; vrīḍitaḥ — embaraçado; avāk — mantido para baixo; vadanaḥ — cujo rosto; ruṣā — com ira; jvalan — ardendo; niṣkra­mya — saindo; tūṣṇīm — em silêncio; prayayau — saiu; gaja-āhvayam — para Hastināpura; hā-hā iti — “ai, ai”; śabdaḥ — o som; su-mahān — muito grande; abhūt — ergueu-se; satām — das pessoas santas; ajāta-­śatruḥ — o rei Yudhiṣṭhira; vimanāḥ — deprimido; iva — um tanto; abhavat — ficou; babhūva — estava; tūṣṇīm — silencioso; bhagavān — o Senhor Supremo; bhuvaḥ — da Terra; bharam — o fardo; samujjihīrṣuḥ — querendo remover; bhramati sma — (Duryodhana) foi iludido; yat — cujo; dṛśā — por olhar.

Tradução

Humilhado e ardendo de ira, Duryodhana baixou a cabeça, saiu sem dizer uma palavra e regressou a Hastināpura. As pessoas santas presentes clamaram: “Ai, ai!”, e o rei Yudhiṣṭhira ficou um pouco triste. Mas o Senhor Supremo, cujo mero olhar con­fundira Duryodhana, permaneceu em silêncio, pois Sua intenção era remover o fardo da Terra.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “Quando Duryodhana saiu assim tão aborrecido, todos lamentaram o incidente, e o rei Yudhiṣṭhira também ficou muito sentido. Contudo, apesar de todos os acontecimentos, Kṛṣṇa ficou em silêncio. Ele nada disse a favor ou contra o incidente. Ao que tudo indica, Duryodhana fora posto em ilusão pela vontade su­prema do Senhor Kṛṣṇa, e esse foi o início da inimizade entre as duas facções da dinastia Kuru. Isso parecia ser parte do plano de Kṛṣṇa em Sua missão de diminuir o fardo do mundo.”

Texto

etat te ’bhihitaṁ rājan
yat pṛṣṭo ’ham iha tvayā
suyodhanasya daurātmyaṁ
rājasūye mahā-kratau

Sinônimos

etat — isto; te — a ti; abhihitam — falado; rājan — ó rei; yat — o que; pṛṣṭaḥ — perguntado; aham — eu; iha — a respeito disso; tvayā — por ti; suyodhanasya — de Suyodhana (Duryodhana); daurātmyam — a insatisfação; rājasūye — durante o Rājasūya; mahā-kratau — o formidável sacrifício.

Tradução

Agora respondi a tua pergunta, ó rei, sobre a razão pela qual Duryodhana ficou descontente por ocasião do formidável sacrifí­cio Rājasūya.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhu­pāda referentes ao décimo canto, septuagésimo quinto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Duryodhana Humilhado”.