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Capítulo Dois

Śrī Caitanya Mahāprabhu, a Suprema Personalidade de Deus

Este capítulo explica que o Senhor Caitanya é o próprio Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, a refulgência Brahman é o brilho do corpo do Senhor Caitanya, e a Superalma localizada situada no coração de cada entidade viva é Sua representação parcial. A esse respeito, explica-se também os puruṣa-avatāras. Mahā-Viṣṇu é o reservatório de todas as almas condicionadas, mas, como se confirma nas escrituras autorizadas, o Senhor Kṛṣṇa é o manancial último, a fonte de inúmeras expansões plenárias, incluindo Nārāyaṇa, que, de um modo geral, é aceito por filósofos māyāvādīs como sendo a Verdade Absoluta. Explica-se também a manifestação do Senhor de expansões prābhava e vaibhava, bem como as encarnações parciais e encarnações dotadas de poderes. Discorre-se sobre a meninice e sobre a juventude do Senhor Kṛṣṇa, e explica-se que Sua idade no comecinho da juventude é Sua forma eterna.

O céu espiritual contém inúmeros planetas espirituais, os Vaikuṇṭhas, que são manifestações da energia interna do Senhor Supremo. Semelhantemente, Sua energia externa manifesta inúmeros universos materiais, e Sua energia marginal manifesta as entidades vivas. Como o Senhor Kṛṣṇa Caitanya não é diferente do Senhor Kṛṣṇa, Ele é a causa de todas as causas: não há outra causa além dEle. Ele é eterno, e Sua forma é espiritual. Como provam as evidências de escrituras autorizadas, o Senhor Caitanya é diretamente o Supremo Senhor Kṛṣṇa. Esse capítulo enfatiza que, a fim de avançar em consciência de Kṛṣṇa, o devoto deve ter conhecimento da forma pessoal de Kṛṣṇa, de Suas três energias principais, de Seus passatempos e da relação das entidades vivas com Ele.

VERSO 1:
Ofereço minhas reverências a Śrī Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo uma criança ignorante pode atravessar o oceano da verdade conclusiva, que é repleto dos crocodilos de várias teorias.
VERSO 2:
Ó meu misericordioso Senhor Caitanya! Que as nectáreas águas do Ganges de Tuas atividades transcendentais jorrem sobre a superfície de minha língua desértica. Embelezam essas águas as flores de lótus do entoar, do dançar e do canto alto do santo nome de Kṛṣṇa, que são as moradas de prazer dos devotos imaculados. Comparam-se esses devotos a cisnes, patos e abelhas. O fluir do rio produz um som melodioso que agrada seus ouvidos.
VERSO 3:
Todas as glórias ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu e ao Senhor Śrī Nityānanda. Todas as glórias a Advaitacandra, e todas as glórias aos devotos do Senhor Gaurāṅga.
VERSO 4:
Agora vou descrever o significado do terceiro verso [dos primeiros quatorze]. Ele é uma vibração auspiciosa que descreve a Verdade Absoluta.
VERSO 5:
O que as Upaniṣads descrevem como o Brahman impessoal é apenas a refulgência de Seu corpo, e o Senhor conhecido como a Superalma é apenas Sua porção plenária localizada. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o próprio Kṛṣṇa, pleno de seis opulências. Ele é a Verdade Absoluta, e nenhuma outra verdade é superior ou igual a Ele.
VERSO 6:
O Brahman impessoal, o Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus são três sujeitos, e a refulgência deslumbrante, a manifestação parcial e a forma original são seus três predicados respectivos.
VERSO 7:
O predicado sempre acompanha seu sujeito. Agora, vou explicar o significado deste verso segundo as escrituras reveladas.
VERSO 8:
Kṛṣṇa, a forma original da Personalidade de Deus, é o summum bonum do Viṣṇu onipenetrante. Ele é conhecimento todo-perfeito e bem-aventurança todo-perfeita. Ele é a Transcendência Suprema.
VERSO 9:
Aquele que o Śrīmad-Bhāgavatam descreve como o filho de Nanda Mahārāja desceu à Terra como o Senhor Caitanya.
VERSO 10:
Em função de Suas manifestações variadas, Ele é conhecido sob três aspectos, chamados o Brahman impessoal, o Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus original.
VERSO 11:
“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta dizem que Ela é conhecimento não-dual e Se chama Brahman impessoal, Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus.”
VERSO 12:
O que as Upaniṣads chamam de Brahman impessoal transcendental é a região da refulgência resplandecente da mesma Pessoa Suprema.
VERSO 13:
Assim como a olho nu só se pode conhecer o Sol como uma substância ofuscante, da mesma forma, a mera especulação filosófica não nos capacita a entender as variedades transcendentais do Senhor Kṛṣṇa.
VERSO 14:
“Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que é dotado de grande poder. A refulgência deslumbrante de Sua forma transcendental é o Brahman impessoal, que é absoluto, completo e ilimitado e que manifesta as variedades de incontáveis planetas, com suas diferentes opulências, em milhões e milhões de universos.”
VERSO 15:
As opulências do Brahman impessoal espalham-se por todos os milhões e milhões de universos. Esse Brahman é apenas a refulgência do corpo de Govinda.
VERSO 16:
“Eu [Brahmā] adoro Govinda. Ele é meu Senhor. Unicamente por Sua graça sou dotado de poder para criar o universo.”
VERSO 17:
“Santos e sannyāsīs nus que se submetem a rigorosas penitências físicas, que podem elevar o sêmen até o cérebro e que são plenamente equilibrados em Brahman podem viver na região conhecida como Brahmaloka.”
VERSO 18:
Aquele que os yoga-śāstras descrevem como a Superalma interior [ātmā antaryāmī] é também uma porção plenária da expansão pessoal de Govinda.
VERSO 19:
Assim como o Sol único aparece refletido em inúmeras joias, analogamente, Govinda manifesta-Se [como Paramātmā] no coração de todos os seres vivos.
VERSO 20:
A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, disse: “Que mais posso dizer-te? Eu vivo em toda esta manifestação cósmica através de uma única porção plenária Minha.”
VERSO 21:
O avô Bhīṣma disse: “Assim como para diferentes espectadores o Sol único parece estar diversamente situado, também Vós, o não-nascido, pareceis representado de maneira distinta como Paramātmā em cada ser vivo. Contudo, quando um observador se reconhece como um de Vossos próprios servidores, ele não mantém mais tal dualidade. Dessa maneira, posso agora compreender Vossas formas eternas, sabendo bem que o Paramātmā é apenas Vossa porção plenária.”
VERSO 22:
Esse Govinda aparece pessoalmente como Caitanya Gosāñi. Nenhum outro Senhor é tão misericordioso na liberação das almas caídas.
VERSO 23:
O Senhor Nārāyaṇa, que domina o mundo transcendental, é pleno de seis opulências. Ele é a Personalidade de Deus, o Senhor da deusa da fortuna.
VERSO 24:
A Personalidade de Deus é aquele que os Vedas, o Bhāgavatam, as Upaniṣads e outros textos transcendentais descrevem como o Todo Absoluto. Ninguém é igual a Ele.
VERSO 25:
Através de seu serviço, os devotos veem essa Personalidade de Deus, assim como os habitantes celestiais veem a personalidade do Sol.
VERSO 26:
Aqueles que trilham os caminhos do conhecimento e do yoga adoram apenas a Ele, pois percebem-nO como o Brahman impessoal e como o Paramātmā localizado.
VERSO 27:
Assim, como ilustra o exemplo do Sol, pode-se compreender as glórias do Senhor por meio de diferentes modos de adoração.
VERSO 28:
Nārāyaṇa e Śrī Kṛṣṇa são a mesma Personalidade de Deus, mas, embora Eles sejam idênticos, Seus aspectos corpóreos são diferentes.
VERSO 29:
Essa Personalidade de Deus [Śrī Kṛṣṇa] tem duas mãos e segura uma flauta, ao passo que o outro [Nārāyaṇa] tem quatro mãos, com búzio, disco, maça e lótus.
VERSO 30:
“Ó Senhor dos senhores, sois a testemunha de toda a criação. Na verdade, sois a vida mais querida de todos. Não sois, portanto, meu pai, Nārāyaṇa? Nārāyaṇa refere-se àquele cuja morada encontra-se na água nascida de Nara [Garbhodakaśāyī Viṣṇu], e esse Nārāyaṇa é Vossa porção plenária. Todas as Vossas porções plenárias são transcendentais. Elas são absolutas e não são criações de māyā.”
VERSO 31:
Depois que Brahmā ofendeu Kṛṣṇa, roubando Seus amiguinhos e vacas, ele pediu perdão ao Senhor por seu ato ofensivo e orou pela misericórdia do Senhor.
VERSO 32:
“Nasci do lótus que cresceu de Vosso umbigo. Assim, sois tanto meu pai quanto minha mãe, e eu sou Vosso filho.”
VERSO 33:
“Os pais nunca levam a sério as ofensas de seus filhos. Portanto, suplico Vosso perdão e peço Vossa bênção.”
VERSO 34:
Śrī Kṛṣṇa disse: “Ó Brahmā, teu pai é Nārāyaṇa. Eu sou apenas um vaqueirinho. Como podes ser Meu filho?”
VERSO 35:
Brahmā respondeu: “Acaso não sois Nārāyaṇa? Claro que sois Nārāyaṇa! Por favor, ouve enquanto apresento-Vos as provas.”
VERSO 36:
“Em última análise, todos os seres vivos dentro dos mundos material e espiritual nascem de Vós, pois sois a Superalma de todos eles.”
VERSO 37:
“A terra é a causa original e o repositório de todos os potes feitos de barro; analogamente, sois a causa e o abrigo fundamentais de todos os seres vivos.”
VERSO 38:
“A palavra ‘nāra’ refere-se ao conjunto de todos os seres vivos, e a palavra ‘ayana’, ao refúgio de todos eles.”
VERSO 39:
“Portanto, sois o Nārāyaṇa original. Essa é uma razão. Por favor, escutai enquanto cito a segunda razão.”
VERSO 40:
“As encarnações puruṣa são os Senhores diretos dos seres vivos. Contudo, Vossa opulência e poder são mais magnânimos que os dEles!”
VERSO 41:
“Portanto, sois o Senhor primordial, o pai original de todos. Eles [os puruṣas] são protetores dos universos por Vosso poder.”
VERSO 42:
“Como protegeis aqueles que são os refúgios de todos os seres vivos, Vós sois o Nārāyaṇa original.”
VERSO 43:
“Ó meu Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus! Por favor, ouvi minha terceira razão. Existem inúmeros universos e insondáveis Vaikuṇṭhas transcendentais.”
VERSO 44:
“Tanto neste mundo material quanto no mundo transcendental, Vós vedes todos os atos de todos os seres vivos, no passado, no presente e no futuro. Como sois a testemunha de todos esses atos, conheceis a essência de tudo.”
VERSO 45:
“Todos os mundos existem porque Vós os supervisionais. Sem Vossa supervisão, ninguém pode viver, mover-se ou existir.”
VERSO 46:
“Supervisionais as divagações de todos os seres vivos. Por esta razão também, sois o Senhor Nārāyaṇa primordial.”
VERSO 47:
Kṛṣṇa disse: “Brahmā, não posso entender o que estás dizendo. O Senhor Nārāyaṇa é aquele que Se encontra no coração de todos os seres vivos e que Se deita nas águas do Oceano Kāraṇa.”
VERSO 48:
Brahmā respondeu: “O que eu disse é verdade. O mesmo Senhor Nārāyaṇa que vive nas águas e no coração de todos os seres vivos não passa de uma de Vossas porções plenárias.”
VERSO 49:
“As formas Kāraṇodakaśāyī, Garbhodakaśāyī e Kṣīrodakaśāyī de Nārāyaṇa criam todas cooperativamente com a energia material. Dessa maneira, estão ligadas a māyā.”
VERSO 50:
“Esses três Viṣṇus deitados na água são a Superalma de tudo. A Superalma de todos os universos é conhecida como o primeiro puruṣa.”
VERSO 51:
“Garbhodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma da totalidade das entidades vivas, e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma de cada ser vivo individual.”
VERSO 52:
“Superficialmente, vemos que esses puruṣas têm uma relação com māyā, mas, acima dEles, na quarta dimensão, está o Senhor Kṛṣṇa, que não tem contato com a energia material.”
VERSO 53:
“No mundo material, o Senhor é designado como virāṭ, hiraṇyagarbha e kāraṇa. Mas, em última análise, além dessas três designações, o Senhor está na quarta dimensão.”
VERSO 54:
“Embora esses três aspectos do Senhor lidem diretamente com a energia material, ela não afeta nenhum deles. Todos eles estão além da ilusão.”
VERSO 55:
“‘Esta é a opulência do Senhor: embora situado na natureza material, os modos da natureza nunca O afetam. Analogamente, aqueles que se rendem a Ele e fixam sua inteligência nEle não são influenciados pelos modos da natureza.’”
VERSO 56:
“Sois o abrigo derradeiro dessas três porções plenárias. Assim, não há a menor dúvida de que sois o Nārāyaṇa primordial.”
VERSO 57:
“O Nārāyaṇa no céu espiritual é a fonte destes três aspectos. Ele é Vossa expansão vilāsa. Portanto, Vós sois o Nārāyaṇa fundamental.”
VERSO 58:
Portanto, segundo a autoridade de Brahmā, o Nārāyaṇa que é a Deidade predominante no mundo transcendental é apenas o aspecto vilāsa de Kṛṣṇa. Citando Brahmā, acabo de provar isso conclusivamente.
VERSO 59:
A verdade indicada neste verso [verso 30] é a essência do Śrīmad-Bhāgavatam. Essa conclusão se aplica em toda a parte sob a forma de sinônimos.
VERSO 60:
Eruditos tolos especulam de diversas maneiras, desconhecendo que Brahman, Paramātmā e Bhagavān são todos aspectos de Kṛṣṇa.
VERSO 61:
Porque Nārāyaṇa tem quatro mãos ao passo que Kṛṣṇa assemelha-Se a um homem, eles dizem que Nārāyaṇa é o Deus original ao passo que Kṛṣṇa é apenas uma encarnação.
VERSO 62:
Dessa maneira, os argumentos deles aparecem sob diversas formas, mas a poesia do Bhāgavatam habilmente refuta todas elas.
VERSO 63:
“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta dizem que Ela é conhecimento não-dual e Se chama Brahman impessoal, Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus.”
VERSO 64:
Meus queridos irmãos, por favor, ouvi a explicação deste verso e considerai seu significado: a entidade original única é conhecida sob Seus três diferentes aspectos.
VERSO 65:
O próprio Senhor Kṛṣṇa é a Verdade Absoluta única e íntegra, a realidade fundamental. Ele Se manifesta sob três aspectos – como Brahman, Paramātmā e Bhagavān.
VERSO 66:
O significado deste verso vos fez parar de argumentar. Agora, ouvi outro verso do Śrīmad-Bhāgavatam.
VERSO 67:
“Todas essas encarnações de Deus são, ou porções plenárias, ou partes das porções plenárias dos puruṣa-avatāras. Kṛṣṇa, porém, é a própria Suprema Personalidade de Deus. Em cada era, quando os inimigos de Indra perturbam o mundo, Ele o protege por meio de Seus diferentes aspectos.”
VERSO 68:
O Bhāgavatam descreve os sintomas e atos das encarnações em geral e inclui Śrī Kṛṣṇa entre elas.
VERSO 69:
Isto deixou Sūta Gosvāmī bastante apreensivo. Portanto, ele distinguiu cada encarnação por seus sintomas específicos.
VERSO 70:
Todas as encarnações da Divindade são porções plenárias ou partes das porções plenárias dos puruṣa-avatāras, porém o Senhor primordial é Śrī Kṛṣṇa. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o manancial de todas as encarnações.
VERSO 71:
Pode ser que um oponente diga: “Esta é a tua interpretação, mas, na verdade, o Senhor Supremo é Nārāyaṇa, que está no reino transcendental.”
VERSO 72:
“Ele [Nārāyaṇa] encarna como o Senhor Kṛṣṇa. Esta é a maneira como vejo o significado do verso. Não há necessidade de considerações adicionais.”
VERSO 73:
Podemos responder a tal intérprete desorientado: “Por que sugeres essa lógica falaz? Uma interpretação que se oponha aos princípios da escritura jamais é aceita como evidência.”
VERSO 74:
“Não se deve expor um predicado antes de seu sujeito, pois ele não pode ficar assim, sem apoio adequado.”
VERSO 75:
Se não cito um sujeito, não cito o predicado. Primeiro menciono aquele e, então, este.
VERSO 76:
O predicado de uma oração é aquilo que o leitor desconhece, ao passo que o sujeito ele conhece.
VERSO 77:
Por exemplo, podemos dizer: “Este vipra é um homem muito erudito.” Nesta oração, o sujeito é o vipra, e o predicado é sua erudição.
VERSO 78:
Sabe-se que o homem é um vipra, mas sua erudição é desconhecida. Portanto, identifica-se a pessoa primeiro, e depois sua erudição.
VERSO 79:
Da mesma forma, conheciam-se todas essas encarnações, porém não se sabia de quem elas são encarnações.
VERSO 80:
Primeiramente, a palavra “ete” [“essas”] estabelece o sujeito [as encarnações]. Depois, “porções plenárias dos puruṣa-avatāras” segue-se como o predicado.
VERSO 81:
Da mesma forma, quando Kṛṣṇa foi primeiramente incluído entre as encarnações, ainda não se tinha conhecimento específico sobre Ele.
VERSO 82:
Portanto, a palavra “kṛṣṇa” aparece primeiro como o sujeito, seguida pelo predicado, descrevendo-O como a Personalidade de Deus original.
VERSO 83:
Isso estabelece que Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original. Portanto, a Personalidade de Deus original é necessariamente Kṛṣṇa.
VERSO 84:
Se Kṛṣṇa fosse a porção plenária e Nārāyaṇa o Senhor primordial, a afirmação de Sūta Gosvāmī estaria invertida.
VERSO 85:
De tal modo, ele teria dito: “Nārāyaṇa, a fonte de todas as encarnações, é a Personalidade de Deus original. Ele apareceu como Śrī Kṛṣṇa.”
VERSO 86:
Erros, ilusões, trapaças e percepções imperfeitas não ocorrem nos dizeres dos sábios autorizados.
VERSO 87:
Dizes algo contraditório e te zangas quando isso é indicado. Tua explicação tem o defeito de um objeto mal colocado. Isso é um ajuste imponderado.
VERSO 88:
Somente a Personalidade de Deus, a fonte de todas as demais Divindades, é apto para ser designado como svayaṁ bhagavān, ou o Senhor primordial.
VERSO 89:
Quando, a partir de uma vela, acendem-se muitas outras, eu considero essa a original.
VERSO 90:
Da mesma maneira, Kṛṣṇa é a causa de todas as causas e de todas as encarnações. Por favor, escutai outro verso que derrota todas as interpretações errôneas.
VERSOS 91-92:
Aqui [no Śrīmad-Bhāgavatam] descrevem-se dez assuntos: (1) a criação dos ingredientes do cosmo, (2) as criações de Brahmā, (3) a manutenção da criação, (4) o favor especial dado aos fiéis, (5) ímpetos para a atividade, (6) os deveres prescritos para homens obedientes à lei, (7) uma descrição das encarnações do Senhor, (8) o encerramento da criação, (9) o libertar-se da existência material grosseira e sutil, e (10) o refúgio derradeiro, a Suprema Personalidade de Deus. O décimo item é o abrigo de todos os outros. Para distinguir este refúgio último dos outros nove assuntos, os mahājanas descrevem estes nove, direta ou indiretamente, por meio de orações ou explicações diretas.”
VERSO 93:
Descrevo as outras nove categorias para conhecer distintamente o refúgio último de tudo o que existe. A causa do aparecimento dessas nove categorias é corretamente chamada de o refúgio delas.
VERSO 94:
A Personalidade de Deus Śrī Kṛṣṇa é o refúgio e a morada de tudo. Todos os universos descansam em Seu corpo.
VERSO 95:
“O décimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam revela o décimo objeto, a Suprema Personalidade de Deus, que é o refúgio de todas as almas rendidas. Ele é conhecido como Śrī Kṛṣṇa, e é a fonte última de todos os universos. Deixai-me oferecer-Lhe minhas reverências.”
VERSO 96:
Aquele que conhece a característica verdadeira de Śrī Kṛṣṇa e Suas três diferentes energias não pode permanecer ignorando-O.
VERSO 97:
A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, diverte-Se sob seis expansões primárias. Suas duas manifestações são prābhava e vaibhava.
VERSO 98:
Suas encarnações são de duas classes, a saber, parcial e dotada de poder. Ele aparece em duas idades – infância e meninice.
VERSO 99:
A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, que é eternamente um adolescente, é o Senhor primordial, a fonte de todas as encarnações. Ele Se expande nessas seis categorias de formas para estabelecer Sua supremacia em todo o universo.
VERSO 100:
Há inúmeras variedades nessas seis espécies de formas. Embora sejam muitas, elas são todas iguais: não há diferença entre elas.
VERSO 101:
A cit-śakti, que também é chamada de svarūpa-śakti ou antaraṅga-śakti, exibe muitas variedades de manifestações. Ela sustém o reino de Deus e a parafernália dele.
VERSO 102:
A energia externa, chamada māyā-śakti, é a causa de inúmeros universos com variadas potências materiais.
VERSO 103:
A potência marginal, que está entre essas duas, consiste nos inúmeros seres vivos. São essas as três energias principais, que têm categorias e subdivisões ilimitadas.
VERSO 104:
Essas são as principais manifestações e expansões da Personalidade de Deus e de Suas três energias. Todas elas são emanações da Transcendência, Śrī Kṛṣṇa. A existência delas está nEle.
VERSO 105:
Embora os três puruṣas sejam o refúgio de todos os universos, o Senhor Kṛṣṇa é a fonte original dos puruṣas.
VERSO 106:
Assim, a Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, é o Senhor primordial original, a fonte de todas as outras expansões. Todas as escrituras reveladas aceitam Śrī Kṛṣṇa como o Senhor Supremo.
VERSO 107:
“Kṛṣṇa, que é conhecido como Govinda, é o controlador supremo. Ele tem corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem outra origem, pois Ele é a causa primordial de todas as causas.”
VERSO 108:
Conheces muito bem todas as conclusões das escrituras. Crias esses argumentos lógicos somente para me trazer ansiedade.
VERSO 109:
Esse mesmo Senhor Kṛṣṇa, o manancial de todas as encarnações, é conhecido como o filho do rei de Vraja. Ele desce pessoalmente como o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.
VERSO 110:
Portanto, o Senhor Caitanya é a Suprema Verdade Absoluta. Chamá-lO de Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu não acrescenta nada à Sua glória.
VERSO 111:
Mas tais palavras dos lábios de um devoto sincero não podem ser falsas. NEle, existem todas as possibilidades, pois Ele é o Senhor primordial.
VERSO 112:
No corpo original do Senhor primordial, encontram-se potencialmente todas as outras encarnações. Assim, segundo o parecer de cada um, pode-se dirigir-se a Ele como qualquer uma das encarnações.
VERSO 113:
Alguns dizem que Śrī Kṛṣṇa é diretamente Nara-Nārāyaṇa. Outros dizem que Ele é diretamente Vāmana.
VERSO 114:
Alguns dizem que Kṛṣṇa é a encarnação de Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Nenhuma dessas afirmações é impossível; cada uma delas é tão correta quanto as demais.
VERSO 115:
Alguns chamam-nO de Hari, ou o Nārāyaṇa do mundo transcendental. Tudo é possível em Kṛṣṇa, pois Ele é o Senhor primordial.
VERSO 116:
Ofereço minhas reverências aos pés de todos aqueles que ouvem ou leem este discurso. Por favor, ouvi com atenção a conclusão de todas essas afirmações.
VERSO 117:
Um estudante sincero não deve negligenciar a discussão de tais conclusões, considerando-as controvertidas, pois tais discussões fortalecem a mente. Assim, nossa mente se apega a Śrī Kṛṣṇa.
VERSO 118:
Conheço as glórias do Senhor Caitanya por meio de tais estudos conclusivos. Basta conhecermos essas glórias para nos fortalecermos e nos fixarmos em apego a Ele.
VERSO 119:
Apenas para enunciar as glórias de Śrī Caitanya Mahāprabhu, tenho tentado descrever as glórias de Śrī Kṛṣṇa detalhadamente.
VERSO 120:
A conclusão é que o Senhor Caitanya é a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, o filho do rei de Vraja.
VERSO 121:
Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.