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Capítulo Vinte e Quatro

Entoando a Canção Cantada pelo Senhor Śiva

VERSO 1:
O grande sábio Maitreya continuou: Vijitāśva, o filho mais velho de Mahārāja Pṛthu, cuja reputação era igual à de seu pai, tornou-se imperador e deu a seus irmãos mais novos diferentes partes do mundo para que governassem, visto que ele era muito afetuoso com seus irmãos.
VERSO 2:
Mahārāja Vijitāśva ofereceu a parte oriental do mundo a seu irmão Haryakṣa, a parte meridional a Dhūmrakeśa, a parte ociden­tal a Vṛka e a parte setentrional a Draviṇa.
VERSO 3:
Anteriormente, Mahārāja Vijitāśva satisfizera o rei do céu, Indra, e dele recebera o título Antardhāna. O nome de sua esposa era Śikhaṇḍinī, e dela gerou três bons filhos.
VERSO 4:
Os três filhos de Mahārāja Antardhāna chamavam-se Pāvaka, Pavamāna e Śuci. Anteriormente, essas três personalidades eram os semideuses do fogo, mas, devido à maldição do grande sábio Vasiṣṭḥa, tornaram-se os filhos de Mahārāja Antardhāna. Sendo assim, eles eram tão poderosos como os deuses do fogo, e alcançaram o destino do poder de yoga místico, situando-se outra vez como semideuses do fogo.
VERSO 5:
Mahārāja Antardhāna tinha outra esposa, chamada Nabhasvatī, com a qual teve a felicidade de gerar outro filho, chamado Havirdhāna. Como era muito liberal, Mahārāja Antardhāna não matou o semideus Indra quando esse roubou o cavalo de seu pai no sacrifício.
VERSO 6:
Sempre que Antardhāna, o supremo poder real, tinha que cobrar impostos, punir seus cidadãos ou multá-los severamente, ele não queria fazê-lo. Consequentemente, retirou-se da execução desses deveres e ocupou-se na realização de diferentes sacrifícios.
VERSO 7:
Apesar de Mahārāja Antardhāna se dedicar à realização de sacrifícios, por ser uma alma autorrealizada, ele, com grande inteligência, prestava serviço devocional ao Senhor, aquele que erradica todos os temores de Seus devotos. Adorando assim o Senhor Supremo, Mahārāja Antardhāna, arrebatado em êxtase, alcançou Seu planeta muito facilmente.
VERSO 8:
Havirdhāna, o filho de Mahārāja Antardhāna, teve uma esposa chamada Havirdhānī, que deu à luz seis filhos, chamados Barhiṣat, Gaya, Śukla, Kṛṣṇa, Satya e Jitavrata.
VERSO 9:
O grande sábio Maitreya prosseguiu: Meu querido Vidura, o poderosíssimo filho de Havirdhāna chamado Barhiṣat era muito perito em realizar várias classes de sacrifícios fruitivos, e também era hábil na prática de yoga místico. Por suas grandes qualificações, ele se tornou conhecido como Prajāpati.
VERSO 10:
Mahārāja Barhiṣat realizou muitos sacrifícios em todo o mundo. Ele espalhava grama kuśa e mantinha as pontas dessas gramas voltadas para o oriente.
VERSO 11:
Mahārāja Barhiṣat – doravante conhecido como Prācīnabarhi – recebeu ordem do semideus supremo, o senhor Brahmā, de se casar com a filha do oceano chamada Śatadruti. Ela tinha características corpóreas muito belas e era muito jovem. Estava enfeitada com roupas adequadas e, ao chegar à arena matrimonial e começar a circundá-la, o deus do fogo, Agni, sentiu-se tão atraído por ela que desejou sua companhia, exatamente como antes desejara desfrutar com Śukī.
VERSO 12:
Durante esta cerimônia de matrimônio de Śatadruti, os demônios, os habitantes de Gandharvaloka, os grandes sábios e os habitantes de Siddhaloka, dos planetas terrestres e de Nāgaloka, embora fossem altamente elevados, sentiram-se todos cativados pelo tilintar de seus sinos de tornozelo.
VERSO 13:
O rei Prācīnabarhi gerou dez filhos no ventre de Śatadruti. Todos eles eram igualmente dotados com religiosidade, e eram conhecidos como os Pracetās.
VERSO 14:
Quando todos esses Pracetās receberam a ordem de seu pai de se casarem e gerarem filhos, em vez disso, todos eles entraram no oceano e praticaram ali austeridades e penitências por dez mil anos. Assim, eles adoraram o senhor de toda a austeridade, a Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 15:
Ao deixarem o lar para praticar austeridades, os filhos de Prācīnabarhi se encontraram com o senhor Śiva, quem, com grande misericórdia, instruiu-os sobre a Verdade Absoluta. Todos os filhos de Prācīnabarhi meditaram nessas instruções, cantando e adorando-as com muito zelo e atenção.
VERSO 16:
Vidura perguntou a Maitreya: Meu querido brāhmaṇa, por que os Pracetās se encontraram com o senhor Śiva no caminho? Por favor, conta-me como ocorreu o encontro, como o senhor Śiva ficou tão satisfeito com eles e como os instruiu. É certo que essas conversas são importantes, e desejo, por favor, que tenhas misericórdia de mim e as descrevas.
VERSO 17:
O grande sábio Vidura prosseguiu: Ó melhor dos brāhmaṇas, é muito difícil para as entidades vivas encarceradas dentro deste corpo material terem contato pessoal com o senhor Śiva. Mesmo grandes sábios que não têm apegos materiais não logram encontrá-lo, apesar de estarem sempre absortos em meditação para poder ter contato pessoal com ele.
VERSO 18:
O senhor Śiva, o poderosíssimo semideus, secundário apenas ao Senhor Viṣṇu, é autossuficiente. Apesar de nada ter a desejar no mundo material, para o benefício daqueles que estão no mundo material, ele está sempre muito atarefado em toda parte e anda acompanhado por suas perigosas energias, como a deusa Kālī e a deusa Durgā.
VERSO 19:
O grande sábio Maitreya continuou: Meu querido Vidura, devido à sua natureza piedosa, todos os filhos de Prācīnabarhi levaram muito a sério, de corpo e alma, as palavras de seu pai, e, com essas palavras em sua mente, dirigiram-se para o oeste de maneira a cumprir a ordem de seu pai.
VERSO 20:
Enquanto viajavam, aconteceu de os Pracetās verem um imenso reser­vatório d’água, o qual parecia tão grande como o oceano. A água desse lago era tão calma e tranquila que se assemelhava à mente de uma grande alma, e seus habitantes, os seres aquáticos, pareciam muito pacíficos e felizes por estarem sob a proteção de semelhante reserva­tório d’água.
VERSO 21:
Naquele grande lago, havia diferentes classes de flores de lótus. Algumas eram azuladas, e outras eram vermelhas. Algumas floriam à noite, outras de dia e outras ainda, como a flor de lótus indīvara, à tardinha. Combinadas, as flores de lótus enchiam o lago tão plenamente que ele parecia ser um grande manancial dessas flores. Consequentemente, em suas margens havia cisnes e grous, cakravākas, kāraṇḍavas e outros belos pássaros aquáticos.
VERSO 22:
Havia diversas árvores e trepadeiras em toda parte do lago, e havia abelhas ensandecidas zumbindo sobre elas. As árvores pareciam muito alegres devido ao doce zumbido das abelhas, e o açafrão, contido nas flores de lótus, estava sendo difundido pelo ar. Tudo isso criava uma atmosfera que fazia parecer que acontecia um festival ali.
VERSO 23:
Os filhos do rei ficaram bastante espantados ao ouvirem vibrações de vários tambores e timbales juntamente com outros harmoniosos sons musicais agradáveis de se ouvir.
VERSOS 24-25:
Os Pracetās tiveram a boa fortuna de ver o senhor Śiva, o prin­cipal dos semideuses, emergindo da água juntamente com seus associados. O brilho de seu corpo era como o ouro derretido, seu pescoço era azulado, e ele tinha três olhos, que olhavam muito misericordiosamente para seus devotos. Vinha acompanhado por muitos músicos, que o glorificavam. Assim que os Pracetās viram o senhor Śiva, imediatamente prestaram suas reverências com grande espan­to e caíram a seus pés de lótus.
VERSO 26:
O senhor Śiva ficou muito satisfeito com os Pracetās porque geralmente o senhor Śiva é o protetor das pessoas piedosas e das pessoas de comportamento cavalheiresco. Estando muito satisfeito com os príncipes, ele começou a falar da seguinte maneira.
VERSO 27:
O senhor Śiva disse: Todos vós sois filhos do rei Prācīnabarhi. Desejo-vos, portanto, toda a boa fortuna. Sei também o que estais prestes a fazer, de modo que me tornei visível para vós simplesmente para vos mostrar minha misericórdia.
VERSO 28:
O senhor Śiva prosseguiu: Quem quer que seja rendido à Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, o controlador de tudo – da natu­reza material, bem como da entidade viva – realmente me é muito querido.
VERSO 29:
Alguém que executa seu dever ocupacional adequadamente por cem nascimentos torna-se qualificado para ocupar o posto de Brahmā, e, se ele se qualifica ainda mais, pode aproximar-se do senhor Śiva. Uma pessoa que é diretamente rendida ao Senhor Kṛṣṇa, ou Viṣṇu, em serviço devocional imaculado, é promovida de imediato aos planetas espirituais. O senhor Śiva e outros semi­deuses alcançam esses planetas após a destruição deste mundo material.
VERSO 30:
Como todos vós sois devotos do Senhor, eu posso entender que sois tão respeitáveis como a própria Suprema Personalidade de Deus. Dessa maneira, sei que os devotos também me respeitam e que lhes sou muito querido. Assim, ninguém pode ser tão querido aos devotos quanto eu.
VERSO 31:
Agora cantarei um mantra que, além de ser transcendental, puro e auspicioso, é a melhor oração para quem quer que aspire alcançar a meta última da vida. Quando eu cantar este mantra, por favor, ouvi-o cuidadosa e atentamente.
VERSO 32:
O grande sábio Maitreya prosseguiu: Por sua imotivada misericórdia, aquela elevada personalidade, o senhor Śiva, um grande devoto do Senhor Nārāyaṇa, continuou a falar aos filhos do rei, que esta­vam em pé e de mãos postas.
VERSO 33:
O senhor Śiva se dirigiu à Suprema Personalidade de Deus com a seguinte oração: Ó Suprema Personalidade de Deus, todas as glórias a Vós. Sois a mais elevada de todos os espíritos autorrealizados. Uma vez que sois sempre auspicioso para os autorrealizados, desejo que sejais auspicioso para mim. Sois adorável em virtude das instruções sumamente perfeitas que transmitis. Porque sois a Superalma, presto minhas reverências a Vós como o ser vivo supremo.
VERSO 34:
Meu Senhor, sois a origem da criação em virtude da flor de lótus que brota de Vosso umbigo. Sois o controlador supremo dos sentidos e dos objetos dos sentidos, e também sois o Vāsudeva oni­penetrante. Sois muito pacífico, e, devido a Vossa existência auto­iluminada, as seis classes de transformações não Vos perturbam.
VERSO 35:
Meu querido Senhor, Vós sois a origem dos ingredientes materiais sutis, o senhor de toda a integração, bem como o senhor de toda a desintegração, a Deidade predominante chamada Saṅka­rṣaṇa, e o senhor de toda a inteligência, conhecido como a Deidade predominante Pradyumna. Portanto, ofereço-Vos minhas respeitosas reverências.
VERSO 36:
Meu Senhor, como a suprema Deidade diretora conhecida como Aniruddha, sois o senhor dos sentidos e da mente. Portanto, ofereço-Vos repetidamente minhas reverências. Sois conhecido como Ananta e como Saṅkarṣaṇa devido à Vossa capacidade de destruir toda a criação com o fogo abrasador de Vossa boca.
VERSO 37:
Meu Senhor, ó Aniruddha, sois a autoridade através da qual se abrem as portas dos sistemas planetários superiores e as portas da liberação. Estais sempre dentro do coração puro da entidade viva. Portanto, presto-Vos minhas reverências. Vós possuis um sêmen que é como o ouro, e assim, sob a forma do fogo, auxiliais os sacrifícios védicos, que começam com cātur-hotra. Portanto, presto­-Vos minhas reverências.
VERSO 38:
Meu Senhor, sois o provedor dos Pitṛlokas, bem como de todos os semideuses. Sois a deidade predominante da Lua e o mestre de todos os três Vedas. Presto-Vos minhas respeitosas reverências, porque sois a fonte original de satisfação para todas as entidades vivas.
VERSO 39:
Meu querido Senhor, sois a gigantesca forma universal que con­tém todos os corpos individuais das entidades vivas. Sois o man­tenedor dos três mundos, de modo que mantendes a mente, os sentidos, o corpo e o ar vital dentro deles. Portanto, presto-Vos minhas respeitosas reverências.
VERSO 40:
Meu querido Senhor, expandindo Vossas vibrações transcendentais, revelais o verdadeiro significado de tudo. Sois o céu onipene­trante, interna e externamente, e sois a meta última das atividades piedosas executadas tanto neste mundo material quanto fora dele. Portanto, presto-Vos repetidamente minhas respeitosas reverências.
VERSO 41:
Meu querido Senhor, sois a testemunha dos resultados das atividades piedosas. Sois a inclinação, a indisposição e suas atividades resultantes. Sois a causa das condições dolorosas da vida, ocasionadas pela irreligião, e por isso sois a morte. Presto-Vos minhas respeitosas reverências.
VERSO 42:
Meu querido Senhor, sois o maior de todos os outorgadores de bênçãos, o mais velho e o supremo desfrutador entre todos os desfrutadores. Sois o mestre da filosofia metafísica de todos os mundos, visto que sois a causa suprema de todas as causas, o Senhor Kṛṣṇa. Vós sois o maior de todos os princípios religiosos, a mente suprema, e tendes um cérebro que nunca é afetado por nenhuma condição. Portanto, presto-Vos repetidamente minhas reverências.
VERSO 43:
Meu querido Senhor, sois o controlador supremo do trabalhador, das atividades dos sentidos e dos resultados das atividades dos sentidos [karma]. Portanto, sois o controlador do corpo, da mente e dos sentidos. Também sois o controlador supremo do ego­tismo, conhecido como Rudra. Sois a fonte do conhecimento e das atividades prescritas nos Vedas.
VERSO 44:
Meu querido Senhor, desejo ver-Vos exatamente sob a forma que Vossos queridos devotos adoram. Vós tendes muitas outras formas, mas desejo ver Vossa forma que é especialmente apreciada pelos devotos. Por favor, tende misericórdia de mim e mostrai-me essa forma, pois somente essa forma adorada pelos devotos pode satis­fazer perfeitamente todas as exigências dos sentidos.
VERSOS 45-46:
A beleza do Senhor parece com aquela de uma nuvem negra durante a estação das chuvas. Assim como a chuva cintila, Suas feições corpóreas também cintilam. Na verdade, Ele é o somatório de toda beleza. O Senhor tem quatro braços e um rosto extraor­dinariamente belo, com olhos semelhantes a pétalas de lótus, um belo nariz arrebitado, um sorriso que atrai todas as mentes, uma bela testa e orelhas igualmente belas e plenamente decoradas.
VERSOS 47-48 :
O Senhor é maravilhosamente belo devido a Seu sorriso aberto e miseri­cordioso e ao olhar de soslaio que lança sobre Seus devotos. Seu cabelo negro é cacheado, e Sua roupa, ondulante ao vento, parece o pólen cor-de-açafrão que voa das flores de lótus. Seus brin­cos cintilantes, elmo reluzente, braceletes, guirlanda, sinos de tornozelo, cinturão e diversos outros adornos corpóreos combinam-se com o búzio, o disco, a maça e a flor de lótus para aumentar a beleza natural da pérola Kaustubha sobre o Seu peito.
VERSO 49:
O Senhor tem ombros iguais aos de um leão. Sobre esses ombros, há guirlandas, colares e dragonas, e tudo está sempre reluzente. Além disso, há a beleza da pérola Kaustubha-maṇi, e, sobre o peito negro do Senhor, há listras chamadas Śrīvatsa, que são sinais da deusa da fortuna. O brilho cintilante dessas listras excede a beleza das listras de ouro sobre uma pedra de testar ouro. De fato, tal beleza supera a beleza da própria pedra de testar ouro.
VERSO 50:
O abdômen do Senhor é belo devido a ter três pregas. Sendo bem redondo, Seu abdômen se assemelha a uma folha de figueira-de-­bengala, e, quando Ele expira e inspira, o movimento das pregas parece belíssimo. Tal é a profundidade dos anéis dentro do umbigo do Senhor que parece que todo o universo surgiu dele e novamente deseja voltar a ele.
VERSO 51:
A parte abaixo da cintura do Senhor é negra e está coberta com roupas amarelas e um cinturão enfeitado com bordados dourados. Seus pés de lótus simétricos e as barrigas, coxas e juntas de Suas pernas são extraordinariamente belos. De fato, todo o corpo do Senhor é muito formoso.
VERSO 52:
Meu querido Senhor, Vossos dois pés de lótus são tão belos que se parecem com duas pétalas desabrochadas da flor de lótus que cresce durante o outono. Na verdade, as unhas de Vossos pés de lótus emitem uma refulgência tão grandiosa que dissipam de imediato toda a escuridão no coração de uma alma condicionada. Meu querido Senhor, por favor, mostrai-me essa Vossa forma que sempre dissipa toda espécie de escuridão no coração do devoto. Meu querido Senhor, sois o mestre espiritual supremo de todos; por­tanto, todas as almas condicionadas cobertas pela escuridão da ignorância podem ser iluminadas por Vós sob a forma do mestre espiritual.
VERSO 53:
Meu querido Senhor, aqueles que desejam purificar sua existência devem ocupar-se sempre em meditar em Vossos pés de lótus, como se descreve acima. Aqueles que levam a sério a execução de seus deveres ocupacionais e que desejam libertar-se do temor devem adotar esse processo de bhakti-yoga.
VERSO 54:
Meu querido Senhor, o rei encarregado do reino celestial também deseja obter a meta última da vida, o serviço devocional. De modo semelhante, sois o destino último daqueles que se identificam conVosco [ahaṁ brahmāsmi]. Entretanto, para eles, é muito difícil alcançar-Vos, ao passo que o devoto pode alcançar Vossa Onipo­tência com muita facilidade.
VERSO 55:
Meu querido Senhor, mesmo pessoas liberadas têm dificuldade de prestar o serviço devocional puro, mas apenas o serviço devocional pode Vos satisfazer. Quem adotará outros processos de autorrealização se for realmente sério quanto à perfeição da vida?
VERSO 56:
Com o simples franzir de Suas sobrancelhas, o tempo invencível personificado pode aniquilar de imediato todo o universo. Con­tudo, o tempo formidável não se aproxima do devoto que tenha se refugiado plenamente a Vossos pés de lótus.
VERSO 57:
Se alguém por acaso se associa com um devoto, mesmo que por uma fração de segundo, já não está mais sujeito à atração pelos resultados de karma ou jñāna. Que interesse, então, ele pode ter nas bênçãos dos semideuses, que estão sujeitos às leis de nascimento e morte?
VERSO 58:
Meu querido Senhor, Vossos pés de lótus são a causa de todas as coisas auspiciosas e os destruidores de toda a contaminação de pecado. Portanto, imploro que Vossa Onipotência me abençoe com a companhia de Vossos devotos, os quais são perfeitamente puros por adorarem Vossos pés de lótus e os quais têm tanta misericórdia das almas caídas. Creio que Vossa verdadeira bênção será permitir-me estar na companhia desses devotos.
VERSO 59:
O devoto cujo coração foi inteiramente purificado pelo pro­cesso do serviço devocional e que é favorecido por Bhaktidevī não se confunde com a energia externa, a qual é como um poço escuro. Estando, dessa maneira, inteiramente limpo de toda a contami­nação material, o devoto é capaz de entender com muita alegria Vosso nome, fama, forma, atividades etc.
VERSO 60:
Meu querido Senhor, o Brahman impessoal se espalha por toda parte, assim como a luz do Sol ou o céu. E esse Brahman impessoal, que se espalha por todo o universo e no qual se manifesta todo o universo, sois Vós.
VERSO 61:
Meu querido Senhor, tendes múltiplas energias, e essas ener­gias manifestam-se sob múltiplas formas. Com essas energias, tam­bém criais esta manifestação cósmica, e, embora a mantenhais como se fosse permanente, ela, por fim, é aniquilada por Vós. Apesar de nunca serdes perturbado por semelhantes transformações e alte­rações, as entidades vivas se perturbam e, em razão disso, julgam a manifestação cósmica diferente ou separada de Vós. Meu Senhor, sois sempre independente, e posso constatar claramente esse fato.
VERSO 62:
Meu querido Senhor, Vossa forma universal consiste em todos os cinco elementos, os sentidos, a mente, a inteligência, o falso ego (que é material) e o Paramātmā, Vossa expansão parcial, que é o diretor de tudo. Os yogīs que não são devotos – a saber, o karma­-yogī e o jñāna-yogī – adoram-Vos mediante suas respectivas ações em suas respectivas posições. Afirma-se tanto nos Vedas quanto nos śāstras que são corolários dos Vedas, e, na verdade, em toda parte, que apenas Vós deveis ser adorado. Essa é a versão perita de todos os Vedas.
VERSO 63:
Meu querido Senhor, sois a única Pessoa Suprema, a causa de todas as causas. Antes da criação deste mundo material, Vossa energia material permanece adormecida. Quando Vossa energia material é agitada, as três qualidades – a saber, bondade, paixão e ignorância – atuam, em consequência do que se manifesta a totalidade da energia material – ego, éter, ar, fogo, água, terra e todos os diversos semideuses e pessoas santas. Assim é criado o mundo material.
VERSO 64:
Meu querido Senhor, após criardes tudo mediante Vossas próprias potências, entrais na criação sob quatro espécies de formas. Estando dentro do coração das entidades vivas, Vós as conheceis e sabeis como elas estão desfrutando de seus sentidos. A dita felici­dade desta criação material é exatamente como as abelhas desfrutando do mel depois de ele ter sido armazenado na colmeia.
VERSO 65:
Meu querido Senhor, Vossa autoridade absoluta não pode ser experimentada diretamente, mas, presenciando as atividades do mundo, pode-se deduzir que tudo é destruído com o transcorrer do tempo. A força do tempo é muito poderosa, e tudo está sendo destruído por alguma outra coisa – assim como um animal está sendo comido por outro animal. O tempo espalha tudo, exatamente como o vento espalha as nuvens no céu.
VERSO 66:
Meu querido Senhor, todas as entidades vivas neste mundo material fazem planos ensandecidamente, e desejam a todo momento fazer diferentes coisas. Isso se deve à cobiça incontrolável. A avidez por gozo material sempre existe na entidade viva, mas Vossa Onipotência está sempre alerta e, em tempo oportuno, Vós a golpeais, assim como uma serpente captura um rato e o engole com muita facilidade.
VERSO 67:
Meu querido Senhor, qualquer pessoa erudita sabe que, a não ser que Vos adore, toda a sua vida será desperdiçada. Sabendo disso, como ela poderia deixar de adorar Vossos pés de lótus? Mesmo nosso pai e mestre espiritual, o senhor Brahmā, Vos adorou sem hesitação, e os quatorze Manus seguiram seus passos.
VERSO 68:
Meu querido Senhor, todas as pessoas realmente eruditas conhecem-Vos como o Brahman Supremo e a Superalma. Embora todo o universo tema o senhor Rudra, que em última análise aniquila tudo, para os devotos eruditos Vós sois o intrépido destino de todos.
VERSO 69:
Meus queridos filhos do rei, simplesmente executai vosso dever ocupacional como reis, com o coração puro. Cantai esta oração fixando vossa mente nos pés de lótus do Senhor. Isso vos trará toda a boa fortuna, pois o Senhor ficará muito satisfeito convosco.
VERSO 70:
Portanto, ó filhos do rei, a Suprema Personalidade de Deus, Hari, situa-Se no coração de todos. Ele também Se encontra dentro de vossos corações. Portanto, cantai as glórias do Senhor e sempre meditai continuamente nEle.
VERSO 71:
Meus queridos príncipes, sob a forma de uma oração, acabo de delinear o sistema de yoga do cantar do santo nome. Todos vós deveis colocar esse importante stotra em vossas mentes e prometer guardá-lo para que vos torneis grandes sábios. Agindo silenciosa­mente como grandes sábios, atentos e reverentes, deveis praticar este método.
VERSO 72:
O senhor Brahmā, o mestre de todos os criadores, foi o primeiro a nos recitar essa oração. Os criadores, liderados por Bhṛgu, instruíram-se nessas orações porque desejavam criar.
VERSO 73:
Quando o senhor Brahmā ordenou a todos os Prajāpatis que procriassem, nós cantamos essa oração em louvor à Suprema Per­sonalidade de Deus e nos livramos inteiramente de toda a ignorân­cia. Assim, fomos capazes de criar diversas classes de entidades vivas.
VERSO 74:
Um devoto do Senhor Kṛṣṇa cuja mente esteja sempre absorta nEle, que com muita atenção e reverência cante este stotra [oração], alcançará a perfeição máxima da vida, sem demora.
VERSO 75:
Neste mundo material, existem diferentes espécies de conquistas, mas, entre todas elas, a conquista do conhecimento é considerada a mais elevada porque só é possível atravessar o oceano de ignorância no barco do conhecimento. De outro modo, o oceano não pode ser transposto.
VERSO 76:
Embora seja muito difícil prestar serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus e adorá-lO, se alguém vibrar ou simplesmente ler este stotra [oração] composto e cantado por mim, conseguirá muito facilmente invocar a misericórdia da Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 77:
A Suprema Personalidade de Deus é o mais querido objetivo de todas as bênçãos auspiciosas. Um ser humano que entoe esta canção cantada por mim poderá satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Semelhante devoto, estando fixo em serviço devo­cional ao Senhor, poderá obter tudo o que quiser do Senhor Supremo.
VERSO 78:
O devoto que acorda de manhã cedo e de mãos postas entoa essa oração cantada pelo senhor Śiva e proporciona oportunidade para que outros ouçam-na certamente se livra de todo cativeiro às atividades fruitivas.
VERSO 79:
Meus queridos filhos do rei, as orações que acabo de recitar para vós destinam-se a satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, a Superalma. Aconselho-vos a recitar essas orações, que são tão eficazes quanto grandes austeridades. Dessa maneira, quando esti­verdes maduros, vossas vidas serão exitosas e, sem nenhuma dúvida, alcança­reis todos os objetivos desejados por vós, seguramente.