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CAPÍTULO SETENTA E NOVE

O Senhor Balarāma Parte em Peregrinação

Este capítulo descreve como o Senhor Baladeva satisfez os brāh­maṇas matando Balvala, banhou-Se em vários lugares sagrados de peregrinação e tentou dissuadir Bhīmasena e Duryodhana de lutar.

Na arena de sacrifício dos sábios na floresta de Naimiṣāraṇya, co­meçou a soprar um vento forte no dia da lua nova, espalhando um repulsivo cheiro de pus e cobrindo tudo de poeira. O demônio Balvala, com seu maciço corpo negro como breu e rosto muito amedron­tador, então apareceu ali carregando um tridente. Com Seu arado, o Senhor Baladeva capturou o demônio e, então, com Sua maça, desfe­riu-lhe um feroz golpe na cabeça, que o matou. Os sábios cantaram as glórias do Senhor Baladeva e ofertaram-Lhe suntuosos presentes.

O Senhor Balarāma, então, começou Sua peregrinação, durante a qual visitou muitos tīrthas sagrados. Quando teve notícia da batalha entre os Kurus e Pāṇḍavas, o Senhor foi até Kurukṣetra para tentar parar o duelo entre Bhīma e Duryodhana. Mas Ele não conseguiu dissuadi-los de lutar – tão profunda era a inimizade existente entre eles. Compreendendo que a luta era arranjo do destino, o Senhor Baladeva deixou o campo de batalha e voltou para Dvārakā.

Algum tempo depois, Balarāma retornou à floresta de Naimiṣāraṇya, onde os sábios executaram muitos sacrifícios de fogo em nome dEle. Em retribuição, o Senhor Baladeva concedeu aos sábios o conhecimento transcendental e revelou-lhes Sua identidade eterna.

Texto

śrī-śuka uvāca
tataḥ parvaṇy upāvṛtte
pracaṇḍaḥ pāṁśu-varṣaṇaḥ
bhīmo vāyur abhūd rājan
pūya-gandhas tu sarvaśaḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; tataḥ — então; parva­ṇi — o dia da lua nova; upāvṛtte — quando chegou; pracaṇḍaḥ — ter­rível; pāṁśu — poeira; varṣaṇaḥ — chovendo; bhīmaḥ — assustador; vāyuḥ — um vento; abhūt — surgiu; rājan — ó rei (Parīkṣit); pūya — de pus; gandhaḥ — o cheiro; tu — e; sarvaśaḥ — por toda parte.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Então, no dia da lua nova, ó rei, surgiu um vento terrível e assustador, espalhando poeira e um cheiro de pus por toda parte.

Texto

tato ’medhya-mayaṁ varṣaṁ
balvalena vinirmitam
abhavad yajña-śālāyāṁ
so ’nvadṛśyata śūla-dhṛk

Sinônimos

tataḥ — então; amedhya — coisas abomináveis; mayam — cheia de; varṣam — uma chuva; balvalena — por Balvala; vinirmitam — produzi­da; abhavat — ocorreu; yajña — do sacrifício; śālāyām — sobre a arena; saḥ — ele, Balvala; anvadṛśyata — apareceu depois disso; śūla — um tridente; dhṛk — carregando.

Tradução

A seguir, na arena de sacrifício, caiu uma chuva de coisas abomináveis enviada por Balvala, depois do que o próprio demônio apareceu com um tridente em mãos.

Texto

taṁ vilokya bṛhat-kāyaṁ
bhinnāñjana-cayopamam
tapta-tāmra-śikhā-śmaśruṁ
daṁṣṭrogra-bhru-kuṭī-mukham
sasmāra mūṣalaṁ rāmaḥ
para-sainya-vidāraṇam
halaṁ ca daitya-damanaṁ
te tūrṇam upatasthatuḥ

Sinônimos

tam — a ele; vilokya — vendo; bṛhat — imenso; kāyam — cujo corpo; bhinna — quebrado; añjana — de cosmético preto para o olho; caya — uma pilha; upamam — parecendo; tapta — ardente; tāmra — (da cor do) cobre; śikhā — cujo tufo de cabelo; śmaśrum — e barba; daṁṣṭrā — com seus dentes; ugra — terríveis; bhru — de sobrancelhas; kuṭi — franzi­das; mukham — cujo rosto; sasmāra — lembrou; mūṣalam — Sua maça; rāmaḥ — o Senhor Balarāma; para — rivais; sainya — exércitos; vidāra­ṇam — que destroça; halam — Seu arado; ca — e; daitya — demônios; da­manam — que subjuga; te — eles; tūrṇam — de imediato; upatasthatuḥ — apresentaram-se.

Tradução

O imenso demônio parecia um amontoado de carvão preto. Seu tufo de cabelo e barba eram como cobre derretido, e seu rosto tinha presas horríveis e sobrancelhas franzidas. Ao vê-lo, o Senhor Balarāma pensou em Sua maça, que despedaça os exérci­tos dos inimigos, e em Seu arado, que castiga os demônios. Assim invocadas, Suas duas armas logo apareceram diante dEle.

Texto

tam ākṛṣya halāgreṇa
balvalaṁ gagane-caram
mūṣalenāhanat kruddho
mūrdhni brahma-druhaṁ balaḥ

Sinônimos

tam — a ele; ākṛṣya — puxando para Si; hala — de Seu arado; agre­ṇa — com a ponta dianteira; balvalam — Balvala; gagane — no céu; caram — que se movimentava; mūṣalena — com Sua maça; ahanat — golpeou; kruddhaḥ — irado; mūrdhni — na cabeça; brahma — dos brāh­maṇas; druham — o atormentador; balaḥ — o Senhor Balarāma.

Tradução

Com a ponta de Seu arado, o Senhor Balarāma agarrou o demônio Balvala, que voava pelo céu, e, com Sua maça, golpeou iradamente a cabeça daquele molestador de brāhmaṇas.

Texto

so ’patad bhuvi nirbhinna-
lalāṭo ’sṛk samutsṛjan
muñcann ārta-svaraṁ śailo
yathā vajra-hato ’ruṇaḥ

Sinônimos

saḥ — ele, Balvala; apatat — caiu; bhuvi — no chão; nirbhinna — aberta; lalāṭaḥ — sua testa; asṛk — sangue; samutsṛjan — vertendo; muñ­can — soltando; ārta — de agonia; svaram — um som; śailaḥ — uma mon­tanha; yathā — como; vajra — por um raio; hataḥ — golpeada; aruṇaḥ — avermelhada.

Tradução

Balvala gritou em agonia e caiu ao chão, com a testa quebrada a verter sangue. Ele lembrava uma montanha vermelha atingida por um raio.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo os ācāryas, o demônio estava coberto de sangue, assim como uma montanha vermelha repleta de óxido.

Texto

saṁstutya munayo rāmaṁ
prayujyāvitathāśiṣaḥ
abhyaṣiñcan mahā-bhāgā
vṛtra-ghnaṁ vibudhā yathā

Sinônimos

saṁstutya — louvando com sinceridade; munayaḥ — os sábios; rāmam — o Senhor Balarāma; prayujya — concedendo; avitatha — infa­líveis; āśiṣaḥ — bênçãos; abhyaṣiñcan — banhavam cerimoniosamen­te; mahā-bhāgāḥ — as grandes personalidades; vṛtra — de Vṛtrāsura; ghnam — o matador (o senhor Indra); vibudhāḥ — os semideuses; yathā — como.

Tradução

Os sublimes sábios honraram o Senhor Rāma com sinceras orações e concederam-Lhe bênçãos infalíveis. Em seguida, reali­zaram Seu banho ritualístico, assim como os semideuses formal­mente banharam Indra quando este matou Vṛtra.

Texto

vaijayantīṁ dadur mālāṁ
śrī-dhāmāmlāna-paṅkajāṁ
rāmāya vāsasī divye
divyāny ābharaṇāni ca

Sinônimos

vaijayantīm — chamada Vaijayantī; daduḥ — deram; mālām — a guir­landa de flores; śrī — da deusa da fortuna; dhāma — a morada; amlā­na — que não murcham; paṅkajām — feita de flores de lótus; rāmāya — ao Senhor Balarāma; vāsasī — um par de roupas (superior e inferior); divye — divinas; divyāni — divinas; ābharaṇāni — joias; ca — e.

Tradução

Eles deram ao Senhor Balarāma uma guirlanda Vaijayantī de flores de lótus que não murcham, na qual residia a deusa da fortuna, e também Lhe deram um conjunto de roupas e joias divinas.

Texto

atha tair abhyanujñātaḥ
kauśikīm etya brāhmaṇaiḥ
snātvā sarovaram agād
yataḥ sarayūr āsravat

Sinônimos

atha — então; taiḥ — por eles; abhyanujñātaḥ — recebendo permissão; kauśikīm — ao rio Kauśikī; etya — indo; brāhmaṇaiḥ — com brāhma­ṇas; snātvā — banhando-Se; sarovaram — ao lago; agāt — foi; yataḥ — do qual; sarayūḥ — o rio Sarayū; āsravat — nasce.

Tradução

Então, recebendo permissão dos sábios, o Senhor foi com um grupo de brāhmaṇas ao rio Kauśikī, onde Se banhou. Dali, foi para o lago de onde flui o rio Sarayū.

Texto

anu-srotena sarayūṁ
prayāgam upagamya saḥ
snātvā santarpya devādīn
jagāma pulahāśramam

Sinônimos

anu — seguindo; srotena — sua corrente; sarayūm — ao longo do Sarayū; prayāgam — a Prayāga; upagamya — chegando; saḥ — Ele; snātvā — banhando-Se; santarpya — agradando; deva-ādīn — aos semideuses etc.; jagāma — foi; pulaha-āśramam — ao eremitério de Pulaha Ṛṣi.

Tradução

O Senhor seguiu o curso do Sarayū até chegar a Prayāga, onde Se banhou e executou rituais para agradar os semideuses e outros seres vivos. Em seguida, foi para o āśrama de Pulaha Ṛṣi.

Comentário

SIGNIFICADO—Pulahāśrama também é conhecido como Hari-kṣetra.

Texto

gomatīṁ gaṇḍakīṁ snātvā
vipāśāṁ śoṇa āplutaḥ
gayāṁ gatvā pitṝn iṣṭvā
gaṅgā-sāgara-saṅgame
upaspṛśya mahendrādrau
rāmaṁ dṛṣṭvābhivādya ca
sapta-godāvarīṁ veṇāṁ
pampāṁ bhīmarathīṁ tataḥ
skandaṁ dṛṣṭvā yayau rāmaḥ
śrī-śailaṁ giriśālayam
draviḍeṣu mahā-puṇyaṁ
dṛṣṭvādriṁ veṅkaṭaṁ prabhuḥ
kāma-koṣṇīṁ purīṁ kāñcīṁ
kāverīṁ ca sarid-varām
śrī-rangākhyaṁ mahā-puṇyaṁ
yatra sannihito hariḥ
ṛṣabhādriṁ hareḥ kṣetraṁ
dakṣiṇāṁ mathurāṁ tathā
sāmudraṁ setum agamat
mahā-pātaka-nāśanam

Sinônimos

gomatīm — no rio Gomatī; gaṇḍakīm — o rio Gaṇḍakī; snātvā — ba­nhando-Se; vipāśām — no rio Vipāśā; śoṇe — no rio Śoṇa; āplutaḥ — tendo imergido; gayām — a Gayā; gatvā — indo; pitṝn — Seus antepassados; iṣṭvā — adorando; gaṅgā — do Ganges; sāgara — e o oceano; saṅgame — na confluência; upaspṛśya — tocando a água (banhando-Se); mahā-indra-adrau — no monte Mahendra; rāmam — o Senhor Paraśurāma; dṛṣṭvā — vendo; abhivādya — honrando; ca — e; sapta-­godāvarīm — (indo) para a convergência dos sete Godāvarīs; veṇām — o rio Veṇā; pampām — o rio Pampā; bhīmarathīm — e o rio Bhīmarathī; tataḥ — então; skandam — o senhor Skanda (Kārttikeya); dṛṣṭvā — vendo; yayau — foi; rāmaḥ — o Senhor Balarāma; śrī-śailam — a Śrī-śaila; giri-śa — do senhor Śiva; ālayam — a residência; draviḍeṣu — nas províncias meridionais; mahā — muito; puṇyam — piedosas; dṛṣṭvā — vendo; adrim — a colina; veṅkaṭam — conhecida como Veṅkaṭa (a mo­rada do Senhor Bālajī); prabhuḥ — o Senhor Supremo; kāma-koṣṇīm — a Kāmakoṣṇī; purīm kāñcīm — a Kāñcīpuram; kāverīm — ao Kāverī; ca — e; sarit — dos rios; varām — o melhor; śrī-raṅga-ākhyam — conhecido como Śrī-raṅga; mahā-puṇyam — lugar piedosíssimo; yatra — onde; sannihitaḥ — manifestou-Se; hariḥ — o Senhor Kṛṣṇa (na forma de Raṅganātha); ṛṣabha-adrim — o monte Ṛṣabha; hareḥ — do Senhor Viṣṇu; kṣetram — o lugar; dakṣiṇām mathurām — Mathurā meridional (Madurai, a morada da deusa Mīnākṣī); tathā — também; sāmudram — no oceano; setum — à ponte (Setubandha); agamat — foi; mahā — os maiores; pātaka — pecados; nāśanam — que destrói.

Tradução

O Senhor Balarāma banhou-Se nos rios Gomatī, Gaṇḍakī e Vipāśā, e também mergulhou no Śoṇa. Foi a Gayā, onde adorou Seus antepassados, e à foz do Ganges, onde executou abluções purificatórias. No monte Mahendra, viu o Senhor Paraśurāma e ofereceu-Lhe orações, após o que Se banhou nos sete braços do rio Godāvarī, e também nos rios Veṇā, Pampā e Bhīmarathī. Então, o Senhor Balarāma encontrou-Se com o Senhor Skanda e visitou Śrī-śaila, a morada do Senhor Giriśa. Nas províncias meridionais conhecidas como Draviḍa-deśa, o Senhor Supremo viu a colina sa­grada de nome Veṅkaṭa, bem como as cidades de Kāmakoṣṇī e Kāñcī, o excelso rio Kāverī e o santíssimo Śrī-raṅga, onde o Senhor Kṛṣṇa Se manifestou. Dali, foi para o monte Ṛṣabha, onde o Senhor Kṛṣṇa também mora, e para a Mathurā meridional. Então, foi até Setubandha, onde se destroem os mais graves pecados.

Comentário

SIGNIFICADO—Em geral, as pessoas vão a Gayā para adorar os antepassados mor­tos. Contudo, como explica Śrīla Viśvanātha Cakravartī, embora o pai e o avô do Senhor Balarāma ainda estivessem vivos, foi por ordem de Seu pai que Ele adorou com muito zelo Seus antepassados em Gayā. Extraindo insights do Vaiṣṇava-toṣaṇī, o ācārya explica ainda que, embora estivesse muito próximo de Jagannātha Purī, o Senhor Balarāma não foi até lá, pois queria evitar o embaraço de ter de ado­rar a Si mesmo entre as formas de Śrī Kṛṣṇa, Balabhadra e Subhadrā.

Texto

tatrāyutam adād dhenūr
brāhmaṇebhyo halāyudhaḥ
kṛtamālāṁ tāmraparṇīṁ
malayaṁ ca kulācalam
tatrāgastyaṁ samāsīnaṁ
namaskṛtyābhivādya ca
yojitas tena cāśīrbhir
anujñāto gato ’rṇavam
dakṣiṇaṁ tatra kanyākhyāṁ
durgāṁ devīṁ dadarśa saḥ

Sinônimos

tatra — lá (em Setubandha, também conhecida como Rāmeśvaram); ayutam — dez mil; adāt — deu; dhenūḥ — vacas; brāhmaṇebhyaḥ — aos brāhmaṇas; hala-āyudhaḥ — o Senhor Balarāma, cuja arma é o arado; kṛtamālām — ao rio Kṛtamālā; tāmraparṇīm — o rio Tāmraparṇī; malayam — Malaya; ca — e; kula-acalam — a principal cordilheira; tatra — lá; agastyam — a Agastya Ṛṣi; samāsīnam — sentado em meditação; namaskṛtya — prostrando-Se; abhivādya — glorificando; ca — e; yoji­taḥ — concedidas; tena — por ele; ca — e; āśīrbhiḥ — bênçãos; anujñātaḥ — dada permissão para partir; gataḥ — foi; arṇavam — ao oceano; dakṣiṇam — meridional; tatra — lá; kanyā-ākhyām — conhecida como Kanyā-kumārī; durgām devīm — a deusa Durgā; dadarśa — viu; saḥ — Ele.

Tradução

Ali em Setubandha [Rāmeśvaram], o Senhor Halāyudha deu aos brāhmaṇas dez mil vacas em caridade. Então, visitou os rios Kṛtamālā e Tāmraparṇī e as grandes montanhas Malayas. Na cordilheira Malaya, o Senhor Balarāma encontrou Agastya Ṛṣi sentado em meditação. Depois de prostrar-Se diante do sábio, o Senhor ofereceu-lhe orações e, então, recebeu bênçãos dele. Des­pedindo-Se de Agastya, prosseguiu até o litoral do oceano meri­dional, onde viu a deusa Durgā sob sua forma de Kanyā-kumārī.

Texto

tataḥ phālgunam āsādya
pañcāpsarasam uttamam
viṣṇuḥ sannihito yatra
snātvāsparśad gavāyutam

Sinônimos

tataḥ — então; phālgunam — a Phālguna; āsādya — chegando; pañca­-apsarasam — o lago das cinco Apsarās; uttamam — excelso; viṣṇuḥ — o Senhor Supremo, Viṣṇu; sannihitaḥ — manifestado; yatra — onde; snātvā — banhando-Se; asparśat — tocou (como parte do ritual de fazer caridade); gava — vacas; ayutam — dez mil.

Tradução

Em seguida, foi para Phālguna-tīrtha e banhou-Se no lago sa­grado Pañcāpsarā, onde o Senhor Viṣṇu Se manifestara direta­mente. Nesse lugar, distribuiu outras dez mil vacas.

Texto

tato ’bhivrajya bhagavān
keralāṁs tu trigartakān
gokarṇākhyaṁ śiva-kṣetraṁ
sānnidhyaṁ yatra dhūrjaṭeḥ
āryāṁ dvaipāyanīṁ dṛṣṭvā
śūrpārakam agād balaḥ
tāpīṁ payoṣṇīṁ nirvindhyām
upaspṛśyātha daṇḍakam
praviśya revām agamad
yatra māhiṣmatī purī
manu-tīrtham upaspṛśya
prabhāsaṁ punar āgamat

Sinônimos

tataḥ — então; abhivrajya — viajando; bhagavān — o Senhor Supre­mo; keralān — através do reino de Kerala; tu — e; trigartakān — Trigar­ta; gokarṇa-ākhyam — chamado Gokarṇa (no litoral do mar Arábico na Karnataka setentrional); śiva-kṣetram — o lugar sagrado para o senhor Śiva; sānnidhyam — manifestação; yatra — onde; dhūrjaṭeḥ — do senhor Śiva; āryām — a honrada deusa (Pārvatī, esposa do senhor Śiva); dvaipa — em uma ilha (ao largo de Gokarṇa); ayanīm — que resi­de; dṛṣṭvā — vendo; śūrpārakam — ao distrito sagrado de Śūrpāraka; agāt — foi; balaḥ — o Senhor Balarāma; tāpīm payoṣṇīm nirvindhyām — aos rios Tāpī, Payoṣṇī e Nirvindhyā; upaspṛśya — tocando a água; atha — em seguida; daṇḍakam — na floresta de Daṇḍaka; praviśya — entrando; revām — ao rio Revā; agamat — foi; yatra — onde; māhiṣmatī purī — a cidade de Māhiṣmatī; manu-tīrtham — a Manu-tīrtha; upas­pṛśya — tocando a água; prabhāsam — a Prabhāsa; punaḥ — de novo; āgamat — veio.

Tradução

O Senhor Supremo, então, viajou pelos reinos de Kerala e Tri­garta, visitando a cidade sagrada do senhor Śiva, Gokarṇa, onde o senhor Dūrjaṭi [Śiva] manifesta-se em pessoa. Depois de ter visitado também a deusa Pārvatī, que reside em uma ilha, o Senhor Balarāma foi para o distrito sagrado de Śūrpāraka e banhou-Se nos rios Tāpī, Payoṣṇī e Nirvindhyā. Em seguida, entrou na flo­resta Daṇḍaka e foi até o rio Revā, ao longo do qual se encontra a cidade de Māhiṣmatī. Então, banhou-Se em Manu-tīrtha e ter­minou voltando para Prabhāsa.

Texto

śrutvā dvijaiḥ kathyamānaṁ
kuru-pāṇḍava-saṁyuge
sarva-rājanya-nidhanaṁ
bhāraṁ mene hṛtaṁ bhuvaḥ

Sinônimos

śrutvā — ouvindo; dvijaiḥ — por brāhmaṇas; kathyamānam — sendo contada; kuru-pāṇḍava — entre os Kurus e os Pāṇḍavas; saṁyuge — na batalha; sarva — de todos; rājanya — reis; nidhanam — a aniquila­ção; bhāram — o fardo; mene — pensou; hṛtam — retirado; bhuvaḥ — da Terra.

Tradução

O Senhor ouviu de alguns brāhmaṇas como todos os reis envolvidos na batalha entre os Kurus e os Pāṇḍavas haviam sido mortos. A partir dessa informação, concluiu que a Terra agora se aliviara de seu fardo.

Texto

sa bhīma-duryodhanayor
gadābhyāṁ yudhyator mṛdhe
vārayiṣyan vinaśanaṁ
jagāma yadu-nandanaḥ

Sinônimos

saḥ — Ele, o Senhor Balarāma; bhīma-duryodhanayoḥ — Bhīma e Duryodhana; gadābhyām — com maças; yudhyatoḥ — que estavam lutando; mṛdhe — no campo de batalha; vārayiṣyan — pretendendo parar; vinaśanam — ao campo de batalha; jagāma — foi; yadu — dos Yadus; nandanaḥ — o amado filho (Senhor Balarāma).

Tradução

Querendo parar a luta de maça que estava então sendo trava­da entre Bhīma e Duryodhana no campo de batalha, o Senhor Balarāma foi para Kurukṣetra.

Texto

yudhiṣṭhiras tu taṁ dṛṣṭvā
yamau kṛṣṇārjunāv api
abhivādyābhavaṁs tuṣṇīṁ
kiṁ vivakṣur ihāgataḥ

Sinônimos

yudhiṣṭhiraḥ — o rei Yudhiṣṭhira; tu — mas; tam — a Ele, o Senhor Balarāma; dṛṣṭvā — vendo; yamau — os irmãos gêmeos, Nakula e Sahadeva; kṛṣṇa-arjunau — o Senhor Kṛṣṇa e Arjuna; api — também; abhivādya — oferecendo reverências; abhavan — estavam; tuṣṇīm — em silêncio; kim — o que; vivakṣuḥ — pretendendo dizer; iha — aqui; āga­taḥ — veio.

Tradução

Ao verem o Senhor Balarāma, Yudhiṣṭhira, o Senhor Kṛṣṇa, Arjuna e os irmãos gêmeos Nakula e Sahadeva ofereceram-Lhe reverências e ficaram em silêncio, pensando: “O que será que Ele veio nos dizer?”

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “A razão pela qual eles ficaram em si­lêncio era que o Senhor Balarāma tinha certa afeição por Duryodhana, e esse aprendera com Balarāmajī a arte de lutar com a maça. Assim, enquanto se desenrolava o combate, o rei Yudhiṣṭhira e os outros, pensando que Balarāma talvez tivesse vindo ali para dizer algo a favor de Duryodhana, ficaram em silêncio.”

Texto

gadā-pāṇī ubhau dṛṣṭvā
saṁrabdhau vijayaiṣiṇau
maṇḍalāni vicitrāṇi
carantāv idam abravīt

Sinônimos

gadā — com maças; pāṇī — em suas mãos; ubhau — a ambos, Du­ryodhana e Bhīma; dṛṣṭvā — vendo; saṁrabdhau — furiosos; vijaya — vitória; eṣiṇau — lutando pela; maṇḍalāni — círculos; vicitrāṇi — artís­ticos; carantau — movendo-se em; idam — isto; abravīt — disse.

Tradução

Ao encontrar Duryodhana e Bhīma com maças em suas mãos, cada qual disputando furiosamente pela vitória enquanto se mo­viam em círculos com muita destreza, o Senhor Balarāma disse-­lhes o seguinte.

Texto

yuvāṁ tulya-balau vīrau
he rājan he vṛkodara
ekaṁ prāṇādhikaṁ manye
utaikaṁ śikṣayādhikam

Sinônimos

yuvām — vós dois; tulya — iguais; balau — em bravura; vīrau — guerreiros; he rājan — ó rei (Duryodhana); he vṛkodara — ó Bhīma; ekam — um; prāṇa — quanto à força vital; adhikam — superior; manye — con­sidero; uta — por outro lado; ekam — um; śikṣayā — quanto ao treina­mento; adhikam — superior.

Tradução

[O Senhor Balarāma disse:] Rei Duryodhana! E Bhīma! Escutai! Vós guerreiros sois iguais em capacidade de combate. Sei que um de vós tem maior força física, enquanto o outro possui melhor treinamento em técnica.

Comentário

SIGNIFICADO—Bhīma era mais forte fisicamente, mas Duryodhana era superior quanto à técnica.

Texto

tasmād ekatarasyeha
yuvayoḥ sama-vīryayoḥ
na lakṣyate jayo ’nyo vā
viramatv aphalo raṇaḥ

Sinônimos

tasmāt — portanto; ekatarasya — de nenhum dos dois; iha — aqui; yuvayoḥ — de vós; sama — igual; vīryayoḥ — cuja bravura; na lakṣya­te — não pode ser vista; jayaḥ — vitória; anyaḥ — o oposto (derrota); — ou; viramatu — deve parar; aphalaḥ — infrutífera; raṇaḥ — a ba­talha.

Tradução

Uma vez que sois adversários tão equiparados em poder de com­bate, não vejo como um de vós possa ganhar ou perder este duelo. Portanto, por favor, descontinuai essa luta inútil.

Texto

na tad-vākyaṁ jagṛhatur
baddha-vairau nṛpārthavat
anusmarantāv anyonyaṁ
duruktaṁ duṣkṛtāni ca

Sinônimos

na — não; tat — Suas; vākyam — palavras; jagṛhatuḥ — eles dois aceitaram; baddha — fixa; vairau — cuja inimizade; nṛpa — ó rei (Parīkṣit); artha-vat — sensatas; anusmarantau — continuando a lembrar; anyo­nyam — mutuamente; duruktam — as palavras ásperas; duṣkṛtāni — as maldades; ca — também.

Tradução

[Śukadeva Gosvāmī continuou:] Eles não atenderam ao pedido do Senhor Balarāma, ó rei, embora ele fosse lógico, pois sua ini­mizade mútua era irrevogável. Cada qual ficava lembrando os insultos e injúrias que o outro lhe infligira.

Texto

diṣṭaṁ tad anumanvāno
rāmo dvāravatīṁ yayau
ugrasenādibhiḥ prītair
jñātibhiḥ samupāgataḥ

Sinônimos

diṣṭam — o destino; tat — aquilo; anumanvānaḥ — decidindo; rāmaḥ — o Senhor Balarāma; dvāravatīm — a Dvārakā; yayau — foi; ugrasena­ādibhiḥ — chefiados por Ugrasena; prītaiḥ — satisfeitos; jñātibhiḥ — pelos Seus familiares; samupāgataḥ — saudado.

Tradução

Concluindo que a luta era um arranjo do destino, o Senhor Balarāma regressou a Dvārakā. Ali, foi saudado por Ugrasena e Seus outros parentes, que ficaram todos satisfeitos ao vê-lO.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que a palavra diṣṭam, “des­tino”, indica que foi o Senhor Kṛṣṇa quem ordenou e provocou o combate entre Bhīma e Duryodhana.

Texto

taṁ punar naimiṣaṁ prāptam
ṛṣayo ’yājayan mudā
kratv-aṅgaṁ kratubhiḥ sarvair
nivṛttākhila-vigraham

Sinônimos

tam — a Ele, o Senhor Balarāma; punaḥ — de novo; naimiṣam — a Naimiṣāraṇya; prāptam — chegado; ṛṣayaḥ — os sábios; ayājayan­ — ocupados na execução de sacrifícios védicos; mudā — com prazer; kratu — de todos os sacrifícios; aṅgam — a personificação; kratubhiḥ — com execuções ritualísticas; sarvaiḥ — todas as variedades; nivṛtta — que tinha renunciado; akhila — a toda; vigraham — guerra.

Tradução

Mais tarde, o Senhor Balarāma regressou a Naimiṣāraṇya, onde os sábios alegremente ocuparam-nO, a personificação de todo o sacrifício, na execução de várias espécies de sacrifícios védicos. O Senhor Balarāma agora havia Se afastado da guerra.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “[Quando o Senhor Balarāma] foi para o lugar sagrado de peregrinação em Naimiṣāraṇya, [...] os sábios, pes­soas santas e brāhmaṇas, todos O receberam de pé. Eles compreenderam que o Senhor Balarāma, embora fosse um kṣatriya, agora estava afastado da ocupação de guerreiro. Os brāhmaṇas e sábios, que sempre estiveram a favor da paz e da tranquilidade, ficaram sa­tisfeitíssimos com isso. Todos eles abraçaram Balarāma com grande afeição e convidaram-nO a executar várias espécies de sacrifícios naquele lugar sagrado de Naimiṣāraṇya. Na verdade, o Senhor Balarāma não precisava realizar os sacrifícios recomendados para seres humanos comuns; Ele é a Suprema Personalidade de Deus, logo Ele próprio é o desfrutador de todos esses sacrifícios. Assim sendo, Sua ação exemplar de realizar sacrifícios foi só para dar uma lição ao homem comum, para mostrar como todos devem obedecer aos pre­ceitos dos Vedas.

Texto

tebhyo viśuddhaṁ vijñānaṁ
bhagavān vyatarad vibhuḥ
yenaivātmany ado viśvam
ātmānaṁ viśva-gaṁ viduḥ

Sinônimos

tebhyaḥ — a eles; viśuddham — perfeitamente puro; vijñānam — o conhecimento divino; bhagavān — o Senhor Supremo; vyatarat — concedeu; vibhuḥ — o Onipotente; yena — mediante o qual; eva — de fato; ātmani — dentro dEle mesmo, o Senhor Supremo; adaḥ — este; viśvam — universo; ātmānam — Ele mesmo; viśva-gam — difundindo-Se pelo universo; viduḥ — puderam perceber.

Tradução

O onipotente Senhor Balarāma concedeu aos sábios o conheci­mento espiritual puro, mediante o qual eles puderam ver o universo inteiro dentro dEle e também vê-lO presente em tudo.

Texto

sva-patyāvabhṛtha-snāto
jñāti-bandhu-suhṛd-vṛtaḥ
reje sva-jyotsnayevenduḥ
su-vāsāḥ suṣṭhv alaṅkṛtaḥ

Sinônimos

sva — juntamente com Sua; patyā — esposa; avabhṛtha — no ritual avabhṛta, que marca o fim da iniciação sacrificial; snātaḥ — tendo-Se banhado; jñāti — por Seus parentes mais próximos; bandhu — e outros familiares; suhṛt — e amigos; vṛtaḥ — rodeado; reje — parecia esplên­dido; sva-jyotsnayā — com seus raios; iva — como; induḥ — a Lua; su — ­bem; vāsāḥ — vestido; suṣṭhu — com primor; alaṅkṛtaḥ — adornado.

Tradução

Depois de executar as oblações avabhṛtha juntamente com Sua espo­sa, o Senhor Balarāma, belamente vestido e adornado, e rodeado por Seus parentes mais próximos e outros familiares e amigos, parecia tão esplêndido quanto a Lua rodeada por seus raios re­fulgentes.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda descreve com muita beleza esta cena: “O Senhor Balarāma, então, tomou o banho avabhṛtha, que consagra o final de uma execução de sacrifício. Depois de banhar-Se, vestiu-Se com roupas novas de seda e enfeitou-Se com belas joias. Entre Seus pa­rentes e amigos, Ele parecia uma brilhante lua cheia entre as estrelas do céu.”

Texto

īdṛg-vidhāny asaṅkhyāni
balasya bala-śālinaḥ
anantasyāprameyasya
māyā-martyasya santi hi

Sinônimos

īdṛk-vidhāni — dessa espécie; asaṅkhyāni — incontáveis; balasya­ — do Senhor Balarāma; bala-śālinaḥ — poderoso; anantasya — ilimitado; aprameyasya — incomensurável; māyā — devido a Sua energia ilusó­ria; martyasya — que parece como se fosse um mortal; santi — exis­tem; hi — de fato.

Tradução

Inúmeros outros passatempos como estes foram realizados pelo poderoso Balarāma, o ilimitado e incomensurável Senhor Supre­mo, cujo místico poder yogamāyā faz com que Ele pareça um ser humano.

Texto

yo ’nusmareta rāmasya
karmāṇy adbhuta-karmaṇaḥ
sāyaṁ prātar anantasya
viṣṇoḥ sa dayito bhavet

Sinônimos

yaḥ — quem quer que; anusmareta — lembre-se regularmente; rāma­sya — do Senhor Balarāma; karmāṇi — as atividades; adbhuta — sur­preendentes; karmaṇaḥ — todas as suas atividades; sāyam — à tardi­nha; prātaḥ — ao amanhecer; anantasya — que é ilimitado; viṣṇoḥ — ao Senhor Supremo, Viṣṇu; saḥ — ele; dayitaḥ — querido; bhavet — torna-se.

Tradução

Todas as atividades do ilimitado Senhor Balarāma são surpreendentes. Quem quer que se lembre delas regularmente ao amanhecer e à tardinha se tornará muito querido à Suprema Personalidade de Deus, Śrī Viṣṇu.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “O Senhor Balarāma é o Viṣṇu ori­ginal; portanto, qualquer um que se lembre destes passatempos do Senhor Balarāma de manhã e à tarde decerto se tornará um grande devoto da Suprema Personalidade de Deus, e assim sua vida será bem-sucedida sob todos os aspectos.”

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda referentes ao décimo canto, septuagésimo nono capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Senhor Balarāma Parte em Peregrinação”.