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CAPÍTULO DOIS

As Dinastias dos Filhos de Manu

Este segundo capítulo descreve as dinastias dos filhos de Manu, encabeçados por Karūṣa.

Depois que Sudyumna aceitou a ordem de vānaprastha e partiu para a floresta, Vaivasvata Manu, desejando filhos, adorou a Suprema Personalidade de Deus e, consequentemente, gerou dez filhos, tais como Mahārāja Ikṣvāku, todos os quais eram como seu pai. Um desses filhos, Pṛṣadhra, portando uma espada em sua mão, estava ocupado no dever de proteger as vacas à noite. Seguindo a ordem do seu mestre espiritual, ele assumia essa postura noite adentro. Certa vez, na escuridão da noite, um tigre abocanhou uma vaca e a levou do estábulo, e, quando soube disso, Pṛṣadhra empunhou uma espada e saiu à procura do tigre. Infelizmente, quando por fim se aproximou do tigre, não pôde distinguir entre a vaca e o tigre na escuridão, de modo que matou a vaca. Devido a isso, seu mestre espiritual o amaldiçoou a nascer em família śūdra, mas Pṛṣadhra praticou o yoga místico e, em bhakti-yoga, adorou a Suprema Persona­lidade de Deus. Então, ele entrou voluntariamente em um abrasador incêndio florestal, deixando assim o seu corpo material e voltando ao lar, voltando ao Supremo.

Desde a sua infância, Kavi, o filho caçula de Manu, era um grande devoto da Suprema Personalidade de Deus. A partir do filho de Manu chamado Karūṣa, surgiu uma seita de kṣatriyas conhecida como kārūṣas. Manu também teve um filho conhecido como Dhṛṣṭa, de quem foi produzida outra seita de kṣatriyas, que, embora tives­sem nascido de alguém que tinha as qualidades de kṣatriyas, torna­ram-se brāhmaṇas. De Nṛga, outro filho de Manu, descendem os filhos e netos conhecidos como Sumati, Bhūtajyoti e Vasu. De Vasu, nessa sequência, veio Pratīka, e deste, Oghavān. Descendendo sequen­cialmente da dinastia seminal de Nariṣyanta, outro filho de Manu, estavam Citrasena, Ṛkṣa, Mīḍhvān, Pūrṇa, Indrasena, Vītihotra, Satyaśravā, Uruśravā, Devadatta e Agniveśya. Do kṣatriya conhecido como Agniveśya, proveio a célebre dinastia brāhmaṇa conhecida como Āgniveśyāyana. Da dinastia seminal de Diṣṭa, outro filho de Manu, veio Nābhāga, e dele vieram sucessivamente Bhalandana, Vatsaprīti, Prāṁśu, Pramati, Khanitra, Cākṣuṣa, Viviṁśati, Rambha, Khanīnetra, Karandhama, Avīkṣit, Marutta, Dama, Rājyavardhana, Sudhṛti, Nara, Kevala, Dhundhumān, Vegavān, Budha e Tṛṇabindu. Dessa maneira, muitos filhos e netos nasceram nesta dinastia. De Tṛṇabindu, surgiu uma filha chamada Ilavilā, de quem nasceu Kuvera. Tṛṇabindu também teve três filhos, chamados Viśāla, Śūnyabandhu e Dhūmraketu. O filho de Viśāla foi Hemacandra, cujo filho foi Dhūmrākṣa, e o filho deste foi Saṁyama. Os filhos de Saṁyama foram Devaja e Kṛśāśva. O filho de Kṛśāśva, Somadatta, realizou um sacrifício Aśvamedha e, adorando a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, ele alcançou a suma perfeição e voltou ao lar, voltou ao Supremo.

Texto

śrī-śuka uvāca
evaṁ gate ’tha sudyumne
manur vaivasvataḥ sute
putra-kāmas tapas tepe
yamunāyāṁ śataṁ samāḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; evam — assim; gate — aceitara a ordem de vānaprastha; atha — em seguida; sudyumne — quando Sudyumna; manuḥ vaivasvataḥ — Vaivasvata Manu, conhe­cido como Śrāddhadeva; sute — seu filho; putra-kāmaḥ — desejando obter filhos; tapaḥ tepe — executou rigorosas austeridades; yamu­nāyām — às margens do Yamunā; śatam samāḥ — por cem anos.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Em seguida, quando Sudyumna tomou essa decisão de ir para a floresta e aceitar a ordem de vānaprastha, Vaivasvata Manu [Śrāddhadeva], desejando obter mais filhos, reali­zou por cem anos rigorosas austeridades às margens do Yamunā.

Texto

tato ’yajan manur devam
apatyārthaṁ hariṁ prabhum
ikṣvāku-pūrvajān putrān
lebhe sva-sadṛśān daśa

Sinônimos

tataḥ — depois; ayajat — adorou; manuḥ — Vaivasvata Manu; devam — a Suprema Personalidade de Deus; apatya-artham — com o desejo de obter filhos; harim — a Hari, a Suprema Personalidade de Deus; prabhum — o Senhor; ikṣvāku-pūrva-jān — de quem o mais velho chamava-se Ikṣvāku; putrān — filhos; lebhe — obteve; sva-sadṛśān — exata­mente como ele mesmo; daśa — dez.

Tradução

Então, impelido pelo desejo de ter filhos, o Manu conhecido como Śrāddhadeva adorou o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, o Senhor dos semideuses. Então, ele obteve dez filhos, que eram exatamente como ele mesmo. Entre todos eles, Ikṣvāku era o mais velho.

Texto

pṛṣadhras tu manoḥ putro
go-pālo guruṇā kṛtaḥ
pālayām āsa gā yatto
rātryāṁ vīrāsana-vrataḥ

Sinônimos

pṛṣadhraḥ tu — entre eles, Pṛṣadhra; manoḥ — de Manu; putraḥ — o filho; go-pālaḥ — vigiando as vacas; guruṇā — por ordem de seu mestre espiritual; kṛtaḥ — tendo sido ocupado; pālayām āsa — ele pro­tegia; gāḥ — as vacas; yattaḥ — assim ocupado; rātryām — à noite; vī­rāsana-vrataḥ — assumindo o voto de vīrāsana, ou seja, permanecer com uma espada.

Tradução

Entre esses filhos, Pṛṣadhra, seguindo a ordem de seu mestre espiritual, ocupou-se em proteger as vacas. Ele permanecia a noite toda com uma espada para proteger as vacas.

Comentário

SIGNIFICADO—Aquele que se torna vīrāsana faz o voto de permanecer a noite inteira com uma espada para proteger as vacas. Porque Pṛṣadhra assumira essa ocupação, deve-se compreender que ele não tinha dinas­tia alguma. Diante desse voto aceito por Pṛṣadhra, também é muito fácil entendermos quão essencial é proteger as vacas. Alguns filhos de kṣatriyas costumavam fazer esse voto de proteger as vacas, guar­dando-as dos animais ferozes, mesmo à noite. O que se pode dizer, então, do envio de vacas aos matadouros? Essa atividade é a mais pecaminosa na sociedade humana.

Texto

ekadā prāviśad goṣṭhaṁ
śārdūlo niśi varṣati
śayānā gāva utthāya
bhītās tā babhramur vraje

Sinônimos

ekadā — certa vez; prāviśat — entrou; goṣṭham — na área do estábulo; śārdūlaḥ — um tigre; niśi — à noite; varṣati — enquanto chovia; śayā­nāḥ — deitadas; gāvaḥ — vacas; utthāya — levantando-se; bhītāḥ — com medo; tāḥ — todas elas; babhramuḥ — espalharam-se por várias partes; vraje — no terreno que cercava o estábulo.

Tradução

Certa vez, à noite, enquanto chovia, um tigre entrou na área do estábulo. Ao verem o tigre, todas as vacas, que estavam deitadas, levantaram-se com medo e espalharam-se por várias partes do terreno.

Texto

ekāṁ jagrāha balavān
sā cukrośa bhayāturā
tasyās tu kranditaṁ śrutvā
pṛṣadhro ’nusasāra ha
khaḍgam ādāya tarasā
pralīnoḍu-gaṇe niśi
ajānann acchinod babhroḥ
śiraḥ śārdūla-śaṅkayā

Sinônimos

ekām — uma das vacas; jagrāha — agarrou; balavān — o forte tigre; — aquela vaca; cukrośa — começou a berrar; bhaya-āturā — em aflição e medo; tasyāḥ — dela; tu — mas; kranditam — o berro; śrutvā — ouvindo; pṛṣadhraḥ — Pṛṣadhra; anusasāra ha — seguiu; khaḍgam — espada; ādāya — pegando; tarasā — bem depressa; pralīna-uḍu-gaṇe — quando as estrelas estavam cobertas pelas nuvens; niśi — à noite; ajānan — sem conhecimento; acchinot — cortou; babhroḥ — da vaca; śiraḥ — a cabeça; śārdūla-śaṅkayā — confundindo-a com a cabeça do tigre.

Tradução

Quando o fortíssimo tigre abocanhou a vaca, a vaca mugiu em aflição e medo, e Pṛṣadhra, ouvindo o berro, imediatamente seguiu na direção do barulho. Ele pegou de sua espada, mas, como as estrelas estavam cobertas pelas nuvens, ele confundiu a vaca com o tigre e, por engano, degolou a vaca com muita força.

Texto

vyāghro ’pi vṛkṇa-śravaṇo
nistriṁśāgrāhatas tataḥ
niścakrāma bhṛśaṁ bhīto
raktaṁ pathi samutsṛjan

Sinônimos

vyāghraḥ — o tigre; api — também; vṛkṇa-śravaṇaḥ — sua orelha sendo cortada; nistriṁśa-agra-āhataḥ — devido ao fato de ter sido cortada pela ponta da espada; tataḥ — depois disso; niścakrāma — fugiu (daquele lugar); bhṛśam — muito; bhītaḥ — temendo; raktam — sangue; pathi — na estrada; samutsṛjan — derramando.

Tradução

Porque a orelha do tigre foi cortada pela lâmina da espada, o tigre ficou com muito medo e fugiu daquele lugar, enquanto sangra­va pela estrada.

Texto

manyamāno hataṁ vyāghraṁ
pṛṣadhraḥ para-vīra-hā
adrākṣīt sva-hatāṁ babhruṁ
vyuṣṭāyāṁ niśi duḥkhitaḥ

Sinônimos

manyamānaḥ — pensando que; hatam — fora morto; vyāghram — o tigre; pṛṣadhraḥ — o filho de Manu, Pṛṣadhra; para-vīra-hā — embo­ra possuísse toda a capacidade de punir o inimigo; adrākṣīt — viu; sva-hatām — fora morta por ele; babhrum — a vaca; vyuṣṭāyām niśi — quando a noite havia passado (de manhã); duḥkhitaḥ — ficou muito infeliz.

Tradução

De manhã, quando Pṛṣadhra, que possuía toda a capacidade de subjugar o inimigo, viu que havia matado a vaca – embora, à noite, tivesse pensado que matara o tigre –, ele ficou muito infeliz.

Texto

taṁ śaśāpa kulācāryaḥ
kṛtāgasam akāmataḥ
na kṣatra-bandhuḥ śūdras tvaṁ
karmaṇā bhavitāmunā

Sinônimos

tam — a ele (Pṛṣadhra); śaśāpa — amaldiçoou; kula-ācāryaḥ — o sacerdote da família, Vasiṣṭha; kṛta-āgasam — por cometer o grande pecado de matar uma vaca; akāmataḥ — embora ele não quisesse fazê-lo; na — não; kṣatra-bandhuḥ — o membro familiar de um kṣatriya; śūdraḥ tvam — tu te comportaste como śūdra; karmaṇā — portanto, através da reação à tua atividade fruitiva; bhavitā — te tornarás um śūdra; amunā — porque mataste uma vaca.

Tradução

Embora Pṛṣadhra tivesse cometido o pecado sem intenção, Vasiṣṭha, o sacerdote de sua família, amaldiçoou-o dizendo: “Em tua próxima vida, não conseguirás tornar-te um kṣatriya, senão que nascerás como um śūdra por teres matado uma vaca.”

Comentário

SIGNIFICADO—Parece que Vasiṣṭha não estava livre de tamo-guṇa, o modo da ignorância. Como sacerdote ou mestre espiritual da família de Pṛṣadhra, Vasiṣṭha não deveria ter considerado com seriedade a ofensa de Pṛṣadhra. Em vez disso, porém, Vasiṣṭha amaldiçoou-o a tornar-se um śūdra. É dever do sacerdote da família não amaldiçoar seus discípulos; cabe­-lhe procurar aliviá-los através da realização de alguma espécie de expiação. Vasiṣṭha, entretanto, fez exatamente o oposto. Portanto, Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura diz que ele era durmati, em outras palavras, sua inteligência não era muito boa.

Texto

evaṁ śaptas tu guruṇā
pratyagṛhṇāt kṛtāñjaliḥ
adhārayad vrataṁ vīra
ūrdhva-retā muni-priyam

Sinônimos

evam — dessa maneira; śaptaḥ — tendo sido amaldiçoado; tu — mas; guruṇā — pelo seu mestre espiritual; pratyagṛhṇāt — ele (Pṛṣadhra) aceitou; kṛta-añjaliḥ — de mãos postas; adhārayat — adotou, assumiu; vratam — o voto de brahmacarya; vīraḥ — aquele herói; ūrdhva-retāḥ — tendo controlado os sentidos; muni-priyam — que é aprovado pelos grandes sábios.

Tradução

Ao receber esta maldição rogada por seu mestre espiritual, o herói Pṛṣadhra aceitou-a de mãos postas. Então, tendo controlado os seus sentidos, ele assumiu o voto de brahmacarya, que é aprovado por todos os grandes sábios.

Texto

vāsudeve bhagavati
sarvātmani pare ’male
ekāntitvaṁ gato bhaktyā
sarva-bhūta-suhṛt samaḥ
vimukta-saṅgaḥ śāntātmā
saṁyatākṣo ’parigrahaḥ
yad-ṛcchayopapannena
kalpayan vṛttim ātmanaḥ
ātmany ātmānam ādhāya
jñāna-tṛptaḥ samāhitaḥ
vicacāra mahīm etāṁ
jaḍāndha-badhirākṛtiḥ

Sinônimos

vāsudeve — à Suprema Personalidade de Deus; bhagavati — ao Senhor; sarva-ātmani — à Superalma; pare — à Transcendência; amale — à Pessoa Suprema, que não tem contaminação material; ekāntitvam — prestando serviço devocional sem desvios; gataḥ — estando situado nessa posição; bhaktyā — devido à devoção pura; sarva-bhūta-suḥrt samaḥ — por ser um devoto, amistoso e igual com todos; vimukta­-saṅgaḥ — sem contaminação material; śānta-ātmā — uma atitude pací­fica; saṁyata — autocontrolado; akṣaḥ — cuja visão; aparigrahaḥ — sem aceitar nenhuma caridade de outrem; yat-ṛcchayā — por graça do Senhor; upapannena — através de tudo o que lhe estava disponível para as necessidades corpóreas; kalpayan — dessa maneira provendo; vṛttim — as necessidades do corpo; ātmanaḥ — para o benefício da alma; ātmani — mentalmente; ātmānam — a Alma Suprema, a Perso­nalidade de Deus; ādhāya — mantendo sempre; jñāna-tṛptaḥ — plena­mente satisfeito em conhecimento transcendental; samāhitaḥ — sempre em transe; vicacāra — viajou por toda; mahīm — a Terra; etām — isto; jaḍa — mudo; andha — cego; badhira — surdo; ākṛtiḥ — parecendo.

Tradução

Em seguida, Pṛṣadhra eximiu-se de todas as responsabilidades, tornou-se de mente pacífica e desenvolveu controle sobre todos os seus sentidos. Não estando afetado por condições materiais, satisfazendo-se com o que o Senhor lhe fornecia para manter-se vivo, e sendo igual com todos, ele deu plena atenção à Suprema Personali­dade de Deus, Vāsudeva, que é a Superalma transcendental, livre da contaminação material. Assim, Pṛṣadhra, com plena satisfação do conhecimento puro, mantendo sua mente sempre fixa na Supre­ma Personalidade de Deus, alcançou o serviço devocional puro ao Senhor e começou a viajar por todo o mundo, sem se deixar influen­ciar pelas atividades materiais, como se fosse surdo, mudo e cego.

Texto

evaṁ vṛtto vanaṁ gatvā
dṛṣṭvā dāvāgnim utthitam
tenopayukta-karaṇo
brahma prāpa paraṁ muniḥ

Sinônimos

evam vṛttaḥ — estando situado nessa ordem de vida; vanam — à floresta; gatvā — após ir; dṛṣṭvā — quando viu; dāva-agnim — um incêndio na floresta; utthitam — ali existente; tena — através daquele (fogo); upayukta-karaṇaḥ — ocupando todos os sentidos do corpo através do processo de incineração; brahma — transcendência; prāpa — ele al­cançou; param — a meta última; muniḥ — como uma grandiosa pessoa santa.

Tradução

Com essa atitude, Pṛṣadhra se tornou um grande santo, e, quando entrou na floresta e viu um abrasador incêndio que a consumia, aproveitou-se dessa oportunidade para queimar seu corpo no fogo. Com isso, ele alcançou o transcendental mundo espiritual.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (4.9), o Senhor diz:

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.” Pṛṣadhra, devido ao seu karma, foi amaldiçoado a ter em seu próximo nasci­mento um corpo de śūdra, mas, como adotou uma vida santa, em especial sempre concentrando sua mente na Suprema Personali­dade de Deus, ele se tornou um devoto puro. Logo após abandonar seu corpo no fogo, ele, como resultado de sua situação devocional, alcançou o mundo espiritual, como se menciona na Bhagavad-gītā (mām eti). O serviço devocional realizado com o pensamento na Su­prema Personalidade de Deus é tão poderoso que, embora tivesse sido amaldiçoado, Pṛṣadhra evitou a terrível consequência de tornar-se  śūdra e, em vez disso, retornou ao lar, retornou ao Supremo. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (5.54):

yas tv indra-gopam athavendram aho sva-karma-
bandhānurūpa-phala-bhājanam ātanoti
karmāṇi nirdahati kintu ca bhakti-bhājāṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

Aqueles que se ocupam em serviço devocional não são afetados pelos resultados de suas atividades materiais. Por outro lado, todos, desde o menor micróbio até o rei dos céus, Indra, estão sujeitos às leis do karma. O devoto puro, estando sempre ocupado em servir ao Senhor, está isento dessas leis.

Texto

kaviḥ kanīyān viṣayeṣu niḥspṛho
visṛjya rājyaṁ saha bandhubhir vanam
niveśya citte puruṣaṁ sva-rociṣaṁ
viveśa kaiśora-vayāḥ paraṁ gataḥ

Sinônimos

kaviḥ — outro filho, conhecido como Kavi; kanīyān — que era o caçula; viṣayeṣu — aos prazeres materiais; niḥspṛha — não tendo apego; visṛjya — após abandonar; rājyam — a propriedade de seu pai, o reino; saha bandhubhiḥ — acompanhado de amigos; vanam — na floresta; niveśya — mantendo sempre; citte — no âmago do coração; puruṣam — a Pessoa Suprema; sva-rociṣam — autorrefulgente; viveśa — entrou; kai­śora-vayāḥ — um jovem ainda no início da adolescência; param ­— no mundo transcendental; gataḥ — entrou.

Tradução

Relutando em aceitar o gozo material, o filho caçula de Manu, cujo nome era Kavi, abandonou o reino antes de alcançar a plena juventude. Acompanhado de seus amigos, ele se dirigiu à floresta, sempre pensando na autorrefulgente Suprema Personalidade de Deus no âmago de seu coração. Com isso, ele alcançou a perfeição.

Texto

karūṣān mānavād āsan
kārūṣāḥ kṣatra-jātayaḥ
uttarā-patha-goptāro
brahmaṇyā dharma-vatsalāḥ

Sinônimos

karūṣāt — de Karūṣa; mānavāt — do filho de Manu; āsan — havia; kārūṣāḥ — chamados kārūṣā; kṣatra-jātayaḥ — um grupo de kṣatriyas; uttarā — setentrional; patha — da região; goptāraḥ — reis; brahmaṇyāḥ — célebres como protetores da cultura bramânica; dharma-vatsa­lāḥ — extremamente religiosos.

Tradução

De Karūṣa, outro filho de Manu, surgiu a dinastia Karūṣa, uma família de kṣatriyas. Os kṣatriyas kārūṣas eram os reis da região se­tentrional. Eles eram célebres como protetores da cultura bramânica e eram todos firmemente religiosos.

Texto

dhṛṣṭād dhārṣṭam abhūt kṣatraṁ
brahma-bhūyaṁ gataṁ kṣitau
nṛgasya vaṁśaḥ sumatir
bhūtajyotis tato vasuḥ

Sinônimos

dhṛṣṭāt — de Dhṛṣṭa, outro filho de Manu; dhārṣṭam — uma casta chamada dhārṣṭa; abhūt — foi produzida; kṣatram — pertencente ao grupo kṣatriya; brahma-bhūyam — a posição de brāhmaṇas; gatam — alcançou; kṣitau — na superfície do mundo; nṛgasya — de Nṛga, outro filho de Manu; vaṁśaḥ — a dinastia; sumatiḥ — chamada Sumati; bhūtajyotiḥ — chamado Bhūtajyoti; tataḥ — em seguida; vasuḥ — chamado Vasu.

Tradução

Do filho de Manu chamado Dhṛṣṭa, surgiu uma casta de kṣatriyas chamada dhārṣṭa, cujos membros alcançaram a posi­ção de brāhmaṇas neste mundo. Então, do filho de Manu chamado Nṛga, surgiu Sumati. De Sumati, surgiu Bhūtajyoti, e de Bhūtajyoti, veio Vasu.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqui, afirma-se que kṣatraṁ brahma-bhūyaṁ gataṁ kṣitau: Em­bora pertencessem à casta kṣatriya, os dhārṣṭas foram capazes de converter-se em brāhmaṇas. Isso claramente sustenta a seguinte afir­mação de Nārada (Śrīmad-Bhāgavatam 7.11.35):

yasya yal lakṣaṇaṁ proktaṁ
puṁso varṇābhivyañjakam
yad anyatrāpi dṛśyeta
tat tenaiva vinirdiśet

Se, em um determinado grupo, são encontradas as qualidades dos homens que compõem outro grupo, o primeiro deve ser reconhecido por suas qualidades, por suas características, e não pela casta fami­liar na qual seus membros integrantes nasceram. De modo algum é o nascimento um fator importante, pois o que toda a literatura vé­dica de fato enfatiza são as qualidades da pessoa.

Texto

vasoḥ pratīkas tat-putra
oghavān oghavat-pitā
kanyā caughavatī nāma
sudarśana uvāha tām

Sinônimos

vasoḥ — de Vasu; pratīkaḥ — chamado Pratīka; tat-putraḥ — seu filho; oghavān — chamado Oghavān; oghavat-pitā — que era o pai de Oghavān; kanyā — sua filha; ca — também; oghavatī — Oghavatī; nāma — chamada; sudarśanaḥ — Sudarśana; uvāha — desposou; tām — esta filha (Oghavatī).

Tradução

O filho de Vasu foi Pratīka, cujo filho foi Oghavān. O filho de Oghavān também se tornou conhecido como Oghavān, e sua filha foi Oghavatī, com quem Sudarśana se casou.

Texto

citraseno nariṣyantād
ṛkṣas tasya suto ’bhavat
tasya mīḍhvāṁs tataḥ pūrṇa
indrasenas tu tat-sutaḥ

Sinônimos

citrasenaḥ — alguém chamado Citrasena; nariṣyantāt — de Nariṣyanta, outro filho de Manu; ṛkṣaḥ — Ṛkṣa; tasya — de Citrasena; sutaḥ — o filho; abhavat — tornou-se; tasya — dele (Ṛkṣa); mīḍhvān — Mīḍhvān; tataḥ — dele (Mīḍhvān); pūrṇaḥ — Pūrṇa; indrasenaḥ — Indrasena; tu — mas; tat-sutaḥ — o filho dele (Pūrṇa).

Tradução

De Nariṣyanta, proveio um filho chamado Citrasena, a partir de quem se gerou um filho chamado Ṛkṣa. De Ṛkṣa, veio Mīḍhvān; de Mīḍhvān, veio Purṇa, e de Pūrṇa, Indrasena.

Texto

vītihotras tv indrasenāt
tasya satyaśravā abhūt
uruśravāḥ sutas tasya
devadattas tato ’bhavat

Sinônimos

vītihotraḥ — Vītihotra; tu — mas; indrasenāt — de Indrasena; tasya — de Vītihotra; satyaśravāḥ — conhecido pelo nome de Satyaśravā; abhūt — ­havia; uruśravāḥ — Uruśravā; sutaḥ — era o filho; tasya — dele (Satyaśravā); devadattaḥ — Devadatta; tataḥ — de Uruśravā; abhavat — havia.

Tradução

De Indrasena, surgiu Vītihotra; de Vītihotra, veio Satyaśravā; de Satyaśravā, veio o filho chamado Uruśravā, e de Uruśravā, veio Devadatta.

Texto

tato ’gniveśyo bhagavān
agniḥ svayam abhūt sutaḥ
kānīna iti vikhyāto
jātūkarṇyo mahān ṛṣiḥ

Sinônimos

tataḥ — de Devadatta; agniveśyaḥ — um filho chamado Agniveśya; bhagavān — o poderosíssimo; agniḥ — deus do fogo; svayam — pessoalmente; abhūt — tornou-se; sutaḥ — o filho; kānīnaḥ — Kānīna; iti — assim; vikhyātaḥ — era célebre; jātūkarṇyaḥ — Jātūkarṇya; mahān ṛṣiḥ — a grande pessoa santa.

Tradução

De Devadatta, veio um filho conhecido como Agniveśya, que era o próprio deus do fogo, Agni. Esse filho, um célebre santo, era famoso como Kānīna e Jātūkarṇya.

Comentário

SIGNIFICADO—Agniveśya também era conhecido como Kānīna e Jātūkarṇya.

Texto

tato brahma-kulaṁ jātam
āgniveśyāyanaṁ nṛpa
nariṣyantānvayaḥ prokto
diṣṭa-vaṁśam ataḥ śṛṇu

Sinônimos

tataḥ — de Agniveśya; brahma-kulam — uma dinastia de brāhmaṇas; jātam — foi gerada; āgniveśyāyanam — conhecida como āgniveśyāyana; nṛpa — ó rei Parīkṣit; nariṣyanta — de Nariṣyanta; anvayaḥ — descendentes; proktaḥ — foram explicados; diṣṭa-vaṁśam — a dinastia de Diṣṭa; ataḥ — a partir de agora; śṛṇu — ouve.

Tradução

Ó rei, proveio de Agniveśya uma dinastia bramânica conhecida como āgniveśyāyana. Agora que terminei a descrição dos descendentes de Nariṣyanta, descreverei os descendentes de Diṣṭa. Por favor, ouve-me.

Texto

nābhāgo diṣṭa-putro ’nyaḥ
karmaṇā vaiśyatāṁ gataḥ
bhalandanaḥ sutas tasya
vatsaprītir bhalandanāt
vatsaprīteḥ sutaḥ prāṁśus
tat-sutaṁ pramatiṁ viduḥ
khanitraḥ pramates tasmāc
cākṣuṣo ’tha viviṁśatiḥ

Sinônimos

nābhāgaḥ — chamado Nābhāga; diṣṭa-putraḥ — o filho de Diṣṭa; anyaḥ — outro; karmaṇā — por ocupação; vaiśyatām — a ordem dos vaiśyas; gataḥ — alcançou; bhalandanaḥ — chamado Bhalandana; sutaḥ — filho; tasya — dele (Nābhāga); vatsaprīti — chamado Vatsaprīti; bhalandanāt — de Bhalandana; vatsaprīteḥ — de Vatsaprīti; sutaḥ — o filho; prāṁśuḥ — chamava-se Prāṁśu; tat-sutam — o filho dele (Prāṁśu); pramatim — chamava-se Pramati; viduḥ — deve-se entender; khanitraḥ — chamado Khanitra; pramateḥ — de Pramati; tasmāt — dele (Khanitra); cākṣuṣaḥ — chamava-se Cākṣuṣa; atha — assim (de Cākṣuṣa); viviṁśatiḥ — o filho chamado Viviṁśati.

Tradução

Diṣṭa teve um filho chamado Nābhāga. Esse Nābhāga, que era di­ferente do Nābhāga descrito mais tarde, adotou o dever ocupacio­nal de vaiśya. O filho de Nābhāga era conhecido como Bhalandana; o filho de Bhalandana foi Vatsaprīti, e o filho deste foi Prāṁśu. O filho de Prāṁśu foi Pramati, o filho de Pramati foi Khanitra, o filho de Khanitra foi Cākṣuṣa, e o filho deste foi Viviṁśati.

Comentário

SIGNIFICADO—Um dos filhos de Manu tornou-se kṣatriya; outro, brāhmaṇa, e outro, vaiśya. Isso confirma a declaração de Nārada Muni, yasya yal lakṣaṇaṁ proktaṁ puṁso varṇābhivyañjakam (Śrīmad-Bhāgavatam 7.11.35). Todos devem sempre se lembrar de que os brāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas jamais devem ser tratados como membros de uma casta to­mando como base o nascimento. Um brāhmaṇa pode transformar-se em kṣatriya, e um kṣatriya em brāhmaṇa. Igualmente, um brāh­maṇa ou kṣatriya pode transformar-se em vaiśya, e um vaiśya em brāhmaṇa ou kṣatriya. Confirma isso a Bhagavad-gītā (cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ guṇa-karma-vibhāgaśaḥ). Assim, jamais alguém é brāhmaṇa, kṣatriya ou vaiśya por nascimento, senão que o é por qualifica­ção. Há uma grande necessidade de brāhmaṇas. Portanto, no movimento da consciência de Kṛṣṇa, estamo-nos esforçando para treinar brāhmaṇas que guiem a sociedade humana. Porque atualmente há uma escassez de brāhmaṇas, o cérebro da sociedade humana está de­teriorado. Porque praticamente todos são śūdras, ninguém, no mo­mento atual, pode guiar os membros da sociedade rumo ao caminho apropriado pelo qual se alcança a perfeição da vida.

Texto

viviṁśateḥ suto rambhaḥ
khanīnetro ’sya dhārmikaḥ
karandhamo mahārāja
tasyāsīd ātmajo nṛpa

Sinônimos

viviṁśateḥ — de Viviṁśati; sutaḥ — o filho; rambhaḥ — chamado Rambha; khanīnetraḥ — chamado Khanīnetra; asya — de Rambha; dhārmikaḥ — muito religioso; karandhamaḥ — chamado Karandhama; mahārāja — ó rei; tasya — dele (Khanīnetra); āsīt — era; ātmajaḥ — o filho; nṛpa — ó rei.

Tradução

O filho de Viviṁśati foi Rambha, cujo filho foi o grande e religioso rei Khanīnetra. Ó rei, o filho de Khanīnetra foi o rei Karandhama.

Texto

tasyāvīkṣit suto yasya
maruttaś cakravarty abhūt
saṁvarto ’yājayad yaṁ vai
mahā-yogy aṅgiraḥ-sutaḥ

Sinônimos

tasya — dele (Karandhama); avīkṣit — chamado Avīkṣit; sutaḥ — o filho; yasya — de quem (Avīkṣit); maruttaḥ — (o filho) chamado Marutta; cakravartī — o imperador; abhūt — tornou-se; saṁvartaḥ — Saṁvarta; ayājayat — ocupou em realizar sacrifício; yam — a quem (Marutta); vai — na verdade; mahā-yogī — o grande místico; aṅgiraḥ-­sutaḥ — o filho de Aṅgirā.

Tradução

De Karandhama, surgiu um filho chamado Avīkṣit, e de Avīkṣit, um filho chamado Marutta, que foi imperador. O grande místico Saṁvarta, o filho de Aṅgirā, ocupou Marutta na realização de um sacrifício [yajña].

Texto

maruttasya yathā yajño
na tathānyo ’sti kaścana
sarvaṁ hiraṇmayaṁ tv āsīd
yat kiñcic cāsya śobhanam

Sinônimos

maruttasya — de Marutta; yathā — como; yajñaḥ — realização de sacrifício; na — não; tathā — como aquilo; anyaḥ — algum outro; asti — havia; kaścana — nada; sarvam — tudo; hiraṇ-mayam — feito de ouro; tu — na verdade; āsīt — havia; yat kiñcit — tudo o que ele tinha; ca — e; asya — de Marutta; śobhanam — extremamente belo.

Tradução

A parafernália sacrificatória do rei Marutta era extremamente bela, pois tudo era feito de ouro. Na verdade, nenhum outro sacrifício podia comparar-se ao seu.

Texto

amādyad indraḥ somena
dakṣiṇābhir dvijātayaḥ
marutaḥ pariveṣṭāro
viśvedevāḥ sabhā-sadaḥ

Sinônimos

amādyat — embriagou-se; indraḥ — o rei dos céus, o senhor Indra; somena — ingerindo a bebida intoxicante chamada soma-rasa; dakṣiṇābhiḥ — recebendo contribuições suficientes; dvijātayaḥ — o grupo bramânico; marutaḥ — os ares; pariveṣṭāraḥ — oferecendo os gêneros alimentícios; viśvedevāḥ — semideuses universais; sabhā-sadaḥ — membros da assembleia.

Tradução

Naquele sacrifício, o rei Indra se embriagou ingerindo uma grande quantidade de soma-rasa. Os brāhmaṇas receberam fartas contribui­ções e, portanto, ficaram satisfeitos. Por ocasião daquele sacrifício, os vários semideuses que controlam os ventos ofereceram gêneros alimentícios, e os Viśvedevas participaram como membros da assem­bleia.

Comentário

SIGNIFICADO—Devido ao yajña realizado por Marutta, todos estavam satisfeitos, especialmente os brāhmaṇas e kṣatriyas. Como sacerdotes, os brāhmaṇas estão interessados em receber contribuições, e os kṣatriyas estão interessados em beber. Todos eles, portanto, estavam satisfei­tos em suas diferentes ocupações.

Texto

maruttasya damaḥ putras
tasyāsīd rājyavardhanaḥ
sudhṛtis tat-suto jajñe
saudhṛteyo naraḥ sutaḥ

Sinônimos

maruttasya — de Marutta; damaḥ — (chamava-se) Dama; putraḥ — o filho; tasya — dele (Dama); āsīt — havia; rājya-vardhanaḥ — chama­do Rājyavardhana, ou alguém que pode expandir o reino; sudhṛtiḥ — chamava-se Sudhṛti; tat-sutaḥ — o filho dele (Rājyavardhana); jajñe — nasceu; saudhṛteyaḥ — de Sudhṛti; naraḥ — chamado Nara; sutaḥ — o filho.

Tradução

O filho de Marutta foi Dama, o filho de Dama foi Rājyavardhana, o filho de Rājyavardhana foi Sudhṛti, e seu filho foi Nara.

Texto

tat-sutaḥ kevalas tasmād
dhundhumān vegavāṁs tataḥ
budhas tasyābhavad yasya
tṛṇabindur mahīpatiḥ

Sinônimos

tat-sutaḥ — o filho dele (Nara); kevalaḥ — chamava-se Kevala; tasmāt — dele (Kevala); dhundhumān — nasceu um filho chamado Dhun­dhumān; vegavān — chamado Vegavān; tataḥ — dele (Dhundhumān); budhaḥ — chamado Budha; tasya — dele (Vegavān); abhavat — havia; yasya — de quem (Budha); tṛṇabinduḥ — um filho chamado Tṛṇabindu; mahīpatiḥ — o rei.

Tradução

O filho de Nara foi Kevala, e seu filho foi Dhundhumān, cujo filho foi Vegavān. O filho de Vegavān foi Budha, e o filho de Budha foi Tṛṇabindu, que se tornou o rei desta Terra.

Texto

taṁ bheje ’lambuṣā devī
bhajanīya-guṇālayam
varāpsarā yataḥ putrāḥ
kanyā celavilābhavat

Sinônimos

tam — a ele (Tṛṇabindu); bheje — aceitou como esposo; alambu­ṣā — a garota Alambuṣā; devī — deusa; bhajanīya — digno de aceitação; guṇa-ālayam — o reservatório de todas as boas qualidades; vara-apsa­rāḥ — a melhor das Apsarās; yataḥ — de quem (Tṛṇabindu); putrāḥ — alguns filhos; kanyā — uma filha; ca — e; ilavilā — chamada Ilavilā; abhavat — nasceu.

Tradução

A melhor das Apsarās, a qualificadíssima garota chamada Alambuṣā, aceitou como seu esposo o igualmente qualificado Tṛṇabindu. Ela deu à luz alguns filhos e uma filha conhecida como Ila­vilā.

Texto

yasyām utpādayām āsa
viśravā dhanadaṁ sutam
prādāya vidyāṁ paramām
ṛṣir yogeśvaraḥ pituḥ

Sinônimos

yasyām — em quem (Ilavilā); utpādayām āsa — gerou; viśravāḥ — Viśravā; dhana-dam — Kuvera, ou aquele que fornece dinheiro; sutam — a um filho; prādāya — após receber; vidyām — conhecimento absoluto; paramām — supremo; ṛṣiḥ — a grande pessoa santa; yoga-īśvaraḥ — mestre do yoga místico; pituḥ — do seu pai.

Tradução

Depois que o grande santo Viśravā, o mestre do yoga místico, recebeu de seu pai o conhecimento absoluto, ele gerou no ventre de Ilavilā o afamadíssimo filho conhecido como Kuvera, o outorgador de dinheiro.

Texto

viśālaḥ śūnyabandhuś ca
dhūmraketuś ca tat-sutāḥ
viśālo vaṁśa-kṛd rājā
vaiśālīṁ nirmame purīm

Sinônimos

viśālaḥ — chamado Viśāla; śūnyabandhuḥ — chamado Śūnyabandhu; ca — também; dhūmraketuḥ — chamado Dhūmraketu; ca — também; tat-sutāḥ — os filhos de Tṛṇabindu; viśālaḥ — entre os três, o rei Vi­śāla; vaṁśa-kṛt — fez uma dinastia; rājā — ó rei; vaiśālīm — chamado Vai­śālī; nirmame — construiu; purīm — um palácio.

Tradução

Tṛṇabindu teve três filhos, chamados Viśāla, Śūnyabandhu e Dhūmraketu. Entre esses três, Viśāla criou uma dinastia e construiu um palácio chamado Vaiśālī.

Texto

hemacandraḥ sutas tasya
dhūmrākṣas tasya cātmajaḥ
tat-putrāt saṁyamād āsīt
kṛśāśvaḥ saha-devajaḥ

Sinônimos

hemacandraḥ — chamava-se Hemacandra; sutaḥ — o filho; tasya — dele (Viśāla); dhūmrākṣaḥ — chamava-se Dhūmrākṣa; tasya — dele (Hemacandra); ca — também; ātmajaḥ — o filho; tat-putrāt — proveniente do filho dele (Dhūmrākṣa); saṁyamāt — proveniente daquele que se chamava Saṁyama; āsīt — havia; kṛśāśvaḥ — Kṛśāśva; saha — juntamente com; devajaḥ — Devaja.

Tradução

O filho de Viśāla ficou conhecido como Hemacandra, seu filho foi Dhūmrākṣa, e o filho deste foi Saṁyama, cujos filhos foram Devaja e Kṛśāśva.

Texto

kṛśāśvāt somadatto ’bhūd
yo ’śvamedhair iḍaspatim
iṣṭvā puruṣam āpāgryāṁ
gatiṁ yogeśvarāśritām
saumadattis tu sumatis
tat-putro janamejayaḥ
ete vaiśāla-bhūpālās
tṛṇabindor yaśodharāḥ

Sinônimos

kṛśāśvāt — de Kṛśāśva; somadattaḥ — um filho chamado Somadat­ta; abhūt — houve; yaḥ — aquele que (Somadatta); aśvamedhaiḥ — pela realização de sacrifícios aśvamedha; iḍaspatim — ao Senhor Viṣṇu; iṣṭvā — após adorar; puruṣam — o Senhor Viṣṇu; āpa — alcan­çou; agryām — o melhor de todos; gatim — o destino; yogeśvara-āśri­tām — o lugar ocupado pelos grandes yogīs místicos; saumadattiḥ — o filho de Somadatta; tu — mas; sumatiḥ — um filho chamado Su­mati; tat-putraḥ — o filho dele (Sumati); janamejayaḥ — chamava-se Janamejaya; ete — todos eles; vaiśāla-bhūpālāḥ — os reis da dinastia de Vaiśāla; tṛṇabindoḥ yaśaḥ-dharāḥ — mantiveram a fama do rei Tṛṇabindu.

Tradução

O filho de Kṛśāśva foi Somadatta, que realizou sacrifícios aśvamedha e, dessa maneira, satisfez a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu. Adorando o Senhor Supremo, ele alcançou o posto mais elevado, uma residên­cia no planeta ao qual os grandes yogīs místicos são promovidos. O filho de Somadatta foi Sumati, cujo filho foi Janamejaya. Todos esses reis, que apareceram na dinastia de Viśāla, mantiveram apro­priadamente a gloriosa posição do rei Tṛṇabindu.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do nono canto, segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “As Dinastias dos Filhos de Manu”.