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Capítulo Nove

Orações de Brahmā para Obter a Energia Criadora

VERSO 1:
O senhor Brahmā disse: Ó meu Senhor, hoje, depois de muitos e muitos anos de penitência, pude finalmente Vos conhecer. Oh! Quão desventuradas são as entidades vivas corporificadas que não são capazes de conhecer Vossa personalidade! Meu Senhor, sois o único objeto que se pode conhecer porque não há nada superior a Vós. Se existe algo supostamente superior a Vós, tal coisa não é o Absoluto. Vós existis como o Supremo, manifestando a energia criadora da matéria.
VERSO 2:
A forma que vejo é eternamente livre da contaminação material e fez Seu advento para mostrar misericórdia para com os devotos como uma manifestação da potência interna. Essa encarnação é a origem de muitas outras encarnações, e eu nasci da flor de lótus que cresce do meio de Vosso umbigo.
VERSO 3:
Ó meu Senhor, não vejo uma forma que seja superior a esta Vossa forma de bem-aventurança e conhecimento eternos. Na refulgência de Vosso Brahman impessoal no céu espiritual, não há mudanças ocasionais nem deterioração da potência interna. Rendo-me a Vós porque, embora eu me orgulhe de meu corpo e de meus sentidos materiais, Vós sois a causa da manifestação cósmica e, no entanto, não sois tocado pela matéria.
VERSO 4:
Esta forma, ou qualquer forma transcendental expandida pela Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, é igualmente auspiciosa para todos os universos. Uma vez que manifestastes essa forma pessoal eterna na qual Vossos devotos meditam, eu Vos ofereço minhas respeitosas reverências. Aqueles que estão destinados a serem transferidos para o caminho do inferno negligenciam Vossa forma pessoal por especularem sobre tópicos materiais.
VERSO 5:
Ó meu Senhor, as pessoas que cheiram o aroma de Vossos pés de lótus, transportado pelo ar do som védico através dos orifícios dos ouvidos, aceitam Vosso serviço devocional. Para elas, nunca estais separado do lótus de seus corações.
VERSO 6:
Ó meu Senhor, as pessoas do mundo estão desorientadas por todas as ansiedades materiais – elas estão sempre com medo. Sempre tentam proteger a riqueza, o corpo e os amigos, estão cheias de lamentação e desejos e parafernália ilegais, e avaramente baseiam seus compromissos nas concepções perecíveis de “eu” e “meu”. Enquanto não se refugiam em Vossos seguros pés de lótus, estão cheias de tais ansiedades.
VERSO 7:
Ó meu Senhor, as pessoas que são desprovidas da execução todo-auspiciosa do cantar e ouvir sobre Vossas atividades transcendentais são desventuradas, sem dúvida alguma, e são também desprovidas de bom senso. Elas se ocupam em atividades inauspiciosas, desfrutando do gozo dos sentidos por muito pouco tempo.
VERSO 8:
Ó grande ator, meu Senhor, todas essas pobres criaturas são constantemente torturadas pela fome, pela sede, pelo frio cortante, por secreções, tais como a bile, afligidas por inverno rigoroso, verão insuportável, chuvas e muitos outros elementos perturbadores, e tomadas por fortes desejos sexuais e ira infatigável. Eu me apiedo delas e muito me aflijo por elas.
VERSO 9:
Ó meu Senhor, os sofrimentos materiais não têm existência concreta para a alma. No entanto, enquanto a alma condicionada pensa que o corpo está destinado ao gozo dos sentidos, ela não é capaz de se livrar do enredamento dos sofrimentos materiais, por estar influenciada por Vossa energia externa.
VERSO 10:
Estes não-devotos ocupam seus sentidos em trabalho muito penoso e intensivo, e sofrem de insônia à noite porque sua inteligência constantemente interrompe seu sono com várias especulações mentais. O poder sobrenatural frustra-lhes todos os numerosos planos. Mesmo grandes sábios, caso se oponham a Vossos temas transcendentais, são obrigados a girar neste mundo material.
VERSO 11:
Ó meu Senhor, Vossos devotos podem ver-Vos através dos ouvidos pelo processo fidedigno de audição, e, deste modo, seus corações se purificam, e Vós sentais dentro deles. Sois tão misericordioso com Vossos devotos que Vos manifestais sob a forma eterna e particular de transcendência mediante a qual eles sempre pensam em Vós.
VERSO 12:
Meu Senhor, não ficais muito satisfeito com a adoração dos semideuses, que fazem arranjos muito pomposos para Vossa adoração, com parafernália variada, mas que são cheios de ânsias materiais: Vós estais situado no coração de todos como a Superalma só para mostrar-lhes Vossa misericórdia sem causa, e sois o benquerente eterno, mas sois inacessível ao não-devoto.
VERSO 13:
Contudo, as atividades piedosas das pessoas, tais como a execução de rituais védicos, caridade, penitências austeras e serviço transcendental, executadas com vistas a Vos adorar e Vos satisfazer, oferecendo-Vos os resultados fruitivos, também são benéficas. Esses atos de religião nunca são em vão.
VERSO 14:
Deixe-me oferecer minhas reverências à Transcendência Suprema, que é eternamente distinta por meio de Sua potência interna. Seu aspecto impessoal indistinguível é compreendido pela inteligência para a autorrealização. Ofereço minhas reverências a Ele que, através de Seus passatempos, desfruta da criação, manutenção e dissolução da manifestação cósmica.
VERSO 15:
Refugio-me aos pés de lótus dEle cujas encarnações, qualidades e atividades são imitações misteriosas dos assuntos mundanos. Aquele que invoca Seus nomes transcendentais, mesmo que inconscientemente, no momento que deixa esta vida, é sem dúvida alguma purificado imediatamente dos pecados de muitos e muitos nascimentos, alcançando-O sem dúvidas.
VERSO 16:
Sois a raiz primordial da árvore dos sistemas planetários. Essa árvore cresce, penetrando primeiro a natureza material com três troncos – eu, Śiva e Vós, o Todo-poderoso – para a criação, manutenção e dissolução, e nós três crescemos com muitas ramificações. Por isso, ofereço minhas reverências a Vós, a árvore da manifestação cósmica.
VERSO 17:
As pessoas em geral ocupam-se em atos tolos, e não nas atividades realmente benéficas enunciadas diretamente por Vós para a orientação delas. Enquanto permanecerem com uma forte tendência a executar trabalho tolo, todos os seus planos na luta pela vida serão subvertidos. Por isso, ofereço minhas reverências a Ele que atua como o tempo eterno.
VERSO 18:
Meu Senhor, ofereço minhas respeitosas reverências a Vós que sois o tempo infatigável e o desfrutador de todos os sacrifícios. Embora eu esteja situado em uma morada que continuará a existir por uma duração de tempo de dois parārdhas, embora eu seja o líder de todos os outros planetas no universo e embora tenha me submetido a muitos e muitos anos de penitência para alcançar a autorrealização, ainda assim ofereço-Vos meus respeitos.
VERSO 19:
Ó meu Senhor, por Vossa própria vontade apareceis nas variadas espécies de entidades vivas, entre animais inferiores aos seres humanos, bem como entre os semideuses, para executar Vossos passatempos transcendentais. Não sois afetado pela contaminação material. Vindes apenas para cumprir com as obrigações de Vossos próprios princípios de religião, e por isso, ó Personalidade Suprema, ofereço-Vos minhas reverências por manifestardes essas diferentes formas.
VERSO 20:
Meu Senhor, Vós aceitais o prazer de dormir na água da devastação, onde há ondas violentas, e desfrutais do prazer na cama de serpentes, mostrando a felicidade de Vosso sono para as pessoas inteligentes. Nesse tempo, todos os planetas universais ficam estacionados dentro de Vosso abdômen.
VERSO 21:
Ó objeto de minha adoração, nasci da casa de Vosso umbigo de lótus, com o objetivo de criar o universo, por Vossa misericórdia. Todos estes planetas do universo estavam estacionados dentro de Vosso abdômen transcendental enquanto desfrutáveis do sono. Agora que Vosso sono acabou, Vossos olhos estão abertos como os lótus que desabrocham pela manhã.
VERSO 22:
Que o Senhor Supremo seja misericordioso comigo. Ele é o único amigo e alma de todas as entidades vivas do mundo, e mantém a todos, para sua felicidade última, através de Suas seis opulências transcendentais. Que Ele tenha misericórdia de mim para que eu, como antes, seja dotado de poder com a introspecção para criar, pois também sou uma das almas rendidas que são queridas ao Senhor.
VERSO 23:
O Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, é sempre o benfeitor das almas rendidas. Suas atividades sempre são desempenhadas através de Sua potência interna, Ramā, ou a deusa da fortuna. Oro apenas para que me ocupe em Seu serviço na criação do mundo material, e oro para que não seja materialmente afetado por meus trabalhos, de maneira a ser capaz de abandonar o falso prestígio de ser o criador.
VERSO 24:
As potências do Senhor são inumeráveis. Enquanto Ele está deitado na água da devastação, eu nasço como a energia universal total do umbigo lago em que brota o lótus. Agora estou ocupado em manifestar Suas diversas energias sob a forma da manifestação cósmica. Oro, portanto, para que, no transcurso de minhas atividades materiais, não me desvie da vibração dos hinos védicos.
VERSO 25:
O Senhor, que é supremo e o mais velho de todos, é ilimitadamente misericordioso. Desejo que Ele sorridentemente me conceda Sua bênção, abrindo Seus olhos de lótus. Ele pode elevar toda a criação cósmica e eliminar nossa tristeza, bondosamente dando-nos Suas instruções.
VERSO 26:
O sábio Maitreya disse: Ó Vidura, após observar a fonte de seu aparecimento, a saber, a Personalidade de Deus, Brahmā orou por Sua misericórdia tanto quanto sua mente e palavras lhe permitiram. Tendo orado desse modo, ele se calou, como se estivesse cansado por suas atividades de penitência, conhecimento e concentração mental.
VERSOS 27-28:
O Senhor viu que Brahmā estava muito ansioso acerca do planejamento e construção dos diferentes sistemas planetários e ficara deprimido ao ver a água devastadora. Ele pôde entender a intenção de Brahmā e, em razão disso, falou palavras profundas e ponderadas, eliminando toda a ilusão que havia surgido.
VERSO 29:
Então, a Suprema Personalidade de Deus disse: Ó Brahmā, ó profundidade da sabedoria védica, não fiques deprimido nem ansioso acerca da execução da criação. O que estás Me pedindo já foi concedido anteriormente.
VERSO 30:
Ó Brahmā, situa-te na prática de penitência e meditação e segue os princípios de conhecimento para receberes o Meu favor. Através dessas ações, serás capaz de entender tudo no âmago de teu coração.
VERSO 31:
Ó Brahmā, quando estiveres absorto no serviço devocional, com o transcorrer de tuas atividades criadoras, tu Me verás em ti e em todo o universo, e verás que tu mesmo, o universo e as entidades vivas estão todos em Mim.
VERSO 32:
Tu Me verás em todas as entidades vivas, bem como em todo o universo, assim como o fogo está situado na madeira. Apenas nesse estado de visão transcendental é que serás capaz de livrar-te de todos os tipos de ilusão.
VERSO 33:
Quando estiveres livre da concepção dos corpos grosseiro e sutil e quando teus sentidos estiverem livres de todas as influências dos modos da natureza material, compreenderás tua forma pura em Minha companhia. Nessa altura, estarás situado em consciência pura.
VERSO 34:
Uma vez que desejaste aumentar a população inumeravelmente e expandir tuas variedades de serviço, jamais serás privado disso, pois Minha misericórdia sem causa para contigo aumentará sempre em todos os tempos.
VERSO 35:
Tu és o ṛṣi original, e, por teres tua mente sempre fixa em Mim, apesar de que te ocuparás em gerar progênie variada, o vicioso modo da paixão jamais se apossará de ti.
VERSO 36:
Embora Eu não seja facilmente reconhecível pela alma condicionada, hoje tu tomaste conhecimento de Mim porque sabes que Minha personalidade não se constitui de nenhuma coisa material nem especificamente dos cinco elementos grosseiros e dos três elementos sutis.
VERSO 37:
Quando contemplavas se havia uma fonte para o caule do lótus de teu nascimento, chegando mesmo a entrar nesse caule, não pudeste descobrir nada. Nesse momento, porém, manifestei Minha forma no âmago de teu coração.
VERSO 38:
Ó Brahmā, as orações que cantaste louvando as glórias de Minhas atividades transcendentais, as penitências a que te submeteste para Me compreender e tua firme fé em Mim – tudo isto deve ser considerado como Minha misericórdia sem causa.
VERSO 39:
Estou muito satisfeito com a descrição que fizeste de Mim em termos de Minhas qualidades transcendentais, que parecem mundanas aos olhos das pessoas mundanas. Concedo-te todas as bênçãos por teu desejo de glorificar todos os planetas através de tuas atividades.
VERSO 40:
Qualquer ser humano que orar como Brahmā, e que deste modo Me adorar, muito em breve será abençoado com a satisfação de todos os seus desejos, pois Eu sou o Senhor de todas as bênçãos.
VERSO 41:
É opinião dos transcendentalistas experientes que a meta última de se executar todas as tradicionais boas ações, penitências, sacrifícios, caridades, atividades místicas, transes etc. é invocar a Minha satisfação.
VERSO 42:
Eu sou a Superalma de todos os indivíduos. Eu sou o diretor supremo e o mais querido. As pessoas estão erroneamente apegadas aos corpos grosseiro e sutil, mas deviam se apegar apenas a Mim.
VERSO 43:
Seguindo Minhas instruções, agora podes gerar as entidades vivas tal como elas foram geradas anteriormente, à força de tua completa sabedoria védica e do corpo que recebeste diretamente de Mim, a causa suprema de tudo.
VERSO 44 :
O sábio Maitreya disse: Após dar instruções para que Brahmā, o criador do universo, se expandisse, o Senhor primordial, a Personalidade de Deus sob Sua forma pessoal de Nārāyaṇa, desapareceu.