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ŚB 3.9.10

Texto

ahny āpṛtārta-karaṇā niśi niḥśayānā
nānā-manoratha-dhiyā kṣaṇa-bhagna-nidrāḥ
daivāhatārtha-racanā ṛṣayo ’pi deva
yuṣmat-prasaṅga-vimukhā iha saṁsaranti

Sinônimos

ahni — durante o dia; āpṛta — ocupados; ārta — ocupação penosa; karaṇāḥ — sentidos; niśi — à noite; niḥśayānāḥ — insônia; nānā — várias; manoratha — especulações mentais; dhiyā — pela inteligência; kṣaṇa — constantemente; bhagna — interrompido; nidrāḥ — sono; daiva — sobre-humano; āhata-artha — frustrados; racanāḥ — planos; ṛṣayaḥ — grandes sábios; api — também; deva — ó meu Senhor; yuṣmat de Vossa Onipotência; prasaṅga — tema; vimukhāḥ — opostos a; iha — neste (mundo material); saṁsaranti — giram.

Tradução

Estes não-devotos ocupam seus sentidos em trabalho muito penoso e intensivo, e sofrem de insônia à noite porque sua inteligência constantemente interrompe seu sono com várias especulações mentais. O poder sobrenatural frustra-lhes todos os numerosos planos. Mesmo grandes sábios, caso se oponham a Vossos temas transcendentais, são obrigados a girar neste mundo material.

Comentário

Como se descreveu no verso anterior, as pessoas que não têm gosto pelo serviço devocional ao Senhor ficam envolvidas em compromissos materiais. A maioria delas ocupa-se durante o dia em árduo esforço físico; seus sentidos estão muito intensamente ocupados em deveres incômodos nos gigantescos projetos de pesados empreendimentos industriais. Os proprietários destas fábricas estão absortos, procurando mercado para seus produtos industriais, e os operários estão ocupados na produção em massa que envolve enormes arranjos mecânicos. “Fábrica” é sinônimo de inferno. À noite, as pessoas infernalmente ocupadas tiram proveito de vinho e mulheres para satisfazer seus sentidos cansados, mas não são sequer capazes de dormir bem porque seus vários planos especulativos mentais constantemente interrompem seu sono. Por sofrerem de insônia, às vezes sentem sono de manhã por falta de descanso suficiente. Pelo arranjo do poder sobrenatural, mesmo os grandes cientistas e pensadores do mundo sofrem a frustração de seus numerosos planos e, deste modo, giram no mundo material, nascimento após nascimento. Pode ser que um cientista faça descobertas sobre a energia atômica para a rápida destruição do mundo e ganhe prêmios em reconhecimento por seu serviço (ou desserviço), mas ele também terá que se submeter às reações de seu trabalho, girando no ciclo de repetidos nascimentos e mortes sob a lei sobre-humana da natureza material. Todas essas pessoas que se opõem ao princípio do serviço devocional estão destinadas a girar neste mundo material, sem cessar.

Este verso menciona particularmente que mesmo os sábios avessos aos princípios do serviço devocional ao Senhor são condenados, também, a se submeter às condições da existência material. Não somente nesta era, mas também anteriormente, houve muitos sábios que tentaram inventar seus próprios sistemas de religião sem referência ao serviço devocional ao Senhor Supremo, mas não pode haver nenhum princípio religioso sem o serviço devocional ao Senhor. O Senhor Supremo é o líder de todas as variedades de entidades vivas, e ninguém pode ser igual ou superior a Ele. Mesmo o aspecto impessoal e o aspecto localizado onipenetrante do Senhor não podem estar em nível de igualdade com a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, não pode haver nenhuma religião ou sistema de filosofia genuína para o avanço das entidades vivas sem o princípio do serviço devocional.

Pode ser que os impersonalistas, que se dão ao incômodo de praticar penitência e austeridade para a autoliberação, se aproximem do brahmajyoti impessoal, mas, em última análise, por não estarem situados no serviço devocional, eles deslizam novamente para o mundo material para se submeterem a outro período de existência material. Isso é confirmado como se segue:

ye ’nye ’ravindākṣa vimukta-māninas
tvayy asta-bhāvād aviśuddha-buddhayaḥ
āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ
patanty adho ’nādṛta-yuṣmad-aṅghrayaḥ

“As pessoas que têm a impressão falsa de que estão liberadas, sem o serviço devocional ao Senhor, talvez alcancem a meta do brahmajyoti, mas, por causa de sua consciência impura e por não se refugiarem nos Vaikuṇṭhalokas, essas assim chamadas pessoas liberadas caem novamente na existência material.” (Śrīmad-Bhāgavatam 10.2.32)

Portanto, não se pode inventar nenhum sistema de religião sem o princípio do serviço devocional ao Senhor. Como encontramos no Sexto Canto do Śrīmad-Bhāgavatam, o iniciador dos princípios religiosos é o próprio Senhor. Na Bhagavad-gītā também, vamos encontrar que o Senhor condena todas as formas de religião à exceção daquela que envolve o processo de rendição ao Supremo. Qualquer sistema que nos conduza ao serviço devocional ao Senhor, e a nada mais, é realmente religião ou filosofia. No Sexto Canto, encontramos as seguintes declarações de Yamarāja, o controlador de todas as entidades vivas infiéis:

dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītaṁ
na vai vidur ṛṣayo nāpi devāḥ
na siddha-mukhyā asurā manuṣyāḥ
kuto nu vidyādhara-cāraṇādayaḥ
svayambhūr nāradaḥ śambhuḥ
kumāraḥ kapilo manuḥ
prahlādo janako bhīṣmo
balir vaiyāsakir vayam
dvādaśaite vijānīmo
dharmaṁ bhāgavataṁ bhaṭāḥ
guhyaṁ viśuddhaṁ durbodhaṁ
yaṁ jñātvāmṛtam aśnute

“Os princípios da religião são iniciados pela Suprema Personalidade de Deus, e ninguém mais, nem mesmo os sábios e os semideuses, pode criar qualquer um destes princípios. Uma vez que nem mesmo os grandes sábios e semideuses são autorizados a inaugurar estes princípios de religião, o que falar, então, dos outros – os assim chamados místicos, demônios, seres humanos, Vidyādharas e Cāraṇas que vivem nos planetas inferiores? Doze personalidades – Brahmā, Nārada, o senhor Śiva, Kumāra, Kapila, Manu, Prahlāda Mahārāja, Janaka Mahārāja, Bhīṣma, Bali, Śukadeva Gosvāmī e Yamarāja – são agentes do Senhor autorizados para falar e propagar os princípios da religião.” (Śrīmad-Bhāgavatam 6.3.19-21)

Os princípios da religião não são acessíveis a qualquer entidade viva comum. Eles são feitos apenas para elevar o ser humano à plataforma da moralidade. A não-violência, etc. são necessárias para as pessoas desencaminhadas porque, a menos que sejamos morais e não-violentos, não podemos entender os princípios da religião. Entender o que é religião realmente é muito difícil, mesmo para alguém situado nos princípios de moralidade e não-violência. Isso é algo muito confidencial porque, assim que nos familiarizamos com os verdadeiros princípios da religião, somos imediatamente liberados para a vida eterna de bem-aventurança e conhecimento. Portanto, alguém que não esteja situado nos princípios do serviço devocional ao Senhor não deve se fazer passar por um líder religioso para o público inocente. A Īśopaniṣad (12) proíbe enfaticamente esse disparate no seguinte mantra:

andhaṁ tamaḥ praviśanti
ye ’sambhūtim upāsate
tato bhūya iva te tamo
ya u sambhūtyāṁ ratāḥ

(Īśopaniṣad 12)

Uma pessoa ignorante dos princípios da religião e que, por isso, não faz nada em matéria de religião é muito melhor do que uma pessoa que desencaminha os outros em nome da religião, sem referência aos verdadeiros princípios religiosos do serviço devocional. Esses assim chamados líderes da religião certamente são condenados por Brahmā e outras grandes autoridades.