CAPÍTULO SESSENTA E SETE
O Senhor Balarāma Extermina o Gorila Dvivida
Este capítulo descreve como o Senhor Baladeva desfrutou a companhia das jovens de Vraja na montanha Raivataka e lá matou o macaco Dvivida.
Narakāsura, um demônio que o Senhor Kṛṣṇa matou, tinha um amigo chamado Dvivida, um macaco. Querendo vingar a morte de seu amigo, Dvivida ateou fogo nas casas dos vaqueiros, devastou a província do Senhor Kṛṣṇa chamada Ānarta e inundou as terras litorâneas batendo a água do oceano com seus poderosos braços. O patife, então, arrancou as árvores dos āśramas de grandes sábios e chegou até a urinar e defecar no fogo de sacrifício deles. Raptou homens e mulheres e os aprisionou em cavernas na montanha, as quais vedou com grandes blocos de pedras. Depois de atormentar assim toda aquela região e poluir muitas moças de famílias respeitáveis, Dvivida chegou à montanha Raivataka, onde encontrou o Senhor Baladeva a desfrutar em companhia de um grupo de mulheres atraentes. Ignorando o Senhor Baladeva, que parecia embriagado por ter bebido vāruṇī, Dvivida, bem na frente dEle, mostrou seu ânus às mulheres e ainda as insultou fazendo gestos grosseiros com suas sobrancelhas e defecando e urinando.
O comportamento ultrajante de Dvivida irritou o Senhor Baladeva, quem, em razão disso, atirou uma pedra contra o macaco. Dvivida, no entanto, conseguiu esquivar-se dela. Então, ele ridicularizou o Senhor Baladeva e puxou as roupas das mulheres. Vendo essa ousadia, o Senhor Baladeva decidiu matar Dvivida, para o que Ele empunhou Sua maça e Sua arma, o arado. Em seguida, o poderoso Dvivida armou-se com uma árvore śāla, que arrancou do chão, e golpeou a cabeça do Senhor com ela. O Senhor Baladeva, porém, permaneceu imóvel e despedaçou o tronco da árvore. Dvivida arrancou outra árvore, e outra e mais outra, até que a floresta ficou desnuda. Embora ele batesse na cabeça de Baladeva com uma árvore após outra, o Senhor apenas estraçalhava todas as árvores. Então, o tolo macaco passou a disparar um bombardeio de pedras. O Senhor Baladeva pulverizou todas as pedras. Depois disso, Dvivida atacou o Senhor e bateu com os punhos em Seu peito, enfurecendo-O. Deixando de lado Suas armas – a maça e o arado –, o Senhor Balarāma, então, desfechou um golpe na clavícula de Dvivida. Nesse momento, o macaco vomitou sangue e caiu morto.
Tendo matado Dvivida, o Senhor Baladeva partiu para Dvārakā enquanto, dos céus, semideuses e sábios lançavam chuvas de flores e ofereciam-Lhe louvores, orações e reverências.
Texto
bhuyo ’haṁ śrotum icchāmi
rāmasyādbhuta-karmaṇaḥ
anantasyāprameyasya
yad anyat kṛtavān prabhuḥ
Sinônimos
śrī-rājā — o glorioso rei (Parīkṣit); uvāca — disse; bhūyaḥ — mais; aham — eu; śrotum — ouvir; icchāmi — desejo; rāmasya — do Senhor Balarāma; adbhuta — surpreendentes; karmaṇaḥ — cujas atividades; anantasya — ilimitado; aprameyasya — imensurável; yat — que; anyat — mais; kṛtavān — fez; prabhuḥ — o Senhor.
Tradução
O glorioso rei Parīkṣit disse: Desejo continuar ouvindo sobre Śrī Balarāma, o ilimitado e imensurável Senhor Supremo, cujas atividades são todas admiráveis. O que mais Ele fez?
Texto
narakasya sakhā kaścid
dvivido nāma vānaraḥ
sugrīva-sacivaḥ so ’tha
bhrātā maindasya vīryavān
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; narakasya — do demônio Naraka; sakhā — amigo; kaścit — certo; dvividaḥ — Dvivida; nāma — de nome; vānaraḥ — um macaco; sugrīva — rei Sugrīva; sacivaḥ — cujo conselheiro; saḥ — ele; atha — também; bhrātā — o irmão; maindasya — de Mainda; vīrya-vān — poderoso.
Tradução
Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Havia um macaco chamado Dvivida que era amigo de Narakāsura. Esse poderoso Dvivida, irmão de Mainda, fora instruído pelo rei Sugrīva.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Jīva Gosvāmī assinala alguns fatos interessantes sobre o macaco Dvivida. Embora fosse um dos companheiros do Senhor Rāmacandra, Dvivida mais tarde se corrompeu devido à má associação com o demônio Naraka, como se afirma aqui: narakasya sakhā. Esta má associação se sucedeu como reação por uma ofensa que Dvivida cometera, quando, orgulhoso de sua força, desrespeitou Lakṣmaṇa, o irmão do Senhor Rāmacandra, e outros. Aqueles que adoram o Senhor Rāmacandra às vezes cantam hinos dirigidos a Mainda e Dvivida, que são deidades auxiliares do Senhor. Segundo Śrīla Jīva Gosvāmī, os Mainda e Dvivida mencionados neste verso são expansões dotadas de poder daquelas deidades, que são residentes do reino Vaikuṇṭha do Senhor Rāmacandra.
Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura concorda com a opinião de Śrīla Jīva Gosvāmī de que Dvivida foi arruinado devido à má companhia, a qual ele obteve como um castigo por ter desrespeitado Śrīmān Lakṣmaṇa. Śrīla Viśvanātha Cakravartī afirma, todavia, que os Mainda e Dvivida aqui mencionados são de fato os devotos eternamente liberados que se invocam como deidades auxiliares durante o culto ao Senhor Rāmacandra. O Senhor providenciou que ele se degradasse, diz o ācārya, para mostrar o perigo da má associação resultante de se ofender grandes personalidades. Dessa maneira, Śrīla Viśvanātha Cakravartī compara a queda de Dvivida e Mainda à de Jaya e Vijaya.
Texto
vānaro rāṣṭra-viplavam
pura-grāmākarān ghoṣān
adahad vahnim utsṛjan
Sinônimos
sakhyuḥ — de seu amigo (Naraka, que foi morto pelo Senhor Kṛṣṇa); saḥ — ele; apacitim — pagamento de sua dívida; kurvan — fazendo; vānaraḥ — o macaco; rāṣṭra — do reino; viplavam — criando grande perturbação; pura — as cidades; grāma — vilas; ākarān — e minas; ghoṣān — comunidades de vaqueiros; adahat — queimou; vahnim — fogo; utsṛjan — espalhando.
Tradução
Para vingar a morte de seu amigo [Naraka], o macaco Dvivida devastou a terra, provocando incêndios que queimaram cidades, vilas, minas e residências de vaqueiros.
Comentário
SIGNIFICADO—Kṛṣṇa acabara com Naraka, o amigo de Dvivida, e o macaco pretendia destruir o próspero reino do Senhor Kṛṣṇa como retaliação. Em Kṛṣṇa, Śrīla Prabhupāda escreve: “A primeira coisa que fez foi atear fogo em vilas, cidades, indústrias e minas, bem como nos bairros residenciais dos comerciantes que se ocupavam em produzir laticínios e proteger as vacas.”
Texto
tair deśān samacūrṇayat
ānartān sutarām eva
yatrāste mitra-hā hariḥ
Sinônimos
kvacit — certa vez; saḥ — ele, Dvivida; śailān — montanhas; utpāṭya — arrancando; taiḥ — com elas; deśān — todos os reinos; samacūrṇayat — devastou; ānartān — a província do povo de Ānarta (onde fica Dvārakā); sutarām eva — especialmente; yatra — onde; āste — está presente; mitra — de seu amigo; hā — o assassino; hariḥ — Kṛṣṇa.
Tradução
Certa vez, Dvivida arrancou várias montanhas e as utilizou para devastar todos os reinos adjacentes, sobretudo a província de Ānarta, onde vivia o assassino de seu amigo, o Senhor Hari.
Texto
dorbhyām utkṣipya taj-jalam
deśān nāgāyuta-prāṇo
velā-kūle nyamajjayat
Sinônimos
kvacit — certa vez; samudra — do oceano; madhya — no meio; sthaḥ — de pé; dorbhyām — com os braços; utkṣipya — batendo; tat — sua; jalam — água; deśān — os reinos; nāga — elefantes; ayuta — (como) dez mil; prāṇaḥ — cuja força vital; velā — da costa; kūle — na margem; nyamajjayat — fez inundar.
Tradução
Em outra ocasião, ele entrou no oceano e, com a força de dez mil elefantes, bateu a água com seus braços e, dessa maneira, inundou as regiões costeiras.
Texto
kṛtvā bhagna-vanaspatīn
adūṣayac chakṛn-mūtrair
agnīn vaitānikān khalaḥ
Sinônimos
āśramān — as comunidades espirituais; ṛṣi — de sábios; mukhyānām — elevados; kṛtvā — fazendo; bhagna — quebradas; vanaspatīn — cujas árvores; adūṣayat — contaminava; śakṛt — com fezes; mūtraiḥ — e urina; agnīn — os fogos; vaitānikān — de sacrifício; khalaḥ — o perverso.
Tradução
O perverso macaco arrancava as árvores dos eremitérios de excelsos sábios e, com suas fezes e urina, contaminava o fogo de sacrifício deles.
Texto
kṣmābhṛd-dronī-guhāsu saḥ
nikṣipya cāpyadhāc chailaiḥ
peśaṣkārīva kīṭakam
Sinônimos
puruṣān — homens; yoṣitaḥ — e mulheres; dṛptaḥ — audacioso; kṣmā-bhṛt — de uma montanha; droṇī — dentro de um vale; guhāsu — dentro de cavernas; saḥ — ele; nikṣipya — lançando; ca — e; apyadhāt — vedava; śailaiḥ — com grandes pedras; peśaṣkārī — uma vespa; iva — como; kīṭakam — um pequeno inseto.
Tradução
Assim como uma vespa aprisiona insetos menores, ele arrogantemente atirava homens e mulheres em cavernas situadas no vale de uma montanha e vedava a entrada dessas cavernas com enormes blocos de pedra.
Texto
dūṣayaṁś ca kula-striyaḥ
śrutvā su-lalitaṁ gītaṁ
giriṁ raivatakaṁ yayau
Sinônimos
evam — assim; deśān — os vários reinos; viprakurvan — perturbando; dūṣayan — contaminando; ca — e; kula — de famílias respeitáveis; striyaḥ — as mulheres; śrutvā — ouvindo; su-lalitam — muito suave; gītam — canto; girim — à montanha; raivatakam — chamada Raivataka; yayau — foi.
Tradução
Certa vez, enquanto estava assim ocupado em atormentar os reinos adjacentes e poluir mulheres de famílias respeitáveis, Dvivida ouviu um canto muito suave que vinha da montanha Raivataka. Então, para lá se dirigiu.
Texto
rāmaṁ puṣkara-mālinam
sudarśanīya-sarvāṅgaṁ
lalanā-yūtha-madhya-gam
mada-vihvala-locanam
vibhrājamānaṁ vapuṣā
prabhinnam iva vāraṇam
Sinônimos
tatra — lá; apaśyat — viu; yadu-patim — o Senhor dos Yadus; rāmam — Balarāma; puṣkara — de flores de lótus; mālinam — usando uma guirlanda; su-darśanīya — muito atraentes; sarva — todos; aṅgam — cujos membros; lalanā — de mulheres; yūtha — de um grupo; madhya-gam — no meio; gāyantam — cantando; vāruṇīm — a bebida alcoólica vāruṇī; pītvā — bebendo; mada — com embriaguez; vihvala — irrequietos; locanam — cujos olhos; vibhrājamānam — com brilho resplandecente; vapuṣā — com Seu corpo; prabhinnam — no cio; iva — como; vāraṇam — um elefante.
Tradução
Ali, ele viu Śrī Balarāma, o Senhor dos Yadus, que usava uma guirlanda de lótus e cujos membros do corpo pareciam todos muito atraentes. Ele estava cantando no meio de uma multidão de moças, e, como consumira a bebida alcoólica vāruṇī, Seus olhos giravam como se Ele estivesse embriagado. Seu corpo tinha um brilho resplandecente enquanto Ele Se comportava como um elefante no cio.
Texto
ārūḍhaḥ kampayan drumān
cakre kilakilā-śabdam
ātmānaṁ sampradarśayan
Sinônimos
duṣṭaḥ — malvado; śākhā-mṛgaḥ — o macaco (“o animal que está sempre nos galhos”); śākhām — em um galho; ārūḍhaḥ — tendo subido; kampayan — balançando; drumān — árvores; cakre — fez; kilakilā-śabdam — o som kilakilā; ātmānam — a si mesmo; sampradarśayan — mostrando.
Tradução
O perverso macaco subiu no galho de uma árvore e, então, revelou sua presença balançando as árvores e fazendo o som kilakilā.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra śākhā-mṛga indica que o macaco Dvivida, como os macacos comuns, tinha a inclinação natural de subir nas árvores. Śrīla Prabhupāda escreve: “Este gorila chamado Dvivida podia subir nas árvores e pular de um galho a outro. Às vezes, ele sacudia os galhos, criando uma espécie de som específico – kilakilā –, de modo que o Senhor Balarāma Se divergiu por completo da atmosfera agradável.”
Texto
taruṇyo jāti-cāpalāḥ
hāsya-priyā vijahasur
baladeva-parigrahāḥ
Sinônimos
tasya — dele; dhārṣṭyam — a petulância; kapeḥ — do macaco; vīkṣya — vendo; taruṇyaḥ — as mocinhas; jāti — por natureza; cāpalāḥ — não sérias; hāsya-priyāḥ — que gostam de rir; vijahasuḥ — riram alto; baladeva-parigrahāḥ — as consortes do Senhor Baladeva.
Tradução
Ao verem a petulância do macaco, as consortes do Senhor Baladeva começaram a rir. Afinal, elas não passavam de mocinhas que gostavam de brincadeiras e tinham inclinação para a tolice.
Texto
bhrū-kṣepair sammukhādibhiḥ
darśayan sva-gudaṁ tāsāṁ
rāmasya ca nirīkṣitaḥ
Sinônimos
tāḥ — a elas (as moças); helayām āsa — ridicularizou; kapiḥ — o macaco; bhrū — de suas sobrancelhas; kṣepaiḥ — com gestos grotescos; sammukha — ficando bem diante delas; ādibhiḥ — etc.; darśayan — mostrando; sva — seu; gudam — ânus; tāsām — para elas; rāmasya — enquanto o Senhor Balarāma; ca — e; nirīkṣitaḥ — observava.
Tradução
Mesmo enquanto o Senhor Balarāma observava, Dvivida insultou as moças fazendo gestos grotescos com as sobrancelhas, ficando bem diante delas e mostrando-lhes o ânus.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “O gorila era tão rude que, mesmo na presença de Balarāma, ele se colocou a mostrar às mulheres as partes íntimas de seu corpo, e às vezes ele se aproximava delas para mostrar os dentes enquanto mexia as sobrancelhas.” Śrīla Viśvanātha Cakravartī afirma que Dvivida se aproximava das mulheres e andava de um lado a outro, urinava etc.
Texto
balaḥ praharatāṁ varaḥ
sa vañcayitvā grāvāṇaṁ
madirā-kalaśaṁ kapiḥ
dhūrtas taṁ kopayan hasan
nirbhidya kalaśaṁ duṣṭo
vāsāṁsy āsphālayad balam
kadarthī-kṛtya balavān
vipracakre madoddhataḥ
Sinônimos
tam — nele, Dvivida; grāvṇā — uma rocha; prāharat — atirou; kruddhaḥ — irado; balaḥ — o Senhor Balarāma; praharatām — dos lançadores de armas; varaḥ — o melhor; saḥ — ele, Dvivida; vañcayitvā — evitando; grāvāṇam — a pedra; madirā — de bebida; kalaśam — o pote; kapiḥ — o macaco; gṛhītvā — agarrando; helayām āsa — zombou; dhūrtaḥ — o patife; tam — a Ele, o Senhor Balarāma; kopayan — enfurecendo; hasan — rindo; nirbhidya — quebrando; kalaśam — o pote; duṣṭaḥ — o perverso; vāsāṁsi — as roupas (das moças); āsphālayat — puxava; balam — o Senhor Balarāma; kadarthī-kṛtya — desrespeitando; balavān — poderoso; vipracakre — insultou; mada — por falso orgulho; uddhataḥ — enraivecido.
Tradução
Irado, o Senhor Balarāma, o melhor dos lutadores, arremessou uma rocha contra ele, mas o macaco astuto esquivou-se da pedra e agarrou o pote de bebida do Senhor. Enfurecendo o Senhor Balarāma com seu riso e zombaria, o perverso Dvivida quebrou, então, o pote e ofendeu ainda mais o Senhor puxando as roupas das moças. Dessa maneira, o poderoso macaco, envaidecido em razão do falso orgulho, continuou a insultar Śrī Balarāma.
Texto
deśāṁś ca tad-upadrutān
kruddho muṣalam ādatta
halaṁ cāri-jighāṁsayā
Sinônimos
tam — aquela; tasya — dele; avinayam — grosseria; dṛṣṭvā — vendo; deśān — os reinos; ca — e; tat — por ele; upadrutān — perturbados; kruddhaḥ — irado; muṣalam — Sua maça; ādatta — apanhou; halam — Seu arado; ca — e; ari — o inimigo; jighāṁsayā — pretendendo matar.
Tradução
O Senhor Balarāma viu o grosseiro comportamento do macaco e pensou nas perturbações que este provocara nos reinos adjacentes. Então, tendo decidido matar Seu inimigo, o Senhor, irado, empunhou Suas armas: a maça e o arado.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra avinayam significa “sem humildade”. Dvivida, destituído de toda modéstia e humildade, descaradamente realizou as mais perversas atividades. O Senhor Balarāma sabia das grandes perturbações que Dvivida causara às pessoas em geral, além da conduta vulgar que o macaco estava exibindo na própria presença do Senhor. O macaco ofensivo agora teria de morrer.
Texto
śālam udyamya pāṇinā
abhyetya tarasā tena
balaṁ mūrdhany atāḍayat
Sinônimos
dvividaḥ — Dvivida; api — também; mahā — grande; vīryaḥ — cuja potência; śālam — uma árvore śāla; udyamya — erguendo; pāṇinā — com sua mão; abhyetya — aproximando-se; tarasā — depressa; tena — com ela; balam — o Senhor Balarāma; mūrdhani — na cabeça; atāḍayat — atingiu.
Tradução
O poderoso Dvivida também se adiantou para lutar. Arrancando uma árvore śāla com uma só mão, ele se precipitou contra Balarāma e golpeou-Lhe a cabeça com o tronco da árvore.
Texto
patantam acalo yathā
pratijagrāha balavān
sunandenāhanac ca tam
Sinônimos
tam — aquele (tronco de árvore); tu — mas; saṅkarṣaṇaḥ — o Senhor Balarāma; mūrdhni — em Sua cabeça; patantam — caindo; acalaḥ — uma montanha inerte; yathā — como; pratijagrāha — agarrou; balavān — poderoso; sunandena — com Sunanda, Sua maça; ahanat — golpeou; ca — e; tam — a ele, Dvivida.
Tradução
Mas o Senhor Saṅkarṣaṇa permaneceu tão imóvel quanto uma montanha e apenas agarrou o tronco enquanto este caía sobre Sua cabeça. Então, golpeou Dvivida com Sua maça, chamada Sunanda.
Texto
vireje rakta-dhārayā
girir yathā gairikayā
prahāraṁ nānucintayan
kṛtvā niṣpatram ojasā
tenāhanat su-saṅkruddhas
taṁ balaḥ śatadhācchinat
taṁ cāpi śatadhācchinat
Sinônimos
mūṣala — pela maça; āhata — atingido; mastiṣkaḥ — seu crânio; vireje — parecia brilhante; rakta — de sangue; dhārayā — com a torrente; giriḥ — uma montanha; yathā — como; gairikayā — com óxido vermelho; prahāram — o golpe; na — não; anucintayan — levando a sério; punaḥ — de novo; anyam — outra (árvore); samutkṣipya — desarraigando; kṛtvā — fazendo; niṣpatram — sem folhas; ojasā — com força; tena — com ela; ahanat — bateu; su-saṅkruddhaḥ — totalmente irado; tam — a ela; balaḥ — o Senhor Balarāma; śatadhā — em centenas de pedaços; acchinat — partiu; tataḥ — então; anyena — com outra; ruṣā — furiosamente; jaghne — estraçalhou; tam — a ela; ca — e; api — também; śatadhā — em centenas de pedaços; acchinat — quebrou.
Tradução
Atingido no crânio pela maça do Senhor, Dvivida, com aquela torrente de sangue a ornamentar o seu corpo, parecia resplandecente, tal qual uma montanha embelezada por óxido vermelho. Sem fazer caso do ferimento, Dvivida arrancou outra árvore, despiu-a de folhas à força bruta e golpeou de novo o Senhor. Agora enfurecido, o Senhor Balarāma partiu a árvore em centenas de pedaços. Então, Dvivida agarrou mais outra árvore e furiosamente tornou a atacar o Senhor. Essa árvore o Senhor também estraçalhou em centenas de pedaços.
Texto
bhagne bhagne punaḥ punaḥ
ākṛṣya sarvato vṛkṣān
nirvṛkṣam akarod vanam
Sinônimos
evam — dessa maneira; yudhyan — (Dvivida) lutando; bhagavatā — pelo Senhor; bhagne bhagne — sendo repetidamente quebradas; punaḥ punaḥ — reiteradas vezes; ākṛṣya — arrancando; sarvataḥ — de todos os lados; vṛkṣān — árvores; nirvṛkṣam — sem árvores; akarot — fez; vanam — a floresta.
Tradução
Lutando assim com o Senhor, que repetidas vezes destruía as árvores com que era atacado, Dvivida continuou a arrancar árvores de todos os lados até que a floresta ficou destituída delas.
Texto
balasyopary amarṣitaḥ
tat sarvaṁ cūrṇayāṁ āsa
līlayā muṣalāyudhaḥ
Sinônimos
tataḥ — então; amuñcat — soltou; śilā — de pedras; varṣam — uma chuva; balasya upari — em cima do Senhor Balarāma; amarṣitaḥ — frustrado; tat — aquilo; sarvam — tudo; cūrṇayām āsa — pulverizou; līlayā — com facilidade; muṣala-āyudhaḥ — o manejador da maça.
Tradução
O irado macaco, então, lançou uma chuva de pedras sobre o Senhor Balarāma, mas o manejador da maça pulverizou todas as pedras sem dificuldade.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda escreve: “Quando não havia mais árvores disponíveis, Dvivida serviu-se das colinas e arremessou grandes blocos de pedra, tal qual um aguaceiro, contra o corpo de Balarāma. O Senhor Balarāma, com magnífico espírito esportivo, colocou-Se a esmigalhar aqueles formidáveis blocos de pedra.” Mesmo hoje em dia, existem muitos esportes em que as pessoas se divertem atirando, com um bastão ou taco, uma bola ou objeto semelhante. Essa tendência ao esporte existe originalmente na Suprema Personalidade de Deus, quem, brincando (līlayā), pulverizou os rochedos mortais que o poderoso Dvivida atirava nEle.
Texto
muṣṭī-kṛtya kapīśvaraḥ
āsādya rohiṇī-putraṁ
tābhyāṁ vakṣasy arūrujat
Sinônimos
saḥ — ele; bāhū — ambos os braços; tāla — palmeiras; saṅkāśau — tão grandes como; muṣṭī — em punhos; kṛtya — fazendo; kapi — dos macacos; īśvaraḥ — o mais poderoso; āsādya — enfrentando; rohiṇī-putram — o filho de Rohiṇī, Balarāma; tābhyām — com eles; vakṣasi — em Seu peito; arūrujat — bateu.
Tradução
Dvivida, o mais poderoso dos macacos, então cerrou os punhos de seus braços semelhantes a palmeiras, veio para diante do Senhor Balarāma e golpeou-Lhe o corpo com seus punhos.
Texto
tyaktvā muṣala-lāṅgale
jatrāv abhyardayat kruddhaḥ
so ’patad rudhiraṁ vaman
Sinônimos
yādava-indraḥ — Balarāma, o Senhor dos Yādavas; api — e; tam — a ele; dorbhyām — com Suas mãos; tyaktvā — deixando de lado; muṣala-lāṅgale — Sua maça e arado; jatrau — na clavícula; abhyardayat — martelou; kruddhaḥ — irado; saḥ — ele, Dvivida; apatat — caiu; rudhiram — sangue; vaman — vomitando.
Tradução
Em seguida, o furioso Senhor dos Yādavas deixou de lado Sua maça e arado e, com as mãos vazias, desfechou um golpe na clavícula de Dvivida. O macaco desmoronou, vomitando sangue.
Comentário
SIGNIFICADO—Em Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda escreve: “Desta vez, o Senhor Balarāma ficou iradíssimo. Visto que o gorila O golpeava com suas mãos, Ele não lhe revidaria os golpes com Suas armas: a maça ou o arado. Apenas com Seus punhos, Ele Se colocou a golpear a clavícula do gorila. Esses golpes foram fatais para Dvivida.”
Texto
sa-ṭaṅkaḥ sa-vanaspatiḥ
parvataḥ kuru-śārdūla
vāyunā naur ivāmbhasi
Sinônimos
cakampe — estremeceu; tena — por causa dele; patatā — enquanto caía; sa — junto de; ṭaṅkaḥ — seus penhascos; sa — junto de; vanaspatiḥ — suas árvores; parvataḥ — a montanha; kuru-śārdūla — ó tigre entre os Kurus (Parīkṣit Mahārāja); vāyunā — pelo vento; nauḥ — um barco; iva — como se; ambhasi — na água.
Tradução
Quando ele caiu, ó tigre entre os Kurus, a montanha Raivataka, juntamente com seus penhascos e árvores, estremeceu, assim como um barco agitado pelo vento no mar.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra ṭaṅka aqui indica não só os penhascos da montanha, mas também as fendas e outros lugares onde a água se acumulara. Todas essas áreas da montanha agitaram-se e tremeram quando caiu Dvivida.
Texto
sādhu sādhv iti cāmbare
sura-siddha-munīndrāṇām
āsīt kusuma-varṣiṇām
Sinônimos
jaya-śabdaḥ — o som de jaya (“Vitória!”); namaḥ-śabdaḥ — o som de namaḥ (“Reverências!”); sādhu sādhu iti — a exclamação “Excelente! Magnífico!”; ca — e; ambare — nos céus; sura — dos semideuses; siddha — místicos avançados; muni-indrāṇām — grandes sábios; āsīt — houve; kusuma — de flores; varṣiṇām — que lançavam chuvas.
Tradução
Nos céus, os semideuses, os místicos perfeitos e os grandes sábios gritavam: “Que a vitória esteja conVosco! Reverências a Vós! Excelente! Magnífico!”, e também lançavam chuvas de flores sobre o Senhor.
Texto
jagad-vyatikarāvaham
saṁstūyamāno bhagavān
janaiḥ sva-puram āviśat
Sinônimos
evam — assim; nihatya — tendo matado; dvividam — Dvivida; jagat — ao mundo; vyatikara — perturbação; āvaham — que trouxe; saṁstūyamānaḥ — sendo glorificado com o canto de preces; bhagavān — o Senhor Supremo; janaiḥ — pelo povo; sva — dEle; puram — na cidade (Dvārakā); āviśat — entrou.
Tradução
Tendo assim matado Dvivida, que perturbara o mundo todo, o Senhor Supremo regressou à Sua capital enquanto o povo ao longo do caminho cantava Suas glórias.
Comentário
Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda referentes ao décimo canto, sexagésimo sétimo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Senhor Balarāma Extermina o Gorila Dvivida”.