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CAPÍTULO VINTE E UM

A Dinastia de Bharata

Este vigésimo primeiro capítulo descreve a dinastia proveniente de Mahārāja Bharata, o filho de Mahārāja Duṣmanta, e também narra as glórias de Rantideva, Ajamīḍha e outros.

O filho de Bharadvāja foi Manyu, e os filhos de Manyu foram Bṛhatkṣatra, Jaya, Mahāvīrya, Nara e Garga. Desses cinco, Nara teve um filho chamado Saṅkṛti, que teve dois filhos, chamados Guru e Rantideva. Como um elevado devoto, Rantideva via que toda entidade viva estava relacionada com a Suprema Personalidade de Deus e, portanto, ocupava toda a sua mente, palavras e seu próprio eu em servir ao Senhor Supremo e a Seus devotos. Rantideva era tão grandioso que às vezes dava seu próprio alimento em caridade, e ele e sua família jejuavam. Certa vez, depois que Rantideva passou quarenta e oito dias jejuando, nem sequer tendo bebido uma gota de água, levaram-lhe um excelente alimento, feito no ghī, mas, quando ele estava prestes a comer, apareceu um visitante brāhmaṇa. Rantideva, portanto, não comeu o alimento, senão que, em vez disso, ime­diatamente ofereceu uma porção do mesmo ao brāhmaṇa. Quando o brāhmaṇa partiu e Rantideva estava prestes a comer os restos do alimento, apareceu um śūdra. Rantideva, portanto, dividiu os restos entre o śūdra e ele mesmo. Mais uma vez, quando ele estava prestes a comer os restos do alimento, apareceu outro visitante. Rantideva, portanto, deu o resto do alimento ao novo visitante e estava disposto a conten­tar-se em beber água para matar a sede, mas nem isso ele conseguiu, pois chegou um visitante sedento, e Rantideva deu-lhe a água. Tudo isso foi um arranjo da Suprema Personalidade de Deus simplesmente para glorificar Seu devoto e mostrar a tolerância com que o devoto presta serviço ao Senhor. A Suprema Personalidade de Deus, estan­do extremamente satisfeito com Rantideva, confiou-lhe um serviço muito íntimo. A Suprema Personalidade de Deus outorga ao devoto puro, não a devotos comuns, o poder especial através do qual se presta o serviço mais íntimo.

Garga, o neto de Bharadvāja, teve um filho chamado Śini, e o filho de Śini foi Gārgya. Embora Gārgya tivesse nascido kṣatriya, seus filhos tornaram-se brāhmaṇas. O filho de Mahāvīrya foi Duritakṣaya, cujos filhos foram Trayyaruṇi, Kavi e Puṣkarāruṇi. Embora nascessem de um rei kṣatriya, esses três filhos também alcançaram a posição de brāhmaṇas. O filho de Bṛhatkṣatra construiu a cidade de Hasti­nāpura e era conhecido como Hastī. Seus filhos foram Ajamīḍha, Dvimīḍha e Purumīḍha.

De Ajamīḍha, veio Priyamedha e outros brāhmaṇas e também um filho chamado Bṛhadiṣu. Os filhos, netos e outros descendentes de Bṛhadiṣu foram Bṛhaddhanu, Bṛhatkāya, Jayadratha, Viśada e Syenajit. De Syenaja, vieram quatro filhos – Rucirāśva, Dṛḍhahanu, Kāśya e Vatsa. De Rucirāśva, veio um filho chamado Pāra, cujos filhos foram Pṛthusena e Nīpa, e de Nīpa vieram cem filhos. Outro filho de Nīpa foi Brahmadatta. De Brahmadatta, veio Viṣvaksena; de Viṣvaksena, Udaksena, e de Udaksena, Bhallāṭa.

O filho de Dvimīḍha foi Yavīnara, e de Yavīnara vieram muitos filhos e netos, tais como Kṛtimān, Satyadhṛti, Dṛḍhanemi, Supārśva, Sumati, Sannatimān, Kṛtī, Nīpa, Udgrāyudha, Kṣemya, Suvīra, Ripuñjaya e Bahuratha. Purumīḍha não teve filhos, mas Ajamīḍha, além de seus outros filhos, teve um filho chamado Nīla, cujo filho foi Śānti. Os descendentes de Śānti foram Suśānti, Puruja, Arka e Bharmyāśva. Bharmyāśva teve cinco filhos, um dos quais, Mudgala, gerou uma dinastia de brāhmaṇas. Mudgala teve gêmeos – um filho, Divo­dāsa, e uma filha, Ahalyā. De Ahalyā, através de seu esposo, Gau­tama, nasceu Śatānanda. O filho de Śatānanda foi Śatyadhṛti, cujo filho foi Śaradvān. O filho de Śaradvān era conhecido como Kṛpa, e a filha de Śaradvān, conhecida como Kṛpī, tornou-se a esposa de Droṇācārya.

VERSO 1:
Śukadeva Gosvāmī disse: Porque foi salvo pelos semideuses Maruts, Bharadvāja ficou conhecido como Vitatha. O filho de Vitatha foi Manyu, e de Manyu vieram cinco filhos – Bṛhatkṣatra, Jaya, Mahāvīrya, Nara e Garga. Desses cinco, aquele conhecido como Nara teve um filho chamado Saṅkṛti.
VERSO 2:
Ó Mahārāja Parīkṣit, descendente de Pāṇḍu, Saṅkṛti teve dois filhos, chamados Guru e Rantideva. Rantideva é famoso neste e no outro mundo, pois é glorificado não apenas na sociedade humana, mas também na sociedade dos semideuses.
VERSOS 3-5:
Rantideva jamais se esforçou por ganhar nada. Ele desfrutava apenas daquilo que obtinha através do arranjo da providência, mas, quando vinham visitantes, ele costumava dar-lhes tudo. Assim, juntamente com os membros de sua família, ele se submeteu a um considerável sofrimento. Na verdade, ele e seus membros familiares tremiam devido ao fato de que comiam e bebiam muito pouco, mas Rantideva sempre permanecia sóbrio. Certa vez, após jejuar por quarenta e oito dias, Rantideva recebeu de manhã um pouco de água e de alimen­tos feitos com leite e ghī, mas, quando ele e sua família estavam prestes a comer, chegou um visitante brāhmaṇa.
VERSO 6:
Como percebia a presença da Divindade Suprema em toda parte e em toda entidade viva, Rantideva recebeu o visitante com fé e res­peito e deu-lhe uma porção do alimento. O visitante brāhmaṇa comeu sua porção e depois foi embora.
VERSO 7:
Em seguida, tendo dividido com seus parentes o alimento restante, Rantideva estava prestes a comer sua própria parte, mas um visitante śūdra chegou. Vendo o śūdra em relação com a Suprema Personali­dade de Deus, o rei Rantideva deu-lhe também uma porção do alimento.
VERSO 8:
Quando o śūdra partiu, chegou outro visitante, cercado de cães, e disse: “Ó rei, eu e minha companhia de cães estamos muito famin­tos. Por favor, dá-nos algo para comermos.”
VERSO 9:
Com muito respeito, o rei Rantideva ofereceu o restante do alimento aos cães e ao dono dos cães, que haviam chegado como visi­tantes. O rei ofereceu-lhes todos os respeitos e reverências.
VERSO 10:
Em seguida, restou apenas água potável, e só havia uma quantidade suficiente para satisfazer uma pessoa, mas, quando o rei estava prestes a bebê-la, um caṇḍāla apareceu e disse: “Ó rei, embora eu seja de nascimento baixo, por favor, dá-me água potável.”
VERSO 11:
Aflito ao ouvir as palavras lamuriantes do pobre e fatigado caṇḍāla, Mahārāja Rantideva falou as seguintes palavras nectáreas.
VERSO 12:
Não peço que a Suprema Personalidade de Deus me dê as oito perfeições do yoga místico, nem me salve de repetidos nascimentos e mortes. Desejo apenas permanecer entre todas as entidades vivas e sofrer por elas todas as angústias, para que elas se livrem do sofri­mento.
VERSO 13:
Oferecendo minha água para manter a vida desse pobre caṇḍāla, que luta para sobreviver, libertei-me de toda a fome, sede, fadiga, tremor corpóreo, melancolia, angústia, lamentação e ilusão.
VERSO 14:
Tendo falado essas palavras, o rei Rantideva, embora estivesse à beira da morte em decorrência da falta de água, não hesitou em dar sua própria porção de água ao caṇḍāla, pois o rei era naturalmente muito bondoso e sóbrio.
VERSO 15:
Semideuses tais como o senhor Brahmā e o senhor Śiva, que podem satisfazer todos os homens de ambições materiais, dando-­lhes as recompensas que desejam, manifestaram, então, suas próprias identidades perante o rei Rantideva, pois foram eles que haviam se apresentado como o brāhmaṇa, o śūdra, o caṇḍāla e assim por diante.
VERSO 16:
O rei Rantideva não tinha nenhuma ambição de desfrutar dos be­nefícios materiais concedidos pelos semideuses. Ele lhes ofereceu reverências, mas, como seu apego era mesmo ao Senhor Viṣṇu, Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, ele fixou sua mente nos pés de lótus do Senhor Viṣṇu.
VERSO 17:
Ó Mahārāja Parīkṣit, porque o rei Rantideva era um devoto puro, sempre consciente de Kṛṣṇa e livre de todos os desejos materiais, a energia ilusória do Senhor, māyā, não podia manifestar-se diante dele. Ao contrário, para ele, māyā desapareceu por completo, tal qual um sonho.
VERSO 18:
Todos aqueles que seguiram os princípios do rei Rantideva foram totalmente favorecidos por sua misericórdia e tornaram-se devotos puros, apegados à Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa. Assim, todos eles se tornaram os melhores yogīs.
VERSOS 19-20:
De Garga, veio um filho chamado Śini, cujo filho foi Gārgya. Em­bora Gārgya fosse um kṣatriya, dele surgiu uma geração de brāhmaṇas. De Mahāvīrya, veio um filho chamado Duritakṣaya, cujos filhos foram Trayyāruṇi, Kavi e Puṣkarāruṇi. Embora nascidos em uma di­nastia de kṣatriyas, esses filhos de Duritakṣaya também alcançaram a posição de brāhmaṇas. Bṛhatkṣatra teve um filho chamado Hastī, que estabeleceu a cidade de Hastināpura [a atual Nova Déli].
VERSO 21:
Do rei Hastī, vieram três filhos, chamados Ajamīḍha, Dvimīḍha e Purumīḍha. Os descendentes de Ajamīḍha, encabeçados por Priyamedha, alcançaram todos a posição de brāhmaṇas.
VERSO 22:
De Ajamīḍha, surgiu um filho chamado Bṛhadiṣu; de Bṛhadiṣu, um filho chamado Bṛhaddhanu; de Bṛhaddhanu, um filho chamado Brhatkāya, e de Bṛhatkāya, um filho chamado Jayadratha.
VERSO 23:
O filho de Jayadratha foi Viśada, cujo filho foi Syenajit. Os filhos de Syenajit foram Rucirāśva, Dṛḍhahanu, Kāśya e Vatsa.
VERSO 24:
O filho de Rucirāśva foi Pāra, e os filhos de Pāra foram Pṛthusena e Nīpa. Nīpa teve cem filhos.
VERSO 25:
Através do ventre de sua esposa Kṛtvī, que era filha de Śuka, o rei Nīpa gerou um filho chamado Brahmadatta. E Brahmadatta, que era um grande yogī, gerou um filho chamado Viṣvaksena através do ventre de sua esposa, Sarasvatī.
VERSO 26:
Seguindo as instruções do grande sábio Jaigīṣavya, Viṣvaksena compilou uma elaborada descrição do sistema de yoga místico. De Viṣvaksena, nasceu Udaksena, e de Udaksena, Bhallāṭa. Todos esses filhos são conhecidos como descendentes de Bṛhadiṣu.
VERSO 27:
O filho de Dvimīḍha foi Yavīnara, cujo filho foi Kṛtimān. O filho de Kṛtimān era famoso como Satyadhṛti. De Satyadhṛti, veio um filho chamado Dṛḍhanemi, que se tornou o pai de Supārśva.
VERSOS 28-29:
De Supārśva, veio um filho chamado Sumati; de Sumati, veio San­natimān, e de Sannatimān, veio Kṛtī, que, por intermédio de Brahmā, obteve poderes místicos e ensinou as seis saṁhitās dos versos Prācyasāma do Sāma Veda. O filho de Kṛtī foi Nīpa; o filho de Nīpa, Udgrāyudha; o filho de Udgrāyudha, Kṣemya; o filho de Kṣemya, Suvīra, e o filho de Suvīra, Ripuñjaya.
VERSO 30:
De Ripuñjaya, veio um filho chamado Bahuratha. Purumīḍha não teve filhos. Com sua esposa conhecida como Nalinī, Ajamīḍha teve um filho chamado Nīla, e o filho de Nīla foi Śānti.
VERSOS 31-33:
O filho de Śanti foi Suśānti, o filho de Suśānti foi Puruja, e o filho de Puruja foi Arka. De Arka, veio Bharmyāśva, e de Bharmyāśva vieram cinco filhos – Mudgala, Yavīnara, Bṛhadviśva, Kāmpilla e Sañjaya. Bharmyāśva pediu aos seus filhos: “Ó meus filhos, por favor, encarregai-vos dos meus cinco estados, pois tendes plena competência para isso.” Portanto, seus cinco filhos ficaram conhecidos como Pañcālas. De Mudgala, surgiu uma dinastia de brāhmaṇas conhecida como Maudgalya.
VERSO 34:
Mudgala, o filho de Bharmyāśva, teve gêmeos, um menino e uma menina. O filho chamava-se Divodāsa, e a filha chamava-se Ahalyā. Do ventre de Ahalyā, através do sêmen de seu esposo, Gautama, surgiu um filho chamado Śatānanda.
VERSO 35:
O filho de Śatānanda foi Satyadhṛti, que era hábil na arte de manusear o arco e flecha, e o filho de Satyadhṛti foi Śaradvān. Ao depa­rar-se com Urvaśī, Śaradvān ejaculou, e seu sêmen caiu numa touceira de grama śara. A partir desse sêmen, nasceram dois bebês auspiciosíssimos, sendo um menino e uma menina.
VERSO 36:
Enquanto em uma caçada, Mahārāja Śāntanu viu o menino e a menina deitados na floresta e, por compaixão, levou-os para casa. Consequentemente, o menino ficou conhecido como Kṛpa, e a menina foi chamada Kṛpī. Mais tarde, Kṛpī tornou-se a esposa de Droṇācārya.