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Capítulo Um

Os Manus, os Administradores do Universo

Em primeiro lugar, peço permissão para oferecer respeitosas reverên­cias aos pés de lótus de meu mestre espiritual, Sua Divina Graça Śrī Śrīmad Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Prabhupāda. Certa vez, no ano de 1935, quando Sua Divina Graça se encontrava no Rādhā-kuṇḍa, parti de Bombaim e fui vê-lo. Naquele ensejo, ele me concedeu importantes instruções a respeito da construção de templos e da publicação de livros. Ele próprio me disse que publicar livros é mais importante do que construir templos. Essas mesmas instru­ções permaneceram bem claras em minha mente por muitos anos. Em 1944, comecei a publicar minha revista Volta ao Supremo e, em 1958, quando me retirei da vida familiar, passei a publicar o Śrīmad-Bhāgavatam, em Déli. Quando três volumes do Śrīmad­-Bhāgavatam haviam sido publicados na Índia, em 13 de agosto de 1965, parti para os Estados Unidos da América.

Estou continuamente me esforçando para publicar livros, con­forme recomendação de meu mestre espiritual. Agora, neste ano de 1976, completei o sétimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam, e já se publicou um resumo do décimo canto, escrito sob a forma da trilogia Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Falta, ainda, publicar o oitavo canto, o nono canto, o décimo canto, o dé­cimo primeiro canto e o décimo segundo canto. Nesta ocasião, portanto, oro ao meu mestre espiritual que me dê forças para con­cluir este trabalho. Não sou um grande erudito nem um grande de­voto; sou um simples e humilde servo de meu mestre espiritual e, com a cooperação dos meus discípulos americanos, estou fazendo tudo o que posso, tentando satisfazê-lo com a publicação destes livros. Felizmente, os eruditos em todo o mundo estão apreciando estas publicações. Uniremos, então, nossas forças e publicaremos mais e mais volumes do Śrīmad-Bhāgavatam apenas para satisfazer Sua Divina Graça Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura.

Em resumo, este primeiro capítulo do oitavo canto pode ser apresentado como uma descrição dos quatro Manus, a saber, Svāyambhuva, Svārociṣa, Uttama e Tāmasa. Após ouvir até o fim do sétimo canto as descrições da dinastia de Svāyambhuva Manu, Mahārāja Parīkṣit quis saber sobre outros Manus. Ele desejou en­tender como a Suprema Personalidade de Deus desce – não apenas no passado, mas também no presente e no futuro –, e como Ele, sob a forma de Manu, age em vários passatempos. Como Parīkṣit Mahārāja estava ansioso por saber tudo isso, Śukadeva Gosvāmī, começando com os seis Manus que já haviam aparecido, gradual­mente descreveu todos os Manus.

O primeiro Manu foi Svāyambhuva Manu. Suas duas filhas, chamadas Ākūti e Devahūti, deram à luz dois filhos, chamados Yajña e Kapila, respectivamente. Visto que já havia descrito no terceiro canto as atividades de Kapila, Śukadeva Gosvāmī descreve agora as atividades de Yajña. O Manu original, acompanhado de sua esposa, Śatarūpā, adentrou-se na floresta e, às margens do rio Sunandā, foi praticar austeridades. Durante cem anos, eles fizeram austeridades, e, depois, Manu, em transe, compôs orações para a Suprema Personalidade de Deus. Então, os Rākṣasas e os asuras tentaram devorá-lo, mas Yajña, juntamente com Seus filhos, os Yāmas, e com os semideuses, matou-os. Em seguida, o próprio Yajña assumiu o posto de Indra, o rei dos planetas celestiais.

O segundo Manu, cujo nome era Svārociṣa, era filho de Agni, e seus filhos eram encabeçados por Dyumat, Suṣeṇa e Rociṣmat. Na era deste Manu, Rocana se tornou Indra, o governante dos pla­netas celestiais, e houve muitos semideuses, os quais eram liderados por Tuṣita. Houve, também, muitas pessoas santas, tais como Ūrja e Stambha, e, entre elas, estava Vedaśirā, cuja esposa, Tuṣitā, deu à luz Vibhu. Vibhu instruiu oitenta e oito mil dṛḍha-vratas, ou pessoas santas, no autocontrole e austeridades.

Uttama, filho de Priyavrata, foi o terceiro Manu. Entre seus filhos, incluíam-se Pavana, Sṛñjaya e Yajñahotra. Durante o reina­do deste Manu, os filhos de Vasiṣṭha, encabeçados por Pramada, tornaram-se as sete pessoas santas. Os Satyas, os Devaśrutas e os Bhadras se tornaram os semideuses, e Satyajit se tornou Indra. Do ventre de Sunṛtā, a esposa de Dharma, o Senhor apareceu como Satyasena, e matou todos os Yakṣas e Rākṣasas que lutavam com Satyajit.

Tāmasa, o irmão do terceiro Manu, foi o quarto Manu, e teve dez filhos, incluindo Pṛthu, Khyāti, Nara e Ketu. Durante seu rei­nado, os Satyakas, os Haris, os Vīras e outros foram semideuses, os sete grandes santos foram liderados por Jyotirdhāma, e Triśikha se tornou Indra. No ventre de sua esposa Hariṇī, Harimedhā gerou um filho chamado Hari. Esse Hari, uma encarnação de Deus, salvou o devoto Gajendra. Esse incidente é descrito como gajendra-mokṣaṇa. No final deste capítulo, Parīkṣit Mahārāja pergunta especifica­mente sobre esse episódio.

Texto

śrī-rājovāca
svāyambhuvasyeha guro
vaṁśo ’yaṁ vistarāc chrutaḥ
yatra viśva-sṛjāṁ sargo
manūn anyān vadasva naḥ

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — o rei (Mahārāja Parīkṣit) disse; svāyambhuva­sya — da grande personalidade Svāyambhuva Manu; iha — a este respeito; guro — ó meu mestre espiritual; vaṁśaḥ — dinastia; ayam — isto; vistarāt — extensivamente; śrutaḥ — ouvi (de ti); yatra — onde; viśva-sṛjām — das grandes personalidades conhecidas como prajā­patis, tais como Marīci; sargaḥ — criação, envolvendo o nascimen­to de muitos filhos e netos das filhas de Manu; manūn — Manus; anyān — outros; vadasva — por favor, descreve; naḥ — para nós.

Tradução

O rei Parīkṣit disse: Ó meu senhor, meu mestre espiritual, acabo de ouvir tudo o que Vossa Graça descreveu a respeito da dinastia de Svāyambhuva Manu. Contudo, também existem outros Manus, e desejo ouvir sobre as suas dinastias. Por favor, descreve-as para nós.

Texto

manvantare harer janma
karmāṇi ca mahīyasaḥ
gṛṇanti kavayo brahmaṁs
tāni no vada śṛṇvatām

Sinônimos

manvantare — durante a mudança dos manvantaras (um Manu assumindo o posto de outro); hareḥ — da Suprema Personalidade de Deus; janma — aparecimento; karmāṇi — e atividades; ca — também; mahīyasaḥ — da pessoa supremamente glorificada; gṛṇanti — descrevem; kavayaḥ — os grandes doutos que têm inteligência perfeita; brahman — ó brāhmaṇa erudito (Śukadeva Gosvāmī); tāni — todos eles; naḥ — para nós; vada — por favor, descreve; śṛṇvatām — que es­tamos ansiosos por ouvir.

Tradução

Ó brāhmaṇa erudito, Śukadeva Gosvāmī, os grandes eruditos, que têm muita inteligência, descrevem as atividades e o aparecimento que a Suprema Personalidade de Deus manifesta durante os vários manvantaras. Estamos ansiosíssimos por ouvir sobre essas narrações. Por favor, descreve-as.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus possui variedades de encarnações, incluindo os guṇa-avatāras, os manvantara-ava­tāras, os līlā-avatāras e os yuga-avatāras, todas elas descritas nos śāstras. Sem tomar como ponto de referência os śāstras, é incogitável aceitar alguém como uma encarnação da Suprema Perso­nalidade de Deus. Portanto, como se menciona especialmente aqui, gṛṇanti kavayaḥ: as descrições das várias encarnações são aceitas pelos grandes estudiosos eruditos cuja inteligência é perfeita. No momento atual, notadamente na Índia, muitos patifes se fazem passar por encarnações, e as pessoas estão sendo desencaminhadas. Portanto, a identidade de uma encarnação deve ser confir­mada pelas descrições contidas nos śāstras e por suas atividades maravilhosas. Como descreve neste verso a palavra mahīyasaḥ, as atividades de uma encarnação não são feitos mágicos comuns nem malabarismos, senão que são atividades maravilhosas. Logo, toda encarna­ção da Suprema Personalidade de Deus deve ser compatível com o que afirmam os śāstras e deve executar atividades verdadeiramente maravilhosas. Parīkṣit Mahārāja estava ansioso por ouvir acerca dos Manus de diferentes eras. Durante um dia de Brahmā, existem quatorze Manus, e a era de cada Manu dura setenta e um yugas. Então, existem milhares de Manus durante a vida de Brahmā.

Texto

yad yasminn antare brahman
bhagavān viśva-bhāvanaḥ
kṛtavān kurute kartā
hy atīte ’nāgate ’dya vā

Sinônimos

yat — todas as atividades; yasmin — em uma era específica; antaremanvantara; brahman — ó grande brāhmaṇa; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; viśva-bhāvanaḥ — que criou esta manifesta­ção cósmica; kṛtavān — fez; kurute — está fazendo; kartā — e fará; hi — na verdade; atīte — no passado; anāgate — no futuro; adya — no presente; — ou.

Tradução

Ó brāhmaṇa erudito, por favor, descreve-nos todas as atividades que a Suprema Personalidade de Deus, o qual criou esta manifes­tação cósmica, realizou nos manvantaras passados, está realizando no momento presente e realizará nos futuros manvantaras.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā, a Suprema Personalidade de Deus disse que tanto Ele quanto as outras entidades vivas que estavam no campo de batalha existiram no passado, existiam no presente e continuariam a existir no futuro. O passado, o presente e o futuro sempre existem, tanto para a Suprema Personalidade de Deus quanto para as enti­dades vivas comuns. Nityo nityānāṁ cetanaś cetanānām. Tanto o Senhor quanto as entidades vivas são eternas e sencientes, com a diferença de que o Senhor é ilimitado, ao passo que as entidades vivas são limitadas. A Suprema Personalidade de Deus é o criador de tudo, e, embora as entidades vivas não sejam criadas, mas, tal qual o Senhor, tenham existência eterna, seus corpos são criados, ao passo que o corpo do Senhor Supremo jamais é criado. Não há diferença entre o Senhor Supremo e Seu corpo, mas, embora eterna, a alma condicionada é diferente do corpo.

Texto

śrī-ṛṣir uvāca
manavo ’smin vyatītāḥ ṣaṭ
kalpe svāyambhuvādayaḥ
ādyas te kathito yatra
devādīnāṁ ca sambhavaḥ

Sinônimos

śrī-ṛṣiḥ uvāca — o grande santo Śukadeva Gosvāmī disse; mana­vaḥ — Manus; asmin — por este período (um dia de Brahmā); vyatī­tāḥ — já passados; ṣaṭ — seis; kalpe — nesta duração que equivale a um dia de Brahmā; svāyambhuva — Svāyambhuva Manu; ādayaḥ — e outros; ādyaḥ — o primeiro (Svāyambhuva); te — a ti; kathitaḥ — já descrevi; yatra — onde; deva-ādīnām — de todos os semideuses; ca — também; sambhavaḥ — o aparecimento.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Pelo presente kalpa, já passaram seis Manus. Já te descrevi Svāyambhuva Manu e o aparecimento de muitos semideuses. Neste kalpa de Brahmā, Svāyambhuva é o pri­meiro Manu.

Texto

ākūtyāṁ devahūtyāṁ ca
duhitros tasya vai manoḥ
dharma-jñānopadeśārthaṁ
bhagavān putratāṁ gataḥ

Sinônimos

ākūtyām — do ventre de Ākūti; devahūtyām ca — e do ventre de Devahūti; duhitroḥ — das duas filhas; tasya — dele; vai — na verda­de; manoḥ — de Svāyambhuva Manu; dharma — religião; jñāna — e conhecimento; upadeśa-artham — para instruir; bhagavān — a Supre­ma Personalidade de Deus; putratām — filiação de Ākūti e Devahūti; gataḥ — aceitou.

Tradução

Svāyambhuva Manu tinha duas filhas, chamadas Ākūti e Devahūti, de cujos ventres a Suprema Personalidade de Deus apareceu como dois filhos chamados Yajñamūrti e Kapila, respectivamente. Esses filhos ficaram encarregados de pregar religião e conhecimento.

Comentário

SIGNIFICADO—O filho de Devahūti era conhecido como Kapila, e o filho de Ākūti se chamava Yajñamūrti. Ambos ensinaram religião e conhe­cimento filosófico.

Texto

kṛtaṁ purā bhagavataḥ
kapilasyānuvarṇitam
ākhyāsye bhagavān yajño
yac cakāra kurūdvaha

Sinônimos

kṛtam — já feito; purā — antes; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; kapilasya — Kapila, o filho de Devahūti; anu­varṇitam — descrito por completo; ākhyāsye — descreverei agora; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; yajñaḥ — chamado Yajñapati ou Yajñamūrti; yat — tudo o que; cakāra — executou; kuru-udvaha — ó melhor dos Kurus.

Tradução

Ó melhor dos Kurus, já descrevi [no terceiro canto] as atividades de Kapila, o filho de Devahūti. Agora, descreverei as atividades de Yajñapati, o filho de Ākūti.

Texto

viraktaḥ kāma-bhogeṣu
śatarūpā-patiḥ prabhuḥ
visṛjya rājyaṁ tapase
sabhāryo vanam āviśat

Sinônimos

viraktaḥ — sem apego; kāma-bhogeṣu — ao gozo dos sentidos (à vida de gṛhastha); śatarūpā-patiḥ — o esposo de Śatarūpā, a saber, Svāyambhuva Manu; prabhuḥ — que era o senhor ou rei do mundo; visṛjya — após renunciar totalmente; rājyam — seu reino; tapase — para praticar austeridades; sa-bhāryaḥ — com sua esposa; vanam — na floresta; āviśat — adentrou-se.

Tradução

Svāyambhuva Manu, o esposo de Śatarūpā, por natureza não era nem um pouco apegado ao gozo dos sentidos. Assim, abando­nou seu reino de gozo dos sentidos e, com sua esposa, adentrou a floresta para praticar austeridades.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma na Bhagavad-gītā (4.2), evaṁ paramparā-prāptam imaṁ rājarṣayo viduḥ: “A ciência suprema foi assim recebida através da corrente de sucessão discipular, e os reis santos compreenderam-na desta maneira.” Todos os Manus eram reis perfeitos. Eles eram rājarṣis. Em outras palavras, embora ti­vessem assumido postos de reis do mundo, eles estavam no mesmo nível dos grandes santos. Por exemplo, apesar de ser o imperador do mundo, Svāyambhuva Manu não tinha desejos de se entregar ao gozo dos sentidos. Esse é o significado da monarquia. O rei do país ou o imperador do império devem ser treinados de maneira tal que, espontaneamente, renunciem ao gozo dos sentidos. Ninguém deve pensar que, só porque alguém se tornou rei, ele deve desnecessariamente gastar dinheiro em gozo dos sentidos. Logo que os reis se degradavam e esbanjavam dinheiro para tentar satis­fazer seus sentidos, estavam perdidos. Fenômeno semelhante ocorre na atualidade: tendo a monarquia fracassado, a popu­lação inventou a democracia, que também está falhando. Portanto, pelas leis da natureza, vem chegando o tempo em que a ditadura colocará os cidadãos em dificuldades cada vez maiores. Se, individualmente, o rei ou o ditador, ou, coletivamente, os membros do governo, não podem manter o Estado ou o reino de acordo com as regras da Manu-saṁhitā, decerto seus governos não perdurarão.

Texto

sunandāyāṁ varṣa-śataṁ
padaikena bhuvaṁ spṛśan
tapyamānas tapo ghoram
idam anvāha bhārata

Sinônimos

sunandāyām — às margens do rio Sunandā; varṣa-śatam — durante cem anos; pada-ekena — com uma perna; bhuvam — a terra; spṛśan — tocando; tapyamānaḥ — ele realizou austeridades; tapaḥ — austerida­des; ghoram — muito rigorosas; idam — o seguinte; anvāha — e falou; bhārata — ó descendente de Bharata.

Tradução

Ó descendente de Bharata, após ter entrado na floresta com sua esposa, Svāyambhuva Manu se colocou à margem do rio Sunan­dā, ficou apoiado em apenas uma de suas pernas e, nessa posição, com apenas uma perna em contato com a terra, ele realizou grandes austeridades durante cem anos. Enquanto realizava essas austerida­des, ele falou as seguintes palavras.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta que a palavra an­vāha quer dizer que ele falou ou murmurou para si próprio, e não que ele palestrou para alguém.

Texto

śrī-manur uvāca
yena cetayate viśvaṁ
viśvaṁ cetayate na yam
yo jāgarti śayāne ’smin
nāyaṁ taṁ veda veda saḥ

Sinônimos

śrī-manuḥ uvāca — Svāyambhuva Manu falou; yena — por quem (a Personalidade de Deus); cetayate — torna-se animado; viśvam — o universo inteiro; viśvam — o universo inteiro (o mundo material); cetayate — anima; na — não; yam — aquele que; yaḥ — aquele que; jāgarti — está sempre desperto (observando todas as atividades); śayāne — enquanto dorme; asmin — neste corpo; na — não; ayam — esta entidade viva; tam — a Ele; veda — conhece; veda — conhece; saḥ — Ele.

Tradução

O senhor Manu disse: O ser vivo supremo criou este mundo material animado, e ninguém deve concluir que Ele tenha sido criado por este mundo material. Quando tudo está silencioso, o Ser Supremo permanece desperto como uma testemunha. A entidade viva não O conhece, mas Ele conhece tudo.

Comentário

SIGNIFICADO—Eis uma distinção entre a Suprema Personalidade de Deus e as entidades vivas. Nityo nityānāṁ cetanaś cetanānām. (Kaṭha Upaniṣad 2.2.13) De acordo com a versão védica, o Senhor é o supremo eterno, o ser vivo su­premo. A diferença entre o Ser Supremo e o ser vivo comum é que, quando este mundo material é aniquilado, todas as entidades vivas, entrando em uma condição inconsciente ou adormecida, ficam imersas no esquecimento, ao passo que o Ser Supremo fica desperto e age como a testemunha de tudo. Este mundo material é criado, permanece por algum tempo e, então, é aniquilado. Entretanto, através de todas essas mudanças, o Ser Supremo permanece des­perto. Na condição material de todas as entidades vivas, há três etapas de sonho. Quando o mundo material está desperto e é posto em ação, isso é uma espécie de sonho, um sonho acordado. Quando vão dormir, as entidades vivas voltam a sonhar. E, quando ficam inconscientes no momento da aniquilação, após a qual este mundo material fica imanifesto, elas entram em outra etapa de sonho. Portanto, qualquer que seja a sua etapa no mundo material, em todas elas estão dormindo. No mundo espiritual, em contraste, tudo está des­perto.

Texto

ātmāvāsyam idaṁ viśvaṁ
yat kiñcij jagatyāṁ jagat
tena tyaktena bhuñjīthā
mā gṛdhaḥ kasya svid dhanam

Sinônimos

ātma — a Superalma; āvāsyam — vivendo em toda parte; idam — este universo; viśvam — todos os universos, todos os lugares; yat — tudo o que; kiñcit — tudo o que existe; jagatyām — neste mundo, em toda parte; jagat — tudo, animado e inanimado; tena — por Ele; tyaktena — designado; bhuñjīthāḥ — podes desfrutar; — não; gṛdhaḥ — aceites; kasya svit — de outrem; dhanam — a propriedade.

Tradução

Dentro deste universo, a Suprema Personalidade de Deus, sob Sua forma de Superalma, está presente em toda parte – isto é, onde quer que haja seres móveis ou imóveis. Portanto, a pessoa deve aceitar apenas sua cota; ninguém deve dese­jar apossar-se do pertence alheio.

Comentário

SIGNIFICADO—Tendo definido como transcendental a situação da Suprema Per­sonalidade de Deus, Svāyambhuva Manu, para a instrução dos filhos e netos de sua dinastia, está agora descrevendo que tudo o que existe no universo pertence à Suprema Personalidade de Deus. As instruções de Manu não são apenas para seus próprios filhos e netos, senão que se destinam a toda a sociedade humana. A pa­lavra “homem” – ou, em sânscrito, manuṣya – origina-se do substantivo Manu, pois todos os membros da sociedade humana são descendentes do Manu original. Manu também é mencionado na Bhagavad-gītā (4.1), onde o Senhor diz:

imaṁ vivasvate yogaṁ
proktavān aham avyayam
vivasvān manave prāha
manur ikṣvākave ’bravīt

“Ensinei esta imperecível ciência do yoga ao deus do Sol, Vivasvān, e Vivasvān ensinou-a a Manu, o pai da humanidade, e Manu, por sua vez, ensinou-a a Ikṣvāku.” Svāyambhuva Manu e Vaivasvata Manu têm deveres semelhantes. O filho de Vaivasvata Manu, tendo este nascido de Vivasvān, o deus do Sol, foi Ikṣvāku, o rei da Terra. Uma vez que Manu é tido como o pai original da huma­nidade, a sociedade humana deve seguir suas instruções.

Svāyambhuva Manu ensina que tudo o que existe, não apenas no mundo espiritual, mas inclusive dentro deste mundo material, é propriedade da Suprema Personalidade de Deus, que está presen­te em toda parte como a Superconsciência. Como se confirma na Bhagavad-gītā (13.3), kṣetra-jñam cāpi māṁ viddhi sarva-kṣetreṣu bhārata: em todo campo – em outras palavras, em todo corpo –, o Senhor Supremo existe como a Superalma. A alma individual recebe um corpo no qual vive e age de acordo com as instruções da Pessoa Suprema, daí a Pessoa Suprema também existir em todo corpo. Não devemos pensar que somos independentes; ao contrário, devemos entender que temos direito a uma certa porção da propriedade total da Suprema Personalidade de Deus.

Essa compreensão levará a um comunismo perfeito. Os comu­nistas pensam em termos de suas próprias nações, mas o comunis­mo espiritual ensinado aqui não é apenas nacional, mas universal. Nada é propriedade exclusiva de alguma nação ou de alguma pessoa; tudo pertence à Suprema Personalidade de Deus. Esse é o signifi­cado deste verso. Ātmāvāsyam idaṁ viśvam: Tudo o que existe dentro deste universo é propriedade da Suprema Personalidade de Deus. A moderna teoria comunista, e também a ideia das Nações Unidas, podem ser reformuladas – na verdade, retificadas – através da compreensão de que tudo pertence à Suprema Personalidade de Deus. O Senhor não é uma criação de nossa inteligência; ao contrário, foi Ele quem nos criou. Ātmāvāsyam idaṁ viśvam. Īśāvāsyam idaṁ sarvam. Esse comunismo universal pode resolver todos os proble­mas do mundo.

Todos devem aprender com a literatura védica que o próprio corpo também não é propriedade da alma individual, mas lhe é dado de acordo com o seu karma. Karmaṇā daiva-netreṇa jantur dehopapattaye. As 8.400.000 diferentes formas corpóreas são máquinas dadas à alma individual. Confirma isso a Bhagavad-gītā (18.61):

īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ
hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati
bhrāmayan sarva-bhūtāni
yantrārūḍhāni māyayā

“O Senhor Supremo está situado no coração de todos, ó Arjuna, e está dirigindo as andanças de todas as entidades vivas, que estão sentadas num tipo de máquina feita de energia material.” Como a Superalma, o Senhor acomoda-Se no coração de todos e observa os vários desejos da alma individual. O Senhor é tão mise­ricordioso que concede à entidade viva a oportunidade de desfrutar de vários desejos em corpos adequados, que não passam de máqui­nas (yantrārūḍhāni māyayā). Essas máquinas são construídas por intermédio dos ingredientes materiais fornecidos pela energia exter­na, e, dessa maneira, a entidade viva desfruta ou sofre de acordo com seus desejos. Quem propicia essa oportunidade é a Superalma.

Tudo pertence ao Supremo, de modo que ninguém deve usurpar a propriedade alheia. Temos a tendência a inventar muitas coisas. Especialmente hoje em dia, estamos construindo arranha-céus e desenvolvendo outras condições materiais vantajosas. Devemos saber, entretanto, que os ingredientes dos arranha-céus e máquinas só podem ser fabricados pela Suprema Personalidade de Deus. O mundo inteiro se limita a uma combinação dos cinco elementos materiais (tejo-vāri-mṛdāṁ yathā vinimayaḥ). Um arranha-céu é uma transformação dos elementos terra, água e fogo. A terra e a água são misturadas e, pela ação do fogo, transformam-se em tijo­los, e um arranha-céu é essencialmente uma enorme construção feita de tijolos. Embora seja capaz de fabricar os tijolos, o homem não pode fabricar os ingredientes que os constituem. É claro que, como um fabricante, o homem pode aceitar um salário da Suprema Personalidade de Deus. Isso é afirmado aqui: tena tyaktena bhuñjīthāḥ. O indivíduo pode construir um grande arranha-céu, mas nem o construtor, vendedor ou o operário podem alegar que são os proprietários. A propriedade é de quem investiu suas posses na construção. A Suprema Personalidade de Deus criou a água, a terra, o ar, o fogo e o céu, e todos podem utilizá-los e receber um salário (tena tyaktena bhuñjīthāh). Entretanto, ninguém pode arrogar-se o direito de propriedade. Eis o comunismo perfeito. Nossa ten­dência a construir grandes edifícios deve ser usada somente para construirmos grandes e valiosos templos nos quais se instale a Dei­dade da Suprema Personalidade de Deus. Somente então é que nosso de­sejo de construir será satisfeito.

Como toda a propriedade pertence à Suprema Personalidade de Deus, tudo deve ser oferecido ao Senhor, e devemos aceitar apenas prasāda (tena tyaktena bhuñjīthāh). Não devemos engalfi­nhar-nos para recebermos mais do que necessitamos. Como Nārada disse a Mahārāja Yudhiṣṭhira:

yāvad bhriyeta jaṭharaṁ
tāvat svatvaṁ hi dehinām
adhikaṁ yo ’bhimanyeta
sa steno daṇḍam arhati

“Todos devem declarar propriedade apenas sobre aquela riqueza que necessitem para se manterem vivos, mas, se alguém desejar possuir mais do que isso, deve ser considerado um ladrão, e mere­ce ser punido pelas leis da natureza.” (Śrīmad-Bhāgavatam 7.14.8) Decerto que, para nos mantermos, precisamos comer, dormir, acasalar-nos e de­fender-nos (āhāra-nidra-bhaya-maithuna), mas já que o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, provê os pássaros e as abelhas com essas necessidades da vida, por que deixaria de fazer isso pela humanidade? Não há necessidade de desenvolvimento eco­nômico; tudo é provido. Portanto, deve-se entender que tudo pertence a Kṛṣṇa, e, munidos dessa ideia, todos podem aceitar prasāda. No entanto, quem se apodera daquilo que foi reservado a outrem é um ladrão. Não devemos aceitar mais do que real­mente precisamos. Portanto, se por acaso obtivermos dinheiro em abundância, deveremos sempre considerar que ele pertence à Suprema Personalidade de Deus. Na consciência de Kṛṣṇa, ganha­mos dinheiro o bastante, mas jamais podemos pensar que o dinheiro nos pertence, pois ele é da Suprema Personalidade de Deus e deve ser distribuído igualmente entre os trabalhadores, os devotos. Nenhum devoto deve alegar que algum dinheiro ou propriedade lhe pertence. Se alguém pensa que alguma região deste enorme universo pertence a determinado indivíduo, ele deve ser considerado um ladrão e ficará passível de punição por parte das leis da natureza. Daivī hy eṣā guṇa-mayī mama māyā duratyayā: ninguém é capaz de superar a vigilância da natureza material ou enganar a natureza material. Se a sociedade humana ilegalmente se arrogar proprietária do universo, seja parcial, seja totalmente, e determinar que ele pertence à humanidade, toda a sociedade humana será amaldiçoada como uma so­ciedade de ladrões e será punida pelas leis da natureza.

Texto

yaṁ paśyati na paśyantaṁ
cakṣur yasya na riṣyati
taṁ bhūta-nilayaṁ devaṁ
suparṇam upadhāvata

Sinônimos

yam — aquele que; paśyati — a entidade viva vê; na — não; paśyan­tam — embora sempre vendo; cakṣuḥ — olho; yasya — cujo; na — jamais; riṣyati — diminui; tam — a Ele; bhūta-nilayam — a fonte da qual se originam todas as entidades vivas; devam — a Suprema Personalidade de Deus; suparṇam — que acompanha a entidade viva como um amigo; upadhāvata — todos devem adorar.

Tradução

Embora a Suprema Personalidade de Deus observe constantemen­te as atividades do mundo, ninguém O vê. Entretanto, a pessoa não deve pensar que, porque ela não O vê, Ele não vê, pois Sua capacidade de ver jamais diminui. Portanto, todos devem adorar a Superalma, que sempre permanece um amigo da alma individual.

Comentário

SIGNIFICADO—Ao oferecer orações a Kṛṣṇa, Śrīmatī Kuntīdevī, a mãe dos Pāṇḍavas, disse que alakṣyaṁ sarva-bhūtānām antar bahir avasthitam: “Kṛṣṇa, residis tanto dentro quanto fora de tudo, mas as almas condicionadas ininteligentes não Vos conseguem ver.” Na Bhagavad-gītā, afirma-se que é possível ver a Suprema Personalidade de Deus através de jñāna-cakuṣaḥ, os olhos do conheci­mento. Aquele que abre nossos olhos do conhecimento é chamado de mestre espiritual. Portanto, ao oferecermos nossas orações ao mestre espiritual, recitamos o seguinte śloka:

om ajñāna-timirāndhasya
jñānāñjana-śalākayā
cakṣur unmīlitaṁ yena
tasmai śrī-gurave namaḥ

“Ofereço minhas respeitosas reverências ao meu mestre espiritual, que, com o archote do conhecimento, abriu meus olhos, que estavam cegos devido à escuridão da ignorância.” (Gautamīya Tantra) A tarefa do guru é abrir os olhos do discípulo, proporcionando-lhe conhecimento. Ao sair da ignorância que o afasta do conhecimento, o discípulo pode ver a Suprema Personalidade de Deus em toda parte, pois o Senhor realmente está em toda parte. Aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-stham. O Senhor reside neste universo, reside no coração de todas as entidades vivas e reside até mesmo no átomo. Porque não temos conhecimento perfeito, não podemos ver Deus, mas um pouco de reflexão pode ajudar-nos a ver Deus em toda parte. Isso requer treinamento. Com um pouco de reflexão, mesmo a pessoa mais degradada pode perceber a pre­sença de Deus. Se quisermos saber a quem pertence o vasto oceano, a quem pertence a vasta terra, como existe o céu, como as incontáveis estrelas e planetas estão firmados no céu, quem fez este universo e a quem ele pertence, chegaremos à conclusão de que existe alguém que é o proprietário de tudo. Quando, quer individualmente, quer em nome de nossa família ou nação, apresentamo-nos como proprietários de um certo pedaço de terra, também devemos considerar como nos tornamos proprie­tários disso. A terra existia antes do nosso nascimento, antes de chegarmos a ela. Então, como foi que ela se tornou uma propriedade nossa? Essa análise nos ajudará a entender que existe um proprietário supremo de tudo – a Suprema Personalidade de Deus.

A Divindade Suprema está sempre desperta. No estado condicio­nado, esquecemos as coisas porque mudamos de corpos, mas, como a Suprema Personalidade de Deus não muda de corpo, a Suprema Personalidade de Deus lembra­-Se do passado, do presente e conhece o futuro. Na Bhagavad-gītā (4.1), Kṛṣṇa diz que imaṁ vivasvate yogaṁ proktavān aham avyayam: “Eu falei esta ciência de Deus – a Bhagavad-gītā – ao deus do Sol há pelo menos quarenta milhões de anos.” Quando Arjuna perguntou a Kṛṣṇa como Ele podia lembrar-Se de episódios ocorridos há tanto tempo, o Senhor respondeu que Arjuna também estava presente naquela ocasião. Porque Arjuna é amigo de Kṛṣṇa, aonde quer que Kṛṣṇa vá, Arjuna vai também. A diferença é que Kṛṣṇa lembra-Se de tudo, ao passo que, tal qual Arjuna, a entidade viva, sendo uma partícula diminuta do Senhor Supremo, experimenta o esquecimento. Por­tanto, afirma-se que a vigilância do Senhor é infalível. Também se confirma isso na Bhagavad-gītā (15.15), sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭo mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca: Em Seu aspecto Paramātmā, a Suprema Personalidade de Deus está sempre presente no coração de todas as entidades vivas, e é dEle que vêm a memó­ria, o conhecimento e o esquecimento. Isso também é indicado neste verso através da palavra suparṇam, que significa “amigo”. Portanto, na Śvetāśvatara Upaniṣad (4.6), declara-se que dvā suparṇa-sayujā sakhāyā samānaṁ vṛkṣaṁ pariṣasvajāte: dois pássaros estão pousados na mesma árvore como amigos. Um pássaro está comen­do os frutos da árvore, e o outro está apenas observando. Esse pássaro observador é sempre um amigo do pássaro que come e faz com que ele se lembre das coisas que desejou fazer. Logo, se incluirmos a Suprema Personalidade de Deus em nossos afazeres diários, poderemos vê-lO ou, pelo menos, perceber Sua presença em toda parte.

As palavras cakṣur yasya na riṣyati significam que, embora não possamos vê-lO, isso não implica que Ele não nos pode ver. Tam­pouco Ele morre quando a manifestação cósmica é aniquilada. A esse respeito, cita-se o exemplo de que o brilho solar está presente quando o Sol está presente, mas, quando o Sol não está presente, ou quando não podemos vê-lo, isso não significa que o Sol deixou de existir. Embora não possamos vê-lo, o Sol existe. Igualmente, embora em nossa presente escuridão, em nossa falta de conhecimento, não possamos ver a Suprema Personalidade de Deus, Ele está sempre presente, vendo nossas atividades. Como Paramātmā, Ele é testemunha e conselheiro (upadraṣṭā e anumantā). Portanto, seguindo as instruções do mestre espiritual e estudando os textos autoriza­dos, todos podemos entender que Deus está presente diante de nós, vendo tudo, apesar de não termos os olhos com os quais pos­samos vê-lO.

Texto

na yasyādy-antau madhyaṁ ca
svaḥ paro nāntaraṁ bahiḥ
viśvasyāmūni yad yasmād
viśvaṁ ca tad ṛtaṁ mahat

Sinônimos

na — nem; yasya — de quem (a Suprema Personalidade de Deus); ādi — um começo; antau — fim; madhyam — meio; ca — também; svaḥ — próprio; paraḥ — alheio; na — nem; antaram — interior; bahiḥ — exterior; viśvasya — de toda a manifestação cósmica; amūni — todas essas considerações; yat — cuja forma; yasmāt — daquele que é a causa de tudo; viśvam — todo o universo; ca — e; tat — todos eles; tam — verdade; mahat — grandessíssimo.

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus não tem começo, fim ou meio. Tampouco Ele pertence a alguma pessoa ou nação específica. Ele não tem interior ou exterior. Nenhuma das dualidades encontradas neste mundo material, tais como começo e fim, meu e alheio, está presente na personalidade do Senhor Supremo. O universo, o qual emana dEle, também é um aspecto do Senhor. Portanto, o Senhor Supremo é a verdade definitiva, e Sua grandeza é completa.

Comentário

SIGNIFICADO—Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, é descrito na Brahma-saṁhitā (5.1):

īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ
sac-cid-ānanda-vigrahaḥ
anādir ādir govindaḥ
sarva-kāraṇa-kāraṇam

“Kṛṣṇa, conhecido como Govinda, é o controlador supremo. Ele tem um corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem origem extrínseca, pois Ele é a causa primária de todas as causas.” Para a existência do Senhor não existe causa, pois Ele é a causa de tudo. Ele está em tudo (mayā tatam idaṁ sarvam) e expande-Se em tudo, mas nem por isso tudo é Ele. Ele é acintya-bhedābheda, simultaneamente igual e diferente. Explica-se isso neste verso. Na condição material, temos um conceito de começo, meio e fim, mas essas definições não se aplicam à Suprema Personalidade de Deus. A manifestação cósmica universal também é o virāṭ-rūpa que Arjuna viu enquanto aprendia a Bhagavad-gītā. Portanto, como está presente em toda parte e em todos os mo­mentos, o Senhor é a Verdade Absoluta e o maior. Sua grandeza é perfeita. Deus é grande, e aqui se explica quão grande Ele é.

Texto

sa viśva-kāyaḥ puru-hūta-īśaḥ
satyaḥ svayaṁ-jyotir ajaḥ purāṇaḥ
dhatte ’sya janmādy-ajayātma-śaktyā
tāṁ vidyayodasya nirīha āste

Sinônimos

saḥ — esta Suprema Personalidade de Deus; viśva-kāyaḥ — a forma total do universo (todo o universo é o corpo externo da Suprema Personalidade de Deus); puru-hūtaḥ — conhecido por intermédio de tantos nomes; īśaḥ — o controlador supremo (com pleno poder); satyaḥ — a verdade definitiva; svayam — pessoalmente; jyotiḥ — refulgente; ajaḥ — não-nascido, sem começo; purāṇaḥ — o mais velho; dhatte — Ele executa; asya — deste universo; janma-ādi — a criação, manutenção e aniquilação; ajayā — através de Sua energia externa; ātma-śaktyā — através de Sua potência pessoal; tām — essa ener­gia material externa; vidyayā — através de Sua potência espiritual; udasya — abandonando; nirīhaḥ — sem nenhum desejo ou atividade; āste — Ele existe (intocado pela energia material).

Tradução

Toda a manifestação cósmica é o corpo da Suprema Personalidade de Deus, a Verdade Absoluta, que tem milhões de nomes e potências ilimitadas. Ele produz forte refulgência e Ele é não­ nascido e imutável. Ele é o começo de tudo, mas Ele não tem começo. Visto que, através de Sua energia externa, Ele criou esta manifestação cósmica, o universo parece ser criado, mantido e aniquilado por Ele. Entretanto, Ele permanece inativo em Sua ener­gia espiritual e não é atingido pelas atividades da energia material.

Comentário

SIGNIFICADO—Em Seu Śikṣāṣṭaka, Śrī Caitanya Mahāprabhu diz que nāmnām akāri bahudhā nija-sarva-śaktiḥ: a Suprema Personalidade de Deus tem muitos nomes, nenhum dos quais é diferente da Pessoa Suprema. Isso é existência espiritual. Cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, que consiste nos nomes do Senhor Supremo, observamos que o nome possui todas as potências da pessoa. As atividades do Senhor são muitas, e, de acordo com Suas atividades, Ele tem muitos nomes. Ele apareceu como o filho de mãe Yaśodā, e também como o filho de mãe Devakī, daí Ele ser chamado de Yaśodā-nandana e Devakī-nandana. Parāsya śaktir vividhaiva śrūyate: o Senhor possui incontáveis energias, de modo que Ele age de maneiras va­riadas. Todavia, Ele tem um nome específico. Os śāstras recomendam que nomes devemos cantar, tais como Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare. Não é que tenhamos de procurar ou in­ventar algum nome. Ao contrário, para cantarmos o santo nome do Senhor, devemos seguir as pessoas santas e os śāstras.

Embora a energia material e a energia espiritual pertençam ao Senhor, é impossível entendê-lO enquanto estivermos imersos na energia material. Porém, quando chegarmos à energia espiritual, será muito fácil conhecê-lO. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.7.23), māyāṁ vyudasya cic-chaktyā kaivalye sthita ātmani. Embora a energia externa pertença ao Senhor, quando alguém está na energia externa (mama māyā duratyayā), dificilmente O entenderá. Todavia, quando essa pessoa se eleva à energia espiritual, pode enten­dê-lO. Portanto, na Bhagavad-gītā (18.55), afirma-se que bhaktyā mām abhijānāti yāvān yaś cāsmi tattvataḥ: quem quiser realmente entender a Suprema Personalidade de Deus deve adotar a plataforma de bhakti, ou consciência de Kṛṣṇa. Essa bhakti consiste em várias atividades (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ smaraṇaṁ pāda-sevanam/ arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ sakhyam ātma-nivedanam), e, para entender o Senhor, deve-se trilhar esse caminho de serviço devocio­nal. Muito embora a população do mundo tenha se esquecido de Deus e chegue a dizer que Deus está morto, a verdade é bem dife­rente disso. Todos podem entender Deus quando adotam o movi­mento da consciência de Kṛṣṇa e, assim, podem ser felizes.

Texto

athāgre ṛṣayaḥ karmāṇ-
īhante ’karma-hetave
īhamāno hi puruṣaḥ
prāyo ’nīhāṁ prapadyate

Sinônimos

atha — portanto; agre — no começo; ṛṣayaḥ — todos os ṛṣis ou santos eruditos; karmāṇi — atividades fruitivas; īhante — executam; akarma — ficar livre dos resultados fruitivos; hetave — com o propó­sito de; īhamānaḥ — ocupando nessas atividades; hi — na verdade; puruṣaḥ — uma pessoa; prāyaḥ — quase sempre; anīhām — livrar-se do karma; prapadyate — consegue.

Tradução

Portanto, a fim de capacitar as pessoas para alcançarem a etapa de atividades que não são estigmatizadas pelos resultados fruitivos, grandes santos primeiramente as ocupam em atividades fruitivas, pois, a menos que alguém comece a realizar as atividades recomen­dadas nos śāstras, não poderá alcançar a fase de liberação em que as atividades não produzem reações.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (3.9), o Senhor Kṛṣṇa aconselha que yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ: “Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Viṣṇu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material.” De uma ma­neira geral, todos se sentem atraídos a trabalhar arduamente para se tornarem felizes neste mundo material, mas, embora no mundo inteiro várias atividades sejam exercidas na tentativa de se obter felicidade, essas atividades fruitivas criam apenas problemas. Portanto, aconselha-se que as pessoas ativas se ocupem em ativida­des da consciência de Kṛṣṇa, que são chamadas de yajña, porque, então, elas aos poucos chegarão à plataforma do serviço devocio­nal. Yajña significa Senhor Viṣṇu, o yajña-puruṣa, o desfrutador de todos os sacrifícios (bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram). A Suprema Personalidade de Deus é o verdadeiro desfrutador, de modo que, caso passemos a executar nossas atividades para satisfazê-lO, pouco a pouco deixaremos de sentir gosto por atividades materiais.

Sūta Gosvāmī declarou à grande assembleia de sábios de Naimi­ṣāraṇya:

ataḥ pumbhir dvija-śreṣṭhā
varṇāśrama-vibhāgaśaḥ
svanuṣṭhitasya dharmasya
saṁsiddhir hari-toṣaṇam

“Ó melhor entre os duas vezes nascidos, conclui-se que a perfeição máxima que alguém pode atingir através do processo de executar os seus deveres prescritos [dharma] de acordo com as divisões de castas e ordens de vida consiste em satisfazer o Senhor Hari.” (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.13) Com base nos princípios védicos, todos devem agir conforme a sua classificação como brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya, śūdra, brahmacārī, gṛhastha, vānaprastha ou sannyāsī. Todos devem progredir rumo à perfeição, agindo de maneira tal que Kṛṣṇa fique satisfeito (saṁsiddhir hari-toṣaṇam). Ninguém pode satisfazer Kṛṣṇa permanecendo sentado sem fazer coisa alguma. Se alguém quer realmen­te satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, tem que agir de acordo com as orientações do mestre espiritual. Somente então, pouco a pouco, ele alcançará a fase do serviço devocional puro. Como se confirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.5.12):

naiṣkarmyam apy acyuta-bhāva-varjitaṁ
na śobhate jñānam alaṁ nirañjanam

“O conhecimento da autorrealização, embora livre de toda afinidade material, não parece bom caso desprovido de uma concepção do Infalível [Deus].” Os jñānīs recomen­dam que, nada fazendo, mas simplesmente meditando e pensando no Brahman, a pessoa adote naiṣkarmya, mas isso é impos­sível para quem não compreendeu o Parabrahman, Kṛṣṇa. Se não houver consciência de Kṛṣṇa, toda classe de atividade, seja fi­lantrópica, seja política, seja social, simplesmente causa cativeiro ao tra­balho material, karma-bandhana.

Enquanto alguém estiver enredado em karma-bandhana, terá de aceitar diferentes classes de corpos que carecem da vanta­gem concedida através da forma humana. Portanto, a Bhagavad-gītā (6.3) recomenda karma-yoga:

ārurukṣor muner yogaṁ
karma kāraṇam ucyate
yogārūḍhasya tasyaiva
śamaḥ kāraṇam ucyate

“Afirma-se que para quem é neófito no sistema ióguico óctuplo, o trabalho é o meio; e para quem já está elevado em yoga, a cessação de todas as atividades materiais é considerada o meio.” Todavia:

karmendriyāṇi saṁyamya
ya āste manasā smaran
indriyārthān vimūḍhātmā
mithyācāraḥ sa ucyate

“Aquele que restringe os sentidos da ação, porém, cuja mente continua nos objetos dos sentidos, decerto ilude a si mesmo e é chamado de impostor.” (Bhagavad-gītā 3.6) Quem deseja se tornar plenamente consciente de Kṛṣṇa deve atuar com muita seriedade em favor de Kṛṣṇa, e não ficar apenas sentado, tentando imitar personalidades grandiosas como Haridāsa Ṭhākura. Śrīla Bhaktisiddhānta Saras­vatī Ṭhākura condenava essa imitação. Ele dizia:

duṣṭa mana! tumi kisera vaiṣṇava?
pratiṣṭhāra tare, nirjanera ghare,
tava hari-nāma kevala kaitava

“Minha querida mente, que classe de devoto tu és? Em troca de simples adoração barata, permaneces sentada em um lugar solitário e fazes de conta que estás cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, mas tudo isso é uma farsa.” Recentemente em Māyāpur, um devoto africano quis imitar Haridāsa Ṭhākura, mas, após quinze dias, ficou inquieto e foi embora. Não tentemos inopinadamente imitar Haridāsa Ṭhākura. Você deve se ocupar em atividades conscientes de Kṛṣṇa e, pouco a pouco, chegará à fase de liberação. (muktir hitvānyathā rūpaṁ svarūpeṇa vyavasthitiḥ).

Texto

īhate bhagavān īśo
na hi tatra visajjate
ātma-lābhena pūrṇārtho
nāvasīdanti ye ’nu tam

Sinônimos

īhate — ocupa-Se em atividades de criação, manutenção e aniquilação; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa; īśaḥ — o controlador supremo; na — não; hi — na verdade; tatra — nessas atividades; visajjate — Ele fica enredado; ātma-lābhena — por Seu próprio mérito; pūrṇa-arthaḥ — que é autossatisfeito; na — ­não; avasīdanti — mortificadas; ye — pessoas que; anu — seguem; tam — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

A Suprema Personalidade de Deus é plena de opulências por Seu próprio mérito, e Ele age como o criador, mantenedor e aniquilador deste mundo material. Apesar dessa atitu­de, Ele nunca Se enreda. A partir disso, conclui-se que os devotos que seguem Seus passos jamais se enredam, tal qual o Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma na Bhagavad-gītā (3.9), yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ: “Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Viṣṇu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material.” Se não agirmos em consciência de Kṛṣṇa, ficaremos aprisionados, como bichos-da-seda em seus casu­los. Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, aparece a fim de nos ensi­nar como devemos trabalhar de modo a não nos enredarmos neste mundo material. Nosso verdadeiro problema é que estamos enredados em atividades materiais e, porque somos condiciona­dos, continuamos lutando em diferentes formas de vida, recebendo corpos consecutivos e que sofrem punições na existência material. Como o Senhor diz na Bhagavad-gītā (15.7):

mamaivāṁśo jīva-loke
jīva-bhūtaḥ sanātanaḥ
manaḥ ṣaṣṭhānīndriyāṇi
prakṛti-sthāni karṣati

“As entidades vivas neste mundo condicionado são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente.” As entidades vivas realmente são formas diminutas que são partes integrantes do Senhor Supremo. O Senhor Supre­mo é pleno de tudo, e, originalmente, as pequenas partículas do Senhor também têm as mesmas qualidades dEle, mas, devido à sua existência diminuta, elas se deixam influenciar pela atração material e, assim, enredam-se. Devemos, portanto, seguir as instruções da Suprema Personalidade de Deus e, então, como Kṛṣṇa, que nunca Se enreda em Suas atividades materiais de criação, manutenção e aniquilação, nada teremos a lamentar (nāvasīdanti ye ’nu tam). Kṛṣṇa pessoalmente apresenta instruções na Bhagavad-gītā, e qualquer pessoa que seguir essas instruções estará liberta.

Seguir as instruções de Kṛṣṇa é possível quando o indivíduo é um devoto, pois Kṛṣṇa recomenda que todos devem tornar-se devotos. Man-manā bhava mad-bhakto mad-yājī māṁ namaskuru: “Pensa sempre em Mim e torna-te Meu devoto. Adora-me e oferece-Me tuas homenagens.” (Bhagavad-gītā 18.65) Pensar sempre em Kṛṣṇa significa cantar o mantra Hare Kṛṣṇa, mas apenas poderá adotar esse procedi­mento quem for um devoto iniciado. Tão logo alguém se torna um devoto, ele se ocupa na adoração à Deidade (mad-yājī). Cabe ao devoto oferecer constantes reverências ao Senhor e ao mestre espiritual. Esse princípio é o caminho reconhecido para ele chegar à plataforma de bhakti. Logo que atinge essa plataforma, ele gradualmente entende a Suprema Personalidade de Deus e, pelo simples fato de entender Kṛṣṇa, liberta-se do cativeiro material.

Texto

tam īhamānaṁ nirahaṅkṛtaṁ budhaṁ
nirāśiṣaṁ pūrṇam ananya-coditam
nṝñ śikṣayantaṁ nija-vartma-saṁsthitaṁ
prabhuṁ prapadye ’khila-dharma-bhāvanam

Sinônimos

tam — à mesma Suprema Personalidade de Deus; īhamānam — que está agindo para o nosso benefício; nirahaṅkṛtam — que não Se enreda nem deseja lucros; budham — que tem conhecimento com­pleto; nirāśiṣam — sem desejos de gozar dos frutos de Suas ativida­des; pūrṇam — que é pleno e, portanto, não precisa que Seus desejos sejam satisfeitos; ananya — por outros; coditam — induziu ou inspi­rou; nṝn — toda a sociedade humana; śikṣayantam — a ensinar (o verdadeiro caminho da vida); nija-vartma — Seu método de vida pessoal; saṁsthitam — a estabelecer (sem desvios); prabhum — ao Senhor Supremo; prapadye — peço que todos se rendam; akhila-­dharma-bhāvanam — que é o mestre de todos os princípios religio­sos ou dos deveres ocupacionais próprios de um ser humano.

Tradução

Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, age exatamente como um ser humano comum, mas Ele não deseja gozar dos frutos do trabalho. Ele é pleno de conhecimento, livre de desejos e distra­ções materiais e tem completa independência. Como o supremo preceptor da sociedade humana, Ele ensina Seu próprio método de atividades e, dessa maneira, estabelece o verdadeiro caminho da reli­gião. Solicito a todos que O sigam.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta é a essência do nosso movimento da consciência de Kṛṣṇa. Tudo o que fazemos é pedir à sociedade humana que siga os passos do preceptor da Bhagavad-gītā. “Siga as instruções contidas no Bhagavad-gītā Como Ele É e você será exitoso em sua vida.” Nisso se resume­ o movimento da consciência de Kṛṣṇa. O organizador do movi­mento da consciência de Kṛṣṇa está ensinando a todos como seguir o Senhor Rāmacandra, como seguir o Senhor Kṛṣṇa e como seguir Śrī Caitanya Mahāprabhu. Neste mundo material, precisamos de um líder para uma monarquia ou um bom governo. O Senhor Śrī Rāmacandra, através de Seu exemplo prático, mostrou como alguém deve proceder para viver em benefício de toda a socieda­de humana. Ele lutou com demônios como Rāvaṇa, cumpriu as ordens de Seu pai e permaneceu o esposo fiel de mãe Sītā. Portan­to, são incomparáveis as atividades que o Senhor Rāmacandra de­sempenhou como o rei ideal. Na verdade, as pessoas ainda almejam o rāma-rājya, um governo que tenha a mesma linha de conduta traçada pelo Senhor Rāmacandra. Igualmente, embora seja a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Kṛṣṇa ensinou a Seu discípulo e devoto Arjuna como conduzir uma vida que, ao final, leve a pessoa de volta ao lar, de volta ao Supremo (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti so ’rjuna). Todos os ensinamentos – políticos, econômi­cos, sociais, religiosos, culturais e filosóficos – encontram-se na Bhagavad-gītā. Todos devem segui-los estritamente. A Suprema Personalidade de Deus também vem como o Senhor Caitanya e de­sempenha o papel de um devoto puro. Logo, o Senhor nos transmite diferentes ensinamentos para que, através deles, nossa vida possa tornar-se exitosa, e Svāyambhuva Manu pede que sigamos o Senhor.

Svāyambhuva Manu é o líder da humanidade e, para guiar a so­ciedade humana, ele nos legou um livro chamado Manu-saṁhitā. Nesta passagem, ele nos orienta a seguirmos as diferentes encarna­ções da Suprema Personalidade de Deus. Essas encarnações são descritas na literatura védica, e Jayadeva Gosvāmī fez uma breve descrição de dez importantes encarnações (keśava dhṛta-mīna-śarīra jaya jagad-īśa hare, keśava dhṛta-nara-hari-rūpa jaya jagad-īśa hare, keśava dhṛta-buddha-śarīra jaya jagad-īśa hare etc.). Svāyambhuva Manu nos recomenda seguirmos as instruções das encarnações de Deus, especialmente os ensinamentos que Kṛṣṇa apresenta no Bhagavad-gītā Como Ele É.

Apreciando a maneira como Śrī Caitanya Mahāprabhu ensinou bhakti-mārga, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya faz a seguinte descrição das atividades de Śrī Caitanya Mahāprabhu:

vairāgya-vidyā-nija-bhakti-yoga-
śikṣārtham ekaḥ puruṣaḥ purāṇaḥ
śrī-kṛṣṇa-caitanya-śarīra-dhārī
kṛpāmbudhir yas tam ahaṁ prapadye

“Que eu me refugie na Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, que fez Seu advento sob a forma do Senhor Caitanya Mahāprabhu para nos ensinar o verdadeiro conhecimento – Seu serviço de­vocional –, bem como para nos desapegar de tudo aquilo que não fomenta a consciência de Kṛṣṇa. Ele fez Seu advento porque é um oceano de misericórdia transcendental. Que eu me renda aos Seus pés de lótus.” (Caitanya-candrodaya-nāṭaka 6.74) Nesta era de Kali, as pessoas não conseguem obedecer às instruções da Suprema Perso­nalidade de Deus, de modo que o próprio Senhor assume o papel de Śrī Kṛṣṇa Caitanya a fim de ensinar pessoalmente como alguém deve proceder para se tornar consciente de Kṛṣṇa. Ele pede que todos O sigam e se tornem gurus para libertar as almas que, em Kali-yuga, estão caídas.

yāre dekha, tāre kaha ‘kṛṣṇa’-upadeśa
āmāra ājñāya guru hañā tāra’ ei deśa

“Instrui todos a seguirem as ordens que o Senhor Śrī Kṛṣṇa apresentou na Bhagavad-gītā e no Śrīmad-Bhāgavatam. Dessa manei­ra, torna-te um mestre espiritual e esforça-te por libertar todas as pessoas desta terra.” (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 7.128) O propósito comum do Senhor Rāmacandra, do Senhor Kṛṣṇa e do Senhor Caitanya Mahāprabhu é ensinar a sociedade humana a como ser feliz seguindo as instruções do Senhor Supremo.

Texto

śrī-śuka uvāca
iti mantropaniṣadaṁ
vyāharantaṁ samāhitam
dṛṣṭvāsurā yātudhānā
jagdhum abhyadravan kṣudhā

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; iti — assim; mantra-upaniṣadam — o mantra védico (proferido por Svāyambhuva Manu); vyāharantam — ensinado ou cantado; samāhitam — con­centrou a mente (sem se deixar agitar pelas condições materiais); dṛṣṭvā — ao verem (a ele); asurā — os demônios; yātudhānāḥ — os Rākṣasas; jagdhum — desejaram devorar; abhyadravan — correndo em grande velocidade; kṣudhā — para satisfazer seu apetite.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Svāyambhuva Manu estava, então, em um transe, cantando os mantras de instrução védica co­nhecidos como as Upaniṣads. Ao verem-no, os Rākṣasas e os asuras, estando famintos, quiseram devorá-lo. Portanto, perseguiram-no com grande velocidade.

Texto

tāṁs tathāvasitān vīkṣya
yajñaḥ sarva-gato hariḥ
yāmaiḥ parivṛto devair
hatvāśāsat tri-viṣṭapam

Sinônimos

tān — os demônios e os Rākṣasas; tathā — dessa maneira; avasi­tān — que estavam determinados a devorar Svāyambhuva Manu; vīkṣya — ao perceber; yajñaḥ — Senhor Viṣṇu, conhecido como Yajña; sarva-gataḥ — que está situado no coração de todos; hariḥ — a Suprema Personalidade de Deus; yāmaiḥ — com Seus filhos chamados Yāmas; parivṛtaḥ — cercado; devaiḥ — pelos semideuses; hatvā — após matar (os demônios); aśāsat — governou (assumindo o posto de Indra); tri-viṣṭapam — os planetas celestiais.

Tradução

O Senhor Supremo, Viṣṇu, que está situado no coração de todos, apareceu como Yajñapati e percebeu que os Rākṣasas e demônios estavam decididos a devorar Svāyambhuva Manu. Então, o Senhor, acompanhado de Seus filhos chamados Yāmas e de todos os outros semideuses, matou os demônios e os Rākṣasas. Em seguida, assumiu o posto de Indra e passou a governar o reino celestial.

Comentário

SIGNIFICADO—Os vários nomes dos semideuses – senhor Brahmā, senhor Śiva, senhor Indra e assim por diante – não são nomes pessoais; eles designam diferentes postos. Nesse caso, entendemos que, quando não há uma pessoa adequada para ocupar esses postos, o Senhor Viṣṇu, às vezes, torna-Se Brahmā ou Indra.

Texto

svārociṣo dvitīyas tu
manur agneḥ suto ’bhavat
dyumat-suṣeṇa-rociṣmat
pramukhās tasya cātmajāḥ

Sinônimos

svārociṣaḥ — Svārociṣa; dvitīyaḥ — o segundo; tu — na verdade; manuḥ — Manu; agneḥ — de Agni; sutaḥ — o filho; abhavat — tornou-se; dyumat — Dyumat; suṣeṇa — Suṣeṇa; rociṣmat — Rociṣmat; pramu­khāḥ — começando com eles; tasya — dele (Svārociṣa); ca — também; ātma-jāḥ — filhos.

Tradução

O filho de Agni chamado Svārociṣa se tornou o segundo Manu. Seus diversos filhos eram encabeçados por Dyumat, Suṣeṇa e Ro­ciṣmat.

Comentário

manvantaraṁ manur devā
manu-putrāḥ sureśvaraḥ
ṛṣayo ’ṁśāvatāraś ca
hareḥ ṣaḍ vidham ucyate

Existem muitas encarnações da Suprema Personalidade de Deus. Manu, os manu-putrāḥ (os filhos de Manu), o rei dos planetas celestiais e os sete grandes sábios, todos eles são encarnações parciais do Senhor Supremo. O próprio Manu, seus filhos Priyavrata e Uttānapāda, os semideuses criados por Dakṣa, e os ṛṣis, tais como Marīci, eram todos encarnações parciais do Senhor durante o reinado de Svāyambhuva Manu. Durante aquela época, a encarna­ção do Senhor conhecida como Yajña encarregou-Se de governar os planetas celestiais. O próximo Manu foi Svārociṣa. Os Manus, os sábios e os semideuses continuam sendo descritos nos onze versos seguintes.

Texto

tatrendro rocanas tv āsīd
devāś ca tuṣitādayaḥ
ūrja-stambhādayaḥ sapta
ṛṣayo brahma-vādinaḥ

Sinônimos

tatra — neste manvantara; indraḥ — Indra; rocanaḥ — Rocana, o filho de Yajña; tu — mas; āsīt — tornaram-se; devāḥ — semideuses; ca — também; tuṣita-ādayaḥ — Tuṣita e outros; ūrja — Ūrja; stambha — Stambha; ādayaḥ — e outros; sapta — sete; ṛṣayaḥ — grandes santos; brahma-vādinaḥ — todos devotos fiéis.

Tradução

Durante o reinado de Svārociṣa, o posto de Indra foi assumido por Rocana, o filho de Yajña. Tuṣita e outros se tornaram os principais semideuses, e Ūrja, Stambha e outros se tornaram os sete santos. Todos eles eram fiéis devotos do Senhor.

Texto

ṛṣes tu vedaśirasas
tuṣitā nāma patny abhūt
tasyāṁ jajñe tato devo
vibhur ity abhiviśrutaḥ

Sinônimos

ṛṣeḥ — da pessoa santa; tu — na verdade; vedaśirasaḥ — Vedaśirā; tuṣitā — Tuṣitā; nāma — chamada; patnī — a esposa; abhūt — gerou; tasyām — dela (no ventre); jajñe — nasceu; tataḥ — em seguida; devaḥ — o Senhor; vibhuḥ — Vibhu; iti — assim; abhiviśrutaḥ — célebre como.

Tradução

Vedaśirā era um ṛṣi muito célebre. No ventre de sua esposa, cujo nome era Tuṣitā, surgiu o avatāra chamado Vibhu.

Texto

aṣṭāśīti-sahasrāṇi
munayo ye dhṛta-vratāḥ
anvaśikṣan vrataṁ tasya
kaumāra-brahmacāriṇaḥ

Sinônimos

aṣṭāśīti — oitenta e oito; sahasrāṇi — mil; munayaḥ — grandes santos; ye — aqueles que; dhṛta-vratāḥ — fixos em votos; anvaśikṣan — receberam instruções; vratam — votos; tasya — dele (Vibhu); kau­māra — que não era casado; brahmacāriṇaḥ — e fixo na fase de vida de brahmacārī.

Tradução

Vibhu permaneceu brahmacārī e jamais se casou em toda a sua vida. Outros oitenta e oito mil santos receberam dele lições sobre autocontrole, austeridade e comportamento dentro dessa mesma linha.

Texto

tṛtīya uttamo nāma
priyavrata-suto manuḥ
pavanaḥ sṛñjayo yajña-
hotrādyās tat-sutā nṛpa

Sinônimos

tṛtīyaḥ — o terceiro; uttamaḥ — Uttama; nāma — chamado; priya­vrata — do rei Priyavrata; sutaḥ — o filho; manuḥ — tornou-se o Manu; pavanaḥ — Pavana; sṛñjayaḥ — Sṛñjaya; yajñahotra-ādyāḥ — Yajñahotra e outros; tat-sutāḥ — os filhos de Uttama; nṛpa — ó rei.

Tradução

Ó rei, o terceiro Manu, Uttama, era filho do rei Priyavrata. Entre os filhos deste Manu, estavam Pavana, Sṛñjaya e Yajñahotra.

Texto

vasiṣṭha-tanayāḥ sapta
ṛṣayaḥ pramadādayaḥ
satyā vedaśrutā bhadrā
devā indras tu satyajit

Sinônimos

vasiṣṭha-tanayāḥ — os filhos de Vasiṣṭha; sapta — sete; ṛṣayaḥ — os sábios; pramada-ādayaḥ — liderados por Pramada; satyāḥ — os Satyas; vedaśrutāḥ — os Vedaśrutas; bhadrāḥ — os Bhadras; devāḥ — semideuses; indraḥ — o rei dos céus; tu — mas; satyajit — Satyajit.

Tradução

Durante o reinado do terceiro Manu, Pramada e outros filhos de Vasiṣṭha se tornaram os sete sábios. Os Satyas, os Vedaśrutas e os Bhadras se tornaram semideuses, e Satyajit foi escolhido para ser Indra, o rei dos céus.

Texto

dharmasya sūnṛtāyāṁ tu
bhagavān puruṣottamaḥ
satyasena iti khyāto
jātaḥ satyavrataiḥ saha

Sinônimos

dharmasya — do semideus encarregado da religião; sūnṛtāyām — no ventre de sua esposa chamada Sūnṛtā; tu — na verdade; bha­gavān — a Suprema Personalidade de Deus; puruṣa-uttamaḥ — a Suprema Personalidade de Deus; satyasenaḥ — Satyasena; iti­ — assim; khyātaḥ — festejado; jātaḥ — nasceu; satyavrataiḥ — os Satya­vratas; saha — com.

Tradução

Neste manvantara, a Suprema Personalidade de Deus apareceu do ventre de Sūnṛtā, que era a esposa de Dharma, o semideus encarregado da religião. O Senhor, que era celebrado como Satyasena, apareceu com outros semideuses, conhecidos como Satyavratas.

Texto

so ’nṛta-vrata-duḥśīlān
asato yakṣa-rākṣasān
bhūta-druho bhūta-gaṇāṁś
cāvadhīt satyajit-sakhaḥ

Sinônimos

saḥ — Ele (Satyasena); anṛta-vrata — que gostam de falar menti­ras; duḥśīlān — de comportamento inadequado; asataḥ — canalhas; yakṣa-rākṣasān — Yakṣas e Rākṣasas; bhūta-druhaḥ — que são sempre contra o pro­gresso de outros seres vivos; bhūta-gaṇān — as entidades vivas fantasmagóricas; ca — também; avadhīt — matou; satyajit-sakhaḥ — com Seu amigo Satyajit.

Tradução

Satyasena, juntamente com Seu amigo Satyajit, que era o rei dos céus, Indra, matou todos os mentirosos, ímpios e malcomportados Yakṣas, Rākṣasas e entidades vivas fantasmagóricas, os quais infligiam dores aos outros seres vivos.

Texto

caturtha uttama-bhrātā
manur nāmnā ca tāmasaḥ
pṛthuḥ khyātir naraḥ ketur
ity ādyā daśa tat-sutāḥ

Sinônimos

caturtha — o quarto Manu; uttama-bhrātā — o irmão de Uttama; manuḥ — tornou-se o Manu; nāmnā — chamado; ca — também; tāmasaḥ — Tāmasa; pṛthuḥ — Pṛthu; khyātiḥ — Khyāti; naraḥ — Nara; ketuḥ — Ketu; iti — assim; ādyāḥ — encabeçados por; daśa — dez; tat-­sutāḥ — filhos de Tāmasa Manu.

Tradução

O irmão do terceiro Manu, Uttama, era denominado Tāmasa, e se tornou o quarto Manu. Tāmasa teve dez filhos, encabeçados por Pṛthu, Khyāti, Nara e Ketu.

Texto

satyakā harayo vīrā
devās triśikha īśvaraḥ
jyotirdhāmādayaḥ sapta
ṛṣayas tāmase ’ntare

Sinônimos

satyakāḥ — os Satyakas; harayaḥ — os Haris; vīrāḥ — os Vīras; devāḥ — os semideuses; triśikhaḥ — Triśikha; īśvaraḥ — o rei dos céus; jyotirdhāma-ādayaḥ — encabeçados pelo célebre Jyotirdhāma; sapta — sete; ṛṣayaḥ — sábios; tāmase — o reinado de Tāmasa Manu; antare — dentro de.

Tradução

Durante o reinado de Tāmasa Manu, entre os semideuses, incluíam-se Satyakas, Haris e Vīras. O rei celestial, Indra, era Triśikha. Os sábios em saptarṣi-dhāma eram encabeçados por Jyo­tirdhāma.

Texto

devā vaidhṛtayo nāma
vidhṛtes tanayā nṛpa
naṣṭāḥ kālena yair vedā
vidhṛtāḥ svena tejasā

Sinônimos

devāḥ — os semideuses; vaidhṛtayaḥ — Vaidhṛtis; nāma — chama­dos de; vidhṛteḥ — de Vidhṛti; tanayāḥ — que eram os filhos; nṛpa — ó rei; naṣṭāḥ — extraviaram-se; kālena — pela influência do tempo; yaiḥ — por quem; vedā — os Vedas; vidhṛtāḥ — foram protegidos; svena — mediante seu próprio; tejasā — poder.

Tradução

Ó rei, no manvantara de nome Tāmasa, os filhos de Vidhṛti, que eram conhecidos como Vaidhṛtis, também se tornaram semideuses. Uma vez que, no decorrer do tempo, a autoridade védica foi prete­rida, esses semideuses, mediante seus próprios poderes, protegeram a autoridade védica.

Comentário

SIGNIFICADO—No manvantara chamado Tāmasa, havia duas classes de semideuses, uma das quais era conhecida como Vaidhṛtis. É dever dos semideuses proteger a autoridade dos Vedas. A palavra devatā se refere a alguém que aceita a autoridade dos Vedas, ao passo que os Rākṣasas desa­fiam a autoridade védica. Se a autoridade dos Vedas se perde, todo o universo se torna caótico. Portanto, é dever dos semideuses, bem como dos reis e assistentes governamentais, dar plena proteção à autoridade védica; caso contrário, a sociedade humana será exposta a uma condição caótica, na qual não será possível que haja paz ou prosperidade.

Texto

tatrāpi jajñe bhagavān
hariṇyāṁ harimedhasaḥ
harir ity āhṛto yena
gajendro mocito grahāt

Sinônimos

tatrāpi — naquele período; jajñe — apareceu; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; hariṇyām — no ventre de Hariṇī; harime­dhasaḥ — gerado por Harimedhā; hariḥ — Hari; iti — assim; āhṛtaḥ — chamado; yena — por quem; gaja-indraḥ — o rei dos elefantes; mo­citaḥ — foi liberto; grahāt — da boca de um crocodilo.

Tradução

Também neste manvantara, o Senhor Supremo, Viṣṇu, nasceu do ventre de Hariṇī, a esposa de Harimedhā, e era conhecido como Hari. Hari salvou da boca de um crocodilo o Seu devoto Gajendra, o rei dos elefantes.

Texto

śrī-rājovāca
bādarāyaṇa etat te
śrotum icchāmahe vayam
harir yathā gaja-patiṁ
grāha-grastam amūmucat

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — o rei Parīkṣit disse; bādarāyaṇe — ó filho de Bāda­rāyaṇa (Vyāsadeva); etat — isto; te — de ti; śrotum icchāmahe — desejamos ouvir; vayam — nós; hariḥ — o Senhor Hari; yathā — a maneira pela qual; gaja-patim — o rei dos elefantes; grāha-grastam — quando atacado pelo crocodilo; amūmucat — libertou.

Tradução

O rei Parīkṣit disse: Meu senhor, Bādarāyaṇi, desejamos que nos contes minuciosamente como o rei dos elefantes, tendo sido atacado por um crocodilo, foi liberto por Hari.

Texto

tat-kathāsu mahat puṇyaṁ
dhanyaṁ svastyayanaṁ śubham
yatra yatrottamaśloko
bhagavān gīyate hariḥ

Sinônimos

tat-kathāsu — naquelas narrações; mahat — grandiosas; puṇyam — piedosas; dhanyam — gloriosas; svastyayanam — auspiciosas; śubham — inteiramente sublimes; yatra — sempre que; yatra — onde quer que; uttamaślokaḥ — o Senhor, que é conhecido como Ut­tamaśloka (aquele que é descrito na literatura transcendental); bha­gavān — a Suprema Personalidade de Deus; gīyate — é glorificado; hariḥ — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Toda literatura ou narração que descreve e glorifica a Supre­ma Personalidade de Deus, Uttamaśloka, decerto é notável, pura, ilustre, auspiciosa e inteiramente sublime.

Comentário

SIGNIFICADO—Pelo simples fato de descrever Kṛṣṇa, o movimento da consciência de Kṛṣṇa está se espalhando pelo mundo inteiro. Publicamos muitos livros, incluindo dezessete volumes do Śrī Caitanya-caritāmṛta em inglês, cada um deles com quatrocentas páginas, bem como a Bhagavad-gītā e o Néctar da Devoção. Também estamos publi­cando o Śrīmad-Bhāgavatam em sessenta volumes. Onde quer que um orador discorra sobre esses livros e uma audiência o ouça, isso criará uma situação boa e auspiciosa. Portanto, a pregação da cons­ciência de Kṛṣṇa deve ser feita muito cuidadosamente pelos membros do movimento da consciência de Kṛṣṇa, em especial pelos sannyāsīs. Isso criará uma atmosfera auspiciosa.

Texto

śrī-sūta uvāca
parīkṣitaivaṁ sa tu bādarāyaṇiḥ
prāyopaviṣṭena kathāsu coditaḥ
uvāca viprāḥ pratinandya pārthivaṁ
mudā munīnāṁ sadasi sma śṛṇvatām

Sinônimos

śrī-sūtaḥ uvāca — Śrī Sūta Gosvāmī disse; parīkṣitā — por Mahā­rāja Parīkṣit; evam — assim; saḥ — ele; tu — na verdade; bādarāyaṇiḥ — Śukadeva Gosvāmī; prāya-upaviṣṭena — Parīkṣit Mahārāja, que aguardava a morte iminente; kathāsu — com as palavras; codi­taḥ — sentindo-se animado; uvāca — falou; viprāḥ — ó brāhmaṇas; pratinandya — após congratular; pārthivam — Mahārāja Parīkṣit; mudā — com grande prazer; munīnām — dos grandes sábios; sadasi — na assembleia; sma — na verdade; śṛṇvatām — que desejavam ouvir.

Tradução

Śrī Sūta Gosvāmī disse: Ó brāhmaṇas, quando Parīkṣit Mahārāja, que aguardava a morte iminente, pediu a Śukadeva Gosvāmī que falasse, Śukadeva Gosvāmī, sentindo-se animado com as palavras do rei, ofereceu respeitos ao rei e, com grande prazer, falou na assembleia de sábios, os quais desejavam ouvi-lo.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do oitavo canto, primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Os Manus, os Administradores do Universo”.