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CAPÍTULO DEZENOVE

Kṛṣṇa Engole o Incêndio da Floresta

Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa salvou as vacas e os vaqueirinhos de um grande incêndio na floresta Muñjāraṇya.

Certo dia, estando absortos na brincadeira, os vaqueirinhos deixa­ram as vacas adentrar uma densa floresta. De repente, irrompeu um incêndio na floresta, e, para escapar das chamas, as vacas se refugia­ram em um bosque de bambus pontiagudos. Quando deram pela falta dos animais, os vaqueirinhos saíram a procurá-los, seguindo suas pe­gadas e a trilha de folhas de relva e outras plantas que eles, com os dentes, tinham pisado ou quebrado. Os meninos enfim encontraram as vacas e as retiraram do bambuzal, mas, nesse momento, o incêndio da floresta ficara forte demais e ameaçava os meninos e as vacas. Então, os vaqueirinhos se refugiaram em Śrī Kṛṣṇa, o mestre de todo o poder místico, que lhes disse que fechassem os olhos. Eles assim o fizeram, e, em um momento, o Senhor havia engolido o aterrador incên­dio da floresta e levado todos de volta à árvore Bhāṇḍīra men­cionada no último capítulo. Ao verem essa maravilhosa exibição de potência mística, os vaqueirinhos pensaram que Kṛṣṇa devia ser um semideus, e começaram a louvá-lO. Então, todos eles voltaram para casa.

VERSO 1:
Śukadeva Gosvāmī disse: Enquanto os vaqueirinhos estavam completamente absortos em brincar, suas vacas se desgarraram para longe. Famintas, elas desejavam mais capim e, sem ninguém para cuidar delas, entraram em uma densa floresta.
VERSO 2:
Passando de uma parte da grande floresta para outra, os bodes, vacas e búfalos acabaram entrando em uma área onde havia muitos bambus pontiagudos. O calor de um incêndio na floresta próxi­ma deixou-os sedentos e eles começaram a berrar aflitos.
VERSO 3:
Não vendo as vacas nos arredores, Kṛṣṇa, Rāma e Seus amigos vaqueirinhos de repente sentiram-se arrependidos por terem-se descuidado delas. Os meninos procuraram por toda parte, mas não puderam descobrir para onde tinham ido.
VERSO 4:
Então, os meninos começaram a rastrear a trilha das vacas observando suas pegadas e as folhas de capim que elas tinham quebrado com seus cascos e dentes. Todos os vaqueirinhos esta­vam em grande ansiedade porque haviam perdido seu meio de vida.
VERSO 5:
Dentro da floresta Muñjā, os vaqueirinhos enfim encontraram suas valiosas vacas, que tinham se perdido e estavam a berrar. Então, os meninos, sedentos e cansados, conduziram as vacas ao caminho de volta para casa.
VERSO 6:
Com uma voz que ressoava como uma nuvem trovejante, a Suprema Personalidade de Deus chamava os animais. Ouvindo o som de seus próprios nomes, as vacas eram tomadas de alegria e berravam em resposta ao Senhor.
VERSO 7:
De súbito, apareceu de todos os lados um grande incêndio na floresta, ameaçando destruir todas as criaturas silvestres. Como um quadrigário, o vento levava o fogo avante, e terríveis labare­das irrompiam em todas as direções. De fato, o grande incêndio estendia suas línguas flamejantes em direção a todas as criaturas móveis e inertes.
VERSO 8:
Quando as vacas e os vaqueirinhos, de olhos arregalados, olha­ram para o incêndio da floresta que os atacava de todos os lados, eles ficaram assustados. Os meninos, então, aproximaram-se de Kṛṣṇa e Balarāma em busca de abrigo, assim como aqueles perturbados pelo medo da morte aproximam-se da Suprema Per­sonalidade de Deus. Os meninos dirigiram-Lhes as seguintes pa­lavras.
VERSO 9:
[Os vaqueirinhos disseram:] Ó Kṛṣṇa! Kṛṣṇa! Ó poderosíssimo! Ó Rāma! Tu cujo poder jamais fracassa! Por favor, salva Teus devotos que estão prestes a serem queimados por este incêndio na floresta e vieram refugiar-se em Ti!
VERSO 10:
Kṛṣṇa! Teus próprios amigos decerto não devem ser destruí­dos. Ó conhecedor da natureza de todas as coisas, nós Te aceita­mos como nosso Senhor e somos almas rendidas a Ti!
VERSO 11:
Śukadeva Gosvāmī disse: Ouvindo essas palavras lastimosas de Seus amigos, o Supremo Senhor Kṛṣṇa lhes disse: “Apenas fechai os olhos e não temais.”
VERSO 12:
“Tudo bem”, responderam os meninos, e imediatamente fe­charam os olhos. Então, o Senhor Supremo, o mestre de todo o poder místico, abriu a boca e engoliu o terrível fogo, salvando Seus amigos do perigo.
VERSO 13:
Os vaqueirinhos abriram os olhos e ficaram atônitos ao descobrir que eles e as vacas não só haviam se salvado do terrível incêndio, mas também tinham sido levados de volta à árvore Bhāṇḍīra.
VERSO 14:
Quando viram que tinham sido salvos do incêndio da floresta pelo poder místico do Senhor, o qual se manifesta mediante Sua potência interna, os vaqueirinhos começaram a pensar que Kṛṣṇa devia ser um semideus.
VERSO 15:
Agora já chegara o fim da tarde, e o Senhor Kṛṣṇa, acompa­nhado por Balarāma, levou as vacas de volta para casa. Tocando Sua flauta de uma maneira especial, Kṛṣṇa regressou à vila pastoril em companhia de Seus amigos vaqueiros, que cantavam Suas glórias.
VERSO 16:
As jovens gopīs sentiram completo prazer ao verem Govinda [Kṛṣṇa] voltar para casa, dado que, para elas, até mesmo um momen­to sem Sua associação parecia uma centena de eras.