Capítulo Dezessete
Os Passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu em Sua juventude
Este capítulo dezessete, como é resumido por Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, descreve os passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu desde Seus dezesseis anos até a época em que Ele aceitou a ordem de vida renunciada. Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura já descreveu vividamente esses passatempos no Caitanya-bhāgavata. Portanto, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī descreve-os apenas brevemente. No entanto, vamos encontrar neste capítulo descrições vívidas de algumas partes de Seus passatempos, pois Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura não as descreveu exaustivamente.
Neste capítulo, encontraremos descrições do festival de distribuição de manga e das conversas do Senhor Caitanya com Chand Kazi. Finalmente, o capítulo mostra que o mesmo filho de mãe Yaśodā, o Senhor Kṛṣṇa, saboreou quatro doçuras transcendentais de serviço devocional em Sua forma de Śacīnandana, o filho de mãe Śacī. Para entender o amor extático de Śrīmatī Rādhārāṇī por Ele, o Senhor Śrī Kṛṣṇa assumiu a forma do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Considera-se a atitude de Śrīmatī Rādhārāṇī como a atitude devocional sobreexcelente. Como Caitanya Mahāprabhu, o próprio Kṛṣṇa assumiu a posição de Śrīmatī Rādhārāṇī para saborear a condição extática dEla. Ninguém mais poderia fazer isso.
Quando Śrī Kṛṣṇa assumiu a forma de quatro braços, Nārāyaṇa, as gopīs prestaram-Lhe suas reverências, mas não ficaram muito interessadas nEle. No amor extático das gopīs, ficam rejeitadas todas as formas adoráveis, exceto Kṛṣṇa. Entre todas as gopīs, Śrīmatī Rādhārāṇī tem o amor extático supremo. Quando Kṛṣṇa, em Sua forma de Nārāyaṇa, viu Rādhārāṇī, Ele não conseguiu manter Sua posição de Nārāyaṇa, e novamente assumiu a forma de Kṛṣṇa.
O rei de Vrajabhūmi é Nanda Mahārāja, e a mesma pessoa em Navadvīpa é Jagannātha Miśra, o pai de Caitanya Mahāprabhu. De modo similar, mãe Yaśodā é a rainha de Vrajabhūmi e, nos passatempos do Senhor Caitanya, ela é Śacīmātā. Portanto, o filho de Śacī é o filho de Yaśodā. Śrī Nityānanda ocupa uma posição extática de amor paternal em servidão e atração fraternal. Śrī Advaita Prabhu manifesta tanto o êxtase de fraternidade quanto o de servo. Todos os outros associados do Senhor, situados em seu amor original, dedicam-se a servir o Senhor Caitanya Mahāprabhu.
A mesma Verdade Absoluta que Se diverte como Kṛṣṇa, Śyāmasundara, que toca Sua flauta e dança com as gopīs, nasce às vezes em família de brāhmaṇas e faz o papel de Śrī Caitanya Mahāprabhu, aceitando a ordem de vida renunciada. Parece contraditório que o mesmo Kṛṣṇa tivesse aceitado o êxtase das gopīs, e, naturalmente, é muito difícil que uma pessoa comum entenda isso. Porém, se aceitarmos a energia inconcebível da Suprema Personalidade de Deus, poderemos compreender que tudo é possível. Não há necessidade de argumentos mundanos a esse respeito, pois argumentos mundanos não fazem sentido no que diz respeito à potência inconcebível.
No final deste capítulo dezessete, Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, seguindo os passos de Śrīla Vyāsadeva, analisa todos os passatempos da Ādi-līlā separadamente.
Texto
caitanyaṁ yat-prasādataḥ
yavanāḥ sumanāyante
kṛṣṇa-nāma-prajalpakāḥ
Sinônimos
vande — ofereço minhas respeitosas reverências; svaira — inteiramente independente; adbhuta — e incomuns; īham — cujas atividades; tam — a Ele; caitanyam — Śrī Caitanya Mahāprabhu; yat — de quem; prasādataḥ — pela misericórdia; yavanāḥ — mesmo os sujos; sumanāyante — transformam-se em cavalheiros; kṛṣṇa-nāma — do santo nome do Senhor Kṛṣṇa; prajalpakāḥ — adotando o cantar.
Tradução
Ofereço minhas respeitosas reverências a Śrī Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo yavanas sujos tornam-se cavalheiros muito bem educados, cantando o santo nome do Senhor. Tal é o poder do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Comentário
SIGNIFICADO—Há um desentendimento persistente entre os brāhmaṇas de casta e os vaiṣṇavas ou gosvāmīs avançados, pois os brāhmaṇas de casta, ou smārtas, são da opinião de que um não-brāhmaṇa só pode tornar-se brāhmaṇa se muda de corpo. Como discutimos diversas vezes, deve-se entender que, pela potência supremamente poderosa do Senhor, como Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī descreveu, tudo é possível. Caitanya Mahāprabhu tem tão plena independência quanto Kṛṣṇa. Portanto, ninguém pode interferir em Suas atividades. Se Ele quiser, mesmo um yavana, um seguidor sujo de princípios não-védicos, poderá, por Sua misericórdia, converter-se em um cavalheiro perfeitamente bem comportado. É isso o que está realmente acontecendo em nossa propagação do movimento para a consciência de Kṛṣṇa. Os membros do atual movimento para a consciência de Kṛṣṇa não nasceram na Índia, nem pertencem à cultura védica, mas, dentro do curto período de quatro ou cinco anos, eles se tornaram devotos tão maravilhosos, simplesmente por cantarem o mantra Hare Kṛṣṇa, que mesmo na Índia eles são bem recebidos como vaiṣṇavas perfeitamente bem comportados em qualquer parte.
Embora pessoas menos inteligentes não possam compreender tal coisa, esse é o poder especial do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Na verdade, o corpo de uma pessoa consciente de Kṛṣṇa muda de muitas maneiras. Mesmo nos Estados Unidos, quando nossos devotos cantam nas ruas, as senhoras e os cavalheiros americanos lhes perguntam se são realmente americanos. Isso porque ninguém poderia esperar que americanos se tornassem devotos tão bons e tão repentinamente. Inclusive, sacerdotes cristãos estão muito surpresos diante do fato de que todos esses rapazes de famílias judias e cristãs tenham se juntado a este movimento para a consciência de Kṛṣṇa. Antes de se integrarem a este movimento, nunca haviam respeitado seriamente quaisquer princípios de religião. Agora, porém, tornaram-se devotos sinceros do Senhor. Em toda parte, as pessoas expressam esse espanto, e temos grande orgulho do comportamento transcendental de nossos estudantes. Contudo, tais maravilhas só são possíveis pela misericórdia de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Não são maravilhas comuns ou mundanas.
Texto
jayādvaitacandra jaya gaura-bhakta-vṛnda
Sinônimos
jaya jaya — todas as glórias; śrī-caitanya — ao Senhor Caitanya Mahāprabhu; jaya — todas as glórias; nityānanda — ao Senhor Nityānanda Prabhu; jaya advaita-candra — todas as glórias a Advaita Ācārya; jaya gaura-bhakta-vṛnda — todas as glórias aos devotos do Senhor Caitanya.
Tradução
Todas as glórias ao Senhor Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda Prabhu! Todas as glórias a Advaita Ācārya! E todas as glórias aos devotos do Senhor Caitanya!
Texto
yauvana-līlāra sūtra kari anukrama
Sinônimos
kaiśora-līlāra — das atividades antes de Sua juventude; sūtra — sinopse; karila — tenho feito; gaṇana — narração; yauvana-līlāra — dos passatempos juvenis; sūtra — sinopse; kari — enumero; anukrama — em ordem cronológica.
Tradução
Acabo de dar uma sinopse da kaiśora-līlā de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Agora, narrarei Seus passatempos juvenis em ordem cronológica.
Texto
sambhoga-nṛtya-kīrtanaiḥ
prema-nāma-pradānaiś ca
gauro dīvyati yauvane
Sinônimos
vidyā — educação; saundarya — beleza; sat-veśa — boas roupas; sambhoga — desfrute; nṛtya — dançando; kīrtanaiḥ — cantando; prema-nāma — o santo nome do Senhor, que nos induz a nos tornarmos devotos; pradānaiś — distribuindo; ca — e; gauraḥ — Senhor Śrī Gaurasundara; dīvyati — ilumina; yauvane — em Sua juventude.
Tradução
Demonstrando Sua erudição, beleza e boas roupas, o Senhor Caitanya dançava, cantava e distribuía o santo nome do Senhor para despertar o amor adormecido a Kṛṣṇa. Assim, o Senhor Śrī Gaurasundara brilhou em Seus passatempos juvenis.
Texto
divya vastra, divya veśa, mālya-candana
Sinônimos
yauvana-praveśe — no despontar de Sua juventude; aṅgera — do corpo; aṅga — membros; vibhūṣaṇa — ornamentos; divya — transcendentais; vastra — trajes; divya — transcendentais; veśa — roupas; mālya — guirlanda; candana — (untado com) polpa de sândalo.
Tradução
Ao ingressar em Sua juventude, o Senhor Se decorou com ornamentos, vestiu-Se com boas roupas, enguirlandou-Se com flores e untou-Se com sândalo.
Texto
sakala paṇḍita jini’ kare adhyāpana
Sinônimos
vidyāra auddhatye — por ter orgulho da educação; kāhoṅ — qualquer pessoa; nā — não; kare — faz; gaṇana — atenção; sakala — todos; paṇḍita — estudiosos eruditos; jini’ — derrotando; kare — faz; adhyāpana — estudos.
Tradução
Movido pelo orgulho de Sua formação, Śrī Caitanya Mahāprabhu, não Se importando com mais ninguém, derrotou toda espécie de estudiosos eruditos enquanto Se dedicava aos estudos.
Texto
bhakta-gaṇa lañā kaila vividha vilāsa
Sinônimos
vāyu-vyādhi — doença causada por distúrbios nos ares do corpo; chale — sob o pretexto de; kaila — fez; prema — amor a Deus; parakāśa — manifestação; bhakta-gaṇa — os devotos; lañā — levando consigo; kaila — fez; vividha — variedades de; vilāsa — passatempos.
Tradução
Em Sua juventude, o Senhor manifestou Seu amor extático por Kṛṣṇa, sob o pretexto de sofrer de distúrbios nos ares do corpo. Acompanhado por Seus devotos íntimos, gozou de diversos passatempos dessa maneira.
Comentário
SIGNIFICADO—Segundo o tratamento do āyurveda, todo o sistema fisiológico é conduzido por três elementos, a saber, vāyu, pitta e kapha (ar, bílis e muco). As secreções dentro do corpo transformam-se em outras secreções, como sangue, urina e fezes, mas, se há distúrbios no metabolismo, as secreções transformam-se em kapha (muco) pela influência do ar que circula dentro do corpo. Segundo o sistema do āyurveda, quando a secreção de bílis e formação de muco perturbam o ar que circula dentro do corpo, podem ocorrer cinquenta e nove variedades de doenças. Uma dessas doenças é a loucura.
Sob o pretexto de sofrer de distúrbios nos ares do corpo e em seu metabolismo, Śrī Caitanya Mahāprabhu agia como se fosse louco. Assim, em Sua escola, começou a explicar a gramática dos verbos por intermédio da consciência de Kṛṣṇa. Explicando que tudo em gramática tem relação com Kṛṣṇa, o Senhor induzia Seus alunos a absterem-se da educação mundana, pois é melhor se tornar consciente de Kṛṣṇa e, dessa maneira, atingir a plataforma de perfeição máxima no que tange à educação. Baseado nisso, mais tarde, Śrī Jīva Gosvāmī compilou a gramática intitulada Hari-nāmāmṛta-vyākaraṇa. As pessoas em geral acham que tais explicações são loucas. Portanto, o objetivo do Senhor em Sua atitude de loucura foi explicar a consciência de Kṛṣṇa, e não apenas algo dentro de nossa experiência, pois tudo pode ser encaixado na consciência de Kṛṣṇa. Esses passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu são descritos muito vividamente no Caitanya-bhāgavata, Madhya-khaṇḍa, capítulo um.
Texto
īśvara-purīra saṅge tathāi milana
Sinônimos
tabeta — depois disso; karilā — fez; prabhu — o Senhor Caitanya Mahāprabhu; gayāte — para Gayā; gamana — viagem; īśvara-purīra saṅge — com Īśvara Purī; tathāi — lá; milana — encontro.
Tradução
Depois disso, o Senhor foi para Gayā. Lá, Ele Se encontrou com Śrīla Īśvara Purī.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para Gayā oferecer oblações respeitosas a Seus antepassados. Esse processo se chama piṇḍa-dāna. Na sociedade védica, após a morte de um parente, especialmente do pai ou da mãe, deve-se ir a Gayā e lá oferecer oblações aos pés de lótus do Senhor Viṣṇu. Portanto, centenas e milhares de pessoas reúnem-se em Gayā diariamente para oferecer tais oblações, ou śrāddha. Seguindo esse princípio, o Senhor Caitanya Mahāprabhu também foi para lá oferecer piṇḍa a Seu falecido pai. Felizmente, Ele Se encontrou com Īśvara Purī ali.
Texto
deśe āgamana punaḥ premera vilāsa
Sinônimos
dīkṣā — iniciação; anantare — logo após; haila — ficou; premera — de amor a Deus; prakāśa — manifestação; deśe — em Seu país de origem; āgamana — regressando; punaḥ — novamente; premera — de amor a Deus; vilāsa — desfrute.
Tradução
Em Gayā, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi iniciado por Īśvara Purī e, logo depois disso, manifestou sinais de amor a Deus. Ele exibiu esses mesmos sintomas novamente após voltar para casa.
Comentário
SIGNIFICADO—Enquanto ia para Gayā, acompanhado por muitos de Seus discípulos, Śrī Caitanya Mahāprabhu adoeceu. Ele teve uma febre tão alta que pediu a Seus alunos que levassem a água que lavara os pés dos brāhmaṇas, e, quando estes a trouxeram, o Senhor a bebeu e ficou curado. Portanto, todos devem respeitar a posição de um brāhmaṇa, conforme indicou Śrī Caitanya Mahāprabhu. Nem o Senhor nem Seus seguidores mostravam qualquer desrespeito aos brāhmaṇas.
Os seguidores do Senhor devem estar preparados para prestar todo o devido respeito aos brāhmaṇas. Porém, os pregadores do culto do Senhor Caitanya recusam-se a isso caso alguém se apresente como brāhmaṇa sem ter as qualificações necessárias. Os seguidores do Senhor Caitanya não podem aceitar cegamente todos os nascidos em famílias de brāhmaṇas como se fossem brāhmaṇas. Portanto, não se deve seguir indiscriminadamente o exemplo do Senhor de prestar respeito aos brāhmaṇas bebendo a água que lavou seus pés. Aos poucos, as famílias de brāhmaṇas estão se degradando devido à contaminação da Kali-yuga. Assim, eles desorientam as pessoas, explorando seus sentimentos.
Texto
advaita pāila viśvarūpa-daraśana
Sinônimos
śacīke — a mãe Śacīdevī; prema-dāna — dando amor a Deus; tabe — depois disso; advaita — com Advaita Ācārya; milana — encontro; advaita — Advaita Ācārya; pāila — recebeu; viśva-rūpa — da forma universal do Senhor; daraśana — visão.
Tradução
Depois disso, o Senhor concedeu amor a Kṛṣṇa a Sua mãe, Śacīdevī, anulando a ofensa que ela cometera aos pés de Advaita Ācārya. Assim, o Senhor encontrou-Se com Advaita Ācārya, que mais tarde teve uma visão da forma universal do Senhor.
Comentário
SIGNIFICADO—Um dia, Śrī Caitanya Mahāprabhu estava sentado no trono de Viṣṇu, na casa de Śrīvāsa Prabhu, e, do Seu jeito peculiar, Ele disse: “Minha mãe ofendeu os pés de lótus de Advaita Ācārya. A menos que ela anule essa ofensa aos pés de lótus de um vaiṣṇava, não será possível que alcance amor a Kṛṣṇa.” Tendo ouvido isso, todos os devotos saíram em busca de Advaita Ācārya. Enquanto rumava para onde veria o Senhor, Advaita Ācārya glorificava as características de mãe Śacīdevī, e assim, ao chegar, caiu ao chão em êxtase. Então, seguindo as instruções do Senhor Caitanya, Śacīdevī se aproveitou dessa situação para tocar nos pés de lótus de Advaita Ācārya. Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito com o ato de Sua mãe, e disse: “Agora, a ofensa de Minha mãe aos pés de lótus de Advaita Ācārya foi reparada, e ela pode ter amor por Kṛṣṇa a sem dificuldade.” Por esse exemplo, o Senhor Caitanya ensinou a todos que, mesmo que alguém seja muito avançado em consciência de Kṛṣṇa, caso ofenda os pés de lótus de um vaiṣṇava, seu avanço não será frutuoso. Portanto, devemos ser muito cuidadosos para não ofender um vaiṣṇava. O Caitanya-caritāmṛta descreve semelhante ofensa do seguinte modo:
upāḍe vā chiṇḍe, tāra śukhi’ yāya pātā
(Caitanya-caritāmṛta, Madhya 19.156)
Assim como um elefante louco pode pisar em todas as plantas de um jardim, da mesma forma, cometendo uma ofensa aos pés de lótus de um vaiṣṇava, a pessoa pode arruinar todo o serviço devocional que acumulou em sua vida.
Após esse incidente, um dia, Advaita Ācārya Prabhu pediu a Caitanya Mahāprabhu que revelasse a forma universal que Ele havia generosamente mostrado a Arjuna. O Senhor concordou com esse pedido, e Advaita Ācārya teve, então, a fortuna de ver a forma universal do Senhor.
Texto
khāṭe vasi’ prabhu kailā aiśvarya prakāśa
Sinônimos
prabhura — do Senhor; abhiṣeka — adoração; tabe — depois disso; karila — fez; śrīvāsa — chamado Śrīvāsa; khāṭe — no catre; vasi’ — sentado; prabhu — o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; kailā — fez; aiśvarya — opulência; prakāśa — manifestação.
Tradução
Então, Śrīvāsa Ṭhākura adorou o Senhor Caitanya Mahāprabhu mediante o processo de abhiṣeka. Sentado num catre, o Senhor manifestou opulências transcendentais.
Comentário
SIGNIFICADO—Abhiṣeka é uma função especial para a instalação da Deidade. Nessa cerimônia, banha-se a Deidade com leite e água e, então, Ela é adorada e troca-se a Sua roupa. Essa atividade abhiṣeka foi especialmente realizada na casa de Śrīvāsa. Todos os devotos, de acordo com seus recursos, adoraram o Senhor com toda espécie de parafernália, e o Senhor abençoou cada devoto segundo seu desejo.
Texto
prabhuke miliyā pāila ṣaḍ-bhuja-darśana
Sinônimos
tabe — depois disso; nityānanda-svarūpera — da Personalidade de Deus Nityānanda; āgamana — aparecimento; prabhuke — Senhor Caitanya Mahāprabhu; miliyā — encontro; pāila — obteve; ṣaḍ-bhuja-darśana — uma visão de Śrī Caitanya Mahāprabhu com seis braços.
Tradução
Após essa cerimônia na casa de Śrīvāsa Ṭhākura, Nityānanda Prabhu apareceu e, ao encontrar-Se com o Senhor Caitanya, teve a oportunidade de vê-lO em Sua forma de seis braços.
Comentário
SIGNIFICADO—A forma ṣaḍ-bhuja, ou o Senhor Gaurasundara de seis braços, é uma representação de três encarnações. O arco e flecha simbolizam a forma de Śrī Rāmacandra; o bastão e a flauta, como os usados geralmente por um vaqueirinho, simbolizam a forma do Senhor Śrī Kṛṣṇa, e a sannyāsa-daṇḍa e o kamaṇḍalu, ou pote d’água, simbolizam o Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Śrīla Nityānanda Prabhu nasceu na vila Ekacakrā, no distrito de Birbhum, como o filho de Padmāvatī e Hāḍāi Paṇḍita. Em Sua infância, Ele brincava como Balarāma. Quando cresceu, um sannyāsī foi à casa de Hāḍāi Paṇḍita, pedindo para ter o filho do paṇḍita como seu brahmacārī assistente. Hāḍāi Paṇḍita concordou imediatamente e concedeu o seu filho a ele, embora a saudade fosse muito dolorosa, tanto que Hāḍāi deixou esta vida após a separação. Nityānanda Prabhu fez muitas peregrinações com o sannyāsī. Dizem que, por muitos dias, Ele viveu em Mathurā com o sannyāsī e, naquela época, ouviu sobre os passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu em Navadvīpa. Portanto, desceu para a Bengala para ver o Senhor. Ao chegar a Navadvīpa, o Senhor Śrī Nityānanda hospedou-Se na casa de Nandana Ācārya. Ao saber que Nityānanda Prabhu havia chegado, o Senhor Caitanya enviou Seus devotos até Ele, e, assim, houve um encontro entre Śrī Caitanya Mahāprabhu e Nityānanda Prabhu.
Texto
śaṅkha-cakra-gadā-padma-śārṅga-veṇu-dhara
Sinônimos
prathame — a princípio; ṣaḍ-bhuja — de seis braços; tāṅre — a Ele; dekhāila — mostrou; īśvara — o Senhor; śaṅkha — búzio; gadā — maça; padma — flor de lótus; śārṅga — arco; veṇu — flauta; dhara — portando.
Tradução
Certo dia, o Senhor Caitanya Mahāprabhu mostrou ao Senhor Nityānanda Prabhu uma forma de seis braços, portando búzio, disco, maça, flor de lótus, arco e flauta.
Texto
dui haste veṇu bājāya, duye śaṅkha-cakra
Sinônimos
tabe — depois disso; catur-bhuja — de quatro braços; hailā — tornou-Se; tina — três; aṅga — corpo; vakra — curvado; dui haste — em duas mãos; veṇu bājāya — tocando a flauta; duye — em duas (mãos); śaṅkha-cakra — búzio e disco.
Tradução
Depois disso, o Senhor mostrou-Lhe Sua forma de quatro braços, erguendo-Se numa posição curvada em três pontos. Com duas mãos, Ele tocava uma flauta, e, nas outras duas, levava um búzio e um disco.
Texto
śyāma-aṅga pīta-vastra vrajendra-nandana
Sinônimos
tabe — depois disso; ta’ — decerto; dvi-bhuja — de dois braços; kevala — apenas; vaṁśī — flauta; vadana — na boca; śyāma — azulado; aṅga — corpo; pīta-vastra — roupa amarela; vrajendra-nandana — o filho de Nanda Mahārāja.
Tradução
Finalmente, o Senhor mostrou a Nityānanda Prabhu Sua forma de dois braços, como Kṛṣṇa, o filho de Mahārāja Nanda, simplesmente tocando Sua flauta, com Seu corpo azulado vestido de trajes amarelos.
Comentário
SIGNIFICADO—O Śrī Caitanya-maṅgala elabora vividamente esta descrição.
Texto
nityānandāveśe kaila muṣala dhāraṇa
Sinônimos
tabe — depois disso; nityānanda — chamado Nityānanda; gosāñira — do Senhor; vyāsa-pūjana — adorando Vyāsadeva, ou o mestre espiritual; nityānanda-āveśe — no êxtase de tornar-Se Nityānanda; kaila — fez; muṣala dhāraṇa — carregando a arma semelhante a um arado chamada muṣala.
Tradução
Então, Nityānanda Prabhu providenciou o oferecimento de Vyāsa-pūjā, ou adoração ao mestre espiritual, a Śrī Gaurasundara. Porém, o Senhor Caitanya carregava a arma semelhante a um arado chamada muṣala, no êxtase de ser Nityānanda Prabhu.
Comentário
SIGNIFICADO—Por ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Nityānanda Prabhu providenciou o Vyāsa-pūjā do Senhor na noite de lua cheia. Ele organizou o Vyāsa-pūjā, ou Guru-pūjā, por intermédio de Vyāsadeva. Uma vez que Vyāsadeva é o guru (mestre espiritual) original de todos que seguem os princípios védicos, a adoração ao mestre espiritual chama-se Vyāsa-pūjā. Nityānanda Prabhu providenciou o Vyāsa-pūjā enquanto o saṅkīrtana prosseguia, mas, ao tentar colocar uma guirlanda no ombro de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Ele Se viu no Senhor Caitanya. Não há diferença entre as posições espirituais do Senhor Caitanya Mahāprabhu e de Nityānanda Prabhu, ou Kṛṣṇa e Balarāma. Todos eles são apenas diferentes manifestações da Suprema Personalidade de Deus. Durante essa cerimônia especial, todos os devotos do Senhor Caitanya Mahāprabhu puderam entender que não há diferença entre o Senhor Caitanya e Nityānanda Prabhu.
Texto
tabe nistārila prabhu jagāi-mādhāi
Sinônimos
tabe — depois disso; śacī — mãe Śacīdevī; dekhila — viu; rāma-kṛṣṇa — Senhor Kṛṣṇa e Senhor Balarāma; dui bhāi — dois irmãos; tabe — depois disso; nistārila — salvou; prabhu — o Senhor; jagāi-mādhāi — os dois irmãos Jagāi e Mādhāi.
Tradução
Depois disso, mãe Śacīdevī viu os irmãos Kṛṣṇa e Balarāma sob Sua manifestação de Senhor Caitanya e Nityānanda. Então, o Senhor salvou os dois irmãos Jagāi e Mādhāi.
Comentário
SIGNIFICADO—Certa noite, Śacīdevī sonhou que as Deidades de sua casa, Kṛṣṇa e Balarāma, haviam assumido as formas de Caitanya e Nityānanda e brigavam um com o outro, como costumam fazer as crianças, para comer a naivedya, ou oferenda às Deidades. No dia seguinte, pela vontade do Senhor Caitanya, Śacīdevī convidou Nityānanda a tomar prasāda em sua casa. Assim, Viśvambhara (o Senhor Caitanya) e Nityānanda comeram juntos, e Śacīdevī percebeu que Eles não eram ninguém mais senão Kṛṣṇa e Balarāma. Ao ver isso, ela desmaiou.
Jagāi e Mādhāi eram dois irmãos nascidos em Navadvīpa, numa respeitável família de brāhmaṇas, que mais tarde se viciaram em toda classe de atividades pecaminosas. Por ordem do Senhor Caitanya, tanto Nityānanda Prabhu quanto Haridāsa Ṭhākura costumavam pregar o culto da consciência de Kṛṣṇa de porta em porta. No decorrer de tal pregação, eles encontraram Jagāi e Mādhāi, dois irmãos enlouquecidos e bêbados, os quais, ao vê-los, puseram-se a persegui-los. No dia seguinte, Mādhāi fez sangrar a cabeça de Nityānanda Prabhu, golpeando-a com um caco de vaso de cerâmica. Ao Se inteirar disso, Śrī Caitanya Mahāprabhu imediatamente foi ao local, disposto a castigar ambos os irmãos. Porém, quando o todo-misericordioso Senhor Gaurāṅga viu o arrependimento de Jagāi, imediatamente o abraçou. Ao ver a Suprema Personalidade de Deus face a face e abraçá-lO, os dois irmãos pecaminosos se purificaram de imediato. Assim, o Senhor os iniciou no cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa e os libertou.
Texto
yathā tathā bhakta-gaṇa dekhila viśeṣe
Sinônimos
tabe — depois disso; sapta-prahara — vinte e uma horas; chilā — permaneceu; prabhu — o Senhor; bhāva-āveśe — em êxtase; yathā — qualquer parte; tathā — toda parte; bhakta-gaṇa — os devotos; dekhila — viram; viśeṣe — especificamente.
Tradução
Após este incidente, o Senhor permaneceu em êxtase por vinte e uma horas, e todos os devotos presenciaram Seus passatempos específicos.
Comentário
SIGNIFICADO—Na sala da Deidade, deve haver uma cama para a Deidade, atrás do trono da Deidade. (Deve-se imediatamente introduzir este sistema em todos os nossos centros. Não importa se a cama é grande ou pequena; ela deve ser de tamanho conveniente para a sala da Deidade, mas deve haver pelo menos uma pequena cama.) Um dia, na casa de Śrīvāsa Ṭhākura, o Senhor Caitanya Mahāprabhu sentou-Se na cama de Viṣṇu, e todos os devotos O adoraram com os mantras védicos do Puruṣa-sūkta, começando com sahasra-śīrṣā puruṣaḥ sahasrākṣaḥ sahasra-pāt. Se possível, deve-se também introduzir este veda-stuti para a instalação de Deidades. Quando banham as Deidades, todos os sacerdotes e devotos devem cantar o Puruṣa-sūkta e oferecer parafernália apropriada para a adoração à Deidade, tais como flores, frutas, incenso, parafernália de ārati, naivedya, vastra e ornamentos. Todos os devotos adoraram o Senhor Caitanya Mahāprabhu dessa maneira, e o Senhor permaneceu em êxtase por sete praharas, ou vinte e uma horas. Ele Se aproveitou dessa oportunidade para mostrar aos devotos que Ele é a Suprema Personalidade de Deus original, Kṛṣṇa, que é a fonte de todas as outras encarnações, como se confirma na Bhagavad-gītā (ahaṁ sarvasya prabhavo mattaḥ sarvaṁ pravartate). Todas as diferentes formas da Suprema Personalidade de Deus, ou viṣṇu-tattva, emanam do corpo do Senhor Kṛṣṇa. O Senhor Caitanya Mahāprabhu expôs todos os desejos íntimos dos devotos, e assim todos eles ficaram plenamente confiantes de que o Senhor Caitanya é a Suprema Personalidade de Deus.
Alguns devotos chamam essa manifestação de êxtase do Senhor de sāta-prahariyā bhāva, ou “o êxtase de vinte e uma horas”, e outros a chamam de mahābhāva-prakāśa ou mahā-prakāśa. Há outras descrições desse sāta-prahariyā bhāva no Caitanya-bhāgavata, Madhya-khaṇḍa, capítulo nove, o qual menciona que Śrī Caitanya Mahāprabhu abençoou uma criada chamada Duḥkhī com um novo nome: Sukhī. Ele chamou por Kholāvecā Śrīdhara e lhe mostrou Seu mahā-prakāśa. Então, Ele mandou chamar Murāri Gupta e mostrou-lhe Seu aspecto como Senhor Rāmacandra. Ofereceu Suas bênçãos a Haridāsa Ṭhākura e, nessa ocasião, também pediu a Advaita Prabhu que explicasse a Bhagavad-gītā como ela é (gītāra satya-pāṭha) e mostrou favor especial a Mukunda.
Texto
tāṅra skandhe caḍi’ prabhu nācilā aṅgane
Sinônimos
varāha-āveśa — o êxtase de tornar-Se Varāhadeva; hailā — ficou; murāri-bhavane — na casa de Murāri Gupta; tāṅra skandhe — nos ombros de Murāri Gupta; caḍi’ — montado; prabhu — o Senhor; nācilā — dançaram; aṅgaṇe — no quintal.
Tradução
Um dia, Śrī Caitanya Mahāprabhu sentiu o êxtase da encarnação de javali e subiu nos ombros de Murāri Gupta. Assim, ambos dançaram no quintal de Murāri Gupta.
Comentário
SIGNIFICADO—Certo dia, Caitanya Mahāprabhu começou a gritar: “Śūkara! Śūkara!” Gritando assim pela encarnação de javali do Senhor, Ele assumiu Sua forma como a encarnação de javali e subiu nos ombros de Murāri Gupta. Ele carregava um pequeno gāḍu, um pequeno pote d’água com um bico, e assim, simbolicamente, ergueu a Terra das profundezas do oceano, pois esse é o passatempo do Senhor Varāha.
Texto
‘harer nāma’ ślokera kaila artha vivaraṇa
Sinônimos
tabe — depois disso; śuklāmbarera — de Śuklāmbara Brahmacārī; kaila — fez; taṇḍula — arroz cru; bhakṣaṇa — comendo; harer nāma ślokera — do verso célebre como tal; kaila — fez; artha — do significado; vivaraṇa — explicação.
Tradução
Após este incidente, o Senhor comeu arroz cru dado por Śuklāmbara Brahmacārī e explicou muito elaboradamente o significado do śloka “harer nāma” mencionado no Bṛhan-nāradīya Purāṇa.
Comentário
SIGNIFICADO—Śuklāmbara Brahmacārī residia em Navadvīpa às margens do Ganges. Enquanto Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava em êxtase, ele se aproximou do Senhor com um saco de esmola contendo arroz. O Senhor ficou tão satisfeito com Seu devoto que imediatamente apanhou o saco e começou a comer o arroz cru. Ninguém O proibiu de fazê-lo, e assim Ele comeu todo o suprimento de arroz.
Texto
harer nāmaiva kevalam
kalau nāsty eva nāsty eva
nāsty eva gatir anyathā
Sinônimos
hareḥ nāma — o santo nome do Senhor; hareḥ nāma — o santo nome do Senhor; hareḥ nāma — o santo nome do Senhor; eva — decerto; kevalam — somente; kalau — na era de Kali; na asti — não há nenhum; eva — decerto; na asti — não há nenhum; eva — decerto; na asti — não há nenhum; eva — decerto; gatiḥ — destino; anyathā — senão.
Tradução
“‘Nesta era de Kali, não há outro meio, não há outro meio, não há outro meio para se alcançar a autorrealização, senão cantar os santos nomes, cantar os santos nomes, cantar os santos nomes do Senhor Hari.’”
Texto
nāma haite haya sarva-jagat-nistāra
Sinônimos
kali-kāle — nesta era de Kali; nāma-rūpe — na forma do santo nome; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; avatāra — encarnação; nāma — santo nome; haite — do; haya — se torna; sarva — todo; jagat — do mundo; nistāra — libertação.
Tradução
“Nesta era de Kali, o santo nome do Senhor, o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, é a encarnação do Senhor Kṛṣṇa. Quem simplesmente canta o santo nome se associa com o Senhor diretamente. Qualquer pessoa que faça isso se liberta com certeza.”
Texto
jaḍa loka bujhāite punaḥ ‘eva’-kāra
Sinônimos
dārḍhya lāgi’ — a fim de enfatizar; harer nāma — do santo nome do Senhor Hari; ukti — se profere; tina-vāra — três vezes; jaḍa loka — pessoas comuns; bujhāite — só para fazer com que entendam; punaḥ — novamente; eva-kāra — a palavra eva, ou “decerto”.
Tradução
“Esse verso repete a palavra ‘eva’ [‘decerto’] três vezes para dar ênfase, e também repete três vezes ‘harer nāma’ [‘o santo nome do Senhor’] só para fazer as pessoas comuns entenderem.”
Comentário
SIGNIFICADO—Para enfatizar algo a uma pessoa comum, pode-se repetir isso três vezes, assim como alguém poderia dizer: “Deves fazer isso! Deves fazer isso! Deves fazer isso!” Assim, o Bṛhan-nāradīya Purāṇa enfatiza repetidamente o cantar do santo nome para que as pessoas o levem a sério e, deste modo, livrem-se das garras de māyā. Temos experiência prática no movimento para a consciência de Kṛṣṇa em todo o mundo de que muitos milhões de pessoas estão realmente chegando à fase espiritual da vida pelo simples fato de cantarem o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa regularmente, segundo os princípios prescritos. Portanto, solicitamos a todos os nossos estudantes que, diariamente, cantem pelo menos dezesseis voltas desse harer nāma mahā-mantra, sem cometer ofensas, seguindo os princípios reguladores. Assim, o sucesso deles estará garantido, sem dúvidas.
Texto
jñāna-yoga-tapa-karma-ādi nivāraṇa
Sinônimos
‘kevala’-śabde — pela palavra kevala, ou “somente”; punarapi — novamente; niścaya karaṇa — decisão final; jñāna — cultivo de conhecimento; yoga — prática do sistema de yoga místico; tapa — austeridade; karma — atividades fruitivas; ādi — e assim por diante; nivāraṇa — proibição.
Tradução
“O uso da palavra ‘kevala’ [‘somente’] exclui todos os outros processos, tais como o cultivo de conhecimento, a prática de yoga místico e a execução de austeridades e atividades fruitivas.”
Comentário
SIGNIFICADO—Nosso movimento para a consciência de Kṛṣṇa enfatiza apenas o cantar do mantra Hare Kṛṣṇa, ao passo que aqueles que não conhecem o segredo do sucesso para esta era de Kali se entregam desnecessariamente ao cultivo de conhecimento, à prática de yoga místico ou à execução de atividades fruitivas ou austeridades inúteis. Eles estão simplesmente perdendo tempo e desorientando seus seguidores. Ao frisarmos este ponto muito claramente para uma audiência, membros de grupos opostos ficam irados conosco. Porém, segundo os preceitos dos śāstras, não podemos fazer concessões a esses ditos jñānīs, yogīs, karmīs e tapasvīs. Ao dizerem que são tão autênticos quanto nós, devemos dizer que apenas nós somos autênticos e que eles não são autênticos. Isso não é nossa obstinação: é o preceito dos śāstras. Não devemos nos desviar dos preceitos dos śāstras. Confirma-se isso no próximo verso do Caitanya-caritāmṛta.
Texto
nāhi, nāhi, nāhi — e tina ‘eva’-kāra
Sinônimos
anyathā — outra maneira; ye — qualquer pessoa que; māne — aceite; tāra — dele; nāhika — não há; nistāra — libertação; nāhi nāhi nāhi — não há nada mais, nada mais, nada mais; e — nesta; tina — três; eva-kāra — significando ênfase.
Tradução
“Esse verso afirma claramente que qualquer pessoa que aceite qualquer outro caminho não pode libertar-se. Essa é a razão para a repetição tríplice: ‘Nada mais, nada mais, nada mais’, que enfatiza o verdadeiro processo de autorrealização.”
Texto
āpani nirabhimānī, anye dibe māna
Sinônimos
tṛṇa — palha; haite — do que; nīca — inferior; hañā — tornando-se; sadā — sempre; labe — canta; nāma — o santo nome; āpani — pessoalmente; nirabhimānī — sem honra; anye — aos outros; dibe — deves prestar; māna — todo o respeito.
Tradução
“Para cantar o santo nome sempre, deve-se ser mais humilde do que a palha na rua e desprovido de todo desejo de honra pessoal, mas se deve oferecer aos outros todas as respeitosas reverências.”
Texto
bhartsana-tāḍane kāke kichu nā balibe
Sinônimos
taru-sama — como uma árvore; sahiṣṇutā — paciência; vaiṣṇava — devoto; karibe — deve praticar; bhartsana — repreensão; tāḍane — castigo; kāke — a qualquer pessoa; kichu — algo; nā — não; balibe — pronunciará.
Tradução
“O devoto dedicado a cantar o santo nome do Senhor deve praticar a paciência como faz a árvore. Mesmo que seja repreendido ou castigado, não deve dizer nada aos outros como vingança.”
Texto
śukāiyā mare, tabu jala nā māgaya
Sinônimos
kāṭileha — mesmo sendo cortada; taru — a árvore; yena — como; kichu — algo; nā — não; bolaya — diz; śukāiyā — secando; mare — morre; tabu — ainda assim; jala — água; nā — não; māgaya — pede.
Tradução
“Pois mesmo que alguém corte uma árvore, ela nunca protesta, e, mesmo que esteja secando ou morrendo, ela não pede água a ninguém.”
Comentário
SIGNIFICADO—Essa prática de paciência (taror iva sahiṣṇunā) é muito difícil, mas, quando alguém realmente se dedica a cantar o mantra Hare Kṛṣṇa, a virtude da paciência automaticamente se desenvolve nele. Alguém que é avançado em consciência espiritual por meio do cantar do mantra Hare Kṛṣṇa não precisa praticar nada para desenvolvê-la em separado, pois o devoto desenvolve todas as boas qualidades pelo simples fato de cantar o mantra Hare Kṛṣṇa regularmente.
Texto
ayācita-vṛtti, kiṁvā śāka-phala khāiba
Sinônimos
ei-mata — dessa maneira; vaiṣṇava — o devoto; kāre — a ninguém; kichu — nada; nā — não; māgiba — pedirá; ayācita-vṛtti — a profissão de não pedir nada; kiṁvā — ou; śāka — legumes; phala — frutas; khāiba — comera.
Tradução
“Assim, o vaiṣṇava não deve pedir nada a ninguém. Se alguém lhe der algo sem que ele peça, ele o deve aceitar, mas, se nada recebe, o vaiṣṇava deve se contentar em comer os legumes e as frutas que estejam facilmente disponíveis.”
Texto
eita ācāra kare bhakti-dharma-poṣa
Sinônimos
sadā — sempre; nāma — o santo nome; la-iba — deve-se cantar; yathā — visto que; lābhete — obtém; santoṣa — satisfação; eita — este; ācāra — comportamento; kare — faz; bhakti-dharma — do serviço devocional; poṣa — manutenção.
Tradução
“Deve-se seguir estritamente o princípio de sempre cantar o santo nome, e deve-se ficar satisfeito com tudo o que puder obter sem dificuldade. Tal comportamento devocional mantém solidamente o serviço devocional.”
Texto
taror iva sahiṣṇunā
amāninā māna-dena
kīrtanīyaḥ sadā hariḥ
Sinônimos
tṛṇāt api — do que grama pisada; su-nīcena — sendo inferior; taroḥ — do que a árvore; iva — como; sahiṣṇunā — com tolerância; amāninā — sem ficar presunçoso pelo falso orgulho; māna-dena — prestando respeito a todos; kīrtanīyaḥ — ser cantado; sadā — sempre; hariḥ — o santo nome do Senhor.
Tradução
“Quem se considera inferior à grama, quem é mais tolerante do que a árvore e não espera obter honra pessoal, estando, pelo contrário, sempre pronto a prestar todo respeito aos outros, pode, muito facilmente, cantar sempre o santo nome do Senhor.”
Comentário
SIGNIFICADO—Neste verso, menciona-se especialmente a grama, pois todos pisam nela, e, ainda assim, a grama não protesta. Esse exemplo indica que o mestre espiritual ou líder não deve ter orgulho de sua posição; sendo sempre mais humilde do que o homem comum, ele deve continuar a pregar o culto de Caitanya Mahāprabhu, cantando o mantra Hare Kṛṣṇa.
Texto
nāma-sūtre gāṅthi’ para kaṇṭhe ei śloka
Sinônimos
ūrdhva-bāhu — erguendo minhas mãos; kari’ — fazendo isso; kahoṅ — declaro; śuna — por favor, ouvi; sarva-loka — todas as pessoas; nāma — do santo nome; sūtre — no cordão; gāṅthi’ — enfiando; para — o mantende; kaṇṭhe — no pescoço; ei — este; śloka — verso.
Tradução
Erguendo minhas mãos, declaro: “Por favor, ouvi-me todos! Ensartai esse verso no cordão do santo nome e o mantende em vosso pescoço para lembrança contínua.”
Comentário
SIGNIFICADO—Quando alguém começa a cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, pode cometer muitas ofensas, que se chamam nāmābhāsa e nāma-aparādha. Nessa fase, não é possível alcançar amor perfeito por Kṛṣṇa cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Portanto, deve-se cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa segundo os princípios do verso acima, tṛṇād api su-nīcena taror iva sahiṣṇunā. Observe-se, a esse respeito, que o cantar envolve as atividades dos lábios inferior e superior, bem como da língua. Todos esses três devem ser ocupados no cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. As palavras “Hare Kṛṣṇa” devem ser muito distintamente pronunciadas e ouvidas. Às vezes, alguém produz mecanicamente um som de assobio ao invés de cantar com a pronúncia adequada e com a ajuda dos lábios e da língua. O cantar é muito simples, mas deve-se praticá-lo seriamente. Portanto, o autor do Caitanya-caritāmṛta, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, aconselha a todos que mantenham esse verso sempre a lhes envolver o pescoço.
Texto
avaśya pāibe tabe śrī-kṛṣṇa-caraṇa
Sinônimos
prabhu — do Senhor; ājñāya — por ordem; kara — faze; ei śloka — deste verso; ācaraṇa — prática; avaśya — decerto; pāibe — obterá; tabe — em seguida; śrī-kṛṣṇa-caraṇa — os pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa.
Tradução
É preciso seguir estritamente os princípios estabelecidos pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu neste verso. Caso alguém simplesmente siga os passos do Senhor Caitanya e dos Gosvāmīs, decerto alcançará a meta última da vida: os pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa.
Texto
rātre saṅkīrtana kaila eka saṁvatsara
Sinônimos
tabe — depois disso; prabhu — o Senhor, Śrī Caitanya Mahāprabhu; śrīvāsera — de Śrīvāsa Ṭhākura; gṛhe — na casa; nirantara — sempre; rātre — à noite; saṅkīrtana — canto congregacional do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa; kaila — executava; eka saṁvatsara — um ano inteiro.
Tradução
Regularmente, Śrī Caitanya Mahāprabhu liderou o canto congregacional do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa na casa de Śrīvāsa Ṭhākura todas as noites por um ano inteiro.
Texto
pāṣaṇḍī hāsite āise, nā pāya praveśe
Sinônimos
kapāṭa — porta; diyā — fechando; kīrtana — cantando; kare — executado; parama — muito elevada; āveśe — numa condição extática; pāṣaṇḍī — descrentes; hāsite — escarnecer; āise — vêm; nā — não; pāya — obtém; praveśe — entrada.
Tradução
Esse canto extático era executado a portas fechadas, de modo que os descrentes que vinham escarnecer não pudessem entrar.
Comentário
SIGNIFICADO—O cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa é aberto para todos. Porém, às vezes, os descrentes vêm perturbar a cerimônia do canto. Indica-se nesta passagem que, em tais circunstâncias, devem-se fechar as portas do templo. Só devem ser admitidos cantores genuínos, e não outros. Porém, quando há canto congregacional, em larga escala, do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, mantemos nossos templos abertos para todos se reunirem, e, pela graça do Senhor Caitanya Mahāprabhu, tal política tem dado bons resultados.
Texto
śrīvāsere duḥkha dite nānā yukti kare
Sinônimos
kīrtana śuni’ — após ouvir o canto; bāhire — fora; tārā — os descrentes; jvali’ — reduzido; puḍi’ — a cinzas; mare — morrem; śrīvāsere — a Śrīvāsa Ṭhākura; duḥkha — problemas; dite — para causar; nānā — diversos; yukti — planos; kare — fazem.
Tradução
Assim, os descrentes quase se reduziam a cinzas e morriam de inveja. Para se vingarem, eles planejaram diversas maneiras de causar problemas a Śrīvāsa Ṭhākura.
Texto
pāṣaṇḍi-pradhāna sei durmukha, vācāla
rātre śrīvāsera dvāre sthāna lepāñā
Sinônimos
eka-dina — certo dia; vipra — um brāhmaṇa; nāma — chamado; gopāla cāpāla — chamado Gopāla Cāpāla; pāṣaṇḍi-pradhāna — o principal dos descrentes; sei — ele; durmukha — feroz, usando palavras fortes; vācāla — falador; bhavānī-pūjāra — para adorar a deusa Bhavānī; saba — todos; sāmagrī — ingredientes, parafernália; lañā — levando; rātre — à noite; śrīvāsera — de Śrīvāsa Ṭhākura; dvāre — na porta; sthāna — o local; lepāñā — untando.
Tradução
Certa noite, enquanto o kīrtana prosseguia dentro da casa de Śrīvāsa Ṭhākura, um brāhmaṇa chamado Gopāla Cāpāla, o principal dos descrentes, que era falador e de linguagem muito áspera, colocou toda a parafernália de adoração à deusa Durgā do lado de fora da porta de Śrīvāsa Ṭhākura.
Comentário
SIGNIFICADO—Este brāhmaṇa, Gopāla Cāpāla, queria difamar Śrīvāsa Ṭhākura, provando que, na verdade, ele era um śākta, ou adorador de Bhavānī, a deusa Durgā, mas, externamente, fingia ser um vaiṣṇava. Na Bengala, há uma contenda perpétua entre os devotos da deusa Kālī e os devotos do Senhor Kṛṣṇa. De um modo geral, os bengalis, especialmente aqueles que são comedores de carne e beberrões, são muito apegados a adorar as deusas Durgā, Kālī, Śītalā e Caṇḍī. Tais devotos, que são conhecidos como śāktas, ou adoradores de śakti-tattva, sempre têm inveja dos vaiṣṇavas. Uma vez que Śrīvāsa Ṭhākura era um vaiṣṇava bem conhecido e respeitado em Navadvīpa, Gopāla Cāpāla quis reduzir seu prestígio, o rebaixando à plataforma dos śāktas. Portanto, do lado de fora da porta de Śrīvāsa Ṭhākura, ele colocou toda a parafernália para a adoração de Bhavānī, a esposa do senhor Śiva, tais como uma flor vermelha, uma folha de bananeira, um pote de vinho e polpa de sândalo avermelhada. De manhã, quando Śrīvāsa Ṭhākura viu toda aquela parafernália em frente à sua porta, ele mandou chamar todos os cavalheiros respeitáveis da vizinhança e mostrou-lhes que, à noite, ele adorava Bhavānī. Muito aborrecidos, aqueles cavalheiros mandaram chamar um varredor para limpar o local e purificá-lo, borrifando água e estrume de vaca ali. Este incidente a respeito de Gopāla Cāpāla não é mencionado no Caitanya-bhāgavata.
Texto
haridrā, sindūra āra rakta-candana, taṇḍula
Sinônimos
kalāra pāta — uma folha de bananeira; upare — sobre ela; thuila — colocou; oḍa-phula — um tipo de flor em particular; haridrā — cúrcuma; sindūra — vermelhão; āra — e; rakta-candana — sândalo vermelho; taṇḍula — arroz.
Tradução
Na parte superior duma folha de bananeira, ele colocou artigos de adoração tais como oḍa-phula, cúrcuma, vermelhão, sândalo vermelho e arroz.
Texto
prātaḥ-kāle śrīvāsa tāhā ta’ dekhila
Sinônimos
madya-bhāṇḍa — um pote de vinho; pāśe — ao lado de; dhari’ — colocando; nija-ghare — para sua própria casa; gela — foi; prātaḥ-kāle — de manhã; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; tāhā — todas aquelas coisas; ta’ — decerto; dekhila — viu.
Tradução
Colocou um pote de vinho ao lado de tudo isso, e, de manhã, quando Śrīvāsa Ṭhākura abriu a porta, viu aquela parafernália.
Texto
sabāre kahe śrīvāsa hāsiyā hāsiyā
Sinônimos
baḍa baḍa — respeitáveis; loka — pessoas; saba — todas; ānila — ele as trouxe; bolāiyā — mandou chamar; sabāre — a todos; kahe — procede; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; hāsiyā hāsiyā — enquanto sorri.
Tradução
Śrīvāsa Ṭhākura mandou chamar todos os cavalheiros respeitáveis da vizinhança e, sorridente, ele lhes falou como segue.
Texto
āmāra mahimā dekha, brāhmaṇa-sajjana
Sinônimos
nitya rātre — toda noite; kari — faço; āmi — eu; bhavānī-pūjana — adoração a Bhavānī, a esposa do senhor Śiva; āmāra — minhas; mahimā — glórias; dekha — vós vedes; brāhmaṇa-sat-jana — todos os brāhmaṇas respeitáveis.
Tradução
“Cavalheiros, toda noite adoro a deusa Bhavānī. Uma vez que a parafernália de adoração está presente aqui, agora todos vós, brāhmaṇas respeitáveis e membros das castas superiores, podeis compreender minha posição”.
Comentário
SIGNIFICADO—Segundo o sistema védico, existem quatro castas – os brāhmaṇas, os kṣatriyas, os vaiśyas e os śūdras –, e, abaixo deles, estão os pañcamas, que são inferiores aos śūdras. As castas superiores – os brāhmaṇas, os kṣatriyas e mesmo os vaiśyas – eram conhecidas como brāhmaṇa-saj-jana. Os brāhmaṇas eram conhecidos especialmente como saj-jana, ou cavalheiros respeitáveis que orientavam toda a sociedade. Caso houvesse desarmonia na vila, o povo se aproximava desses brāhmaṇas respeitáveis para ter quem os pudesse apaziguar. Hoje em dia, é muito difícil encontrar semelhantes brāhmaṇas e saj-janas, de modo que todas as vilas e cidades são tão corruptas que não há paz nem felicidade em parte alguma. Para reviver uma civilização inteiramente culta, é preciso introduzir em todo o mundo a divisão científica da sociedade em brāhmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras. A menos que haja algumas pessoas treinadas como brāhmaṇas, não pode haver paz na sociedade humana.
Texto
aiche karma hethā kaila kon durācāra
Sinônimos
tabe — depois disso; saba — todos; śiṣṭa-loka — cavalheiros; kare — exclamaram; hāhākāra — por Deus, por Deus; aiche — semelhantes; karma — atividades; hethā — aqui; kaila — fez; kon — quem; durācāra — pecador.
Tradução
Então, todos os cavalheiros reunidos exclamaram: “O que é isto? O que é isto? Quem fez essa perversidade? Quem é esse pecador?”
Texto
jala-gomaya diyā sei sthāna lepāila
Sinônimos
hāḍike — um varredor; āniyā — chamando; saba — todos; dūra karāila — fizeram com que atirassem longe; jala — água; gomaya — estrume de vaca; diyā — misturando; sei — esse; sthāna — local; lepāila — fizeram com que esfregasse.
Tradução
Eles mandaram chamar um varredor [hāḍi], que atirou longe todos os artigos de adoração e limpou o local, esfregando-o com uma mistura de água e estrume de vaca.
Comentário
SIGNIFICADO—Os homens na sociedade védica que se dedicam a atividades de limpeza pública, como retirar excremento e varrer a rua, chamam-se hāḍis. Às vezes, eles são intocáveis, especialmente quando estão trabalhando, mas esses hāḍis também têm o direito de se tornarem devotos. Isso é estabelecido pela Śrī Bhagavad-gītā (9.32), onde o Senhor declara:
ye ’pi syuḥ pāpa-yonayaḥ
striyo vaiśyās tathā śūdrās
te ’pi yānti parāṁ gatim
“Ó filho de Pṛthā, aqueles que se refugiam em Mim, mesmo que sejam de nascimento inferior – mulheres, vaiśyas [comerciantes], bem como śūdras [trabalhadores] – podem se aproximar do destino supremo.”
Há muitos intocáveis da casta mais baixa na Índia, mas, segundo os princípios vaiṣṇavas, todos são convidados a aceitar este movimento para a consciência de Kṛṣṇa na plataforma espiritual da vida para, assim, livrarem-se de seus problemas. Igualdade ou fraternidade na plataforma material é impossível.
Ao declarar tṛṇād api su-nīcena taror iva sahiṣṇunā, o Senhor indica que é preciso se colocar acima do conceito material da vida. Quando alguém entende perfeitamente que não é o corpo material, mas, sim, alma espiritual, põe-se mais humilde inclusive do que um homem das castas inferiores, pois é elevado espiritualmente. Essa humildade de alguém julgar-se mais baixo do que a grama chama-se sunīcatva, e a atitude de quem é mais tolerante do que a árvore se chama sahiṣṇutva, “paciência”. A condição de alguém situado no serviço devocional, sem se importar com o conceito material da vida, chama-se amānitva, “indiferença ao respeito material”, mas o devoto assim situado se chama mānada, pois está preparado para honrar os outros, sem hesitação.
Mahatma Gandhi iniciou o movimento hari-jana para purificar os intocáveis, mas fracassou, pois pensava que alguém poderia se tornar um hari-jana, associado pessoal do Senhor, por meio de alguma espécie de ajuste material. Isso não é possível. A menos que alguém se conscientize perfeitamente de que não é o corpo, mas, sim, alma espiritual, não é possível tornar-se um hari-jana. Aqueles que não seguem os passos do Senhor Caitanya Mahāprabhu e de Sua sucessão discipular não podem distinguir entre matéria e espírito, motivo pelo qual todas as suas ideias são apenas uma mistura emaranhada de incertezas. Virtualmente, eles estão perdidos na desconcertante rede de Māyādevī.
Texto
sarvāṅge ha-ila kuṣṭha, vahe rakta-dhāra
Sinônimos
tina dina — três dias; rahi’ — permanecendo daquela maneira; sei — isto; gopāla cāpāla — chamado Gopāla Cāpāla; sarva-aṅge — por todo o corpo; ha-ila — se tornou visível; kuṣṭha — lepra; vahe — escorrendo; rakta-dhāra — fluxo de sangue.
Tradução
Após três dias, a lepra atacou Gopāla Cāpāla, e lhe escorria sangue das feridas por todo o corpo.
Texto
asahya vedanā, duḥkhe jvalaye antara
Sinônimos
sarva-aṅga — por todo o corpo; beḍila — ficou coberto; kīṭe — por insetos; kāṭe — picando; nirantara — sempre; asahya — insuportável; vedanā — dor; duḥkhe — em sofrimento; jvalaye — arde; antara — sem cessar.
Tradução
Incessantemente coberto por vermes e insetos picando seu corpo, Gopāla Cāpāla sentia dores insuportáveis. Todo o seu corpo ardia em sofrimento.
Texto
eka dina bale kichu prabhuke dekhiyā
Sinônimos
gaṅgā-ghāṭe — às margens do Ganges; vṛkṣa-tale — debaixo de uma árvore; rahe — permanece; ta’ — decerto; vasiyā — sentado; eka dina — um dia; bale — diz; kichu — algo; prabhuke — o Senhor; dekhiyā — vendo.
Tradução
Visto que a lepra é uma doença infecciosa, Gopāla Cāpāla deixou a vila e foi se assentar às margens do Ganges, debaixo de uma árvore. Entretanto, um dia, ele viu Caitanya Mahāprabhu passando e falou-Lhe como segue.
Texto
bhāginā, mui kuṣṭha-vyādhite hañāchi vyākula
Sinônimos
grāma-sambandhe — num relacionamento de vila; āmi — eu (sou); tomāra — Teu; mātula — tio materno; bhāginā — sobrinho; mui — eu; kuṣṭha-vyādhite — pela doença da lepra; hañāchi — tenho me tornado; vyākula — bastante atormentado.
Tradução
“Meu querido sobrinho, sou Teu tio materno em nosso relacionamento de vila. Por favor, vê o quanto este ataque de lepra tem me atormentado.”
Texto
muñi baḍa dukhī, more karaha uddhāra
Sinônimos
loka — pessoas; saba — todas; uddhārite — para salvar; tomāra — Tua; avatāra — encarnação; muñi — eu (sou); baḍa — bastante; dukhī — infeliz; more — a mim; karaha — por favor, faze; uddhāra — libertação.
Tradução
“Sendo uma encarnação de Deus, estás salvando muitas almas caídas. Também sou uma alma caída grandemente infeliz. Por favor, liberta-me por Tua misericórdia.”
Comentário
SIGNIFICADO—Parece que, embora Gopāla Cāpāla fosse pecaminoso, falador e insultuoso, não obstante, tinha a qualificação da simplicidade. Assim, ele acreditava que Caitanya Mahāprabhu era a encarnação da Suprema Personalidade de Deus que viera salvar todas as almas caídas, e pediu sua própria libertação, buscando a misericórdia do Senhor. No entanto, ele não sabia que a libertação dos caídos não consiste em curar suas doenças corpóreas, embora também seja verdade que, quando um homem se liberta das garras materiais, suas doenças corpóreas materiais são automaticamente curadas. Gopāla Cāpāla simplesmente desejava livrar-se dos sofrimentos corpóreos causados pela lepra, mas Śrī Caitanya, embora aceitasse seu apelo sincero, desejava informá-lo acerca da verdadeira causa do sofrimento.
Texto
krodhāveśe bale tāre tarjana-vacana
Sinônimos
eta — assim; śuni’ — ouvindo; mahāprabhura — do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; ha-ila — houve; kruddha — zangada; mana — mente; krodha-aveśe — por intensa ira; bate — diz; tāre — a ele; tarjana — de repreensão; vacana — palavras.
Tradução
Ao ouvir isso, Caitanya Mahāprabhu mostrou-Se bastante irado e, zangado dessa maneira, falou-lhe algumas palavras de repreensão.
Texto
koṭi-janma ei mate kīḍāya khāoyāimu
Sinônimos
āre — ó; pāpi — tu, pecador; bhakta-dveṣi — invejoso dos devotos; tore — tu; na uddhārimu — não salvarei; koṭi-janma — por dez milhões de nascimentos; ei mate — dessa maneira; kīḍāya — pelos vermes; khāoyāimu — vou fazer com que sejas picado.
Tradução
“Ó pecador, invejoso dos devotos puros, não te salvarei! Ao invés disso, farei com que esses vermes continuem te picando por muitos milhões de anos.”
Comentário
SIGNIFICADO—Devemos observar nesta passagem que todos os nossos sofrimentos neste mundo material, especialmente decorrentes de doenças, se devem a nossas atividades pecaminosas passadas. E, de todas as atividades pecaminosas, considera-se que as ações praticadas contra o devoto puro por pura inveja têm consequências extremamente severas. Śrī Caitanya Mahāprabhu desejava que Gopāla Cāpāla entendesse a causa de seu sofrimento. Qualquer pessoa que perturbe um devoto puro dedicado a propagar o santo nome do Senhor é decerto punida tal qual Gopāla Cāpāla. Essa é a instrução de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Como veremos, aquele que ofende o devoto puro não pode, em momento algum, satisfazer Caitanya Mahāprabhu, a menos se arrependa sinceramente de sua ofensa e, então, a retifique.
Texto
koṭi janma habe tora raurave patana
Sinônimos
śrīvāse — a Śrīvāsa Ṭhākura; karāili — por tua causa fizeram; tui — tu; bhavānī-pūjana — adorando a deusa Bhavānī; koṭi janma — por dez milhões de nascimentos; habe — haverá; tora — tua; raurave — no inferno; patana — queda.
Tradução
“Deixaste a impressão nos outros de que Śrīvāsa Ṭhākura adorou a deusa Bhavānī. Simplesmente por essa ofensa, terás que cair na vida infernal por dez milhões de nascimentos.”
Comentário
SIGNIFICADO—Há muitos seguidores tântricos que praticam a magia negra de adorar a deusa Bhavānī num crematório, para satisfazer o desejo de comer carne e beber vinho. Semelhantes tolos também consideram esse bhavānī-pūjā tão bom quanto adorar o Senhor Kṛṣṇa em serviço devocional. No entanto, o Senhor Caitanya Mahāprabhu condena os ditos svāmīs e yogīs que executam essas atividades tântricas abomináveis. Ele declara que semelhante bhavānī-pūjā para beber vinho e comer carne precipita o adorador rapidamente para a vida infernal. O próprio método de adoração já é infernal, e seus resultados também são, sem dúvida, infernais.
Muitos patifes dizem que todo caminho que seguirem os levará, por fim, a brahman. Todavia, este verso nos mostra como tais pessoas alcançam o brahman. O brahman se espalha por toda parte, mas a apreciação do brahman em diferentes objetos leva a diferentes resultados. Na Bhagavad-gītā (4.11), o Senhor diz que ye yathā māṁ prapadyante tāṁs tathaiva bhajāmy aham: “Eu recompenso a todos conforme eles se rendam a Mim.” Sem dúvida, os māyāvādīs percebem o brahman em determinados aspectos, mas a percepção do brahman nos aspectos de vinho, mulheres e carne não é a mesma percepção do brahman que os devotos alcançam ao cantar, dançar e comer prasāda. Os filósofos māyāvādīs, sendo educados em conhecimento insignificante, consideram idênticas todas as espécies de percepção do brahman, sem levar em consideração as variedades. Porém, embora Kṛṣṇa esteja em toda parte, Ele, ao mesmo tempo, não está em toda parte através de Sua potência inconcebível. Assim, a percepção de brahman do culto tântrico não é a mesma que a dos devotos puros. A menos que alguém alcance o ponto máximo de percepção de brahman, a consciência de Kṛṣṇa, ele é passível de punição. À exceção dos devotos conscientes de Kṛṣṇa, todas as pessoas são, em alguma proporção, pāṣaṇḍīs, ou demônios, e, assim, são passíveis de punição pelo Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, como se afirma abaixo.
Texto
pāṣaṇḍī saṁhāri’ bhakti karimu pracāra
Sinônimos
pāṣaṇḍī — demônios, ateístas; saṁhārite — para matar; mora — Minha; ei — esta; avatāra — encarnação; pāṣaṇḍī — ateísta; saṁhāri’ — matando; bhakti — serviço devocional; karimu — farei; pracāra — pregação.
Tradução
“Apareci nesta encarnação para matar os demônios [pāṣaṇḍī] e, após matá-los, pregar o culto do serviço devocional.”
Comentário
SIGNIFICADO—A missão do Senhor Caitanya é a mesma que a do Senhor Kṛṣṇa, como se afirma na Bhagavad-gītā (4.7-8):
glānir bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya
tadātmānaṁ sṛjāmy aham
vināśāya ca duṣkṛtām
dharma-saṁsthāpanārthāya
sambhavāmi yuge yuge
“Sempre e onde quer que haja um declínio nas práticas religiosas, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante de irreligião – nesse momento, Eu próprio desço. A fim de salvar os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu próprio faça Meu advento, milênio após milênio.”
Como se explica aqui, o verdadeiro objetivo de uma encarnação de Deus é matar os ateístas e manter os devotos. Ele não diz, como fazem tantas encarnações falsas, que tanto o ateu quanto o devoto estão na mesma plataforma. Nem Śrī Caitanya Mahāprabhu nem o Senhor Śrī Kṛṣṇa, a verdadeira Personalidade de Deus, defendem semelhante ideia.
Os ateus são merecedores de punição, ao passo que os devotos são dignos de proteção. Manter esse princípio é a missão de todos os avatāras, ou encarnações. Portanto, deve-se identificar uma encarnação por Suas atividades, e não por votos populares ou invenções mentais. Śrī Caitanya Mahāprabhu protegeu os devotos e matou muitos demônios no decorrer de Seu trabalho de pregação. Ele mencionou especificamente que os filósofos māyāvādīs são os maiores demônios. Portanto, Ele advertiu a todos os demais que não ouvissem a filosofia māyāvāda. Māyāvādi-bhāṣya śunile haya sarva-nāśa: simplesmente por ouvir a interpretação māyāvāda dos śāstras, a pessoa se condena. (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 6.169)
Texto
sei pāpī duḥkha bhoge, nā yāya parāṇa
Sinônimos
eta bali’ — dizendo isso; gelā — foi embora; prabhu — o Senhor; karite — para tomar; gaṅgā-snāna — um banho no Ganges; sei — aquele; pāpī — homem pecaminoso; duḥkha — dores; bhoge — sofre; nā — não; yāya — vai embora; parāṇa — a vida.
Tradução
Após dizer isso, o Senhor Se dirigiu ao Ganges para tomar Seu banho, e aquele homem pecaminoso não abandonou sua vida, senão que continuou a sofrer.
Comentário
SIGNIFICADO—Parece que quem ofende um vaiṣṇava continua a sofrer e não abandona sua vida. De fato, vimos um grande vaiṣṇava-aparādhī continuar a sofrer tanto que lhe era difícil se mover, apesar do que ele não morria.
Texto
tathā haite yabe kuliyā grāme āilā
hita upadeśa kaila ha-iyā karuṇa
Sinônimos
sannyāsa kariyā — após entrar na ordem de vida renunciada; yabe — quando; prabhu — Senhor Caitanya Mahāprabhu; nīlācale — em Jagannātha Purī; gelā — foi; tathā haite — dali; yabe — quando; kuliyā — chamada Kuliyā; grāme — para a vila; āilā — voltou; tabe — nessa altura; sei — aquele; pāpī — homem pecaminoso; prabhura — do Senhor; la-ila — tomou; śāraṇa — abrigo; hita — benéfico; upadeśa — conselho; kaila — deu; ha-iyā — tornando-Se; karuṇa — misericordioso.
Tradução
Śrī Caitanya, após entrar na ordem de vida renunciada, foi para Jagannātha Purī e, então, ao voltar para a vila Kuliyā, com o Seu regresso, aquele homem pecaminoso refugiou-se aos pés de lótus do Senhor. O Senhor, mostrando-lhe misericórdia, deu-lhe instruções para o seu benefício.
Comentário
SIGNIFICADO—Em seu Anubhāṣya, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura faz a seguinte observação com relação à vila Kuliyā. A vila originalmente conhecida como Kuliyā se desenvolveu até se transformar na atual cidade de Navadvīpa. Em diversos livros autorizados, como o Bhakti-ratnākara, o Caitanya-carita-mahākāvya, o Caitanya-candrodaya-nāṭaka e o Caitanya-bhāgavata, menciona-se que a vila Kuliyā fica no lado ocidental do Ganges. Mesmo hoje em dia, dentro da área conhecida como Koladvīpa, há um local conhecido como Kuliāra Gañja e um local chamado Kuliāra Daha, ambos dentro da jurisdição da atual municipalidade de Navadvīpa. Na época do Senhor Caitanya Mahāprabhu, havia duas vilas chamadas Kuliyā e Pahāḍapura, ambas no lado ocidental do Ganges e ambas pertencentes à jurisdição de Bāhiradvīpa. Naquela época, o local do lado oriental do Ganges conhecido agora como Antardvīpa era conhecido como Navadvīpa. Em Śrī Māyāpur, esse lugar é ainda conhecido como Dvīpera Māṭha. Há outro local chamado Kuliyā próximo a Kāṅcaḍāpāḍā, mas não é a mesma Kuliyā mencionada aqui. Não se pode aceitar esse local como o aparādha-bhañjanera pāṭa, ou o lugar onde a ofensa foi perdoada, pois isso ocorreu na Kuliyā supramencionada, do lado ocidental do Ganges. Por razões comerciais, muitas pessoas invejosas se opõem à escavação do local verdadeiro, e às vezes promovem locais desautorizados como sendo autorizados.
Texto
tathā yāha, teṅho yadi karena prasāda
yadi punaḥ aiche nāhi kara ācaraṇa
Sinônimos
śrīvāsa paṇḍitera — de Śrīvāsa Ṭhākura; sthāne — aos pés de lótus; āche — há; aparādha — ofensa; tathā — lá; yāha — vai; teṅho — ele; yadi — se; karena — faz; prasāda — bênçãos; tabe — então; tora — tua; habe — haverá; ei — esta; pāpa-vimocana — imunidade a reações pecaminosas; yadi — se; punaḥ — outra vez; aiche — semelhantes; nāhi kara — tu não cometeres; ācaraṇa — comportamento.
Tradução
“Cometeste uma ofensa aos pés de lótus de Śrīvāsa Ṭhākura”, disse o Senhor. “Primeiro, deves ir lá e implorar a misericórdia dele, após o que, se ele te abençoar e não cometeres semelhantes pecados outra vez, te livrarás dessas reações.”
Texto
tāṅhāra kṛpāya haila pāpa-vimocana
Sinônimos
tabe — depois disso; vipra — o brāhmaṇa (Gopāla Cāpāla); la-ila — se refugiou; asi — vindo; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; śaraṇa — abrigo de seus pés de lótus; tāṅhāra kṛpāya — por sua misericórdia; haila — se tornou; pāpa-vimocana — livre de todas as reações pecaminosas.
Tradução
Então, o brāhmaṇa, Gopāla Cāpāla, foi ter com Śrīvāsa Ṭhākura e se refugiou a seus pés de lótus, e, pela misericórdia de Śrīvāsa Ṭhākura, se livrou de todas as reações pecaminosas.
Texto
dvāre kapāṭa, — nā pāila bhitare yāite
Sinônimos
āra — outro; eka — um; vipra — brāhmaṇa; āila — veio; kīrtana — cantar do mantra Hare Kṛṣṇa; dekhite — para ver; dvāre — no portão; kapāṭa — a porta (estando fechada); nā pāila — não entrou; bhitare — dentro; yāite — ir.
Tradução
Outro brāhmaṇa também foi ver a execução de kīrtana, mas a porta estava fechada, e ele não pôde entrar na sala de kīrtana.
Texto
āra dina prabhuke kahe gaṅgāya lāga pāñā
Sinônimos
phiri’ gela — regressou; vipra — o brāhmaṇa; ghare — à sua casa; mane — mentalmente; duḥkha — infelicidade; lāga — obtendo; āra dina — no dia seguinte; prabhuke — ao Senhor; kahe — diz; gaṅgāya — às margens do Ganges; lāga — contato; pāñā — entrando em.
Tradução
Ele regressou à casa com a mente infeliz, mas, no dia seguinte, se encontrou com o Senhor Caitanya às margens do Ganges e falou com Ele.
Texto
paitā chiṇḍiyā śāpe pracaṇḍa durmukha
Sinônimos
śāpiba — vou amaldiçoar; tomāre — a Ti; muñi — eu; pāñāchi — tenho; manah-duḥkha —muito atormentado mentalmente; paitā — cordão sagrado; chiṇḍiyā — arrebentando; śāpe — amaldiçoando; pracaṇḍa — com raiva; durmukha — aquele que fala com aspereza.
Tradução
Aquele brāhmaṇa tinha a habilidade de falar asperamente e amaldiçoar os outros. Assim, arrebentou o seu cordão sagrado e declarou: “Agora Te amaldiçoarei, pois Teu comportamento me deixou muitíssimo atormentado.”
Texto
śāpa śuni’ prabhura citte ha-ila ullāsa
Sinônimos
saṁsāra-sukha — felicidade material; tomāra — Tua; ha-uka — que se torne; vināśa — inteiramente aniquilado; śāpa śuni’ — ouvindo essa maldição; prabhura — do Senhor; citte — mentalmente; ha-ila — houve; ullāsa — júbilo.
Tradução
O brāhmaṇa amaldiçoou o Senhor: “Serás despojado de toda felicidade material!” Ao ouvir isso, o Senhor sentiu grande júbilo interiormente.
Texto
brahma-śāpa haite tāra haya paritrāṇa
Sinônimos
prabhura — do Senhor; śāpa-vārtā — o incidente da maldição; yei — qualquer pessoa que; śune — ouça; śrāddhāvān — com afeição; brahma-śāpa — maldição de um brāhmaṇa; haite — de; tāra — sua; haya — se torna; paritrāṇa — libertação.
Tradução
Qualquer pessoa fiel que ouça a maldição desse brāhmaṇa ao Senhor Caitanya se liberta de todas as maldições bramânicas.
Comentário
SIGNIFICADO—Deve-se saber com firme convicção que o Senhor jamais pode estar sujeito a qualquer maldição ou bênção, pois Ele é transcendental. Apenas entidades vivas comuns estão sujeitas às maldições e às punições de Yamarāja. Sendo a Suprema Personalidade de Deus, Śrī Caitanya Mahāprabhu está além de tais punições e bênçãos. Quem entende esse fato com fé e amor se livra pessoalmente de todas as maldições proferidas por brāhmaṇas ou quaisquer outros. Este incidente não é mencionado no Caitanya-bhāgavata.
Texto
khaṇḍila tāhāra cittera saba avasāda
Sinônimos
mukunda-dattere — a Mukunda Datta; kaila — fez; daṇḍa — castigo; parasāda — bênção; khaṇḍila — eliminou; tāhāra — sua; cittera — da mente; saba —toda espécie de; avasāda — depressões.
Tradução
O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu abençoou Mukunda Datta com um castigo e, dessa maneira, eliminou toda a sua depressão mental.
Comentário
SIGNIFICADO—Certa vez, Mukunda Datta foi proibido de associar-se com Śrī Caitanya Mahāprabhu por se misturar com os impersonalistas māyāvādīs. Ao manifestar Sua mahā-prakāśa, o Senhor Caitanya chamou todos os devotos, um após outro, e os abençoou, enquanto Mukunda Datta teve de ficar do lado de fora da porta. Os devotos informaram ao Senhor que Mukunda Datta esperava do lado de fora, mas o Senhor respondeu: “Tão cedo não ficarei agradado com Mukunda Datta, pois ele explica o serviço devocional entre os devotos, mas depois vai ter com os māyāvādīs para ouvi-los recitar o Yoga-vaśiṣṭha-rāmāyaṇa, que é cheio de filosofia māyāvāda. Por este motivo, estou muito insatisfeito com ele.” Ao ouvir o Senhor falar dessa maneira, Mukunda Datta, que se encontrava do lado de fora, ficou muito contente de saber que o Senhor algum dia ficaria contente com ele, embora não estivesse contente naquele momento. Porém, quando o Senhor ficou sabendo que Mukunda Datta deixar a companhia dos māyāvādīs para sempre, Ele ficou satisfeito, e logo pediu para ver Mukunda. Assim, Ele o libertou da companhia dos māyāvādīs e lhe deu a associação com devotos puros.
Texto
tāhāte ācārya baḍa haya duḥkha-mati
Sinônimos
ācārya-gosāñire — a Advaita Ācārya; prabhu — o Senhor; kare — faz; guru-bhakti — prestando respeitos como se faz a um mestre espiritual; tāhāte — dessa maneira; ācārya — Advaita Ācārya; baḍa — bastante; haya — se torna; duḥkha-mati — aborrecido.
Tradução
O Senhor Caitanya respeitava Advaita Ācārya como Seu mestre espiritual, mas Advaita Ācārya Prabhu ficava muito aborrecido por esse comportamento.
Texto
krodhāveśe prabhu tāre kaila avajñāna
Sinônimos
bhaṅgī kari’ — fazendo-o de brincadeira; jñāna-mārga — o caminho da especulação filosófica; karila — fez; vyākhyāna — explicação; krodha-āveśe — irado; prabhu — o Senhor; tāre — a Ele; kaila — fez; avajñāna — desrespeito.
Tradução
Assim, Ele propositadamente começou a explicar o caminho da especulação filosófica, e o Senhor, irado, aparentemente O desrespeitou.
Texto
lajjita ha-iyā prabhu prasāda karila
Sinônimos
tabe — nessa hora; ācārya-gosāñira — de Advaita Ācārya; ānanda — prazer; ha-ila — despertou; lajjita — envergonhado; ha-iyā — ficando; prabhu — o Senhor; prasāda — bênção; karila — ofereceu.
Tradução
Nessa hora, Advaita Ācārya ficou muito satisfeito. Entendendo isso, o Senhor ficou um tanto envergonhado, mas abençoou Advaita Ācārya.
Comentário
SIGNIFICADO—Advaita Ācārya era discípulo de Mādhavendra Purī, o mestre espiritual de Īśvara Purī. Portanto, Īśvara Purī, o mestre espiritual de Śrī Caitanya Mahāprabhu, era irmão espiritual de Advaita Ācārya. Sendo assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu tratava Advaita Ācārya como Seu mestre espiritual, mas Śrī Advaita Ācārya não gostava desse comportamento do Senhor Caitanya, pois desejava ser tratado como Seu servo eterno. Advaita Prabhu aspirava ser servo do Senhor, e não Seu mestre espiritual. Portanto, Ele idealizou um plano para antagonizar o Senhor. Começou a explicar o caminho da especulação filosófica no meio de alguns māyāvādīs desventurados, e, quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu ficou sabendo disso, imediatamente foi até lá e, muito zangado, começou a bater em Advaita Ācārya. Nessa altura, Advaita Ācārya, muito satisfeito, começou a dançar, dizendo: “Vede só como Meu desejo agora se realizou! Há muito tempo o Senhor Caitanya Mahāprabhu vinha Me tratando honrosamente, mas, agora, Ele está Me tratando com aspereza. Essa é a Minha recompensa. Sua afeição por Mim é tão grande que Ele quis Me salvar das mãos dos māyāvādīs.” Ouvindo essa afirmação, o Senhor Caitanya Mahāprabhu ficou um tanto envergonhado, mas, de qualquer modo, ficou muito satisfeito com Advaita Ācārya.
Texto
lalāṭe likhila tāṅra ‘rāmadāsa’ nāma
Sinônimos
murāri-gupta — de Murāri Gupta; mukhe — da boca; śuni’ — ouvindo; rāma — do Senhor Rāmacandra; guṇa-grāma — glórias; lalāṭe — na testa; likhila — escreveu; tāṅra — de Murāri Gupta; rāma-dāsa — servo eterno do Senhor Rāmacandra; nāma — o nome.
Tradução
Murāri Gupta era um grande devoto do Senhor Rāmacandra. Ao ouvir as glórias do Senhor Rāmacandra contadas por Murāri, o Senhor Caitanya imediatamente escreveu em sua testa: “rāmadāsa” [servo eterno do Senhor Rāmacandra].
Texto
samasta bhaktere dila iṣṭa vara-dāna
Sinônimos
śrīdharera — de Śrīdhara; lauha-pātre — do pote de ferro; kaila — fez; jala-pāna — bebendo água; samasta — todos; bhaktere — aos devotos; dila — deu; iṣṭa — desejada; vara-dāna — bênção.
Tradução
Certa vez, o Senhor Caitanya Mahāprabhu foi à casa de Śrīdhara após um kīrtana e bebeu água de seu pote de ferro quebrado. Então, concedeu Sua bênção a todos os devotos segundo seus desejos.
Comentário
SIGNIFICADO—Após o maciço nagara-saṅkīrtana em protesto contra o magistrado Chand Kazi, o Kazi se converteu em devoto. Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu regressou com Seu grupo de saṅkīrtana para a casa de Śrīdhara, e o Chand Kazi O acompanhou. Todos os devotos descansaram ali por algum tempo e beberam água do pote de ferro quebrado de Śrīdhara. O Senhor aceitou a água porque o pote pertencia a um devoto. Então, o Chand Kazi voltou para casa. O lugar onde eles descansaram ainda se encontra a nordeste de Māyāpur, sendo conhecido como kīrtana-viśrāma-sthāna, “o lugar de descanso do grupo de kīrtana.”
Texto
ācārya-sthāne mātāra khaṇḍāila aparādha
Sinônimos
haridāsa ṭhākurere — a Haridāsa Ṭhākura; karila — fez; prasāda — bênção; ācārya-sthāne — na casa de Advaita Ācārya; mātāra — de Śacīmātā; khaṇḍāila — eliminou; aparādha — a ofensa.
Tradução
Após esse incidente, o Senhor abençoou Haridāsa Ṭhākura e eliminou a ofensa de Sua mãe na casa de Advaita Ācārya.
Comentário
SIGNIFICADO—No dia de mahā-prakāśa, o Senhor Caitanya Mahāprabhu abraçou Haridāsa Ṭhākura e o informou de que ele não era nenhum outro senão uma encarnação de Prahlāda Mahārāja. Quando Viśvarūpa aceitou sannyāsa, Śacīmātā pensou que Advaita Ācārya O havia persuadido a fazê-lo. Portanto, ela o acusou disso, e isso foi uma ofensa aos pés de lótus de Advaita Ācārya. Mais tarde, o Senhor Caitanya induziu Sua mãe a pegar a poeira dos pés de lótus de Advaita Ācārya, em decorrência do que o vaiṣṇava-aparādha dela foi anulado.
Texto
śuniyā paḍuyā tāhāṅ artha-vāda kaila
Sinônimos
bhakta-gaṇe — aos devotos; prabhu — o Senhor; nāma-mahimā — as glórias do santo nome; kahila — explicou; śuniyā — ouvindo; paḍuyā — os estudantes; tāhāṅ — ali; artha-vāda — interpretação; kaila — fizeram.
Tradução
Certa vez, o Senhor explicou as glórias do santo nome aos devotos, mas alguns estudantes ordinários que O ouviram deram sua própria interpretação.
Texto
sabāre niṣedhila, — ihāra nā dekhiha mukha
Sinônimos
nāme — no santo nome do Senhor; stuti-vāda — exagero; śuni’ — ouvindo; prabhura — do Senhor; haila — ficou; duḥkha — aborrecido; sabāre — a todos; niṣedhila — aconselhou; ihāra — dele; nā — não; dekhila — olheis; mukha — rosto.
Tradução
Quando um estudante interpretou as glórias do santo nome como uma prece exagerada, Śrī Caitanya Mahāprabhu, muito triste, de imediato aconselhou a todos que, dali em diante, não olhassem mais para o rosto do estudante.
Comentário
SIGNIFICADO—Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu explicou as glórias da potência transcendental do santo nome do Senhor, o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, um estudante infeliz disse que semelhante glorificação do santo nome era um exagero nos śāstras para induzir as pessoas a aceitá-lo. Dessa maneira, o estudante interpretou as glórias do santo nome. Isso se chama artha-vāda e é uma das dez ofensas aos pés de lótus do santo nome do Senhor. Há muitas espécies de ofensas, mas a ofensa conhecida como nāma-aparādha, uma ofensa aos pés de lótus do santo nome, é extremamente perigosa. Portanto, o Senhor aconselhou a todos que não olhassem para o rosto do ofensor. De pronto, Ele tomou um banho no Ganges com todas as Suas roupas para ensinar todos a evitarem semelhante nāma-aparādha. O santo nome é idêntico à Suprema Personalidade de Deus. Não há diferença entre a pessoa de Deus e Seu santo nome. Essa é a posição absoluta da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, aquele que faz distinções entre o Senhor e Seu nome é chamado de pāṣaṇḍī, ou descrente, um demônio ateu. Glorificar o santo nome é glorificar a Suprema Personalidade de Deus. Não se deve jamais tentar distinguir entre o Senhor e Seu nome ou interpretar as glórias do santo nome como simples exageros.
Texto
bhaktira mahimā tāhāṅ karila vyākhyāna
Sinônimos
sa-gaṇe — com Seus seguidores; sa-cele — sem tirar a roupa; giyā — indo; kaila — fez; gaṅgā-snāna — banho no Ganges; bhaktira — do serviço devocional; mahimā — glórias; tāhāṅ — ali; karila — fez; vyākhyāna — explicação.
Tradução
Sem nem mesmo mudar de roupa, o Senhor Caitanya tomou banho no Ganges com Seus companheiros. Ali, explicou as glórias do serviço devocional.
Texto
kṛṣṇa-vaśa-hetu eka — prema-bhakti-rasa
Sinônimos
jñāna — o caminho do conhecimento especulativo; karma — atividades fruitivas; yoga — o processo de controlar os sentidos; dharme — nas atividades, em tal ocupação; nahe — não fica; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; vaśa — satisfeito; kṛṣṇa — do Senhor Kṛṣṇa; vaśa — para o prazer; hetu — razão; eka — uma; prema — amor; bhakti — serviço devocional; rasa — semelhante doçura.
Tradução
Seguindo os caminhos de conhecimento filosófico especulativo, atividades fruitivas ou yoga místico para controlar os sentidos, não se pode satisfazer Kṛṣṇa, o Senhor Supremo. A única causa da satisfação do Senhor é o amor devocional imaculado por Kṛṣṇa.
Texto
na sāṅkhyaṁ dharma uddhava
na svādhyāyas tapas tyāgo
yathā bhaktir mamorjitā
Sinônimos
na — jamais; sādhayati — faz permanecer satisfeito; mām — a Mim; yogaḥ — o processo de controle; na — nem; sāṅkhyam — o processo de adquirir conhecimento filosófico sobre a Verdade Absoluta; dharmaḥ — semelhante ocupação; uddhava — Meu querido Uddhava; na — nem; svādhyāyaḥ — estudo dos Vedas; tapaś — austeridades; tyagaḥ — renúncia, aceitação de sannyāsa ou caridade; yathā — tanto quanto; bhaktiḥ — serviço devocional; mama — a Mim; ūrjitā — desenvolvido.
Tradução
[A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, disse:] “Meu querido Uddhava, nem por meio de aṣṭāṅga-yoga [o sistema de yoga místico para controlar os sentidos], nem por meio do monismo impessoal ou do estudo analítico da Verdade Absoluta, nem por meio do estudo dos Vedas, nem por meio da prática de austeridade, nem por meio da caridade, nem por meio da aceitação de sannyāsa pode alguém Me satisfazer tanto quanto aquele que desenvolve imaculado serviço devocional a Mim.”
Comentário
SIGNIFICADO—Karmīs, jñānīs, yogīs, tapasvīs e estudantes da literatura védica que não têm consciência de Kṛṣṇa apenas divagam e não obtêm qualquer proveito final, pois não têm conhecimento claro da Suprema Personalidade de Deus. Tampouco têm fé em se aproximar dEle praticando serviço devocional, embora, em toda parte, se enfatize repetidamente tal serviço, como acontece neste verso do Śrīmad-Bhāgavatam (11.14.20). A Bhagavad-gītā (18.55) também declara que bhaktyā mām abhijānāti yāvān yaś cāsmi tattvataḥ: “Apenas mediante o serviço devocional é que se pode compreender a Personalidade Suprema como Ele é.” Se alguém quer entender a Personalidade Suprema de fato, deve adotar o caminho do serviço devocional e não perder tempo com infrutíferas especulações filosóficas, atividades fruitivas, práticas de yoga místico ou austeridades e penitências rigorosas. Em outro trecho da Bhagavad-gītā (12.5), o Senhor confirma que kleśo ’dhikataras teṣām avyaktāsakta-cetasām: “Para aqueles cujas mentes estão apegadas ao aspecto imanifesto e impessoal do Supremo, o avanço é muito penoso.” Pessoas que se apegam ao aspecto impessoal do Senhor são obrigadas a enfrentar grandes incômodos e, não obstante, não podem compreender a Verdade Absoluta. Como se explica no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.11), brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate. A menos que entendamos a Suprema Personalidade de Deus, a fonte original tanto do Brahman quanto do Paramātmā, ainda estaremos na escuridão acerca da Verdade Absoluta.
Texto
śuniyā murāri śloka kahite lāgilā
Sinônimos
murārike — a Murāri; kahe — diz; tumi — tu; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; vaśa — satisfizeste; kailā — fez; śuniyā — ouvindo; murāri — chamado Murāri; śloka — versos; kahite — a falar; lāgilā — começou.
Tradução
Então, o Senhor Caitanya elogiou Murāri Gupta, dizendo: “Satisfizeste o Senhor Kṛṣṇa.” Ao ouvir isso, Murāri Gupta citou um verso do Śrīmad-Bhāgavatam.
Texto
kva kṛṣṇaḥ śrī-niketanaḥ
brahma-bandhur iti smāhaṁ
bāhubhyāṁ parirambhitaḥ
Sinônimos
kva — ao passo que; aham — eu (sou); daridraḥ — muito pobre; pāpīyān — pecaminoso; kva — ao passo que; kṛṣṇaḥ — a Suprema Personalidade de Deus; śrī-niketanaḥ — o reservatório da deusa da fortuna; brahma-bandhuḥ — um brāhmaṇa de casta sem qualificações bramânicas; iti — assim; sma — decerto; aham — eu (sou); bāhubhyām — pelos braços; parirambhitaḥ — abraçado.
Tradução
“‘Sendo que não passo de um pobre e pecaminoso brahma-bandhu, desqualificado bramanicamente, apesar de nascido em família de brāhmaṇas, e sendo que Tu, Senhor Kṛṣṇa, és o abrigo da deusa da fortuna, é simplesmente maravilhoso, meu querido Senhor Kṛṣṇa, que me tenhas abraçado.’”
Comentário
SIGNIFICADO—Este é um verso do Śrīmad-Bhāgavatam (10.81.16) falado por Sudāmā Vipra na presença do Senhor Śrī Kṛṣṇa. Esse verso e o anterior, extraídos do Śrīmad-Bhāgavatam, indicam claramente que, embora Kṛṣṇa seja tão grande que não seja possível alguém O satisfazer, Ele manifesta Sua grandeza ao satisfazer-Se pessoalmente até com alguém que é desqualificado segundo muitos pontos de vista. Sudāmā Vipra nascera em família de brāhmaṇas, e era um estudioso erudito e amigo de escola de Kṛṣṇa, mas se considerava indigno de ser chamado “brāhmaṇa estrito”. Ele se chamou de brahma-bandhu, que significa “alguém nascido em família de brāhmaṇas, mas sem qualificações bramânicas”. Contudo, devido a Seu grande respeito pelos brāhmaṇas, Kṛṣṇa abraçou Sudāmā Vipra, embora este não fosse um brāhmaṇa regular, mas, sim, um brahma-bandhu, ou amigo de uma família de brāhmaṇas. Murāri Gupta nem mesmo podia ser chamado de brahma-bandhu, pois nascera em família vaidya, e, portanto, de acordo com a estrutura social, era considerado śūdra. Porém, Kṛṣṇa concedeu misericórdia especial a Murāri Gupta, pois este era um querido devoto do Senhor, como afirma Śrī Caitanya Mahāprabhu. O significado do comentário elaborado por Śrī Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura sobre este assunto é que nenhuma qualificação neste mundo material pode satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, mas tudo resulta em sucesso simplesmente por meio do desenvolvimento de serviço devocional ao Senhor.
Os membros da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna não podem sequer se chamar de brahma-bandhus. Portanto, nosso único meio de satisfazer Kṛṣṇa é seguir os preceitos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, que diz:
āmāra ājñāya guru hañā tāra’ ei deśa
“Ensina as instruções de Kṛṣṇa a todos que encontres. Dessa maneira, sob Minha ordem, torna-te um mestre espiritual e liberta o povo desta terra.” (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 7.128) Simplesmente tentando seguir as ordens de Śrī Caitanya Mahāprabhu, falamos às pessoas do mundo sobre o Bhagavad-gītā Como Ele É. Isso nos capacitará a satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa.
Texto
saṅkīrtana kari’ vaise śrama-yukta hañā
Sinônimos
eka-dina — certo dia; prabhu — o Senhor; saba — todos; bhakta-gaṇa — devotos; lañā — aceitando a companhia; saṅkīrtana — o cantar do mantra Hare Kṛṣṇa; kari’ — fazendo assim; vaise — se sentaram; śrama-yukta — se sentindo cansados; hañā — estando assim.
Tradução
Certo dia, o Senhor realizou saṅkīrtana com todos os Seus devotos, e, quando estavam bastante cansados, sentaram-se.
Texto
tat-kṣaṇe janmila vṛkṣa bāḍite lāgila
Sinônimos
eka — uma; āmra-bīja — semente de manga; prabhu — o Senhor; aṅgane — no pátio; ropila — plantou; tat-kṣaṇe — imediatamente; janmila — se desenvolveu; vṛkṣa — uma árvore; bāḍite — a crescer; lāgila — começou.
Tradução
Então, o Senhor plantou uma semente de manga no pátio, e, de imediato, a semente se desenvolveu em árvore e começou a crescer.
Texto
pākila aneka phala, sabei vismita
Sinônimos
dekhite dekhite — enquanto as pessoas olhavam; vṛkṣa — a árvore; ha-ila — se tornou; phalita — plenamente crescida com frutos; pākila — amadureceram; aneka — muitos; phala — frutos; sabei — todos eles; vismita — maravilhados.
Tradução
Diante das pessoas presentes, a árvore cresceu em plenitude, com frutos que amadureceram por completo. Assim, todos ficaram maravilhados.
Texto
prakṣālana kari’ kṛṣṇe bhoga lāgāila
Sinônimos
śata — centenas; dui — duas; phala — frutas; prabhu — o Senhor; śīghra — logo; pāḍāila — fez a colheita; prakṣālana — lavando; kari’ — fazendo; kṛṣṇe — ao Senhor Kṛṣṇa; bhoga — oferecendo; lāgāila — fez assim.
Tradução
Imediatamente, o Senhor colheu cerca de duzentas frutas e, após lavá-las, ofereceu-as para Kṛṣṇa comer.
Texto
eka janera peṭa bhare khāile eka phala
Sinônimos
rakta-pīta-varṇa — as mangas eram de cores vermelha e amarela; nāhi — não havia qualquer; aṣṭhi — semente; valkala — ou casca; eka — um; janera — do homem; peṭa — estômago; bhare — se encheria; khāile — se comesse; eka — uma; phala — fruta.
Tradução
As frutas eram todas vermelhas e amarelas, sem qualquer semente dentro e sem qualquer casca por fora, e uma fruta era suficiente para encher o estômago de um homem.
Comentário
SIGNIFICADO—Na Índia, considera-se a melhor manga aquela que é vermelha e amarela, com sementes bem pequenas, com casca muito fina e tão saborosa que uma só fruta é suficiente para satisfazer uma pessoa. Considera-se a manga como a rainha de todas as frutas.
Texto
sabāke khāoyāla āge kariyā bhakṣaṇa
Sinônimos
dekhiyā — ao ver isso; santuṣṭa — satisfeito; hailā — ficou; śacīra — de mãe Śacī; nandana — filho; sabāke — todos; khāoyāla — fizeram comer; āge — no início; kariyā — fazendo; bhakṣaṇa — Ele próprio comendo.
Tradução
Ao ver a qualidade das mangas, o Senhor ficou muito satisfeito. Assim, após comer primeiro, alimentou todos os outros devotos.
Texto
eka phala khāile rase udara pūraya
Sinônimos
aṣṭhi — semente; valkala — casca; nāhi — não há nenhuma; amṛta — néctar; rasa-maya — cheias de suco; eka — uma; phala — fruta; khāile — se alguém come; rase — com o suco; udara — estômago; pūraya — satisfeito.
Tradução
As frutas não tinham nem semente nem casca. Eram cheias de suco nectáreo e eram tão doces que, simplesmente por comer apenas uma, um homem ficava plenamente satisfeito.
Texto
vaiṣṇava khāyena phala, — prabhura ullāsa
Sinônimos
ei-mata — dessa maneira; pratidina — todos os dias; phale — cresciam frutas; bāra — doze; māsa — meses; vaiṣṇava — os vaiṣṇavas; khāyena — comiam; phala — as frutas; prabhura — do Senhor; ullāsa — satisfação.
Tradução
Dessa maneira, cresciam frutas na árvore todos os dias por todos os doze meses do ano, e os vaiṣṇavas costumavam comê-las, o que satisfazia o Senhor imensamente.
Texto
anya loka nāhi jāne vinā bhakta-gaṇa
Sinônimos
ei saba — todos estes; līlā — passatempos; kare — executados; śacīra — de mãe Śacī; nandana — filho; anya loka — outras pessoas; nāhi — não; jāne — conhecem; vinā — exceto; bhakta-gaṇa — os devotos.
Tradução
Esses são os passatempos íntimos do filho de Śacī. Ninguém mais sabe desse incidente, a não ser os devotos.
Comentário
SIGNIFICADO—Os não-devotos não podem crer neste incidente, mas o local onde a árvore cresceu ainda existe em Māyāpur. Ele se chama Āmra-ghaṭṭa ou Āma-ghāṭā.
Texto
āmra-mahotsava prabhu kare dine dine
Sinônimos
ei mata — dessa maneira; bāra-māsa — por doze meses; kīrtana — o cantar do mantra Hare Kṛṣṇa; avasāne — no final; āmra-mahotsava — festival de comer mangas; prabhu — o Senhor; kare — executa; dine dine — todos os dias.
Tradução
Dessa maneira, o Senhor realizava saṅkīrtana todos os dias, e, no final de cada saṅkīrtana, havia um festival de comer mangas, todos os dias, todos os doze meses.
Comentário
SIGNIFICADO—Por princípio, o Senhor Caitanya Mahāprabhu distribuía prasāda ao fim de cada execução de kīrtana. De modo similar, os membros do movimento para a consciência de Kṛṣṇa devem distribuir alguma prasāda à audiência após a execução de kīrtana.
Texto
āpana-icchāya kaila megha nivāraṇa
Sinônimos
kīrtana — saṅkīrtana; karite — executando; prabhu — o Senhor; āila — houve; megha-gaṇa — conglomerados de nuvens; āpana-icchāya — pela vontade pessoal; kaila — fez; megha — das nuvens; nivāraṇa — parando.
Tradução
Certa vez, enquanto Śrī Caitanya Mahāprabhu realizava kīrtana, nuvens no céu se condensaram, ao que o Senhor, por Sua própria vontade, impediu que elas chovessem.
Comentário
SIGNIFICADO—A esse respeito, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura diz que, certa vez, quando o Senhor Caitanya executava saṅkīrtana a uma curta distância da vila, algumas nuvens apareceram no céu. Pela vontade suprema do Senhor, as nuvens foram solicitadas a se dispersarem, e assim o fizeram. Devido a esse incidente, aquele local é ainda conhecido como Meghera-cara. Uma vez que o curso do Ganges agora mudou, a vila chamada Belapukhuriyā, que antes se encontrava num local diferente, chamado Tāraṇavāsa, agora ficou conhecida como Meghera-cara. O Madhya-khaṇḍa do Caitanya-maṅgala, de Śrīla Locana Dāsa, também relata que, certa vez, no final do dia, quando nuvens vespertinas se acumulavam acima e trovejavam ameaçadoramente, todos os vaiṣṇavas ficaram com muito medo. Porém, o Senhor pegou Seus karatālas em Suas mãos e pessoalmente começou a cantar o mantra Hare Kṛṣṇa, olhando para o céu como se estivesse dando uma ordem aos semideuses nos planetas superiores. Assim, todas as nuvens reunidas se dispersaram, e, quando o céu clareou, com o aparecimento da Lua, o Senhor começou a dançar com muita alegria junto de Seus devotos jubilosos e satisfeitos.
Texto
‘bṛhat sahasra-nāma’ paḍa, śunite mana haila
Sinônimos
eka-dina — um dia; prabhu — o Senhor; śrīvāsere — a Śrīvāsa Ṭhākura; ājñā — ordem; dila — deu; bṛhat — grande; sahasra-nāma — mil nomes; paḍa — lidos; śunite — ouvir; mana — mente; haila — desejava.
Tradução
Um dia, o Senhor mandou que Śrīvāsa Ṭhākura lesse o Bṛhat-sahasra-nāma [os mil nomes do Senhor Viṣṇu], pois desejava ouvi-los naquele momento.
Texto
śuniyā āviṣṭa hailā prabhu gauradhāma
Sinônimos
paḍite — enquanto lia; āilā — apareceu; stave — na oração; nṛsiṁhera — do Senhor Nṛsiṁha; nāma — o santo nome; śuniyā — ouvindo; āviṣṭa — absorto; hailā — ficou; prabhu — Senhor; gaura-dhāma — Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Tradução
À medida que lia os mil nomes do Senhor, apareceu no decurso da leitura o santo nome do Senhor Nṛsiṁha. Ao ouvir o santo nome do Senhor Nṛsiṁha, Caitanya Mahāprabhu Se absorveu plenamente em pensamentos.
Comentário
SIGNIFICADO—O Caitanya-maṅgala, Madhya-khaṇḍa, descreve esse incidente da seguinte maneira: Śrīvāsa Paṇḍita executava a cerimônia śrāddha de seu pai, e, segundo dita o costume, estava ouvindo os mil nomes do Senhor Viṣṇu. Nessa hora, Gaurahari (o Senhor Caitanya) apareceu em cena e também Se colocou a ouvir os mil nomes de Viṣṇu com plena satisfação. Assim, ao ouvir o santo nome do Senhor Nṛsiṁha, o Senhor Caitanya absorveu-Se em pensamentos, e ficou irado como Nṛsiṁha Prabhu em Sua atitude iracunda. Seus olhos se avermelharam, Seus cabelos se arrepiaram, todas as partes de Seu corpo tremeram, e Ele emitiu um som de trovão. De repente, pegou de uma maça, amedrontando as pessoas, que pensaram: “Não sabemos que espécie de ofensa cometemos agora!” Mas, então, Śrī Caitanya Mahāprabhu colocou em ordem os Seus pensamentos e Se sentou em Seu assento.
Texto
pāṣaṇḍī mārite yāya nagare dhāiyā
Sinônimos
nṛsiṁha-āveśe — com a atitude extática do Senhor Nṛsiṁha; prabhu — o Senhor; hāte — em Sua mão; gadā — maça; lañā — pegando; pāṣaṇḍī — os ateus; mārite — para matar; yāya — vai; nagare — na cidade; dhāiyā — correndo.
Tradução
Com a atitude do Senhor Nṛsiṁhadeva, o Senhor Caitanya correu pelas ruas da cidade com a maça na mão, pronto para matar todos os ateus.
Texto
patha chāḍi’ bhāge loka pāñā baḍa bhaya
Sinônimos
nṛsiṁha-āveśa — o êxtase do Senhor Nṛsiṁhadeva; dekhi’ — ao ver; mahā-tejomaya — feroz; patha chāḍi’ — abandonando o caminho; bhāge — debandavam; loka — todas as pessoas; lāga — ficando; baḍa — muito; bhaya — amedrontadas.
Tradução
Ao vê-lO aparecer muito feroz no êxtase do Senhor Nṛsiṁha, as pessoas corriam da rua e fugiam daqui para ali, com medo de Sua ira.
Texto
śrīvāsa-gṛhete giyā gadā phelāila
Sinônimos
loka-bhaya — as pessoas amedrontadas; dekhi’ — ao ver isto; prabhura — do Senhor; bāhya — sentido externo; ha-ila — apareceu; śrīvāsa-gṛhete — na casa de Śrīvāsa Paṇḍita; giyā — indo lá; gadā — a maça; phelāila — jogou fora.
Tradução
Ao ver as pessoas tão amedrontadas, o Senhor voltou a Si e a Seus sentidos externos e, assim, regressou à casa de Śrīvāsa Ṭhākura e jogou a maça fora.
Texto
loka bhaya pāya, — mora haya aparādha
Sinônimos
śrīvāse — a Śrīvāsa Ṭhākura; kahena — diz; prabhu — o Senhor; kariyā — ficando; viṣāda — taciturno; loka — pessoas; bhaya pāya — ficam com medo; mora — Minha; haya — há; aparādha — ofensa.
Tradução
O Senhor ficou taciturno e disse a Śrīvāsa Ṭhākura: “Quando adotei a atitude do Senhor Nṛsiṁhadeva, as pessoas encheram-se de temor. Portanto, parei, já que é uma ofensa causar medo às pessoas.”
Texto
tāra koṭi aparādha saba haya kṣaya
Sinônimos
śrīvāsa balena — Śrīvāsa Ṭhākura disse; ye — qualquer pessoa que; tomāra — Teu; nāma — santo nome; laya — aceite; tāra — suas; koṭi — dez milhões; aparādha — ofensas; saba — todas; haya — ficam; kṣaya — destruídas.
Tradução
Śrīvāsa Ṭhākura respondeu: “Qualquer pessoa que aceite Teu santo nome destrói dez milhões de suas ofensas de imediato.”
Texto
ye tomā’ dekhila, tāra chuṭila saṁsāra
Sinônimos
aparādha — ofensa; nāhi — não; kaile — cometeste; lokera — das pessoas; nistāra — libertação; ye — qualquer pessoa que; tomā — a Ti; dekhila — viu; tāra — seu; chuṭila — livrou-se; saṁsāra — cativeiro material.
Tradução
“Não cometeste ofensas ao apareceres como Nṛsiṁhadeva. Pelo contrário, qualquer pessoa que tenha Te visto naquela atitude se libertou de imediato do cativeiro da existência material.”
Texto
tuṣṭa hañā prabhu āilā āpana-bhavana
Sinônimos
eta bali — dizendo isso; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; karila — fez; sevana — adoração; tuṣṭa — satisfeito; hañā — ficando; prabhu — o Senhor; āilā — regressou; āpana-bhavana — à Sua própria casa.
Tradução
Após dizer isso, Śrīvāsa Ṭhākura adorou o Senhor, que, então, ficou muito satisfeito e regressou à Sua própria casa.
Texto
prabhura aṅgane nāce, ḍamaru bājāya
Sinônimos
āra dina — outro dia; śiva-bhakta — um devoto do senhor Śiva; śiva-guṇa — qualidades do senhor Śiva; gāya — canta; prabhura — do Senhor Caitanya; aṅgaṇe — no pátio; nāce — dança; ḍamaru — uma espécie de instrumento musical; bājāya — toca-o.
Tradução
Num outro dia, um grande devoto do senhor Śiva, cantando as qualidades do senhor Śiva, foi à casa do Senhor Caitanya, em cujo pátio começou a dançar e tocar seu ḍamaru [um instrumento musical].
Texto
tāra skandhe caḍi nṛtya kaila bahu-kṣaṇa
Sinônimos
maheśa-āveśa — na atitude do senhor Śiva; hailā — ficou; śacīra — de mãe Śacī; nandana — filho; tāra skandhe — em seu ombro; caḍi — montando; nṛtya — dança; kaila — fizeram; bahu-kṣaṇa — por longo tempo.
Tradução
Então, o Senhor Caitanya, adotando a atitude do senhor Śiva, montou nos ombros do homem, e, assim, eles dançaram juntos por um longo tempo.
Comentário
SIGNIFICADO—O Senhor Caitanya Mahāprabhu adotou a atitude do senhor Śiva, pois Ele também é Śiva. Segundo a filosofia de acintya-bhedābheda-tattva, o senhor Śiva não é diferente do Senhor Viṣṇu, mas, de qualquer modo, o senhor Śiva não é o Senhor Viṣṇu, assim como o iogurte nada mais é que leite e, não obstante, não é leite. Não se pode obter o benefício do leite bebendo iogurte. Analogamente, não se pode obter a salvação adorando o senhor Śiva. Se alguém deseja alcançar a salvação, deve adorar o Senhor Viṣṇu. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (9.4): mat-sthāni sarva-bhūtāni na cāhaṁ teṣv avasthitaḥ. Tudo repousa no Senhor, pois tudo é Sua energia potencial, mas Ele não está em toda parte. Nada de extraordinário há em o Senhor Caitanya adotar a atitude do senhor Śiva, mas, sendo assim, não se deve pensar que, ao adorar o senhor Śiva, adora-se o Senhor Caitanya. Isso seria um erro.
Texto
prabhura nṛtya dekhi nṛtya lāgila karite
Sinônimos
āra — outro; dina — dia; eka — um; bhikṣuka — mendigo; āilā — veio; māgite — pedir; prabhura — do Senhor; nṛtya — dançando; dekhi — vendo; nṛtya — dançando; lāgila — começou; karite — a executar.
Tradução
Num outro dia, um mendigo foi pedir esmolas na casa do Senhor. Vendo, porém, o Senhor a dançar, ele também começou a dançar.
Texto
prabhu tāre prema dila, prema-rase bhāse
Sinônimos
prabhu-saṅge — juntamente com o Senhor; nṛtya kare — dançava; parama — muito; ullāse — com satisfação; prabhu — o Senhor; tāre — a ele; prema — amor a Deus; dila — concedeu; prema-rase — na doçura do amor a Deus; bhāse — começou a flutuar.
Tradução
Ele dançava com o Senhor porque foi favorecido com o amor a Kṛṣṇa. Assim, ele flutuava na doçura do amor a Deus.
Texto
tāhāre sammāna kari’ prabhu praśna kaila
Sinônimos
āra dine — outro dia; jyotiṣa — um astrólogo; sarva-jña — que sabe de tudo; eka — um; āila — veio ali; tāhāre — a ele; sammāna kari’ — dando todas as honras; prabhu — o Senhor; praśna — pergunta; kaila — fez.
Tradução
Num outro dia, veio um astrólogo que supostamente sabia tudo – passado, presente e futuro. Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu o recebeu com todas as honras e lhe fez a seguinte pergunta.
Comentário
SIGNIFICADO—De um modo geral, os brāhmaṇas costumavam atuar como astrólogos, médicos do āyurveda, professores e sacerdotes. Embora fossem altamente eruditos e respeitáveis, tais brāhmaṇas iam de porta em porta para distribuir seu conhecimento. Acima de tudo, um brāhmaṇa ia à casa de um chefe de família para informá-lo das cerimônias a serem executadas em determinado tithi, ou data, mas, se havia alguém doente na família, seus membros consultavam o brāhmaṇa como médico, e o brāhmaṇa lhes dava instruções e algum remédio. Muitas vezes, visto que os brāhmaṇas eram peritos em astrologia, as pessoas também lhes faziam perguntas sobre seu passado, presente e futuro.
Embora o brāhmaṇa aparecesse na casa do Senhor Caitanya como pedinte, o Senhor Caitanya Mahāprabhu o recebeu com grande respeito, pois ele era um brāhmaṇa qualificado que conhecia perfeitamente a ciência astrológica. Embora os brāhmaṇas fossem de porta em porta exatamente como pedintes, eles eram honrados como hóspedes muito respeitáveis. Esse era o sistema na sociedade hindu quinhentos anos atrás, durante a época de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Esse sistema prevalecia ainda cem anos atrás; até cinquenta ou sessenta anos atrás, em nossa infância, tais brāhmaṇas visitavam as famílias como pedintes humildes, e as pessoas obtinham grande benefício da misericórdia de tais brāhmaṇas. O maior benefício era que o dono da casa podia poupar o gasto de bastante dinheiro com honorários médicos porque os brāhmaṇas, além de poderem explicar o passado, o presente e o futuro, podiam, em geral, curar toda espécie de doenças simplesmente por dar instruções e algum remédio. Assim, ninguém carecia dos benefícios de um médico, astrólogo e sacerdote de primeira classe. Os membros importantes da ISKCON devem dar atenção cuidadosa à nossa escola de Dallas, onde se ensina sânscrito e inglês às crianças para que elas se tornem brāhmaṇas perfeitos. Se elas forem realmente treinadas como brāhmaṇas perfeitos, poderão salvar a sociedade dos ladrões e trapaceiros; na verdade, as pessoas podem ter uma vida feliz sob a proteção de brāhmaṇas qualificados. Portanto, a Bhagavad-gītā (4.13) dá ênfase à divisão da sociedade (cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ guṇa-karma-vibhāgaśaḥ). Infelizmente, certas pessoas hoje em dia afirmam ser brāhmaṇas simplesmente por direito de nascimento, sem quaisquer qualificações. Portanto, toda a sociedade está em caos.
Texto
gaṇite lāgilā sarva-jña prabhu-vākya śuni’
Sinônimos
ke āchiluṅ āmi — quem Eu fui; pūrva-janme — em Meu nascimento anterior; kaha — por favor, dize-Me; gaṇi’ — por teus cálculos astrológicos; gaṇite — a calcular; lāgilā — começou; sarva-jña — um homem que conhece o passado, o presente e o futuro; prabhu-vākya — as palavras do Senhor Caitanya; śuni — ao ouvir.
Tradução
“Por favor, dize-Me quem Eu fui em Meu nascimento anterior”, disse o Senhor. “Por favor, dize-Me isso por teus cálculos astrológicos.” Ao ouvir as palavras do Senhor, o astrólogo começou prontamente a fazer seus cálculos.
Comentário
SIGNIFICADO—Por meio da astrologia, podem-se conhecer o passado, o presente e o futuro. Os astrólogos ocidentais modernos não têm conhecimento do passado ou do futuro, nem podem dizer perfeitamente nada sobre o presente. No entanto, observamos nesta passagem que, logo após ouvir a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, o astrólogo começou a fazer seus cálculos. Isso não era apenas fachada; ele realmente sabia como verificar a vida passada de alguém por meio da astrologia. Um tratado ainda existente, chamado Bhṛgu-saṁhitā, descreve um sistema pelo qual qualquer pessoa pode obter de imediato informações sobre o que foi no passado e o que vai ser no futuro. Os brāhmaṇas que iam de porta em porta como se fossem pedintes dominavam perfeitamente esse vasto campo de conhecimento. Assim, o conhecimento máximo era facilmente disponível até para o homem mais pobre da sociedade. O homem mais pobre podia consultar um astrólogo para saber sobre seu passado, presente e futuro, sem a necessidade de acordos comerciais ou pagamentos exorbitantes. O brāhmaṇa costumava dar o benefício de todo o seu conhecimento sem pedir remuneração, em troca do que o homem pobre lhe oferecia um punhado de arroz, ou qualquer coisa que tivesse em sua posse, para agradar o brāhmaṇa. Numa sociedade humana perfeita, o conhecimento perfeito em qualquer ciência – médica, astrológica, eclesiástica e assim por diante – está disponível até para o homem mais pobre, sem nenhuma preocupação de pagamento. Entretanto, hoje em dia, não se pode obter justiça, tratamento médico, orientação astrológica ou iluminação eclesiástica sem dinheiro, e, uma vez que as pessoas geralmente são pobres, estão privadas dos benefícios de todas essas grandes ciências.
Texto
ananta vaikuṇṭha-brahmāṇḍa — sabāra āśraya
Sinônimos
gaṇi — por meio de cálculos; dhyāne — por meio de meditação; dekhe — vê; sarva-jña — conhecedor de tudo; mahā-jyotirmaya — corpo extremamente refulgente; ananta — ilimitado; vaikuṇṭha — mundo espiritual; brahmāṇḍa — planetas; sabāra — de todos eles; āśraya — abrigo.
Tradução
Por meio de cálculos e meditação, o sábio astrólogo viu o corpo extremamente refulgente do Senhor, que é o lugar de descanso de todos os ilimitados planetas Vaikuṇṭha.
Comentário
SIGNIFICADO—Aqui obtemos alguma informação do mundo Vaikuṇṭha, ou mundo espiritual. Vaikuṇṭha significa “sem ansiedade”. No mundo material, todos vivem cheios de ansiedades, mas a Bhagaṇad-gītā (8.20) descreve outro mundo, onde não há ansiedades:
’vyakto ’vyaktāt sanātanaḥ
yaḥ sa sarveṣu bhūteṣu
naśyatsu na vinaśyati
“Porém, existe outra natureza, que é eterna e transcendental a esta matéria manifesta e imanifesta. Ela é suprema e nunca é aniquilada. Quando tudo neste mundo é aniquilado, essa parte permanece como ela é.”
Assim como existem muitos planetas dentro do mundo material, existem muitos milhões de planetas, chamados Vaikuṇṭhalokas, no mundo espiritual. Todos esses Vaikuṇṭhalokas, ou planetas superiores, descansam na refulgência da Suprema Personalidade de Deus. Como se afirma na Brahma-saṁhitā (yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi), a refulgência Brahman que emana do corpo do Senhor Supremo cria inúmeros planetas, tanto no mundo espiritual quanto no mundo material, de modo que esses planetas são criações da Suprema Personalidade de Deus. O astrólogo viu que Śrī Caitanya Mahāprabhu era essa mesma Personalidade de Deus. Mal podemos imaginar quão erudito ele era, mas, de qualquer maneira, viajava de porta em porta, assim como um pedinte comum, para o benefício máximo da sociedade humana.
Texto
dekhi’ prabhura mūrti sarva-jña ha-ila phāṅphara
Sinônimos
parama-tattva — a Verdade Suprema; para-brahma — o Brahman Supremo; parama-īśvara — o Senhor Supremo; dekhi’ — ao ver; prabhura — do Senhor; mūrti — forma; sarva-jña — o sábio astrólogo; ha-ila — ficou; phāṅphara — confuso.
Tradução
Ao ver que o Senhor Caitanya Mahāprabhu era a própria Verdade Absoluta, o Brahman Supremo, a Personalidade de Deus, o astrólogo ficou confuso.
Comentário
SIGNIFICADO—Com clareza, indica-se neste verso que, em última análise, a Verdade Absoluta, o Brahman Supremo, é a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, o início de todas as coisas é uma pessoa. Como se confirma na Bhagavad-gītā (10.8), mattaḥ sarvaṁ pravartate: tudo começa a partir da Suprema Personalidade de Deus. O Senhor Supremo é a entidade viva suprema. Portanto, tudo que existe, seja matéria, seja espírito, é apenas uma emanação da Pessoa Suprema, ou da vida suprema. A teoria dos cientistas modernos de que a vida começa a partir da matéria é um disparate. Tanto a matéria quanto a vida surgem da vida. Infelizmente, os cientistas desconhecem este fato científico: estão mergulhados na escuridão de seu dito conhecimento.
Texto
prabhu punaḥ praśna kaila, kahite lāgila
Sinônimos
balite — de dizer; nā pāre — não é capaz; pāre — nada; mauna — silencioso; ha-ila — ficou; prabhu — o Senhor; punaḥ — novamente; praśna — pergunta; kaila — fez; kahite — a falar; lāgila — começou.
Tradução
Perplexo, o astrólogo permaneceu silencioso, incapaz de falar. Porém, quando o Senhor novamente lhe fez a pergunta, ele respondeu o seguinte.
Texto
paripūrṇa bhagavān — sarvaiśvaryamaya
Sinônimos
pūrva janme — no nascimento anterior; chilā — foste; tumi — Tu; jagat — universo; āśraya — abrigo; paripūrṇa — com todas as potências; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; sarva-aiśvarya-maya — plena de todas as opulências.
Tradução
“Meu caro senhor, foste, em Teu nascimento anterior, o abrigo de toda a criação, a Suprema Personalidade de Deus, plena de todas as opulências.”
Texto
durvijñeya nityānanda — tomāra svarūpa
Sinônimos
pūrve — no passado; yaiche — tanto quanto; chilā — foste; tumi — Tu; ebeha — agora também; se-rūpa — a mesma coisa; durvijñeya — inconcebível; nityānanda — felicidade eterna; tomāra — Tua; svarūpa — identidade.
Tradução
“És agora a mesma Personalidade de Deus que foste em Teu nascimento anterior. Tua identidade é felicidade eterna e inconcebível.”
Comentário
SIGNIFICADO—Pelo poder da ciência astrológica, pode-se verificar inclusive a posição da Suprema Personalidade de Deus. Tudo deve ser identificado por seus sintomas. Identifica-se a Suprema Personalidade de Deus pelos sintomas mencionados nos śāstras. Não se pense que qualquer pessoa pode se tornar Deus sem a evidência dos śāstras.
Texto
pūrve āmi āchilāṅ jātite goyālā
Sinônimos
prabhu — o Senhor; hāsi’ — sorrindo; kailā — disse; tumi — tu; kichu — nada; nā — não; jānilā — sabes; pūrve — no passado; āmi — Eu; āchilāṅ — fui; jātite — por casta; goyālā — vaqueirinho.
Tradução
Enquanto o astrólogo falava de maneira tão elogiosa dEle, Śrī Caitanya Mahāprabhu o interrompeu e Se colocou a sorrir. “Meu caro senhor”, disse Ele, “acho que não sabes com muita clareza o que fui, pois sei que, em Meu nascimento anterior, fui um vaqueirinho.”
Texto
sei puṇye hailāṅ ebe brāhmaṇa-chāoyāla
Sinônimos
gopa-gṛhe — na casa de um vaqueiro; janma — nascimento; chila — houve; gābhīra — das vacas; rākhāla — protetor; sei puṇye — por essas atividades piedosas; hailāṅ — Me tornei; ebe — agora; brāhmaṇa — um brāhmaṇa; chāoyāla — filho.
Tradução
“Em Meu último nascimento, nasci em família de vaqueiros, e protegia os bezerros e as vacas. Devido a tais atividades piedosas, agora Me tornei filho de um brāhmaṇa.”
Comentário
SIGNIFICADO—As palavras do Senhor Caitanya Mahāprabhu, a maior autoridade, claramente indicam nesta passagem que alguém se torna piedoso simplesmente por manter e proteger as vacas. Infelizmente, as pessoas se tornaram tão patifes que nem mesmo se importam com as palavras de uma autoridade. De um modo geral, o povo considera os vaqueiros como os membros mais baixos da sociedade, porém, aqui, Caitanya Mahāprabhu confirma que eles são tão piedosos que, em suas próximas vidas, serão brāhmaṇas. O sistema de castas tem um objetivo específico. Se esse sistema científico for seguido, a sociedade humana obterá o maior benefício. Atentando para essa instrução do Senhor, todos devem servir às vacas e aos bezerros e, em troca, obter ampla quantidade de leite. Não há perda em se servirem às vacas e aos bezerros, mas a sociedade humana moderna tem se degradado tanto que, em vez de proteger as vacas e servi-las, as estão matando. Como podem esperar paz e prosperidade na sociedade humana quando cometem atividades tão pecaminosas? É impossível.
Texto
tāhāte aiśvarya dekhi’ phāṅphara ha-ilāṅ
Sinônimos
sarva-jña — o sábio astrólogo; kahe — diz; āmi — eu; tāhā — aquilo; dhyāne — em meditação; dekhilāṅ — vi; tāhāte — lá; aiśvarya — opulência; dekhi’ — vendo; phāṅphara — confuso; ha-ilāṅ — ficou.
Tradução
O astrólogo disse: “O que vi em meditação era pleno de opulência, razão pela qual fiquei confuso.”
Comentário
SIGNIFICADO—Parece que o astrólogo não somente era conhecedor do passado, do presente e do futuro por meio de cálculos astrológicos, mas também era um grande meditador. Portanto, ele era um grande devoto e podia ver que o Senhor Caitanya Mahāprabhu era a mesma personalidade que Kṛṣṇa. No entanto, ficou em dúvida sobre se Kṛṣṇa e Śrī Caitanya Mahāprabhu eram de fato a mesma pessoa.
Texto
kabhu bheda dekhi, ei māyāya tomāra
Sinônimos
sei-rūpe — naquela forma; ei-rūpe — nesta forma; dekhi — vejo; eka-ākāra — uma forma; kabhu — às vezes; bheda — diferença; dekhi — eu vejo; ei — isto; māyāya tomāra — Tua māyā.
Tradução
“Estou certo de que Tua forma e a forma que vi em minha meditação são idênticas. Caso eu veja qualquer diferença, esse é um ato de Tua energia ilusória.”
Comentário
SIGNIFICADO—Śrī-kṛṣṇa-caitanya rādhā-kṛṣṇa nahe anya: na visão de um devoto perfeito, o Senhor Caitanya Mahāprabhu é uma combinação de Rādhā e Kṛṣṇa. Aquele que vê o Senhor Caitanya como diferente de Kṛṣṇa está sob a influência da energia ilusória do Senhor. Parece que o astrólogo já era um devoto avançado, e, ao chegar à presença do Supremo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, tornou-se perfeitamente autorrealizado e pôde ver que a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, e Śrī Caitanya Mahāprabhu são a mesma Pessoa Suprema.
Texto
prabhu tāre prema diyā kaila puraskāra
Sinônimos
ye hao — seja o que fores; se hao tumi — quem quer que sejas; tomāke — a Ti; namaskāra — minhas reverências; prabhu — o Senhor; tāre — a ele; prema — amor a Deus; diyā — deu; kaila — fez; puraskāra — honra.
Tradução
O sábio astrólogo concluiu: “Seja o que fores ou quem quer que sejas, ofereço-Te minhas respeitosas reverências!” Por Sua misericórdia imotivada, o Senhor lhe deu, então, amor a Deus, recompensando seu serviço dessa maneira.
Comentário
SIGNIFICADO—O incidente do encontro do Senhor Caitanya com o sábio astrólogo não é mencionado no Caitanya-bhāgavata, mas não podemos, por isso, dizer que não tenha acontecido. Pelo contrário, devemos aceitar a afirmação de Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī de que tudo o que o Caitanya-bhāgavata omitiu está mencionado especialmente no Caitanya-caritāmṛta.
Texto
‘madhu āna’, ‘madhu āna’ balena ḍākiyā
Sinônimos
eka dina — certo dia; prabhu — o Senhor; viṣṇu-maṇḍape — no corredor de um templo de Viṣṇu; vasiyā — sentado; madhu āna — trazei mel para Mim; madhu āna — trazei mel para Mim; balena — diz; ḍākiyā — gritando bem alto.
Tradução
Certo dia, o Senhor Se sentou no corredor de um templo de Viṣṇu e começou a gritar bem alto: “Trazei mel para Mim! Trazei mel para Mim!”
Texto
gaṅgā-jala-pātra āni’ sammukhe dharila
Sinônimos
nityānanda-gosāñi — Senhor Nityānanda Prabhu; prabhura — do Senhor; āveśa — êxtase; jānila — pôde entender; gaṅgā-jala — água do Ganges; pātra — pote; āni’ — trazendo; sammukhe — em frente; dharila — o colocou.
Tradução
Compreendendo o êxtase de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Nityānanda Prabhu Gosāñi trouxe um pote de água do Ganges, em vez de mel, e o colocou perante Ele.
Texto
yamunākarṣaṇa-līlā dekhaye sakala
Sinônimos
jala — água; pāna kariyā — após beber; nāce — dança; hañā — ficando; vihvala — extático; yamuna-akarṣaṇa — atraindo o rio Yamunā; līlā — passatempos; dekhaye — veem; sakala — todos.
Tradução
Após beber a água, o Senhor Caitanya ficou tão extático que começou a dançar. Assim, todos viram o passatempo de atrair o rio Yamunā.
Comentário
SIGNIFICADO—Yamunākarṣaṇa-līlā é o passatempo de atrair o Yamunā. Um dia, Śrī Baladeva desejou que o rio Yamunā fosse perante Ele, e, quando o rio Yamunā se recusou a isso, Ele pegou Seu arado, ameaçando cavar um canal para que o Yamunā fosse obrigado a se aproximar. Uma vez que Śrī Caitanya Mahāprabhu é a forma original de Baladeva, em Seu êxtase, Ele pediu a todos que trouxessem mel. Dessa maneira, todos os devotos ali presentes viram a yamunākarṣaṇa-līlā. Nesta līlā, as namoradas de Baladeva O acompanhavam. Após ingerir uma bebida feita de mel, chamada vāruṇī, Ele desejou mergulhar no Yamunā e nadar com as mocinhas. Afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam (10.65.25-30,33) que o Senhor Baladeva pediu que o Yamunā se aproximasse, e, quando o rio desobedeceu à ordem do Senhor, Ele ficou irado e, então, quis arrastá-lo com Seu arado para perto dEle. Entretanto, com muito temor da ira do Senhor Balarāma, o Yamunā foi até Ele de imediato e se rendeu-se, orando ao Senhor, a Suprema Personalidade de Deus, e admitindo seu erro. Então, foi perdoado. Essa é a essência da yamunākarṣaṇa-līlā. Na oração de Jayadeva Gosvāmī relativa às dez encarnações, também se descreve esse episódio:
halahati-bhīti-milita-yamunābham
keśava dhṛta-haladhara-rūpa jaya jagad-īśa hare
Texto
ācārya śekhara tāṅre dekhe rāmākāra
Sinônimos
mada-matta — estando embriagado por beber vāruṇī; gati — movimento; baladeva — Senhor Baladeva; anukāra — imitando; ācārya — Advaita Ācārya; śekhara — na cabeça; tāṅre — a Ele; dekhe — vê; rāma-ākāra — sob a forma de Balarāma.
Tradução
Quando o Senhor, em Seu êxtase de Baladeva, movia-Se como que embriagado pela bebida, Advaita Ācārya, o principal dos ācāryas [ācārya śekhara], O viu na forma de Balarāma.
Texto
sabe mili’ nṛtya kare āveśe vihvala
Sinônimos
vanamālī ācārya — chamado Vanamālī Ācārya; dekhe — vê; soṇāra — feito de ouro; lāṅgala — arado; sabe — todos; mili’ — se juntando; nṛtya — dança; kare — executam; āveśe — em êxtase; vihvala — arrebatados.
Tradução
Vanamālī Ācārya viu um arado de ouro na mão de Balarāma, e todos os devotos se juntaram e dançaram, tomados de êxtase.
Texto
sandhyāya gaṅgā-snāna kari’ sabe gelā ghara
Sinônimos
ei-mata — dessa maneira; nṛtya — dança; ha-ila — foi executada; cāri — quatro; prahara — um período de tempo que dura três horas; sandhyāya — à noite; gaṅgā-snāna — tomando banho no Ganges; kari’ — terminando; sabe — todos; gelā — regressaram; ghara — casa.
Tradução
Dessa maneira, eles dançaram por doze horas consecutivas e, à noite, se banharam todos no Ganges, regressando, então, a suas casas.
Texto
ghare ghare saṅkīrtana karite lāgilā
Sinônimos
nagariyā — cidadãos; loke — todas as pessoas; prabhu — o Senhor; yabe — quando; ājñā — ordem; dilā — deu; ghare ghare — em todos os lares; saṅkīrtana — o cantar do mantra Hare Kṛṣṇa; karite — a executar; lāgilā — passaram.
Tradução
O Senhor mandou que todos os cidadãos de Navadvīpa cantassem o mantra Hare Kṛṣṇa, e, em todos os lares, passaram a executar saṅkīrtana regularmente.
Texto
gopāla govinda rāma śrī-madhusūdana’
Sinônimos
haraye namaḥ — ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Hari; kṛṣṇa — ó Kṛṣṇa; yādavāya — ao descendente da dinastia Yadu; namaḥ — todas as reverências; gopāla — chamado Gopāla; govinda — chamado Govinda; rāma — chamado Rāma; śrī-madhusūdana — chamado Śrī Madhusūdana.
Tradução
[Todos os devotos cantavam esta canção popular juntamente com o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa]. “Haraye namaḥ, kṛṣṇa yādavāya namaḥ/ gopāla govinda rāma śrī-madhusūdana.”
Texto
‘hari’ ‘hari’ — dhvani vinā anya nāhi śuni
Sinônimos
mṛdaṅga — tambor; karatāla — címbalos; saṅkīrtana — o cantar do santo nome do Senhor; mahā-dhvani — grande vibração; hari — o Senhor; hari — o Senhor; dhvani — som; vinā — exceto; anya — outro; nāhi — não; śuni — pode alguém ouvir.
Tradução
Ao ser assim inaugurado o movimento de saṅkīrtana, ninguém em Navadvīpa podia ouvir qualquer outro som a não ser as palavras “Hari! Hari!” e o toque de mṛdaṅga e tilintar de címbalos.
Comentário
SIGNIFICADO—A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna tem agora seu centro mundial em Navadvīpa, Māyāpur. Os administradores desse centro devem providenciar que, vinte e quatro horas por dia, se cantem os santos nomes do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, acompanhado de haraye namaḥ, kṛṣṇa yādavāya namaḥ, pois essa canção era a favorita de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Porém, todo esse saṅkīrtana deve ser precedido pelo cantar dos santos nomes dos cinco tattvas – śrī-kṛṣṇa-caitanya prabhu-nityānanda śrī-advaita gadādhara śrīvāsādi-gaura-bhakta-vṛnda. Já nos acostumamos a cantar esses dois mantras – śrī-kṛṣṇa-caitanya prabhu-nityānanda śrī-advaita gadādhara śrīvāsādi-gaura-bhakta-vṛnda e Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Agora, depois desses, as outras duas linhas – a saber, haraye namaḥ, kṛṣṇa yādavāya namaḥ/ gopāla govinda rāma śrī-madhusūdana – devem ser acrescentadas, especialmente em Māyāpur. O cantar dessas seis linhas deve continuar tão perfeitamente bem que ninguém lá ouça qualquer outra vibração senão esse canto dos santos nomes do Senhor. Isso fará desse lugar o centro espiritualmente todo-perfeito.
Texto
kājī-pāśe āsi’ sabe kaila nivedana
Sinônimos
śuniyā — ouvindo; ye — aquilo; kruddha — irados; haila — ficaram; sakala — todos; yavana — muçulmanos; kājī-pāśe — no palácio do Kazi, ou magistrado; āsi’ — vindo; sabe — todos; kaila — fizeram; nivedana — pedido.
Tradução
Ao ouvir a vibração retumbante do mantra Hare Kṛṣṇa, os muçulmanos locais, muito irados, fizeram uma queixa ao Kazi.
Comentário
SIGNIFICADO—O phaujadarā, ou magistrado da cidade, se chamava kājī (Kazi). Os jamidāras (zamindares), ou proprietários de terras (maṇḍalerās), cobravam impostos sobre a terra, porém, manter a lei e a ordem e punir criminosos era dever confiado ao Kazi. Tanto o Kazi quanto os proprietários de terra estavam sob o controle do governador da Bengala, a qual era conhecida naquela época como Subā-bāṅgālā. Os distritos de Nadia, Islāmpura e Bāgoyāna estavam todos sob o domínio do zamindar chamado Hari Hoḍa, ou de seu descendente conhecido como Hoḍa Kṛṣṇadāsa. Consta que Chand Kazi era o mestre espiritual de Nawab Hussain Shah. Segundo uma opinião, seu nome era Maulānā Sirājuddina, e, segundo outra, seu nome era Habibara Rahamāna. Ainda há descendentes vivos de Chand Kazi nas vizinhanças de Māyāpur. As pessoas ainda vão visitar a tumba de Chand Kazi, que fica debaixo de uma árvore campaka e é conhecida como o samādhi de Chand Kazi.
Texto
mṛdaṅga bhāṅgiyā loke kahite lāgila
Sinônimos
krodhe — irado; sandhyā-kāle — à noite; kājī — Chand Kazi; eka ghare — a uma das casas; āila — foi; mṛdaṅga — tambor; bhāṅgiyā — quebrando; loke — às pessoas; kahite — a falar; lāgila — começou.
Tradução
Irado, Chand Kazi foi a uma das casas à noite e, ao ver a execução do kīrtana, quebrou uma mṛdaṅga e falou o seguinte.
Texto
ebe ye udyama cālāo kāra bala jāni’
Sinônimos
eta-kāla — tanto tempo; keha — ninguém; nāhi — não; kaila — executava; hinduyāni — princípios reguladores dos hindus; ebe — agora; ye — este; udyama — esforço; cālāo — propagais; kāra — de quem; bala — força; jāni’ — quero saber.
Tradução
“Por muito tempo não seguistes os princípios reguladores da religião hindu, mas agora os estais seguindo com grande entusiasmo. Posso saber quem vos influenciou a fazer isso?”
Comentário
SIGNIFICADO—Parece que, desde a invasão de Baktiyār Khiliji na Bengala até a época do Chand Kazi, os hindus, ou os seguidores dos princípios védicos, foram severamente reprimidos. Assim como os hindus no Paquistão dos dias atuais, praticamente ninguém podia executar os princípios religiosos hindus livremente. O Chand Kazi fez referência a essa situação da sociedade hindu. Anteriormente, os hindus não haviam sido honestos no cumprimento de seus princípios hindus, mas agora cantavam livremente o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Portanto, era decerto pela influência de alguém acima deles que estavam tão ousados.
Na realidade, isso era verdade. Apesar de os membros da dita sociedade hindu seguirem os costumes e as fórmulas sociais, praticamente haviam se esquecido de executar seus princípios religiosos estritamente. Porém, com a presença de Śrī Caitanya Mahāprabhu, eles realmente passaram a seguir os princípios reguladores segundo a ordem dEle. Essa ordem ainda está em vigor, e, em qualquer lugar, em todas as partes do mundo, pode-se executá-la. A ordem é a seguinte: torne-se um mestre espiritual sob a orientação de Śrī Caitanya Mahāprabhu, seguindo os princípios reguladores, cantando pelo menos dezesseis voltas diariamente do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa e pregando o culto da consciência de Kṛṣṇa em todo o mundo. Se acatarmos a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, sem dúvida obteremos força espiritual e nos disporemos a pregar este culto do Movimento Hare Kṛṣṇa, sem que ninguém nos impeça.
Texto
āji āmi kṣamā kari’ yāitechoṅ ghare
Sinônimos
keha — ninguém; kīrtana — o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa; nā — não; kariha — execute; sakala nagare — em toda a cidade; āji — hoje; āmi — eu; kṣamā kari’ — perdoando; yāitechoṅ — estou voltando; ghare — casa.
Tradução
“Ninguém deve executar saṅkīrtana nas ruas da cidade. Por hoje, perdoarei a transgressão e voltarei para casa.”
Comentário
SIGNIFICADO—Ordens semelhantes de parar o saṅkīrtana nas ruas de grandes cidades do mundo têm sido impostas aos membros do Movimento Hare Kṛṣṇa. Temos centenas de centros em todo o mundo, e temos sido perseguidos especificamente na Austrália. Na maioria das cidades do mundo ocidental, fomos presos muitas vezes pela polícia, mas, de qualquer modo, estamos cumprindo a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, cantando nas ruas de todas as cidades importantes, como Nova Iorque, Londres, Chicago, Sidney, Melbourne, Paris e Hamburgo. Devemos lembrar que semelhantes incidentes aconteceram no passado, quinhentos anos atrás, e o fato de ainda acontecerem indica que nosso movimento de saṅkīrtana é realmente autorizado, pois, se o saṅkīrtana fosse um evento material insignificante, os demônios não se oporiam a ele. Os demônios da época tentaram impedir o movimento de saṅkīrtana inaugurado por Śrī Caitanya Mahāprabhu. Demônios semelhantes tentam deter o movimento de saṅkīrtana que efetuamos em todo o mundo, e isso prova que nosso movimento de saṅkīrtana ainda é puro e genuíno, seguindo os passos de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Texto
sarvasva daṇḍiyā tāra jāti ye la-imu
Sinônimos
āra — outra vez; yadi — se; kīrtana — o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa; karite — fazer; lāga — contato; pāimu — tomarei; sarva-sva — todas as posses; daṇḍiyā — castigando; tāra — sua; jāti — casta; ye — isso; la-imu — tomarei.
Tradução
“A próxima vez que eu vir alguém executando esse saṅkīrtana, decerto o castigarei, não somente confiscando toda a sua propriedade, mas também o convertendo em muçulmano.”
Comentário
SIGNIFICADO—Converter um hindu em muçulmano era uma operação fácil naqueles dias. Caso um muçulmano simplesmente borrifasse água no corpo de um hindu, supunha-se que o hindu já se tornara muçulmano. Durante a dominação dos britânicos em Bangladesh, durante as últimas rixas entre hindus e muçulmanos, muitos hindus foram convertidos em muçulmanos ao serem forçados a comer carne de vaca. A sociedade hindu era tão rígida na época do Senhor Caitanya que, se um hindu fosse convertido em muçulmano, não havia possibilidade de se regenerar. Dessa maneira, a população muçulmana na Índia aumentou. Nenhum dos muçulmanos vieram de fora: de alguma forma, os costumes sociais forçaram hindus a se tornarem muçulmanos, sem qualquer possibilidade de retornar à sociedade hindu. O imperador Aurangzeb também inaugurou uma taxa que os hindus tinham que pagar pelo fato de serem hindus. Assim, todos os hindus pobres da classe mais baixa se tornaram muçulmanos voluntariamente para evitarem a taxa. Dessa maneira, a população muçulmana na Índia aumentou. O Chand Kazi ameaçou converter as pessoas em muçulmanos pelo simples processo de borrifar água em seus corpos.
Texto
prabhu-sthāne nivedila pāñā baḍa śoka
Sinônimos
eta bali’ — dizendo assim; kājī — o magistrado; gela — regressou; nagariyā loka — os cidadãos em geral; prabhu-sthāne — ao Senhor; prabhu-sthāne — contaram; nivedila — apresentou; pāñā — levando; baḍa — muito; śoka — choque.
Tradução
Após dizer isso, o Kazi voltou para casa, e os devotos, muito chocados por terem sido proibidos de cantar Hare Kṛṣṇa, contaram sua mágoa ao Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Texto
muñi saṁhārimu āji sakala yavana
Sinônimos
prabhu — o Senhor; ājñā dila — ordenou; yāha — ide; karaha — e executai; kīrtana — saṅkīrtana, o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa; muñi — Eu; saṁhārimu — matarei; āji — hoje; sakala — todos; yavana — os muçulmanos.
Tradução
O Senhor Caitanya ordenou: “Ide executar saṅkīrtana! Hoje matarei todos os muçulmanos!”
Comentário
SIGNIFICADO—Gandhi é conhecido por haver iniciado o movimento de desobediência civil não-violenta na Índia, porém, cerca de quinhentos anos antes dele, Śrī Caitanya Mahāprabhu iniciou Seu movimento de desobediência civil não-violenta à ordem do Chand Kazi. Não é necessário cometer violência para impedir que proíbam um movimento, pois é possível matar o comportamento demoníaco deles com razão e argumentos. Seguindo os passos do Senhor Caitanya Mahāprabhu, sempre que houver obstáculos, o movimento Hare Kṛṣṇa deverá matar a oposição com razão e argumentos e, assim, acabar com o comportamento demoníaco deles. Caso nos tornássemos sempre violentos, seria difícil organizarmos nossas atividades. Portanto, devemos seguir os passos do Senhor Caitanya Mahāprabhu, que desobedeceu à ordem do Chand Kazi, mas o subjugou com razão e argumentos.
Texto
kājīra bhaye svacchanda nahe, camakita mana
Sinônimos
ghare giyā — retornando à casa; saba — todos; loka — cidadãos; karaye — executaram; kīrtana — saṅkīrtana; kājīra — do Kazi; bhaye — por temor; svacchanda — despreocupados; nahe — não; camakita — cheia de crescente ansiedade; mana — mente.
Tradução
Voltando para casa, todos os cidadãos começaram a executar saṅkīrtana, mas, devido à ordem do Kazi, não estavam despreocupados, mas, sim, cheios de crescente ansiedade.
Texto
kahite lāgilā loke śīghra ḍāki’ āni’
Sinônimos
tā-sabhāra — de todas elas; antare — na mente; bhaya — temor; prabhu — o Senhor; mane — na mente; jāni — compreendendo; kahite — a falar; lāgilā — começou; loke — às pessoas; śīghra — brevemente; ḍāki’ — chamando; āni’ — trazendo-as.
Tradução
Compreendendo a ansiedade dentro da mente das pessoas, o Senhor as convocou e falou com elas como segue.
Texto
sandhyā-kāle kara sabhe nagara-maṇḍana
Sinônimos
nagare — de cidade; nagare — em cidade; āji — hoje; karimu — executarei; kīrtana — o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa; sandhyā-kāle — à noite; kara — fazei; sabhe — todos; nagara — da cidade; maṇḍana — decoração.
Tradução
“À noite, executarei saṅkīrtana em cada cidade. Portanto, deveis todos decorar a cidade à noite.”
Comentário
SIGNIFICADO—Naquela época, Navadvīpa era composta de nove pequenas cidades, de modo que as palavras nagare nagare são significativas. Śrī Caitanya Mahāprabhu desejava executar kīrtana em cada uma dessas cidades vizinhas. Ele mandou que decorassem a cidade para a ocasião.
Texto
dekha, kona kājī āsi’ more mānā kare
Sinônimos
sandhyāte — à noite; deuṭi — lâmpadas; sabe — todos; jvāla — acendei; ghare ghare — em cada lar; dekha — apenas esperai e vede; kona — que espécie; kājī — magistrado; āsi — vindo; more — a Mim; mānā kare — manda-Me parar.
Tradução
“À noite, deveis queimar archotes em todas as casas. Darei proteção a todos. Veremos que tipo de Kazi poderá impedir o nosso kīrtana.”
Texto
kīrtanera kaila prabhu tina sampradāya
Sinônimos
eta kahi’ — dizendo isso; sandhyā-kāle — naquela noite; cale — saiu; gaura-rāya — Gaurasundara; kīrtanera — de execução de saṅkīrtana; kaila — fez; prabhu — o Senhor; tina — três; sampradāya — grupos.
Tradução
Naquela noite, o Senhor Gaurasundara saiu e formou três grupos para a execução do kīrtana.
Comentário
SIGNIFICADO—Este é o esquema para execução de kīrtana numa procissão. Durante a época de Śrī Caitanya Mahāprabhu, um grupo era composto de vinte e um homens: quatro pessoas tocando mṛdaṅgas, uma liderando o canto e dezesseis outras tocando karatālas, em resposta ao líder do canto. Se numerosas pessoas se associarem ao movimento de saṅkīrtana, podem seguir os passos de Śrī Caitanya Mahāprabhu e formar diferentes grupos de acordo com o tempo e o número de homens disponíveis.
Texto
madhye nāce ācārya-gosāñi parama ullāsa
Sinônimos
āge — na frente; sampradāye — no grupo; nṛtya — dançando; kare — faz; haridāsa — Ṭhākura Haridāsa; madhye — no meio; nāce — dança; ācārya-gosāñi — Śrī Advaita Ācārya; parama — muito; ullāsa — alegre.
Tradução
No grupo da frente, dançava Ṭhākura Haridāsa, e, no grupo do meio, dançava Advaita Ācārya, com grande júbilo.
Texto
tāṅra saṅge nāci’ bule prabhu nityānanda
Sinônimos
pāche — atrás; sampradāye — no grupo; nṛtya — dançando; kare — faz; gauracandra — Senhor Gaurāṅga; tāṅra — Seu; saṅge — juntamente com; nāci’ — dançando; bule — guia-Se; prabhu — o Senhor; nityānanda — chamado Nityānanda.
Tradução
O próprio Senhor Gaurasundara dançava no grupo de trás, e Śrī Nityānanda Prabhu guiava-Se pelo ritmo da dança do Senhor Caitanya.
Texto
vistāri’ varṇiyāchena, prabhu-kṛpā-bale
Sinônimos
vṛndāvana-dāsa — Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura; ihā — este; caitanya-maṅgale — em seu livro chamado Caitanya-maṅgala; vistāri’ — de forma elaborada; varṇiyāchena — descreveu; prabhu — do Senhor; kṛpā-bale — devido à misericórdia.
Tradução
Pela graça do Senhor, Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura descreveu de forma elaborada esse episódio em seu Caitanya-maṅgala [agora Caitanya-bhāgavata].
Texto
bhramite bhramite sabhe kājī-dvāre gelā
Sinônimos
ei mata — dessa maneira; kīrtana — canto congregacional; kari’ — executando; nagare — na cidade; bhramilā — percorreram; bhramite bhramite — enquanto andavam assim; sabhe — todos eles; kājī-dvāre — à porta do Kazi; gelā — chegaram.
Tradução
Executando kīrtana dessa maneira, percorrendo cada canto da cidade, eles, por fim, chegaram à porta do Kazi.
Texto
gauracandra-bale loka praśraya-pāgala
Sinônimos
tarja-garja — murmurando com raiva; kare — fazem; loka — as pessoas; kare — fazem; kolāhala — estrondoso; gauracandra — do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; bale — pelo poder; loka — pessoas; praśraya-pāgala — enlouqueceram à vista de tal deleite.
Tradução
Murmurando com raiva e fazendo um som estrondoso, sob a proteção do Senhor Caitanya, as pessoas enlouqueceram à vista de tal deleite.
Comentário
SIGNIFICADO—O Kazi havia baixado uma ordem proibindo a execução de kīrtana, o canto congregacional do santo nome do Senhor. Porém, quando isso chegou ao conhecimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, Ele promoveu desobediência civil à ordem do Kazi. O Senhor Caitanya e todos os Seus devotos, naturalmente entusiasmados, embora perturbados, devem ter feito um grande alvoroço com seus altos brados.
Texto
tarjana garjana śuni’ nā haya bāhire
Sinônimos
kīrtanera — do movimento de saṅkīrtana; dhvanite — pelo som; kājī — o Chand Kazi; lukāila — se escondeu; ghare — no quarto; tarjana — vociferando; garjana — protestando; śuni’ — ouvindo; nā — não; haya — sai; bāhire — para fora.
Tradução
O alto som do cantar do mantra Hare Kṛṣṇa decerto deixou o Kazi bastante temeroso, e ele se escondeu dentro de seu quarto. Ao ouvir as pessoas protestando assim e murmurando com grande ira, o Kazi não saiu de sua casa.
Comentário
SIGNIFICADO—A ordem do Kazi, proibindo a execução de saṅkīrtana, pôde perdurar somente enquanto não houve desobediência civil. Sob a liderança do Senhor Supremo, Śrī Caitanya Mahāprabhu, os cantores, aumentando em número, desobedeceram à ordem do Kazi. Milhares de pessoas se reuniram e formaram grupos, cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa e fazendo um tumultuoso som de protesto. Assim, o Kazi ficou bastante amedrontado, como naturalmente se costuma ficar em tais circunstâncias.
Também nos dias de hoje, as pessoas de todo o mundo podem se congregar no movimento para a consciência de Kṛṣṇa e protestar contra os atuais governos degradados das sociedades ateístas do mundo, que se baseiam em toda classe de atividades pecaminosas. O Śrīmad-Bhāgavatam afirma que, na era de Kali, ladrões, patifes e pessoas de quarta classe, que não têm nem educação nem cultura, usurparão os assentos dos governos para explorar os cidadãos. Esse é um sintoma de Kali-yuga que já se manifestou. O povo não pode se sentir seguro quanto às suas vidas e propriedades, mas os ditos governos continuam, e seus ministros obtêm gordos salários, embora sejam incapazes de fazer algo para o bem da sociedade. O único remédio em tais circunstâncias é incrementar o movimento de saṅkīrtana sob a bandeira da consciência de Kṛṣṇa e contra as atividades pecaminosas de todos os governos do mundo.
O movimento para a consciência de Kṛṣṇa não é um movimento religioso sentimentalista: é um movimento de reforma de todas as anomalias da sociedade humana. Se as pessoas o aceitarem seriamente, cumprindo este dever de forma científica, como ordena Śrī Caitanya Mahāprabhu, o mundo verá a paz e a prosperidade, ao invés de penar confusa e desesperadamente sob governos incapazes. Sempre existem patifes e ladrões na sociedade humana, e, assim que um governo fraco é incapaz de cumprir com seus deveres, esses patifes e ladrões se manifestam para fazer seus negócios. Assim, toda a sociedade torna-se um inferno impróprio para cavalheiros. Há necessidade imediata de um bom governo – um governo pelo povo, com consciência de Kṛṣṇa. A menos que as massas populares se tornem conscientes de Kṛṣṇa, jamais haverá bons homens. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa que Śrī Caitanya Mahāprabhu inaugurou, cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, ainda tem sua potência. Portanto, o povo deve entendê-lo séria e cientificamente e espalhá-lo em todo o mundo.
O movimento de saṅkīrtana inaugurado por Śrī Caitanya Mahāprabhu é descrito no Caitanya-bhāgavata, Madhya-khaṇḍa, vigésimo terceiro capítulo, começando com o verso 241, que afirma: “Meu querido Senhor, que minha mente se fixe em Teus pés de lótus.” Acompanhando o canto do Senhor Caitanya, todos os devotos reproduziam o mesmo som que Ele cantava. Dessa maneira, o Senhor prosseguia, liderando todo o grupo nas vias marginais do rio Ganges. Ao chegar ao Seu próprio ghāṭa, ou balneário, o Senhor dançou cada vez mais. Então, Ele prosseguiu para o ghāṭa de Mādhāi. Dessa maneira, Śrī Caitanya Mahāprabhu, o Senhor Supremo, que era conhecido como Viśvambhara, dançou por todas as margens do Ganges. Prosseguiu, então, para Bārakoṇā-ghāṭa, para Nāgariyā-ghāṭa e, atravessando Gaṅgānagara, chegou a Simuliyā, o bairro no extremo da cidade. Todos esses locais rodeiam Śrī Māyāpur. Após chegar a Simuliyā, o Senhor prosseguiu em direção à casa do Kazi e, dessa maneira, chegou à porta do Chand Kazi.
Texto
vistāri’ varṇilā ihā dāsa-vṛndāvana
Sinônimos
uddhata — agitadas; loka — pessoas; bhāṅge — quebram; kājīra — do Kazi; ghara — casa; puṣpa-vana — jardim florido; vistāri’ — amplamente; varṇilā — descreveu; ihā — isto; dāsa-vṛndāvana — Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura.
Tradução
Naturalmente, algumas das pessoas que estavam muito agitadas começaram a se vingar das ações do Kazi, depredando sua casa e jardim florido. Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura descreve amplamente este episódio.
Texto
bhavya-loka pāṭhāiyā kājīre bolāilā
Sinônimos
tabe — a seguir; mahāprabhu — Śrī Caitanya Mahāprabhu; tāra dvārete — na porta do Kazi; vasilā — sentou-Se; bhavya-loka — pessoas respeitáveis; pāṭhāiyā — enviando; kājīre — ao Kazi; bolāilā — fê-las chamar.
Tradução
A seguir, ao chegar à casa do Kazi, Śrī Caitanya Mahāprabhu sentou-Se na entrada e mandou algumas pessoas respeitáveis chamarem o Kazi.
Texto
kājīre vasāilā prabhu sammāna kariyā
Sinônimos
dūra ha-ite — de um lugar distante; āilā — chegou; kājī — o Kazi; māthā — cabeça; noyāiyā — baixa; kājīre — ao Kazi; vasāilā — ofereceu um assento; prabhu — o Senhor; sammāna — respeito; kariyā — oferecendo.
Tradução
Quando o Kazi, cabisbaixo, chegou, o Senhor lhe ofereceu o devido respeito e um assento.
Comentário
SIGNIFICADO—Alguns dos homens do movimento de desobediência civil de Śrī Caitanya Mahāprabhu estavam agitados porque não podiam controlar suas mentes. Porém, o Senhor estava inteiramente pacífico, sóbrio e sereno. Portanto, quando o Kazi desceu para vê-lO, o Senhor lhe ofereceu o devido respeito e um assento, pois ele era um respeitável funcionário do governo. Assim, o Senhor nos ensinou por Seu comportamento pessoal. Ao levar adiante nosso movimento de saṅkīrtana da consciência de Kṛṣṇa, pode ser que nos deparemos com dias difíceis, mas devemos sempre seguir os passos de Śrī Caitanya Mahāprabhu e fazer o necessário de acordo com o tempo e as circunstâncias.
Texto
āmi dekhi’ lukāilā, — e-dharma kemata
Sinônimos
prabhu balena — o Senhor disse; āmi — Eu; tomāra — tua; āilāma — vim; abhyāgata — hóspede; āmi — a Mim; dekhi’ — vendo; lukāilā — desapareceste; e-dharma kemata — que espécie de etiqueta é essa.
Tradução
De maneira amistosa, o Senhor disse: “Senhor, vim à tua casa como teu hóspede, mas, ao Me ver, tu te escondeste em teu quarto. Que espécie de etiqueta é essa?”
Texto
tomā śānta karāite rahinu lukāiyā
Sinônimos
kājī kahe — o Kazi respondeu; tumi — Tu; āisa — vieste; kruddha — irado; ha-iyā — estando; tomā — a Ti; śānta — apaziguado; karāite — para fazer; rahinu — permaneci; lukāiyā — escondido da visão.
Tradução
O Kazi respondeu: “Vieste muito irado à minha casa. Para Te apaziguar, não vim ao Teu encontro de imediato, mas me mantive escondido.”
Texto
bhāgya mora, — tomā hena atithi pāilāṅ
Sinônimos
ebe — agora; tumi — Tu; śānta — apaziguado; haile — ficaste; āsi’ — vindo; mililāṅ — eu me encontro (conTigo); bhāgya mora — é minha grande fortuna; tomā — Tu; hena — como; atithi — hóspede; pāilāṅ — tenho recebido.
Tradução
“Agora que Te apaziguaste, vim ao Teu encontro. É minha boa fortuna receber um hóspede como Vossa Senhoria.”
Texto
deha-sambandhe haite haya grāma-sambandha sāṅcā
Sinônimos
grāma-sambandhe — em nosso relacionamento de vila; cakravartī — Teu avô Nīlāmbara Cakravartī; haya — se torna; mora — meu; cācā — tio; deha-sambandhe — num relacionamento corpóreo; haite — do que; haya — se torna; grāma-sambandha — relacionamento de vila; sāṅcā — mais poderoso.
Tradução
“Em nosso relacionamento de vila, Nīlāmbara Cakravartī Ṭhākura foi meu tio. Tal relacionamento é mais forte do que apenas um relacionamento corpóreo.”
Comentário
SIGNIFICADO—Na Índia, mesmo nas vilas do interior, todas as comunidades hindus e muçulmanas costumavam viver muito pacificamente, estabelecendo um relacionamento mútuo. Os jovens chamavam os membros mais velhos da vila de cācā, ou kākā, “tio”, e os homens da mesma idade se chamavam uns aos outros de dādā, “irmão”. O relacionamento era muito amistoso. Havia inclusive convites de famílias muçulmanas a hindus e de famílias hindus a muçulmanos. Tanto os hindus quanto os muçulmanos aceitavam os convites de ir à casa uns dos outros para participar de diferentes cerimônias. Mesmo cinquenta ou sessenta anos atrás, o relacionamento entre hindus e muçulmanos era muito amigável: não havia perturbações. Não encontramos qualquer rixa entre hindus e muçulmanos na história da Índia, mesmo durante os dias do domínio muçulmano sobre o país. O conflito entre hindus e muçulmanos foi criado por políticos corruptos, especialmente governantes estrangeiros, e, assim, a situação gradualmente foi se agravando tanto que a Índia se dividiu em Hindustão e Paquistão. Felizmente, o remédio para unir, não só os hindus e muçulmanos, mas também todas as comunidades e todas as nações, pode ainda ser administrado pelo Movimento Hare Kṛṣṇa, apoiado na forte plataforma básica do amor a Deus.
Texto
se-sambandhe hao tumi āmāra bhāginā
Sinônimos
nīlāmbara cakravartī — chamado Nīlāmbara Cakravartī; haya — se torna; tomāra — Teu; nānā — avô materno; se-sambandhe — por este relacionamento; hao — ficas sendo; tumi — Tu; āmāra — meu; bhāginā — sobrinho (o filho de minha irmã).
Tradução
“Nīlāmbara Cakravartī é Teu avô materno, de modo que, por este relacionamento, és meu sobrinho.”
Texto
mātulera aparādha bhāginā nā laya
Sinônimos
bhāgināra — do sobrinho; krodha — zanga; māmā — tio materno; avaśya — decerto; sahaya — tolera; mātulera — do tio materno; aparādha — ofensa; bhāginā — o sobrinho; nā — não; laya — aceita.
Tradução
“Quando um sobrinho fica muito zangado, seu tio materno o tolera, e, quando o tio materno comete uma ofensa, o sobrinho não a leva muito a sério.”
Texto
bhitarera artha keha bujhite nā pāre
Sinônimos
ei mata — dessa maneira; duṅhāra — de ambos; kathā — conversa; haya — ocorreu; ṭhāre-ṭhore — com diferentes sugestões; bhitarera — profundo; artha — sentido; keha — qualquer pessoa; bujhite — de entender; nā pāre — não é capaz.
Tradução
Dessa maneira, o Kazi e o Senhor conversaram um com o outro, dando diferentes sugestões, mas nenhum estranho podia entender o sentido profundo da conversa deles.
Texto
kājī kahe, — ājñā kara, ye tomāra mane
Sinônimos
prabhu kahe — o Senhor disse; praśna lāgi’ — só para te perguntar; āilāma — Eu vim; tomāra sthāne — a teu lar; kājī kahe — o Kazi respondeu; ājñā kara — simplesmente me ordena; ye — tudo o que; tomāra mane — (está) em Tua mente.
Tradução
O Senhor disse: “Meu querido tio, vim a teu lar apenas para te fazer algumas perguntas.” “Sim”, respondeu o Kazi, “és bem-vindo. Dize-me simplesmente o que tens em mente.”
Comentário
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Texto
vṛṣa anna upajāya, tāte teṅho pitā
Sinônimos
prabhu kahe — o Senhor disse; go-dugdha khāo — bebes leite de vaca; gābhī — a vaca (é); tomāra — tua; mātā — mãe; vṛṣa — o touro; anna — cereais; upajāya — produz; tāte — portanto; teṅho — ele; pitā — (é) teu pai.
Tradução
O Senhor disse: “Tu bebes leite de vaca; portanto, a vaca é tua mãe. E o touro produz cereais para a tua manutenção; portanto, ele é teu pai.”
Texto
kon bale kara tumi e-mata vikarma
Sinônimos
pitā-mātā — pai e mãe; māri’ — matando; khāo — comes; ebā — esta; kon — que espécie de; dharma — religião; kon bale — baseado em que; kara — faze; tumi — tu; e-mata — semelhantes; vikarma — atividades pecaminosas.
Tradução
“Já que o touro e a vaca são teu pai e tua mãe, como podes matá-los e comê-los? Que espécie de princípio religioso é esse? Apoiado em que te atreves a cometer semelhantes atividades pecaminosas?”
Comentário
SIGNIFICADO—Todos podem entender que bebemos leite de vaca e nos utilizamos dos touros para obter produtos agrícolas. Portanto, já que nosso verdadeiro pai nos dá os grãos alimentícios e nossa mãe nos dá o leite com o qual vivemos, a vaca e o touro são considerados nosso pai e nossa mãe. Segundo a civilização védica, há sete mães, uma das quais é a vaca. Portanto, Śrī Caitanya Mahāprabhu desafiou o Kazi muçulmano: “Que espécie de princípio religioso segues tu ao matar teu pai e tua mãe para comê-los?” Em qualquer sociedade humana civilizada, ninguém ousaria matar seu pai e sua mãe com o objetivo de comê-los. Portanto, Śrī Caitanya Mahāprabhu desafiou o sistema de religião muçulmano como sendo patricida e matricida. Também na religião cristã, um dos mandamentos principais é “não matarás”. Não obstante, os cristãos violam essa regra: eles são muito peritos em matar e em abrir matadouros. Em nosso movimento para a consciência de Kṛṣṇa, a primeira condição que impomos é que ninguém deve ser autorizado a comer qualquer espécie de carne. Não importa se é carne de vaca ou de cabra, mas enfatizamos, em especial, a proibição da carne de vaca, pois, segundo os śāstras, a vaca é nossa mãe. Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu desafiou a matança de vacas dos muçulmanos.
Texto
taiche āmāra śāstra — ketāva ‘korāṇa’
Sinônimos
kājī kahe — o Kazi respondeu; tomāra — Tuas; yaiche — tanto quanto; veda-purāṇa — os Vedas e os Purāṇas; taiche — de forma semelhante; āmāra — nossa; śāstra — escritura; ketāva — o livro sagrado; korāṇa — o Alcorão.
Tradução
O Kazi respondeu: “Assim como tens Tuas escrituras chamadas Vedas e Purāṇas, nós temos nossa escritura, conhecida como o sagrado Alcorão.”
Comentário
SIGNIFICADO—O Chand Kazi concordou em conversar com Śrī Caitanya Mahāprabhu, tomando por base as escrituras. Segundo a escritura védica, quando alguém pode apoiar sua posição citando os Vedas, seu argumento é perfeito. Analogamente, quando os muçulmanos apoiam sua posição com citações do Alcorão, seus argumentos também são autorizados. Quando o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu levantou a questão da matança de vacas e touros dos muçulmanos, o Chand Kazi apelou para o padrão de compreensão de suas escrituras.
Texto
nivṛtti-mārge jīva-mātra-vadhera niṣedha
Sinônimos
sei śāstre — na escritura (o Alcorão); kahe — ordena-se; pravṛtti — do apego; nivṛtti — do desapego; mārga — processos; bheda — diferença; nivṛtti — do desapego; mārge — no caminho; jīva-mātra — de qualquer entidade viva; vadhera — de matar; niṣedha — proibição.
Tradução
“Segundo o Alcorão, há dois processos de avanço – através do aumento da propensão de desfrutar e através da redução da propensão de desfrutar. No caminho da redução do apego [nivṛtti-mārga], proíbe-se a matança de animais.”
Texto
śāstra-ājñāya vadha kaile nāhi pāpa-bhaya
Sinônimos
pravṛtti-mārge — no caminho do apego; go-vadha — a matança de vacas; karite — para executar; vidhi — princípios reguladores; haya — há; śāstra-ājñāya — sob a ordem da escritura; vadha — matança; kaile — se alguém comete; nāhi — não há; pāpa-bhaya — medo de atividades pecaminosas.
Tradução
No caminho das atividades materiais, há regulação para a matança de vacas. Se tal matança é feita sob a orientação da escritura, não há pecado.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra śāstra é derivada do dhātu, ou raiz verbal, śas. Śas-dhātu diz respeito a controlar ou governar. O exercício de um governo pela força ou por meio de armas se chama śastra. Assim, sempre que há governo, quer por meio de armas, quer por meio de preceitos, o śas-dhātu é o princípio básico. Entre śastra (governar por meio de armas) e śāstra (governar por meio dos preceitos das escrituras), o melhor é śāstra. Nossas escrituras védicas não são códigos de leis ordinários de bom senso humano; são afirmações de pessoas realmente libertas, não sujeitas à imperfeição dos sentidos.
O śāstra tem que ser correto sempre, e não ora correto, ora incorreto. Nas escrituras védicas, se descreve a vaca como mãe. Portanto, ela é mãe em qualquer época; não é, como dizem certos patifes, que, na idade védica, ela era mãe, mas que, nesta era, não é mais. Se o śāstra é uma autoridade, a vaca é mãe sempre; ela foi mãe na idade védica e é mãe nesta era também.
Se alguém age segundo os preceitos dos śāstras, se livra das reações das atividades pecaminosas. Por exemplo, as propensões de comer carne, beber vinho e gozar de vida sexual são todas naturais para a alma condicionada. O caminho desse gozo se chama pravṛtti-mārga. O śāstra diz que pravṛttir eṣā bhūtānāṁ nivṛttis tu mahā-phalā: ninguém deve se deixar levar pelas propensões da vida condicionada deficiente, senão que deve se orientar pelos princípios dos śāstras. A propensão de uma criança é de brincar o dia todo, mas é preceito dos śāstras que os pais devem ter o cuidado de educá-la. Os śāstras existem justamente para orientar as atividades da sociedade humana. Porém, como as pessoas não consultam as instruções dos śāstras, que estão livres de defeitos e imperfeições, são, por isso, desencaminhadas por ditos professores e líderes educados, que estão repletos das deficiências da vida condicionada.
Texto
ataeva go-vadha kare baḍa baḍa muni
Sinônimos
tomāra vedete — em Tuas escrituras védicas; āche — há; go-vadhera — para a matança de vacas; vāṇī — preceito; ataeva — portanto; go-vadha — matança de vacas; kare — faz; baḍa baḍa — muito eminentes; muni — sábios.
Tradução
Sendo um estudioso erudito, o Kazi desafiou Caitanya Mahāprabhu: “Em Tuas escrituras védicas, há um preceito que autoriza matar vacas. Baseados nesse preceito, grandes sábios executaram sacrifícios que envolviam a matança de vacas.”
Texto
ataeva hindu-mātra nā kare go-vadha
Sinônimos
prabhu kahe — o Senhor respondeu; vede — nos Vedas; kahe — se prescreve; go-vadha — matança de vacas; niṣedha — proibição; ataeva — portanto; hindu — hindu; mātra — qualquer; nā — não; kare — executa; go-vadha — matança de vacas.
Tradução
Refutando a afirmação do Kazi, o Senhor respondeu prontamente: “Os Vedas claramente prescrevem que não se deve matar vacas. Portanto, qualquer hindu, quem quer que seja, não se dedica à matança de vacas.”
Comentário
SIGNIFICADO—Nas escrituras védicas, há concessões para comedores de carne. É dito que, se alguém deseja comer carne, deve matar um bode perante a deusa Kālī e, então, comer sua carne. Não se permite que os comedores de carne comprem carne no mercado ou matadouro. Não existem leis que autorizem matadouros regulares para satisfazer a língua dos comedores de carne. Quanto à matança de vacas, é totalmente proibida. Uma vez que se considera a vaca como mãe, como poderiam os Vedas permitir a matança de vacas? Śrī Caitanya Mahāprabhu frisou que a afirmação do Kazi era imperfeita. Na Bhagavad-gītā (18.44), há um preceito claro de que as vacas devem ser protegidas, kṛṣi-gorakṣya-vāṇijyaṁ vaiśya-karma svabhāva-jam: “O dever dos vaiśyas é produzir produtos agrícolas, comercializar e dar proteção às vacas.” Portanto, é falsa a afirmação de que as escrituras védicas contêm preceitos que permitam a matança de vacas.
Texto
veda-purāṇe āche hena ājñā-vāṇī
Sinônimos
jiyāite — para rejuvenescer; pāre — alguém é capaz; yadi — se; tabe — então; māre — pode matar; prāṇī — ser vivo; veda-purāṇe — nos Vedas e nos Purāṇas; āche — há; hena — tais; ājñā-vāṇī — ordens e preceitos.
Tradução
“Nos Vedas e nos Purāṇas, há preceitos declarando que aquele que pode reviver um ser vivo pode matá-lo para propósitos experimentais.”
Texto
veda-mantre siddha kare tāhāra jīvana
Sinônimos
ataeva — portanto; jarad-gava — animais velhos; māre — matavam; muni-gaṇa — sábios; veda-mantre — pelo poder de hinos védicos; siddha — rejuvenescida; kare — faz; tāhāra — sua; jīvana — vida.
Tradução
“Portanto, os grandes sábios às vezes matavam animais velhos e, cantando hinos védicos, novamente os traziam à vida, perfeitamente rejuvenescidos.”
Texto
tāte tāra vadha nahe, haya upakāra
Sinônimos
jarad-gava — animais velhos e inválidos; hañā — se tornando; yuvā — jovens; haya — se tornam; āra-vāra — novamente; tāte — neste ato; tāra — sua; vadha — matança; nahe — não é; haya — há; upakāra — benefício.
Tradução
“A matança e rejuvenescimento de tais animais velhos e inválidos não era, na verdade, matança, mas, sim, um ato de grande beneficência.”
Texto
ataeva go-vadha keha nā kare ekhane
Sinônimos
kali-kāle — na era de Kali; taiche — tal; śakti — poder; nāhika — não há nenhum; brāhmaṇe — nos brāhmaṇas; ataeva — portanto; go-vadha — matança de vacas; keha — ninguém; nā — não; kare — executa; ekhane — atualmente.
Tradução
“Antigamente, havia brāhmaṇas poderosos que podiam fazer semelhantes experimentos, usando hinos védicos, mas agora, devido a Kali-yuga, os brāhmaṇas não são tão poderosos. Portanto, a matança de vacas e touros para rejuvenescimento é proibida.”
Texto
sannyāsaṁ pala-paitṛkam
devareṇa sutotpattiṁ
kalau pañca vivarjayet
Sinônimos
aśva-medham — um sacrifício onde se oferece um cavalo; gava-ālambham — um sacrifício de vacas; sannyāsam — a ordem de vida renunciada; pala-paitṛkam — um oferecimento de oblações de carne aos antepassados; devareṇa — pelo irmão do esposo; suta-utpattim — tendo filhos; kalau — na era de Kali; pañca — cinco; vivarjayet — deve-se evitar.
Tradução
“‘Nesta era de Kali, cinco atos são proibidos: o oferecimento de um cavalo em sacrifício, o oferecimento de uma vaca em sacrifício, a aceitação da ordem de sannyāsa, o oferecimento de oblações de carne aos antepassados e um homem ter filhos com a esposa de seu irmão.’”
Comentário
SIGNIFICADO—Esta é uma citação do Brahma-vaivarta Purāṇa (Kṛṣṇa-janma-khaṇḍa 185.180).
Texto
naraka ha-ite tomāra nāhika nistāra
Sinônimos
tomarā — vós, muçulmanos; jīyāite — trazer à vida; nāra — não podeis; vadha-mātra — matando apenas; sāra — a essência; naraka ha-ite — do inferno; tomāra — vossa; nāhika — não há; nistāra — libertação.
Tradução
“Visto que vós, muçulmanos, não podeis trazer à vida animais mortos, sois responsáveis por matá-los. Portanto, estais indo para o inferno: não tendes meio de obter vossa libertação.”
Texto
go-vadhī raurava-madhye pace nirantara
Sinônimos
go-aṅge — no corpo da vaca; yata — tantos; loma — pelos; tata — quantos; sahasra — mil; vatsara — anos; go-vadhī — o matador de uma vaca; raurava-madhye — numa condição de vida infernal; pace — se decompõe; nirantara — sempre.
Tradução
“Os matadores de vacas são condenados a apodrecer na vida infernal por tantos milhares de anos quantos sejam os pelos no corpo da vaca.”
Texto
nā jāni’ śāstrera marma aiche ājñā dila
Sinônimos
tomā-sabāra — de todos vós; śāstra-kartā — compiladores da escritura; seha — eles também; bhrānta — errados; haila — ficaram; nā jāni’ — sem saber; śāstrera marma — a essência das escrituras; aiche — semelhante; ājñā — ordem; dila — deram.
Tradução
“Há muitos erros e ilusões em vossas escrituras. Seus compiladores, ignorando a essência do conhecimento, deram ordens que eram contrárias à razão e à lógica.”
Texto
vicāriyā kahe kājī parābhava māni’
Sinônimos
śuni’ — ouvindo; stabdha — atordoado; haila — ficou; kājī — o Kazi; nāhi — não; sphure — profere; vāṇī — palavras; vicāriyā — após devida consideração; kahe — disse; kājī — o Kazi; parābhava — derrota; māni’ — aceitando.
Tradução
Após ouvir essas afirmações de Śrī Caitanya Mahāprabhu, o Kazi, derrotado em seus argumentos, não pôde falar mais nada. Assim, após a devida consideração, o Kazi aceitou a derrota e falou o seguinte.
Comentário
SIGNIFICADO—Em nosso trabalho prático de pregação, encontramos muitos cristãos que falam sobre as afirmações da Bíblia. Ao questionarmos se Deus é limitado ou ilimitado, os sacerdotes cristãos dizem que Deus é ilimitado. Porém, ao perguntarmos por que o Deus ilimitado teria apenas um filho, e não filhos ilimitados, eles não conseguem responder. De forma semelhante, do ponto de vista científico, as respostas do Antigo Testamento, do Novo Testamento e do Alcorão a muitas perguntas têm sido alteradas. Porém, ninguém pode alterar um śāstra por mero capricho. Todos os śāstras devem estar livres dos quatro defeitos da natureza humana. As afirmações dos śāstras devem ser sempre corretas.
Texto
ādhunika āmāra śāstra, vicāra-saha naya
Sinônimos
tumi — Tu; ye — tudo o que; kahile — disseste; paṇḍita — ó Nimāi Paṇḍita; sei — aquilo; satya — verdade; haya — com certeza é; ādhunika — recente; āmāra — nossa; śāstra — escritura; vicāra — lógica; saha — com; naya — não são.
Tradução
“Meu querido Nimāi Paṇḍita, tudo o que disseste é verdade. Nossas escrituras se desenvolveram apenas recentemente e, com certeza, não são nem lógicas nem filosóficas.”
Comentário
SIGNIFICADO—Os śāstras dos yavanas, ou comedores de carne, não são escrituras eternas. São escrituras escritas recentemente e, às vezes, contradizem-se umas às outras. São três as escrituras dos yavanas: o Antigo Testamento, o Novo Testamento e o Alcorão. A compilação delas tem uma história; não são eternas como o conhecimento védico. Portanto, embora tenham seus argumentos e razões, não são muito completas nem transcendentais. Em vista disso, atualmente, as pessoas avançadas em ciência e filosofia consideram essas escrituras inaceitáveis.
Às vezes, sacerdotes cristãos nos perguntam: “Por que nossos seguidores negligenciam nossas escrituras e aceitam as suas?” Porém, quando lhes perguntamos: “Sua Bíblia diz ‘não matarás’. Por que, então, vocês matam tantos animais diariamente?”, eles não conseguem responder. Alguns deles respondem imperfeitamente que os animais não têm espírito. Contudo, nós, então, lhes perguntamos: “Como sabem que os animais não têm espírito? Animais e crianças têm a mesma natureza. Isso quer dizer que as crianças da sociedade humana também não têm espírito?” Segundo as escrituras védicas, dentro do corpo vive o proprietário do corpo, a alma. A Bhagavad-gītā (2.13) diz:
kaumāraṁ yauvanaṁ jarā
tathā dehāntara-prāptir
dhīras tatra na muhyati
“Assim como a alma corporificada continuamente passa, neste corpo, da infância à juventude e à velhice, analogamente, a alma passa para outro corpo à hora da morte. A alma autorrealizada não se confunde com tal mudança.”
Como a alma está dentro do corpo, o corpo se altera através de muitas formas. Há uma alma dentro do corpo de cada entidade viva, quer animal, quer árvore, quer pássaro, quer ser humano, e a alma transmigra de uma espécie de corpo para outra. Quando as escrituras dos yavanas – a saber, o Antigo Testamento, o Novo Testamento e o Alcorão – não podem responder adequadamente a seguidores inquisitivos, naturalmente os que são avançados em conhecimento científico e filosofia perdem a fé em tais escrituras. O Kazi admitiu isso enquanto conversava com Śrī Caitanya Mahāprabhu. O Kazi era uma pessoa muito inteligente. Ele tinha conhecimento pleno de sua posição, como se afirma no verso seguinte.
Texto
jāti-anurodhe tabu sei śāstra māni
Sinônimos
kalpita — imaginada; āmāra — nossa; śāstra — escritura; āmi — eu; saba — tudo; jāni — sei; jāti — pela comunidade; anurodhe — sendo obrigado; tabu — todavia; sei — esta; śāstra — escritura; māni — aceito.
Tradução
“Sei que nossas escrituras estão repletas de imaginação e ideias errôneas, mas, como sou muçulmano, aceito-as pelo bem de minha comunidade, a despeito da insuficiente autoridade delas.”
Texto
hāsi’ tāhe mahāprabhu puchena āra-vāra
Sinônimos
sahaje — naturalmente; yavana-śāstre — nas escrituras dos comedores de carne; adṛḍha — infundado; vicāra — julgamento; hāsi’ — sorrindo; tāhe — a ele; mahāprabhu — Caitanya Mahāprabhu; puchena — perguntou; āra-vāra — de novo.
Tradução
“A razão e os argumentos nas escrituras dos comedores de carne não são muito plausíveis”, concluiu o Kazi. Ao ouvir essa afirmação, Śrī Caitanya Mahāprabhu sorriu e lhe perguntou o seguinte.
Texto
yathārtha kahibe, chale nā vañchibe āmā’
Sinônimos
āra eka — mais uma; praśna — pergunta; kari — faço; śuna — ouve; tumi — tu; māmā — tio materno; yathā-artha — já que é verdade; kahibe — deves falar; chale — com truques; nā vañchibe — não deves enganar; āmā’ — a Mim.
Tradução
“Meu querido tio materno, desejo te fazer outra pergunta. Por favor, dize-Me a verdade. Não tentes enganar-Me com truques.”
Texto
vādya-gīta-kolāhala, saṅgīta, nartana
Sinônimos
tomāra nagare — em tua cidade; haya — há; sadā — sempre; saṅkīrtana — o cantar do santo nome do Senhor; vādya — sons musicais; gīta — canção; kolāhala — alvoroço tumultuoso; saṅgīta — cantando; nartana — dançando.
Tradução
“Em tua cidade, há sempre o canto congregacional do santo nome. Um alvoroço tumultuoso de música, canto e dança está sempre acontecendo.”
Texto
ebe ye nā kara mānā bujhite nā pāri
Sinônimos
tumi — tu; kājī — o magistrado; hindu-dharma — os princípios religiosos dos hindus; virodhe — de te opores; adhikārī — tens o direito; ebe — agora; ye — isso; nā kara mānā — não proíbes; bujhite — de entender; nā pāri — não sou capaz.
Tradução
“Como magistrado muçulmano, tens o direito de te opores à realização de cerimônias hindus, mas agora não as proíbes. Não consigo entender o porquê disso.”
Texto
sei nāme āmi tomāya sambodhana kari
Sinônimos
kājī bale — o Kazi disse; sabhe — todos; tomāya — a Ti; bale — se dirigem; gaurahari — pelo nome Gaurahari; sei nāme — por esse nome; āmi — eu; tomāya — a Ti; sambodhana — me dirijo; kari — faço.
Tradução
O Kazi disse: “Todos Te chamam de Gaurahari. Por favor, deixa-me chamar-Te por esse nome.”
Texto
nibhṛta hao yadi, tabe kari nivedana
Sinônimos
śuna — por favor, ouve; gaurahari — ó Gaurahari; ei praśnera — desta questão; kāraṇa — razão; nibhṛta — solitário; hao — vieres; yadi — se; tabe — então; kari — farei; nivedana — submissão.
Tradução
“Por favor, ouve-me, ó Gaurahari! Se puderes vir comigo a um lugar privado, eu Te explicarei a razão.”
Texto
sphuṭa kari’ kaha tumi, nā kariha bhaya
Sinônimos
prabhu bale — o Senhor disse; e loka — todos esses homens; āmāra — Meus; antaraṅga — associados íntimos; haya — são; sphuṭa kari’ — esclarecendo; kaha — fala; tumi — tu; nā — não; kariha bhaya — temas.
Tradução
O Senhor respondeu: “Todos esses homens são Meus associados íntimos. Podes falar francamente. Não há razão para temê-los.”
Texto
kīrtana kariluṅ mānā mṛdaṅga bhāṅgiyā
nara-deha, siṁha-mukha, garjaye vistara
Sinônimos
kājī kahe — o Kazi respondeu; yabe — quando; āmi — eu; hindura — do hindu; ghare — na casa; giyā — indo lá; kīrtana — o cantar do santo nome; kariluṅ — fiz; mānā — proibição; mṛdaṅga — o tambor; bhāṅgiyā — quebrando; sei rātre — naquela noite; eka — um; siṁha — leão; mahā-bhayaṅkara — muito assustador; nara-deha — tendo um corpo como o de um ser humano; siṁha-mukha — tendo um rosto como o de um leão; garjaye — rugia; vistara — bem alto.
Tradução
O Kazi disse: “Depois que fui à casa do hindu, onde quebrei o tambor e proibi a execução do canto congregacional, em um sonho meu, naquela mesma noite, vi um leão tremendamente assustador, rugindo bem alto, e Ele tinha o corpo como o de um ser humano e o rosto como o de um leão.”
Texto
aṭṭa aṭṭa hāse, kare danta-kaḍamaḍi
Sinônimos
śayane — adormecido; āmāra — mim; upara — sobre; lāpha diyā — pulando; caḍi’ — montando; aṭṭa aṭṭa — bravo e áspero; hāse — dá uma gargalhada; kare — faz; danta — dentes; kaḍamaḍi — rangendo.
Tradução
“Enquanto eu dormia, o leão pulou sobre meu peito, gargalhando ferozmente e rangendo Seus dentes.”
Texto
phāḍimu tomāra buka mṛdaṅga badale
Sinônimos
mora — meu; buke — sobre o peito; nakha — garras; diyā — colocando; ghora — estrondosa; svare — com voz; bale — diz; phāḍimu — vou rasgar; tomāra — teu; buka — peito; mṛdaṅga — do tambor; badale — em troca.
Tradução
“Colocando Suas garras sobre o meu peito, o leão disse com voz grave: ‘Rasgarei o teu peito agora mesmo, assim como quebraste a mṛdaṅga!’”
Texto
āṅkhi mudi’ kāṅpi āmi pāñā baḍa bhaya
Sinônimos
mora — Meu; kīrtana — canto congregacional; mānā karis — estás proibindo; karimu — farei; tora — tua; kṣaya — destruição; āṅkhi — olhos; mudi’ — fechando; kāṅpi — eu tremia; āmi — eu; pāñā — tendo; baḍa — muito; bhaya — medo.
Tradução
“‘Proibiste a execução de Meu canto congregacional. Portanto, tenho que te destruir!’ Estando apavorado diante dEle, fiquei tremendo com os olhos fechados.”
Texto
tore śikṣā dite kailu tora parājaya
Sinônimos
bhīta dekhi’ — ao me ver tão assustado; siṁha — o leão; bale — diz; ha-iyā — Me tornando; sadaya — misericordioso; tore — a ti; śikṣā — lição; dite — para dar; kailu — fiz; tora — tua; parājaya — derrota.
Tradução
“Ao ver-me tão assustado, o leão disse: ‘Eu te derrotei apenas para te ensinar uma lição, mas devo ter misericórdia de ti.’”
Texto
teñi kṣamā kari’ nā karinu prāṇāghāta
Sinônimos
se dina — naquele dia; bahuta — muito; nāhi — não; kaili — fizeste; utpāta — perturbação; teñi — portanto; kṣamā kari’ — perdoando; nā karinu — não executei; prāṇāghāta — a retirada de tua vida.
Tradução
“‘Naquele dia, não criaste uma perturbação muito grande. Portanto, Eu te perdoei e não tirei tua vida.’”
Texto
savaṁśe tomāre māri yavana nāśimu
Sinônimos
aiche — do mesmo modo; yadi — se; punaḥ — de novo; kara — fizeres; tabe — então; nā sahimu — não vou tolerar; sa-vaṁśe — juntamente com tua família; tomāre — a ti; māri — matando; yavana — os comedores de carne; nāśimu — destruirei.
Tradução
“‘Porém, se executares semelhantes atividades novamente, não serei tolerante. Nesse momento, Eu te matarei, e matarei tua família inteira e todos os comedores de carne.’”
Texto
ei dekha, nakha-cihna amora hṛdaya
Sinônimos
eta — assim; kahi’ — dizendo; siṁha — o leão; gela — regressou; āmāra — meu; haila — houve; bhaya — temor; ei dekha — vê aqui isto; nakha-cihna — as marcas das garras; amora hṛdaya — sobre meu coração.
Tradução
“Após dizer isso, o leão partiu, mas eu fiquei com muito medo dEle. Vê aqui as marcas de Suas garras sobre o meu coração!”
Texto
śuni’ dekhi’ sarva-loka āścarya mānila
Sinônimos
eta bali’ — dizendo isso; kājī — o Kazi; nija-buka — seu próprio peito; dekhāila — mostrou; śuni’ — ouvindo; dekhi’ — vendo; sarva-loka — todos; āścarya — incidente maravilhoso; mānila — aceitaram.
Tradução
Após fazer essa descrição, o Kazi mostrou seu peito. Tendo ouvido a narração e vendo as marcas, todas as pessoas ali presentes aceitaram o incidente maravilhoso.
Texto
sei dina āmāra eka piyādā āila
Sinônimos
kājī kahe — o Kazi disse; ihā — isto; āmi — eu; kāre — a outros; nā kahila — não contei; sei dina — naquele dia; āmāra — meu; eka — um; piyādā — ordenança; āila — veio me ver.
Tradução
O Kazi prosseguiu: “Não falei a ninguém sobre esse incidente, mas, naquele mesmo dia, um de meus ordenanças veio me ver.”
Texto
agni ulkā mora mukhe lāge ācambite
Sinônimos
āsi’ — vindo a mim; kahe — ele disse; geluṅ — fui; muñi — eu; kīrtana — canto congregacional; niṣedhite — para impedir; agni ulkā — chamas de fogo; mora — meu; mukhe — no rosto; lāge — entraram em contato; ācambite — de repente.
Tradução
“Após vir a mim, o ordenança disse: ‘Quando fui impedir o canto congregacional, subitamente chamas atingiram o meu rosto.’”
Texto
yei peyādā yāya, tāra ei vivaraṇa
Sinônimos
puḍila — queimou-se; sakala — toda; dāḍi — barba; mukhe — no rosto; haila — houve; vraṇa — bolhas; yei — qualquer; peyādā — ordenança; yāya — vem; tāra — sua; ei — esta; vivaraṇa — descrição.
Tradução
“‘Minha barba se queimou, e apareceram bolhas em minhas bochechas.’ Todos os ordenanças que vieram deram-me a mesma descrição.”
Texto
kīrtana nā varjiha, ghare rahoṅ ta’ vasiyā
Sinônimos
tāhā dekhi’ — vendo isso; rahinu — permaneci; muñi — eu; mahā-bhaya — grande medo; pāñā — tendo; kīrtana — o canto congregacional; nā — não; varjiha — impeçais; ghare — em casa; rahoṅ — permanecei; ta’ — decerto; vasiyā — sentados.
Tradução
“Após ver isso, fiquei muito amedrontado. Pedi-lhes que não impedissem o canto congregacional, mas que voltassem para casa.”
Texto
śuni’ saba mleccha āsi’ kaila nivedana
Sinônimos
tabe ta’ — depois disso; nagare — na cidade; ha-ibe — haverá; svacchande — sem perturbação ou ansiedade; kīrtana — canto congregacional; śuni’ — ouvindo isso; saba — todos; mleccha — comedores de carne; āsi’ — vindo; kaila — fizeram; nivedana — queixa.
Tradução
“Então, todos os comedores de carne vieram se queixar comigo: ‘Após essa ordem, sempre haverá canto congregacional irrestrito na cidade.’”
Texto
‘hari’ ‘hari’ dhvani ba-i nāhi śuni āra
Sinônimos
nagare — na cidade; hindura — dos hindus; dharma — religião; bāḍila — tem aumentado; apāra — ilimitadamente; hari hari — do nome do Senhor, “Hari, Hari”; dhvani — a vibração; ba-i — exceto; nāhi — não; śuni — ouvimos; āra — nada mais.
Tradução
“‘Dessa maneira, a religião dos hindus aumentará ilimitadamente. Sempre ouvimos vibrações de ‘Hari! Hari!’ Não ouvimos nada além disso.’”
Texto
hāse, kānde, nāce, gāya, gaḍi yāya dhūli
Sinônimos
āra — outro; mleccha — comedor de carne; kahe — disse; hindu — hindus; kṛṣṇa kṛṣṇa bali’ — dizendo: “Kṛṣṇa, Kṛṣṇa”; hāse — riem; kānde — choram; nāce — dançam; gāya — cantam; gaḍi yāya dhūli — rolam na poeira.
Tradução
“Um comedor de carne disse: ‘Os hindus dizem: ‘Kṛṣṇa, Kṛṣṇa’, e riem, choram, dançam, cantam e caem no chão, esfregando seus corpos com poeira.’”
Texto
pātasāha śunile tomāra karibeka phala
Sinônimos
hari hari kari’ — dizendo: “Hari, Hari”; hindu — os hindus; kare — fazem; kolāhala — som tumultuoso; pātasāha — o rei; śunile — se ouvir; tomāra — tua; karibeka — fará; phala — punição.
Tradução
“‘Vibrando ‘Hari, Hari’, os hindus fazem um som tumultuoso. Se o rei [pātasāha] ficar sabendo disso, certamente te punirá.’”
Comentário
SIGNIFICADO—Pātasāha refere-se ao rei. Nawab Hussain Shah, cujo nome completo era Ālā Uddīna Saiyad Husen Sā, era, naquela época (1498-1521), o rei independente da Bengala. Anteriormente, fora servo do cruel Nawab da dinastia Hābsī, chamado Mujaḥphara Khān, mas, de alguma forma, assassinou seu amo e se tornou o rei. Após conquistar o trono da Bengala (tecnicamente chamado Masnada), ele se declarou Saiyad Husen Ālā Uddīna Seriph Mukkā. Há um livro chamado Riyāja Us-salātina, cujo autor, Golām Husen, diz que Nawab Hussain Shah pertencia à família de Mukkā Seriph. Para manter a glória de sua família, ele adotou o nome Seriph Mukkā. No entanto, de um modo geral, ele é conhecido como Nawab Hussain Shah. Após sua morte, seu filho mais velho, Nasaratsā, se tornou o rei da Bengala (1521-1533). Esse rei também foi muito cruel. Cometeu muitas atrocidades contra os vaiṣṇavas. Como resultado de suas atividades pecaminosas, um de seus servos do grupo Khojā o matou enquanto ele orava na mesquita.
Texto
hindu ‘hari’ bale, tāra svabhāva jānila
Sinônimos
tabe — então; sei — isto; yavanere — aos comedores de carne; āmi — eu; ta’ — decerto; puchila — perguntei; hindu — o hindu; hari bale — diz Hari; tāra — sua; svabhāva — natureza; jānila — eu sei.
Tradução
“Então, perguntei àqueles yavanas: ‘Sei que esses hindus cantam ‘Hari, Hari’ por natureza.’”
Texto
hindura devatāra nāma laha ki kāraṇa
Sinônimos
tumita — porém, vós; yavana — comedores de carne; hañā — sendo; kene — por que; anukṣaṇa — sempre; hindura — dos hindus; devatāra — do Deus; nāma — o nome; laha — vós aceitais; ki — qual; kāraṇa — a razão.
Tradução
“‘Os hindus cantam o nome Hari porque esse é o nome do Deus deles. Porém, vós sois comedores de carne muçulmanos. Por que cantais o nome do Deus dos hindus?’”
Texto
keha keha — kṛṣṇadāsa, keha — rāmadāsa
Sinônimos
mleccha — o comedor de carne; kahe — diz; hindure — a um hindu; āmi — eu; kari — faço; parihāsa — zombaria; keha keha — alguns deles; kṛṣṇadāsa — chamados Kṛṣṇadāsa; keha — outros; rāmadāsa — chamados Rāmadāsa.
Tradução
“O comedor de carne respondeu: ‘Às vezes, zombo dos hindus. Alguns deles se chamam Kṛṣṇadāsa, e outros se chamam Rāmadāsa.’”
Texto
jāni kāra ghare dhana karibeka curi
Sinônimos
keha — alguns deles; haridāsa — chamados Haridāsa; sadā — sempre; bale — diz; hari hari — o nome do Senhor, “Hari, Hari”; jāni — entendo; kāra — de alguém; ghare — em casa; dhana — riqueza; karibeka — farão; curi — roubo.
Tradução
“‘Alguns deles chamam-se Haridāsa. Eles sempre cantam ‘Hari, Hari’, de modo que achei que estariam roubando as riquezas da casa de alguém.’”
Comentário
SIGNIFICADO—Outro significado de “Hari, Hari” é: “Estou roubando, estou roubando.”
Texto
icchā nāhi, tabu bale, — ki upāya kari
Sinônimos
sei haite — desde essa época; jihvā — língua; mora — minha; bale — diz; hari hari — a vibração “Hari, Hari”; icchā — desejo; nāhi — não há nenhum; tabu — não obstante; bale — diz; ki — que; upāya — meio; kari — posso fazer.
Tradução
“‘Desde essa época, minha língua também sempre vibra o som ‘Hari, Hari’. Não tenho desejo de dizê-lo, mas, ainda assim, minha língua o diz. Não sei o que fazer.’”
Comentário
SIGNIFICADO—Às vezes, descrentes demoníacos, não entendendo a potência do santo nome, zombam dos vaiṣṇavas quando estes cantam o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Essa zombaria também é benéfica para tais pessoas. O Śrīmad-Bhāgavatam, sexto canto, segundo capítulo, verso 14, indica que o cantar do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, mesmo feito jocosamente, no decurso de um diálogo qualquer, para indicar algo estranho, ou feito com negligência, se chama nāmābhāsa, ou seja, o cantar que está quase na fase transcendental. Essa fase nāmābhāsa é melhor do que nāmāparādha. Nāmābhāsa desperta a lembrança suprema do Senhor Viṣṇu. Quem se lembra do Senhor Viṣṇu se livra do gozo material. Assim, avança gradualmente rumo ao transcendental serviço ao Senhor e se torna apto para cantar o santo nome do Senhor na posição transcendental.
Texto
hinduke parihāsa kainu se dina ha-ite
nā jāni, ki mantrauṣadhi jāne hindu-gaṇa
Sinônimos
āra — outro; mleccha — comedor de carne; kahe — disse; śuna — por favor, ouve; āmi — eu; ta’ — decerto; ei-mate — dessa maneira; hinduke — a um hindu; parihāsa — zombaria; kainu — fiz; se — aquele; dina — dia; ha-ite — desde; jihvā — a língua; kṛṣṇa-nāma — o santo nome do Senhor Kṛṣṇa; kare — canta; nā — não; māne — aceita; varjana — renúncia; nā — não; jāni — eu sei; ki — que; mantra-auṣadhi — hinos e ervas; jāne — conhecem; hindu-gaṇa — os hindus.
Tradução
“Outro comedor de carne disse: ‘Senhor, por favor, ouve-me. Desde o dia em que zombei de alguns hindus dessa maneira, minha língua canta o hino Hare Kṛṣṇa e não consegue deixar de fazê-lo. Não sei que hinos místicos e poções de ervas esses hindus conhecem.’”
Texto
hena-kāle pāṣaṇḍī hindu pāṅca-sāta āila
Sinônimos
eta śuni’ — após ouvir tudo isso; tā’-sabhāre — todos eles; ghare — de volta à casa; pāṭhāila — enviei; hena-kāle — nessa altura; pāṣaṇḍī — descrentes; hindu — hindus; pāṅca-sāta — cinco ou sete; āila — vieram.
Tradução
“Após ouvir tudo isso, enviei todos os mlecchas de volta para casa. Cinco ou sete hindus descrentes, então, se aproximaram de mim.”
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra pāṣaṇḍī se refere a descrentes ocupados em atividades fruitivas e a veneradores idólatras de muitos semideuses. Os pāṣaṇḍīs não creem em um só Deus, a Personalidade Suprema, o Senhor Viṣṇu; eles pensam que todos os semideuses têm a mesma potência que Ele. A definição de pāṣaṇḍī é dada no tantra-śāstra:
brahma-rudrādi-daivataiḥ
samatvenaiva vīkṣeta
sa pāṣaṇḍī bhaved dhruvam
“Um pāṣaṇḍī é aquele que considera os grandes semideuses, tais como o senhor Brahmā e o senhor Śiva, iguais à Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa.” (Hari-bhakti-vilāsa, 1.17)
A Suprema Personalidade de Deus é asamaurdhva; em outras palavras, ninguém pode se igualar a Ele ou superá-lO. Os pāṣaṇḍīs, porém, não creem nisso. Adoram qualquer classe de semideuses, achando correto aceitar como o Senhor Supremo quem quer que os satisfaça. Os pāṣaṇḍīs eram contra o Movimento Hare Kṛṣṇa do Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, e agora vemos na prática que eles também não gostam de nossas humildes tentativas de espalhar a consciência de Kṛṣṇa em todo o mundo. Pelo contrário, esses pāṣaṇḍīs dizem que estamos estragando a religião hindu porque pessoas em todo o mundo estão aceitando o Senhor Kṛṣṇa como a Suprema Personalidade de Deus segundo a versão do Bhagavad-gītā Como Ele É. Os pāṣaṇḍīs condenam este movimento, e às vezes acusam os vaiṣṇavas de países estrangeiros de não serem fidedignos. Mesmo ditos vaiṣṇavas ou seguidores do culto vaiṣṇava não concordam com nossas atividades ao fazermos vaiṣṇavas nos países ocidentais. Tais pāṣaṇḍīs existiam mesmo durante a época do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, e continuam a existir. No entanto, a despeito de todas as atividades desses pāṣaṇḍīs, a predição do Senhor Caitanya Mahāprabhu triunfará, pṛthivīte āche yata nagarādi grāma/ sarvatra pracāra haibe mora nāma: “Em todas as cidades e vilas, será ouvido o cantar do Meu nome.” Ninguém pode deter a propagação do movimento para a consciência de Kṛṣṇa, pois este movimento é abençoado pela Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Texto
ye kīrtana pravartāila, kabhu śuni nāi
Sinônimos
āsi’ — vindo ali; kahe — eles disseram; hindura — dos hindus; dharma — princípios religiosos; bhāṅgila — rompeu; nimāi — Nimāi Paṇḍita; ye — aquele; kīrtana — canto congregacional; pravartāila — introduziu; kabhu — em tempo algum; śuni — ouvimos; nāi — jamais.
Tradução
“Vindo a mim, os hindus reclamaram: ‘Nimāi Paṇḍita rompeu os princípios religiosos hindus. Ele introduziu o sistema de saṅkīrtana, que jamais vimos mencionado em nenhuma escritura.’”
Texto
tā’te vādya, nṛtya, gīta, — yogya ācaraṇa
Sinônimos
maṅgala-caṇḍī — da execução religiosa de adoração a Maṅgalacaṇḍī; viṣahari — da execução religiosa de adoração a Viṣahari; kari’ — observando; jāgaraṇa — vigília noturna; tā’te — nessa cerimônia; vādya — execução musical; nṛtya — dançar; gīta — cantar; yogya — adequado; ācaraṇa — costume.
Tradução
“‘Quando ficamos de vigília a noite inteira para realizar atividades religiosas de adoração a Maṅgalacaṇḍī e Viṣahari, tocando instrumentos musicais, dançando e cantando, isso certamente são costumes adequados.’”
Texto
gayā haite āsiyā cālāya viparīta
Sinônimos
pūrve — antes disso; bhāla — ótimo; chila — era; ei — este; nimāi paṇḍita — chamado Nimāi Paṇḍita; gayā — Gayā (um lugar de peregrinação); haite — desde; āsiyā — vindo; cālāya — porta-Se; viparīta — justamente o oposto.
Tradução
“‘Antigamente, Nimāi Paṇḍita era um ótimo rapaz, mas, desde que regressou de Gayā, tem Se portado de maneira diferente!’”
Texto
mṛdaṅga-karatāla-śabde karṇe lāge tāli
Sinônimos
ucca — alto; kari’ — fazendo; gāya — canta; gīta — canções; deya — pratica; karatāli — batendo palmas; mṛdaṅga — mṛdaṅga; karatāla — címbalos; śabde — pelos sons; karṇe — no ouvido; lāge — há; tāli — bloqueio.
Tradução
“‘Agora Ele canta alto toda espécie de canções, batendo palmas, tocando tambores e címbalos, e fazendo um som tumultuoso que ensurdece nossos ouvidos.’”
Texto
hāse, kānde, paḍe, uṭhe, gaḍāgaḍi yāya
Sinônimos
nā jāni — não sabemos; ki — o que; khāñā — comendo; matta — louco; hañā — tornando-Se; nāce — Ele dança; gāya — canta; hāse — ri; kānde — chora; paḍe — cai; uṭhe — levanta-Se; gaḍāgaḍi yāya — sai rolando pelo chão.
Tradução
“‘Não sabemos o que Ele come que O fazer enlouquecer assim, dançando, cantando, às vezes rindo, chorando, caindo, pulando e rolando no chão.’”
Texto
rātre nidrā nāhi yāi, kari jāgaraṇa
Sinônimos
nagariyāke — todos os cidadãos; pāgala — loucos; kaila — Ele deixou; sadā — sempre; saṅkīrtana — canto congregacional; rātre — à noite; nidrā — sono; nāhi yāi — não temos; kari — observamos; jāgaraṇa — vigília.
Tradução
“‘Ele praticamente enlouqueceu o mundo inteiro por sempre fazer o canto congregacional. À noite, não conseguimos dormir; ficamos despertos o tempo todo.’”
Texto
hindura dharma naṣṭa kaila pāṣaṇḍa sañcāri’
Sinônimos
nimāñi — Nimāi; nāma — o nome; chāḍi — abandonando; ebe — agora; bolāya — Se chama; gaurahari — Gaurahari; hindura — dos hindus; dharma — os princípios religiosos; naṣṭa kaila — arruinou; pāṣaṇḍa — irreligião; sañcāri’ — introduzindo.
Tradução
“‘Agora Ele abandonou Seu próprio nome, Nimāi, e Se apresenta com o nome Gaurahari. Ele arruinou os princípios religiosos hindus e introduziu a irreligião dos descrentes.’”
Texto
ei pāpe navadvīpa ha-ibe ujāḍa
Sinônimos
kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; kīrtana — cantar; kare — faz; nīca — classe inferior; bāḍa bāḍa — repetidamente; ei pāpe — por este pecado; navadvīpa — toda a cidade de Navadvīpa; ha-ibe — ficará; ujāḍa — deserta.
Tradução
“‘Agora as classes inferiores cantam o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa repetidamente. Devido a essa atividade pecaminosa, toda a cidade de Navadvīpa se tornará desértica.’”
Texto
sarva-loka śunile mantrera vīrya haya hāni
Sinônimos
hindu-śāstre — nas escrituras dos hindus; īśvara — Deus; nāma — o santo nome; mahā-mantra — o hino mais elevado; jāni — sabemos; sarva-loka — todos; śunile — se ouvirem; mantrera — do mantra; vīrya — potência; haya — fica; hāni — perdida.
Tradução
“‘Segundo a escritura hindu, supõe-se que o nome de Deus seja o hino mais poderoso. Se todos ouvirem o cantar do nome, a potência do hino se perderá.’”
Comentário
SIGNIFICADO—Na lista de ofensas ao cantar do santo nome do Senhor, afirma-se que dharma-vrata-tyāga-hutādi-sarva-śubha-kriyā-sāmyam api pramādaḥ: considerar o cantar do santo nome do Senhor igual à execução de alguma cerimônia religiosa auspiciosa é uma ofensa. Segundo o ponto de vista materialista, a execução de cerimônias religiosas cria uma atmosfera auspiciosa para o benefício material do mundo inteiro. Portanto, os materialistas inventam princípios religiosos para viverem confortavelmente, sem serem perturbados na execução de suas atividades materiais. Como não creem na existência de Deus, conceberam a ideia de um Deus impessoal e a ideia de que, para se ter alguma concepção de Deus, pode-se imaginar qualquer forma. Assim, eles consideram as muitas formas dos semideuses como diferentes representações ou manifestações do Senhor. São chamados bahv-īśvara-vādīs, ou seguidores de milhares e milhares de deuses. Consideram o cantar dos nomes dos semideuses uma atividade auspiciosa. Svāmīs ditos grandiosos têm escrito livros dizendo que se pode cantar qualquer nome – Durgā, Kali, Śiva, Kṛṣṇa, Rāma e assim por diante – porque qualquer nome é eficiente para criar uma atmosfera auspiciosa na sociedade. Assim, eles são chamados de pāṣaṇḍīs – descrentes, ou demônios infiéis.
Tais pāṣaṇḍīs desconhecem o verdadeiro valor do cantar do santo nome do Senhor Kṛṣṇa. Tolamente orgulhosos de seu nascimento material como brāhmaṇas e consequentemente de sua posição superior na ordem social, consideram as outras classes – a saber, os kṣatriyas, os vaiśyas e os śūdras – como classes inferiores. Segundo eles, ninguém exceto os brāhmaṇas pode cantar o santo nome de Kṛṣṇa, pois, se outros cantarem o santo nome, sua potência se reduzirá. Eles não têm noção da potência do nome do Senhor Kṛṣṇa. O Bṛhan-nāradīya Purāṇa recomenda:
harer nāmaiva kevalam
kalau nāsty eva nāsty eva
nāsty eva gatir anyathā
“Para quem quer avançar espiritualmente nesta era de Kali, não há alternativa, não há alternativa, não há alternativa a não ser o santo nome, o santo nome, o santo nome do Senhor.” Os pāṣaṇḍīs não aceitam que a potência do santo nome de Kṛṣṇa é tão grande que é possível se libertar simplesmente cantando o santo nome, embora isso seja confirmado no Śrīmad-Bhāgavatam (12.3.51): kīrtanād eva kṛṣṇasya mukta-saṅgaḥ paraṁ vrajet. Qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, que pratique o cantar do santo nome de Kṛṣṇa pode se libertar e, após a morte, voltar ao lar, voltar ao Supremo. Os pāṣaṇḍīs patifes acham que, se alguém que não seja brāhmaṇa cantar o santo nome, a potência do santo nome se perderá. Segundo o julgamento deles, ao invés de salvar as almas caídas, a potência do santo nome fica reduzida. Acreditando na existência de muitos deuses e considerando o cantar do santo nome de Kṛṣṇa não melhor do que o de outros hinos, esses pāṣaṇḍīs não creem nas palavras dos śāstras (harer nāma harer nāma harer nāmaiva kevalam). Todavia, Śrī Caitanya Mahāprabhu confirma em Seu Śikṣāṣṭaka que kīrtanīyaḥ sadā hariḥ: deve-se cantar o santo nome do Senhor sempre, vinte e quatro horas por dia. Contudo, os pāṣaṇḍīs são tão caídos e falsamente orgulhosos de terem nascido em famílias de brāhmaṇas que pensam que, ao invés de salvar todas as almas caídas, o santo nome se torna impotente quando cantado constantemente por homens de classes inferiores.
As palavras kṛṣṇera kīrtana kare nīca bāḍa bāḍa são significativas no verso 211, pois indicam que qualquer pessoa pode se juntar ao movimento de saṅkīrtana, como se menciona no Śrīmad-Bhāgavatam (2.4.18): kirāta-hūṇāndhra-pulinda-pulkaśā ābhīra-śumbhā yavanāḥ khasādayaḥ. Essa é uma lista dos nomes dos caṇḍālas. Os pāṣaṇḍīs dizem que, se esses homens de classes inferiores têm permissão de cantar, a influência deles aumenta. Eles não gostam da ideia de que outros devam também desenvolver qualidades espirituais, pois isso abateria o falso orgulho deles de terem nascido em famílias da elevada casta de brāhmaṇas, com monopólio das atividades espirituais. Porém, a despeito de todos os protestos dos ditos hindus e membros da casta de brāhmaṇas, propagamos o movimento para a consciência de Kṛṣṇa em todo o mundo, segundo os preceitos dos śāstras e a ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Assim, nós nos asseguramos de que estamos libertando muitas almas caídas, fazendo delas candidatos dignos de voltar ao lar, voltar ao Supremo.
Texto
nimāi bolāiyā tāre karaha varjana
Sinônimos
grāmera — desta cidade; ṭhākura — o governador; tumi — tu; saba — todos; tomāra — teu; jana — povo; nimāi — Nimāi Paṇḍita; bolāiyā — chamando; tāre — a Ele; karaha — faze; varjana — a punição de fazê-lO deixar a cidade.
Tradução
“‘Senhor, és o governador desta cidade. Quer sejam hindus, quer sejam muçulmanos, todos estão sob tua proteção. Portanto, por favor, chama Nimāi Paṇḍita e faz com que Ele deixe a cidade.’”
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra ṭhākura tem dois sentidos. Um sentido é “Deus”, ou “pessoa divina”, e outro é “kṣatriya”. Nesta passagem, os brāhmaṇas pāṣaṇḍīs chamam o Kazi de ṭhākura, tendo-o por governador da cidade. Há diferentes nomes pelos quais alguém pode se dirigir a membros de diferentes castas. Os brāhmaṇas são tratados por mahārāja, os kṣatriyas são tratados por ṭhākura, os vaiśyas são tratados por śetha ou mahājana, e os śūdras são tratados por caudhurī. Essa etiqueta ainda é seguida no norte da Índia, onde os kṣatriyas são tratados por ṭhākura sāhab. Os pāṣaṇḍīs chegaram ao ponto de pedir ao magistrado, o Kazi, que expulsasse Śrī Caitanya Mahāprabhu da cidade, por Ele ter introduzido o hari-nāma-saṅkīrtana. Felizmente, nosso Movimento Hare Kṛṣṇa no mundo inteiro, especialmente no mundo civilizado da Europa e das Américas, tem-se tornado muito popular. De um modo geral, ninguém apresenta queixas contra nós para que nos expulsem de uma cidade. Embora, na verdade, tenha sido feita semelhante tentativa em Melbourne, na Austrália, a tentativa fracassou. Assim, agora estamos introduzindo este Movimento Hare Kṛṣṇa em grandes cidades do mundo, como Nova Iorque, Londres, Paris, Tóquio, Sidney, Melbourne e Aukland, e, pela graça do Senhor Caitanya Mahāprabhu, tudo está indo bem. As pessoas ficam felizes ao aceitar o princípio de cantar o mantra Hare Kṛṣṇa, e o resultado é bastante satisfatório.
Texto
sabe ghare yāha, āmi niṣedhiba tāre
Sinônimos
tabe — depois disso; āmi — eu; prīti-vākya — palavras doces; kahila — disse; sabāre — a todos eles; sabe — todos vós; ghare — de volta à casa; yāha — ide; āmi — eu; niṣedhiba — proibirei; tāre — a Ele (Nimāi Paṇḍita).
Tradução
“Após ouvir suas reclamações, eu lhes disse com palavras doces: ‘Por favor, voltai para casa. Com certeza, proibirei Nimāi Paṇḍita de continuar com Seu Movimento Hare Kṛṣṇa.’”
Texto
sei tumi hao, — hena laya mora mana
Sinônimos
hindura — dos hindus; īśvara — Deus; baḍa — o mais elevado; yei — que; nārāyaṇa — Senhor Nārāyaṇa; sei — Ele; tumi — Tu; hao — és; hena — tal; laya — toma; mora — minha; mana — mente.
Tradução
“Sei que Nārāyaṇa é o Deus Supremo dos hindus, e acho que Tu és esse mesmo Nārāyaṇa. Sinto isso dentro de minha mente.”
Texto
kahite lāgilā kichu kājire chuṅiyā
Sinônimos
eta— isto; śuni’ — ouvindo; mahāprabhu — Śrī Caitanya Mahāprabhu; hāsiyā hāsiyā — sorrindo; kahite — a falar; lāgilā — começou; kichu — algo; kājire — ao Kazi; chuṅiyā — tocando.
Tradução
Após ouvir o Kazi falar tão bem, Śrī Caitanya Mahāprabhu o tocou e, sorrindo, falou o seguinte.
Texto
pāpa-kṣaya gela, hailā parama pavitra
Sinônimos
tomāra mukhe — em tua boca; kṛṣṇa-nāma — o cantar do santo nome de Kṛṣṇa; e — este; baḍa — bastante; vicitra — maravilhoso; pāpa-kṣaya — anulação de atividades pecaminosas; gela — tornou-se um fato; hailā — te tornaste; parama — supremo; pavitra — purificado.
Tradução
“O cantar do santo nome de Kṛṣṇa por tua boca realizou maravilhas – anulou as reações de todas as tuas atividades pecaminosas. Agora, te tornaste supremamente puro.”
Comentário
SIGNIFICADO—Confirmando a potência do movimento de saṅkīrtana, estas palavras da própria boca do Senhor Caitanya Mahāprabhu expressam como as pessoas podem se purificar simplesmente cantando o santo nome do Senhor Kṛṣṇa. O Kazi era um muçulmano mleccha, ou comedor de carne, mas, como proferira várias vezes o santo nome do Senhor Kṛṣṇa, as reações de sua vida pecaminosa foram destruídas automaticamente, e ele se purificou por inteiro de toda a contaminação material. Não sabemos o motivo pelo qual os pāṣaṇḍīs dos dias atuais protestam que estamos deteriorando a religião hindu ao propagarmos a consciência de Kṛṣṇa em todo o mundo e elevarmos todas as classes de homens ao padrão máximo do vaiṣṇavismo. Porém, esses patifes discordam tão veementemente de nós que alguns deles não permitem que vaiṣṇavas europeus e americanos entrem nos templos de Viṣṇu. Julgando que a religião foi feita para algum benefício material, esses ditos hindus realmente se tornaram corruptos ao adorarem as numerosas formas dos semideuses. No verso seguinte, Śrī Caitanya Mahāprabhu confirma a purificação do Kazi.
Texto
baḍa bhāgyavān tumi, baḍa puṇyavān
Sinônimos
hari kṛṣṇa nārāyaṇa — os santos nomes do Senhor Hari, do Senhor Kṛṣṇa e do Senhor Nārāyaṇa; laile — aceitaste; tina — três; nāma — santos nomes; baḍa — muito; bhāgyavān — afortunado; tumi — és; baḍa — muito; puṇyavān — piedoso.
Tradução
“Por teres cantado três santos nomes do Senhor – Hari, Kṛṣṇa e Nārāyaṇa –, tu és, sem dúvidas, muito afortunado e piedoso.”
Comentário
SIGNIFICADO—Neste verso, o Senhor Supremo, Śrī Caitanya Mahāprabhu, confirma que qualquer pessoa que cante os santos nomes Hari, Kṛṣṇa e Nārāyaṇa, sem cometer ofensas, é certamente afortunada ao extremo e, seja indiana ou não-indiana, hindu ou não-hindu, alcança de imediato o nível da mais piedosa das pessoas. Portanto, não nos importamos com as afirmações de pāṣaṇḍīs que protestam contra o fato de nosso movimento converter membros de outras cidades ou países em vaiṣṇavas. Temos que seguir os passos do Senhor Caitanya Mahāprabhu, executando nossa missão pacificamente, ou, se necessário, chutando a cabeça de tais protestadores.
Texto
prabhura caraṇa chuṅi’ bale priya-vāṇī
Sinônimos
eta — isto; śuni’ — ouvindo; kājīra — do Kazi; dui — dois; cakṣe — nos olhos; paḍe — correm; pāni — lágrimas; prabhura — do Senhor; caraṇa — pés de lótus; chuṅi’ — tocando; bale — diz; priya-vāṇī — palavras agradáveis.
Tradução
Depois que o Kazi ouviu isso, correram lágrimas de seus olhos. De imediato, ele tocou os pés de lótus do Senhor e falou palavras doces, como segue.
Texto
ei kṛpā kara, — yena tomāte rahu bhakti
Sinônimos
tomāra prasāde — por Tua misericórdia; mora — minhas; ghucila — foram embora; kumati — más intenções; ei — esta; kṛpā — misericórdia; kara — por favor, faze comigo; yena — de modo que; tomāte — em Ti; rahu — permaneça; bhakti — devoção.
Tradução
“Minhas más intenções foram aniquiladas unicamente por Tua misericórdia. Por favor, favorece-me de tal modo que minha devoção esteja sempre fixa em Ti.”
Texto
saṅkīrtana vāda yaiche nahe nadīyāya
Sinônimos
prabhu kahe — o Senhor disse; eka — uma; dāna — caridade; māgiye — peço; tomāya — a ti; saṅkīrtana — o cantar do mantra Hare Kṛṣṇa; vāda — oposição; yaiche — como talvez seja; nahe — não seja; nadīyāya — no distrito de Nadia.
Tradução
O Senhor disse: “Desejo pedir-te um favor em caridade. Deves prometer-Me que este movimento de saṅkīrtana não será impedido, ao menos no distrito de Nadia.”
Texto
tāhāke ‘tālāka’ diba, — kīrtana nā bādhibe
Sinônimos
kājī kahe — o Kazi disse; mora — minha; vaṁśe — na dinastia; yata — todos (os descendentes); upajibe — que nascerão; tāhāke — a eles; tālāka — grave admoestação; diba — darei; kīrtana — o movimento de saṅkīrtana; nā — jamais; bādhibe — farão oposição.
Tradução
O Kazi disse: “Para tantos descendentes quantos nasçam em minha dinastia no futuro, dou esta forte admoestação: ninguém deve impedir o movimento de saṅkīrtana.”
Comentário
SIGNIFICADO—Como resultado dessa forte ordem do Kazi, mesmo atualmente os descendentes da família do Kazi não se opõem ao movimento de saṅkīrtana em nenhuma circunstância. Mesmo durante as grandes rixas entre hindus e muçulmanos em lugares vizinhos, os descendentes do Kazi preservaram honestamente a garantia dada pelo antepassado deles.
Texto
uṭhila vaiṣṇava saba kari’ hari-dhvani
Sinônimos
śuni’ — ouvindo; prabhu — o Senhor; hari — o santo nome do Senhor; bali’ — cantando; uṭhilā — Se levantou; āpani — pessoalmente; uṭhila — se levantaram; vaiṣṇava — outros devotos; saba — todos; kari’ — fazendo; hari-dhvani — vibração do santo nome, “Hari, Hari”.
Tradução
Ao ouvir isso, o Senhor Se levantou, cantando “Hari! Hari!” Acompanhando-O, todos os demais vaiṣṇavas também se levantaram, cantando a vibração do santo nome.
Texto
saṅge cali’ āise kājī ullasita mana
Sinônimos
kīrtana — canto; karite — para executar; prabhu — o Senhor; karilā — fez; gamana — partida; saṅge — acompanhando-O; cali’ — caminhando; āise — vem; kājī — o Kazi; ullasita — jubilante; mana — mente.
Tradução
Śrī Caitanya Mahāprabhu voltou a fazer kīrtana, e o Kazi, com sua mente jubilante, foi com Ele.
Texto
nācite nācite āilā āpana bhavana
Sinônimos
kājīre — ao Kazi; vidāya — adeus; dila — deu; śacīra — de mãe Śacī; nandana — o filho; nācite nācite — dançando sem cessar; āilā — voltou; āpana — própria; bhavana — casa.
Tradução
O Senhor mandou o Kazi voltar para casa. Então, o filho de mãe Śacī voltou para Sua própria casa, dançando sem cessar.
Texto
ihā yei śune tāra khaṇḍe aparādha
Sinônimos
ei mate — dessa maneira; kājīre — ao Kazi; prabhu — o Senhor; karilā — fez; prasāda — misericórdia; ihā — isto; yei — qualquer pessoa que; śune — ouça; tāra — suas; khaṇḍe — elimina; aparādha — ofensas.
Tradução
Esse é o incidente relacionado ao Kazi e à misericórdia do Senhor para com ele. Qualquer pessoa que ouça isto também se livra de todas as ofensas.
Texto
nityānanda-saṅge nṛtya kare dui bhāi
Sinônimos
eka dina — certo dia; śrīvāsera — de Śrīvāsa Ṭhākura; mandire — na casa; gosāñi — Senhor Caitanya Mahāprabhu; nityānanda — Senhor Nityānanda; saṅge — acompanhado por; nṛtya — dançando; kare — executavam; dui — dois; bhāi — irmãos.
Tradução
Certo dia, os dois irmãos, o Senhor Nityānanda Prabhu e Śrī Caitanya Mahāprabhu, dançavam na casa santa de Śrīvāsa Ṭhākura.
Texto
tabu śrīvāsera citte nā janmila śoka
Sinônimos
śrīvāsa — de Śrīvāsa Ṭhākura; putrera — do filho; tāhāṅ — ali; haila — aconteceu; paraloka — morte; tabu — contudo; śrīvāsera — de Śrīvāsa Ṭhākura; citte — na mente; nā — não; janmila — houve; śoka — lamentação.
Tradução
Nessa hora, uma calamidade aconteceu – o filho de Śrīvāsa Ṭhākura morreu. Contudo, Śrīvāsa Ṭhākura não ficou nem um pouco desolado.
Texto
āpane dui bhāi hailā śrīvāsa-nandana
Sinônimos
mṛta-putra — do filho morto; mukhe — na boca; kaila — fez; jñānera — de conhecimento; kathana — conversa; āpane — pessoalmente; dui — os dois; bhāi — irmãos; hailā — Se tornaram; śrīvāsa-nandana — filhos de Śrīvāsa Ṭhākura.
Tradução
Śrī Caitanya Mahāprabhu fez com que o filho morto falasse palavras plenas de conhecimento, e, então, os dois irmãos pessoalmente Se tornaram filhos de Śrīvāsa Ṭhākura.
Comentário
SIGNIFICADO—Em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura descreve este incidente da seguinte maneira: Certa noite, enquanto Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava com Seus devotos na casa de Śrīvāsa Ṭhākura, um dos filhos de Śrīvāsa Ṭhākura, que padecia de alguma doença, morreu. No entanto, Śrīvāsa Ṭhākura era tão paciente que não permitiu que alguém expressasse pesar chorando, pois não queria que o kīrtana que se realizava em sua casa fosse perturbado. Assim, o kīrtana continuou sem nenhum som de lamentação. Porém, quando o kīrtana terminou, Śrī Caitanya Mahāprabhu, que pôde pressentir o incidente, declarou: “Deve ter ocorrido alguma calamidade nesta casa.” Ao ser informado da morte do filho de Śrīvāsa Ṭhākura, Ele expressou Seu pesar, dizendo: “Por que não Me deram esta notícia antes?” Ele foi até onde o filho jazia morto e lhe perguntou: “Meu caro rapaz, por que estás deixando a casa de Śrīvāsa Ṭhākura?” O filho morto respondeu prontamente: “Eu vivi nesta casa durante o tempo que me foi destinado para viver aqui. Agora que se expirou o tempo, estou indo para outro lugar, segundo Vossa orientação. Sou Vosso servo eterno, um ser vivo dependente. Só posso agir segundo Vosso desejo. Além de Vosso desejo, nada posso fazer. Não tenho tal poder.” Ouvindo essas palavras do filho morto, todos os membros da família de Śrīvāsa Ṭhākura receberam conhecimento transcendental. Assim, não tiveram motivo para se lamentar. A Bhagavad-gītā (2.13) descreve esse conhecimento transcendental, tathā dehāntara-prāptir dhīras tatra na muhyati: Quando alguém morre, aceita outro corpo; portanto, pessoas sóbrias não se lamentam por isso. Após a conversa entre o rapaz morto e Śrī Caitanya Mahāprabhu, foi realizada a cerimônia fúnebre, e o Senhor Caitanya assegurou a Śrīvāsa Ṭhākura: “Perdeste um filho, mas Nityānanda Prabhu e Eu somos teus filhos eternos. Jamais seremos capazes de abandonar tua companhia.” Esse é um exemplo de relacionamento transcendental com Kṛṣṇa. Temos relacionamentos transcendentais eternos com Kṛṣṇa como Seus servos, amigos, pais, filhos ou amantes conjugais. Quando os mesmos relacionamentos se refletem de maneira pervertida neste mundo material, temos relacionamentos como filhos, pais, amigos, amantes, amos ou servos de outros, mas todos esses relacionamentos estão sujeitos a terminar dentro de um período definido. Contudo, se revivermos nosso relacionamento com Kṛṣṇa, pela graça de Śrī Caitanya Mahāprabhu, nosso relacionamento eterno nunca se interromperá, ou seja, jamais será motivo de lamentação.
Texto
ucchiṣṭa diyā nārāyaṇīra karila sammāna
Sinônimos
tabe — depois disso; ta’ — decerto; karilā — fez; saba bhakte — a todos os devotos; vara — bênção; dāna — caridade; ucchiṣṭa — restos do alimento; diyā — dando; nārāyaṇīra — de Nārāyaṇī; karila — fez; sammāna — respeito.
Tradução
Depois disso, o Senhor caridosamente concedeu Sua bênção a todos os Seus devotos. Ele deu os restos de Seu alimento a Nārāyaṇī, mostrando-lhe respeito especial.
Comentário
SIGNIFICADO—Nārāyaṇī era sobrinha de Śrīvāsa Ṭhākura e, mais tarde, se tornou a mãe de Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura. A esse respeito, os sahajiyās citam uma história maliciosa de que, após comer os restos do alimento do Senhor Caitanya, Nārāyaṇī ficou grávida e deu à luz Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura. Pode ser que os sahajiyās patifes inventem essas declarações falsas, mas ninguém deve acreditar neles, pois são motivados pela inimizade contra os vaiṣṇavas.
Texto
prabhu tāre nija-rūpa karāila darśana
Sinônimos
śrīvāsera — de Śrīvāsa Ṭhākura; vastra — roupas; siṅye — costurando; darajī — alfaiate; yavana — comedor de carne; prabhu — o Senhor; tāre — a ele; nija-rūpa — Sua forma pessoal; karāila — causou; darśana — visão.
Tradução
Havia um alfaiate que era comedor de carne, mas costurava roupas para Śrīvāsa Ṭhākura. O Senhor, sendo-lhe misericordioso, mostrou a ele Sua forma pessoal.
Texto
preme nṛtya kare, haila vaiṣṇava āgala
Sinônimos
dekhinu — eu vi; dekhinu — eu vi; bali’ — dizendo; ha-ila — ficou; pāgala — louco; preme — no êxtase de amor; nṛtya — dançando; kare — faz; haila — se tornou; vaiṣṇava — devoto; āgala — de primeira classe.
Tradução
Dizendo “Eu vi! Eu vi!” e dançando em amor extático como se enlouquecido, ele se tornou um vaiṣṇava de primeira classe.
Comentário
SIGNIFICADO—Havia um alfaiate muçulmano próximo à casa de Śrīvāsa Ṭhākura que costumava costurar as roupas da família. Certo dia, ficou muito contente com a dança de Śrī Caitanya Mahāprabhu; na verdade, ele estava encantado. Compreendendo sua atitude, o Senhor lhe mostrou Sua forma original como Kṛṣṇa. Então, o alfaiate começou a dançar, dizendo: “Eu vi! Eu vi!” Ele mergulhou em amor extático e começou a dançar com o Senhor Caitanya. Assim, ele se tornou um dos principais vaiṣṇavas partidários de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Texto
śrīvāsa kahe, — vaṁśī tomāra gopī hari’ nila
Sinônimos
āveśete — em êxtase; śrīvāse — a Śrīvāsa; prabhu — o Senhor; vaṁśī — uma flauta; ta — decerto; māgila — pediu; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; kahe — respondeu; vaṁśī — flauta; tomāra — Tua; gopī — as gopīs; hari’ — roubando; nila — levaram embora.
Tradução
Em êxtase, o Senhor pediu que Śrīvāsa Ṭhākura Lhe entregasse Sua flauta, mas Śrīvāsa Ṭhākura respondeu: “Tua flauta foi roubada sorrateiramente pelas gopīs.”
Texto
śrīvāsa varṇena vṛndāvana-līlā-rase
Sinônimos
śuni’ — ao ouvir; prabhu — o Senhor; bala bala — continua falando, continua falando; balena — Ele diz; āveśe — em êxtase; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; varṇena — descreve; vṛndāvana — de Vṛndāvana; līlā-rase — a doçura transcendental dos passatempos.
Tradução
Ao ouvir essa resposta, o Senhor disse em êxtase: “Continua falando! Continua falando!” Assim, Śrīvāsa descreveu a doçura transcendental dos passatempos de Śrī Vṛndāvana.
Texto
śuniyā prabhura citte ānanda bāḍila
Sinônimos
prathamete — no início; vṛndāvana-mādhurya — doces passatempos de Vṛndāvana; varṇila — descreveu; śuniyā — ouvindo; prabhura — do Senhor; citte — no coração; ānanda — júbilo; bāḍila — crescente.
Tradução
No início, Śrīvāsa Ṭhākura descreveu a doçura transcendental dos passatempos de Vṛndāvana. Ouvindo isso, o Senhor sentiu um júbilo grandioso e crescente em Seu coração.
Texto
punaḥ punaḥ kahe śrīvāsa kariyā vistāra
Sinônimos
tabe — em seguida; bala bala — continua falando, continua falando; prabhu — o Senhor; bale — diz; vāra-vāra — de novo, de novo; punaḥ punaḥ — de novo, de novo; kahe — fala; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; kariyā — fazendo; vistāra — ampliação.
Tradução
Em seguida, o Senhor lhe pediu repetidas vezes: “Fala mais! Fala mais!” Assim, Śrīvāsa descreveu repetidas vezes os passatempos de Vṛndāvana, ampliando-os vividamente.
Texto
tāṅ-sabāra saṅge yaiche vana-viharaṇa
Sinônimos
vaṁśī-vādye — ao ouvirem o som da flauta; gopī-gaṇera — de todas as gopīs; vane — na floresta; ākarṣaṇa — a atração; tāṅ-sabāra — de todas elas; saṅge — na companhia; yaiche — de que maneira; vana — na floresta; viharaṇa — vagando.
Tradução
Śrīvāsa Ṭhākura explicou extensamente como as gopīs eram atraídas às florestas de Vṛndāvana pela vibração da flauta de Kṛṣṇa e como vagavam juntas na floresta.
Texto
madhu-pāna, rāsotsava, jala-keli kathana
Sinônimos
tāhi madhye — durante isso; chaya-ṛtu — as seis estações; līlāra — dos passatempos; varṇana — descrição; madhu-pāna — o beber do mel; rāsa-utsava — dança da rāsa-līlā; jala-keli — banho no Yamunā; kathana — narrações.
Tradução
Śrīvāsa Paṇḍita narrou todos os passatempos realizados durante as seis diferentes estações. Descreveu como bebiam mel, como celebravam a dança da rāsa, como se banhavam no Yamunā e outros episódios assim.
Texto
śrīvāsa kahena tabe rāsa rasera vilāsa
Sinônimos
bala bala — continua falando, continua falando; bale — diz; prabhu — o Senhor; śunite — ouvindo; ullāsa — com muito júbilo; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; kahena — diz; tabe — então; rāsa — dança da rāsa; rasera — divertidos; vilāsa — passatempos.
Tradução
Quando o Senhor, ouvindo com grande prazer, disse: “Continua falando! Continua falando!”, Śrīvāsa Ṭhākura descreveu a rāsa-līlā, a doce dança transcendental.
Texto
prabhu śrīvāsere toṣi’ āliṅgana kaila
Sinônimos
kahite — falando; śunite — ouvindo; aiche — daquela maneira; prātaḥ-kāla — manhã; haila — surgiu; prabhu — o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; śrīvāsere — a Śrīvāsa Ṭhākura; toṣi’ — satisfazendo; āliṅgana — abraçando; kaila — fez.
Tradução
Assim, à medida que o Senhor pedia a Śrīvāsa Ṭhākura que falasse, amanheceu, e o Senhor abraçou Śrīvāsa Ṭhākura, para a satisfação deste.
Texto
rukmiṇī-svarūpa prabhu āpane ha-ilā
Sinônimos
tabe — depois disso; ācāryera — de Advaita Ācārya; ghare — na casa; kaila — foram feitos; kṛṣṇa-līlā — passatempos do Senhor Kṛṣṇa; rukmiṇī — de Rukmiṇī; svarūpa — forma; prabhu — o Senhor; āpane — pessoalmente; ha-ilā — assumiu.
Tradução
Depois disso, realizou-se uma dramatização dos passatempos de Kṛṣṇa na casa de Advaita Ācārya. O Senhor pessoalmente fez o papel de Rukmiṇī, a principal das rainhas de Kṛṣṇa.
Texto
khāṭe vasi’ bhakta-gaṇe dilā prema-bhakti
Sinônimos
kabhu — às vezes; durgā — o papel da deusa Durgā; lakṣmī — a deusa da fortuna; haya — é; kabhu — às vezes; vā — ou; cit-śakti — a potência espiritual; khāṭe — num catre; pasi’ — sentado; bhakta-gaṇe — aos devotos; dilā — deu; prema-bhakti — amor a Deus.
Tradução
Às vezes, o Senhor fazia o papel da deusa Durgā, de Lakṣmī [a deusa da fortuna] ou da potência principal, Yogamāyā. Sentado num catre, Ele distribuiu amor a Deus a todos os devotos presentes.
Texto
eka brāhmaṇī āsi’ dharila caraṇe
Sinônimos
eka-dina — certo dia; mahāprabhura — do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; nṛtya-avasāne — ao final da dança; eka — uma; brāhmaṇī — esposa de um brāhmaṇa; āsi’ — vindo; dharila — se agarrou; caraṇe — a Seus pés de lótus.
Tradução
Certo dia, quando Śrī Caitanya Mahāprabhu acabava de dançar, uma mulher, esposa de um brāhmaṇa, apareceu ali e se agarrou a Seus pés de lótus.
Texto
dekhiyā prabhura duḥkha ha-ila apāra
Sinônimos
caraṇera — de Seus pés de lótus; dhūli — a poeira; sei — aquela mulher; laya — pega; vāra vāra — repetidamente; dekhiyā — vendo isso; prabhura — do Senhor; duḥkha — infelicidade; ha-ila — houve; apāra — ilimitada.
Tradução
Enquanto ela pegava repetidas vezes a poeira de Seus pés de lótus, o Senhor ficou ilimitadamente infeliz.
Comentário
SIGNIFICADO—Sem dúvida, é muito bom se agarrar aos pés de lótus de uma grande personalidade para a pessoa que apanha a poeira, mas este exemplo da infelicidade de Śrī Caitanya Mahāprabhu indica como um vaiṣṇava não deve permitir que ninguém pegue a poeira de seus pés.
Aquele que pega a poeira dos pés de lótus de uma grande personalidade transfere suas atividades pecaminosas a essa grande personalidade. A menos que seja muito forte, terá de sofrer os efeitos das atividades pecaminosas da pessoa que apanha a poeira. Portanto, em geral, não se deve permitir isso. Às vezes, em grandes encontros, as pessoas vêm e se aproveitam, tocando nossos pés. Por causa disso, às vezes acabamos pegando alguma doença. Tanto quanto possível, não devemos permitir que estranho algum toque em nossos pés para apanhar a poeira deles. Śrī Caitanya Mahāprabhu mostrou isso pessoalmente pelo Seu exemplo, como se explica no verso seguinte.
Texto
nityānanda-haridāsa dhari’ uṭhāila
Sinônimos
sei-kṣaṇe — imediatamente; dhāñā — correndo; prabhu — o Senhor; gaṅgāte — na água do Ganges; paḍila — mergulhou; nityānanda — o Senhor Nityānanda; haridāsa — Haridāsa Ṭhākura; dhari’ — o pegaram; uṭhāila — o retiraram.
Tradução
Imediatamente, Ele correu para o rio Ganges e mergulhou nele para neutralizar o efeito das atividades pecaminosas daquela mulher. O Senhor Nityānanda e Haridāsa Ṭhākura O pegaram e O retiraram do rio.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrī Caitanya Mahāprabhu é o próprio Deus, mas estava representando o papel de um pregador. Todo o pregador deve saber que a permissão de tocar nos pés de um vaiṣṇava e receber a poeira talvez beneficie a pessoa que a recebe, mas não beneficia quem o permite. Tanto quanto possível, se deve habitualmente evitar essa prática. Apenas a discípulos iniciados se deve permitir que se aproveitem disso, e não a outros. De um modo geral, deve-se evitar aqueles que são cheios de atividades pecaminosas.
Texto
prātaḥ-kāle bhakta sabe ghare lañā gelā
Sinônimos
vijaya — chamado Vijaya; ācāryera — do professor; ghare — na casa; se — aquela; rātre — na noite; rahilā — ficou; prātaḥ-kāle — de manhã; bhakta — os devotos; sabe — todos; ghare — casa; lañā — os levando; gelā — foi.
Tradução
Naquela noite, o Senhor Se hospedou na casa de Vijaya Ācārya. De manhã, o Senhor reuniu todos os Seus devotos e voltou para casa.
Texto
‘gopī’ ‘gopī’ nāma laya viṣaṇṇa hañā
Sinônimos
eka-dina — um dia; gopī-bhāve — no êxtase das gopīs; gṛhete — em casa; vasiyā — sentado; gopī gopī — gopī, gopī; nāma — o nome; laya — canta; viṣaṇṇa — melancólico; hañā — ficando.
Tradução
Um dia, o Senhor, no êxtase das gopīs, estava sentado em Sua casa. Muito melancólico com saudades, Ele chamava: “Gopī! Gopī!”
Texto
‘gopī’ ‘gopī’ nāma śuni’ lāgila balite
Sinônimos
eka paḍuyā — um estudante; āila — chegou lá; prabhuke — o Senhor; dekhite — para visitar; gopī gopī — gopī, gopī; nāma — o nome; śuni — ouvindo; lāgila — começou; balite — a dizer.
Tradução
Um estudante que foi visitar o Senhor ficou espantado ao ouvir o Senhor cantando: “Gopī! Gopī!” Assim, falou como segue.
Texto
‘gopī’ ‘gopī’ balile vā kibā haya puṇya
Sinônimos
kṛṣṇa-nāma — o santo nome do Senhor Kṛṣṇa; nā — não; lao — aceitas; kene — por que; kṛṣṇa-nāma — o santo nome do Senhor Kṛṣṇa; dhanya — glorioso; gopī gopī — os nomes gopī, gopī; balile — dizendo; vā — ou; kibā — que; haya — há; puṇya — piedade.
Tradução
“Por que cantas os nomes ‘gopī gopī’ ao invés do santo nome do Senhor Kṛṣṇa, que é tão glorioso? Que resultado piedoso alcançarás com esse canto?”
Comentário
SIGNIFICADO—É dito que vaiṣṇavera kriyā-mudrā vijñeha nā bujhaya: ninguém pode entender as atividades de um devoto puro. Um estudante, ou devoto neófito, possivelmente não poderia entender o motivo pelo qual Śrī Caitanya Mahāprabhu cantava o nome das gopīs, nem deveria o estudante ter perguntado ao Senhor sobre a potência de cantar “gopī, gopī”. O estudante neófito certamente estava convencido de ser piedoso cantar o santo nome de Kṛṣṇa, mas essa categoria de atitude também é ofensiva. Dharma-vrata-tyāga-hutādi-sarva-śubha-kriyā-sāmyam api pramādaḥ: é ofensa cantar o santo nome de Kṛṣṇa em troca da obtenção de piedade. Naturalmente, o estudante não sabia disso. Assim, perguntou com inocência: “Que piedade existe em cantar o nome ‘gopī’?” Ele não sabia que não se trata de piedade ou impiedade. O cantar do santo nome de Kṛṣṇa ou do santo nome ‘gopī’ está na plataforma transcendental dos romances amorosos. Uma vez que não era perito na compreensão de semelhantes atividades transcendentais, sua pergunta não passou de mera petulância. Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu, aparentemente bastante irado com ele, reagiu como se segue.
Texto
ṭheṅgā lañā uṭhilā prabhu paḍuyā māribāra
Sinônimos
śuni’ — ouvindo; prabhu — o Senhor; krodhe — irado; kaila — fez; kṛṣṇe — contra o Senhor Kṛṣṇa; doṣa-udgāra — muitas acusações; ṭheṅgā — vara; lañā — tomando; uṭhilā — ergueu-Se; prabhu — o Senhor; paḍuyā — no estudante; māribāra — para bater.
Tradução
Ao ouvir o estudante tolo, o Senhor, iradíssimo, censurou o Senhor Kṛṣṇa de diversas maneiras. Tomando de uma vara, ergueu-Se para bater no estudante.
Comentário
SIGNIFICADO—O Śrīmad-Bhāgavatam menciona que, quando Uddhava veio da parte do Senhor Kṛṣṇa com uma mensagem para as gopīs, todas as gopīs, especialmente Śrīmatī Rādhārāṇī, denunciaram Kṛṣṇa de diversas maneiras. Contudo, tais denúncias refletem uma exuberante atitude amorosa que um homem comum não pode compreender. Quando o estudante tolo fez aquela pergunta ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, o Senhor Caitanya censurou o Senhor Kṛṣṇa do mesmo modo, com exuberância amorosa. Estando Śrī Caitanya Mahāprabhu no humor das gopīs e tendo o estudante defendido a causa de Śrī Kṛṣṇa, o Senhor Caitanya ficou iradíssimo. Ao ver Sua ira, o estudante tolo, que era um mero smārta-brāhmaṇa ateísta, fez falso juízo dEle. Assim, ele e um grupo de estudantes se prepararam para se vingar batendo no Senhor. Após esse incidente, Śrī Caitanya Mahāprabhu resolveu aceitar sannyāsa de modo que as pessoas não cometessem ofensas assim contra Ele, considerando-O um chefe de família comum, pois, na Índia, mesmo hoje em dia, presta-se respeito a um sannyāsī naturalmente.
Texto
āste vyaste bhakta-gaṇa prabhure rahāya
Sinônimos
bhaye — de medo; palāya — sai correndo; paḍuyā — o estudante; prabhu — o Senhor; pāche pāche — atrás dele; dhāya — corre; āste vyaste — de alguma forma; bhakta-gaṇa — todos os devotos; prabhure — o Senhor; rahāya — detiveram.
Tradução
O estudante correu de medo, e o Senhor correu atrás dele. De alguma forma, porém, os devotos detiveram o Senhor.
Texto
paḍuyā palāyā gela paḍuyā-sabhāre
Sinônimos
prabhure — o Senhor; śānta kari’ — apaziguando; ānila — trouxeram; nija — Sua própria; ghare — para a casa; paḍuyā — o estudante; palāyā — fugindo; gela — foi; paḍuyā — de estudantes; sabhāre — para a assembleia.
Tradução
Os devotos apaziguaram o Senhor e O levaram para casa, e o estudante fugitivo foi se juntar a uma assembleia de outros estudantes.
Texto
prabhura vṛttānta dvija kahe tāhāṅ yāi
Sinônimos
paḍuyā — estudantes; sahasra — mil; yāhāṅ — onde; paḍe — estudam; eka-ṭhāñi — num local; prabhura — do Senhor; vṛttānta — incidente; dvija — um brāhmaṇa; kahe — diz; tāhāṅ — ali; yāi — vai.
Tradução
O estudante brāhmaṇa correu para um local onde mil estudantes estudavam juntos. Ali, descreveu o incidente para eles.
Comentário
SIGNIFICADO—Neste verso, encontramos a palavra dvija, indicando que o estudante era um brāhmaṇa. Na verdade, naqueles dias, somente membros da classe brāhmaṇa se tornavam estudantes de literatura védica. A escolarização se destina em especial aos brāhmaṇas; antigamente, não havia por que escolarizar kṣatriyas, vaiśyas ou śūdras. Os kṣatriyas costumavam aprender a tecnologia bélica, e os vaiśyas aprendiam a fazer negócios com seus pais ou outros homens de negócios; não se destinavam a estudar os Vedas. No entanto, atualmente, todos vão à escola, e se dá a mesma espécie de educação a todos, embora ninguém saiba qual será o resultado. Contudo, o resultado é bastante insatisfatório, como temos visto em especial nos países ocidentais. Os Estados Unidos têm amplas instituições educacionais, onde se permite a todos receber uma educação, mas o resultado é que a maioria dos estudantes se tornam hippies.
Educação superior não foi feita para todos. Somente se deve permitir que indivíduos escolhidos e treinados na cultura bramânica recebam educação superior. As instituições educacionais não devem ter como objetivo o ensino da tecnologia, pois não é apropriado chamar um tecnólogo de intelectual. O tecnólogo é śūdra; somente aquele que estuda os Vedas pode ser chamado apropriadamente de intelectual (paṇḍita). O dever de um brāhmaṇa é se tornar versado na literatura védica e ensinar o conhecimento védico a outros brāhmaṇas. Em nosso movimento para a consciência de Kṛṣṇa, simplesmente ensinamos nossos estudantes a se tornarem brāhmaṇas e vaiṣṇavas capazes. Em nossa escola em Dallas, os alunos aprendem inglês e sânscrito e, através desses dois idiomas, estudam todos os nossos livros, tais como o Śrīmad-Bhāgavatam, a Bhagavad-gītā e o Néctar da Devoção. É um erro educar todo aluno como tecnólogo. Deve haver um grupo de estudantes que se tornem brāhmaṇas. Sem brāhmaṇas que estudem a literatura védica, a sociedade humana ficará totalmente caótica.
Texto
sabe meli’ kare tabe prabhura nindana
Sinônimos
śuni’ — ouvindo; krodha — irados; kaila — ficaram; saba — todos; paḍuyāra — de estudantes; gaṇa — os grupos; sabe — todos; meli’ — se juntando; kare — fazem; tabe — então; prabhura — contra o Senhor; nindana — acusação.
Tradução
Ao ouvir o incidente, todos os estudantes, iradíssimos, se puseram a criticar o Senhor.
Texto
brāhmaṇa mārite cāhe, dharma-bhaya nāi
Sinônimos
saba — todos; deśa — países; bhraṣṭa — estragado; kaila — tem; ekalā — sozinho; nimāñi — Nimāi Paṇḍita; brāhmaṇa — num brāhmaṇa de casta; mārite — bater; cāhe — Ele ousa; dharma — dos princípios religiosos; bhaya — temor; nāi — não há.
Tradução
“Sozinho, Nimāi Paṇḍita estragou o país inteiro”, acusaram-nO. “Ele ousa bater num brāhmaṇa de casta. Ele não teme os princípios religiosos.”
Comentário
SIGNIFICADO—Já naquela época, os brāhmaṇas de casta eram por demais orgulhosos. Eles não estavam preparados para aceitar castigo nem mesmo de um professor ou mestre espiritual.
Texto
kon vā mānuṣa haya, ki karite pāre
Sinônimos
punaḥ — outra vez; yadi — se; aiche — dessa maneira; kare — Ele fizer; māriba — atacaremos; tāhare — a Ele; kon — quem; vā — ou; mānuṣa — o homem; haya — é; ki — que; karite — de fazer; pāre — Ele é capaz.
Tradução
“Se Ele cometer essa atrocidade outra vez, certamente nos vingaremos e O atacaremos em represália. Quem é Ele? Acaso é uma pessoa tão importante que pode nos repreender dessa maneira?”
Texto
supaṭhita vidyā kārao nā haya prakāśa
Sinônimos
prabhura — contra o Senhor; nindāya — em acusação; sabāra — de todos; buddhi — a inteligência; haila — ficou; nāśa — deteriorada; su-paṭhita — bem estudado; vidyā — conhecimento; kārao — de todos; nā — não; haya — se torna; prakāśa — manifesto.
Tradução
Após essa decisão dos estudantes, que criticaram Śrī Caitanya Mahāprabhu diretamente, a inteligência deles se deteriorou. Assim, embora fossem estudiosos eruditos, por causa dessa ofensa, a essência do conhecimento não se manifestou neles.
Comentário
SIGNIFICADO—A Bhagavad-gītā diz que māyayāpahṛta-jñānā āsuraṁ bhāvam āśritāḥ: quando alguém se torna hostil contra a Suprema Personalidade de Deus, adotando uma atitude ateísta (āsuraṁ bhāvam), mesmo que seja um estudioso erudito, a essência do conhecimento não se manifestará nele; em outras palavras, a essência de seu conhecimento lhe será roubada pela energia ilusória do Senhor. A esse respeito, Śrī Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura cita um mantra da Śvetāśvatara Upaniṣad (6.23):
yathā deve tathā gurau
tasyaite kathitā hy arthāḥ
prakāśante mahātmanaḥ
Esse verso explica que quem tem devoção inabalável pela Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu, e a mesma devoção pelo mestre espiritual, sem nenhum motivo ulterior, adquire domínio de todo o conhecimento. No coração de tal devoto, se manifesta a verdadeira essência do conhecimento védico. Essa essência não é nada senão rendição à Suprema Personalidade de Deus (vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ). Somente a quem se rende plenamente ao mestre espiritual e ao Senhor Supremo é que a essência do conhecimento védico se manifesta, e a ninguém mais. Śrī Prahlāda Mahārāja enfatiza esse mesmo princípio no Śrīmad-Bhāgavatam (7.5.24):
bhaktiś cen nava-lakṣaṇā
kriyate bhagavaty addhā
tan manye ’dhītam uttamam
“Alguém que aplica diretamente estes nove princípios [ouvir, cantar, lembrar-se etc.] no serviço ao Senhor é tido como um homem altamente erudito que assimilou os textos védicos muito bem, pois a meta do estudante da literatura védica é compreender a supremacia do Senhor Śrī Kṛṣṇa.” Śrīdhara Svāmī confirma em seu comentário que primeiro é preciso se render ao mestre espiritual, após o que o processo de serviço devocional se desenvolverá. Não é verdade que só aquele que diligentemente segue uma carreira acadêmica pode se tornar devoto. Mesmo sem carreira acadêmica, se alguém tem plena fé no mestre espiritual e na Suprema Personalidade de Deus, pode desenvolver sua vida espiritual e o verdadeiro conhecimento dos Vedas. O exemplo de Mahārāja Khaṭvāṅga confirma isso. Subentende-se que quem se rende aprendeu o conteúdo dos Vedas muito bem. Aquele que adota este processo védico de rendição aprende o serviço devocional e com certeza é exitoso. No entanto, quem é muito orgulhoso é incapaz de se render, quer ao mestre espiritual, quer à Suprema Personalidade de Deus. Assim, não pode entender a essência de nenhuma obra védica. O Śrīmad-Bhāgavatam (11.11.18) declara:
na niṣṇāyāt pare yadi
śramas tasya śrama-phalo
hy adhenum iva rakṣataḥ
“Se alguém é erudito na literatura védica, mas não é devoto do Senhor Viṣṇu, o esforço de seu trabalho é um desperdício inútil. É assim como manter uma vaca que não dá leite.”
Qualquer pessoa que não siga o processo de rendição, mas simplesmente se interessa numa carreira acadêmica, não pode fazer avanço algum. Seu proveito é apenas um esforço em troca de nada. Se alguém é perito no estudo dos Vedas, mas não se rende ao mestre espiritual ou a Viṣṇu, todo o seu cultivo de conhecimento é tão somente desperdício de tempo e esforço.
Texto
yāhāṅ tāhāṅ prabhura nindā hāsi’ se karaya
Sinônimos
tathāpi — contudo; dāmbhika — orgulhosos; paḍuyā — estudantes; namra — submissos; nāhi — não; haya — ficam; yāhāṅ — qualquer parte; tāhāṅ — toda parte; prabhura — do Senhor; nindā — acusação: hāsi’ — jocosa; se — eles; karaya — fazem.
Tradução
Contudo, a orgulhosa comunidade estudantil não ficou submissa. Ao contrário, os estudantes falaram do incidente em toda parte. Eles criticavam o Senhor de maneira jocosa.
Texto
ghare vasi’ cinte tā’-sabāra avyāhati
Sinônimos
sarva-jña — onisciente; gosāñi — Senhor Caitanya Mahāprabhu; jāni’ — sabendo; sabāra — de todos eles; durgati — degradação; ghare — em casa; vasi’ — sentado; cinte — medita; tā’ — deles; sabāra — de todos; avyāhati — a salvação.
Tradução
Por ser onisciente, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu pôde compreender a degradação desses estudantes. Assim, Ele Se sentou em casa, meditando em relação a como salvá-los.
Texto
dharmī, karmī, tapo-niṣṭha, nindaka, durjana
Sinônimos
yata — todos; adhyāpaka — professores; āra — e; tāṅra — seus; śiṣya-gaṇa — alunos; dharmī — seguidores de cerimônias ritualísticas religiosas; karmī — executores de atividades fruitivas; tapaḥ-niṣṭha — executores de austeridades; nindaka — blasfemadores; durjana — patifes.
Tradução
“Todos os ditos professores e cientistas e seus alunos geralmente seguem os princípios reguladores de religião, atividades fruitivas e austeridades”, pensava o Senhor. “Todavia, ao mesmo tempo, são blasfemadores e patifes.”
Comentário
SIGNIFICADO—Eis aqui um retrato dos materialistas, que não têm conhecimento do serviço devocional. Pode ser que sejam muito religiosos e trabalhem muito sistematicamente ou pratiquem austeridades e penitências, mas, se blasfemam a Suprema Personalidade de Deus, não passam de patifes. Confirma-se isso no Hari-bhakti-sudhodāya (3.11):
jātiḥ śāstraṁ japas tapaḥ
aprāṇasyaiva dehasya
maṇḍanaṁ loka-rañjanam
Sem conhecimento do serviço devocional ao Senhor, grande nacionalismo, trabalho fruitivo, político ou social, ciência ou filosofia são todos simplesmente como roupas caras decorando um cadáver. A única ofensa dos adeptos desse princípio é que eles não são devotos: eles sempre blasfemam a Suprema Personalidade de Deus e Seus devotos.
Texto
āmi nā laoyāile bhakti, nā pāre la-ite
Sinônimos
ei saba — todos eles; mora — de Mim; nindā — blasfêmia; aparādha — ofensa; haite — de; āmi — Eu; nā — não; laoyāile — caso faça com que aceitem; bhakti — serviço devocional; nā — não; pāre — capaz; la-ite — de aceitar.
Tradução
“Caso Eu não os induza a aceitar o serviço devocional, nenhuma dessas pessoas, por cometerem a ofensa da blasfêmia, será capaz de aceitá-lo.”
Texto
e-saba durjanera kaiche ha-ibeka hita
Sinônimos
nistārite — para salvar; āilāma — vim; āmi — Eu; haila — se tornou; viparīta — justamente o oposto; e-saba — todos esses; durjanera — dos patifes; kaiche — como; ha-ibeka — será; hita — o benefício.
Tradução
“Eu vim para salvar todas as almas caídas, mas agora está acontecendo justamente o oposto. Como poderei salvar esses patifes? Como poderei beneficiá-los?”
Texto
tabe se ihāre bhakti laoyāile laya
Sinônimos
āmāke — a Mim; praṇati — reverências; kare — eles oferecerem; haya — se torna; pāpa-kṣaya — destruição da reação pecaminosa; tabe — então; se — ele; ihāre — a ele; bhakti — serviço devocional; laoyāile — caso faça com que aceite; laya — aceitará.
Tradução
“Se esses patifes Me oferecerem reverências, as reações de suas atividades pecaminosas serão anuladas. Então, caso Eu os induza, eles aceitarão o serviço devocional.”
Texto
e-saba jīvere avaśya kariba uddhāra
Sinônimos
more — contra Mim; nindā kare — blasfeme; ye — qualquer pessoa que; nā — não; kare — ofereça; namaskāra — reverências; e-saba — todas essas; jīvere — entidades vivas; avaśya — certamente; kariba — farei; uddhāra — libertação.
Tradução
“Certamente devo libertar todas essas almas caídas que blasfemam contra Mim e não Me oferecem reverências.”
Texto
sannyāsi-buddhye more praṇata ha-iba
Sinônimos
ataeva — portanto; avaśya — decerto; āmi — Eu; sannyāsa — a ordem de vida renunciada; kariba — aceitarei; sannyāsi-buddhye — tendo-Me como sannyāsī; more — a Mim; praṇata — reverências; ha-iba — farão.
Tradução
“Devo aceitar a ordem de vida de sannyāsa, pois, dessa maneira, as pessoas Me oferecerão suas reverências, considerando-Me um membro da ordem renunciada.”
Comentário
SIGNIFICADO—Entre os membros das ordens sociais da instituição varṇāśrama (brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya e śūdra), considera-se o brāhmaṇa como sendo o principal, pois ele é o professor e mestre espiritual de todos os outros varṇas. De modo similar, entre as ordens espirituais (brahmācārya, gṛhastha, vanaprastha e sannyāsa), a ordem de sannyāsa é a mais elevada. Portanto, o sannyāsī é o mestre espiritual de todos os varṇas e āśramas, e se espera que um brāhmaṇa também preste reverências a um sannyāsī. Infelizmente, contudo, os brāhmaṇas de casta não prestam reverências a um sannyāsī vaiṣṇava. Eles são tão orgulhosos que não prestam reverências nem mesmo a sannyāsīs indianos, isso para não falar de sannyāsīs europeus e americanos. Entretanto, Śrī Caitanya Mahāprabhu esperava que mesmo os brāhmaṇas de casta oferecessem respeitosas reverências a um sannyāsī, pois, há quinhentos anos, era costume social prestar reverências imediatamente a qualquer sannyāsī conhecido ou desconhecido.
Os sannyāsīs do movimento para a consciência de Kṛṣṇa são fidedignos. Todos os estudantes do movimento para a consciência de Kṛṣṇa se submetem ao processo regular de iniciação. Como se prescreve no Hari-bhakti-vilāsa, de Sanātana Gosvāmī, tathā dīkṣā-vidhānena dvijatvaṁ jāyate nṛṇām: pelo processo regular de iniciação, qualquer pessoa pode se tornar um brāhmaṇa. Assim, no começo, os estudantes de nosso movimento para a consciência de Kṛṣṇa concordam em viver com devotos, e, aos poucos, tendo abandonado as quatro atividades proibidas – sexo ilícito, jogo de azar, consumo de carne e intoxicação –, tornam-se avançados em atividades da vida espiritual. Ao verificar-se que alguém está seguindo regularmente esses princípios, lhe é dada a primeira iniciação (hari-nāma), e ele canta regularmente pelo menos dezesseis voltas de japa por dia. Então, após seis meses ou um ano, ele é iniciado pela segunda vez e lhe é dado o cordão sagrado durante o sacrifício e rituais regulares. Após algum tempo, ao avançar ainda mais e ao desejar abandonar este mundo material, lhe é dada a ordem de sannyāsa. Nesse momento, ele recebe o título svāmī ou gosvāmī, ambos os quais significam “senhor dos sentidos”. Infelizmente, brāhmaṇas falsos e depravados na Índia nem lhes prestam respeitos nem os aceitam como sannyāsīs autênticos. Śrī Caitanya Mahāprabhu esperava que os ditos brāhmaṇas prestassem respeitos a semelhantes sannyāsīs vaiṣṇavas. Não obstante, não faz diferença se eles prestam respeitos, nem se eles aceitam estes sannyāsīs como fidedignos, pois o śāstra descreve a punição que esses brāhmaṇas falsos e desobedientes sofrerão. O preceito śāstrico declara:
yatiṁ caiva tridaṇḍinam
namaskāraṁ na kuryād yaḥ
prāyaścittīyate naraḥ
“Aquele que não presta respeitos à Suprema Personalidade de Deus, à Sua Deidade no templo ou a um tridaṇḍī sannyāsī é obrigado a submeter-se a prāyaścitta [expiação].” Caso alguém não preste reverências a semelhantes sannyāsīs, o prāyaścitta prescrito é jejuar durante um dia todo.
Texto
nirmala hṛdaye bhakti karāiba udaya
Sinônimos
praṇatite — prestando reverências; ha’be — haverá; ihāra — de tais ofensores; aparādha — as ofensas; kṣaya — destruição; nirmala — puro; hṛdaye — no coração; bhakti — serviço devocional; karāiba — provocarei; udaya — o surgimento.
Tradução
“Se Me prestarem reverências, eles se libertarão de todas as reações às suas ofensas. Então, por Minha graça, o serviço devocional [bhakti] despertará em seus corações puros.”
Comentário
SIGNIFICADO—Segundo os preceitos védicos, só se pode oferecer sannyāsa a um brāhmaṇa. A śaṅkara-sampradāya (ekadaṇḍa-sannyāsa-sampradāya) concede a ordem de sannyāsa apenas a brāhmaṇas de casta, ou brāhmaṇas por nascimento, mas, no sistema vaiṣṇava, mesmo alguém não nascido em família de brāhmaṇas pode se transformar em brāhmaṇa, segundo a orientação do Hari-bhakti-vilāsa (tathā dikṣa-vidhānena dvijatvaṁ jāyate nṛṇām). Qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, pode ser transformada em brāhmaṇa pelo processo regular de iniciação, e, ao desenvolver o comportamento bramânico, observando o princípio de abster-se de intoxicação, sexo ilícito, consumo de carne e jogos, é permitido lhe oferecer sannyāsa. Todos os sannyāsīs do movimento para a consciência de Kṛṣṇa, que pregam em todo o mundo, são sannyāsīs brāhmaṇas regulares. Assim, os ditos brāhmaṇas de casta não devem se recusar a lhes prestar respeitosas reverências. Por lhes prestar reverências, como recomenda Śrī Caitanya Mahāprabhu, suas ofensas diminuirão e automaticamente eles despertarão para sua posição natural de serviço devocional. Como se diz, nitya-siddha kṛṣṇa-prema sādhya kabhu naya: é possível despertar kṛṣṇa-prema num coração purificado. Quanto mais oferecermos reverências aos sannyāsīs, especialmente aos sannyāsīs vaiṣṇavas, mais diminuiremos nossas ofensas e purificaremos nosso coração. Apenas num coração puro pode-se despertar kṛṣṇa-prema. Esse é o processo do culto de Śrī Caitanya Mahāprabhu, o movimento para a consciência de Kṛṣṇa.
Texto
āra kona upāya nāhi, ei yukti sāra
Sinônimos
e-saba — todos esses; pāṣaṇḍīra — dos demônios; tabe — então; ha-ibe — haverá; nistāra — libertação; āra — alternativa; kona — algum; upāya — meio; nāhi — não há; ei — esta; yukti — do argumento; sāra — essência.
Tradução
“Todos os patifes infiéis deste mundo podem se libertar por este processo. Não há alternativa. Essa é a essência da razão.”
Texto
keśava bhāratī āilā nadīyā-nagare
Sinônimos
ei — esta; dṛḍha — firme; yukti — consideração; kari’ — fazendo; prabhu — o Senhor; āche — estava; ghare — em Sua casa; keśava bhāratī — chamado Keśava Bhāratī; āilā — chegou; nadīyā-nagare — à cidade de Nadia.
Tradução
Após chegar a essa sólida conclusão, o Senhor permaneceu em casa. Neste ínterim, Keśava Bhāratī chegou à cidade de Nadia.
Texto
bhikṣā karāiyā tāṅre kaila nivedana
Sinônimos
prabhu — o Senhor; tāṅre — a ele; namaskari’ — prestando reverências; kaila — fez; nimantraṇa — convite; bhikṣā — esmolas; karāiyā — dando; tāṅre — a ele; kaila — submeteu; nivedana — Sua prece.
Tradução
O Senhor lhe prestou respeitosas reverências e o convidou à Sua casa. Após alimentá-lo suntuosamente, fez-lhe o seguinte pedido.
Comentário
SIGNIFICADO—Segundo o sistema da sociedade védica, sempre que um sannyāsī desconhecido chega a uma vila ou a uma cidade, alguém o deve convidar a aceitar prasāda em sua casa. De um modo geral, os sannyāsīs tomam prasāda na casa de um brāhmaṇa, pois o brāhmaṇa adora a śilā do Senhor Nārāyaṇa, ou śālagrāma-śilā, daí o sannyāsī poder tomar prasāda ali. Keśava Bhāratī aceitou o convite de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Assim, o Senhor teve uma boa oportunidade para explicar Seu desejo de que ele Lhe concedesse sannyāsa.
Texto
kṛpā kari’ kara mora saṁsāra mocana
Sinônimos
tumi — tu; ta’ — decerto; īśvara — o Senhor; baṭa — és; sākṣāt — diretamente; nārāyaṇa — o Senhor Supremo, Nārāyaṇa; kṛpā kari’ — mostrando misericórdia; kara — por favor, faze; mora — Minha; saṁsāra — vida material; mocana — libertação.
Tradução
“Senhor, és o próprio Nārāyaṇa. Portanto, por favor, tem misericórdia de Mim. Liberta-Me deste cativeiro material.”
Texto
ye karāha, se kariba, — svatantra nahi āmi
Sinônimos
bhāratī kahena — Keśava Bhāratī respondeu; tumi — Tu; īśvara — a Suprema Personalidade de Deus; antaryāmī — sabes de tudo internamente; ye — tudo o que; karāha — fazes com que eu faça; se — aquilo; kariba — devo fazer; svatantra — independente; nahi — não; āmi — eu.
Tradução
Keśava Bhāratī respondeu ao Senhor: “És a Suprema Personalidade de Deus, a Superalma. Tudo o que eu fizer, devo fazer segundo Tua orientação. Não sou independente de Ti.”
Texto
mahāprabhu tāhā yāi’ sannyāsa karilā
Sinônimos
eta bali’ — dizendo isto; bhāratī — Keśava Bhāratī; gosāñi — o mestre espiritual; kāṭoyāte — para Katwa; gelā — foi; mahāprabhu — Senhor Caitanya Mahāprabhu; tāhā — lá; yāi’ — indo; sannyāsa — ordem de vida renunciada; karilā — aceitou.
Tradução
Após dizer isso, Keśava Bhāratī, o mestre espiritual, regressou a sua vila, Katwa. O Senhor Caitanya Mahāprabhu foi até lá e recebeu dele a ordem de vida renunciada (sannyāsa).
Comentário
SIGNIFICADO—No final de Seu vigésimo quarto ano, ao término da quinzena da lua crescente, Śrī Caitanya Mahāprabhu deixou Navadvīpa e atravessou o rio Ganges num local conhecido como Nidayāra-ghāṭa. Então, alcançou Kaṇṭaka-nagara, ou Kāṭoyā (Katwa), onde foi aceito na ekadaṇḍa-sannyāsa segundo o sistema śaṅkarite. Uma vez que Keśava Bhāratī pertencia à seita śaṅkarite, não podia conceder a ordem de sannyāsa vaiṣṇava, cujos membros carregam a tridaṇḍa.
Candraśekhara Ācārya ajudou na função rotineira da cerimônia de conferir a ordem de sannyāsa ao Senhor. Por ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, foi feito kīrtana o dia todo, e, no final do dia, o Senhor raspou Seu cabelo. No dia seguinte, Ele Se tornou um sannyāsī regular, com uma vara (ekadaṇḍa). Daquele dia em diante, Seu nome passou a ser Śrī Kṛṣṇa Caitanya. Antes disso, era conhecido como Nimāi Paṇḍita. Na ordem de sannyāsa, Śrī Caitanya Mahāprabhu viajou por todo o Rāḍhadeśa, a região onde não se pode ver o rio Ganges. Keśava Bhāratī O acompanhou até certa distância.
Texto
mukunda-datta, — ei tina kaila sarva kārya
Sinônimos
saṅge — em Sua companhia; nityānanda — Nityānanda Prabhu; candraśekhara ācārya — Candraśekhara Ācārya; mukunda-datta — Mukunda Datta; ei tina — esses três; kaila — realizaram; sarva — todas; kārya — atividades necessárias.
Tradução
Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu tomou sannyāsa, três pessoas estavam com Ele para realizar todas as atividades necessárias. Eram elas: Nityānanda Prabhu, Candraśekhara Ācārya e Mukunda Datta.
Texto
vistāri varṇilā ihā dāsa vṛndāvana
Sinônimos
ei — esta; ādi-līlāra — da Ādi-līlā (a primeira porção dos passatempos do Senhor Caitanya); kaila — fiz; sūtra — sinopse; gaṇana — narração; vistāri — de forma elaborada; varṇilā — descreveu; ihā — isto; dāsa vṛndāvana — Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura.
Tradução
Assim, acabo de resumir os episódios da Ādi-līlā. Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura os descreveu de forma elaborada [em seu Caitanya-bhāgavata].
Texto
catur-vidha bhakta-bhāva kare āsvādana
Sinônimos
yaśodā-nandana — o filho de mãe Yaśodā; hailā — tornou-Se; śacīra — de mãe Śacī; nandana — o filho; catuḥ-vidha — quatro classes de; bhakta-bhāva — humores devocionais; kare — faz; āsvādana — saboreando.
Tradução
A mesma Suprema Personalidade de Deus que apareceu como o filho de mãe Yasodā agora apareceu como o filho de mãe Śacī, saboreando quatro classes de atividades devocionais.
Comentário
SIGNIFICADO—Servidão, amizade, afeição de pai ou mãe e amor conjugal pela Suprema Personalidade de Deus constituem a base das quatro classes de atividades devocionais. Em śānta, a fase marginal de serviço devocional, não há atividade. Porém, acima do humor de śānta, estão a servidão, a amizade, a afeição de pai ou mãe e o amor conjugal, que representam o desenvolvimento gradual do serviço devocional em plataformas cada vez mais elevadas.
Texto
rādhā-bhāva aṅgī kariyāche bhāla-mate
Sinônimos
sva-mādhurya — Seu próprio amor conjugal; rādhā-prema-rasa — a doçura das aventuras amorosas entre Rādhārāṇī e Kṛṣṇa; āsvādite — para saborear; rādhā-bhāva — a atitude de Śrīmatī Rādhārāṇī; aṅgī kariyāhe — Ele assumiu; bhāla-mate — muito bem.
Tradução
Para saborear a doce qualidade das aventuras amorosas de Śrīmatī Rādhārāṇī em Seu relacionamento com Kṛṣṇa, e para entender o reservatório de prazer em Kṛṣṇa, o próprio Kṛṣṇa, como Śrī Caitanya Mahāprabhu, assumiu a atitude de Rādhārāṇī.
Comentário
SIGNIFICADO—A esse respeito, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura escreve em seu Anubhāṣya: “Śrī Gaurasundara é o próprio Kṛṣṇa com a atitude de Śrīmatī Rādhārāṇī. Śrī Caitanya Mahāprabhu jamais abandonou a atitude das gopīs. Ele Se mantinha perpetuamente dominado por Kṛṣṇa e nunca aceitou o papel de dominador imitando o amor conjugal com uma mulher ordinária, como os sahajiyās geralmente fazem. Ele jamais Se colocou na posição de um libertino. Materialistas luxuriosos, como os membros do sahajiyā-sampradāya, anseiam por mulheres, incluindo as esposas de outros. Porém, ao tentarem atribuir a Śrī Caitanya Mahāprabhu a responsabilidade por suas atividades luxuriosas, eles se tornam ofensores a Svarūpa Dāmodara e a Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura. No Śrī Caitanya-bhāgavata, Ādi-khaṇḍa, capítulo quinze, se diz:
strī dekhi’ dūre prabhu hayena eka-pāśa
‘Śrī Caitanya Mahāprabhu nunca nem mesmo gracejou com as esposas alheias. Assim que passava uma mulher em Seu caminho, imediatamente Ele lhe dava amplo espaço para ela passar, sem conversas.’ Ele era extremamente estrito com respeito à associação com mulheres. Os sahajiyās, contudo, se fazem passar por seguidores de Śrī Caitanya Mahāprabhu, embora se entreguem a aventuras luxuriosas com mulheres. Em Sua juventude, o Senhor Caitanya era muito jovial com todos, mas jamais gracejou com alguma mulher, tampouco, nesta encarnação, Ele falava sobre mulheres. Nem Śrī Caitanya Mahāprabhu nem Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura aprovam o grupo gaurāṅga-nāgarī. Muito embora possamos oferecer toda espécie de orações a Caitanya Mahāprabhu, devemos evitar estritamente de adorá-lO como o Gaurāṅga Nāgara. O comportamento pessoal de Śrī Caitanya Mahāprabhu e os versos escritos por Śrī Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura repudiam completamente os desejos luxuriosos dos gaurāṅga-nāgarīs.”
Texto
vrajendra-nandane māne āpanāra kānta
Sinônimos
gopī-bhāva — a atitude das gopīs; yāte — em que; prabhu — o Senhor; dhariyāche — assumiu; ekānta — positivamente; vrajendra-nandane — Senhor Kṛṣṇa; māne — aceitam; āpanāra — próprio; kānta — amante.
Tradução
O Senhor Caitanya Mahāprabhu assumiu a atitude das gopīs, que aceitam Vrajendra-nandana, Śrī Kṛṣṇa, como amante delas.
Texto
vrajendra-nandana vinā anyatra nā haya
Sinônimos
gopīka-bhāvera — do êxtase das gopīs; ei — esta; sudṛḍha — firme; niścaya — informação; vrajendra-nandana — Senhor Śrī Kṛṣṇa; vinā — sem; anyatra —ninguém mais; nā — não; haya — é possível.
Tradução
Verificou-se seguramente que a atitude extática das gopīs só é possível perante Kṛṣṇa, e ninguém mais.
Texto
gopa-veśa, tri-bhaṅgima, muralī-vadana
Sinônimos
śyāma-sundara — o Senhor Kṛṣṇa, que tem uma tez azulada; śikhi-piccha — com uma pluma de pavão sobre a cabeça; guñjā — uma guirlanda de guñjā; vibhūṣaṇa — decorações; gopa-veśa — com a roupa de um vaqueirinho; tri-bhaṅgima — curvado em três partes; muralī-vadana — com uma flauta na boca.
Tradução
Ele tem uma tez azulada, uma pluma de pavão sobre Sua cabeça, uma guirlanda de guñjā e as decorações de um vaqueirinho. Seu corpo é curvado em três partes, e Ele tem uma flauta em Sua boca.
Texto
gopikāra bhāva nāhi yāya nikaṭa tāhāra
Sinônimos
ihā — esta; chāḍi’ — abandonando; kṛṣṇa — Kṛṣṇa; yadi — se; haya — assume; anyākāra — outra forma; gopikāra — das gopīs; bhāva — o êxtase; nāhi — não; yāya — desperta; nikaṭa — próximo; tāhāra — àquela (forma).
Tradução
Se o Senhor Kṛṣṇa abandona essa forma original e assume outra forma de Viṣṇu, a intimidade com Ele não pode despertar a atitude extática das gopīs.
Texto
vijñātuṁ kṣamate durūha-padavī-sañcāriṇaḥ prakriyām
āviṣkurvati vaiṣṇavīm api tanuṁ tasmin bhujair jiṣṇubhir
yāsāṁ hanta caturbhir adbhuta-ruciṁ rāgodayaḥ kuñcati
Sinônimos
gopīnām — das gopīs; paśupa-indra-nandana-juṣaḥ — do serviço ao filho do rei de Vraja, Mahārāja Nanda; bhāvasya — extático; kaḥ — que; tām — isso; kṛtī — homem erudito; vijñātum — de compreender; kṣamate — é capaz; durūha — muito difícil de entender; padavī — a posição; sañcāriṇaḥ — que provoca; prakriyām — atividade; āviṣkurvati — Ele manifesta; vaiṣṇavīm — de Viṣṇu; api — decerto; tanum — o corpo; tasmin — nesse; bhujaiḥ — com braços; jiṣṇubhiḥ — belíssimos; yāsām — de quem (as gopīs); hanta — ai de nós; caturbhiḥ — quatro; adbhuta — maravilhosamente; rucim — belos; rāga-udayaḥ — evocação de sentimentos extáticos; kuñcati — frustra.
Tradução
“Certa vez, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, com ares de brincalhão, Se manifestou como Nārāyaṇa, com quatro braços vitoriosos e uma forma belíssima. No entanto, a visão dessa forma sublime frustrou os sentimentos extáticos das gopīs. Portanto, um estudioso erudito não pode compreender os sentimentos extáticos das gopīs, que se mantêm firmemente fixos na forma original do Senhor Kṛṣṇa como o filho de Nanda Mahārāja. Os maravilhosos sentimentos das gopīs em parama-rasa extática com Kṛṣṇa são o maior mistério na vida espiritual.”
Comentário
SIGNIFICADO—Esta é uma citação do Lalita-mādhava (6.54), de Śrīla Rūpa Gosvāmī.
Texto
antardhāna kailā saṅketa kari’ rādhā-sane
Sinônimos
vasanta-kāle — durante a estação da primavera; rāsa-līlā — dança da rāsa; kare — faz; govardhane — próximo à colina Govardhana; antardhāna — desaparecimento; kailā — fez; saṅketa — indicação; kari’ — fazendo; rādhā-sane — com Rādhārāṇī.
Tradução
Durante a estação da primavera, quando a dança da rāsa acontecia, de repente Kṛṣṇa desapareceu da cena, mostrando que desejava ficar sozinho com Śrīmatī Rādhārāṇī.
Texto
anveṣite āilā tāhāṅ gopikāra ṭhāṭa
Sinônimos
nibhṛta — solitário; nikuñje — em um arbusto; vasi’ — sentado; dekhe — esperando para ver; rādhāra — de Śrīmatī Rādhārāṇī; bāṭa — a passagem; anveṣite — enquanto aguardava; āilā — chegou; tāhāṅ — ali; gopikāra — das gopīs; ṭhāṭa — a falange.
Tradução
Kṛṣṇa estava sentado em um arbusto solitário, esperando Śrīmatī Rādhārāṇī passar. Porém, enquanto aguardava, as gopīs chegaram ali, como uma falange de soldados.
Texto
“ei dekha kuñjera bhitara vrajendra-nandana”
Sinônimos
dūra haite — à distância; kṛṣṇe — a Kṛṣṇa; dekhi’ — vendo; bale — disseram; gopī gaṇa — todas as gopīs; ei dekha — vede só aqui; kuñjera — o arbusto; bhitara — dentro; vrajendra-nandana — o filho de Nanda Mahārāja.
Tradução
“Vede só!”, disseram as gopīs ao verem Kṛṣṇa à distância. “Aqui está Kṛṣṇa, o filho de Nanda Mahārāja, dentro de um arbusto.”
Texto
lukāite nārila, bhaye hailā vibaśa
Sinônimos
gopī-gaṇa — o grupo de todas as gopīs; dekhi’ — vendo; kṛṣṇera — de Kṛṣṇa; ha-ila — houve; sādhvasa — sentimentos emotivos; lukāite — de esconder; nārila — foi incapaz; bhaye — por medo; hailā — ficou; vibaśa — imóvel.
Tradução
Logo que Kṛṣṇa viu todas as gopīs, ficou emocionado. Por isso, não pôde Se esconder e, por medo, ficou imóvel.
Texto
kṛṣṇa dekhi’ gopī kahe nikaṭe āsiyā
Sinônimos
catur-bhuja — de quatro braços; mūrti — forma; dhari’ — assumindo; āchena — ficou; vasiyā — sentado; kṛṣṇa — Senhor Kṛṣṇa; dekhi’ — ao verem; gopī — as gopīs; kahe — dizem; nikaṭe — perto; āsiyā — chegando ali.
Tradução
Kṛṣṇa assumiu Sua forma de quatro braços como Nārāyaṇa e ficou sentado ali. Ao se aproximarem todas as gopīs e O verem ali, elas falaram o seguinte.
Texto
eta bali’ tāṅre sabhe kare nati-stuti
Sinônimos
ihoṅ — este; kṛṣṇa — Senhor Kṛṣṇa; nahe — não é; ihoṅ — este é; nārāyaṇa — a Suprema Personalidade de Deus; mūrti — a forma; eta bali’ — dizendo isso; tāṅre — a Ele; sabhe — todas as gopīs; kare — fazem; nati-stuti — reverências e orações.
Tradução
“Este não é Kṛṣṇa! É a Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa.” Após dizerem isso, elas Lhe ofereceram reverências e as seguintes orações respeitosas.
Texto
kṛṣṇa-saṅga deha’ mora ghucāha viṣāda”
Sinônimos
namaḥ nārāyaṇa — todos os respeitos a Nārāyaṇa; deva — a Suprema Personalidade de Deus; karaha — por favor, dai; prasāda — Vossa misericórdia; kṛṣṇa-saṅga — associação com Kṛṣṇa; deha’ — dando; mora — nossa; ghucāha — por favor, diminuí; viṣāda — lamentação.
Tradução
“Ó Senhor Nārāyaṇa, oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós. Por favor, tende misericórdia de nós. Dai-nos a associação de Kṛṣṇa e, dessa forma, acabai com a nossa lamentação.”
Comentário
SIGNIFICADO—As gopīs não ficaram felizes nem mesmo ao verem a forma de quatro braços de Nārāyaṇa. Todavia, prestaram seus respeitos à Suprema Personalidade de Deus e Lhe suplicaram a bênção de obter a associação de Kṛṣṇa. Tal é o sentimento extático das gopīs.
Texto
hena-kāle rādhā āsi’ dilā daraśana
Sinônimos
etabali — dizendo isto; namaskari’ — prestando reverências; gelā — foram embora; gopī-gaṇa — todas as gopīs; hena-kāle — nessa altura; rādhā — Śrīmatī Rādhārāṇī; āsi’ — chegando ali; dilā — deu; daraśana — audiência.
Tradução
Após dizerem isso e prestarem suas reverências, todas as gopīs se dispersaram. Então, Śrīmatī Rādhārāṇī apareceu ali e Se aproximou do Senhor Kṛṣṇa.
Texto
sei catur-bhuja mūrti cāhena rākhite
Sinônimos
rādhā — Śrīmatī Rādhārāṇī; dekhi’ — ao ver; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; tāṅre — com Ela; hāsya — brincadeira; karite — para fazer; sei — aquela; catur-bhuja — de quatro braços; mūrti — forma; cāhena — desejou; rākhite — manter.
Tradução
Ao ver Rādhārāṇī, o Senhor Kṛṣṇa desejou manter a forma de quatro braços para brincar com Ela.
Texto
bahu yatna kailā kṛṣṇa, nārila rākhite
Sinônimos
lukāilā — Ele escondeu; dui — dois; bhuja — braços; rādhāra — de Śrīmatī Rādhārāṇī; agrete — na frente; bahu — muito; yatna — esforço; kailā — fez; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; nārila — foi incapaz; rākhite — de manter.
Tradução
Diante de Śrīmatī Rādhārāṇī, Śrī Kṛṣṇa tentou esconder Sua forma de dois braços. Ele tentou ao máximo manter Seus quatro braços perante Ela, mas foi inteiramente incapaz de o fazer.
Texto
ye kṛṣṇere karāilā dvi-bhuja-svabhāva
Sinônimos
rādhāra — de Śrīmatī Rādhārāṇī; viśuddha — puro; bhāvera — do êxtase; acintya — inconcebível; prabhāva — influência; ye — que; kṛṣṇere — ao Senhor Kṛṣṇa; karāilā — forçou; dvi-bhuja — de dois braços; svabhāva — original.
Tradução
A influência do êxtase puro de Rādhārāṇī é tão inconcebivelmente grande que forçou Kṛṣṇa a voltar à Sua forma original de dois braços.
Texto
dṛṣṭaṁ gopayituṁ svam uddhura-dhiyā yā suṣṭhu sandarśitā
ādhāyāḥ praṇayasya hanta mahimā yasya śriyā rakṣituṁ
sā śakyā prabhaviṣṇunāpi hariṇā nāsīc catur-bāhutā
Sinônimos
rāsā-ārambha-vidhau — quanto ao começo da dança da rāsa; nilīya — tendo Se escondido; vasatā — sentado; kuñje — num arvoredo; mṛga-akṣī-gaṇaiḥ — pelas gopīs, cujos olhos se assemelhavam àqueles da gazela; dṛṣtam — sendo visto; gopayitum — a Se esconder; svam — a Si mesmo; uddhura-dhiyā — com inteligência de primeira classe; yā — que; suṣṭhu — perfeitamente; sandarśitā — mostrou; rādhāyāḥ — de Śrīmatī Rādhārāṇī; praṇayasya — do amor; hanta — vede só; mahimā — a glória; yasya — de que; śriyā — a opulência; rakṣitum — para proteger isto; sā — isto; śakyā — capaz; prabhaviṣṇunā — por Kṛṣṇa; api — mesmo; hariṇā — pela Suprema Personalidade de Deus; na — não; āsīt — foi; catuḥ-bāhutā — forma de quatro braços.
Tradução
“Antes da dança da rāsa, o Senhor Kṛṣṇa Se escondeu num arvoredo só por diversão. Quando as gopīs chegaram, com olhos semelhantes àqueles de uma gazela, Kṛṣṇa, com Sua inteligência aguda, escondeu-Se delas lhes mostrando Sua bela forma de quatro braços. Porém, quando Śrīmatī Rādhārāṇī chegou ali, Kṛṣṇa não conseguiu manter Seus quatro braços na presença dEla. Essa é a glória maravilhosa do amor dEla.”
Comentário
SIGNIFICADO—Esta é uma citação do Ujjvala-nīlamaṇi, de Śrīla Rūpa Gosvāmī.
Texto
sei vrajeśvarī — ihaṅ śacīdevī mātā
Sinônimos
sei — aquele; vrajeśvara — o rei de Vraja; ihaṅ — agora; jagannātha — Jagannātha Miśra; pitā — o pai do Senhor Caitanya Mahāprabhu; sei — aquela; vrajeśvarī — a rainha de Vraja; ihaṅ — agora; śacīdevī — Śacīdevī; mātā — a mãe de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Tradução
Pai Nanda, o rei de Vrajabhūmi, agora é Jagannātha Miśra, o pai de Caitanya Mahāprabhu. E mãe Yaśodā, a rainha de Vrajabhūmi, agora é Śacīdevī, a mãe do Senhor Caitanya.
Texto
sei baladeva — ihaṅ nityānanda bhāi
Sinônimos
sei nanda-suta — o mesmo filho de Nanda Mahārāja; ihaṅ — agora; caitanya-gosāñi — Caitanya Mahāprabhu; sei baladeva — o mesmíssimo Baladeva; ihaṅ — agora; nityānanda bhāi — Nityānanda Prabhu, o irmão de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Tradução
O antigo filho de Nanda Mahārāja agora é Śrī Caitanya Mahāprabhu, e o antigo Baladeva, o irmão de Kṛṣṇa, é agora Nityānanda Prabhu, o irmão do Senhor Caitanya.
Texto
sei nityānanda — kṛṣṇa-caitanya-sahāya
Sinônimos
vātsalya — paternidade; dāsya — servidão; sakhya — fraternidade; tina — três; bhāva-maya — êxtases emocionais; sei — aquele; nityānanda — Nityānanda Prabhu; kṛṣṇa caitanya — do Senhor Caitanya Mahāprabhu; sahāya — o auxiliar.
Tradução
Śrī Nityānanda Prabhu sempre sente as emoções extáticas de paternidade, servidão e amizade. Ele sempre auxilia Śrī Caitanya Mahāprabhu dessa maneira.
Texto
tāṅra caritra loke nā pāre bujhite
Sinônimos
prema-bhakti — serviço devocional; diyā — dando; teṅho — Senhor Nityānanda Prabhu; bhāsā’la — inundou; jagate — no mundo; tāṅra — Seu; caritra — caráter; loke — pessoas; nā — não; pāre — capazes; bujhite — de entender.
Tradução
Śrī Nityānanda Prabhu inundou o mundo inteiro, distribuindo o transcendental serviço amoroso. Ninguém pode entender Seu caráter e atividades.
Texto
kṛṣṇa avatāriyā kailā bhaktira pracāra
Sinônimos
advaita-ācārya — Śrī Advaita Prabhu; gosāñi — mestre espiritual; bhakta-avatāra — a encarnação de um devoto; kṛṣṇa — a Suprema Personalidade de Deus; avatāriyā — descendo; kailā — fez; bhaktira — do serviço devocional; pracāra — propagação.
Tradução
Śrīla Advaita Ācārya Prabhu apareceu como a encarnação de um devoto. Ele está na categoria de Kṛṣṇa, mas desceu a esta Terra para propagar o serviço devocional.
Texto
kabhu prabhu karena tāṅre guru-vyavahāra
Sinônimos
sakhya — fraternidade; dāsya — servido; dui — dois; bhāva — êxtases; sahaja — naturais; tāṅhāra — Seus; kabhu — às vezes; prabhu — Senhor Caitanya; karena — faz; tāṅre — a Ele; guru — de mestre espiritual; vyavahāra — tratamento.
Tradução
Suas emoções naturais sempre estavam na plataforma de fraternidade e servidão, mas o Senhor às vezes O tratava como Seu mestre espiritual.
Texto
nija nija bhāve karena caitanya-sevana
Sinônimos
śrīvāsa-ādi — encabeçados por Śrīvāsa Ṭhākura; yata — todos; mahāprabhura — de Caitanya Mahāprabhu; bhakta-gaṇa — devotos; nija nija — em sua própria e respectiva; bhāve — emoção; karena — fazem; caitanya-sevana — serviço ao Senhor Caitanya Mahāprabhu.
Tradução
Todos os devotos de Śrī Caitanya Mahāprabhu, encabeçados por Śrīvāsa Ṭhākura, têm seus próprios humores emocionais, com os quais prestam serviço ao Senhor.
Texto
sei sei rase prabhu hana tāṅra vaśa
Sinônimos
paṇḍita-gosāñi — Gadādhara Paṇḍita; ādi — encabeçados por; yāṅra — cuja; yei — qualquer que seja; rasa — a doçura transcendental; sei sei — aquela respectiva; rase — pela doçura; prabhu — o Senhor; hana — fica; tāṅra — seu; vaśa — sob controle.
Tradução
Associados pessoais, como Gadādhara, Svarūpa Dāmodara, Rāmānanda Rāya, e os seis Gosvāmīs, encabeçados por Rūpa Gosvāmī, estão todos situados em seus respectivos humores transcendentais. Assim, o Senhor Se submete a diversas posições transcendentalmente doces.
Comentário
SIGNIFICADO—Os versos de 296 a 301 descrevem plenamente o dedicado e emocional serviço de Śrī Nityānanda e Śrī Advaita Prabhu. Ao descrever esse serviço individual, o Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā (11 a 16) declara que, embora o Senhor Caitanya Mahāprabhu tenha aparecido como devoto, Ele não é ninguém mais senão o filho de Nanda Mahārāja. Da mesma forma, muito embora Śrī Nityānanda Prabhu tenha aparecido como o auxiliar do Senhor Caitanya, Ele não é ninguém mais senão Baladeva, o portador do arado. Advaita Ācārya é a encarnação de Sadāśiva, oriundo do mundo espiritual. Todos os devotos encabeçados por Śrīvāsa Ṭhākura são a energia marginal dEle, ao passo que os devotos encabeçados por Gadādhara Paṇḍita são manifestações de Sua potência interna.
Śrī Caitanya Mahāprabhu, Advaita Prabhu e Nityānanda Prabhu pertencem todos à categoria viṣṇu-tattva. Como o Senhor Caitanya é um oceano de misericórdia, Ele é chamado de mahāprabhu, ao passo que Nityānanda e Advaita, sendo duas grandes personalidades que auxiliam o Senhor Caitanya, são chamados de prabhu. Assim, existem dois prabhus e um mahāprabhu. Gadādhara Gosvāmī representa o perfeito brāhmaṇa mestre espiritual. Śrīvāsa Ṭhākura representa o perfeito brāhmaṇa devoto. Esses cinco são conhecidos como o Pañca-tattva.
Texto
ihaṅ gaura — kabhu dvija, kabhu ta’ sannyāsī
Sinônimos
tihāṅ — na kṛṣṇa-līlā; śyāma — cor enegrecida; vaṁśī-mukha — a flauta na boca; gopa-vilāsī — um desfrutador como um vaqueirinho; ihaṅ — agora; gaura — tez clara; kabhu — às vezes; dvija — brāhmaṇa; kabhu — outras vezes; ta’ — decerto; sannyāsī — na ordem de vida renunciada.
Tradução
Na kṛṣṇa-līlā, a tez do Senhor é enegrecida. Com a flauta na boca, Ele desfruta como um vaqueirinho. Agora, a mesmíssima pessoa apareceu com tez clara, ora agindo como brāhmaṇa, ora aceitando a ordem de vida renunciada.
Texto
vrajendra-nandane kahe ‘prāṇa-nātha’ kari’
Sinônimos
ataeva — portanto; āpane — pessoalmente; prabhu — o Senhor; gopī-bhāva — o êxtase das gopīs; dhari’ — assumindo; vrajendra-nandane — o filho de Nanda Mahārāja; kahe — dirige-Se; prāṇa-nātha — ó senhor de Minha vida (esposo); kari’ — aceitando.
Tradução
Portanto, o próprio Senhor, assumindo o êxtase emocional das gopīs, agora fala assim ao filho de Nanda Mahārāja: “Ó senhor de Minha vida! Ó Meu querido esposo!”
Texto
acintya caritra prabhura ati sudurbodha
Sinônimos
sei kṛṣṇa — aquele Kṛṣṇa; sei gopī — aquela gopī; parama virodha — bastante contraditório; acintya — inconcebível; caritra — caráter; prabhura — do Senhor; ati — bastante; sudurbodha — difícil de entender.
Tradução
Ele é Kṛṣṇa, mas assumiu a atitude das gopīs. Como é isso? Assim é o caráter inconcebível do Senhor, que é muito difícil de entender.
Comentário
SIGNIFICADO—Com certeza, segundo quaisquer cálculos mundanos, é contraditório Kṛṣṇa assumir o papel das gopīs. Porém, o Senhor, com Seu caráter inconcebível, pode agir como as gopīs e sentir saudades de Kṛṣṇa, embora Ele seja o próprio Kṛṣṇa. Só se pode conciliar semelhante contradição na Suprema Personalidade de Deus, pois Sua energia é inconcebível (acintya) e pode tornar possível aquilo que é impossível de fazer (aghaṭa-ghaṭana-patīyasī). Tais contradições são muito difíceis de entender a menos que o devoto siga estritamente a filosofia vaiṣṇava sob a orientação dos Gosvāmīs. Portanto, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī termina todo capítulo com este verso:
caitanya-caritāmṛta kahe kṛṣṇadāsa
“Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.”
Uma canção de Narottama Dāsa Ṭhākura afirma:
kabe hāma bujhaba se yugala-pīriti
O amor conjugal entre Rādhā e Kṛṣṇa, que se chama yugala-pīriti, não pode ser entendido por eruditos, artistas ou poetas mundanos. Ele é compreendido apenas pelos devotos que seguem estritamente os passos dos seis Gosvāmīs. Algumas vezes, ditos artistas e poetas tentam entender as aventuras amorosas de Rādhā e Kṛṣṇa e publicam livros baratos de poesia e gravuras sobre o assunto. Infelizmente, contudo, eles nada entendem acerca das aventuras transcendentais de Rādhā e Kṛṣṇa. Simplesmente se intrometem num assunto que nem mesmo são aptos para entender.
Texto
kṛṣṇera acintya-śakti ei mata haya
Sinônimos
ithe — quanto a isso; tarka kari’ — apresentando argumentos; keha — alguém; nā — não; kara — fazem; saṁśaya — dúvidas; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; acintya-śakti — potência inconcebível; ei — este; mata — o veredito; haya — é.
Tradução
Não se podem entender as contradições no caráter do Senhor Caitanya apresentando lógica e argumentos mundanos. Em consequência disso, não se devem manter dúvidas a esse respeito. Deve-se apenas tentar entender a energia inconcebível de Kṛṣṇa; caso contrário, não se pode entender como são possíveis tais contradições.
Texto
citra bhāva, citra guṇa, citra vyavahāra
Sinônimos
acintya — inconcebíveis; adbhuta — maravilhosos; kṛṣṇa-caitanya — do Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu; vihāra — passatempos; citra — maravilhoso; bhāva — êxtase; citra — maravilhosas; guṇa — qualidades; citra — maravilhoso; vyavahāra — comportamento.
Tradução
Os passatempos de Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu são inconcebíveis e maravilhosos. Seu êxtase é maravilhoso, Suas qualidades são maravilhosas e Seu comportamento é maravilhoso.
Texto
kumbhīpāke pace, tāra nāhika nistāra
Sinônimos
tarke — por argumentos; ihā — isto; nāhi — não; māne — aceite; yei — qualquer pessoa que; durācāra — libertina; kumbhī-pāke — no óleo fervente do inferno; pace — cozinha; tāra — sua; nāhika — não há; nistāra — salvação.
Tradução
Caso alguém simplesmente se apoie em argumentos mundanos e, portanto, não aceite isto, cozinhará no inferno Kumbhīpāka. Para ele, não há salvação.
Comentário
SIGNIFICADO—Kumbhīpāka, uma espécie de condição infernal, é descrita no Śrīmad-Bhāgavatam (5.26.13), onde se diz que uma pessoa que cozinha pássaros e animais vivos para satisfazer sua língua é levada perante Yamarāja após a sua morte e castigada no inferno Kumbhīpāka. Lá, ela é mergulhada em um óleo fervente chamado kumbhī-pāka, do qual não há salvação. Kumbhīpāka se destina a pessoas que são desnecessariamente invejosas. Aqueles que têm inveja das atividades de Śrī Caitanya Mahāprabhu são castigados nessa condição infernal.
Texto
na tāṁs tarkeṇa yojayet
prakṛtibhyaḥ paraṁ yac ca
tad acintyasya lakṣaṇam
Sinônimos
acintyāḥ — inconcebível; khalu — decerto; ye — aqueles; bhāvāḥ — assuntos; na — não; tān — a eles; tarkeṇa — por argumentos; yojayet — pode-se entender; prakṛtibhyaḥ — à natureza material; param — transcendental; yat — aquilo que; ca — e; tat — aquilo; acintyasya — do inconcebível; lakṣaṇam — um sintoma.
Tradução
“Qualquer coisa transcendental à natureza material se chama ‘inconcebível’, ao passo que todos os argumentos são mundanos. Uma vez que argumentos mundanos não podem abranger os assuntos transcendentais, não se deve tentar entender assuntos transcendentais através de argumentos mundanos.”
Comentário
SIGNIFICADO—Este verso do Mahābhārata (Bhīṣma-parva 5.22) também é citado no Bhakti-rasāmṛta-sindhu (2.5.93), de Śrīla Rūpa Gosvāmī.
Texto
sei jana yāya caitanyera pada pāśa
Sinônimos
adbhuta — maravilhosos; caitanya-līlāya — nos passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu; yāhāra — qualquer pessoa cuja; viśvāsa — fé; sei — aquela; jana — pessoa; yāya — progride; caitanyera — de Śrī Caitanya Mahāprabhu; pada — dos pés de lótus; pāśa — perto.
Tradução
Apenas uma pessoa que tenha firme fé nos passatempos maravilhosos do Senhor Caitanya Mahāprabhu é que pode se aproximar de Seus pés de lótus.
Texto
ihā yei śune, śuddha-bhakti haya tāra
Sinônimos
prasaṅge — no transcurso da discussão; kahila — foi dito; ei — isto; siddhāntera — da conclusão; sāra — a essência; ihā — isto; yei — qualquer pessoa que; śune — ouça; śuddha-bhakti — imaculado serviço devocional; haya — torna-se; tāra — seu.
Tradução
Neste discurso, expliquei a essência das conclusões devocionais. Qualquer pessoa que o ouça desenvolve imaculado serviço devocional ao Senhor.
Texto
tabe se granthera artha pāiye āsvāda
Sinônimos
likhita — escrito; granthera — da escritura; yadi — se; kari — eu fizer; anuvāda — repetição; tabe — então; se granthera — desta escritura; artha — o significado; pāiye — poderei obter; āsvāda — sabor.
Tradução
Se eu repetir o que já foi escrito, poderei, então, saborear o propósito desta escritura.
Texto
kathā kahi’ anuvāda kare vāra vāra
Sinônimos
dekhi — vejo; granthe — na escritura; bhāgavate — no Śrīmad-Bhāgavatam; vyāsera — de Śrīla Vyāsadeva; ācāra — comportamento; kathā — narração; kahi’ — descrevendo; anuvāda — repetição; kare — faz; vāra vāra — vezes e mais vezes.
Tradução
Podemos ver na escritura Śrīmad-Bhāgavatam a conduta de seu autor, Śrī Vyāsadeva. Após falar a narração, ele a repete várias vezes.
Comentário
SIGNIFICADO—Ao final do Śrīmad-Bhāgavatam, no décimo segundo canto, o décimo segundo capítulo tem cinquenta e dois versos, nos quais Śrī Kṛṣṇa-dvaipāyana Vedavyāsa recapitula todo o assunto do Śrīmad-Bhāgavatam. Śrī Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī deseja seguir os passos de Śrī Vyāsadeva, recapitulando os dezessete capítulos da Ādi-līlā do Śrī Caitanya-caritāmṛta.
Texto
prathama paricchede kailuṅ ‘maṅgalācaraṇa’
Sinônimos
tāte — portanto; ādi-līlāra — do primeiro canto, conhecido como Ādi-līlā; kari — faço; pariccheda — capítulo; gaṇana — enumeração; prathama paricchede — no primeiro capítulo; kailuṅ — faço; maṅgala-ācaraṇa — invocação de auspiciosidade.
Tradução
Portanto, enumerarei os capítulos da Ādi-līlā. No primeiro capítulo, presto reverências ao mestre espiritual, pois esse é o começo auspicioso para quem escreve.
Texto
svayaṁ bhagavān yei vrajendra-nandana
Sinônimos
dvitīya paricchede — no segundo capítulo; caitanya-tattva-nirūpāṇa — descrição da verdade de Śrī Caitanya Mahāprabhu; svayaṁ — pessoalmente; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; yei — que; vrajendra-nandana — o filho de Nanda Mahārāja.
Tradução
O segundo capítulo expõe a verdade de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Kṛṣṇa, o filho de Mahārāja Nanda.
Texto
tṛtīya paricchede janmera ‘sāmānya’ kāraṇa
Sinônimos
teṅho — Ele; ta’ — decerto; caitanya-kṛṣṇa — Kṛṣṇa com o nome de Śrī Caitanya; śacīra nandana — o filho de Śacīmātā; tṛtīya paricchede — no terceiro capítulo; janmera — de Seu nascimento; sāmānya — geral; kāraṇa — razão.
Tradução
Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, que é o próprio Kṛṣṇa, apareceu agora como o filho de mãe Śacī. O terceiro capítulo descreve a causa geral de Seu aparecimento.
Texto
yuga-dharma — kṛṣṇa-nāma-prema-pracāraṇa
Sinônimos
tahiṅ madhye — nesse capítulo; prema-dāna — distribuição do amor a Deus; viśeṣa — específica; kāraṇa — razão; yuga-dharma — a religião do milênio; kṛṣṇa-nāma — o santo nome do Senhor Kṛṣṇa; prema — amor a Deus; pracāraṇa — propagando.
Tradução
O terceiro capítulo descreve especificamente a distribuição do amor a Deus. Descreve, também, a religião da era, que é simplesmente distribuir o santo nome do Senhor Kṛṣṇa e propagar o processo de amá-lO.
Texto
sva-mādhurya-premānanda-rasa-āsvādana
Sinônimos
caturthe — no quarto capítulo; kahiluṅ — descrevo; janmera — de Seu nascimento; mūla — a verdadeira; prayojana — necessidade; sva-mādhurya — Sua própria doçura transcendental; prema-ānanda — de alegria extática por amor; rasa — a doçura; āsvādana — saboreando.
Tradução
O quarto capítulo descreve a razão principal para Seu aparecimento, que é saborear a doce qualidade de Seu próprio transcendental serviço amoroso e Sua própria doçura.
Texto
nityānanda hailā rāma rohiṇī-nandana
Sinônimos
pañcame — no quinto capítulo; śrī-nityānanda — do Senhor Nityānanda Prabhu; tattva — a verdade; nirūpaṇa — verificação; nityānanda — Senhor Nityānanda Prabhu; hailā — foi; rāma — Balarāma; rohiṇī-nandana — o filho de Rohiṇī.
Tradução
O quinto capítulo descreve a verdade do Senhor Nityānanda Prabhu, que não é nenhum outro senão Balarāma, o filho de Rohiṇī.
Texto
advaita-ācārya — mahā-viṣṇu-avatāra
Sinônimos
ṣaṣṭha paricchede — no sexto capítulo; advaita — de Advaita Ācārya; tattvera — da verdade; vicāra — consideração; advaita-ācārya — Advaita Prabhu; mahā-viṣṇu-avatāra — encarnação de Mahā-Viṣṇu.
Tradução
O sexto capítulo considera a verdade de Advaita Ācārya. Ele é uma encarnação de Mahā-Viṣṇu.
Texto
pañca-tattva mili’ yaiche kailā prema-dāna
Sinônimos
saptama paricchede — no sétimo capítulo; pañca-tattvera — dos cinco tattvas (verdades); ākhyāna — a elaboração; pañca-tattva — os cinco tattvas; mili’ — se juntando; yaiche — de que maneira; kailā — fizeram; prema-dāna — distribuição do amor a Deus.
Tradução
O sétimo capítulo descreve o Pañca-tattva – Śrī Caitanya, Prabhu Nityānanda, Śrī Advaita, Gadādhara e Śrīvāsa. Todos eles se juntaram para distribuir amor a Deus em toda parte.
Texto
eka kṛṣṇa-nāmera mahā-mahimā-kathana
Sinônimos
aṣṭame — no oitavo capítulo; caitanya-līlā-varṇana-kāraṇa — a razão de serem descritos os passatempos de Caitanya Mahāprabhu; eka — uma; kṛṣṇa-nāmera — do santo nome do Senhor Kṛṣṇa; mahā-mahimā-kathana — descrição de grandes glórias.
Tradução
O oitavo capítulo apresenta a razão de serem descritos os passatempos do Senhor Caitanya. Descreve, também, a grandeza do santo nome do Senhor Kṛṣṇa.
Texto
śrī-caitanya-mālī kailā vṛkṣa āropaṇa
Sinônimos
navamete — no nono capítulo; bhakti-kalpa-vṛkṣera — da árvore-dos-desejos do serviço devocional; varṇana — a descrição; śrī-caitanya-mālī — Śrī Caitanya Mahāprabhu como o jardineiro; kailā — fez; vṛkṣa — a árvore; āropaṇa — implantação.
Tradução
O nono capítulo descreve a árvore-dos-desejos do serviço devocional. O próprio Śrī Caitanya Mahāprabhu é o jardineiro que a plantou.
Texto
sarva-śākhā-gaṇera yaiche phala-vitaraṇa
Sinônimos
daśamete — no décimo capítulo; mūla-skandhera — do tronco principal; śākhā-ādi — dos galhos etc.; gaṇana — enumeração; sarva-sākhā-gaṇera — de todos os galhos, yaiche — de que maneira; phala-vitaraṇa — distribuição dos frutos.
Tradução
O décimo capítulo descreve os galhos e galhos secundários do tronco principal e a distribuição de seus frutos.
Texto
dvādaśe ‘advaita-skandha śākhāra varṇana’
Sinônimos
ekādaśe — no décimo primeiro capítulo; nityānanda-śākhā — dos galhos de Śrī Nityānanda Prabhu; vivaraṇa — descrição; dvādaśe — no décimo segundo capítulo; advaita-skandha — o tronco conhecido como Advaita Prabhu; śākhāra — do galho; varṇana — descrição.
Tradução
O décimo primeiro capítulo descreve o galho chamado Śrī Nityānanda Prabhu. O décimo segundo capítulo descreve o galho chamado Śrī Advaita Prabhu.
Texto
kṛṣṇa-nāma-saha yaiche prabhura janama
Sinônimos
trayodaśe — no décimo terceiro capítulo; mahāprabhura — do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; janma — do nascimento; vivaraṇa — a descrição; kṛṣṇa-nāma-saha — juntamente com o santo nome do Senhor Kṛṣṇa; yaiche — de que maneira; prabhura — do Senhor; janama — o nascimento.
Tradução
O décimo terceiro capítulo descreve o nascimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu, que aconteceu ao som do canto do santo nome de Kṛṣṇa.
Texto
pañcadaśe ‘paugaṇḍa-līlā’ra saṅkṣepe kathana
Sinônimos
caturdaśe — no décimo quarto capítulo; bālya-līlāra — dos passatempos infantis do Senhor; kichu — alguma; vivaraṇa — descrição; pañcadaśe — no décimo quinto capítulo; paugaṇḍa-līlāra — dos passatempos da idade paugaṇḍa (meninice); saṅkṣepe — em breve; kathana — o relato.
Tradução
O décimo quarto capítulo fornece alguma descrição dos passatempos infantis do Senhor. O décimo quinto descreve brevemente os passatempos da meninice do Senhor.
Texto
saptadaśe ‘yauvana-līlā’ kahiluṅ viśeṣa
Sinônimos
ṣoḍaśa — décimo sexto; paricchede — no capítulo; kaiśora-līlāra — de passatempos anteriores à juventude; uddeśa — indicação; saptadaśe — no décimo sétimo capítulo; yauvana-līlā — os passatempos da juventude; kahiluṅ — declaro; viśeṣa — especificamente.
Tradução
No décimo sexto capítulo, apresento os passatempos da idade kaiśora [a idade anterior à juventude]. No décimo sétimo capítulo, descrevo, em específico, os passatempos de Sua juventude.
Texto
dvādaśa prabandha tāte grantha-mukhabandha
Sinônimos
ei saptadaśa — estas dezessete; prakāra — variedades; ādi-līlāra — da Ādi-līlā (primeiro canto); prabandha — assuntos; dvādaśa — doze; prabandha — assuntos; tāte — entre estes; grantha — do livro; mukha-bandha — prefácios.
Tradução
Assim, há dezessete variedades de assuntos no primeiro canto, que é conhecido como Ādi-līlā. Doze dessas variedades constituem o prefácio desta escritura.
Texto
saṅkṣepe kahiluṅ ati, — nā kailuṅ vistṛta
Sinônimos
pañca-prabandhe — em cinco capítulos; pañca-rasera — de cinco doçuras transcendentais; carita — o caráter; saṅkṣepe — brevemente; kahiluṅ — declarei; ati — muito; nā kailuṅ — não fiz; vistṛta — expandidos.
Tradução
Após os capítulos do prefácio, descrevi cinco doçuras transcendentais em cinco capítulos. Ao invés de os descrever extensivamente, eu os descrevi de forma muito sucinta.
Texto
vistāri’ varṇilā nityānanda-ājñā-bale
Sinônimos
vṛndāvana-dāsa — Ṭhākura Vṛndāvana Dāsa; ihā — isto; caitanya-maṅgale — em seu livro Caitanya-maṅgala; vistāri’ — expandindo; varṇilā — descreveu; nityānanda — de Śrī Nityānanda Prabhu; ājñā — da ordem; bale — com a força.
Tradução
Pela ordem e força de Śrī Nityānanda Prabhu, Śrī Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura descreveu de forma elaborada em seu Caitanya-maṅgala tudo o que eu não descrevi.
Texto
brahmā-śiva-śeṣa yāṅra nāhi pāya anta
Sinônimos
śrī-kṛṣṇa-caitanya-līlā — os passatempos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; adbhuta — maravilhosos; ananta — ilimitados; brahmā — senhor Brahmā; śiva — senhor Śiva; śeṣa — Senhor Śeṣa Nāga; yāṅra — dos quais; nāhi — não; pāya — obtêm; anta — fim.
Tradução
Os passatempos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu são maravilhosos e ilimitados. Mesmo personalidades como o senhor Brahmā, o senhor Śiva e Śeṣa Nāga não podem encontrar o fim deles.
Texto
acire milibe tāre śrī-kṛṣṇa-caitanya
Sinônimos
ye yei aṁśa — qualquer parte deste; kahe — qualquer pessoa que descreva; śune — qualquer pessoa que ouça; sei — tal pessoa; dhanya — gloriosa; acire — muito em breve; milibe — encontrará; tāre — a Ele; śrī-kṛṣṇa-caitanya — Śrī Caitanya Mahāprabhu.
Tradução
Qualquer pessoa que descreva ou ouça qualquer parte deste elaborado assunto receberá, muito em breve, a misericórdia imotivada de Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu.
Texto
śrīvāsa-gadādharādi yata bhakta-vṛnda
Sinônimos
śrī-kṛṣṇa-caitanya — Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; advaita — Advaita Ācārya Prabhu; nityānanda — Nityānanda Prabhu; śrīvāsa — Śrīvāsa Ṭhākura; gadādhara-ādi — e outros como Gadādhara; yata — todos; bhakta-vṛnda — todos os devotos.
Tradução
[Aqui o autor novamente descreve o Pañca-tattva.] Śrī Kṛṣṇa Caitanya, Prabhu Nityānanda, Śrī Advaita, Gadādhara, Śrīvāsa e todos os devotos do Senhor Caitanya.
Texto
namra hañā śire dharoṅ sabāra caraṇe
Sinônimos
yata yata — cada um dos; bhakta-gaṇa — devotos; vaise — residem; vṛndāvane — em Vṛndāvana; namra hañā — tornando-me humilde; śire — sobre minha cabeça; dharoṅ — eu coloco; sabāra — de todos; caraṇe — os pés de lótus.
Tradução
Ofereço minhas respeitosas reverências a todos os residentes de Vṛndāvana. Desejo colocar seus pés de lótus sobre minha cabeça com muita humildade.
Texto
śrī-raghunātha-dāsa, āra śrī-jīva-caraṇa
caitanya-caritāmṛta kahe kṛṣṇadāsa
Sinônimos
śrī-svarūpa — Śrī Svarūpa Dāmodara; śrī-rūpa — Śrī Rūpa Gosvāmī; śrī-sanātana — Śrī Sanātana Gosvāmī; śrī-raghunātha-dāsa — Śrī Raghunātha Dāsa Gosvāmī; āra — e; śrī-jīva-caraṇa — os pés de lótus de Śrī Jīva Gosvāmī; śire — sobre a cabeça; dhari — colocando; vandoṅ — adoro; nitya — sempre; karoṅ — faço; tāṅra — seus; āśa — espero servir; caitanya-caritāmṛta — o livro chamado Śrī Caitanya-caritāmṛta; kahe — descreve; kṛṣṇadāsa — Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī.
Tradução
Desejo colocar os pés de lótus dos Gosvāmīs sobre minha cabeça. Seus nomes são Śrī Svarūpa Dāmodara, Śrī Rūpa Gosvāmī, Śrī Sanātana Gosvāmī, Śrī Raghunātha Dāsa Gosvāmī e Śrī Jīva Gosvāmī. Colocando seus pés de lótus sobre minha cabeça, esperando servi-los sempre, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.
Comentário
Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā, décimo sétimo capítulo, descrevendo os passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu em Sua juventude.
FIM DA ĀDI-LĪLĀ