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CAPÍTULO TREZE

Continuação da Conversa entre o Rei Rahūgaṇa e Jaḍa Bharata

O brāhmaṇa Jaḍa Bharata se mostrou muito bondoso com o rei Rahūgaṇa, e, para estimulá-lo a afastar-se do mundo material, falou-lhe figuradamente sobre a floresta do mundo material. Explicou-lhe que o mundo material é como uma grande floresta na qual nos enredamos ao nos associarmos com a vida material. Nessa floresta, além dos animais carnívoros, como chacais, lobos e leões (esposa, filhos e outros parentes), que estão sempre ansiosos por sugar o sangue do chefe de família, existem assaltantes (os seis sentidos). Os assaltantes da floresta e os animais carnívoros e bebedores de sangue combinam-se para explorar a energia do homem que está às voltas com este mundo material. Na floresta, há também um buraco escuro, coberto de grama, no qual se pode cair a qualquer instante. Adentrando-se na floresta e deixando cativar-se pelos variados encantos materiais, a pessoa identifica-se com o mundo, sociedade, amizade, amor e família materiais. Perdido o caminho e não sabendo por onde andar, atormentada por animais e pássaros, a pessoa também se torna vítima de muitos desejos. Assim, ela trabalha muito arduamente dentro da floresta e perambula de um lugar a outro. Ela se torna embevecida com a felicidade temporária e se deixa afligir pela dita infelicidade. Na verdade, tudo o que ela faz é sofrer na floresta por causa da aparente felicidade e aparente aflição. Às vezes, sofre o ataque de uma serpente (sono profundo) e, devido à picada desse animal, perde a consciência e se confunde e desorienta em relação a como deve desempenhar seus deveres. Embora tenha esposa, às vezes sente atração por outras mulheres, e assim pensa que desfruta de um amor extraconjugal com elas. Esse indivíduo sofre com várias doenças, com a lamentação e com os rigores do verão e do inverno. Assim, quem está dentro da floresta do mundo material, padece as dores da existência material. Na expectativa de se tornar feliz, a entidade viva está sempre mudando de posição, mas, na verdade, o materialista imerso no mundo material jamais é feliz. Estando constantemente ocupado em atividades materiais, ele está sempre perturbado. Ele se esquece de que terá de morrer algum dia. Embora sofra muito, como se deixa iludir pela energia material, continua em sua busca frenética pela felicidade material. Dessa maneira, ele se esquece por completo de sua relação com a Suprema Personalidade de Deus.

Ouvindo isso de Jaḍa Bharata, Mahārāja Rahūgaṇa reviveu sua consciência de Kṛṣṇa e, dessa maneira, a companhia de Jaḍa Bharata lhe trouxe grande benefício. O rei pôde compreender que sua ilusão havia terminado, e pediu que Jaḍa Bharata perdoasse o seu mau comportamento. Śukadeva Gosvāmī transmitiu tudo isso a Mahārāja Parīkṣit.

VERSO 1:
Jaḍa Bharata, que compreendera na íntegra o Brahman, continuou: Meu querido rei Rahūgaṇa, a entidade viva perambula pelos caminhos do mundo material, os quais ela tem muita dificuldade de percorrer, e aceita repetidos nascimentos e mortes. Ficando sob a influência dos três modos da natureza material (sattva-guṇa, rajo-guṇa e tamo-guṇa), e se deixando, então, cativar pelo mundo material, a entidade viva vê apenas os três frutos de suas atividades desenvolvidas sob o encanto da natureza material. Esses frutos são auspiciosos, inauspiciosos e mistos. Ela, então, apega-se à religião, ao desenvolvimento econômico, ao gozo dos sentidos e à teoria monista da liberação (imersão no Supremo). Dia e noite, ela trabalha muito arduamente, tal qual um mercador que vai à floresta comprar alguns artigos e, mais tarde, vende-os a fim de lucrar. Contudo, ela não pode realmente alcançar a felicidade dentro deste mundo material.
VERSO 2:
Ó rei Rahūgaṇa, na floresta da existência material, existem seis poderosíssimos assaltantes. Quando a alma condicionada adentra a floresta para obter algum ganho material, os seis assaltantes a desorientam. Assim condicionado, o mercador não sabe como gastar seu dinheiro, e, aproveitando-se disso, tais assaltantes o despojam de suas riquezas. Da mesma forma que os tigres, chacais e outros animais ferozes da floresta se preparam para tirar um cordeiro da custódia do seu protetor, a esposa e os filhos entram no coração do mercador e saqueiam-no de muitas maneiras.
VERSO 3:
Nesta floresta, há densos bosques compostos de matagais de arbustos, grama e trepadeiras. Nesses bosques, a alma condicionada é sempre incomodada pelos mosquitos que picam cruelmente [pessoas invejosas]. Às vezes, ela vê na floresta um palácio imaginário e, outras vezes, fica pasma ao ver um demônio ou fantasmas fugazes, que surgem assim como um meteoro aparece no céu.
VERSO 4:
Meu querido rei, embrenhado nos caminhos da floresta do mundo material, com sua inteligência entorpecida pelo lar, pelas riquezas, pelos parentes e assim por diante, o mercador corre de um lugar ao outro em busca do sucesso. Às vezes, seus olhos são encobertos pela poeira de um vendaval – isto é, cheio de luxúria, ele se deixa cativar pela beleza de sua esposa, especialmente durante o seu período menstrual. Assim, seus olhos ficam cegos, e ele não consegue ver aonde vai ou o que está fazendo.
VERSO 5:
Vagando na floresta do mundo material, a alma condicionada às vezes ouve um grilo invisível produzindo sons irritantes para os ouvidos. Outras vezes, o seu coração é golpeado pelos sons das corujas, que são exatamente como as palavras ásperas dos seus inimigos. Às vezes, ela se refugia em uma árvore que não tem frutas nem flores. Devido ao seu intenso apetite, ela se aproxima dessa árvore e, assim, sofre. Ela gostaria de obter água, mas está apenas iludida por uma miragem em cuja direção corre desesperadamente.
VERSO 6:
Às vezes, a alma condicionada mergulha em um rio raso, ou, carecendo de grãos alimentícios, sai para mendigar alimentos de pessoas que não são nem um pouco caridosas. Às vezes, ela padece o calor causticante da vida familiar, que é como um incêndio na floresta, e, outras vezes, fica triste porque sua riqueza, que ela ama tanto quanto sua vida, é saqueada pelos reis na forma de implacáveis impostos de renda.
VERSO 7:
Às vezes, sendo agredida ou assaltada por um agente superior e poderoso, a entidade viva perde todas as suas posses. Em resposta a isso, ela fica muito melancólica e, lamentando essa perda, às vezes perde a consciência. Ocasionalmente, ela imagina uma grande cidade palaciana onde deseja viver feliz com suas riquezas e membros familiares. Acha que, conseguindo isso, alcançará a felicidade plena, mas essa aparente felicidade dura apenas um momento.
VERSO 8:
Às vezes, o mercador na floresta decide escalar as colinas e as montanhas, mas, como seus calçados não o protegem como deveriam, ele fere seus pés nos fragmentos de pedra e nos espinhos da montanha. Machucando-se, ele se sente muito incomodado. Às vezes, alguém muito apegado à sua família é dominado pela fome e, devido à sua condição deplorável, trata seus membros familiares com muita raiva.
VERSO 9:
A alma condicionada na floresta material às vezes se deixa engolir por um píton ou é esmagada. É então que, desprovida de consciência e de conhecimento, ela fica jogada na floresta, parecendo um cadáver. Há ocasiões em que outras serpentes venenosas a picam. Cega para sua consciência, ela cai no poço escuro da vida infernal, sem nenhuma esperança de ser resgatada.
VERSO 10:
Às vezes, para obter um pequeno e insignificante gozo sexual, o indivíduo procura mulheres depravadas. Nessa tentativa, ele é insultado e castigado pelos parentes das mulheres. É como ir pegar mel em uma colmeia e ser atacado pelas abelhas. Às vezes, após gastar uma grande soma de dinheiro, a pessoa pode conseguir outra mulher em quem buscará mais um pouco de gozo sensorial. Infelizmente, o objeto do gozo sensorial, a mulher, é levada ou raptada por outro libertino.
VERSO 11:
Às vezes, a entidade viva dedica seu tempo a neutralizar os distúrbios naturais consequentes ao frio gélido, ao calor escaldante, ao vento forte, à chuva excessiva e assim por diante. Ao ver que é incapaz de fazê-lo, ela se torna muito infeliz. Às vezes, ela é enganada em sucessivas transações comerciais. Dessa maneira, em consequência de suas mentiras, as entidades vivas criam inimizades entre si.
VERSO 12:
No caminho da floresta da existência material, a pessoa às vezes fica sem riquezas e, devido a isso, não tem uma casa, cama ou assento decentes, nem gozo familiar apropriado. Portanto, ela vai mendigar o dinheiro alheio, mas, quando não consegue satisfazer seus desejos mendigando, ela quer pedir emprestado ou roubar a propriedade dos outros. Assim, torna-se repulsiva aos olhos da sociedade.
VERSO 13:
Devido às transações monetárias, as relações ficam muito tensas e terminam em inimizade. Às vezes, o esposo e a esposa caminham na trilha do progresso material, e, para manter seu status, trabalham muito arduamente. Às vezes, devido à escassez de dinheiro ou devido ao aparecimento de doenças, eles se deparam com muitos problemas e chegam perto de morrer.
VERSO 14:
Meu querido rei, no caminho da floresta da vida materialista, primeiro a pessoa fica órfã de pai e mãe. Depois dessa perda, ela se apega aos seus filhos mais novos. Assim, ela vagueia pelo caminho do progresso material e termina enredada. Todavia, ninguém sabe como escapar disso, mesmo quando chega o momento da morte.
VERSO 15:
Existiram e existem muitos heróis políticos e sociais que triunfaram sobre inimigos de igual poder, mas, devido à sua ignorância, acreditando que a terra lhes pertencia, lutaram entre si e perderam suas vidas na batalha. Eles não são capazes de adotar o caminho espiritual aceito por aqueles que estão na ordem renunciada. Embora sejam grandes heróis e líderes políticos, não conseguem aceitar o caminho da compreensão espiritual.
VERSO 16:
Às vezes, a entidade viva na floresta da existência material busca refúgio nas trepadeiras, onde deseja ouvir os pássaros chilreantes. Temendo os leões rugientes na floresta, faz amizade com grous, garças e abutres.
VERSO 17:
Sentindo-se enganada por eles, a entidade viva na floresta do mundo material tenta abandonar a associação desses assim chamados yogīs, svāmīs e encarnações e busca a associação de devotos autênticos, mas, devido ao seu infortúnio, não consegue seguir as instruções do mestre espiritual ou dos devotos avançados. Então, abandonando essa associação, volta a conviver com macacos cujo único interesse é desfrutar dos seus sentidos e de mulheres. O indivíduo obtém satisfação associando-se com hedonistas e desfrutando de sexo e drogas. Dessa maneira, arruína sua vida simplesmente se entregando ao sexo e à intoxicação. Contemplando o rosto de outros hedonistas, esquece-se de tudo e, assim, caminha rumo à morte.
VERSO 18:
Ao se tornar exatamente como um macaco, pulando de galho em galho, a entidade viva permanece na árvore da vida familiar, onde seu único ganho é o sexo. Assim, tal qual um asno, é coiceada por sua esposa. Incapaz de se libertar, a entidade viva permanece nessa posição em completo desespero. Às vezes, cai vítima de uma doença incurável, o que é como cair dentro de uma caverna. Ela fica com medo da morte, que é como um elefante no fundo dessa caverna, e se vê sem saída, agarrando-se aos brotos e galhos de uma trepadeira.
VERSO 19:
Ó Mahārāja Rahūgaṇa, matador dos inimigos, se, de alguma forma, a alma condicionada consegue escapar dessa posição perigosa, ela retorna ao lar para desfrutar da vida sexual, pois essa é a maneira como o apego age. Assim, sob o encanto da energia material do Senhor, ela continua a vagar pela floresta da existência material. Nem mesmo na hora da morte, ela descobre seu verdadeiro interesse.
VERSO 20:
Meu querido rei Rahūgaṇa, já que estás situado no caminho da atração ao prazer material, és também vítima da energia externa. Para que te tornes um amigo equânime de todas as entidades vivas, aconselho-te que abandones tua posição real e o cetro com o qual punes os criminosos. Não mais te deixes atrair pelos objetos dos sentidos e empunha a espada do conhecimento, afiada pelo serviço devocional. Então serás capaz de cortar o forte nó da energia ilusória e de cruzar até o outro lado do oceano da ignorância.
VERSO 21:
O rei Rahūgaṇa disse: Este nascimento como ser humano é o melhor de todos. Nem mesmo o nascimento entre os semideuses nos planetas celestiais é tão glorioso como ganhar um corpo humano nesta Terra. De que adianta a posição elevada de um semideus? Nos planetas celestiais, devido aos abundantes confortos materiais, não há possibilidade de associação com os devotos.
VERSO 22:
Não é nada surpreendente que, pelo simples fato de estar coberta pela poeira de teus pés de lótus, a pessoa alcança de imediato a plataforma de serviço devocional puro a Adhokṣaja, ao qual nem mesmo grandes semideuses como Brahmā têm acesso. Com um simples momento de tua associação, já estou livre de toda a especulação, falso prestígio e falta de discriminação, que são as raízes do enredamento no mundo material. Agora estou livre de todos esses problemas.
VERSO 23:
Ofereço minhas respeitosas reverências às grandes personalidades, quer elas caminhem na superfície da Terra como crianças, garotos, avadhūtas ou brāhmaṇas grandiosos. Mesmo que se escondam sob diferentes disfarces, ofereço meus respeitos a todas elas. Pela misericórdia delas, que haja boa fortuna nas dinastias reais que sempre as ofendem.
VERSO 24:
Śrīla Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Meu querido rei, ó filho de Uttarā, devido ao fato de ter sido insultado pelo rei Rahūgaṇa, o qual o fizera carregar seu palanquim, havia algumas ondas de insatisfação na mente de Jaḍa Bharata, mas Jaḍa Bharata não se importou com isso, e seu coração voltou a ser calmo e sereno como um oceano. Embora o rei Rahūgaṇa o tivesse insultado, ele era um grande paramahaṁsa. Sendo vaiṣṇava, ele, por natureza, era bondoso de coração, motivo pelo qual falou ao rei sobre a posição constitucional da alma. Então, ele se esqueceu do insulto porque o rei Rahūgaṇa humildemente implorou perdão a seus pés de lótus. Em seguida, exatamente como antes, ele continuou a vagar por toda a Terra.
VERSO 25:
Após receber lições do grande devoto Jaḍa Bharata, Mahārāja Rahūgaṇa, o rei do estado de Sauvīra, tomou completo conhecimento da posição constitucional da alma. Então, abandonou de vez a concepção corpórea. Meu querido rei, toda pessoa que se refugia no servo do servo do Senhor é certamente gloriosa, pois conseguirá, sem quaisquer dificuldades, abandonar a concepção corpórea.
VERSO 26:
A seguir, o rei Parīkṣit disse a Śukadeva Gosvāmī: Meu querido senhor, ó grande sábio devoto, és onisciente. Descreveste muito primorosamente a posição da alma condicionada, que é comparada a um mercador na floresta. Com essas instruções, os homens inteligentes podem entender que os sentidos de uma pessoa na concepção corpórea são como ladrões e assaltantes nessa floresta, e que sua esposa e filhos são como chacais e outros animais ferozes. Contudo, não é muito fácil para os ininteligentes compreenderem o significado desta história, pois é muito difícil, recorrendo à alegoria, averiguar o significado exato. Portanto, peço que Vossa Santidade dê o significado direto.