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ŚB 2.1.15

Texto

anta-kāle tu puruṣa
āgate gata-sādhvasaḥ
chindyād asaṅga-śastreṇa
spṛhāṁ dehe ’nu ye ca tam

Sinônimos

anta-kāle — à última fase da vida; tu — mas; puruṣaḥ — a pessoa; āgate — tendo chegado; gata-sādhvasaḥ — sem nenhum medo da morte; chindyāt — deve cortar; asaṅga — desapego; śastreṇa — com a arma do; spṛhām — todos os desejos; dehe — no que diz respeito ao tabernáculo material; anu — referente; ye — tudo isso; ca — também; tam — a eles.

Tradução

Na última fase da vida, a pessoa deve ser bastante corajosa para não temer a morte. E deve eliminar todo o apego ao corpo material e tudo o que está relacionado com ele, bem como todos os desejos daí provenientes.

Comentário

SIGNIFICADO—A tolice própria do materialismo grosseiro é que as pessoas pensam em fazer residência permanente neste mundo, embora seja um fato consumado que aqui todos têm de deixar tudo o que foi criado com a valiosa energia humana. Grandes estadistas, cientistas, filósofos etc., que são tolos e não têm nenhuma informação sobre a alma espiritual, pensam que esta vida que dura apenas poucos anos é tudo o que existe e que, depois da morte, tudo se acaba. Esse pobre fundo de conhecimento, presente até mesmo nos supostos círculos eruditos do mundo, está matando a vitalidade da energia humana, e é possível sentir as consequências terríveis. Apesar disso, os materialistas tolos não se importam com o que acontecerá na próxima vida. A instrução preliminar da Bhagavad-gītā é que todos devem saber que a entidade viva individual não perde sua identidade nem mesmo após o término do corpo atual, o qual não passa de uma simples vestimenta externa. Assim como alguém troca uma roupa velha, do mesmo modo, o ser vivo individual também troca de corpo, e essa troca de corpo chama-se morte. A morte, portanto, consiste em trocar de corpo quando termina a atual duração de vida. A pessoa inteligente deve estar preparada para isso e deve empenhar-se para obter, na próxima vida, a melhor espécie de corpo. A melhor espécie de corpo é o corpo espiritual, que é obtido por aqueles que voltam ao reino de Deus ou entram no domínio do Brahman. No segundo capítulo deste canto, este assunto será amplamente discutido, mas, quanto à mudança de corpo, a pessoa deve preparar-se agora para a próxima vida. As pessoas tolas dão mais importância à atual vida temporária, daí os líderes tolos proporem melhoras que favorecem o corpo e as relações corpóreas. As relações corpóreas se estendem não apenas a este corpo, mas também a todos os membros familiares, esposa, filhos, sociedade, nação e tantos outros itens que terminam no fim da vida. Após a morte, a pessoa se esquece de todas as situações relacionadas com o corpo atual. À noite, quando vamos dormir, temos uma pequena experiência disso. Enquanto dormimos, nos esquecemos de tudo o que se refere a este corpo e às relações corpóreas, embora esse esquecimento seja uma situação temporária, que dura apenas algumas horas. A morte nada mais é do que dormir por alguns meses para que se possa depois cumprir outro período de aprisionamento corpóreo, que a lei da natureza nos concede de acordo com nossa aspiração. Portanto, tudo o que a pessoa precisa fazer é mudar de aspiração enquanto está neste corpo atual, para o que é necessário que se pratique na atual duração de vida humana. Pode-se começar esse treinamento em qualquer fase da vida, ou mesmo alguns segundos antes da morte, mas o procedimento costumeiro é que a pessoa comece o treinamento bem cedo na vida, desde a época de brahmacarya, e continue praticando-o enquanto gradualmente ingressa nas ordens de vida de ghastha, vānaprastha e sannyāsa. A instituição que dá esse treinamento se chama varṇāśrama-dharma, ou o sistema de sanātana-dharma, o melhor procedimento para tornar a vida humana perfeita. Portanto, recomenda-se que, aos cinquenta anos, ou talvez mais cedo, a pessoa abandone o apego à família ou à vida social e política e, nos āśramas de vānaprastha e de sannyāsa, aprenda a preparar-se para a próxima vida. Os materialistas tolos, disfarçados de líderes da população em geral, mergulham-se nos afazeres familiares, sem tentar nenhum rompimento com eles. Assim, tornam-se vítimas da lei da natureza e, de acordo com seu trabalho, voltam a obter corpos grosseiros. Ao chegar ao fim da vida, talvez esses líderes tolos recebam algum respeito da população, mas isso não significa que esses líderes estarão imunes às leis naturais, às quais todos estão fortemente amarrados pelas mãos e pelos pés. Portanto, a melhor atitude é abandonar voluntariamente as relações familiares, transferindo ao serviço devocional do Senhor o apego a família, sociedade, nação e todos os aspectos consequentes a isso. Nesta passagem, afirma-se que a pessoa deve abandonar todos os desejos de apego familiar. Ela deve aprender a cultivar desejos melhores; caso contrário, é muito difícil abandonar esses desejos mórbidos. O desejo é um fator inerente à entidade viva. A entidade viva é eterna, em consequência do que seus desejos, que são naturais ao ser vivo, também são eternos. Por isso, ninguém pode parar de desejar, mas é possível mudar o objeto que se deseja. Logo, a pessoa deve desenvolver o desejo de voltar ao lar, de voltar ao Supremo, e automaticamente os desejos de ganho, honra e popularidade materiais diminuirão em proporção ao desenvolvimento do serviço devocional. O ser vivo destina-se a prestar serviço, e seus desejos giram em torno dessa atitude de serviço. Começando do mais alto líder executivo do Estado e descendo até o insignificante pobre na rua, todos estão prestando algum tipo de serviço aos outros. A perfeição dessa atitude de serviço só é alcançada quando simplesmente se transfere ao espírito o desejo de prestar serviço a matéria, ou se transfere a Deus o desejo de prestar serviço a Satanás.