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Capítulo Quatorze

O Desaparecimento do Senhor Kṛṣṇa

Texto

sūta uvāca
samprasthite dvārakāyāṁ
jiṣṇau bandhu-didṛkṣayā
jñātuṁ ca puṇya-ślokasya
kṛṣṇasya ca viceṣṭitam

Sinônimos

sūtaḥ uvāca — Śrī Sūta Gosvāmī disse; samprasthite — tendo ido a; dvārakāyām — a cidade de Dvārakā; jiṣṇau — Arjuna; bandhu — amigos e parentes; didṛkṣayā — para encontrá-los; jñātum — para saber; ca — também; puṇya-ślokasya — daquele cujas glórias são cantadas pelos hinos védicos; kṛṣṇasya — do Senhor Kṛṣṇa; ca — e; viceṣṭitam — programas posteriores de trabalho.

Tradução

Śrī Sūta Gosvāmī disse: Arjuna foi até Dvārakā para ver o Senhor Śrī Kṛṣṇa e outros amigos e também para saber do Senhor sobre Suas próximas atividades.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma na Bhagavad-gītā, o Senhor desceu à Terra para a proteção dos fiéis e aniquilação dos impiedosos; desse modo, após a Guerra de Kurukṣetra e o estabelecimento de Mahārāja Yudhiṣṭhira, a missão do Senhor estava completa. Os Pāṇḍavas, especialmente Śrī Arjuna, eram companheiros eternos do Senhor, e, portanto, Arjuna foi até Dvārakā para ouvir do Senhor acerca de Seu próximo programa de trabalho.

Texto

vyatītāḥ katicin māsās
tadā nāyāt tato ’rjunaḥ
dadarśa ghora-rūpāṇi
nimittāni kurūdvahaḥ

Sinônimos

vyatītāḥ — após passarem; katicit — alguns; māsāḥ — meses; tadā — naquele tempo; na āyāt — não retornava; tataḥ — dali; arjunaḥ — Arjuna; dadarśa — observou; ghora — assustadores; rūpāṇi — aparições; nimittāni — várias causas; kuru-udvahaḥ — Mahārāja Yudhiṣṭhira.

Tradução

Passaram-se alguns meses e Arjuna não retornava. Então, Mahārāja Yudhiṣṭhira começou a observar alguns presságios inauspiciosos, que eram por si só assustadores.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Śrī Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, é ad infinitum, mais poderoso que o mais poderoso sol de que temos experiência. Milhões e bilhões de sóis são criados e aniquilados por Ele dentro de um período respiratório dEle. No mundo material, o sol é considerado como a fonte de toda a produtividade e energia material, e somente devido ao sol podemos satisfazer as necessidades da vida. Portanto, durante a presença pessoal do Senhor sobre a Terra, toda a parafernália para nossa paz e nossa prosperidade, especialmente religião e conhecimento, estavam em completa exibição por causa da presença do Senhor, assim como há uma completa inundação de luz na presença do sol refulgente. Mahārāja Yudhiṣṭhira observou algumas discrepâncias em seu reino e, portanto, ficou muito ansioso quanto a Arjuna, que há muito estava ausente, e também não havia notícias sobre o bem-estar em Dvārakā. Ele suspeitou do desaparecimento do Senhor Kṛṣṇa, pois, de outro modo, não haveria possibilidade de presságios assustadores.

Texto

kālasya ca gatiṁ raudrāṁ
viparyastartu-dharmiṇaḥ
pāpīyasīṁ nṛṇāṁ vārtāṁ
krodha-lobhānṛtātmanām

Sinônimos

kālasya — do tempo eterno; ca — também; gatim — direção; raudrām — assustador; viparyasta — revertidas; ṛtu — sazonais; dharmiṇaḥ — regularidades; pāpīyasīm — pecaminoso; nṛṇām — do ser humano; vārtām — meios de subsistência; krodha — ira; lobha — cobiça; anṛta — falsidade; ātmanām — das pessoas.

Tradução

Ele viu que a direção do tempo eterno havia mudado, e isso era aterrador. Havia distúrbios nas regularidades sazonais. As pessoas em geral tinham se tornado muito cobiçosas, iradas e traiçoeiras. E ele viu que elas estavam adotando meios desonrosos de subsistência.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando a civilização se desliga da relação amorosa com a Suprema Personalidade de Deus, sintomas como alteração na regularidade sazonal, meios infames de subsistência, cobiça, ira e fraudulência tornam-se proeminentes. A alteração na regularidade sazonal refere-se à atmosfera de uma estação manifestando-se em outra estação – por exemplo, a estação das chuvas transferida para o outono, ou a frutificação de frutos e flores transferida de uma para outra estação. Um homem ateu é invariavelmente cobiçoso, irado e fraudulento. Um homem assim pode ganhar a vida por quaisquer meios, decentes ou desonrosos. Durante o reino de Mahārāja Yudhiṣṭhira, todos os sintomas acima eram notáveis por sua ausência. Porém, Mahārāja Yudhiṣṭhira ficou atônito ao experimentar mesmo uma leve mudança na atmosfera divina de seu reino, e suspeitou imediatamente do desaparecimento do Senhor. Meios infames de subsistência implicam em desvios de nossos deveres ocupacionais. Há deveres prescritos para todos, tais como os brāhmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras, mas qualquer pessoa que se desvie de seu dever prescrito e declare que o dever de outrem é seu, está seguindo um dever infame e impróprio. Um homem torna-se excessivamente cobiçoso de riqueza e poder quando não tem objetivo superior na vida e quando pensa que esta vida terrena de alguns anos é tudo que existe. A ignorância é a causa de todas essas anomalias na sociedade humana, e, para eliminar essa ignorância, especialmente nesta era de degradação, existe o poderoso sol, a distribuir luz sob a forma do Śrīmad-Bhāgavatam.

Texto

jihma-prāyaṁ vyavahṛtaṁ
śāṭhya-miśraṁ ca sauhṛdam
pitṛ-mātṛ-suhṛd-bhrātṛ-
dam-patīnāṁ ca kalkanam

Sinônimos

jihma-prāyam — trapaças; vyavahṛtam — em todas as transações ordinárias; śāṭhya — duplicidade; miśram — adulteradas em; ca — e; sauhṛdam — a respeito de benquerentes amistosos; pitṛ — pai; mātṛ — a respeito da mãe; suhṛt — benquerentes; bhrātṛ — o próprio irmão; dam-patīnām — a respeito de esposo e esposa; ca — também; kalkanam — desavença mútua.

Tradução

Todas as transações e tratos ordinários tornaram-se poluídos com trapaças, mesmo entre amigos. E, nos afazeres familiares, sempre havia desentendimento entre pais, mães e filhos, entre benquerentes e entre irmãos. Mesmo entre esposo e esposa, sempre havia tensão e desavença.

Comentário

SIGNIFICADO—Todo ser vivo condicionado é dotado de quatro princípios de maus hábitos, a saber, erros, insanidade, incapacidade e trapaça. Esses são sinais de imperfeição, e, entre os quatro, a propensão a enganar os outros é o mais proeminente. E essa propensão a enganar existe nas almas condicionadas porque as almas condicionadas estão primariamente no mundo material imbuídas de um desejo antinatural de assenhorear-se do mundo material. Um ser vivo em seu estado puro não é condicionado pelas leis porque, em seu estado puro, ele é consciente de que todo ser vivo é eternamente subserviente ao Ser Supremo e, desse modo, é bom para ele permanecer sempre subserviente, ao invés de tentar falsamente se assenhorear da propriedade do Senhor Supremo. No estado condicionado, o ser vivo não fica satisfeito mesmo que realmente se torne o senhor de tudo que contempla, coisa que jamais consegue, e, portanto, ele se torna vítima de todos os tipos de trapaça, mesmo em suas relações mais íntimas e estreitas. Em tal estado insatisfatório de relacionamentos, não há harmonia nem mesmo entre pai e filho, ou entre esposo e esposa. Mas todas essas dificuldades conflitantes podem ser mitigadas por um processo, e esse é o serviço devocional ao Senhor. O mundo de hipocrisia só pode ser subjugado pela neutralização através do serviço devocional ao Senhor, e por nada mais. Mahārāja Yudhiṣṭhira, tendo observado todas as disparidades, conjeturou que o Senhor teria desaparecido da Terra.

Texto

nimittāny atyariṣṭāni
kāle tv anugate nṛṇām
lobhādy-adharma-prakṛtiṁ
dṛṣṭvovācānujaṁ nṛpaḥ

Sinônimos

nimittāni — causas; ati — muito sérias; ariṣṭāni — maus presságios; kāle — no decorrer do tempo; tu — mas; anugate — desaparecendo; nṛṇām — da humanidade em geral; lobha-ādi — tais como a cobiça; adharma — irreligiosos; prakṛtim — hábitos; dṛṣṭvā — tendo observado; uvāca — disse; anujam — irmão mais novo; nṛpaḥ — o rei.

Tradução

No decorrer do tempo, ocorreu que as pessoas em geral se acostumaram à cobiça, à ira, ao orgulho etc. Mahārāja Yudhiṣṭhira, observando todos esses presságios, falou com seu irmão mais novo.

Comentário

SIGNIFICADO—Um rei piedoso como Mahārāja Yudhiṣṭhira se perturbou imediatamente quando surgiram sintomas desumanos como cobiça, ira, irreligiosidade e hipocrisia evidentes na sociedade. A partir dessa afirmação, depreende-se que todos esses sintomas de uma sociedade degradada eram desconhecidos pelas pessoas daquela época, e, para elas, era assustador experimentarem isso com o advento de Kali-yuga, ou a era de desavenças.

Texto

yudhiṣṭhira uvāca
sampreṣito dvārakāyāṁ
jiṣṇur bandhu-didṛkṣayā
jñātuṁ ca puṇya-ślokasya
kṛṣṇasya ca viceṣṭitam

Sinônimos

yudhiṣṭhiraḥ uvāca — Mahārāja Yudhiṣṭhira disse; sampreṣitaḥ — foi a; dvārakāyām — Dvārakā; jiṣṇuḥ — Arjuna; bandhu — amigos; didṛkṣayā — com o propósito de encontrar; jñātum — para saber; ca — também; puṇya-ślokasya — da Personalidade de Deus; kṛṣṇasya — do Senhor Śrī Kṛṣṇa; ca — e; viceṣṭitam — programa de trabalho.

Tradução

Mahārāja Yudhiṣṭhira disse a seu irmão mais novo, Bhīmasena: Eu enviei Arjuna a Dvārakā para se encontrar com seus amigos e para saber da Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, sobre Seu programa de trabalho.

Texto

gatāḥ saptādhunā māsā
bhīmasena tavānujaḥ
nāyāti kasya vā hetor
nāhaṁ vededam añjasā

Sinônimos

gatāḥ — partiu; sapta — sete; adhunā — até esta data; māsāḥ — meses; bhīmasena — ó Bhīmasena; tava — teu; anujaḥ — irmão mais novo; na — não; āyāti — retornou; kasya — por que; — ou; hetoḥ — razão; na — não; aham — eu; veda — sei; idam — isso; añjasā — de fato.

Tradução

Já se passaram sete meses desde que ele partiu, apesar do que ele ainda não retornou. De fato, não sei como vão as coisas por lá.

Texto

api devarṣiṇādiṣṭaḥ
sa kālo ’yam upasthitaḥ
yadātmano ’ṅgam ākrīḍaṁ
bhagavān utsisṛkṣati

Sinônimos

api — por acaso; deva-ṛṣiṇā — pelo semideus-santo (Nārada); ādiṣṭaḥ — instruiu; saḥ — aquele; kālaḥ — tempo eterno; ayam — este; upasthitaḥ — chegado; yadā — quando; ātmanaḥ — de Si mesmo; aṅgam — porção plenária; ākrīḍam — manifestação; bhagavān — a Personalidade de Deus; utsisṛkṣati — está por abandonar.

Tradução

Ele estaria abandonando Seus passatempos terrestres, como Devarṣi Nārada indicou? Já teria chegado esse momento?

Comentário

SIGNIFICADO—Como já discutimos muitas vezes, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, tem muitas expansões plenárias, e toda e cada uma delas, embora igualmente poderosas, executam diferentes funções. Na Bhagavad-gītā, há diferentes afirmações feitas pelo Senhor, e cada uma dessas afirmações se refere a diferentes porções plenárias ou porções das porções plenárias. Por exemplo, Śrī Kṛṣṇa, o Senhor, diz na Bhagavad-gītā:

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ódescendente de Bhārata, e uma ascensão predominante de irreligião, Eu próprio desço.” (Bhagavad-gītā 4.7)

“Para libertar os fiéis, para aniquilar os canalhas bem como para restabelecer os princípios do dever ocupacional, Eu apareço em todas as eras.” (Bhagavad-gītā 4.8)

“Se Eu deixasse de trabalhar, toda a humanidade seria desorientada. Eu também seria a causa da criação de população indesejada e, desse modo, destruiria a paz de todos os seres sencientes.” (Bhagavad-gītā 3.24)

“Qualquer ação que um grande homem execute, os homens comuns seguirão. E sejam quais forem as normas por ele estabelecidas através de atos exemplares, o mundo inteiro seguirá.” (Bhagavad-gītā 3.21)

Todas as afirmações feitas acima pelo Senhor aplicam-se a diferentes porções plenárias do Senhor, a saber, Suas expansões tais como Saṅkarṣaṇa, Vāsudeva, Pradyumna, Aniruddha e Nārāyaṇa. Todas essas são Ele mesmo, em diferentes expansões transcendentais, e, ainda assim, o Senhor, como Śrī Kṛṣṇa, atua em uma esfera diferente de intercâmbio transcendental com diferentes graus de devotos. E, todavia, o Senhor Kṛṣṇa, como Ele é, aparece uma vez em cada vinte e quatro horas do tempo de Brahmā (ou após um lapso de 8.640.000.000 de anos solares) em cada universo, e todos os Seus passatempos transcendentais são exibidos em cada universo, num desenrolar rotineiro. Porém, nesse desenrolar rotineiro, as funções do Senhor Kṛṣṇa, do Senhor Vāsudeva etc., são problemas complexos para os leigos. Não há diferença entre o eu do Senhor e o corpo transcendental do Senhor. As expansões executam atividades diferenciadas. Quando o Senhor, contudo, aparece em pessoa como o Senhor Śrī Kṛṣṇa, Suas outras porções plenárias também se unem a Ele através de Sua potência inconcebível chamada yogamāyā, e, por conseguinte, o Senhor Śrī Kṛṣṇa de Vṛndāvana é diferente do Senhor Kṛṣṇa de Mathurā, ou do Senhor Kṛṣṇa de Dvārakā. O virāṭ-rūpa do Senhor Kṛṣṇa também é diferente dEle, por causa de Sua potência inconcebível. O virāṭ-rūpa exibido no Campo de Batalha de Kurukṣetra é a concepção material de Sua forma. Portanto, deve-se entender que quando o Senhor Kṛṣṇa foi aparentemente morto pelo arco e flecha de um caçador, o Senhor deixou Seu dito corpo material no mundo material. O Senhor é kaivalya, e, para Ele, não há diferença entre matéria e espírito porque tudo é criado a partir dEle. Portanto, Seu abandono de um tipo de corpo ou aceitação de outro corpo não significam que Ele é como o ser vivo comum. Todas essas atividades são simultaneamente iguais e diferentes através de Sua potência inconcebível. Quando Mahārāja Yudhiṣṭhira estava lamentando a possibilidade de Seu desaparecimento, isso era simplesmente para seguir o costume de lamentar o desaparecimento de um grande amigo, mas, de fato, o Senhor nunca abandona Seu corpo transcendental, como concebem erroneamente as pessoas menos inteligentes. Essas pessoas menos inteligentes são condenadas pelo próprio Senhor na Bhagavad-gītā e são conhecidas como mūḍhas. Que o Senhor deixou Seu corpo significa que Ele deixou novamente Suas porções plenárias nos respectivos dhāmas (moradas transcendentais), assim como deixou Seu virāṭ-rūpa no mundo material.

Texto

yasmān naḥ sampado rājyaṁ
dārāḥ prāṇāḥ kulaṁ prajāḥ
āsan sapatna-vijayo
lokāś ca yad-anugrahāt

Sinônimos

yasmāt — de quem; naḥnossa; sampadaḥ — opulência; rājyam — reino; dārāḥ — boas esposas; prāṇāḥ — existência da vida; kulam — dinastia; prajāḥ — súditos; āsan — têm-se tornado possíveis; sapatna — competidores; vijayaḥ — conquistas; lokāḥ — futura acomodação nos planetas superiores; ca — e; yat — por cuja; anugrahāt — pela misericórdia de.

Tradução

É unicamente devido a Ele que toda a nossa opulência real, boas esposas, vidas, progênie, controle sobre nossos súditos, vitória sobre nossos inimigos e acomodações futuras nos planetas superiores têm-se tornado possíveis. Tudo isso se deve à Sua misericórdia sem causa para conosco.

Comentário

SIGNIFICADO—A prosperidade material consiste em boa esposa, bom lar, terra suficiente, bons filhos, relações familiares aristocráticas, vitória sobre os competidores e, através do trabalho piedoso, obtenção de acomodações nos planetas celestiais superiores para melhores facilidades de amenidades materiais. Essas facilidades são ganhas não apenas pelo duro trabalho manual de uma pessoa, ou por meios ilícitos, mas pela misericórdia do Senhor. A prosperidade que se ganha pelo próprio esforço pessoal também depende da misericórdia do Senhor. Além da bênção do Senhor, deve haver o esforço pessoal, mas, sem a bênção do Senhor, ninguém é bem-sucedido pelo simples esforço pessoal. O homem modernizado de Kali-yuga acredita no esforço pessoal e nega a bênção do Senhor Supremo. Mesmo um grande sannyāsī da Índia, que proferiu palestras em Chicago, protestou contra as bênçãos do Senhor Supremo. Mas, no que diz respeito aos śāstras védicos, como encontramos nas páginas do Śrīmad-Bhāgavatam, a sanção final para todo o sucesso repousa nas mãos do Senhor Supremo. Mahārāja Yudhiṣṭhira admite essa verdade em seu sucesso pessoal, e convém que sigamos os passos de um grande rei e devoto do Senhor para fazermos de nossa vida um completo êxito. Se alguém pudesse alcançar sucesso sem a sanção do Senhor, nenhum médico deixaria de curar um paciente. Apesar do mais avançado tratamento de um paciente enfermo, feito pelo médico mais atualizado, ocorre a morte, e, mesmo no caso mais desesperançado, sem nenhum tratamento médico, outro paciente é espantosamente curado. Portanto, a conclusão é que a sanção do Senhor é a causa imediata de todos os acontecimentos, bons ou ruins. Qualquer homem bem-sucedido deveria sentir-se agradecido ao Senhor por tudo que obteve.

Texto

paśyotpātān nara-vyāghra
divyān bhaumān sadaihikān
dāruṇān śaṁsato ’dūrād
bhayaṁ no buddhi-mohanam

Sinônimos

paśya — vê só; utpātān — distúrbios; nara-vyāghra — ó homem de força semelhante à do tigre; divyān — acontecimentos no céu ou por influência planetária; bhaumān — acontecimentos sobre a Terra; sa-daihikān — acontecimentos do corpo e da mente; dāruṇān — demasiadamente perigosos; śaṁsataḥ — indicando; adūrāt — no futuro próximo; bhayam — perigo; naḥ — nossa; buddhi — inteligência; mohanam — iludindo.

Tradução

Vê só, ó possuidor da força de um tigre, quantas misérias decorrentes das influências celestes, reações terrestres e dores corpóreas – todas muito perigosas em si mesmas – estão prenunciando um perigo em um futuro próximo, iludindo nossa inteligência.

Comentário

SIGNIFICADO—Avanço material da civilização significa avanço das reações das três espécies de misérias, decorrentes de influência celeste, de reações terrestres e de dores corpóreas ou mentais. Através da influência celeste das estrelas, há muitas calamidades, como calor excessivo, frio, chuvas e secas, e os efeitos posteriores são fome, doenças e epidemias. O resultado total é a agonia do corpo e da mente. A ciência material feita pelo homem não pode fazer nada para neutralizar essas três espécies de misérias. Todas elas são punições da energia superior de māyā, sob a direção do Senhor Supremo. Portanto, nosso contato constante com o Senhor, através do serviço devocional, pode aliviar-nos sem que sejamos perturbados no desempenho de nossos deveres humanos. Os asuras, contudo, que não acreditam na existência de Deus, fazem seus próprios planos para neutralizar essas três espécies de misérias e, desse modo, eles estão sempre fracassando. A Bhagavad-gītā (7.14) afirma claramente que a reação da energia material nunca pode ser conquistada, por causa dos efeitos opressivos dos três modos. Eles podem ser simplesmente superados por alguém que se renda plenamente, com devoção, aos pés de lótus do Senhor.

Texto

ūrv-akṣi-bāhavo mahyaṁ
sphuranty aṅga punaḥ punaḥ
vepathuś cāpi hṛdaye
ārād dāsyanti vipriyam

Sinônimos

ūru — coxas; akṣi — olhos; bāhavaḥ — os braços; mahyam — em meus; sphuranti — tremendo; aṅga — lado esquerdo do corpo; punaḥ punaḥ — repetidamente; vepathuḥ — palpitações; ca — também; api — certamente; hṛdaye — no coração; ārāt — devido ao medo; dāsyanti — indicando; vipriyam — indesejáveis.

Tradução

O lado esquerdo do meu corpo, minhas coxas, meus braços e meus olhos estão todos tremendo repetidamente. Estou tendo palpitações cardíacas devido ao medo. Tudo isso indica acontecimentos indesejáveis.

Comentário

SIGNIFICADO—A existência material é cheia de coisas indesejáveis. Coisas que não queremos nos são impostas por alguma energia superior, e não vemos que essas coisas indesejáveis estão sob o jugo dos três modos da natureza material. Quando os olhos, braços e coxas de um homem tremem constantemente, deve-se saber que algo indesejável está para acontecer. Essas coisas indesejáveis são comparadas ao incêndio na floresta. Ninguém vai à floresta para atear fogo, mas o incêndio ocorre automaticamente, criando calamidades inconcebíveis para os seres vivos da floresta. Esse incêndio não pode ser extinto por quaisquer esforços humanos. O fogo só pode ser extinto pela misericórdia do Senhor, que envia nuvens para derramar água sobre a floresta. De forma similar, os acontecimentos indesejáveis na vida não podem ser detidos por qualquer número de planos. Essas misérias só podem ser eliminadas pela misericórdia do Senhor, que envia Seus representantes fidedignos para iluminar os seres humanos e, desse modo, salvá-los de todas as calamidades.

Texto

śivaiṣodyantam ādityam
abhirauty analānanā
mām aṅga sārameyo ’yam
abhirebhaty abhīruvat

Sinônimos

śivā — chacal; eṣā — este; udyantam — nascendo; ādityam — ao Sol; abhi — em direção a; rauti — chorando; anala — fogo; ānanā — face; mām — a mim; aṅga — ó Bhīma; sārameyaḥ — cão; ayam — este; abhirebhati — late para; abhīru-vat — sem medo.

Tradução

Vê só, ó Bhīma, como a fêmea do chacal chora ao nascer do Sol e vomita fogo, e como o cão late para mim destemidamente.

Comentário

SIGNIFICADO—Esses são alguns maus presságios indicando algo indesejável em um futuro próximo.

Texto

śastāḥ kurvanti māṁ savyaṁ
dakṣiṇaṁ paśavo ’pare
vāhāṁś ca puruṣa-vyāghra
lakṣaye rudato mama

Sinônimos

astāḥ — animais úteis como a vaca; kurvanti — estão mantendo; mām — mim; savyam — à esquerda; dakṣiṇam — circungirando; paśavaḥ apare — outros animais inferiores como os asnos; vāhān — os cavalos (carregadores); ca — também; puruṣa-vyāghra — ó tigre entre os homens; lakṣaye — eu vejo; rudataḥ — chorando; mama — da minha.

Tradução

Ó Bhīmasena, tigre entre os homens, agora animais úteis, como as vacas, estão passando por mim pelo meu lado esquerdo, e animais inferiores, como os asnos, estão me circungirando. Meus cavalos parecem chorar ao me verem.

Texto

mṛtyu-dūtaḥ kapoto ’yam
ulūkaḥ kampayan manaḥ
pratyulūkaś ca kuhvānair
viśvaṁ vai śūnyam icchataḥ

Sinônimos

mṛtyu — morte; dūtaḥ — mensageiro da; kapotaḥ — pombo; ayam — este; ulūkaḥ — coruja; kampayan — tremendo; manaḥ — mente; pratyulūkaḥ — os rivais das corujas (corvos); ca — e; kuhvānaiḥ — grito estridente; viśvam — o cosmo; vai — ou; śūnyam — nada; icchataḥ — desejando.

Tradução

Vê só! Este pombo é como um mensageiro da morte. Os guinchos das corujas e de seus rivais, os corvos, fazem meu coração tremer. Parece que eles querem fazer de todo o universo um nada.

Texto

dhūmrā diśaḥ paridhayaḥ
kampate bhūḥ sahādribhiḥ
nirghātaś ca mahāṁs tāta
sākaṁ ca stanayitnubhiḥ

Sinônimos

dhūmrāḥ — fumarento; diśaḥ — todas as direções; paridhayaḥ — envolvimento; kampate — pulsação; bhūḥ — a terra; saha adribhiḥ — juntamente com as colinas e montanhas; nirghātaḥ — relâmpagos do azul; ca — também; mahān — muito grande; tāta — ó Bhīma; sākam — junto; ca — também; stanayitnubhiḥ — som trovejante sem nenhuma nuvem.

Tradução

Vê só como a fumaça envolve o céu. Parece que a terra e as montanhas estão pulsando. Ouve só o trovão sem nuvens e vê os relâmpagos no céu azul.

Texto

vāyur vāti khara-sparśo
rajasā visṛjaṁs tamaḥ
asṛg varṣanti jaladā
bībhatsam iva sarvataḥ

Sinônimos

vāyuḥ — vento; vāti — soprando; khara-sparśaḥ — violentamente; rajasā — pela poeira; visṛjan — criando; tamaḥ — escuridão; asṛk — sangue; varṣanti — estão chovendo; jaladāḥ — as nuvens; bībhatsam — desastrosas; iva — como; sarvataḥ — em toda parte.

Tradução

O vento sopra violentamente, esparramando poeira por toda parte e criando escuridão. As nuvens estão chovendo em todo lugar, provocando desastres sangrentos.

Texto

sūryaṁ hata-prabhaṁ paśya
graha-mardaṁ mitho divi
sasaṅkulair bhūta-gaṇair
jvalite iva rodasī

Sinônimos

sūryam — o Sol; hata-prabham — seus raios declinando; paśya — vê só; graha-mardam — colisões das estrelas; mithaḥ — entre si; divi — no céu; sa-saṅkulaiḥ — estando misturadas com; bhūta-gaṇaiḥ — pelas entidades vivas; jvalite — sendo aceso; iva — como se; rodasī — chorando.

Tradução

Os raios do Sol estão declinando, e as estrelas parecem estar lutando entre si. Entidades vivas confusas parecem estar ardendo em chamas e chorando.

Texto

nadyo nadāś ca kṣubhitāḥ
sarāṁsi ca manāṁsi ca
na jvalaty agnir ājyena
kālo ’yaṁ kiṁ vidhāsyati

Sinônimos

nadyaḥ — rios; nadāḥ ca — e os afluentes; kṣubhitāḥ — todos perturbados; sarāṁsi — reservatórios de água; ca — e; manāṁsi — a mente; ca — também; na — não; jvalati — acende; agniḥ — fogo; ājyena — com o auxílio da manteiga; kālaḥ — o tempo; ayam — extraordinário é este; kim — que; vidhāsyati — acontecerá.

Tradução

Os rios, afluentes, represas, reservatórios e a mente estão todos perturbados. A manteiga já não alimenta o fogo. Que tempo extraordinário é este? O que acontecerá?

Texto

na pibanti stanaṁ vatsā
na duhyanti ca mātaraḥ
rudanty aśru-mukhā gāvo
na hṛṣyanty ṛṣabhā vraje

Sinônimos

na — não; pibanti — sugam; stanam — peito; vatsāḥ — os bezerros; na — não; duhyanti — permitem ordenha; ca — também; mātaraḥ — as vacas; rudanti — chorando; aśru-mukhāḥ — com um rosto lacrimejante; gāvaḥ — as vacas; na — não; hṛṣyanti — sentem prazer; ṛṣabhāḥ — os touros; vraje — nos campos de pastagem.

Tradução

Os bezerros não sugam as tetas das vacas, tampouco as vacas dão leite. Elas estão paradas, chorando, com lágrimas nos olhos, e os touros não sentem prazer nos campos de pastagem.

Texto

daivatāni rudantīva
svidyanti hy uccalanti ca
ime jana-padā grāmāḥ
purodyānākarāśramāḥ
bhraṣṭa-śriyo nirānandāḥ
kim aghaṁ darśayanti naḥ

Sinônimos

daivatāni — as Deidades nos templos; rudanti — parecem estar chorando; iva — assim; svidyanti — transpirando; hi — certamente; uccalanti — como se estivessem de partida; ca — também; ime — essas; jana-padāḥ — cidades; grāmāḥ — vilas; pura — municípios; udyāna — jardins; ākara — minas; āśramāḥ — eremitérios etc.; bhraṣṭa — desprovidos de; śriyaḥ — beleza; nirānandāḥ — destituídos de toda felicidade; kim — que espécies de; agham — calamidades; darśayanti — hão de se manifestar; naḥ — a nós.

Tradução

As Deidades parecem estar chorando no templo, lamentando-Se e transpirando. Parece que estão a ponto de partir. Todas as cidades, vilas, municípios, jardins, minas e eremitérios agora estão desprovidos de beleza e privados de toda felicidade. Eu não sei que espécies de calamidades nos esperam agora.

Texto

manya etair mahotpātair
nūnaṁ bhagavataḥ padaiḥ
ananya-puruṣa-śrībhir
hīnā bhūr hata-saubhagā

Sinônimos

manye — tenho certeza; etaiḥ — por todos esses; mahā — grandes; utpātaiḥ — revoltas; nūnam — por falta de; bhagavataḥ — da Personalidade de Deus; padaiḥ — as marcas na sola do pé; ananya — extraordinárias; puruṣa — da Personalidade Suprema; śrībhiḥ — pelos sinais auspiciosos; hīnā — desempossada; bhūḥ — a Terra; hatasaubhagā – sem a fortuna.

Tradução

Creio que todos esses distúrbios terrestres indicam uma grande perda para a boa fortuna do mundo. O mundo foi afortunado por ter sido marcado com as impressões dos pés de lótus do Senhor. Esses sinais indicam que isso não mais acontecerá.

Texto

iti cintayatas tasya
dṛṣṭāriṣṭena cetasā
rājñaḥ pratyāgamad brahman
yadu-puryāḥ kapi-dhvajaḥ

Sinônimos

iti — assim; cintayataḥ — enquanto pensava consigo mesmo; tasya — ele; dṛṣṭā — observando; ariṣṭena — maus presságios; cetasā — pela mente; rājñaḥ — o rei; prati — de volta; āgamat — veio; brahman — ó brāhmaṇa; yadu-puryāḥ — do reino dos Yadus; kapidhvajaḥ – Arjuna.

Tradução

Ó brāhmaṇa Śaunaka, enquanto Mahārāja Yudhiṣṭhira, observando os sinais inauspiciosos sobre a Terra naquela ocasião, pensava assim consigo mesmo, Arjuna voltou da cidade dos Yadus [Dvārakā].

Texto

taṁ pādayor nipatitam
ayathā-pūrvam āturam
adho-vadanam ab-bindūn
sṛjantaṁ nayanābjayoḥ

Sinônimos

tam — a ele (Arjuna); pādayoḥ — aos pés; nipatitam — prostrando-se; ayathā-pūrvam — sem precedentes; āturam — deprimido; adhaḥ-vadanam — rosto voltado para baixo; ap-bindūn — gotas de água; sṛjantam — criando; nayanaabjayoḥ – dos olhos semelhantes ao lótus.

Tradução

Quando ele se prostrou a seus pés, o rei viu que sua agonia não tinha precedentes. Sua cabeça estava pendida e lágrimas deslizavam de seus olhos de lótus.

Texto

vilokyodvigna-hṛdayo
vicchāyam anujaṁ nṛpaḥ
pṛcchati sma suhṛn madhye
saṁsmaran nāraderitam

Sinônimos

vilokya — vendo; udvigna — ansioso; hṛdayaḥ — coração; vicchāyam — aparência pálida; anujam — Arjuna; nṛpaḥ — o rei; pṛcchati sma — perguntou; suhṛt — amigos; madhye — entre; saṁsmaran — lembrando; nārada — sábio Nārada; īritam — indicado pelo.

Tradução

Vendo Arjuna pálido devido às ansiedades de seu coração, o rei, lembrando-se das indicações do sábio Nārada, fez-lhe perguntas em meio aos amigos.

Texto

yudhiṣṭhira uvāca
kaccid ānarta-puryāṁ naḥ
sva-janāḥ sukham āsate
madhu-bhoja-daśārhārha-
sātvatāndhaka-vṛṣṇayaḥ

Sinônimos

yudhiṣṭhiraḥ uvāca — Yudhiṣṭhira disse; kaccit — se; ānartapuryām – de Dvārakā; naḥ — nossos; svajanāḥ – parentes; sukham — alegremente; āsate — estão passando seus dias; madhu — Madhu; bhoja — Bhoja; daśārha — Daśārha; arha — Arha; sātvata — Sātvata; andhaka — Andhaka; vṛṣṇayaḥ — da família de Vṛṣṇi.

Tradução

Mahārāja Yudhiṣṭhira disse: Meu querido irmão, por favor, dize-me se nossos amigos e parentes, tais como Madhu, Bhoja, Daśārha, Ārha, Sātvata, Andhaka e os membros da família Yadu estão todos passando seus dias com alegria.

Texto

śūro mātāmahaḥ kaccit
svasty āste vātha māriṣaḥ
mātulaḥ sānujaḥ kaccit
kuśaly ānakadundubhiḥ

Sinônimos

śūraḥ — Śūrasena; mātāmahaḥ — avô materno; kaccit — acaso; svasti — todos bem; āste — passando seus dias; — ou; atha — portanto; māriṣaḥ — respeitável; mātulaḥ — tio materno; saanujaḥ – com seus irmãos mais novos; kaccit — se; kuśalī — todos bem; ānakadundubhiḥ – Vasudeva.

Tradução

Meu respeitável avô Śūrasena está feliz? E meu tio materno Vasudeva e seus irmãos mais novos estão todos passando bem?

Texto

sapta sva-sāras tat-patnyo
mātulānyaḥ sahātmajāḥ
āsate sasnuṣāḥ kṣemaṁ
devakī-pramukhāḥ svayam

Sinônimos

sapta — sete; sva-sāraḥ — próprias irmãs; tat-patnyaḥ — suas esposas; mātulānyaḥ — tias maternas; saha — juntamente com; ātmajāḥ – filhos e netos; āsate — estão todos; sasnuṣāḥ — com suas noras; kṣemam — felicidade; devakī — Devakī; pramukhāḥ — encabeçadas por; svayam — pessoalmente.

Tradução

Suas sete esposas, encabeçadas por Devakī, são todas irmãs. Elas e seus filhos e noras estão todos felizes?

Texto

kaccid rājāhuko jīvaty
asat-putro ’sya cānujaḥ
hṛdīkaḥ sasuto ’krūro
jayanta-gada-sāraṇāḥ
āsate kuśalaṁ kaccid
ye ca śatrujid-ādayaḥ
kaccid āste sukhaṁ rāmo
bhagavān sātvatāṁ prabhuḥ

Sinônimos

kaccit — acaso; rājā — o rei; āhukaḥ — outro nome de Ugrasena; jīvati — ainda vivem; asat — perverso; putraḥ — filho; asya — seu; ca — também; anujaḥ — irmão mais novo; hṛdīkaḥ — Hṛdīka; sa-sutaḥ — juntamente com seu filho, Kṛtavarmā; akrūraḥ — Akrūra; jayanta — Jayanta; gada — Gada; sāraṇāḥ — Sāraṇa; āsate — todos eles estão; kuśalam — em felicidade; kaccit — acaso; ye — eles; ca — também; śatrujit — Śatrujit; ādayaḥ — encabeçados por; kaccit — acaso; āste — eles estão; sukham — tudo bem; rāmaḥ — Balarāma; bhagavān — a Personalidade de Deus; sātvatām — dos devotos; prabhuḥ — protetor.

Tradução

Ugrasena, cujo filho era o perverso Kaṁsa, e seu irmão mais novo ainda vivem? Hṛdīka e seu filho Kṛtavarmā estão felizes? Akrūra, Jayanta, Gada, Sāraṇa e Śatrujit estão todos felizes? Como está Balarāma, a Personalidade de Deus e o protetor dos devotos?

Comentário

SIGNIFICADO—Hastināpura, a capital dos Pāṇḍavas, estava situada em algum lugar próximo da atual Nova Delhi, e o reino de Ugrasena estava situado em Mathurā. Enquanto retornava de Dvārakā para Delhi, Arjuna devia ter visitado a cidade de Mathurā, e, portanto, a pergunta sobre o rei de Mathurā é válida. Entre vários nomes dos parentes, o nome de Rāma, ou Balarāma, o irmão mais velho do Senhor Kṛṣṇa, é acrescentado com as palavras “a Personalidade de Deus” porque o Senhor Balarāma é a expansão imediata do viṣṇu-tattva como prakāśa-vigraha do Senhor Kṛṣṇa. O Senhor Supremo, embora único e incomparável, expande-Se como muitos outros seres vivos. Os seres vivos viṣṇu-tattva são expansões do Senhor Supremo, e todos eles são qualitativa e quantitativamente iguais ao Senhor. Mas as expansões da jīva-śakti, a categoria dos seres vivos comuns, não são iguais ao Senhor de modo algum. Aquele que considera a jīva-śakti e o viṣṇu-tattva como estando em nível de igualdade é considerado uma alma condenada do mundo. Śrī Rāma, ou Balarāma, é o protetor dos devotos do Senhor. Baladeva age como mestre espiritual de todos os devotos, e, por Sua misericórdia sem causa, as almas caídas são salvas. Śrī Baladeva apareceu como Śrī Nityānanda Prabhu durante o advento do Senhor Caitanya, e o grande Senhor Nityānanda Prabhu exibiu Sua misericórdia sem causa ao libertar uma dupla de almas extremamente caídas, chamadas Jagāi e Mādhāi. Portanto, aqui se menciona particularmente que Balarāma é o protetor dos devotos do Senhor. Somente por Sua divina graça podemos aproximar-nos do Supremo Senhor Śrī Kṛṣṇa, de maneira que Śrī Balarāma é a encarnação da misericórdia do Senhor, manifestada como o mestre espiritual, o salvador dos devotos puros.

Texto

pradyumnaḥ sarva-vṛṣṇīnāṁ
sukham āste mahā-rathaḥ
gambhīra-rayo ’niruddho
vardhate bhagavān uta

Sinônimos

pradyumnaḥ — Pradyumna (um filho do Senhor Kṛṣṇa); sarva — todos; vṛṣṇīnām — dos membros da família Vṛṣṇi; sukham — felicidade; āste — estão em; mahā-rathaḥ — o grande general; gambhīra — profundamente; rayaḥ — destreza; aniruddhaḥ — Aniruddha (um neto do Senhor Kṛṣṇa); vardhate — prosperando; bhagavān — a Personalidade de Deus; uta — deve.

Tradução

Como está Pradyumna, o grande general da família Vṛṣṇi? Ele está feliz? E Aniruddha, a expansão plenária da Personalidade de Deus, está passando bem?

Comentário

SIGNIFICADO—Pradyumna e Aniruddha também são expansões da Personalidade de Deus e, desse modo, também são viṣṇu-tattva. Em Dvārakā, o Senhor Vāsudeva está ocupado em Seus passatempos transcendentais, juntamente com Suas expansões plenárias, a saber, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha, e, portanto, cada uma dElas pode ser tratada como a Personalidade de Deus, como se menciona em relação ao nome Aniruddha.

Texto

suṣeṇaś cārudeṣṇaś ca
sāmbo jāmbavatī-sutaḥ
anye ca kārṣṇi-pravarāḥ
saputrā ṛṣabhādayaḥ

Sinônimos

suṣeṇaḥ — Suṣeṇa; cārudeṣṇaḥ — Cārudeṣṇa; ca — e; sāmbaḥ — Sāmba; jāmbavatīsutaḥ – o filho de Jāmbavatī; anye — outros; ca — também; kārṣṇi — os filhos do Senhor Kṛṣṇa; pravarāḥ — todos os principais; sa-putrāḥ — juntamente com seus filhos; ṛṣabha — Ṛṣabha; ādayaḥ — etc.

Tradução

Todos os principais filhos do Senhor Kṛṣṇa, tais como Suṣeṇa; Cārudeṣṇa; Sāmba, o filho de Jāmbavatī, e Ṛṣabha, juntamente com seus filhos, estão todos bem?

Comentário

SIGNIFICADO—Como já se mencionou, o Senhor Kṛṣṇa casou-Se com 16.108 esposas, e cada uma delas teve dez filhos. Portanto, 16.108 x 10 = 161.080 filhos. Todos eles cresceram e cada um deles teve tantos filhos quanto o pai, e todo o agregado era algo próximo de 1.610.800 membros familiares do Senhor. O Senhor é o pai de todos os seres vivos, que são incontáveis em número; por isso, somente alguns deles são chamados para se associarem com o Senhor em Seus passatempos transcendentais sobre esta Terra, como o Senhor de Dvārakā. Não surpreende que o Senhor mantivesse uma família visível consistindo em tantos membros. É melhor nos abstermos de comparar a posição do Senhor com a nossa, e isso se torna uma verdade simples logo que entendemos pelo menos um cálculo parcial da posição transcendental do Senhor. O rei Yudhiṣṭhira, enquanto perguntava sobre os filhos e netos do Senhor em Dvārakā, mencionou apenas os principais entre eles, pois lhe era impossível lembrar todos os nomes dos membros da família do Senhor.

Texto

tathaivānucarāḥ śaureḥ
śrutadevoddhavādayaḥ
sunanda-nanda-śīrṣaṇyā
ye cānye sātvatarṣabhāḥ
api svasty āsate sarve
rāma-kṛṣṇa-bhujāśrayāḥ
api smaranti kuśalam
asmākaṁ baddha-sauhṛdāḥ

Sinônimos

tathā eva — do mesmo modo; anucarāḥ — companheiros constantes; śaureḥ — do Senhor Śrī Kṛṣṇa, tais como; śrutadeva — Śrutadeva; uddhava-ādayaḥ — Uddhava e outros; sunanda — Sunanda; nanda — Nanda; śīrṣaṇyāḥ — outros líderes; ye — todos eles; ca — e; anye — outros; sātvata — almas liberadas; ṛṣabhāḥ — os melhores homens; api — caso; svasti — indo bem; āsate — estão; sarve — todos eles; rāma — Balarāma; kṛṣṇa — Senhor Kṛṣṇa; bhuja-āśrayāḥ — sob a proteção de; api — se também; smaranti — lembram-se; kuśalam — bem-estar; asmākam — sobre nós; baddhasauhṛdāḥ – atados pela amizade eterna.

Tradução

Também Śrutadeva, Uddhava e demais, Nanda, Sunanda e outros líderes das almas liberadas, que são companheiros constantes do Senhor, são protegidos pelo Senhor Balarāma e Kṛṣṇa. Eles estão indo bem em suas respectivas funções? Será que eles, que estão eternamente atados por laços de amizade conosco, lembram-se de nosso bem-estar?

Comentário

SIGNIFICADO—Os companheiros constantes do Senhor Kṛṣṇa, tais como Uddhava, são todos almas liberadas e descem juntamente com o Senhor Kṛṣṇa a este mundo material para satisfazer a missão do Senhor. Os Pāṇḍavas também são almas liberadas que desceram juntamente com o Senhor Kṛṣṇa para servi-lO em Seus passatempos transcendentais sobre esta Terra. Como se afirma na Bhagavad-gītā (4.8), o Senhor e Seus associados eternos, que também são almas liberadas como o Senhor, descem sobre esta Terra em determinados intervalos. O Senhor lembra-Se de todos os Seus aparecimentos, mas Seus associados, embora sejam almas liberadas, esquecem por serem taṭasthā-śakti, ou a potência marginal do Senhor. Essa é a diferença entre o viṣṇu-tattva e jīva-tattva. Os jīva-tattvas são partículas potenciais infinitesimais do Senhor e, por isso, precisam da proteção do Senhor a todo instante. E o Senhor sente prazer em proteger em todos os momentos os servidores eternos do Senhor. Portanto, as almas liberadas jamais se julgam tão livres como o Senhor ou tão poderosas como o Senhor, mas sempre buscam a proteção do Senhor em todas as circunstâncias, tanto no mundo material quanto no mundo espiritual. Essa dependência da alma liberada é constitucional, pois as almas liberadas são como centelhas de um fogo que são capazes de exibir o brilho do fogo enquanto estão juntas ao fogo, e não independentes. Independentemente, o brilho das centelhas extingue-se, embora a qualidade do fogo, ou o brilho, ainda existam. Desse modo, aqueles que abandonam a proteção do Senhor e tornam-se eles mesmos ditos senhores, devido à ignorância espiritual, voltam novamente a este mundo material, mesmo após prolongado tapasya do tipo mais rigoroso. Esse é o veredito de toda a literatura védica.

Texto

bhagavān api govindo
brahmaṇyo bhakta-vatsalaḥ
kaccit pure sudharmāyāṁ
sukham āste suhṛd-vṛtaḥ

Sinônimos

bhagavān — a Personalidade de Deus, Kṛṣṇa; api — também; govindaḥ — aquele que anima as vacas e os sentidos; brahmaṇyaḥ — devotado aos devotos ou brāhmaṇas; bhakta-vatsalaḥ — afetuoso com os devotos; kaccit — acaso; pure — em Dvārakā Purī; sudharmāyām — assembleia piedosa; sukham — felicidade; āste — desfruta; suhṛt-vṛtaḥ — cercado pelos amigos.

Tradução

Acaso o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, que dá prazer às vacas, aos sentidos e aos brāhmaṇas, e que é muito afetuoso com Seus devotos, está desfrutando da piedosa assembleia de Dvārakā Purī, cercado de amigos?

Comentário

SIGNIFICADO—Aqui neste verso em particular, o Senhor é descrito como bhagavān, govinda, brāhmaṇya e bhakta-vatsala. Ele é bhagavān svayam, ou a original Suprema Personalidade de Deus, pleno de todas as opulências, todo o poder, todo o conhecimento, toda a beleza, toda a fama e toda a renúncia. Ninguém é igual ou superior a Ele. Ele é Govinda porque é o prazer das vacas e dos sentidos. Aqueles que purificaram seus sentidos através do serviço devocional ao Senhor podem prestar-Lhe serviço verdadeiro e, por esse meio, obter prazer transcendental de tais sentidos purificados. Somente o impuro ser vivo condicionado não pode obter nenhum prazer dos sentidos, mas, estando iludido pelos falsos prazeres dos sentidos, ele se torna servo dos sentidos. Portanto, precisamos da proteção dEle para nosso próprio interesse. O Senhor é o protetor das vacas e da cultura bramânica. Uma sociedade desprovida de proteção às vacas e da cultura bramânica não está sob a proteção direta do Senhor, assim como os prisioneiros nas celas não estão sob a proteção do rei, mas sob a proteção de um severo agente do rei. Sem a proteção às vacas e o cultivo de qualidades bramânicas na sociedade humana, pelo menos para uma seção dos membros da sociedade, nenhuma civilização humana pode prosperar sob nenhum aspecto. Através da cultura bramânica, o desenvolvimento das qualidades adormecidas da bondade – a saber, veracidade, equanimidade, controle dos sentidos, indulgência, simplicidade, conhecimento geral, conhecimento transcendental e fé firme na sabedoria védica –, uma pessoa pode tornar-se um brāhmaṇa e, então, ver o Senhor como Ele é. E, após superar a perfeição bramânica, a pessoa tem que se converter em um devoto do Senhor para que Sua afeição amorosa, sob a forma de proprietário, mestre, amigo, filho e amante, possa ser transcendentalmente alcançada. O estágio de um devoto, que atrai a afeição transcendental do Senhor, não se desenvolve a menos que se tenha desenvolvido as qualidades de um brāhmaṇa, como mencionadas acima. O Senhor sente-Se inclinado a um brāhmaṇa de qualidade, e não de falso prestígio. Aqueles que, por qualificação, são inferiores a um brāhmaṇa não podem estabelecer nenhuma relação com o Senhor, assim como o fogo não pode ser aceso na terra em estado natural, a menos que haja madeira, embora haja uma relação entre a madeira e a terra. Uma vez que o Senhor é todo-perfeito em Si mesmo, não poderia haver qualquer pergunta sobre Seu bem-estar, e Mahārāja Yudhiṣṭhira absteve-se de fazer tal pergunta. Ele simplesmente perguntou sobre Seu lugar residencial, Dvārakā Purī, onde homens piedosos se reúnem. O Senhor fica apenas onde homens piedosos se agrupam e se comprazem da glorificação da Verdade Suprema. Mahārāja Yudhiṣṭhira estava ansioso por saber sobre os homens piedosos e seus atos piedosos na cidade de Dvārakā.

Texto

maṅgalāya ca lokānāṁ
kṣemāya ca bhavāya ca
āste yadu-kulāmbhodhāv
ādyo ’nanta-sakhaḥ pumān
yad bāhu-daṇḍa-guptāyāṁ
sva-puryāṁ yadavo ’rcitāḥ
krīḍanti paramānandaṁ
mahā-pauruṣikā iva

Sinônimos

maṅgalāya — para todo o bem; ca — também; lokānām — de todos os planetas; kṣemāya — para a proteção; ca — e; bhavāya — para a elevação; ca — também; āste — há; yadukulaambhodhau – no oceano da dinastia Yadu; ādyaḥ — a original; anantasakhaḥ – na companhia de Ananta (Balarāma); pumān — o supremo desfrutador; yat — cujo; bāhu-daṇḍa-guptāyām — sendo protegidos por Seus braços; svapuryām – em Sua própria cidade; yadavaḥ — os membros da família Yadu; arcitāḥ — como merecem; krīḍanti — estão saboreando; paramaānandam – prazer transcendental; mahāpauruṣikāḥ – os residentes do céu espiritual; iva — como.

Tradução

A original Personalidade de Deus, o desfrutador, e Balarāma, o Senhor Ananta primordial, permanecem no oceano da dinastia Yadu para o bem-estar, proteção e progresso geral de todo o universo. E os membros da dinastia Yadu, sendo protegidos pelos braços do Senhor, desfrutam da vida como os residentes do céu espiritual.

Comentário

SIGNIFICADO—Como já discutimos muitas vezes, a Personalidade de Deus, Viṣṇu, reside dentro de todo e cada universo em duas capacidades, a saber, como Garbhodakaśāyī Viṣṇu e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. O Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu tem seu próprio planeta no topo setentrional do universo, e ali há um grande oceano de leite onde o Senhor reside no leito da encarnação Ananta de Baladeva. Desse modo, Mahārāja Yudhiṣṭhira comparou a dinastia Yadu ao oceano de leite, e Śrī Balarāma a Ananta, onde o Senhor Kṛṣṇa reside. Ele comparou os cidadãos de Dvārakā com os habitantes liberados dos Vaikuṇṭhalokas. Além do céu material, mais adiante do que podemos ver com nossos olhos e além das coberturas sétuplas do universo, há o Oceano Causal, no qual todos os universos estão flutuando como bolas de futebol, e, além do Oceano Causal, há uma ilimitada extensão de céu espiritual, geralmente conhecida como a refulgência de Brahman. Dentro dessa refulgência, há inúmeros planetas espirituais, os quais são conhecidos como os planetas Vaikuṇṭha. Todo e cada planeta Vaikuṇṭha é muitas e muitas vezes maior que o maior universo dentro do mundo material, e, em cada um deles, há inúmeros habitantes que se parecem exatamente com o Senhor Viṣṇu. Esses habitantes são conhecidos como os mahā-pauruṣikas, ou pessoas diretamente ocupadas no serviço ao Senhor. Eles são felizes naqueles planetas, são desprovidos de qualquer espécie de miséria, e vivem perpetuamente em plena juventude, desfrutando da vida em plena bem-aventurança e conhecimento, sem o temor de nascimento, morte, velhice ou doença, e sem a influência de kāla, o tempo eterno. Mahārāja Yudhiṣṭhira comparou os habitantes de Dvārakā aos mahā-pauruṣikas de Vaikuṇṭhaloka porque eles são muitíssimo felizes junto ao Senhor. Na Bhagavad-gītā, há muitas referências aos Vaikuṇṭhalokas, e ali eles são mencionados como mad-dhāma, ou o reino do Senhor.

Texto

yat-pāda-śuśrūṣaṇa-mukhya-karmaṇā
satyādayo dvy-aṣṭa-sahasra-yoṣitaḥ
nirjitya saṅkhye tri-daśāṁs tad-āśiṣo
haranti vajrāyudha-vallabhocitāḥ

Sinônimos

yat — cujos; pāda — pés; śuśrūṣaṇa — administração de confortos; mukhya — o mais importante; karmaṇā — pelos atos de; satya-ādayaḥ — rainhas encabeçadas por Satyabhāmā; dvi-aṣṭa — duas vezes oito; sahasra — mil; yoṣitaḥ — o belo sexo; nirjitya — subjugando; saṅkhye — na batalha; tri-daśān — dos cidadãos do céu; tat-āśiṣaḥ — que é desfrutada pelos semideuses; haranti — tomam; vajra-āyudhavallabhā – as esposas da personalidade que controla o relâmpago; ucitāḥ — merecendo.

Tradução

Simplesmente por administrarem confortos aos pés de lótus do Senhor, que é o mais importante de todos os serviços, as rainhas de Dvārakā, encabeçadas por Satyabhāmā, induziram o Senhor a conquistar os semideuses. Assim, as rainhas desfrutam de coisas que são prerrogativas das esposas do controlador dos relâmpagos.

Comentário

SIGNIFICADO—Satyabhāmā: Uma das principais rainhas do Senhor Śrī Kṛṣṇa em Dvārakā. Após matar Narakāsura, o Senhor Kṛṣṇa visitou o palácio de Narakāsura, acompanhado de Satyabhāmā. Ele também foi a Indraloka com Satyabhāmā, e ela foi recebida por Śacīdevī, que a apresentou à mãe dos semideuses, Aditi. Aditi ficou muito satisfeita com Satyabhāmā e lhe concedeu a bênção da juventude permanente enquanto o Senhor Kṛṣṇa permanecesse na Terra. Aditi também a levou consigo para lhe mostrar as prerrogativas especiais dos semideuses nos planetas celestiais. Quando Satyabhāmā viu a flor pārijāta, ela desejou tê-la em seu palácio em Dvārakā. Depois disso, ela voltou a Dvārakā juntamente com seu esposo e expressou sua vontade de ter a flor pārijāta em seu palácio. O palácio de Satyabhāmā era especialmente incrustado com joias preciosas, e mesmo na quentíssima estação do verão, o interior do palácio permanecia fresco, como se tivesse ar condicionado. Ela decorava seu palácio com várias bandeiras, anunciando ali as novas da presença de seu grande esposo. Certa vez, juntamente com seu esposo, ela se encontrou com Draupadī e ficou ansiosa por ser instruída por Draupadī sobre os caminhos e meios de satisfazer seu esposo. Draupadī era perita neste afazer porque mantinha cinco esposos, os Pāṇḍavas, e todos eles estavam muito satisfeitos com ela. Ao receber as instruções de Draupadī, ela ficou muito agradada, oferecendo-lhe seus bons votos e regressando a Dvārakā. Ela era filha de Satrājit. Após a partida do Senhor Kṛṣṇa, quando Arjuna visitou Dvārakā, todas as rainhas, inclusive Satyabhāmā e Rukmiṇī, lamentaram pelo Senhor com grande sentimento. Na última fase de sua vida, ela partiu para a floresta para submeter-se a severas penitências.

Satyabhāmā instigou seu esposo a obter a flor pārijāta dos planetas celestiais, e o Senhor a obteve à força dos semideuses, assim como um esposo comum consegue objetos para satisfazer sua esposa. Como já se explicou, o Senhor tinha muito pouco a ver com tantas esposas para executar suas ordens como um homem comum. Todavia, porque as rainhas aceitaram uma qualidade elevada de serviço devocional, ou seja, administrar todos os confortos ao Senhor, o Senhor representou o papel de um esposo completo e fiel. Nenhuma criatura terrena pode esperar ter coisas do reino celestial, especialmente as flores pārijāta, que são simplesmente para serem usadas pelos semideuses. Porém, por terem se tornado esposas fiéis do Senhor, todas elas desfrutaram das prerrogativas especiais das grandes esposas dos cidadãos do céu. Em outras palavras, uma vez que o Senhor é proprietário de tudo dentro de Sua criação, não é muito surpreendente para as rainhas de Dvārakā terem qualquer coisa rara de qualquer parte do universo.

Texto

yad bāhu-daṇḍābhyudayānujīvino
yadu-pravīrā hy akutobhayā muhuḥ
adhikramanty aṅghribhir āhṛtāṁ balāt
sabhāṁ sudharmāṁ sura-sattamocitām

Sinônimos

yat — cujos; bāhudaṇḍa – braços; abhyudaya — influenciados por; anujīvinaḥ — vivendo sempre; yadu — os membros da dinastia Yadu; pravīrāḥ — grandes heróis; hi akutobhayāḥ — destemidos sob todos os aspectos; muhuḥ — constantemente; adhikramanti — atravessando; aṅghribhiḥ — a pé; āhṛtām — trazida; balāt — à força; sabhām — casa de assembleia; sudharmām — Sudharmā; surasattama – o melhor entre os semideuses; ucitām — merecendo.

Tradução

Os grandes heróis da dinastia Yadu, sendo protegidos pelos braços do Senhor Śrī Kṛṣṇa, permanecem sempre destemidos sob todos os aspectos. E, portanto, seus pés pisam pesadamente sobre a casa de assembleia Sudharmā, que os melhores semideuses mereciam, mas que foi tomada deles.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqueles que são diretamente servidores do Senhor são protegidos pelo Senhor de todo o temor e também desfrutam das melhores coisas, mesmo que sejam acumuladas à força. O Senhor é igual em comportamento para com todos os seres vivos, mas Ele é parcial com Seus devotos puros, sendo muito afeiçoado por eles. A cidade de Dvārakā estava prosperando, sendo enriquecida com as melhores coisas do mundo material. A casa de assembleia do estado é construída de acordo com a dignidade de cada estado. Nos planetas celestiais, a casa de assembleia do estado, chamada Sudharmā, era merecedora da dignidade dos melhores entre os semideuses. Tal casa de assembleia não se destina em absoluto a nenhum estado do globo, porque o ser humano na Terra é incapaz de erigi-la, por mais avançado materialmente que seja algum estado em particular. No entanto, durante o tempo da presença do Senhor Kṛṣṇa sobre a Terra, os membros da família Yadu trouxeram à força a casa de assembleia celestial para a Terra e colocaram-na em Dvārakā. Eles foram capazes de usar essa força porque estavam certos da indulgência e proteção do Supremo Senhor Kṛṣṇa. Em outras palavras, o Senhor é provido das melhores coisas do universo por Seus devotos puros. Os membros da dinastia Yadu proveram o Senhor Kṛṣṇa com todas as espécies de confortos e facilidades à disposição dentro do universo, e, em troca, esses servidores do Senhor eram protegidos e destemidos.

Uma alma condicionada e esquecida é temerosa. Mas a alma liberada nunca teme, assim como uma criancinha completamente dependente da misericórdia de seu pai nunca tem medo de ninguém. O temor é uma espécie de ilusão para o ser vivo, quando ele está mergulhado no sono e esquecido de sua relação eterna com o Senhor. Uma vez que o ser vivo, por constituição, nunca há de morrer, como se afirma na Bhagavad-gītā (2.20), qual é, então, a causa de seu temor? Uma pessoa pode ter medo de um tigre num sonho, mas outro homem que está acordado a seu lado não vê nenhum tigre ali. O tigre é um mito para ambos, a saber, a pessoa que sonha e a pessoa acordada, porque de fato não há tigre; mas o homem esquecido de sua vida desperta fica temeroso, ao passo que o homem que não se esquece de sua posição não fica de modo algum temeroso. Dessa forma, os membros da dinastia Yadu estavam completamente despertos em seu serviço ao Senhor, e, portanto, não havia tigre para eles temerem, em tempo algum. Mesmo que houvesse um tigre verdadeiro, o Senhor estava ali para os proteger.

Texto

kaccit te ’nāmayaṁ tāta
bhraṣṭa-tejā vibhāsi me
alabdha-māno ’vajñātaḥ
kiṁ vā tāta ciroṣitaḥ

Sinônimos

kaccit — acaso; te — tua; anāmayam — saúde está bem; tāta — meu caro irmão; bhraṣṭa — desprovido; tejāḥ — lustro; vibhāsi — parece; me — a mim; alabdha-mānaḥ — sem respeito; avajñātaḥ — negligenciado; kim — acaso; — ou; tāta — meu caro irmão; ciroṣitaḥ — por causa da longa residência.

Tradução

Meu irmão Arjuna, por favor, dize-me se estás bem de saúde. Pareces ter perdido teu lustre corpóreo. Isso se deve a que outros teriam te desrespeitado e negligenciado por causa de tua longa permanência em Dvārakā?

Comentário

SIGNIFICADO—Sob todos os pontos de vista, o Mahārāja perguntou a Arjuna sobre o bem-estar de Dvārakā, mas, por fim, concluiu que, enquanto o Senhor Śrī Kṛṣṇa em pessoa estivesse ali, nada inauspicioso poderia acontecer. Arjuna parecia estar privado de seu lustre corpóreo, em razão do que o rei indagou sobre seu bem-estar pessoal e fez muitas outras perguntas vitais.

Texto

kaccin nābhihato ’bhāvaiḥ
śabdādibhir amaṅgalaiḥ
na dattam uktam arthibhya
āśayā yat pratiśrutam

Sinônimos

kaccit — acaso; na — não pôde; abhihataḥ — dirigidas por; abhāvaiḥ — de forma inamistosa; śabda-ādibhiḥ — por sons; amaṅgalaiḥ — inauspiciosos; na — não; dattam — dar em caridade; uktam — se diz; arthibhyaḥ — a alguém que pediu; āśayā — com esperança; yat — que; pratiśrutam — prometida de ser paga.

Tradução

Alguém se dirigiu a ti com palavras inamistosas ou te ameaçou? Não pudeste dar caridade a alguém que pediu, ou não pudeste manter tua promessa a alguém?

Comentário

SIGNIFICADO—Um kṣatriya ou um homem rico às vezes são visitados por pessoas que estão necessitando de dinheiro. Quando lhes pedem uma doação, é dever dos possuidores de riqueza dar caridade, levando em consideração a pessoa, lugar e tempo. Se o kṣatriya ou homem rico deixam de cumprir com essa obrigação, devem ficar muito pesarosos por essa discrepância. Do mesmo modo, uma pessoa não deve descumprir sua promessa de fazer caridade. Às vezes, essas discrepâncias são causas de apreensão, e, fracassando assim, uma pessoa fica sujeita às críticas, o que também poderia ser a causa do estado lamentável de Arjuna.

Texto

kaccit tvaṁ brāhmaṇaṁ bālaṁ
gāṁ vṛddhaṁ rogiṇaṁ striyam
śaraṇopasṛtaṁ sattvaṁ
nātyākṣīḥ śaraṇa-pradaḥ

Sinônimos

kaccit — acaso; tvam — tu mesmo; brāhmaṇam — os brāhmaṇas; bālam — a criança; gām — a vaca; vṛddham — velho; rogiṇam — o doente; striyam — a mulher; śaraṇaupastam – tendo se aproximado em busca de proteção; sattvam — qualquer ser vivo; na — acaso; atyākṣīḥ — refúgio não dado; śaraṇapradaḥ – merecendo proteção.

Tradução

Tu és sempre o protetor dos seres vivos merecedores, tais como os brāhmaṇas, as crianças, as vacas, as mulheres e os doentes. Não pudeste dar-lhes proteção quando se aproximaram de ti em busca de refúgio?

Comentário

SIGNIFICADO—Os brāhmaṇas, que estão sempre ocupados na pesquisa de conhecimento para o trabalho de bem-estar da sociedade, tanto material quanto espiritual, merecem a proteção do rei, sob todos os aspectos. Da mesma forma, as crianças do estado, a vaca, a pessoa doente, a mulher e o ancião precisam especificamente da proteção do estado ou de um rei kṣatriya. Se tais seres vivos não obtêm proteção do kṣatriya, da ordem real ou do estado, isso é certamente vergonhoso para o kṣatriya ou o estado. Mahārāja Yudhiṣṭhira estava ansioso em saber sobre esses contratempos, se eles realmente haviam acontecido com Arjuna.

Texto

kaccit tvaṁ nāgamo ’gamyāṁ
gamyāṁ vāsat-kṛtāṁ striyam
parājito vātha bhavān
nottamair nāsamaiḥ pathi

Sinônimos

kaccit — acaso; tvam — tu mesmo; na — não; agamaḥ — entraste em contato; agamyām — censurável; gamyām — aceitável; — ou; asatkṛtām – não trataste adequadamente; striyam — uma mulher; parājitaḥ — derrotado por; — ou; atha — afinal; bhavān — Vossa Graça; na — nem; uttamaiḥ — pelo poder superior; na — não; asamaiḥ — pelos iguais; pathi — na estrada.

Tradução

Tiveste contato com uma mulher de caráter censurável, ou não trataste adequadamente uma mulher respeitável? Ou foste derrotado no caminho por alguém que é inferior ou igual a ti?

Comentário

SIGNIFICADO—A tomar por este verso, parece que, durante o tempo dos Pāṇḍavas, o contato livre entre homem e mulher era permitido somente sob certas condições. Os homens das castas superiores, a saber, brāhmaṇas e kṣatriyas, podiam aceitar uma mulher da comunidade vaiśya ou śūdra, mas um homem das castas inferiores não podia ter contato com uma mulher da casta superior. Mesmo um kṣatriya não podia ter contato com uma mulher da casta brāhmaṇa. A esposa de um brāhmaṇa é considerada uma das sete mães (a saber, nossa própria mãe, a esposa do mestre espiritual ou professor, a esposa de um brāhmaṇa, a esposa de um rei, a vaca, a ama e a Terra). Tais contatos entre homem e mulher eram conhecidos como uttama e adhama. O contato de um brāhmaṇa com uma mulher kṣatriya é uttama, mas o contato de um kṣatriya com uma mulher brāhmaṇa é adhama e, portanto, é condenado. Uma mulher que se aproxima de um homem para ter contato com ele nunca deve ser recusada, mas, ao mesmo tempo, também se deve levar em conta a discriminação acima mencionada. Bhīma foi solicitado por Hiḍimbī, de uma comunidade inferior à dos śūdras, e Yayāti recusou-se a casar-se com a filha de Śukrācārya porque Śukrācārya era um brāhmaṇa. Vyāsadeva, um brāhmaṇa, foi chamado para gerar Pāṇḍu e Dhṛtarāṣṭra. Satyavatī pertencia a uma família de pescadores, mas Parāśara, um grande brāhmaṇa, concebeu Vyāsadeva nela. Desse modo, há muitos exemplos de contatos com mulheres, mas, em todos os casos, os contatos não eram abomináveis, tampouco os resultados de tais contatos eram ruins. O contato entre homem e mulher é natural, mas também deve ser executado sob princípios reguladores, para que a instituição social não seja perturbada, ou para que a população indesejada e inútil não aumente, para inquietude do mundo.

Para um kṣatriya, é abominável ser derrotado por alguém que seja inferior ou igual em força. Se alguém realmente é derrotado, deve ser derrotado por algum poder superior. Arjuna foi derrotado por Bhīṣmadeva, e o Senhor Kṛṣṇa o salvou do perigo. Isso não foi um insulto para Arjuna, porque Bhīṣmadeva era muito superior a Arjuna em todos os sentidos, ou seja, em idade, respeito e força. Mas Karṇa era igual a Arjuna, e, portanto, Arjuna ficou em crise quando lutou contra Karṇa. Arjuna sentiu isso, de modo que Karṇa foi morto mesmo por meios desonestos. São essas as ocupações dos kṣatriyas, e Mahārāja Yudhiṣṭhira perguntou a seu irmão se algo indesejável havia acontecido no caminho de Dvārakā para o lar.

Texto

api svit parya-bhuṅkthās tvaṁ
sambhojyān vṛddha-bālakān
jugupsitaṁ karma kiñcit
kṛtavān na yad akṣamam

Sinônimos

api svit — acaso foi assim; parya — por deixar de lado; bhuṅkthāḥ — jantaste; tvam — tu mesmo; sambhojyān — merecendo jantarem juntos; vṛddha — os anciãos; bālakān — meninos; jugupsitam — abominável; karma — ação; kiñcit — algo; kṛtavān — deves ter feito; na — não; yat — aquilo que; akṣamam — imperdoável.

Tradução

Não deste atenção a anciãos e meninos que mereciam jantar contigo? Acaso os deixaste e tomaste tuas refeições sozinho? Acaso cometeste algum erro imperdoável que seja considerado abominável?

Comentário

SIGNIFICADO—É dever do chefe de família alimentar primeiramente todas as crianças, os membros idosos da família, os brāhmaṇas e os inválidos. Além disso, requer-se que um chefe de família ideal chame qualquer homem faminto desconhecido para vir e jantar antes que ele mesmo faça suas refeições. Ele deve chamar tal homem faminto três vezes na estrada. A negligência desse dever prescrito de um chefe de família, especialmente quanto aos anciãos e crianças, é imperdoável.

Texto

kaccit preṣṭhatamenātha
hṛdayenātma-bandhunā
śūnyo ’smi rahito nityaṁ
manyase te ’nyathā na ruk

Sinônimos

kaccit — acaso; preṣṭha-tamena — ao mais querido; atha — meu irmão Arjuna; hṛdayena — mais íntimo; ātma-bandhunā — próprio amigo, o Senhor Kṛṣṇa; śūnyaḥ — vazio; asmi — estou; rahitaḥ — tendo perdido; nityam — por todo o tempo; manyase — pensas; te — teu; anyathā — de outra maneira; na — nunca; ruk — aflição mental.

Tradução

Ou será que estás te sentindo vazio por todo o tempo porque poderias ter perdido teu amigo mais íntimo, o Senhor Kṛṣṇa? Ó meu irmão Arjuna, não posso pensar em nenhuma outra razão para teres ficado tão deprimido.

Comentário

SIGNIFICADO—Toda a curiosidade de Mahārāja Yudhiṣṭhira sobre a situação mundial já havia sido conjeturada por Mahārāja Yudhiṣṭhira com base no desaparecimento do Senhor Kṛṣṇa da vista do mundo, e isso agora era revelado por ele devido à intensa agonia de Arjuna, a qual não poderia ser explicável de outra maneira. Assim, embora tivesse dúvidas sobre isso, ele foi obrigado a perguntar francamente a Arjuna com base na indicação de Nārada.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do primeiro canto, décimo quarto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Desaparecimento do Senhor Kṛṣṇa”.