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Capítulo Dois

Śrī Caitanya Mahāprabhu, a Suprema Personalidade de Deus

Este capítulo explica que o Senhor Caitanya é o próprio Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, a refulgência Brahman é o brilho do corpo do Senhor Caitanya, e a Superalma localizada situada no coração de cada entidade viva é Sua representação parcial. A esse respeito, explica-se também os puruṣa-avatāras. Mahā-Viṣṇu é o reservatório de todas as almas condicionadas, mas, como se confirma nas escrituras autorizadas, o Senhor Kṛṣṇa é o manancial último, a fonte de inúmeras expansões plenárias, incluindo Nārāyaṇa, que, de um modo geral, é aceito por filósofos māyāvādīs como sendo a Verdade Absoluta. Explica-se também a manifestação do Senhor de expansões prābhava e vaibhava, bem como as encarnações parciais e encarnações dotadas de poderes. Discorre-se sobre a meninice e sobre a juventude do Senhor Kṛṣṇa, e explica-se que Sua idade no comecinho da juventude é Sua forma eterna.

O céu espiritual contém inúmeros planetas espirituais, os Vaikuṇṭhas, que são manifestações da energia interna do Senhor Supremo. Semelhantemente, Sua energia externa manifesta inúmeros universos materiais, e Sua energia marginal manifesta as entidades vivas. Como o Senhor Kṛṣṇa Caitanya não é diferente do Senhor Kṛṣṇa, Ele é a causa de todas as causas: não há outra causa além dEle. Ele é eterno, e Sua forma é espiritual. Como provam as evidências de escrituras autorizadas, o Senhor Caitanya é diretamente o Supremo Senhor Kṛṣṇa. Esse capítulo enfatiza que, a fim de avançar em consciência de Kṛṣṇa, o devoto deve ter conhecimento da forma pessoal de Kṛṣṇa, de Suas três energias principais, de Seus passatempos e da relação das entidades vivas com Ele.

Texto

śrī-caitanya-prabhuṁ vande
bālo ’pi yad-anugrahāt
taren nānā-mata-grāha-
vyāptaṁ siddhānta-sāgaram

Sinônimos

śrī-caitanya-prabhum — ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; vande — ofereço reverências; bālaḥ — uma criança ignorante; api — mesmo; yat — de quem; anugrahāt — pela misericórdia; taret — pode atravessar; nānā — várias; mātā — de teorias; grāha — os crocodilos; vyāptam — repleto de; siddhānta — de conclusões; sāgaram — o oceano.

Tradução

Ofereço minhas reverências a Śrī Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo uma criança ignorante pode atravessar o oceano da verdade conclusiva, que é repleto dos crocodilos de várias teorias.

Comentário

SIGNIFICADO—Pela misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, Śrī Caitanya Mahāprabhu, mesmo um menino inexperiente sem nenhuma cultura ou educação pode salvar-se do oceano da ignorância, que é repleto de vários tipos de doutrinas filosóficas, comparadas, nesta passagem, a perigosos animais aquáticos. A filosofia do Buddha, as apresentações argumentativas dos jñānīs, os sistemas de yoga de Patañjali e Gautama e os sistemas de filósofos como Kaṇāda, Kapila e Dattātreya são criaturas perigosas no oceano da ignorância. Pela graça de Śrī Caitanya Mahāprabhu, pode-se entender realmente a essência do conhecimento, evitando-se essas visões sectárias e aceitando-se os pés de lótus de Kṛṣṇa como a meta última da vida. Adoremos todos, pois, ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu por Sua benévola misericórdia pelas almas condicionadas.

Texto

kṛṣṇotkīrtana-gāna-nartana-kalā-pāthojani-bhrājitā
sad-bhaktāvali-haṁsa-cakra-madhupa-śreṇī-vihārāspadam
karṇānandi-kala-dhvanir vahatu me jihvā-maru-prāṅgaṇe
śrī-caitanya dayā-nidhe tava lasal-līlā-sudhā-svardhunī

Sinônimos

kṛṣṇa — do santo nome do Senhor Kṛṣṇa; utkīrtana — cantando alto; gāna — entoando; nartana — dançando; kalā — das outras belas artes; pāthojani — com lótus; bhrājitā — embelezadas; sat-bhakta — de devotos puros; āvali — fileiras; haṁsa — de cisnes; cakra — pássaros cakravāka; madhu-pa — e abelhas; śreṇī — como enxames; vihāra — de prazer; āspadam — a morada; karṇa-ānandi — agradando os ouvidos; kala — melodioso; dhvaniḥ — som; vahatu — que flua; me — minha; jihvā — da língua; maru — desértica; prāṅgaṇe — no pátio; śrī-caitanya dayā-nidhe — ó Senhor Caitanya, oceano de misericórdia; tava — de Ti; lasat — brilhando; līlā-sudhā — do néctar dos passatempos; svardhunī — o Ganges.

Tradução

Ó meu misericordioso Senhor Caitanya! Que as nectáreas águas do Ganges de Tuas atividades transcendentais jorrem sobre a superfície de minha língua desértica. Embelezam essas águas as flores de lótus do entoar, do dançar e do canto alto do santo nome de Kṛṣṇa, que são as moradas de prazer dos devotos imaculados. Comparam-se esses devotos a cisnes, patos e abelhas. O fluir do rio produz um som melodioso que agrada seus ouvidos.

Comentário

SIGNIFICADO—Nossas línguas vivem vibrando sons inúteis que não nos ajudam a compreender a paz transcendental. Compara-se a língua a um deserto porque é necessário um suprimento constante de água refrescante para que o deserto se torne fértil e frutífero. A água é a substância mais necessária no deserto. O prazer transitório obtido de assuntos mundanos tais como arte, cultura, política, sociologia, filosofia seca, poesia e assim por diante é comparado a uma mera gota d’água. Isso porque, embora esses assuntos contenham um aspecto qualitativo do prazer transcendental, eles estão saturados dos modos da natureza material. Portanto, nem coletiva nem individualmente podem eles satisfazer as amplas exigências da língua desértica. Por conseguinte, a despeito de esbravejar em várias conferências, a língua desértica prossegue ressecada. Por esse motivo, as pessoas de todas as partes do mundo precisam recorrer aos devotos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, que são comparados a cisnes nadando ao redor dos belos pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu ou a abelhas zumbindo em volta de Seus pés de lótus com prazer transcendental, em busca de mel. Ditos filósofos que clamam por Brahman, liberação e outros objetivos especulativos áridos semelhantes não podem umedecer a aridez da felicidade material. O anseio da alma propriamente dita é diferente. Só a misericórdia do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu e de Seus muitos devotos fidedignos é que pode consolar a alma. Esses devotos jamais abandonam os pés de lótus do Senhor para tornarem-se Mahāprabhus de imitação, senão que se aferram a Seus pés de lótus, assim como abelhas que nunca abandonam uma flor de lótus encharcada de mel.

O movimento de consciência de Kṛṣṇa do Senhor Caitanya é repleto de dança e canto sobre os passatempos do Senhor Kṛṣṇa. É comparado, nesta passagem, às águas puras do Ganges, que são repletas de flores de lótus. Os desfrutadores dessas flores de lótus são os devotos puros, que são como abelhas e cisnes. Eles cantam como o fluir do Ganges, o rio do reino celestial. O autor deseja ver tais ondas que fluem docemente banharem sua língua. Ele se compara humildemente a materialistas que sempre se envolvem com conversas secas, das quais não extraem nenhuma satisfação. Se eles usassem suas línguas secas para cantar o santo nome do Senhor – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare – seguindo o exemplo do Senhor Caitanya, saboreariam doce néctar e gozariam da vida.

Texto

jaya jaya śrī-caitanya jaya nityānanda
jayādvaita-candra jaya gaura-bhakta-vṛnda

Sinônimos

jaya jaya — todas as glórias; śrī-caitanya — ao Senhor Caitanya; jaya — todas as glórias; nityānanda — ao Senhor Nityānanda; jaya — todas as glórias; advaita-candra — a Advaita Ācārya; jaya — todas as glórias; gaura-bhakta-vṛnda — aos devotos do Senhor Gaurāṅga.

Tradução

Todas as glórias ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu e ao Senhor Śrī Nityānanda. Todas as glórias a Advaitacandra, e todas as glórias aos devotos do Senhor Gaurāṅga.

Texto

tṛtīya ślokera artha kari vivaraṇa
vastu-nirdeśa-rūpa maṅgalācaraṇa

Sinônimos

tṛtīya — terceiro; ślokera — do verso; artha — significado; kari — faço; vivaraṇa — descrição; vastu — da Verdade Absoluta; nirdeśa-rūpa — na forma da delineação; maṅgala — auspicioso; ācaraṇa—conduz.

Tradução

Agora vou descrever o significado do terceiro verso [dos primeiros quatorze]. Ele é uma vibração auspiciosa que descreve a Verdade Absoluta.

Texto

yad advaitaṁ brahmopaniṣadi tad apy asya tanu-bhā
ya ātmāntar-yāmī puruṣa iti so ’syāṁśa-vibhavaḥ
ṣaḍ-aiśvaryaiḥ pūrṇo ya iha bhagavān sa svayam ayaṁ
na caitanyāt krṣṇāj jagati para-tattvaṁ param iha

Sinônimos

yat — aquilo que; advaitam — inigualável; brahma — o Brahman impessoal; upaniṣadi — nas Upaniṣads; tat — aquilo; api — certamente; asya — Seu; tanu-bhā — a refulgência de Seu corpo transcendental; yaḥ — que; ātmā — a Superalma; antaryāmī — o Senhor no coração; puruṣaḥ — o desfrutador supremo; iti — assim; saḥ — Ele; asya — Sua; aṁśa-vibhavaḥ — expansão duma porção plenária; ṣaṭ-aiśvaryaiḥ — com as seis opulências; pūrṇaḥ — pleno; yaḥ — que; iha — aqui; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; saḥ — Ele; svayam — Ele próprio; ayam — este único; na — não; caitanyāt — do que o Senhor Caitanya; kṛṣṇāt — do que o Senhor Kṛṣṇa; jagati — no mundo; para — superior; tattvam — verdade; param — outra; iha — aqui.

Tradução

O que as Upaniṣads descrevem como o Brahman impessoal é apenas a refulgência de Seu corpo, e o Senhor conhecido como a Superalma é apenas Sua porção plenária localizada. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o próprio Kṛṣṇa, pleno de seis opulências. Ele é a Verdade Absoluta, e nenhuma outra verdade é superior ou igual a Ele.

Comentário

SIGNIFICADO—Os compiladores das Upaniṣads enaltecem muito o Brahman impessoal. As Upaniṣads, que são consideradas a porção mais elevada dos textos védicos, destinam-se a pessoas que desejam livrar-se do contato com a matéria e que, por isso, aproximam-se de um mestre espiritual fidedigno em busca de iluminação. O prefixo upa indica que é preciso receber conhecimento sobre a Verdade Absoluta da parte de um mestre espiritual. Aquele que tem fé em seu mestre espiritual recebe realmente instrução transcendental, e, à medida que diminui seu apego à vida material, ele é capaz de avançar no caminho espiritual. O conhecimento da ciência transcendental das Upaniṣads pode livrar-nos do enredamento da existência no mundo material, e, assim liberados, podemos elevar-nos ao reino espiritual da Suprema Personalidade de Deus através do avanço na vida espiritual.

O começo da iluminação espiritual é a compreensão do Brahman impessoal. Efetua-se tal compreensão negando-se gradualmente a variedade material. A compreensão do Brahman impessoal é a experiência distante e parcial da Verdade Absoluta que se obtém através da abordagem racional. É comparada a alguém avistando uma colina à distância e confundindo-a com uma nuvem esmaecida. Uma colina não é uma nuvem esmaecida, embora, à distância, aparente sê-lo devido a nossa visão imperfeita. Numa compreensão imperfeita ou esmaecida da Verdade Absoluta, a variedade espiritual brilha por sua ausência. Portanto, essa experiência chama-se advaita-vāda, ou compreensão da unidade do Absoluto.

A resplandecente refulgência impessoal de Brahman consiste apenas nos raios do próprio corpo da Divindade Suprema, Śrī Kṛṣṇa. Uma vez que Śrī Gaurasundara, ou o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, é idêntico ao próprio Śrī Kṛṣṇa, a refulgência Brahman consiste nos raios de Seu corpo transcendental.

Semelhantemente, a Superalma, chamada Paramātmā, é uma representação plenária de Caitanya Mahāprabhu. Antaryāmī, a Superalma no coração de todos, é o controlador de todas as entidades vivas. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (15.15), onde o Senhor Kṛṣṇa diz que sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭaḥ: “Eu estou situado no coração de todos.” A Bhagavad-gītā (5.29) também afirma que bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram, indicando que o Senhor Supremo, agindo sob Sua expansão como a Superalma, é o proprietário de tudo. Semelhantemente, a Brahma-saṁhitā afirma que aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-stham: o Senhor está presente em toda a parte, dentro do coração de cada entidade viva e também dentro de cada átomo. Por conseguinte, o Senhor é onipenetrante mediante Seu aspecto de Superalma.

Além disso, o Senhor Caitanya também é o senhor de toda riqueza, força, fama, beleza, conhecimento e renúncia, pois Ele é o próprio Śrī Kṛṣṇa. Ele é descrito como pūrṇa, ou completo. Sob o aspecto de Senhor Caitanya, o Senhor é um renunciante ideal, assim como Śrī Rāma foi um rei ideal. Ele aceitou a ordem de sannyāsa e exemplificou em Sua própria vida princípios extraordinariamente maravilhosos. Ninguém pode comparar-se a Ele na ordem de sannyāsa. Embora, de um modo geral, se proíba a aceitação da ordem de sannyāsa em Kali-yuga, o Senhor Caitanya aceitou-a porque era completo em Sua renúncia. Outras pessoas não O podem imitar, senão que podem apenas seguir-Lhe os passos na medida do possível. Aqueles que são inaptos para essa ordem de vida são estritamente proibidos de aceitá-la pelos preceitos dos śāstras. No entanto, o Senhor Caitanya é completo em renúncia, bem como em todas as demais opulências. Portanto, Ele é o princípio máximo da Verdade Absoluta.

Por meio de um estudo analítico da verdade do Senhor Caitanya, vai-se descobrir que Ele não é diferente da Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa; ninguém é superior ou nem mesmo igual a Ele. Na Bhagavad-gītā (7.7), o Senhor Kṛṣṇa diz a Arjuna que mattaḥ parataraṁ nānyat kiñcid asti dhanañjaya: “Ó conquistador de riquezas (Arjuna), não há verdade superior a Mim.” Assim, confirma-se aqui que não há verdade superior ao Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya.

O Brahman impessoal é a meta daqueles que cultivam o estudo de livros de conhecimento transcendental, e a Superalma é a meta daqueles que executam as práticas de yoga. Aquele que conhece a Suprema Personalidade de Deus ultrapassa tanto a compreensão de Brahman quanto a de Paramātmā, porque Bhagavān é a plataforma máxima de conhecimento absoluto.

A Personalidade de Deus é a forma completa de sac-cid-ānanda (vida, conhecimento e bem-aventurança plenos). Compreendendo-se a porção sat do Todo Completo (existência ilimitada), compreende-se o Brahman impessoal do Senhor. Compreendendo-se a porção cit do Todo Completo (conhecimento ilimitado), pode-se perceber Paramātmā, o aspecto localizado do Senhor. Porém, nenhuma dessas compreensões parciais do Todo Completo pode ajudar alguém a experimentar ānanda, ou bem-aventurança completa. Sem tal compreensão de ānanda, o conhecimento da Verdade Absoluta é incompleto.

Este verso do Caitanya-caritāmṛta, de Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, é confirmado por uma afirmação paralela no Tattva-sandarbha, de Śrīla Jīva Gosvāmī. Na oitava parte do Tattva-sandarbha, se diz que a Verdade Absoluta é às vezes abordada como Brahman impessoal, o qual, embora seja espiritual, é apenas uma representação parcial da Verdade Absoluta. Deve-se saber que Nārāyaṇa, a Deidade predominante em Vaikuṇṭha, é uma expansão de Śrī Kṛṣṇa, mas Śrī Kṛṣṇa é a Suprema Verdade Absoluta, o objeto do amor transcendental de todas as entidades vivas.

Texto

brahma, ātmā, bhagavān — anuvāda tina
aṅga-prabhā, aṁśa, svarūpa — tina vidheya-cihna

Sinônimos

brahma — o Brahman impessoal; ātmā — o Paramātmā localizado; bhagavān — a Personalidade de Deus; anuvāda — sujeitos; tina — três; aṅga-prabhā — refulgência corpórea; aṁśa — manifestação parcial; sva-rūpa — forma original; tina — três; vidheya-cihna — predicados.

Tradução

O Brahman impessoal, o Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus são três sujeitos, e a refulgência deslumbrante, a manifestação parcial e a forma original são seus três predicados respectivos.

Texto

anuvāda āge, pāche vidheya sthāpana
sei artha kahi, śuna śāstra-vivaraṇa

Sinônimos

anuvāda — o sujeito; āge — primeiro; pāche — depois; vidheya — o predicado; sthāpana — colocando; sei — este; artha — o significado; kahi — falo; śuna — por favor, ouvi; śāstra-vivaraṇa — a descrição das escrituras.

Tradução

O predicado sempre acompanha seu sujeito. Agora, vou explicar o significado deste verso segundo as escrituras reveladas.

Texto

svayaṁ bhagavān kṛṣṇa, viṣṇu-paratattva
pūrṇa-jñāna pūrṇānanda parama mahattva

Sinônimos

svayam — Ele próprio; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; viṣṇu — do Viṣṇu onipenetrante; para-tattva — a verdade última; pūrṇa-jñāna — conhecimento pleno; pūrṇa-ananda — bem-aventurança plena; parama — suprema; mahattva — grandeza.

Tradução

Kṛṣṇa, a forma original da Personalidade de Deus, é o summum bonum do Viṣṇu onipenetrante. Ele é conhecimento todo-perfeito e bem-aventurança todo-perfeita. Ele é a Transcendência Suprema.

Texto

‘nanda-suta’ bali’ yāṅre bhāgavate gāi
sei kṛṣṇa avatīrṇa caitanya-gosāñi

Sinônimos

nanda-suta — o filho de Nanda Mahārāja; bali’ — como; yāṅre — que; bhagavate — no Śrīmad-Bhāgavatam; gāi — canta-se; sei — este; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; avatīrṇa — desceu; caitanya-gosāñi — o Senhor Caitanya Mahāprabhu.

Tradução

Aquele que o Śrīmad-Bhāgavatam descreve como o filho de Nanda Mahārāja desceu à Terra como o Senhor Caitanya.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo as leis da retórica, para uma composição literária ser eficaz, deve-se mencionar o sujeito antes de seu predicado. A literatura védica frequentemente menciona Brahman, Paramātmā e Bhagavān, e por isso estes três termos são amplamente conhecidos como os temas (sujeitos) da compreensão transcendental. Porém, de um modo geral não é sabido que o que é abordado como o Brahman impessoal é a refulgência do corpo transcendental de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Tampouco se sabe amplamente que a Superalma, ou Paramātmā, é apenas uma representação parcial do Senhor Caitanya, que é idêntico ao próprio Bhagavān. Portanto, as descrições do Brahman como a refulgência do Senhor Caitanya, do Paramātmā como Sua representação parcial e da Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, como idêntica ao Senhor Caitanya Mahāprabhu devem ser confirmadas pela evidência de textos védicos autorizados.

O autor deseja estabelecer em primeiro lugar que a essência dos Vedas é viṣṇu-tattva, a Verdade Absoluta, o Deus onipenetrante, Viṣṇu. O viṣṇu-tattva tem diferentes categorias, das quais a mais elevada é o Senhor Kṛṣṇa, o viṣṇu-tattva supremo, como se confirma na Bhagavad-gītā e em toda a literatura védica. No Śrīmad-Bhāgavatam, descreve-se a mesma Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, como Nandasuta, o filho do rei Nanda. Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī diz que Nandasuta apareceu novamente como o Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, porque a conclusão da literatura védica é que não há diferença entre o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Caitanya Mahāprabhu. Isso o autor provará. Assim, caso fique provado que Śrī Kṛṣṇa é a origem de todos os tattvas (verdades), a saber, Brahman, Paramātmā e Bhagavān, e que não há diferença entre Śrī Kṛṣṇa e o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, não será difícil entender que Śrī Caitanya Mahāprabhu é também a mesma origem de todos os tattvas. A mesma Verdade Absoluta, conforme Se revele a estudantes em diferentes compreensões, chama-Se Brahman, Paramātmā e Bhagavān.

Texto

prakāśa-viśeṣe teṅha dhare tina nāma
brahma, paramātmā āra svayaṁ-bhagavān

Sinônimos

prakāśa — de manifestação; viśeṣe — em variedade; teṅha — Ele; dhare — mantém; tina — três; nāma — nomes; brahma — Brahman; paramātmā — Paramātmā (Superalma); āra — e; svayam — Ele próprio; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Em função de Suas manifestações variadas, Ele é conhecido sob três aspectos, chamados o Brahman impessoal, o Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus original.

Comentário

SIGNIFICADO—Em seu Bhagavat-sandarbha, Śrīla Jīva Gosvāmī explica a palavra bhagavān. A Personalidade de Deus, sendo pleno de todas as potências concebíveis e inconcebíveis, é o absoluto Todo Supremo. O Brahman impessoal é uma manifestação parcial da Verdade Absoluta percebida na ausência de tais potências completas. A primeira sílaba da palavra bhagavān é bha, que significa “mantenedor” e “protetor”. A sílaba seguinte, ga, significa “líder”, “impulsionador” e “criador”. Va significa “morada” (todos os seres vivos moram no Senhor Supremo, e o Senhor Supremo mora dentro do coração de cada ser vivo). Combinando todos esses conceitos, a palavra bhagavān traz o sentido de potência inconcebível em conhecimento, energia, força, opulência, poder e influência, destituída de todas as variedades de inferioridade. Sem tais potências inconcebíveis, não é possível sustentar ou proteger plenamente. Nossa civilização moderna é sustentada por arranjos científicos inventados por grandes cérebros científicos. Portanto, mal podemos imaginar o gigantesco cérebro cujos arranjos sustêm a gravidade do número ilimitado de planetas e satélites e que cria o espaço ilimitado em que eles flutuam. Se considerarmos a inteligência necessária para colocar em órbita satélites fabricados pelo homem, não poderemos ser tão tolos a ponto de pensar que não existe uma inteligência gigantesca responsável pela disposição dos diversos sistemas planetários. Não há razão para se acreditar que todos os gigantescos planetas flutuam no espaço sem o arranjo superior de uma inteligência maior. Trata-se claramente desse assunto na Bhagavad-gītā (15.13), onde a Personalidade de Deus diz: “Eu entro em cada planeta, e, por meio de Minha energia, eles permanecem em órbita.” Se os planetas não estivessem sob o controle da Personalidade de Deus, todos eles se espalhariam como poeira no ar. Os cientistas modernos podem apenas explicar de maneira desajeitada essa força inconcebível da Personalidade de Deus.

As potências das sílabas bha, ga e va aplicam-se em termos de muitos significados diferentes. O Senhor protege e mantém tudo por intermédio de Seus diferentes agentes potenciais. Todavia, Ele próprio protege e mantém pessoalmente apenas Seus devotos, assim como um rei mantém e protege pessoalmente seus próprios filhos, confiando a manutenção e proteção do estado a vários agentes administrativos. O Senhor é o líder de Seus devotos, como nos ensina a Bhagavad-gītā, a qual menciona que a Personalidade de Deus ensina pessoalmente a Seus devotos amorosos como fazer determinado progresso no caminho da devoção e, assim, aproximar-se com certeza do reino de Deus. O Senhor é também o recipiente de toda a adoração oferecida por Seus devotos, para os quais Ele é o objetivo e a meta. O Senhor cria uma condição favorável para Seus devotos desenvolverem um senso de amor transcendental por Deus. Às vezes, Ele faz isso tirando à força os apegos materiais do devoto e afastando todos aqueles que o protegem materialmente, pois assim o devoto vê-se obrigado a depender inteiramente da proteção do Senhor. Dessa maneira, o Senhor mostra ser o líder de Seus devotos.

O Senhor não está diretamente ligado à criação, manutenção e destruição do mundo material, pois está eternamente envolvido com o gozo de bem-aventurança com Sua parafernália potencial interna. Não obstante, já que é o iniciador da energia material, bem como da potência marginal (os seres vivos), Ele Se expande como os puruṣa-avatāras, que são dotados de potências semelhantes às dEle. Os puruṣa-avatāras também estão na categoria de bhagavat-tattva, porque cada um deles é idêntico à forma original da Personalidade de Deus. As entidades vivas são Suas partículas infinitesimais e são qualitativamente iguais a Ele. Elas são enviadas a este mundo material para gozar de prazeres materiais e satisfazer seus desejos de serem indivíduos independentes, mas, de qualquer modo, continuam sujeitas à vontade suprema do Senhor. O Senhor indica a Si mesmo para o estado de Superalma a fim de supervisionar os arranjos para tais prazeres materiais. A esse respeito, o exemplo de uma quermesse temporária é bastante adequado. Se os cidadãos de um estado se reúnem numa quermesse para divertir-se por algum tempo, o governo indica um funcionário especial para supervisioná-la. Semelhante funcionário é dotado com todo o poder governamental, e por isso ele é idêntico ao governo. Quando termina a quermesse, tal funcionário não é mais necessário, em razão do que ele volta para casa. Tal funcionário é comparado ao Paramātmā.

Os seres vivos não são o todo de tudo. Sem dúvida, eles são partes do Senhor Supremo e qualitativamente iguais a Ele; porém, estão sujeitos a Seu controle. Sendo assim, nunca são iguais ao Senhor nem unos com Ele. O Senhor que Se associa com o ser vivo é o Paramātmā, ou o ser vivo supremo. Portanto, ninguém deve encarar em nível de igualdade os seres vivos diminutos e o supremo ser vivo.

A verdade onipenetrante que existe eternamente durante a criação, manutenção e aniquilação do mundo material e na qual os seres vivos descansam em transe chama-se Brahman impessoal.

Texto

vadanti tat tattva-vidas
tattvaṁ yaj jñānam advayam
brahmeti paramātmeti
bhagavān iti śabdyate

Sinônimos

vadanti — dizem; tat — isto; tattva-vidaḥ — almas eruditas; tattvam — a Verdade Absoluta; yat — que; jñānam — conhecimento; advayam — não-dual; brahma — Brahman; iti — assim; paramātmā — Paramātmā; iti — assim; bhagavān — Bhagavān; iti — assim; śabdyate — é conhecida.

Tradução

“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta dizem que Ela é conhecimento não-dual e Se chama Brahman impessoal, Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus.”

Comentário

SIGNIFICADO—Este verso sânscrito é o décimo primeiro que aparece no primeiro canto, segundo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, onde Sūta Gosvāmī responde às perguntas dos sábios encabeçados por Śaunaka Ṛṣi a respeito da essência de todas as instruções das escrituras. Tattva-vidaḥ refere-se a pessoas que têm conhecimento da Verdade Absoluta. Certamente elas podem entender conhecimento sem dualidades porque estão na plataforma espiritual. A Verdade Absoluta é conhecida ora como Brahman, ora como Paramātmā, ora como Bhagavān. As pessoas que têm conhecimento da verdade sabem que quem tentar aproximar-se do Absoluto pela mera especulação mental finalmente compreenderá o Brahman impessoal, e quem tentar aproximar-se do Absoluto por meio da prática de yoga será capaz de perceber o Paramātmā. No entanto, aquele que possui conhecimento e compreensão espiritual plenos percebe a forma espiritual de Bhagavān, a Personalidade de Deus.

Os devotos da Personalidade de Deus sabem que Śrī Kṛṣṇa, o filho do rei de Vraja, é a Verdade Absoluta. Eles não fazem discriminação entre o nome, a forma, as qualidades e os passatempos de Śrī Kṛṣṇa. Deve-se entender que quem deseja separar o nome, a forma e as qualidades absolutas do Senhor carece de conhecimento absoluto. O devoto puro sabe que, ao cantar o transcendental nome de Kṛṣṇa, Śrī Kṛṣṇa está presente como o som transcendental. Portanto, ele canta com todo respeito e veneração. Ao ver as formas de Śrī Kṛṣṇa, ele não vê nada diferente do Senhor. Alguém que vê de outra maneira deve ser considerado destreinado no conhecimento absoluto. Essa falta de conhecimento absoluto chama-se māyā. Quem não é consciente de Kṛṣṇa é dominado pelo encanto de māyā sob o controle de uma dualidade no conhecimento. Assim como as formas múltiplas de Viṣṇu, o controlador de māyā, são não-duais, da mesma forma, no Absoluto, todas as manifestações do Senhor Supremo são não-duais. Os filósofos empíricos que buscam o Brahman impessoal aceitam apenas o conhecimento de que a personalidade da entidade viva não é diferente da personalidade do Senhor Supremo. Os yogīs místicos que tentam localizar o Paramātmā aceitam apenas o conhecimento de que a alma pura não é diferente da Superalma. Entretanto, o conceito absoluto do devoto puro inclui todos os demais. O devoto vê todas as coisas conforme a relação que elas tenham com Kṛṣṇa, e por isso sua compreensão é a mais perfeita de todas.

Texto

tāṅhāra aṅgera śuddha kiraṇa-maṇḍala
upaniṣat kahe tāṅre brahma sunirmala

Sinônimos

taṅhāra — Seu; aṅgera — do corpo; śuddha — puro; kiraṇa — de raios; maṇḍala — região; upaniṣat — as Upaniṣads; kahe — dizem; tāṅre — a este; brahma — Brahman; su-nirmala — transcendental.

Tradução

O que as Upaniṣads chamam de Brahman impessoal transcendental é a região da refulgência resplandecente da mesma Pessoa Suprema.

Comentário

SIGNIFICADO—Um mantra do Muṇḍaka Upaniṣad (2.2.10-12), dá informação a respeito da refulgência corpórea da Suprema Personalidade de Deus. Ele afirma:

hiraṇmaye pare kośevirajaṁ brahma niṣkalam
tac chubhraṁ jyotiṣāṁ jyotis
tad yad ātma-vido viduḥ
na tatra sūryo bhāti na candra-tārakaṁ
nemā vidyuto bhānti kuto ’yam agniḥ
tam eva bhāntam anubhāti sarvaṁ
tasya bhāsā sarvam idaṁ vibhāti
brahmaivedam amṛtaṁ purastād brahma
paścād brahma dakṣiṇataś cottareṇa
adhaś cordhvaṁ ca prasṛtaṁ brahmai-

vedaṁ viśvam idaṁ variṣṭham

“No reino espiritual, além da cobertura material, está a ilimitada refulgência Brahman, que é livre de contaminação material. Os transcendentalistas conhecem essa refulgente luz branca como a luz de todas as luzes. Nessa região, não há necessidade de luz do Sol, luar, fogo ou eletricidade para iluminá-la. De fato, qualquer iluminação que apareça no mundo material é apenas um reflexo dessa iluminação suprema. Esse Brahman está na frente e atrás, no norte, sul, leste e oeste, e também acima e abaixo. Em outras palavras, essa suprema refulgência Brahman espalha-se tanto pelo céu material quanto pelo céu espiritual.”

Texto

carma-cakṣe dekhe yaiche sūrya nirviśeṣa
jñāna-mārge laite nāre kṛṣṇera viśeṣa

Sinônimos

carma-cakṣe — a olho nu; dekhe — vê-se; yaiche — assim como; sūrya — o Sol; nirviśeṣa — sem variedade; jñāna-mārge — pelo caminho da especulação filosófica; laite — aceitar; nāre — incapaz; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; viśeṣa — a variedade.

Tradução

Assim como a olho nu só se pode conhecer o Sol como uma substância ofuscante, da mesma forma, a mera especulação filosófica não nos capacita a entender as variedades transcendentais do Senhor Kṛṣṇa.

Texto

yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-
koṭīṣv aśeṣa-vasudhādi-vibhūti-bhinnam
tad brahma niṣkalam anantam aśeṣa-bhūtaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

Sinônimos

yasya — de quem; prabhā — a refulgência; prabhavataḥ — daquele cujo poder sobressai; jagat-aṇḍa — de universos; koṭi-koṭīṣu — em milhões e milhões; aśeṣa — ilimitado; vasudhā-ādi — com planetas, etc.; vibhūti — com opulências; bhinnam — tornando-se variado; tat — este; brahma — Brahman; niṣkalam — sem partes; anantam — ilimitado; aśeṣa-bhūtam — sendo completo; govindam — o Senhor Govinda; ādi-puruṣam — a pessoa original; tam — a Ele; aham — eu; bhajāmi—adoro.

Tradução

“Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que é dotado de grande poder. A refulgência deslumbrante de Sua forma transcendental é o Brahman impessoal, que é absoluto, completo e ilimitado e que manifesta as variedades de incontáveis planetas, com suas diferentes opulências, em milhões e milhões de universos.”

Comentário

SIGNIFICADO—Este verso aparece na Brahma-saṁhitā (5.40). Cada um dos inúmeros universos é repleto de planetas inumeráveis com diferentes constituições e atmosferas. Todos eles vêm do ilimitado Brahman não-dual, ou o Todo Completo, que existe em conhecimento absoluto. A origem dessa ilimitada refulgência Brahman é o corpo transcendental de Govinda, ao qual se oferecem respeitosas reverências como a Personalidade de Deus suprema e original.

Texto

koṭī koṭī brahmāṇḍe ye brahmera vibhūti
sei brahma govindera haya aṅga-kānti

Sinônimos

koṭī — bilhões; koṭī — bilhões; brahmāṇḍe — em universos; ye — que; brahmera — de Brahman; vibhūti — opulências; sei — esse; brahma — Brahman; govindera — do Senhor Govinda; haya — é; aṅga-kānti — refulgência do corpo.

Tradução

As opulências do Brahman impessoal espalham-se por todos os milhões e milhões de universos. Esse Brahman é apenas a refulgência do corpo de Govinda.

Texto

sei govinda bhaji āmi, tehoṅ mora pati
tāṅhāra prasāde mora haya sṛṣṭi-śakti

Sinônimos

sei — esse; govinda — Senhor Govinda; bhaji — adoro; āmi — eu; tehoṅ — Ele; mora — meu; pati — Senhor; tāṅhāra — Sua; prasāde — pela misericórdia; mora — meu; haya — torna-se; sṛṣṭi — de criação; śakti — poder.

Tradução

“Eu [Brahmā] adoro Govinda. Ele é meu Senhor. Unicamente por Sua graça sou dotado de poder para criar o universo.”

Comentário

SIGNIFICADO—Embora o Sol esteja distante dos outros planetas, seus raios sustentam e mantêm todos os planetas. De fato, o Sol difunde seu calor e luz por todo o universo. Semelhantemente, Govinda, o sol supremo, difunde Seu calor e luz e por toda a parte sob a forma de Suas diferentes potências. O calor e a luz do Sol não são diferentes do Sol. Da mesma maneira, as potências ilimitadas de Govinda não são diferentes do próprio Govinda. Por conseguinte, o Brahman onipenetrante é o Govinda onipenetrante. A Bhagavad-gītā menciona claramente que o Brahman impessoal é dependente de Govinda. Esse é o verdadeiro conceito do conhecimento absoluto.

Texto

munayo vāta-vāsanāḥ
śramaṇā ūrdhva-manthinaḥ
brahmākhyaṁ dhāma te yānti
śāntāḥ sannyāsino ’malāḥ

Sinônimos

munayaḥ — santos; vāta-vāsanāḥ — nus; śramaṇāḥ — que se submetem a rigorosas penitências físicas; ūrddhva — elevado; manthinaḥ — cujo sêmen; brahma-ākhyam — conhecida como Brahmaloka; dhāma — à morada; te — eles; yānti — vão; śāntāḥ — equilibrados em Brahman; sannyāsinaḥ — que estão na ordem de vida renunciada; amalāḥ — puros.

Tradução

“Santos e sannyāsīs nus que se submetem a rigorosas penitências físicas, que podem elevar o sêmen até o cérebro e que são plenamente equilibrados em Brahman podem viver na região conhecida como Brahmaloka.”

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso do Śrīmad-Bhāgavatam (11.6.47), vāta-vāsanāḥ refere-se a mendicantes que não se interessam por nada material, nem mesmo roupas, mas que dependem exclusivamente da natureza. Semelhantes sábios não cobrem seus corpos nem mesmo no inverno rigoroso ou sob sol abrasador. Aceitam grandes dores por não evitarem nenhuma espécie de sofrimento corpóreo e mendigam de porta em porta. Jamais ejaculam seu sêmen, quer consciente, quer inconscientemente. Por observarem celibato, são capazes de sublimar o sêmen ao cérebro. Assim, tornam-se muito inteligentes e desenvolvem uma memória muito forte. Sua mente nunca se perturba nem se desvia de contemplar a Verdade Absoluta, tampouco se deixa contaminar pelo desejo de gozo material. Praticando austeridades sob disciplina estrita, tais mendicantes atingem um estado neutro, transcendental aos modos da natureza, e fundem-se no Brahman impessoal.

Texto

ātmāntaryāmī yāṅre yoga-śāstre kaya
seha govindera aṁśa vibhūti ye haya

Sinônimos

ātmā antaryāmī — Superalma interior; yāṅre — que; yoga-śāstre — nas escrituras do yoga; kaya — fala-se; seha — aquela; govindera — de Govinda; aṁśa — porção plenária; vibhūti — expansão; ye — que; haya — é.

Tradução

Aquele que os yoga-śāstras descrevem como a Superalma interior [ātmā antaryāmī] é também uma porção plenária da expansão pessoal de Govinda.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus é alegre por natureza. Seus prazeres ou passatempos são inteiramente transcendentais. Ele está na quarta dimensão de existência, pois, embora o mundo material seja limitado às medidas de comprimento, largura e altura, o Senhor Supremo é inteiramente ilimitado em Seu corpo, forma e existência. Pessoalmente, Ele não está ligado a nenhum dos afazeres dentro do cosmo material. A expansão de Seu puruśa-avatāra, que orienta o conjunto da energia material e todas as almas condicionadas, é quem cria o mundo material. Compreendendo as três expansões do puruṣa, a entidade viva pode transcender a posição de conhecer apenas os vinte e quatro elementos do mundo material.

Uma das expansões de Mahā-Viṣṇu é Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, a Superalma dentro de cada entidade viva. Como a Superalma da totalidade das entidades vivas, ou o segundo puruṣa, Ele é conhecido como Garbhodakaśāyī Viṣṇu. Como criador ou causa original de inúmeros universos, ou o primeiro puruṣa, que está deitado no Oceano Causal, Ele chama-Se Mahā-Viṣṇu. Os três puruṣas orientam os afazeres do mundo material.

As escrituras autorizadas orientam as almas individuais de modo a que revivam sua relação com a Superalma. Na verdade, o sistema de yoga é o processo de transcender a influência dos elementos materiais, estabelecendo uma ligação com o puruṣa conhecido como Paramātmā. Alguém que tenha estudado integralmente as complexidades da criação pode entender facilmente que esse Paramātmā é a porção plenária do Ser Supremo, Śrī Kṛṣṇa.

Texto

ananta sphaṭike yaiche eka sūrya bhāse
taiche jīve govindera aṁśa prakāśe

Sinônimos

ananta — ilimitados; sphaṭike — em cristais; yaiche — assim como; eka — único; sūrya — o Sol; bhāse — aparece; taiche — analogamente; jīve — na entidade viva; govindera — de Govinda; aṁśa — porção; prakāśe — manifesta.

Tradução

Assim como o Sol único aparece refletido em inúmeras joias, analogamente, Govinda manifesta-Se [como Paramātmā] no coração de todos os seres vivos.

Comentário

SIGNIFICADO—O Sol está situado num local específico, mas reflete-se em inúmeras joias e aparece sob inúmeros aspectos localizados. Analogamente, a Suprema Personalidade de Deus, embora presente eternamente em Sua morada transcendental, Goloka Vṛndāvana, reflete-Se no coração de todos como a Superalma. Afirma-se nas Upaniṣads que a jīva (entidade viva) e o Paramātmā (Superalma) são como dois pássaros pousados na mesma árvore. A Superalma ocupa o ser vivo na execução de trabalho fruitivo como resultado de seus atos passados, mas o Paramātmā nada tem a ver com tais ocupações. Tão logo o ser vivo deixe de agir em termos de trabalho fruitivo e adote o serviço ao Senhor (Paramātmā), vindo a conhecer Sua supremacia, ele se livra imediatamente de todas as designações e, nesse estado puro, entra no reino de Deus conhecido como Vaikuṇṭha.

A Superalma (Paramātmā), o guia dos seres vivos individuais, não toma parte na satisfação dos desejos dos seres vivos, senão que providencia a satisfação deles por meio da natureza material. Assim que a alma individual se conscientiza de sua relação eterna com a Superalma e se volta unicamente para Ele, livra-se imediatamente dos enredamentos de gozo material. Filósofos cristãos que não creem na lei do karma apresentam o argumento de que é absurdo alguém aceitar os resultados de atos passados dos quais não têm consciência. Primeiramente, o criminoso é lembrado de suas más ações por testemunhas num tribunal de justiça, e então ele é punido. Se a morte significa esquecimento completo, por que se deveria punir alguém por suas más ações passadas? O conceito de Paramātmā é uma resposta invencível a esses argumentos falazes. O Paramātmā é a testemunha das atividades passadas do ser vivo individual. Pode ser que um homem não se lembre do que fez em sua infância, mas seu pai certamente se lembra, pois viu-o crescer por diferentes fases de desenvolvimento. Analogamente, o ser vivo se submete a muitas mudanças de corpo no decorrer de muitas vidas, mas, a despeito de sua evolução por diferentes corpos, a Superalma também o acompanha e lembra-Se de todas as atividades dele.

Texto

atha vā bahunaitena
kiṁ jñātena tavārjuna
viṣṭabhyāham idaṁ kṛtsnam
ekāṁśena sthito jagat

Sinônimos

athavā — ou; bahuna — muito; etena — com isto; kim — de que adianta; jñātena — sendo conhecido; tavā — por ti; arjuna — ó Arjuna; viṣṭabhya — penetrando; aham — Eu; idam — este; kṛtsnam — inteiro; ekāṁśena — com uma só porção; sthitah — situado; jagat — universo.

Tradução

A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, disse: “Que mais posso dizer-te? Eu vivo em toda esta manifestação cósmica através de uma única porção plenária Minha.”

Comentário

SIGNIFICADO—Descrevendo Suas próprias potências a Arjuna, a Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, falou esse verso da Bhagavad-gītā (10.42).

Texto

tam imam aham ajaṁ śarīra-bhājāṁ
hṛdi hṛdi dhiṣṭhitam ātma-kalpitānām
prati-dṛśam iva naikadhārkam ekaṁ
samadhigato ’smi vidhūta-bheda-mohaḥ

Sinônimos

tam — a Ele; imam — este; aham — eu; ajam — o não-nascido; śarīra-bhājām — das almas condicionadas dotadas de corpo; hṛdi hṛdi — em cada um dos corações; dhīṣṭhitam — situado; ātma — por si mesmos; kalpitānām — que são imaginados; pratidṛśam — para cada olho; iva — como; na eka-dha — não de uma maneira; arkam — o Sol; ekam — único; samadhigataḥ — aquele que obtém; asmi — eu sou; vidhūta — eliminado; bheda-mohaḥ — cujo conceito errôneo de dualidade.

Tradução

O avô Bhīṣma disse: “Assim como para diferentes espectadores o Sol único parece estar diversamente situado, também Vós, o não-nascido, pareceis representado de maneira distinta como Paramātmā em cada ser vivo. Contudo, quando um observador se reconhece como um de Vossos próprios servidores, ele não mantém mais tal dualidade. Dessa maneira, posso agora compreender Vossas formas eternas, sabendo bem que o Paramātmā é apenas Vossa porção plenária.”

Comentário

SIGNIFICADO—Bhīṣmadeva, o avô dos Kurus, falou este verso do Śrīmad-Bhāgavatam (1.9.42) nos últimos momentos de sua vida, deitado numa cama de flechas. Arjuna, Kṛṣṇa e inúmeros amigos, admiradores, parentes e sábios haviam se reunido na cena enquanto Mahārāja Yudhiṣṭhira recebia instruções morais e religiosas do moribundo Bhīṣma. Assim que chegou para ele o último momento, Bhīṣma falou esse verso enquanto olhava para o Senhor Kṛṣṇa.

Assim como o Sol único é o objeto de visão de muitas pessoas diferentes, da mesma forma, a representação parcial singular do Senhor Kṛṣṇa que vive no coração de cada entidade viva como Paramātmā é um objeto que se percebe de maneiras diversas. Aquele que entra em contato íntimo com o Senhor Kṛṣṇa, dedicando-se a Seu serviço eterno, vê a Superalma como a representação parcial localizada da Suprema Personalidade de Deus. Bhīṣma sabia que a Superalma é uma expansão parcial do Senhor Kṛṣṇa, o qual ele entendia ser a forma transcendental, suprema e não-nascida.

Texto

seita govinda sākṣāc caitanya gosāñi
jīva nistārite aiche dayālu āra nāi

Sinônimos

seita — esse; govinda — Govinda; sākṣāt — pessoalmente; caitanya — o Senhor Caitanya; gosāñi — Gosāñi; jīva — as entidades vivas caídas; nistārite — para liberar; aiche — tão; dayālu — um Senhor misericordioso; āra — outro; nāi — não há.

Tradução

Esse Govinda aparece pessoalmente como Caitanya Gosāñi. Nenhum outro Senhor é tão misericordioso na liberação das almas caídas.

Comentário

SIGNIFICADO—Tendo descrito Govinda em termos de Seus aspectos Brahman e Paramātmā, o autor do Śrī Caitanya-caritāmṛta agora prossegue seu argumento para provar que o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu é a mesmíssima personalidade. O mesmo Senhor Śrī Kṛṣṇa, trajado como um devoto de Śrī Kṛṣṇa, desceu a este mundo mortal para redimir os seres humanos caídos que vinham entendendo mal a Personalidade de Deus, mesmo após a explicação da Bhagavad-gītā. Na Bhagavad-gītā, a Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, ensinou diretamente que o Supremo é uma pessoa. O Brahman impessoal é Sua refulgência deslumbrante, o Paramātmā é Sua representação parcial, e por isso aconselha-se a todos os homens que sigam o caminho de Śrī Kṛṣṇa, deixando de lado todos os “ismos” mundanos. No entanto, devido a seu pobre fundo de conhecimento, os ofensores interpretaram mal essa instrução. Assim, por Sua ilimitada misericórdia, Śrī Kṛṣṇa veio novamente como Śrī Caitanya Gosāñi.

O autor do Śrī Caitanya-caritāmṛta afirma com muita ênfase que o Senhor Caitanya Mahāprabhu é o próprio Śrī Kṛṣṇa. Ele não é uma expansão das formas prakāśa ou vilāsa de Śrī Kṛṣṇa; Ele é o svayaṁ-rūpa, Govinda. Além das relevantes evidências das escrituras apresentadas por Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, existem inúmeras afirmações concernentes ao fato de o Senhor Caitanya ser o próprio Senhor Supremo. Podem-se citar os seguintes exemplos:

(1) Da Caitanya Upaniṣad (5), gauraḥ sarvātmā mahā-puruṣo mahātmā mahā-yogī tri-guṇātītaḥ sattva-rūpo bhaktiṁ loke kāśyati: “O Senhor Gaura, que é a Superalma onipenetrante, a Suprema Personalidade de Deus, aparece como um grande santo e místico poderoso que está acima dos três modos da natureza e é o símbolo da atividade transcendental. Ele difunde o culto da devoção por todo o mundo.”

(2) Da Śvetāśvatara Upaniṣad (6.7 e 3.12):

tam īśvarāṇāṁ paramaṁ maheśvaraṁ
taṁ devatānāṁ paramaṁ ca daivatam
patiṁ patīnāṁ paramaṁ parastād
vidāma devaṁ bhuvaneśam īḍyam

“Ó Senhor Supremo, Vós sois o Supremo Maheśvara, a Deidade adorável de todos os semideuses e o Supremo Senhor de todos os senhores. Sois o controlador de todos os controladores, a Personalidade de Deus, o Senhor de todas as coisas adoráveis.”

mahān prabhur vai puruṣaḥsattvasyaiṣa pravartakaḥ
su-nirmalām imāṁ prāptim
īśāno jyotir avyayaḥ

“A Suprema Personalidade de Deus é Mahāprabhu, que difunde a iluminação transcendental. Simplesmente estar em contato com Ele é estar em contato com o brahmajyoti indestrutível.”

(3) Da Muṇḍaka Upaniṣad (3.1.3):

yadā paśyaḥ paśyate rukma-varṇaṁ
kartāram īśaṁ puruṣaṁ brahma-yonim

 “Aquele que vê essa Personalidade de Deus de cor dourada, o Senhor Supremo, o supremo ator, que é a fonte do Brahman Supremo, libera-se.”

(4) Do Śrīmad-Bhāgavatam (11.5.33-34 e 7.9.38):

dhyeyaṁ sadā paribhava-ghnam abhīṣṭa-dohaṁ
tīrthāspadaṁ śiva-viriñci-nutaṁ śaraṇyam
bhṛtyārti-haṁ praṇata-pāla-bhavābdhi-potaṁ
vande mahā-puruṣa te caraṇāravindam

“Oferecemos nossas respeitosas reverências aos pés de lótus dEle, o Senhor, em quem deve-se sempre meditar. Ele destrói os insultos contra Seus devotos, elimina os sofrimentos de Seus devotos e satisfaz-lhes os desejos. Ele, a morada de todos os locais sagrados e o abrigo de todos os sábios, é adorado pelo Senhor Śiva e pelo Senhor Brahmā. Ele é o barco para os semideuses atravessarem o oceano de nascimentos e mortes.”

tyaktvā sudustyaja-surepsita-rājya-lakṣmīṁ
dharmiṣṭha ārya-vacasā yad agād araṇyam
māyā-mṛgaṁ dayitayepsitam anvadhāvad
vande mahā-puruṣa te caraṇāravindam

“Oferecemos nossas respeitosas reverências aos pés de lótus do Senhor, em quem se deve sempre meditar. Ele abandonou Sua vida familiar, deixando de lado Sua consorte eterna, a quem até os habitantes celestiais adoram. Ele entrou floresta adentro para libertar as almas caídas, iludidas pela energia material.”

Prahlāda disse:

itthaṁ nṛ-tiryag-ṛṣi-deva jhaṣāvatārair
lokān vibhāvayasi haṁsi jagat-pratīpān
dharmaṁ mahā-puruṣa pāsi yugānuvṛttaṁ
channaḥ kalau yad abhavas tri-yugo ’tha sa tvam

“Meu Senhor, sob Vossas múltiplas encarnações em famílias de homens, de animais, de semideuses, de ṛṣis, de seres aquáticos e assim por diante, matais todos os inimigos do mundo. Assim, iluminais os mundos com conhecimento transcendental. Na era de Kali, ó Mahāpuruṣa, às vezes apareceis sob uma encarnação disfarçada. Portanto, sois conhecido como Triyuga [aquele que aparece em apenas três yugas].”

(5) Do Kṛṣṇa-yāmala-tantra, puṇya-kṣetre nava-dvīpe bhaviṣyāmi śacī-sutaḥ: “Eu aparecerei na terra sagrada de Navadvīpa, como o filho de Śacīdevī.”

(6) Do Vāyu Purāṇa, kalau saṅkīrtanarambhe bhaviṣyāmi śacī-sutaḥ: “Na era de Kali, ao inaugurar-se o movimento de saṅkīrtana, hei de descer como o filho de Śacīdevī.”

(7) Do Brahma-yāmala-tantra:

atha vāhaṁ dharādhāmebhūtvā mad-bhakta-rūpa-dhṛk
māyāyāṁ ca bhaviṣyāmi
kalau saṅkīrtanāgame

“Às vezes, Eu apareço pessoalmente na superfície do mundo trajado como devoto. Especificamente, apareço como o filho de Śacī na Kali-yuga para iniciar o movimento de saṅkīrtana.

(8) Da Ananta-saṁhitā:

ya eva bhagavān kṛṣṇorādhikā-prāṇa-vallabhaḥ
sṛṣṭy ādau sa jagan-nātho
gaura āsīn maheśvari

“A Pessoa Suprema, o próprio Śrī Kṛṣṇa, que é a vida de Śrī Rādhārāṇī, e é o Senhor do universo para criá-lo, mantê-lo e aniquilá-lo, aparece como Gaura, ó Maheśvarī.”

Texto

para-vyomete vaise nārāyaṇa nāma
ṣaḍ-aiśvarya-pūrṇa lakṣmī-kānta bhagavān

Sinônimos

para-vyomete — no mundo transcendental; vaise — encontra-Se; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; nāma — chamado; ṣaḍ-aiśvarya — de seis espécies de opulências; pūrṇa — pleno; lakṣmī-kānta — o esposo da deusa da opulência; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

O Senhor Nārāyaṇa, que domina o mundo transcendental, é pleno de seis opulências. Ele é a Personalidade de Deus, o Senhor da deusa da fortuna.

Texto

veda, bhāgavata, upaniṣat, āgama
‘pūrṇa-tattva’ yāṅre kahe, nāhi yāṅra sama

Sinônimos

veda — os Vedas; bhāgavataŚrīmad-Bhāgavatam; upaniṣat — as Upaniṣads; āgama — outros textos transcendentais; pūrṇa-tattva — verdade plena; yāṅre — ao qual; kahe — dizem; nāhi — não há; yāṅra — cujo; sama — igual.

Tradução

A Personalidade de Deus é aquele que os Vedas, o Bhāgavatam, as Upaniṣads e outros textos transcendentais descrevem como o Todo Absoluto. Ninguém é igual a Ele.

Comentário

SIGNIFICADO—Há inúmeras afirmações autorizadas nos Vedas a respeito do aspecto pessoal da Verdade Absoluta. A seguir vão algumas delas:

(1) Da Ṛk-saṁhitā (1.22.20):

tad viṣṇoḥ paramaṁ padaṁ
 sadā paśyanti sūrayaḥ
divīva cakṣur ātatam

“A Personalidade de Deus, Viṣṇu, é a Verdade Absoluta, cujos pés de lótus todos os semideuses sempre anseiam ver. Assim como o deus do Sol, Ele penetra tudo com os raios de Sua energia. Ele parece impessoal aos olhos imperfeitos.”

(2) Da Nārāyaṇātharva-śira Upaniṣad, nārāyaṇād eva samutpadyante nārāyaṇāt pravartante nārāyaṇe pralīyante. atha nityo nārāyaṇaḥ. nārāyaṇa evedaṁ sarvaṁ yad bhūtaṁ yac ca bhavyam. śuddho deva eko nārāyaṇo na dvitīyo ’sti kaścit: “É somente de Nārāyaṇa que tudo é gerado, é Ele apenas quem mantém tudo, e é nEle apenas que tudo é aniquilado. Portanto, Nārāyaṇa existe eternamente. Tudo o que existe agora ou que for criado no futuro nada mais é que Nārāyaṇa, a Deidade autêntica. Somente existe Nārāyaṇa, e nada mais.”

(3) Da Nārāyaṇa Upaniṣad, yataḥ prasūtā jagataḥ prasūtī: “Nārāyaṇa é a fonte de quem emanam todos os universos.”

(4) Do Hayaśīrṣa-pañcarātra, paramātmā harir devaḥ: “Hari é o Senhor Supremo.”

(5) Do Bhāgavatam (11.3.34-35):

nārāyaṇābhidhānasyabrahmaṇaḥ paramātmanaḥ
niṣṭhām arhatha no vaktuṁ
yūyaṁ hi brahma-vittamāḥ

“Ó melhor dos brāhmaṇas, por favor, fala-nos da posição de Nārāyaṇa, que também é conhecido como Brahman e Paramātmā.”

sthity-udbhava-pralaya-hetur ahetur asya
yat svapna-jāgara-suṣuptiṣu sad bahiś ca
dehendriyāsu-hṛdayāni caranti yena
sañjīvitāni tad avehi paraṁ narendra

“Ó rei, fica sabendo que não há causa para Ele apesar de Ele ser a causa da criação, manutenção e aniquilação. Ele existe nos três estados de consciência – a saber, vigília, sonho e sono profundo – bem como além deles. Ele vivifica o corpo, os sentidos, o alento da vida e o coração, e, desta forma, eles se movem. Fica sabendo que Ele é o supremo.”

Texto

bhakti-yoge bhakta pāya yāṅhāra darśana
sūrya yena savigraha dekhe deva-gaṇa

Sinônimos

bhakti-yoge — por meio do serviço devocional; bhakta — o devoto; pāya — obtém; yāṅhāra — cuja; darśana — visão; sūrya — o deus do Sol; yena — como; sa-vigraha — com forma; dekhe — eles veem; deva-gaṇa — os habitantes celestiais.

Tradução

Através de seu serviço, os devotos veem essa Personalidade de Deus, assim como os habitantes celestiais veem a personalidade do Sol.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus tem Sua forma eterna, que com olhos materiais ou por meio da especulação mental não pode ser vista. Somente mediante transcendental serviço devocional é que se pode compreender a forma transcendental do Senhor. Faz-se aqui uma comparação com os requisitos para se contemplar as características pessoais do deus do Sol. O deus do Sol é uma pessoa que, embora não seja visível aos nossos olhos, é vista dos planetas superiores pelos semideuses, cujos olhos são adequados para ver através do reluzente brilho solar que o rodeia. Cada planeta tem sua própria atmosfera de acordo com a influência do arranjo da natureza material. Portanto, é necessário ter um tipo específico de constituição física para atingir um planeta em particular. Talvez os habitantes da Terra consigam chegar à Lua, mas os habitantes do céu podem atingir inclusive a esfera ígnea chamada Sol. O que é impossível para o homem na Terra é fácil para os semideuses no céu, devido a seus corpos diferentes. Semelhantemente, para ver o Senhor Supremo, é preciso ter os olhos espirituais do serviço devocional. Aqueles que estão habituados a especular sobre a Verdade Absoluta em termos do pensamento científico experimental, sem referência à vibração transcendental, não podem se aproximar da Personalidade de Deus. A abordagem ascendente à Verdade Absoluta termina na compreensão do Brahman impessoal e do Paramātmā localizado, mas não da Suprema Personalidade Transcendental.

Texto

jñāna-yoga-mārge tāṅre bhaje yei saba
brahma-ātma-rūpe tāṅre kare anubhava

Sinônimos

jñāna — de especulação filosófica; yoga — e de yoga místico; mārge — nos caminhos; tāṅre — a Ele; bhaje — adoram; yei — que; saba — tudo; brahma — do Brahman impessoal; ātma — e da Superalma [Paramātmā]; rūpe — nas formas; tāṅre — a Ele; kare — fazem; anubhava — percebem.

Tradução

Aqueles que trilham os caminhos do conhecimento e do yoga adoram apenas a Ele, pois percebem-nO como o Brahman impessoal e como o Paramātmā localizado.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqueles que gostam de especulação mental (jñāna-mārga) ou desejam meditar em yoga místico para encontrar a Verdade Absoluta devem aproximar-se respectivamente da refulgência impessoal do Senhor e de Sua representação parcial. Tais pessoas não podem compreender a forma eterna do Senhor.

Texto

upāsanā-bhede jāni īśvara-mahimā
ataeva sūrya tāṅra diyeta upamā

Sinônimos

upāsanā-bhede — mediante os diferentes modos de adoração; jāni — sei; īśvara — do Senhor Supremo; mahimā — grandeza; ataeva — portanto; sūrya — o Sol; tāṅra — dEle; diyeta — foi dado; upamā — comparação.

Tradução

Assim, como ilustra o exemplo do Sol, pode-se compreender as glórias do Senhor por meio de diferentes modos de adoração.

Texto

sei nārāyaṇa kṛṣṇera svarūpa-abheda
eka-i vigraha, kintu ākāra-vibheda

Sinônimos

sei — esse; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; svarūpa — forma original; abheda — não diferentes; eka-i — única; vigraha — identidade; kintu — mas; ākāra — de aspectos corpóreos; vibheda — diferença.

Tradução

Nārāyaṇa e Śrī Kṛṣṇa são a mesma Personalidade de Deus, mas, embora Eles sejam idênticos, Seus aspectos corpóreos são diferentes.

Texto

iṅhota dvi-bhuja, tiṅho dhare cāri hātha
iṅho veṇu dhare, tiṅho cakrādika sātha

Sinônimos

iṅhota — esta; dvi-bhuja — dois braços; tiṅho — Ele; dhare — manifesta; cāri — quatro; hātha — mãos; iṅho — o outro; veṇu — flauta; dhare — segura; tiṅho — Ele; cakra-ādika — o disco, etc.; sātha — com.

Tradução

Essa Personalidade de Deus [Śrī Kṛṣṇa] tem duas mãos e segura uma flauta, ao passo que o outro [Nārāyaṇa] tem quatro mãos, com búzio, disco, maça e lótus.

Comentário

SIGNIFICADO—Nārāyaṇa é idêntico a Śrī Kṛṣṇa. De fato, Eles são a mesma pessoa manifesta de formas distintas, assim como um juiz do supremo tribunal que se situa de maneiras distintas em seu escritório e em casa. Como Nārāyaṇa, o Senhor manifesta-Se com quatro mãos, mas, como Kṛṣṇa, manifesta-Se com duas.

Texto

nārāyaṇas tvaṁ na hi sarva-dehinām
ātmāsy adhīśākhila-loka-sākṣī
nārāyaṇo ’ṅgaṁ nara-bhū-jalāyanāt
tac cāpi satyaṁ na tavaiva māyā

Sinônimos

nārāyaṇaḥ — o Senhor Nārāyaṇa; tvam — Vós; na — não; hi — com certeza; sarva — todos; dehinām — dos seres corporificados; ātmā — a Superalma; asi — sois; adhīśa — ó Senhor; akhila-loka — de todos os mundos; sākṣī — a testemunha; nārāyaṇaḥ — conhecido como Nārāyaṇa; aṅgam — porção plenária; nara — de Nara; bhū — nascido; jāla — na água; ayanāt — devido ao local de refúgio; tat — aquele; ca — e; api — certamente; satyam — verdade mais elevada; na — não; tava — Vossas; eva — em absoluto; māyā — a energia ilusória.

Tradução

“Ó Senhor dos senhores, sois a testemunha de toda a criação. Na verdade, sois a vida mais querida de todos. Não sois, portanto, meu pai, Nārāyaṇa? Nārāyaṇa refere-se àquele cuja morada encontra-se na água nascida de Nara [Garbhodakaśāyī Viṣṇu], e esse Nārāyaṇa é Vossa porção plenária. Todas as Vossas porções plenárias são transcendentais. Elas são absolutas e não são criações de māyā.”

Comentário

SIGNIFICADO—Esta afirmação, tirada do Śrīmad-Bhāgavatam (10.14.14), foi falada pelo Senhor Brahmā em suas orações ao Senhor Kṛṣṇa depois que o Senhor o derrotou, demonstrando-lhe Seus poderes místicos. Brahmā tentara colocar à prova o Senhor Kṛṣṇa para ver se Ele era realmente a Suprema Personalidade de Deus a brincar como um vaqueirinho. Brahmā roubou todos os outros meninos e suas vacas dos campos de pastagem, mas, ao regressar ao mesmo lugar, viu que todos os meninos e vacas ainda estavam ali, pois o Senhor Kṛṣṇa criara-os todos novamente. Vendo esse poder místico do Senhor Kṛṣṇa, Brahmā admitiu-se derrotado e ofereceu orações ao Senhor, chamando-O de proprietário e testemunha de tudo na criação e de a Superalma que está dentro de cada entidade viva e é querida por todos. Esse Senhor Kṛṣṇa é Nārāyaṇa, o pai de Brahmā, porque Garbhodakaśāyī Viṣṇu, a expansão plenária do Senhor Kṛṣṇa, criou Brahmā de Seu próprio corpo após deitar-Se no Oceano Garbha. Mahā Viṣṇu, no Oceano Causal, e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, a Superalma no coração de todos, também são expansões transcendentais da Verdade Suprema.

Texto

śiśu vatsa hari’ brahmā kari aparādha
aparādha kṣamāite māgena prasāda

Sinônimos

śiśu — companheiros de folguedos; vatsa — bezerros; hari’ — roubando; brahmā — senhor Brahmā; kari — fazendo; aparādha — ofensa; aparādha — ofensa; kṣamāite — para perdoar; māgena — pediu; prasāda — misericórdia.

Tradução

Depois que Brahmā ofendeu Kṛṣṇa, roubando Seus amiguinhos e vacas, ele pediu perdão ao Senhor por seu ato ofensivo e orou pela misericórdia do Senhor.

Texto

tomāra nābhi-padma haite āmāra janmodaya
tumi pitā-mātā, āmi tomāra tanaya

Sinônimos

tomāra — Vosso; nābhi-padma — lótus do umbigo; haite — de; āmāra — meu; janma-udaya — nascimento; tumi — Vós; pitā — pai; mātā — mãe; āmi — eu; tomāra — Vosso; tanaya — filho.

Tradução

“Nasci do lótus que cresceu de Vosso umbigo. Assim, sois tanto meu pai quanto minha mãe, e eu sou Vosso filho.”

Texto

pitā mātā bālakera nā laya aparādha
aparādha kṣama, more karaha prasāda

Sinônimos

pitā — pai; mātā — mãe; bālakera — do filho; — não; laya — levam a sério; aparādha — a ofensa; aparādha — a ofensa; kṣama — por favor, perdoai; more — a mim; karaha — por favor, mostrai; prasāda — misericórdia.

Tradução

“Os pais nunca levam a sério as ofensas de seus filhos. Portanto, suplico Vosso perdão e peço Vossa bênção.”

Texto

kṛṣṇa kahena — brahmā, tomāra pitā nārāyaṇa
āmi gopa, tumi kaiche āmāra nandana

Sinônimos

kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; kahena — diz; brahmā — ó senhor Brahmā; tomāra — teu; pitā — pai; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; āmi — Eu (sou); gopa — vaqueirinho; tumi — tu; kaiche — como; āmāra — Meu; nandana — filho.

Tradução

Śrī Kṛṣṇa disse: “Ó Brahmā, teu pai é Nārāyaṇa. Eu sou apenas um vaqueirinho. Como podes ser Meu filho?”

Texto

brahmā balena, tumi ki nā hao nārāyaṇa
tumi nārāyaṇa — śuna tāhāra kāraṇa

Sinônimos

brahmā — o senhor Brahmā; balena — diz; tumi — Vós; ki nā hao — não sois; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; tumi — Vós; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; śuna — por favor, ouvi; tāhāra — disto; kāraṇa — razão.

Tradução

Brahmā respondeu: “Acaso não sois Nārāyaṇa? Claro que sois Nārāyaṇa! Por favor, ouve enquanto apresento-Vos as provas.”

Texto

prākṛtāprākṛta-sṛṣṭye yata jīva-rūpa
tāhāra ye ātmā tumi mūla-svarūpa

Sinônimos

prākṛta — material; aprākṛta — e espiritual; sṛṣṭye — nas criações; yata — tantos quanto existem; jīva-rūpa — os seres vivos; tāhāra — deles; ye — que; ātmā — a Superalma; tumi — Vós; mūla-svarūpa — fonte última.

Tradução

“Em última análise, todos os seres vivos dentro dos mundos material e espiritual nascem de Vós, pois sois a Superalma de todos eles.”

Comentário

SIGNIFICADO—A interação dos três modos da natureza material gera a manifestação cósmica. Apesar de ser pleno de variedade espiritual, o mundo transcendental não possui semelhantes modos materiais. Nesse mundo espiritual, há também inúmeras entidades vivas, que são almas eternamente liberadas, ocupadas em transcendental serviço amoroso ao Senhor Kṛṣṇa. As almas condicionadas que permanecem dentro da criação cósmica material sujeitam-se às três espécies de sofrimentos e às dores da natureza material. Elas existem em diferentes espécies de vida porque são eternamente avessas à transcendental devoção amorosa ao Senhor Supremo.

Saṅkarṣaṇa é a fonte original de todas as entidades vivas porque todas elas são expansões de Sua potência marginal. Algumas delas são condicionadas pela natureza material, ao passo que outras estão sob a proteção da natureza espiritual. A natureza material é uma manifestação condicional da natureza espiritual, assim como a fumaça é uma fase condicional do fogo. A fumaça depende do fogo, porém, num incêndio abrasante, não há lugar para fumaça. A fumaça perturba, mas o fogo é útil. O espírito prestativo dos residentes do mundo transcendental é demonstrado em cinco variedades de relações com o Senhor Supremo, que é o desfrutador central. No mundo material, todos são desfrutadores egocêntricos de felicidade e sofrimento mundanos. Alguém se considera o senhor de tudo e tenta gozar da energia ilusória, mas não tem sucesso porque não é independente: é apenas uma partícula diminuta da energia do Senhor Saṅkarṣaṇa. Todos os seres vivos existem sob o controle do Senhor Supremo, que, por causa disso, é chamado de Nārāyaṇa.

Texto

pṛthvī yaiche ghaṭa-kulera kāraṇa āśraya
jīvera nidāna tumi, tumi sarvāśraya

Sinônimos

pṛthvī — a terra; yaiche — assim como; ghaṭa — de potes de barro; kulera — da multidão; kāraṇa — a causa; āśraya — o repositório; jīvera — dos seres vivos; nidāna — causa fundamental; tumi — Vós; tumi — Vós; sarva-aśraya — abrigo de todos.

Tradução

“A terra é a causa original e o repositório de todos os potes feitos de barro; analogamente, sois a causa e o abrigo fundamentais de todos os seres vivos.”

Comentário

SIGNIFICADO—Assim como a vasta terra é a fonte dos ingredientes para todos os potes de barro, da mesma forma, a alma suprema é a fonte da substância total de todas as entidades vivas individuais. A causa de todas as causas, a Suprema Personalidade de Deus, é a causa das entidades vivas. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (7.10), onde o Senhor diz que bījaṁ māṁ sarva-bhūtānām: “Eu sou a semente de todas as entidades vivas”, e as Upaniṣads afirmam que nityo nityānāṁ cetanaś cetanānām: “O Senhor é o supremo líder dentre todos os seres vivos eternos.”

O Senhor é o reservatório de toda a manifestação cósmica, animada e inanimada. Os defensores da filosofia viśiṣṭādvaita-vāda explicam o Vedānta-sūtra dizendo que, embora a entidade viva tenha duas espécies de corpos – sutil (consistindo em mente, inteligência e falso ego) e grosseiro (consistindo nos cinco elementos básicos) – e embora ela viva desse modo em três dimensões corpóreas (grosseira, sutil e espiritual), ela, mesmo assim, é uma alma espiritual. Semelhantemente, a Suprema Personalidade de Deus, de quem emanam os mundos material e espiritual, é o Espírito Supremo. Assim como uma alma espiritual individual é quase idêntica a seus corpos grosseiro e sutil, da mesma forma, o Senhor Supremo é quase idêntico aos mundos material e espiritual. O mundo material, repleto de almas condicionadas tentando assenhorear-se da matéria, é uma manifestação da energia externa do Senhor Supremo, e o mundo espiritual, repleto de servidores perfeitos do Senhor, é uma manifestação de Sua energia interna. Uma vez que todas as entidades vivas são centelhas diminutas da Suprema Personalidade de Deus, Ele é a Alma Suprema tanto no mundo material quanto no mundo espiritual. Os vaiṣṇavas seguidores do Senhor Caitanya enfatizam a doutrina de acintya-bhedābheda-tattva, a qual afirma que o Senhor Supremo, sendo a causa e o efeito de tudo, é inconcebivelmente igual a Suas manifestações de energia e diferente delas, simultaneamente.

Texto

‘nāra’-śabde kahe sarva jīvera nicaya
‘ayana’-śabdete kahe tāhāra āśraya

Sinônimos

nāra-śabde — com a palavra nāra; kahe — quer-se dizer; sarva-jīvera — de todas as entidades vivas; nicaya — o conjunto; ayana-śabdete — com a palavra ayana; kahe — quer-se dizer; tāhāra — delas; āśraya — o refúgio.

Tradução

“A palavra ‘nāra’ refere-se ao conjunto de todos os seres vivos, e a palavra ‘ayana’, ao refúgio de todos eles.”

Texto

ataeva tumi hao mūla nārāyaṇa
ei eka hetu, śuna dvitīya kāraṇa

Sinônimos

ataeva — portanto; tumi — Vós; hao — sois; mūla — original; nārāyaṇa — Nārāyaṇa; ei — esta; eka — uma; hetu — razão; śuna — por favor, escutai; dvitīya — segunda; kāraṇa — a razão.

Tradução

“Portanto, sois o Nārāyaṇa original. Essa é uma razão. Por favor, escutai enquanto cito a segunda razão.”

Texto

jīvera īśvara — puruṣādi avatāra
tāṅhā sabā haite tomāra aiśvarya apāra

Sinônimos

jīvera — dos seres vivos; īśvara — o Senhor Supremo; puruṣa-ādi — encarnações puruṣa, etc.; avatāra — encarnações; tāṅhā — a elas; sabā — todas; haite — do que; tomāra — Vossas; aiśvarya — opulências; apāra — ilimitadas.

Tradução

“As encarnações puruṣa são os Senhores diretos dos seres vivos. Contudo, Vossa opulência e poder são mais magnânimos que os dEles!”

Texto

ataeva adhīśvara tumi sarva pitā
tomāra śaktite tāṅrā jagat-rakṣitā

Sinônimos

ataeva — portanto; adhīśvara — o Senhor primordial; tumi — Vós; sarva — de todos; pitā — pai; tomāra — Vossa; śaktite — pela energia; tāṅrā — Eles; jagat — das criações cósmicas; rakṣitā — protetores.

Tradução

“Portanto, sois o Senhor primordial, o pai original de todos. Eles [os puruṣas] são protetores dos universos por Vosso poder.”

Texto

nārera ayana yāte karaha pālana
ataeva hao tumi mūla nārāyaṇa

Sinônimos

nārera — dos seres vivos; ayana — os refúgios; yāte — aqueles a quem; karaha — dais; pālana — proteção; ataeva — portanto; hao — sois; tumi — Vós; mūla — original; nārāyaṇa — Nārāyaṇa.

Tradução

“Como protegeis aqueles que são os refúgios de todos os seres vivos, Vós sois o Nārāyaṇa original.”

Comentário

SIGNIFICADO—As Deidades controladoras dos seres vivos nos mundos mortais são os três puruṣa-avatāras. Mas a potência energética demonstrada por Śrī Kṛṣṇa é muito mais extensa do que a dos puruṣas. Portanto, Śrī Kṛṣṇa é o pai original e Senhor que protege todas as manifestações criadoras por meio de Suas diversas porções plenárias. Visto que Śrī Kṛṣṇa sustenta inclusive os refúgios do conjunto de seres vivos, não há dúvida de que Ele é o Nārāyaṇa original.

Texto

tṛtīya kāraṇa śuna śrī-bhagavān
ananta brahmāṇḍa bahu vaikuṇṭhādi dhāma

Sinônimos

tṛtīya — terceira; kāraṇa — razão; śuna — por favor, ouvi; śrī-bhagavān — ó Suprema Personalidade de Deus; ananta — ilimitados; brahma-āṇḍa — universos; bahu — muitos; vaikuṇṭha-ādi — Vaikuṇṭha, etc.; dhāma — planetas.

Tradução

“Ó meu Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus! Por favor, ouvi minha terceira razão. Existem inúmeros universos e insondáveis Vaikuṇṭhas transcendentais.”

Texto

ithe yata jīva, tāra trai-kālika karma
tāhā dekha, sākṣī tumi, jāna saba marma

Sinônimos

ithe — nestes; yata — tantos quanto; jīva — seres vivos; tāra — deles; trai-kālika — passado, presente e futuro; karma — as atividades; tāhā — isto; dekha — Vós vedes; sākṣī — testemunha; tumi — Vós; jāna — conheceis; saba — de tudo; marma — a essência.

Tradução

“Tanto neste mundo material quanto no mundo transcendental, Vós vedes todos os atos de todos os seres vivos, no passado, no presente e no futuro. Como sois a testemunha de todos esses atos, conheceis a essência de tudo.”

Texto

tomāra darśane sarva jagatera sthiti
tumi nā dekhile kāro nāhi sthiti gati

Sinônimos

tomāra — Vossa; darśane — pela visão; sarva — tudo; jagatera — do universo; sthiti — manutenção; tumi — Vós; nā dekhile — sem ver; kāro — de ninguém; nāhi — não há; sthiti — permanecendo; gati — movendo-se.

Tradução

“Todos os mundos existem porque Vós os supervisionais. Sem Vossa supervisão, ninguém pode viver, mover-se ou existir.”

Texto

nārera ayana yāte kara daraśana
tāhāteo hao tumi mūla nārāyaṇa

Sinônimos

nārera — dos seres vivos; ayana — a divagação; yāte — uma vez que; kara — Vós fazeis; daraśana — vendo; tāhāteo — portanto; hao — sois; tumi — Vós; mūla — original; nārāyaṇa — Nārāyaṇa.

Tradução

“Supervisionais as divagações de todos os seres vivos. Por esta razão também, sois o Senhor Nārāyaṇa primordial.”

Comentário

SIGNIFICADO—Śrī Kṛṣṇa, sob Seu aspecto de Paramātmā, vive nos corações de todos os seres vivos, tanto na criação mundana quanto na transcendental. Como Paramātmā, Ele testemunha todas as ações que os seres vivos executam em todas as fases do tempo, a saber, passado, presente e futuro. Śrī Kṛṣṇa sabe o que os seres vivos têm feito por centenas e milhares de nascimentos passados, Ele vê o que eles estão fazendo agora e, por isso, conhece os resultados de suas ações atuais que frutificarão no futuro. Como se afirma na Bhagavad-gītā, toda a situação cósmica é criada assim que Ele lança Seu olhar sobre a energia material. Nada pode existir sem Sua superintendência. Uma vez que Ele vê inclusive o lugar de descanso do conjunto de seres vivos, Ele é o Nārāyaṇa original.

Texto

kṛṣṇa kahena — brahmā, tomāra nā bujhi vacana
jīva-hṛdi, jale vaise sei nārāyaṇa

Sinônimos

kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; kahena — diz; brahmā — ó Brahmā; tomāra — tuas; — não; bujhi — entendo; vacana — palavras; jīva — da entidade viva; hṛdi — no coração; jale — na água; vaise — Se encontra; sei — este; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa.

Tradução

Kṛṣṇa disse: “Brahmā, não posso entender o que estás dizendo. O Senhor Nārāyaṇa é aquele que Se encontra no coração de todos os seres vivos e que Se deita nas águas do Oceano Kāraṇa.”

Texto

brahmā kahe — jale jīve yei nārāyaṇa
se saba tomāra aṁśa — e satya vacana

Sinônimos

brahmā — o senhor Brahmā; kahe — diz; jale — na água; jīve — no ser vivo; yei — que; nārāyaṇa — Nārāyaṇa; se — Eles; saba — todos; tomāra — Vossa; aṁśa — parte plenária; e — esta; satya — verdadeira; vacana — palavra.

Tradução

Brahmā respondeu: “O que eu disse é verdade. O mesmo Senhor Nārāyaṇa que vive nas águas e no coração de todos os seres vivos não passa de uma de Vossas porções plenárias.”

Texto

kāraṇābdhi-garbhodaka-kṣīrodaka-śāyī
māyā-dvāre sṛṣṭi kare, tāte saba māyī

Sinônimos

kāraṇa-abdhi — Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu; garbha-udaka — Garbhodakaśāyi Viṣṇu; kśīra-udaka-śāyī — Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu; māyā-dvāre — com a energia material; sṛṣṭi — criação; kare — Elas fazem; tāte — portanto; saba — todas; māyī — ligadas a māyā.

Tradução

“As formas Kāraṇodakaśāyī, Garbhodakaśāyī e Kṣīrodakaśāyī de Nārāyaṇa criam todas cooperativamente com a energia material. Dessa maneira, estão ligadas a māyā.”

Texto

sei tina jala-śāyī sarva-antaryāmī
brahmāṇḍa-vṛndera ātmā ye puruṣa-nāmī

Sinônimos

sei — estes; tina — três; jala-śāyī — deitados na água; sarva — de tudo; antaryāmī — a Superalma; brahma-aṇḍa — de universos; vṛndera — da multidão; ātmā — Superalma; ye — que; puruṣapuruṣa; nāmī — chamada.

Tradução

“Esses três Viṣṇus deitados na água são a Superalma de tudo. A Superalma de todos os universos é conhecida como o primeiro puruṣa.”

Texto

hiraṇya-garbhera ātmā garbhodaka-śāyī
vyaṣṭi-jīva-antaryāmī kṣīrodaka-śāyī

Sinônimos

hiraṇya-garbhera — da totalidade das entidades vivas; ātmā — a Superalma; garbha-udaka-śāyī — Garbhodakaśāyī Viṣṇu; vyaṣṭi — a individual; jīva — da entidade viva; antaryāmī — Superalma; kṣīra-udaka-śāyī — Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu.

Tradução

“Garbhodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma da totalidade das entidades vivas, e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma de cada ser vivo individual.”

Texto

e sabhāra darśanete āche māyā-gandha
turīya kṛṣṇera nāhi māyāra sambandha

Sinônimos

e — isto; sabhāra — da reunião; darśanete — vendo; āche — há; māyā-gandha — relação com māyā; turīya — a quarta; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; nāhi — não há; māyāra — da energia material; sambandha — ligação.

Tradução

“Superficialmente, vemos que esses puruṣas têm uma relação com māyā, mas, acima dEles, na quarta dimensão, está o Senhor Kṛṣṇa, que não tem contato com a energia material.”

Comentário

SIGNIFICADO—Os três puruṣas – Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu, Garbhodakaśāyī Viṣṇu e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu – têm todos uma relação com a energia material, chamada māyā, porque, por intermédio de māyā, Eles criam o cosmo material. Esses três puruṣas, que estão deitados respectivamente nas águas de Kāraṇa, Garbha e Kṣīra, são a Superalma de tudo o que existe. Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma dos universos coletivos, Garbhodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma dos seres vivos coletivos e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu é a Superalma de todas as entidades vivas individuais. Pode-se dizer que Eles têm certa afeição por māyā, pois estão um tanto atraídos aos afazeres da energia material. Porém, a posição transcendental do próprio Śrī Kṛṣṇa não é nem levemente maculada por māyā. Seu estado transcendental chama-se turīya, ou o estado quadridimensional.

Texto

virāḍ hiraṇya-garbhaś ca
kāraṇaṁ cety upādhayaḥ
īśasya yat tribhir hīnaṁ
turīyaṁ tat pracakṣate

Sinônimos

virāṭ — a manifestação virāṭ; hiraṇya-garbhaḥ — a manifestação hiraṇyagarbha; ca — e; kāraṇam — a manifestação kāraṇa; ca — e; iti — assim; upādhayaḥ — designações específicas; īśasya — do Senhor; yat — aquilo que; tribhiḥ — estas três; hīnam — sem; turīyam — a quarta; tat — aquela; pracakṣate — considera.

Tradução

“No mundo material, o Senhor é designado como virāṭ, hiraṇyagarbha e kāraṇa. Mas, em última análise, além dessas três designações, o Senhor está na quarta dimensão.”

Comentário

SIGNIFICADO—A manifestação fenomenal do supremo todo, a alma numenal de tudo e a causa ou natureza causal são todos apenas designações dos puruṣas, que são responsáveis pela criação material. A posição transcendental ultrapassa essas designações e, por isso, é denominada a posição da quarta dimensão. Essa é uma citação do comentário de Śrīdhara Svāmī ao décimo primeiro canto, décimo quinto capítulo, verso 16, do Śrīmad-Bhāgavatam.

Texto

yadyapi tinera māyā la-iyā vyavahāra
tathāpi tat-sparśa nāhi, sabhe māyā-pāra

Sinônimos

yadyapi — embora; tinera — destes três; māyā — a energia material; la-iyā — aceitando; vyavahāra — as relações; tathāpi — ainda; tat — disto; sparśa — o contato; nāhi — não há; sabhe — todos eles; māyā-pāra — além da energia material.

Tradução

“Embora esses três aspectos do Senhor lidem diretamente com a energia material, ela não afeta nenhum deles. Todos eles estão além da ilusão.”

Texto

etad īśanam īśasya
prakṛti-stho ’pi tad-guṇaiḥ
na yujyate sadātma-sthair
yathā buddhis tad-āśrayā

Sinônimos

etat — esta; īśanam — opulência; īśasya — do Senhor Supremo; prakṛti-sthaḥ — situado na natureza material; api — embora; tat — de māyā; guṇaiḥ — pelas qualidades; na — não; yujyate — é afetado; sadā — sempre; ātmā-sthaiḥ — que estão situados em Sua própria energia; yatha — como também; buddhiḥ — a inteligência; tat — dEle; āśrayā — que se refugia.

Tradução

“‘Esta é a opulência do Senhor: embora situado na natureza material, os modos da natureza nunca O afetam. Analogamente, aqueles que se rendem a Ele e fixam sua inteligência nEle não são influenciados pelos modos da natureza.’”

Comentário

SIGNIFICADO—Este texto é do Śrīmad-Bhāgavatam (1.11.38). Aqueles que se refugiam aos pés de lótus da Personalidade de Deus não se identificam com o mundo material, mesmo enquanto vivem nele. Pode ser que os devotos puros lidem com os três modos da natureza material, mas, devido à inteligência transcendental deles em consciência de Kṛṣṇa, as qualidades materiais não os influenciam. O encanto das atividades materiais não atrai tais devotos. Portanto, o Senhor Supremo e os devotos agindo subordinados a Ele estão sempre livres da contaminação material.

Texto

sei tina janera tumi parama āśraya
tumi mūla nārāyaṇa — ithe ki saṁśaya

Sinônimos

sei — estas; tina — três; janera — das porções plenárias; tumi — Vós; parama — derradeiro; āśraya — abrigo; tumi — Vós; mūla — primordial; nārāyaṇa — Nārāyaṇa; ithe — nisto; ki — que; saṁśaya — dúvida.

Tradução

“Sois o abrigo derradeiro dessas três porções plenárias. Assim, não há a menor dúvida de que sois o Nārāyaṇa primordial.”

Comentário

SIGNIFICADO—Brahmā confirma que o Senhor Kṛṣṇa é o Supremo, a fonte das três manifestações conhecidas como Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, Garbhodakaśāyī Viṣṇu e Kāraṇodakaśāyī Viṣṇu (Mahā-Viṣṇu). O Senhor Kṛṣṇa tem quatro manifestações originais para Seus passatempos, a saber, Vāsudeva, Saṅkarṣaṇa, Pradyumna e Aniruddha. O primeiro puruśa-avatāra, Mahā-Viṣṇu no Oceano Causal, que é o criador da totalidade da energia material, é uma expansão de Saṅkarṣaṇa; Garbhodakaśāyī Viṣṇu, o segundo puruṣa, é uma expansão de Pradyumna, e o terceiro puruṣa, Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu, é expansão de Aniruddha. Todos esses se enquadram na categoria de manifestações de Nārāyaṇa, que é uma manifestação de Śrī Kṛṣṇa.

Texto

sei tinera aṁśī paravyoma-nārāyaṇa
teṅha tomāra vilāsa, tumi mūla-nārāyaṇa

Sinônimos

sei — estes; tinera — dos três; aṁśī — fonte; para-vyoma — no céu espiritual; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; teṅha — Ele; tomāra — Vossa; vilāsa — expansão para passatempos; tumi — Vós; mūla — original; nārāyaṇa — Nārāyaṇa.

Tradução

“O Nārāyaṇa no céu espiritual é a fonte destes três aspectos. Ele é Vossa expansão vilāsa. Portanto, Vós sois o Nārāyaṇa fundamental.”

Texto

ataeva brahma-vākye — paravyoma-nārāyaṇa
teṅho kṛṣṇera vilāsa — ei tattva-vivaraṇa

Sinônimos

ataeva — portanto; brahma — do senhor Brahmā; vākye — nas palavras; para-vyoma — no céu espiritual; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; teṅho — Ele; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; vilāsa — encarnação para passatempos; ei — esta; tattva — da verdade; vivaraṇa — descrição.

Tradução

Portanto, segundo a autoridade de Brahmā, o Nārāyaṇa que é a Deidade predominante no mundo transcendental é apenas o aspecto vilāsa de Kṛṣṇa. Citando Brahmā, acabo de provar isso conclusivamente.

Texto

ei śloka tattva-lakṣaṇa bhāgavata-sāra
paribhāṣā-rūpe ihāra sarvatrādhikāra

Sinônimos

ei — este; śloka — verso; tattva — a verdade; lakṣaṇa — indicando; bhāgavata — do Śrīmad-Bhāgavatam; sāra — a essência; paribhāṣā — de sinônimos; rūpe — sob a forma; ihāra — deste (Śrīmad-Bhāgavatam); sarvatra — em toda a parte; adhikāra — jurisdição.

Tradução

A verdade indicada neste verso [verso 30] é a essência do Śrīmad-Bhāgavatam. Essa conclusão se aplica em toda a parte sob a forma de sinônimos.

Texto

brahma, ātmā, bhagavān — kṛṣṇera vihāra
e artha nā jāni’ mūrkha artha kare āra

Sinônimos

brahma — o Brahman impessoal; ātmā — a Superalma; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; vihāra — manifestações; e — este; artha — significado; — não; jāni’ — conhecendo; mūrkha — tolos; artha — significado; kare — fazem; āra — outro.

Tradução

Eruditos tolos especulam de diversas maneiras, desconhecendo que Brahman, Paramātmā e Bhagavān são todos aspectos de Kṛṣṇa.

Texto

avatārī nārāyaṇa, kṛṣṇa avatāra
teṅha catur-bhuja, iṅha manuṣya-ākāra

Sinônimos

avatārī — fonte das encarnações; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; avatāra — encarnação; teṅha — isto; catuḥ-bhuja — quatro braços; iṅha — este; manuṣya — como um homem; ākāra — forma.

Tradução

Porque Nārāyaṇa tem quatro mãos ao passo que Kṛṣṇa assemelha-Se a um homem, eles dizem que Nārāyaṇa é o Deus original ao passo que Kṛṣṇa é apenas uma encarnação.

Comentário

SIGNIFICADO—Alguns eruditos argumentam que Nārāyaṇa é a Personalidade de Deus original da qual Kṛṣṇa é uma encarnação, porque Śrī Kṛṣṇa tem duas mãos ao passo que Nārāyaṇa tem quatro. Tais eruditos sem inteligência não entendem os aspectos do Absoluto.

Texto

ei-mate nānā-rūpa kare pūrva-pakṣa
tāhāre nirjite bhāgavata-padya dakṣa

Sinônimos

ei-mate — dessa maneira; nānā — diversas; rūpa — formas; kare — assume; pūrva-pakṣa — as objeções; tāhāre — a elas; nirjite — superando; bhāgavata — do Śrīmad-Bhāgavatam; padya — poesia; dakṣa — hábil.

Tradução

Dessa maneira, os argumentos deles aparecem sob diversas formas, mas a poesia do Bhāgavatam habilmente refuta todas elas.

Texto

vadanti tat tattva-vidas
tattvaṁ yaj jñānam advayam
brahmeti paramātmeti
bhagavān iti śabdyate

Sinônimos

vadanti — dizem; tat — isto; tattva-vidaḥ — almas eruditas; tattvam — a Verdade Absoluta; yat — que; jñānam — conhecimento; advayam — não-dual; brahma — Brahman; iti — assim; paramātmā — Paramātmā; iti — assim; bhagavān — Bhagavān; iti — assim; śabdyate — é conhecida.

Tradução

“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta dizem que Ela é conhecimento não-dual e Se chama Brahman impessoal, Paramātmā localizado e a Personalidade de Deus.”

Comentário

SIGNIFICADO—Este verso é do Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.11).

Texto

śuna bhāi ei śloka karaha vicāra
eka mukhya-tattva, tina tāhāra pracāra

Sinônimos

śuna — por favor, ouvi; bhāi — irmãos; ei — este; śloka — verso; karaha — por favor, dai; vicāra — consideração; eka — único; mukhya — princípio; tattva — verdade; tina — três; tāhāra — desta; pracāra — manifestações.

Tradução

Meus queridos irmãos, por favor, ouvi a explicação deste verso e considerai seu significado: a entidade original única é conhecida sob Seus três diferentes aspectos.

Texto

advaya-jñāna tattva-vastu kṛṣṇera svarūpa
brahma, ātmā, bhagavān — tina tāṅra rūpa

Sinônimos

advaya-jñāna — conhecimento sem dualidade; tattva-vastu — a Verdade Absoluta; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; sva-rūpa — a própria natureza; brahma — Brahman; ātmā — Paramātmā; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; tina — três; tāṅra — dEle; rūpa — formas.

Tradução

O próprio Senhor Kṛṣṇa é a Verdade Absoluta única e íntegra, a realidade fundamental. Ele Se manifesta sob três aspectos – como Brahman, Paramātmā e Bhagavān.

Comentário

SIGNIFICADO—No verso citado acima (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.11), a expressão principal, bhagavān, indica a Personalidade de Deus, e Brahman e Paramātmā são qualidades concomitantes deduzidas da Personalidade Absoluta, assim como o governo e seus ministros são deduções do líder executivo supremo. Em outras palavras, a verdade principal manifesta-se em três fases diferentes. A Verdade Absoluta, a Personalidade de Deus Śrī Kṛṣṇa (Bhagavān), também é conhecida como Brahman e Paramātmā, embora todos esses aspectos sejam idênticos.

Texto

ei ślokera arthe tumi hailā nirvacana
āra eka śuna bhāgavatera vacana

Sinônimos

ei — este; ślokera — do verso; arthe — pelo significado; tumi — vós; hailā — ficastes; nirvacana — mudo; āra — outro; eka — um; śuna — por favor, ouvi; bhāgavatera — do Śrīmad-Bhāgavatam; vacana — palavras.

Tradução

O significado deste verso vos fez parar de argumentar. Agora, ouvi outro verso do Śrīmad-Bhāgavatam.

Texto

ete cāṁśa-kalāḥ puṁsaḥ
kṛṣṇas tu bhagavān svayam
indrāri-vyākulaṁ lokaṁ
mṛḍayanti yuge yuge

Sinônimos

ete — essas; ca — e; aṁśa — porções plenárias; kalāḥ — partes das porções plenárias; puṁsaḥ — dos puruṣa-avatāras; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; tu — porém; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; svayam — Ele próprio; indra-ari — os inimigos do Senhor Indra; vyākulam — cheio de; lokam — o mundo; mṛḍayanti — fazem feliz; yuge yuge — no momento oportuno em cada era.

Tradução

“Todas essas encarnações de Deus são, ou porções plenárias, ou partes das porções plenárias dos puruṣa-avatāras. Kṛṣṇa, porém, é a própria Suprema Personalidade de Deus. Em cada era, quando os inimigos de Indra perturbam o mundo, Ele o protege por meio de Seus diferentes aspectos.”

Comentário

SIGNIFICADO—Esta afirmação do Śrīmad-Bhāgavatam (1.3.28) nega definitivamente o conceito de que Śrī Kṛṣṇa é um avatāra de Viṣṇu ou Nārāyaṇa. O Senhor Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original, a suprema causa de todas as causas. Este verso mostra claramente que encarnações da Personalidade de Deus, tais como Śrī Rāma, Nṛsiṁha e Varāha, pertencem, sem dúvida alguma, ao grupo de Viṣṇu, mas são ou porções plenárias ou porções das porções plenárias da Personalidade de Deus original, o Senhor Śrī Kṛṣṇa.

Texto

saba avatārera kari sāmānya-lakṣaṇa
tāra madhye kṛṣṇa-candrera karila gaṇana

Sinônimos

saba — todas; avatārera — das encarnações; kari — fazendo; sāmānya — geral; lakṣaṇa — sintomas; tāra — delas; madhye — entre; kṛṣṇa-candrera — do Senhor Śrī Kṛṣṇa; karila — fez; gaṇana — incluindo.

Tradução

O Bhāgavatam descreve os sintomas e atos das encarnações em geral e inclui Śrī Kṛṣṇa entre elas.

Texto

tabe sūta gosāñi mane pāñā baḍa bhaya
yāra ye lakṣaṇa tāhā karila niścaya

Sinônimos

tabe — então; sūta gosāñi — Sūta Gosvāmī; mane — na mente; pāñā — obtendo; baḍa — grande; bhaya — temor; yāra — de quem; ye — que; lakṣaṇa — sintomas; tāhā — isso; karila — ele fez; niścaya — certamente.

Tradução

Isto deixou Sūta Gosvāmī bastante apreensivo. Portanto, ele distinguiu cada encarnação por seus sintomas específicos.

Texto

avatāra saba — puruṣera kalā, aṁśa
svayaṁ-bhagavān kṛṣṇa sarva-avataṁsa

Sinônimos

avatāra — as encarnações; saba — todas; puruṣera — dos puruṣa-avatāras; kalā — partes das porções plenárias; aṁśa — porções plenárias; svayam — Ele próprio; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; sarva — de todas; avataṁsa — auge.

Tradução

Todas as encarnações da Divindade são porções plenárias ou partes das porções plenárias dos puruṣa-avatāras, porém o Senhor primordial é Śrī Kṛṣṇa. Ele é a Suprema Personalidade de Deus, o manancial de todas as encarnações.

Texto

pūrva-pakṣa kahe — tomāra bhāla ta’ vyākhyāna
paravyoma-nārāyaṇa svayaṁ-bhagavān

Sinônimos

pūrva-pakṣa — lado oposto; kahe — diga; tomāra — tua; bhāla — boa; ta’ — decerto; vyākhyāna — exposição; para-vyoma — situado no céu espiritual; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; svayam — Ele próprio; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Pode ser que um oponente diga: “Esta é a tua interpretação, mas, na verdade, o Senhor Supremo é Nārāyaṇa, que está no reino transcendental.”

Texto

teṅha āsi’ kṛṣṇa-rūpe karena avatāra
ei artha śloke dekhi ki āra vicāra

Sinônimos

teṅha — Ele (Nārāyaṇa); āsi’ — vindo; kṛṣṇa-rūpe — sob a forma do Senhor Kṛṣṇa; karena — faz; avatāra — encarnação; ei — este; artha — significado; śloke — no verso; dekhi — eu vejo; ki — que; āra — outra; vicāra — consideração.

Tradução

“Ele [Nārāyaṇa] encarna como o Senhor Kṛṣṇa. Esta é a maneira como vejo o significado do verso. Não há necessidade de considerações adicionais.”

Texto

tāre kahe — kene kara kutarkānumāna
śāstra-viruddhārtha kabhu nā haya pramāṇa

Sinônimos

tāre — a ele; kahe — se diz; kene — por que; kara — fazes; ku-tarka — de um argumento falaz; anumāna — conjectura; śāstra-viruddha — contrária à escritura; artha — um significado; kabhu — em tempo algum; — não; haya — é; pramāṇa—evidência.

Tradução

Podemos responder a tal intérprete desorientado: “Por que sugeres essa lógica falaz? Uma interpretação que se oponha aos princípios da escritura jamais é aceita como evidência.”

Texto

anuvādam anuktvā tu
na vidheyam udīrayet
na hy alabdhāspadaṁ kiñcit
kutracit pratitiṣṭhati

Sinônimos

anuvādam — o sujeito; anuktvā — não expondo; tu — mas; na — não; vidheyam — o predicado; udīrayet — deve-se falar; na — não; hi — certamente; alabdha-āspadam — sem uma posição segura; kiñcit — algo; kutracit — em qualquer lugar; pratitiṣṭhati — fica.

Tradução

“Não se deve expor um predicado antes de seu sujeito, pois ele não pode ficar assim, sem apoio adequado.”

Comentário

SIGNIFICADO—Esta regra de retórica aparece no Ekādaśī-tattva, décimo terceiro canto, a respeito do uso metafórico das palavras. Não se deve colocar um objeto desconhecido antes do sujeito conhecido porque, se o sujeito não é mencionado primeiro, o objeto fica sem sentido.

Texto

anuvāda nā kahiyā nā kahi vidheya
āge anuvāda kahi, paścād vidheya

Sinônimos

anuvāda — o sujeito; nā kahiyā — não dizendo; — não; kahi — digo; vidheya — o predicado; āge — primeiro; anuvāda — o sujeito; kahi — digo; paścāt — a seguir; vidheya — o predicado.

Tradução

Se não cito um sujeito, não cito o predicado. Primeiro menciono aquele e, então, este.

Texto

‘vidheya’ kahiye tāre, ye vastu ajñāta
‘anuvāda’ kahi tāre, yei haya jñāta

Sinônimos

vidheya — o predicado; kahiye — digo; tāre — a ele; ye — aquela; vastu — coisa; ajñāta — desconhecida; anuvāda — o sujeito; kahi — digo; tāre — a ele; yei — aquilo que; haya — é; jñāta — conhecido.

Tradução

O predicado de uma oração é aquilo que o leitor desconhece, ao passo que o sujeito ele conhece.

Texto

yaiche kahi, — ei vipra parama paṇḍita
vipra — anuvāda, ihāra vidheya — pāṇḍitya

Sinônimos

yaiche — assim como; kahi — eu digo; ei — este; viprabrāhmaṇa; parama — grande; paṇḍita — homem erudito; vipra — o brāhmaṇa; anuvāda — sujeito; ihāra — disto; vidheya — predicado; pāṇḍitya — erudição.

Tradução

Por exemplo, podemos dizer: “Este vipra é um homem muito erudito.” Nesta oração, o sujeito é o vipra, e o predicado é sua erudição.

Texto

vipratva vikhyāta tāra pāṇḍitya ajñāta
ataeva vipra āge, pāṇḍitya paścāta

Sinônimos

vipratva — a qualidade de ser vipra; vikhyāta — bem conhecida; tāra — sua; pāṇḍitya — erudição; ajñāta — desconhecida; ataeva — portanto; vipra — a palavra vipra; āge — primeiro; pāṇḍitya — erudição; paścāta — a seguir.

Tradução

Sabe-se que o homem é um vipra, mas sua erudição é desconhecida. Portanto, identifica-se a pessoa primeiro, e depois sua erudição.

Texto

taiche iṅha avatāra saba haila jñāta
kāra avatāra? — ei vastu avijñāta

Sinônimos

taiche — da mesma forma; iṅha — essas; avatāra — encarnações; saba — todas; haila — eram; jñāta — conhecidas; kāra — de quem; avatāra — encarnações; ei — esta; vastu — coisa; avijñāta — desconhecida.

Tradução

Da mesma forma, conheciam-se todas essas encarnações, porém não se sabia de quem elas são encarnações.

Texto

‘ete’-śabde avatārera āge anuvāda
‘puruṣera aṁśa’ pāche vidheya-saṁvāda

Sinônimos

ete-śabde — na palavra ete (essas); avatārera — das encarnações; āge — primeiramente; anuvāda — o sujeito; puruṣera — dos puruṣa-avatāras; aṁśa — porções plenárias; pāche — depois; vidheya — do predicado; saṁvāda — mensagem.

Tradução

Primeiramente, a palavra “ete” [“essas”] estabelece o sujeito [as encarnações]. Depois, “porções plenárias dos puruṣa-avatāras” segue-se como o predicado.

Texto

taiche kṛṣṇa avatāra-bhitare haila jñāta
tāṅhāra viśeṣa-jñāna sei avijñāta

Sinônimos

taiche — da mesma forma; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; avatāra-bhitare — entre as encarnações; haila — era; jñāta — conhecido; tāṅhāra — dEle; viśeṣa-jñāna —conhecimento específico; sei — isto; avijñāta — desconhecido.

Tradução

Da mesma forma, quando Kṛṣṇa foi primeiramente incluído entre as encarnações, ainda não se tinha conhecimento específico sobre Ele.

Texto

ataeva ‘kṛṣṇa’-śabda āge anuvāda
‘svayaṁ-bhagavattā’ piche vidheya-saṁvāda

Sinônimos

ataeva — portanto; kṛṣṇa-śabda — a palavra kṛṣṇa; āge — primeiro; anuvāda — o sujeito; svayam-bhagavattā — sendo Ele próprio a Suprema Personalidade de Deus; piche — em seguida; vidheya — do predicado; saṁvāda — a mensagem.

Tradução

Portanto, a palavra “kṛṣṇa” aparece primeiro como o sujeito, seguida pelo predicado, descrevendo-O como a Personalidade de Deus original.

Texto

kṛṣṇera svayaṁ-bhagavattā — ihā haila sādhya
svayaṁ-bhagavānera kṛṣṇatva haila bādhya

Sinônimos

kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; svayam-bhagavattā — a qualidade de Ele próprio ser a Suprema Personalidade de Deus; ihā — isto; haila — era; sādhya — para ser estabelecido; svayam-bhagavānera — da Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇatva — a qualidade de ser o Senhor Kṛṣṇa; haila — era; bādhya — obrigatório.

Tradução

Isso estabelece que Śrī Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original. Portanto, a Personalidade de Deus original é necessariamente Kṛṣṇa.

Texto

kṛṣṇa yadi aṁśa haita, aṁśī nārāyaṇa
tabe viparīta haita sūtera vacana

Sinônimos

kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; yadi — se; aṁśa — porção plenária; haita — fosse; aṁśī — a fonte de todas as expansões; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; tabe — então; viparīta — o inverso; haita — teria sido; sūtera — de Sūta Gosvāmī; vacana — a afirmação.

Tradução

Se Kṛṣṇa fosse a porção plenária e Nārāyaṇa o Senhor primordial, a afirmação de Sūta Gosvāmī estaria invertida.

Texto

nārāyaṇa aṁśī yei svayaṁ-bhagavān
teṅha śrī-kṛṣṇa — aiche karita vyākhyāna

Sinônimos

nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; aṁśī — a fonte de todas as encarnações; yei — que; svayam-bhagavān — Ele próprio a Suprema Personalidade de Deus; teṅha — Ele; śrī-kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; aiche — de tal modo; karita — teria feito; vyākhyāna — explicação.

Tradução

De tal modo, ele teria dito: “Nārāyaṇa, a fonte de todas as encarnações, é a Personalidade de Deus original. Ele apareceu como Śrī Kṛṣṇa.”

Texto

bhrama, pramāda, vipralipsā, karaṇāpāṭava
ārṣa-vijña-vākye nāhi doṣa ei saba

Sinônimos

bhrama — erros; pramāda — ilusão; vipra-lipsā — trapaça; kāraṇa-apāṭava — imperfeição dos sentidos; ārṣa — dos sábios autorizados; vijña-vakye — no discurso sábio; nāhi — não; doṣa — faltas; ei — estas; saba — todas.

Tradução

Erros, ilusões, trapaças e percepções imperfeitas não ocorrem nos dizeres dos sábios autorizados.

Comentário

SIGNIFICADO—O Śrīmad-Bhāgavatam dá uma lista dos avatāras, as expansões plenárias do puruṣa, e o Senhor Śrī Kṛṣṇa aparece entre eles. Mas, além disso, o Bhāgavatam explica a posição específica do Senhor Kṛṣṇa como a Suprema Personalidade de Deus. Uma vez que o Senhor Kṛṣṇa é a Personalidade de Deus original, a razão e o argumento estabelecem que Sua posição é sempre suprema.

Se Kṛṣṇa fosse uma expansão plenária de Nārāyaṇa, o verso original teria sido composto de forma diferente; na verdade, sua ordem teria sido invertida. Porém, não pode haver erros, ilusão, trapaça ou percepção imperfeita nas palavras de sábios liberados. Portanto, não há erro nessa afirmação de que o Senhor Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus. As afirmações em sânscrito do Śrīmad-Bhāgavatam são todas sons transcendentais. Śrīla Vyāsadeva revelou essas afirmações após compreendê-las perfeitamente, e por isso elas são perfeitas, pois sábios liberados como Vyāsadeva jamais cometem erros em seus arranjos retóricos. A menos que aceitemos esse fato, não adianta tentarmos obter auxílio das escrituras reveladas.

Bhrama refere-se a conhecimento falso ou erros, tais como tomar uma corda por uma cobra ou uma concha de ostra por ouro. Pramāda refere-se à falta de atenção ou má interpretação da realidade, e vipra-lipsā é a propensão de enganar. Karaṇāpāṭava refere-se à imperfeição dos sentidos materiais. Há muitos exemplos de tal imperfeição. Os olhos não podem ver aquilo que está muito distante ou que é muito pequeno. Não se pode nem mesmo ver as próprias pálpebras, que são as coisas mais próximas dos olhos, e, se alguém é acometido por uma doença como a icterícia, vê tudo amarelo. Analogamente, os ouvidos não podem ouvir sons distantes. Uma vez que a Personalidade de Deus e Suas porções plenárias, bem como Seus devotos autorrealizados, estão todos situados na transcendência, tais deficiências não podem desorientá-los.

Texto

viruddhārtha kaha tumi, kahite kara roṣa
tomāra arthe avimṛṣṭa-vidheyāṁśa-doṣa

Sinônimos

viruddha-artha — significado contrário; kaha — dizes; tumi — tu; kahite —indicando; kara — fazes; roṣa — zanga; tomāra — tua; arthe — no significado; avimṛṣṭa-vidheya-aṁśa — da porção do predicado imponderado; doṣa — a falta.

Tradução

Dizes algo contraditório e te zangas quando isso é indicado. Tua explicação tem o defeito de um objeto mal colocado. Isso é um ajuste imponderado.

Texto

yāṅra bhagavattā haite anyera bhagavattā
‘svayaṁ-bhagavān’-śabdera tāhātei sattā

Sinônimos

yāṅra — de quem; bhagavattā — a qualidade de ser a Suprema Personalidade de Deus; haite — de; anyera — de outras; bhagavattā — a qualidade de ser a Suprema Personalidade de Deus; svayam-bhagavān-śabdera — da expressão svayaṁ-bhagavān; tāhātei — naquilo; sattā — a presença.

Tradução

Somente a Personalidade de Deus, a fonte de todas as demais Divindades, é apto para ser designado como svayaṁ bhagavān, ou o Senhor primordial.

Texto

dīpa haite yaiche bahu dīpera jvalana
mūla eka dīpa tāhā kariye gaṇana

Sinônimos

dīpa — um candeeiro; haite — a partir de; yaiche — assim como; bahu — muitos; dīpera — de candeeiros; jvalana — acendendo; mūla — o original; eka — único; dīpa — candeeiro; tāhā — esta; kariye — faço; gaṇana — consideração.

Tradução

Quando, a partir de uma vela, acendem-se muitas outras, eu considero essa a original.

Comentário

SIGNIFICADO—A Brahma-saṁhitā, capítulo cinco, verso 46, afirma que o viṣṇu-tattva, ou o princípio da Personalidade de Deus Absoluta, é como uma vela porque as expansões igualam-se sob todos os aspectos à sua origem. Com um candeeiro aceso, podem-se acender inúmeros outros candeeiros que não são inferiores, mas, de qualquer modo, um candeeiro deve ser considerado o original. Analogamente, a Suprema Personalidade de Deus Se expande sob as formas plenárias do viṣṇu-tattva, porém, embora elas sejam igualmente poderosas, a original e poderosa Personalidade de Deus é considerada a fonte. Esse exemplo também explica o aparecimento de encarnações qualitativas como o senhor Śiva e o senhor Brahmā. Segundo Śrīla Jīva Gosvāmī, śambhos tu tamo-dhiṣṭhānatvāt kajjalamaya-sūkṣma-dīpa-śikhā-sthānīyasya na tathā sāmyam. “O śambhu-tattva, ou o princípio do senhor Śiva, é como um candeeiro coberto com carvão, porque ele está encarregado do modo da ignorância. A iluminação de tal candeeiro é muito diminuta. Portanto, o poder do senhor Śiva não pode comparar-se ao do princípio Viṣṇu.”

Texto

taiche saba avatārera kṛṣṇa se kāraṇa
āra eka śloka śuna, kuvyākhyā-khaṇḍana

Sinônimos

taiche — da mesma maneira; saba — todas; avatārera — das encarnações; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; se — Ele; kāraṇa — a causa; āra — outro; eka — um; śloka — verso; śuna — por favor, ouvi; ku-vyākhyā — explanações falazes; khaṇḍana — refutando.

Tradução

Da mesma maneira, Kṛṣṇa é a causa de todas as causas e de todas as encarnações. Por favor, escutai outro verso que derrota todas as interpretações errôneas.

Texto

atra sargo visargaś ca
sthānaṁ poṣaṇam ūtayaḥ
manvantareśānukathā
nirodho muktir āśrayaḥ
daśamasya viśuddhy-arthaṁ
navānām iha lakṣaṇam
varṇayanti mahātmānaḥ
śrutenārthena cāñjasā

Sinônimos

atra — no Śrīmad-Bhāgavatam; sargaḥ — a criação dos ingredientes do universo; visargaḥ — as criações de Brahmā; ca — e; sthānam — a manutenção da criação; poṣaṇam — o favorecimento dos devotos do Senhor; ūtayaḥ — ímpetos para atividade; manu-antara — deveres prescritos dados pelos Manus; īśa-anukathāḥ — uma descrição das encarnações do Senhor; nirodhaḥ — o encerramento da criação; muktiḥ — liberação; āśrayaḥ — o refúgio último, a Suprema Personalidade de Deus; daśamasya — do décimo (o āśraya); viśuddhi-artham — para o propósito do conhecimento perfeito; navānām — dos nove; iha — aqui; lakṣaṇam — a natureza; varṇayanti — descrevem; mahātmānaḥ — as grandes almas; śrutena — por meio de orações; arthena — por explicações; ca — e; añjasā — diretas.

Tradução

Aqui [no Śrīmad-Bhāgavatam] descrevem-se dez assuntos: (1) a criação dos ingredientes do cosmo, (2) as criações de Brahmā, (3) a manutenção da criação, (4) o favor especial dado aos fiéis, (5) ímpetos para a atividade, (6) os deveres prescritos para homens obedientes à lei, (7) uma descrição das encarnações do Senhor, (8) o encerramento da criação, (9) o libertar-se da existência material grosseira e sutil, e (10) o refúgio derradeiro, a Suprema Personalidade de Deus. O décimo item é o abrigo de todos os outros. Para distinguir este refúgio último dos outros nove assuntos, os mahājanas descrevem estes nove, direta ou indiretamente, por meio de orações ou explicações diretas.”

Comentário

SIGNIFICADO—Estes versos do Śrīmad-Bhāgavatam (2.10.1-2) enumeram os dez assuntos tratados no texto do Bhāgavatam. Desses assuntos, o décimo é a substância, e os outros nove são categorias derivadas da substância. Esses dez assuntos vão enumerados a seguir.

(1) Sarga: a primeira criação, feita por Viṣṇu, a produção dos cinco elementos materiais grosseiros, dos cinco objetos de percepção sensorial, dos dez sentidos, da mente, da inteligência, do falso ego e da totalidade da energia material ou forma universal.

(2) Visarga: a criação secundária, ou o trabalho de Brahmā ao produzir os corpos móveis e imóveis no universo (brahmāṇḍa).

(3) Sthāna: a manutenção do universo pela Personalidade de Deus, Viṣṇu. A função de Viṣṇu é mais importante e Sua glória, superior à de Brahmā e à do senhor Śiva, pois, embora Brahmā seja o criador e o senhor Śiva seja o destruidor, Viṣṇu é o mantenedor.

(4) Poṣaṇa: o cuidado e proteção especiais do Senhor a Seus devotos. Assim como um rei mantém seu reino e súditos, mas dá atenção especial aos membros de sua família, analogamente, a Personalidade de Deus oferece cuidados especiais a Seus devotos, que são almas inteiramente rendidas a Ele.

(5) Ūti: o ímpeto para a criação ou o poder iniciativo que é a causa de todas as invenções, segundo as necessidades de tempo, espaço e objetos.

(6) Manvantara: os princípios reguladores para seres vivos que desejam alcançar a perfeição na vida humana. As leis de Manu, conforme são descritas na Manu-saṁhitā, estabelecem a diretriz para tal perfeição.

(7) Īśānukathā: informação das escrituras a respeito da Personalidade de Deus, Suas encarnações na Terra e as atividades de Seus devotos. Escrituras que lidam com esses assuntos são essenciais para a vida humana progressiva.

(8) Nirodha: o recolhimento de todas as energias utilizadas na criação. Tais potências são emanações da Personalidade de Deus que está deitada eternamente no Oceano Kāraṇa. As criações cósmicas, manifestas juntamente com Sua respiração, são novamente dissolvidas no devido curso do tempo.

(9) Mukti: liberação das almas condicionadas encarceradas pelas coberturas grosseiras e sutis do corpo e da mente. Ao livrar-se de toda a afeição material, a alma, abandonando os corpos materiais grosseiro e sutil, pode atingir o céu espiritual em seu corpo espiritual original e ocupar-se no transcendental serviço amoroso ao Senhor em Vaikuṇṭhaloka ou Kṛṣṇaloka. Ao situar-se em sua posição constitucional original de existência, a alma é tida como liberada. É possível dedicar-se ao transcendental serviço amoroso ao Senhor e tornar-se jīvanmukta, alma liberada, mesmo enquanto no corpo material.

(10) Āśraya: a Transcendência, o summum bonum, de quem tudo emana, em quem tudo se apoia e em quem tudo imerge após a aniquilação. Ele é a fonte e o apoio de tudo. O āśraya é também chamado o Supremo Brahman, como no Vedānta-sūtra (athāto brahma-jijñāsā, janmādy asya yataḥ). O Śrīmad-Bhāgavatam descreve especialmente esse Supremo Brahman como o āśraya. Śrī Kṛṣṇa é esse āśraya, e por isso a maior necessidade da vida é estudar a ciência de Kṛṣṇa.

O Śrīmad-Bhāgavatam aceita Śrī Kṛṣṇa como o abrigo de todas as manifestações porque o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, é a fonte última de tudo, a meta suprema de tudo.

Dois princípios diferentes devem ser levados em consideração aqui – a saber, āśraya, o objeto que fornece abrigo, e āśrita, os dependentes que precisam do abrigo. Os āśritas existem sob o princípio original, o āśraya. As nove primeiras categorias, descritas nos primeiros nove cantos do Śrīmad-Bhāgavatam, desde a criação até a liberação, incluindo os puruṣa-avatāras, as encarnações, a energia marginal ou entidades vivas e a energia externa ou o mundo material, são todas āśrita. No entanto, as orações do Śrīmad-Bhāgavatam visam ao āśraya-tattva, a Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa. As grandes almas hábeis em descrever o Śrīmad-Bhāgavatam esboçam com todo o zelo as outras nove categorias, às vezes através de narrações diretas e às vezes através de narrações indiretas, tais como histórias. O propósito verdadeiro ao fazer isso é dar a conhecer perfeitamente a Transcendência Absoluta, Śrī Kṛṣṇa, pois toda a criação, tanto material quanto espiritual, descansa no corpo de Śrī Kṛṣṇa.

Texto

āśraya jānite kahi e nava padārtha
e navera utpatti-hetu sei āśrayārtha

Sinônimos

āśraya — o refúgio último; jānite — para conhecer; kahi — discuto; e — estas; nava — nove; pada-artha — categorias; e — estas; navera — das nove; utpatti — da origem; hetu — causa; sei — aquilo; āśraya — do refúgio; artha — o significado.

Tradução

Descrevo as outras nove categorias para conhecer distintamente o refúgio último de tudo o que existe. A causa do aparecimento dessas nove categorias é corretamente chamada de o refúgio delas.

Texto

kṛṣṇa eka sarvāśraya, kṛṣṇa sarva-dhāma
kṛṣṇera śarīre sarva-viśvera viśrāma

Sinônimos

kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; eka — único; sarva-āśraya — refúgio de tudo; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; sarva-dhāma — a morada de tudo; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; śarīre — no corpo; sarva-viśvera — de todos os universos; viśrāma — local de descanso.

Tradução

A Personalidade de Deus Śrī Kṛṣṇa é o refúgio e a morada de tudo. Todos os universos descansam em Seu corpo.

Texto

daśame daśamaṁ lakṣyam
āśritāśraya-vigraham
śrī-kṛṣṇākhyaṁ paraṁ dhāma
jagad-dhāma namāmi tat

Sinônimos

daśame — no décimo canto; daśamam — o décimo assunto; lakṣyam — ser visto; āśrita — do amparado; āśraya — do abrigo; vigraham — que é a forma; śrī-kṛṣṇa-ākhyam — conhecido como Senhor Śrī Kṛṣṇa; param — suprema; dhāma — morada; jagat-dhāma — a fonte dos universos; namāmi — ofereço minhas reverências; tat — a Ele.

Tradução

“O décimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam revela o décimo objeto, a Suprema Personalidade de Deus, que é o refúgio de todas as almas rendidas. Ele é conhecido como Śrī Kṛṣṇa, e é a fonte última de todos os universos. Deixai-me oferecer-Lhe minhas reverências.”

Comentário

SIGNIFICADO—Essa citação vem do comentário de Śrīdhara Svāmī sobre o primeiro verso do décimo canto, capítulo um, do Śrīmad-Bhāgavatam.

Texto

kṛṣṇera svarūpa, āra śakti-traya-jñāna
yāṅra haya, tāṅra nāhi kṛṣṇete ajñāna

Sinônimos

kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; sva-rūpa — a verdadeira natureza; āra — e; śakti-traya — das três energias; jñāna — conhecimento; yāṅra — cujo; haya — existe; tāṅra — dele; nāhi — não há; kṛṣṇete — no Senhor Kṛṣṇa; ajñāna — ignorância.

Tradução

Aquele que conhece a característica verdadeira de Śrī Kṛṣṇa e Suas três diferentes energias não pode permanecer ignorando-O.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Jīva Gosvāmī afirma em seu Bhagavat-sandarbha (16) que, por meio de Suas potências, que atuam em sequências naturais além do alcance da mente humana especuladora, a Transcendência Suprema, o summum bonum, existe eterna e simultaneamente em quatro aspectos transcendentais: Sua personalidade, Sua refulgência impessoal, Suas partes integrantes potenciais (os seres vivos) e a causa principal de todas as causas. Compara-se o Supremo Todo ao Sol, que também existe sob quatro aspectos, a saber, a personalidade do deus do Sol, o fulgor de sua esfera brilhante, os raios do Sol dentro do planeta Sol e os reflexos do Sol em muitos outros objetos. Não se pode satisfazer a ambição de provar a existência da transcendental Verdade Absoluta por meio de esforços hipotéticos limitados, pois Ela está além do alcance de nossas mentes especulativas limitadas. Numa busca honesta da verdade, devemos admitir que os poderes dEle são inconcebíveis para nossos cérebros diminutos. A exploração espacial tem exigido o trabalho dos maiores cientistas do mundo, mas existem inúmeros problemas, inclusive no que se refere ao conhecimento fundamental da criação material, que confundem os cientistas que os defrontam. Tal conhecimento material está bastante afastado da natureza espiritual, em virtude do que as ações e arranjos da Verdade Absoluta são, sem sombra de dúvidas, inconcebíveis.

Menciona-se que as potências primárias da Verdade Absoluta são três: a interna, a externa e a marginal. Por meio das ações de Sua potência interna, a Personalidade de Deus sob Sua forma original exibe as manifestações cósmicas espirituais conhecidas como os Vaikuṇṭha-lokas eternos, que existem eternamente, mesmo após a destruição da manifestação cósmica material. Por meio de Sua potência marginal, o Senhor Se expande como seres vivos que são partes dEle, assim como o Sol distribui seus raios em todas as direções. Por meio de Sua potência externa, o Senhor manifesta a criação material, assim como o Sol cria o nevoeiro com seus raios. A criação material é apenas um reflexo pervertido da eterna natureza Vaikuṇṭha.

Essas três energias da Verdade Absoluta também são descritas no Viṣṇu Purāṇa, onde se diz que o ser vivo é qualitativamente igual à potência interna, ao passo que a causa principal de todas as causas controla indiretamente a potência externa. Māyā, a energia ilusória, desorienta o ser vivo assim como o nevoeiro confunde um pedestre, obstruindo a luz do Sol. Embora a potência de māyā seja qualitativamente inferior à potência marginal, constituída pelos seres vivos, que são partes integrantes do Senhor, não obstante, ela tem o poder de controlar os seres vivos, assim como o nevoeiro pode impedir a passagem duma determinada porção dos raios do Sol, embora não possa cobrir o Sol. Os seres vivos cobertos pela energia ilusória evoluem em diferentes espécies de vida, com corpos que vão desde o de uma formiga insignificante até o de Brahmā, o construtor do cosmo. O pradhāna, a causa principal de todas as causas do ponto de vista impessoal, não é outro senão o Senhor Supremo, a quem se pode ver face a face na potência interna. Ele assume a forma material onipenetrante através de Seu poder inconcebível. Embora todas as três potências – a saber, a interna, a externa e a marginal – sejam essencialmente iguais em última análise, elas são diferentes em ação, assim como a energia elétrica, que pode produzir tanto frio quanto calor sob diferentes condições. As potências externa e marginal são assim denominadas sob condições variadas, porém, nas potências internas originais, tais condições não existem, tampouco é possível que as condições da potência externa existam na marginal, ou vice-versa. Aquele que é capaz de compreender as complexidades de todas essas energias do Senhor Supremo não pode permanecer mais sendo um impersonalista empírico sob a influência dum pobre fundo de conhecimento.

Texto

kṛṣṇera svarūpera haya ṣaḍ-vidha vilāsa
prābhava-vaibhava-rūpe dvi-vidha prakāśa

Sinônimos

kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; sva-rūpera — da forma; haya — existem; ṣaḍ-vidha — seis espécies; vilāsa — formas para passatempos; prābhava-vaibhava-rūpe — nas divisões de prābhava e vaibhava; dvi-vidha — duas espécies; prakāśa — manifestações.

Tradução

A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, diverte-Se sob seis expansões primárias. Suas duas manifestações são prābhava e vaibhava.

Comentário

SIGNIFICADO—Agora o autor do Śrī Caitanya-caritāmṛta volta-se para uma descrição de Kṛṣṇa, a Personalidade de Deus, em Suas inúmeras expansões. A princípio, o Senhor Se expande em duas categorias, a saber, prābhava e vaibhava. As formas prābhava são plenamente potentes como Śrī Kṛṣṇa, e as formas vaibhava são parcialmente potentes. As formas prābhava manifestam-se em relação com potências, mas as formas vaibhava manifestam-se em relação com excelências. As potentes manifestações prābhava são também de duas variedades: temporária e eterna. As formas Mohinī, Haṁsa e Śukla manifestam-se apenas temporariamente, em termos de uma era em particular. Dentre os outros prābhavas, que não são muito famosos segundo a estimativa material, estão Dhanvantarī, Ṛṣabha, Vyāsa, Dattātreya e Kapila. Dentre as formas vaibhava-prakāśa estão Kūrma, Matsya, Nara-Nārāyaṇa, Varāha, Hayagrīva, Pṛśnigarbha, Baladeva, Yajña, Vibhu, Satyasena, Hari, Vaikuṇṭha, Ajita, Vāmana, Sārvabhauma, Ṛṣabha, Viṣvaksena, Dharmasetu, Sudhāmā, Yogeśvara e Bṛhadbhānu.

Texto

aṁśa-śaktyāveśa-rūpe dvi-vidhāvatāra
bālya paugaṇḍa dharma dui ta’ prakāra

Sinônimos

aṁśa — da expansão plenária; śakti-aveśa — da dotada de poder; rūpe — nas formas; dvi-vidha — duas classes; avatāra — encarnações; bālya — infância; paugaṇḍa — meninice; dharma — características de idade; dui — duas; ta’ — certamente; prakāra — espécies.

Tradução

Suas encarnações são de duas classes, a saber, parcial e dotada de poder. Ele aparece em duas idades – infância e meninice.

Comentário

SIGNIFICADO—As formas vilāsa são em número de seis. As encarnações são de duas variedades, a saber, śaktyāveśa (dotada de poder) e aṁśāveśa (parcial). Essas encarnações também se enquadram na categoria das manifestações prābhava e vaibhava. Infância e meninice são dois aspectos especiais da Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, mas Seu aspecto permanente é Sua forma eterna como um jovem adolescente. A Personalidade de Deus original, Śrī Kṛṣṇa, é sempre adorado sob essa forma eterna de adolescente.

Texto

kiśora-svarūpa kṛṣṇa svayaṁ avatārī
krīḍā kare ei chaya-rūpe viśva bhari’

Sinônimos

kiśora-svarūpa — cuja natureza verdadeira é a de um adolescente; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; svayam — Ele próprio; avatārī — a fonte de todas as encarnações; krīḍā kare — Ele brinca; ei — estas; chaya-rūpe — em seis formas; viśva — os universos; bhari’ — mantendo.

Tradução

A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, que é eternamente um adolescente, é o Senhor primordial, a fonte de todas as encarnações. Ele Se expande nessas seis categorias de formas para estabelecer Sua supremacia em todo o universo.

Texto

ei chaya-rūpe haya ananta vibheda
ananta-rūpe eka-rūpa, nāhi kichu bheda

Sinônimos

ei — estas; chaya-rūpe — em seis formas; haya — há; ananta — ilimitadas; vibheda — variedades; ananta-rūpe — em formas ilimitadas; eka-rūpa — uma forma; nāhi — não há; kichu — qualquer; bheda — diferença.

Tradução

Há inúmeras variedades nessas seis espécies de formas. Embora sejam muitas, elas são todas iguais: não há diferença entre elas.

Comentário

SIGNIFICADO—A Personalidade de Deus manifesta-Se sob seis diferentes aspectos: (1) prābhava, (2) vaibhava, (3) encarnações dotadas de poder, (4) encarnações parciais, (5) infância e (6) meninice. A Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, cujo aspecto permanente é a adolescência, goza de Suas inclinações transcendentais executando passatempos sob essas seis formas. Nesses seis aspectos, há divisões ilimitadas das formas da Personalidade de Deus. As jīvas, ou seres vivos, são partes integrantes diferenciadas do Senhor. Eles todos são diversidades do único e inigualável, a Suprema Personalidade de Deus.

Texto

cic-chakti, svarūpa-śakti, antaraṅgā nāma
tāhāra vaibhava ananta vaikuṇṭhādi dhāma

Sinônimos

cit-śakti — energia espiritual; svarūpa-śakti — energia pessoal; antaraṅgā —interna; nāma — chamada; tāhāra — disso; vaibhava — manifestações; ananta — ilimitadas; vaikuṇṭha-ādi — Vaikuṇṭha, etc.; dhāma — moradas.

Tradução

A cit-śakti, que também é chamada de svarūpa-śakti ou antaraṅga-śakti, exibe muitas variedades de manifestações. Ela sustém o reino de Deus e a parafernália dele.

Texto

māyā-śakti, bahiraṅgā, jagat-kāraṇa
tāhāra vaibhava ananta brahmāṇḍera gaṇa

Sinônimos

māyā-śakti — a energia ilusória; bahiraṅga — externa; jagat-kāraṇa — a causa do universo; tāhāra — disso; vaibhava — manifestações; ananta — ilimitados; brahma-aṇḍera — de universos; gaṇa — multidões.

Tradução

A energia externa, chamada māyā-śakti, é a causa de inúmeros universos com variadas potências materiais.

Texto

jīva-śakti taṭasthākhya, nāhi yāra anta
mukhya tina śakti, tāra vibheda ananta

Sinônimos

jīva-śakti — a energia da entidade viva; taṭastha-ākhya — conhecida como marginal; nāhi — não há; yāra — da qual; anta — fim; mukhya — principais; tina — três; śakti — energias; tāra — delas; vibheda — variedades; ananta — ilimitadas.

Tradução

A potência marginal, que está entre essas duas, consiste nos inúmeros seres vivos. São essas as três energias principais, que têm categorias e subdivisões ilimitadas.

Comentário

SIGNIFICADO—A potência interna do Senhor, chamada cit-śakti ou antaraṅga-śakti, manifesta variedade no cosmo Vaikuṇṭha transcendental. Acima de nós, existem inumeráveis seres vivos liberados que se associam com a Personalidade de Deus sob Seus aspectos inumeráveis. O cosmo material revela a energia externa, na qual os seres vivos condicionados têm toda a liberdade de regressarem à Personalidade de Deus após deixarem o tabernáculo material. A Śvetāśvatara Upaniṣad (6.8) nos informa:

na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate
na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate
parāsya śaktir vividhaiva śrūyate
svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca

“O Senhor Supremo é único e inigualável. Pessoalmente, Ele nada tem a fazer, nem tem sentidos materiais. Ninguém é igual a Ele ou superior a Ele. Ele tem ilimitadas potências variadas com diferentes nomes, que existem dentro dEle como atributos autônomos e que Lhe fornecem conhecimento, poder e passatempos plenos.”

Texto

e-mata svarūpa-gaṇa, āra tina śakti
sabhāra āśraya kṛṣṇa, kṛṣṇe sabhāra sthiti

Sinônimos

e-mata — dessa maneira; svarūpa-gaṇa — formas pessoais; āra — e; tina — três; śakti — energias; sabhāra — de toda a reunião; āśraya — o refúgio; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; kṛṣṇe — no Senhor Kṛṣṇa; sabhāra — de toda a reunião; sthiti — a existência.

Tradução

Essas são as principais manifestações e expansões da Personalidade de Deus e de Suas três energias. Todas elas são emanações da Transcendência, Śrī Kṛṣṇa. A existência delas está nEle.

Texto

yadyapi brahmāṇḍa-gaṇera puruṣa āśraya
sei puruṣādi sabhāra kṛṣṇa mūlāśraya

Sinônimos

yadyapi — embora; brahma-aṇḍa-gaṇera — da multidão de universos; puruṣa — o puruṣa-avatāra; āśraya — o refúgio; sei — isto; puruṣa-ādi — dos puruṣa-avatāras, etc.; sabhāra — da reunião; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; mūla-āśraya — a fonte original.

Tradução

Embora os três puruṣas sejam o refúgio de todos os universos, o Senhor Kṛṣṇa é a fonte original dos puruṣas.

Texto

svayaṁ bhagavān kṛṣṇa, kṛṣṇa sarvāśraya
parama īśvara kṛṣṇa sarva-śāstre kaya

Sinônimos

svayam — Ele próprio; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; sarva-āśraya — o refúgio de tudo; parama — Supremo; īśvara — Senhor; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; sarva-śāstre — todas as escrituras; kaya — dizem.

Tradução

Assim, a Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, é o Senhor primordial original, a fonte de todas as outras expansões. Todas as escrituras reveladas aceitam Śrī Kṛṣṇa como o Senhor Supremo.

Texto

īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ
sac-cid-ānanda-vigrahaḥ
anādir ādir govindaḥ
sarva-kāraṇa-kāraṇam

Sinônimos

īśvaraḥ — o controlador; paramaḥ — supremo; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; sat — existência eterna; cit — conhecimento absoluto; ānanda — bem-aventurança absoluta; vigrahaḥ — cuja forma; anādiḥ — sem começo; ādiḥ — a origem; govindaḥ — o Senhor Govinda; sarva-kāraṇa-kāraṇam — a causa de todas as causas.

Tradução

“Kṛṣṇa, que é conhecido como Govinda, é o controlador supremo. Ele tem corpo espiritual eterno e bem-aventurado. Ele é a origem de tudo. Ele não tem outra origem, pois Ele é a causa primordial de todas as causas.”

Comentário

SIGNIFICADO—Este é o primeiro verso do capítulo quinto da Brahma-saṁhitā.

Texto

e saba siddhānta tumi jāna bhāla-mate
tabu pūrva-pakṣa kara āmā cālāite

Sinônimos

e — estas; saba — todas; siddhānta — conclusões; tumi — tu; jāna — conheces; bhāla-mate — no bom sentido; tabu — porém; pūrva-pakṣa — objeção; kara — fazes; āmā — a mim; cālāite — para provocar ansiedade desnecessária.

Tradução

Conheces muito bem todas as conclusões das escrituras. Crias esses argumentos lógicos somente para me trazer ansiedade.

Comentário

SIGNIFICADO—Um homem erudito que tenha estudado integralmente as escrituras não pode hesitar em aceitar Śrī Kṛṣṇa como a Suprema Personalidade de Deus. Se um homem assim argumenta sobre este assunto, certamente deve estar fazendo isso para causar ansiedade na mente de seus oponentes.

Texto

sei kṛṣṇa avatārī vrajendra-kumāra
āpane caitanya-rūpe kaila avatāra

Sinônimos

sei — esse; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; avatārī — a fonte de todas as encarnações; vrajendra-kumāra — o filho do rei de Vraja; āpane — pessoalmente; caitanya-rūpe — sob a forma do Senhor Caitanya Mahāprabhu; kaila — feita; avatāra — encarnação.

Tradução

Esse mesmo Senhor Kṛṣṇa, o manancial de todas as encarnações, é conhecido como o filho do rei de Vraja. Ele desce pessoalmente como o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu.

Texto

ataeva caitanya gosāñi paratattva-sīmā
tāṅre kṣīroda-śāyī kahi, ki tāṅra mahimā

Sinônimos

ataeva — portanto; caitanya gosāñi — o Senhor Caitanya Mahāprabhu; para-tattva-sīmā — o limite máximo da Verdade Absoluta; tāṅre — a Ele; kṣīroda-śāyī — Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu; kahi — se eu chamo; ki — o que; tāṅra — dEle; mahimā — glória.

Tradução

Portanto, o Senhor Caitanya é a Suprema Verdade Absoluta. Chamá-lO de Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu não acrescenta nada à Sua glória.

Texto

sei ta’ bhaktera vākya nahe vyabhicārī
sakala sambhave tāṅte, yāte avatārī

Sinônimos

sei — isto; ta’ — certamente; bhaktera — de um devoto; vākya — palavras; nahe — não é; vyabhicārī — desvio; sakala — todas; sambhave — possibilidades; tāṅte — nEle; yāte — pois; avatārī — a fonte de todas as encarnações.

Tradução

Mas tais palavras dos lábios de um devoto sincero não podem ser falsas. NEle, existem todas as possibilidades, pois Ele é o Senhor primordial.

Texto

avatārīra dehe saba avatārera sthiti
keho kona-mate kahe, yemana yāra mati

Sinônimos

avatārīra — da fonte; dehe — no corpo; saba — todas; avatārera — das encarnações; sthiti — existência; keho — alguém; kona-mate — de alguma maneira; kahe — diz; yemana — como da maneira; yāra — de quem; mati — o parecer.

Tradução

No corpo original do Senhor primordial, encontram-se potencialmente todas as outras encarnações. Assim, segundo o parecer de cada um, pode-se dirigir-se a Ele como qualquer uma das encarnações.

Comentário

SIGNIFICADO—Para um devoto, não é contraditório chamar o Senhor Supremo por qualquer um dos diversos nomes de Suas expansões plenárias, pois a Personalidade de Deus original inclui todas essas categorias. Uma vez que as expansões plenárias existem dentro da pessoa original, pode-se chamá-lO por qualquer um desses nomes. No Śrī Caitanya-bhāgavata (Madhya 6.95), o Senhor Caitanya diz: “Eu jazia adormecido no oceano de leite, mas a súplica de Nāḍā, Śrī Advaita Prabhu, despertou-Me.” Aqui, o Senhor refere-Se à Sua forma como Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu.

Texto

kṛṣṇake kahaye keha — nara-nārāyaṇa
keho kahe, kṛṣṇa haya sākṣāṭ vāmana

Sinônimos

kṛṣṇake — o Senhor Kṛṣṇa; kahaye — diz; keha — alguém; nara-nārāyaṇa — Nara-Nārāyaṇa; keho — alguém; kahe — diz; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; haya — é; sākṣāt — diretamente; vāmana — o Senhor Vāmana.

Tradução

Alguns dizem que Śrī Kṛṣṇa é diretamente Nara-Nārāyaṇa. Outros dizem que Ele é diretamente Vāmana.

Texto

keho kahe, kṛṣṇa kṣīroda-śāyī avatāra
asambhava nahe, satya vacana sabāra

Sinônimos

keho — alguém; kahe — diz; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; kṣīroda-śāyī — Kṣīrodaka-śāyī Viṣṇu; avatāra — encarnação; asambhava — impossível; nahe — não é; satya — verdadeiras; vacana — palavras; sabāra — de todas.

Tradução

Alguns dizem que Kṛṣṇa é a encarnação de Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Nenhuma dessas afirmações é impossível; cada uma delas é tão correta quanto as demais.

Comentário

SIGNIFICADO—O Laghu-bhāgavatāmṛta (5.383) afirma:

ata evā purāṇādaukecin nara-sakhātmatām
mahendrānujatāṁ kecit
kecit kṣīrābdhi-śāyitām
sahasra-śīrṣatāṁ kecitkecid vaikuṇṭha-nāthatām
brūyuḥ kṛṣṇasya munayas
tat-tad-vṛtty-anugāminaḥ

“De acordo com as relações íntimas entre Śrī Kṛṣṇa, o Senhor primordial, e Seus devotos, os Purāṇas descrevem-nO com diferentes nomes. Ora Ele é chamado de Nārāyaṇa, ora de Upendra (Vāmana), o irmão mais novo de Indra, o rei do céu, ora de Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu. Ora Ele é chamado de Śeṣa Nāga, com milhares de capelos, ora de o Senhor de Vaikuṇṭha.”

Texto

keho kahe, para-vyome nārāyaṇa hari
sakala sambhave kṛṣṇe, yāte avatārī

Sinônimos

keho — alguém; kahe — diz; para-vyome — no mundo transcendental; nārāyaṇa — o Senhor Nārāyaṇa; hari — a Suprema Personalidade de Deus; sakala sambhave — todas as possibilidades; kṛṣṇe — no Senhor Kṛṣṇa; yāte — uma vez que; avatārī — a fonte de todas as encarnações.

Tradução

Alguns chamam-nO de Hari, ou o Nārāyaṇa do mundo transcendental. Tudo é possível em Kṛṣṇa, pois Ele é o Senhor primordial.

Texto

saba śrotā-gaṇera kari caraṇa vandana
e saba siddhānta śuna, kari’ eka mana

Sinônimos

saba — todos; śrotā-gaṇera — dos ouvintes; kari — faço; caraṇa — aos pés de lótus; vandana — orando; e — estas; saba — todas; siddhānta — conclusões; śuna — por favor, ouvi; kari’ — fazendo; eka — única; mana — mente.

Tradução

Ofereço minhas reverências aos pés de todos aqueles que ouvem ou leem este discurso. Por favor, ouvi com atenção a conclusão de todas essas afirmações.

Comentário

SIGNIFICADO—Prostrando-se aos pés de seus leitores, o autor do Śrī Caitanya-caritāmṛta, com toda a humildade, suplica-lhes que ouçam com profunda atenção esses argumentos conclusivos sobre a Verdade Absoluta. Não devemos deixar de ouvir tais argumentos, pois apenas mediante tal conhecimento podemos conhecer Kṛṣṇa perfeitamente.

Texto

siddhānta baliyā citte nā kara alasa
ihā ha-ite kṛṣṇe lāge sudṛḍha mānasa

Sinônimos

siddhānta — conclusão; baliyā — considerando; citte — na mente; nā kara — não seja; alasa — preguiçosa; ihā — isto; ha-ite — de; kṛṣṇe — no Senhor Kṛṣṇa; lāge — fixa-se; su-dṛḍha — muito firme; mānasa — a mente.

Tradução

Um estudante sincero não deve negligenciar a discussão de tais conclusões, considerando-as controvertidas, pois tais discussões fortalecem a mente. Assim, nossa mente se apega a Śrī Kṛṣṇa.

Comentário

SIGNIFICADO—Há muitos estudantes que, apesar de lerem a Bhagavad-gītā, não compreendem Kṛṣṇa por causa de conhecimento imperfeito e concluem que Ele é uma personalidade histórica comum. Não se deve fazer isso. Deve-se ter um cuidado muito especial em compreender a verdade sobre Kṛṣṇa. Se, por preguiça, alguém não chegar a conhecer Kṛṣṇa conclusivamente, acabará se confundindo a respeito do culto da devoção, como aqueles que se declaram devotos avançados e imitam os sintomas transcendentais às vezes observados nas almas liberadas. Embora o uso de pensamentos e argumentos seja um processo muito adequado para induzir uma pessoa não iniciada a tornar-se devota, os neófitos no serviço devocional sempre devem cautelosamente compreender Kṛṣṇa através da visão das escrituras reveladas, dos devotos fidedignos e do mestre espiritual. A menos que ouçamos sobre Śrī Kṛṣṇa da parte de tais autoridades, não podemos fazer avanço na devoção a Śrī Kṛṣṇa. As escrituras reveladas mencionam nove meios de alcançar serviço devocional, do quais o primeiro e principal é ouvir da parte da autoridade. A menos que se regue a semente da devoção mediante o processo de ouvir e cantar, ela não poderá brotar. Devemos receber submissamente as mensagens transcendentais de fontes espiritualmente avançadas e cantar as mesmíssimas mensagens para nosso próprio benefício, bem como para o benefício de nossa audiência.

Ao descrever a situação dos devotos puros, livres do cultivo de filosofia empírica e ações fruitivas, Brahmā recomendou o processo de ouvir da parte de pessoas que estejam no caminho da devoção. Seguindo os passos de tais almas liberadas, que são capazes de vibrar o som transcendental verdadeiro, é possível elevar-se à fase máxima de devoção, tornando-se, assim, um mahā-bhāgavata. Dos ensinamentos do Senhor Caitanya Mahāprabhu a Sanātana Gosvāmī, aprendemos o seguinte:

śāstra-yuktye sunipuṇa, dṛḍha-śraddhā yāṅra
‘uttama-adhikārī’ sei tāraye saṁsāra

“Uma pessoa que é hábil em compreender a conclusão das escrituras reveladas e que se rende plenamente à causa do Senhor é realmente capaz de liberar outras pessoas das garras da existência material.” (Madhya 22.65) Śrīla Rūpa Gosvāmī, em seu Upadeśāmṛta, aconselha que, para fazer avanço rápido no culto do serviço devocional, deve-se ser muito ativo e deve-se perseverar na execução dos deveres especificados nas escrituras reveladas e confirmados pelo mestre espiritual. A aceitação do caminho das almas liberadas e a companhia de devotos puros enriquecem tais atividades.

Devotos de imitação, que desejam se autopromover como vaiṣṇavas elevados e que, portanto, imitam os ācāryas anteriores sem os seguirem em princípios, são condenados nas palavras do Śrīmad-Bhāgavatam como pessoas de coração de pedra. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta a respeito dessa condição de coração de pedra deles da seguinte maneira: bahir aśru-pulakayoḥ sator api yad dhṛdayaṁ na vikriyeta tad aśma-sāram iti kaniṣṭhādhikāriṇām eva aśru- pulakādi-mattve ’pi aśma-sāra-hṛdayatayā nindaiṣā. “Aqueles que têm prática em verter lágrimas, mas cujos corações não se transformaram, devem ser tidos como devotos de coração de pedra do mais baixo grau. Condena-se sempre o choro fingido deles, induzido pela prática artificial.” A desejada mudança de coração a que se faz referência acima torna-se visível na relutância em fazer qualquer coisa incompatível com o método devocional. Para se criar tal mudança no coração, as discussões conclusivas sobre Śrī Kṛṣṇa e Suas potências são absolutamente necessárias. Devotos falsos poderão pensar que o mero verter de lágrimas conduzirá alguém ao plano transcendental, mesmo que ele não tenha experimentado uma verdadeira transformação no coração, mas semelhante prática será inútil se não houver compreensão transcendental. Carentes da conclusão do conhecimento transcendental, devotos falsos pensam que o artificial verter de lágrimas os libertará. De forma semelhante, outros devotos falsos pensam que o estudo dos livros dos ācāryas anteriores é desaconselhável, assim como o é o estudo das filosofias empíricas secas. Mas Śrīla Jīva Gosvāmī, seguindo os ācāryas anteriores, inculca as conclusões das escrituras nas seis teses chamadas Ṣaṭ-sandarbhas. Os devotos falsos, que têm pouquíssimo conhecimento de tais conclusões, não conseguem alcançar devoção pura por falta de zelo em aceitar as orientações favoráveis para o serviço devocional, dadas por devotos auto-realizados. Esses devotos falsos são como impersonalistas, os quais também consideram que o serviço devocional não é melhor que ações fruitivas comuns.

Texto

caitanya-mahimā jāni e saba siddhānte
citta dṛḍha hañā lāge mahimā-jñāna haite

Sinônimos

caitanya-mahimā — a glória do Senhor Caitanya Mahāprabhu; jāni — conheço; e — estas; saba — todas; siddhānte — pelas conclusões; citta — a mente; dṛḍha — firme; hañā — tornando-se; lāge — torna-se fixa; mahimā-jñāna — conhecimento da grandeza; haite — de.

Tradução

Conheço as glórias do Senhor Caitanya por meio de tais estudos conclusivos. Basta conhecermos essas glórias para nos fortalecermos e nos fixarmos em apego a Ele.

Comentário

SIGNIFICADO—Só podemos conhecer as glórias de Śrī Caitanya Mahāprabhu chegando, com conhecimento, a uma decisão conclusiva sobre Śrī Kṛṣṇa, fortalecida pelo estudo fidedigno das conclusões dos ācāryas.

Texto

caitanya-prabhura mahimā kahibāra tare
kṛṣṇera mahimā kahi kariyā vistāre

Sinônimos

caitanya-prabhura — do Senhor Caitanya Mahāprabhu; mahimā — as glórias; kahibāra tare — com o objetivo de falar; kṛṣṇera — do Senhor Kṛṣṇa; mahimā — as glórias; kahi — falo; kariyā — fazendo; vistāre — em expansão.

Tradução

Apenas para enunciar as glórias de Śrī Caitanya Mahāprabhu, tenho tentado descrever as glórias de Śrī Kṛṣṇa detalhadamente.

Texto

caitanya-gosāñira ei tattva-nirūpaṇa
svayaṁ-bhagavān kṛṣṇa vrajendra-nandana

Sinônimos

caitanya-gosāñira — do Senhor Caitanya Mahāprabhu; ei — isto; tattva — da verdade; nirūpaṇa — estabelecendo; svayam-bhagavān — Ele próprio a Suprema Personalidade de Deus; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; vrajendra-nandana — o filho do rei de Vraja.

Tradução

A conclusão é que o Senhor Caitanya é a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, o filho do rei de Vraja.

Texto

śrī-rūpa-raghunātha-pade yāra āśa
caitanya-caritāmṛta kahe kṛṣṇadāsa

Sinônimos

śrī-rūpa Śrīla Rūpa Gosvāmī; raghunātha Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī; pade aos pés de lótus; yāra — cuja; āśa — expectativa; caitanya-caritāmṛta o livro chamado Caitanya-caritāmṛta; kahe — descreve; kṛṣṇa-dāsa Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī.

Tradução

Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā, segundo capítulo, descrevendo Śrī Caitanya Mahāprabhu como a Suprema Personalidade de Deus.