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CAPÍTULO VINTE E SEIS

Descrição dos Planetas Infernais

O vigésimo sexto capítulo descreve como os homens pecaminosos vão aos diferentes infernos, onde os assistentes de Yamarāja lhes aplica diversos tipos de punições. Como se afirma na Bhagavad-gītā (3.27):

prakṛteḥ kriyamāṇāni
guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ
ahaṅkāra-vimūḍhātmā
kartāham iti manyate

“Confusa, a alma espiritual que está sob a influência do falso ego julga-se a autora das atividades que, de fato, são executadas pelos três modos da natureza material.” Os tolos pensam que independem de qualquer lei. Julgam que não há Deus ou princípio regulador e podem fazer o que bem quiserem. Assim, eles se entregam a diversas atividades pecaminosas e, como resultado, submetem-se vida após vida a diversas condições infernais e são punidos pelas leis da natureza. O princípio básico desse sofrimento é que sua ignorância os faz pensarem que são independentes, embora estejam sob o controle estrito das leis da natureza material. Essas leis agem devido à influência dos três modos da natureza, de modo que todo ser humano também age sob três diferentes espécies de influência. De acordo com Sua ação, sofre diferentes reações em sua vida seguinte ou mesmo na vida atual. As pessoas religiosas não agem como os ateus, daí sofrerem outras reações.

Śukadeva Gosvāmī descreve vinte e oito infernos, que são os seguintes: Tāmisra, Andhatāmisra, Raurava, Mahāraurava, Kumbhīpāka, Kālasūtra, Asi-patravana, Sūkaramukha, Andhakūpa, Kṛmibhojana, Sandaṁśa, Taptasūrmi, Vajrakaṇṭaka-śālmalī, Vaitaraṇī, Pūyoda, Prāṇarodha, Viśasana, Lālābhakṣa, Sārameyādana, Avīci, Ayaḥpāna, Kṣārakardama, Rakṣogaṇa-bhojana, Śūlaprota, Dandaśūka, Avaṭa-nirodhana, Paryāvartana e Sūcīmukha.

Aquele que rouba o dinheiro, a esposa ou as posses alheias é posto no inferno conhecido como Tāmisra. O homem que trapaceia outrem e desfruta da esposa desse é posto em condições extremamente infernais conhecidas como Andhatāmisra. Pessoas tolas, absortas no conceito de vida corpórea, e que, baseadas nesse princípio, cometem violência contra outras entidades vivas para se manterem ou manterem suas esposas e filhos, são postas no inferno conhecido como Raurava, onde os animais que elas mataram nascem como criaturas chamadas rurus e lhes causam muito sofrimento. Aqueles que matam diversos animais e pássaros e depois os cozinham são pegos pelos agentes de Yamarāja e lançados no inferno conhecido como Kumbhīpāka, onde são fervidos no óleo. Alguém que mata um brāhmaṇa vai para o inferno conhecido como Kālasūtra, onde a terra, perfeitamente plana e feita de cobre, é tão quente como uma fornalha. Esse assassino de um brāhmaṇa fica durante anos e anos sendo consumido pelo calor dessa terra. A pessoa que não segue os preceitos das escrituras, senão que faz tudo caprichosamente ou segue algum patife é posta no inferno conhecido como Asi-patravana. O funcionário governamental que não sabe fazer valer a justiça ou que pune um homem inocente é levado pelos assistentes de Yamarāja ao inferno conhecido como Sūkaramukha, onde é açoitado sem dó nem piedade.

Deus conferiu ao ser humano consciência avançada. Portanto, ele pode sentir o sofrimento e a felicidade dos outros seres vivos. Mas o ser humano desprovido de sua consciência tem a tendência de causar sofrimento aos outros seres vivos. Os assistentes de Yamarāja põem tal pessoa no inferno conhecido como Andhakūpa, onde suas vítimas lhe dão o castigo merecido. Qualquer pessoa que não receba ou alimente um convidado de maneira adequada, mas que, por sua parte, desfruta de comida, é posta no inferno conhecido como Kṛmibhojana, onde um número ilimitado de vermes e insetos picam-na continuamente.

Ladrões são postos no inferno conhecido como Sandaṁśa. Alguém que tenha relações sexuais com uma mulher que não deve ser desfrutada é posto no inferno conhecido como Taptasūrmi. Aquele que faz sexo com animais é posto no inferno conhecido como Vajrakaṇṭaka-śālmalī. Alguém que nasce em família aristocrática ou em família de bom nível social, mas que não age de acordo com o seu padrão, é posto numa poça infernal de sangue, pus e urina chamada rio Vaitaraṇī. Aquele que vive como um animal é posto no inferno chamado Pūyoda. Aquele que, sem misericórdia, mata desautorizadamente animais na floresta é posto no inferno chamado Prāṇarodha. Aquele que, em nome de sacrifício religioso, mata animais, é posto no inferno chamado Viśasana. O homem que força sua esposa a beber seu sêmen é posto no inferno chamado Lālābhakṣa. Aquele que ateia fogo ou ministra veneno para matar alguém é posto no inferno conhecido como Sārameyādana. Quem ganha a vida prestando falso testemunho é posto no inferno conhecido como Avīci.

Quem é entregue ao vício de beber vinho é posto no inferno chamado Ayaḥpāna. Aquele que viola a etiqueta e não presta o devido respeito aos superiores é posto no inferno conhecido como Kṣārakardama. Aquele que sacrifica seres humanos a Bhairava é posto no inferno chamado Rakṣogaṇa-bhojana. O matador de animais de estimação é posto no inferno chamado Śūlaprota. Aquele que causa problemas aos outros é posto no inferno conhecido como Dandaśūka. Quem aprisiona uma entidade viva dentro de uma caverna é posto no inferno conhecido como Avaṭa-nirodhana. A pessoa que demonstra injustificável ira contra alguém que é convidado à sua casa é posto no inferno chamado Paryāvartana. Quem é louco por riquezas e assim fica profundamente absorto em pensar em como acumular dinheiro é posto no inferno conhecido como Sūcīmukha.

Após descrever os planetas infernais, Śukadeva Gosvāmī descreve como as pessoas piedosas se promovem ao mais elevado sistema planetário, onde vivem os semideuses, e como elas voltam a esta Terra após se esgotarem os resultados de suas atividades piedosas. Finalmente, ele descreve a forma universal do Senhor e glorifica as atividades do Senhor.

Texto

rājovāca
maharṣa etad vaicitryaṁ lokasya katham iti.

Sinônimos

rājā uvāca — o rei disse; maharṣe — ó grande santo (Śukadeva Gosvāmī); etat — esta; vaicitryam — diversidade; lokasya — das entidades vivas; katham — como; iti — assim.

Tradução

O rei Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Meu querido senhor, por que as entidades vivas são postas em diferentes situações materiais? Por favor, explica-me isso.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica que os vários planetas infernais dentro do universo são mantidos um pouco acima do Oceano Garbhodaka, onde permanecem situados. Este capítulo descreve como todas as pessoas pecaminosas vão a esses planetas infernais e como ali são punidas pelos assistentes de Yamarāja. De acordo com seus feitos passados, vários indivíduos com variados aspectos corpóreos desfrutam ou sofrem de várias reações.

Texto

ṛṣir uvāca
tri-guṇatvāt kartuḥ śraddhayā karma-gatayaḥ pṛthag-vidhāḥ sarvā eva sarvasya tāratamyena bhavanti.

Sinônimos

ṛṣiḥ uvāca — o grande santo (Śukadeva Gosvāmī) disse; tri-guṇatvāt — por causa dos três modos da natureza material; kartuḥ — do agente; śraddhayā — devido às atitudes; karma-gatayaḥ — destinos resultantes da ação; pṛthak — diferentes; vidhāḥ — variedades; sarvāḥ — todos; eva — assim; sarvasya — de todos eles; tāratamyena — em diversos graus; bhavanti — tornam-se possíveis.

Tradução

O grande sábio Śukadeva Gosvāmī disse: Meu querido rei, existem três espécies de atividades neste mundo material – aquelas no modo da bondade, no modo da paixão e no modo da ignorância. Visto que todas as pessoas estão influenciadas pelos três modos da natureza material, também se dividem em três os resultados de suas atividades. Aquele que age no modo da bondade é religioso e feliz, quem age em paixão obtém uma mistura de sofrimento e felicidade, e aquele que age sob a influência da ignorância sempre está infeliz e vive como um animal. Devido aos vários graus em que as entidades vivas são influenciadas pelos diversos modos da natureza, seus destinos também variam.

Texto

athedānīṁ pratiṣiddha-lakṣaṇasyādharmasya tathaiva kartuḥ śraddhāyā vaisādṛśyāt karma-phalaṁ visadṛśaṁ bhavati yā hy anādy-avidyayā kṛta-kāmānāṁ tat-pariṇāma-lakṣaṇāḥ sṛtayaḥ sahasraśaḥ pravṛttās tāsāṁ prācuryeṇānuvarṇayiṣyāmaḥ.

Sinônimos

atha — assim; idānīm — agora; pratiṣiddha — por aquilo que é proibido; lakṣaṇasya — caracterizada; adharmasya — de atividades impiedosas; tathā — assim também; eva — decerto; kartuḥ — do praticante; śraddhāyāḥ — de fé; vaisādṛśyāt — pela diferença; karmaphalam – a reação das atividades fruitivas; visadṛśam — diferente; bhavati — é; — a qual; hi — na verdade; anādi — desde tempos imemoriais; avidyayā — pela ignorância; kṛta — executadas; kāmānām — daqueles que possuem muitos desejos luxuriosos; tat-pariṇāma-lakṣaṇāḥ — as evidências dos resultados desses desejos impiedosos; sṛtayaḥ — condições de vida infernal; sahasraśaḥ — por milhares e milhares; pravṛttāḥ — resultaram; tāsām — a eles; prācuryeṇa — muito amplamente; anuvarṇayiṣyāmaḥ — explicarei.

Tradução

Assim como, ao executar várias atividades piedosas, alguém alcança diversas condições de vida celestial, quem age impiedosamente alcança diversas condições de vida infernal. Aqueles que são impelidos pelo modo material da ignorância se ocupam em atividades impiedosas, e, de acordo com a extensão de sua ignorância, são postos em diferentes graus de vida infernal. Se alguém, devido à loucura, age no modo da ignorância, o castigo que recebe é o menos severo. Aquele que age impiedosamente, mas conhece a distinção entre atividades piedosas e impiedosas é posto em um inferno onde passa por sofrimento intermediário. E se reserva o pior dos infernos àquele que, devido ao ateísmo, age de maneira ímpia e ignorante. Devido à ignorância, toda entidade viva, desde tempos imemoriais, é carregada por vários desejos a milhares de diversos planetas infernais. Tentarei descrevê-los tanto quanto possível.

Texto

rājovāca
narakā nāma bhagavan kiṁ deśa-viśeṣā athavā bahis tri-lokyā āhosvid antarāla iti.

Sinônimos

rājā uvāca — o rei disse; narakāḥ — as regiões infernais; nāma — chamadas; bhagavan — ó meu Senhor; kim — se; deśaviśeṣāḥ – um determinado lugar; athavā — ou; bahiḥ — do lado de fora; tri-lokyāḥ — dos três mundos (o universo); āhosvit — ou; antarāle — nos espaços intermediários localizados dentro do universo; iti — assim.

Tradução

O rei Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Meu querido senhor, as regiões infernais estão situadas fora do universo, dentro da cobertura do universo ou em diferentes lugares deste planeta?

Texto

ṛṣir uvāca
antarāla eva tri-jagatyās tu diśi dakṣiṇasyām adhastād bhūmer upariṣṭāc ca jalād yasyām agniṣvāttādayaḥ pitṛ-gaṇā diśi svānāṁ gotrāṇāṁ parameṇa samādhinā satyā evāśiṣa āśāsānā nivasanti.

Sinônimos

ṛṣiḥ uvāca — o grande sábio respondeu; antarāle — no espaço intermediário; eva — decerto; tri-jagatyāḥ — dos três mundos; tu — mas; diśi — na direção; dakṣiṇasyām — sul; adhastāt — abaixo de; bhūmeḥ — na Terra; upariṣṭāt — um pouco acima de; ca — e; jalāt — o Oceano Garbhodaka; yasyām — no qual; agniṣvāttā-ādayaḥ — encabeçadas por Agniṣvāttā; pitṛ-gaṇāḥ — as pessoas conhecidas como pitās; diśi — direção; svānām — suas próprias; gotrāṇām — das famílias; parameṇa — em grande; samādhinā — absorção em pensar no Senhor; satyāḥ — em verdade; eva — com certeza; āśiṣaḥ — bênçãos; āśāsānāḥ — desejando; nivasanti — vivem.

Tradução

O grande sábio Śukadeva Gosvāmī respondeu: Todos os planetas infernais estão situados no espaço intermediário que fica entre os três mundos e o Oceano Garbhodaka. Eles se localizam no lado sul do universo, abaixo de Bhū-maṇḍala, e levemente acima da água do Oceano Garbhodaka. Pitṛloka também está localizado nessa região que fica entre o Oceano Garbhodaka e os sistemas planetários inferiores. Em grande samādhi, todos os habitantes de Pitṛloka, encabeçados por Agniṣvāttā, meditam na Suprema Personalidade de Deus e sempre desejam o bem de suas famílias.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se explanou anteriormente, abaixo de nosso sistema planetário, existem sete sistemas planetários inferiores, o mais baixo dos quais se chama Pātālaloka. Abaixo de Pātālaloka, existem outros planetas, conhecidos como Narakaloka, ou os planetas infernais. Na superfície inferior do universo, encontra-se o Oceano Garbhodaka. Portanto, os planetas infernais se situam entre Pātālaloka e o Oceano Garbhodaka.

Texto

yatra ha vāva bhagavān pitṛ-rājo vaivasvataḥ sva-viṣayaṁ prāpiteṣu sva-puruṣair jantuṣu sampareteṣu yathā-karmāvadyaṁ doṣam evānullaṅghita-bhagavac-chāsanaḥ sagaṇo damaṁ dhārayati.

Sinônimos

yatra — onde; ha vāva — na verdade; bhagavān — o poderosíssimo; pitṛ-rājaḥ — Yamarāja, o rei dos pitās; vaivasvataḥ — o filho do deus do Sol; sva-viṣayam — seu próprio reino; prāpiteṣu — quando são levados a alcançar; sva-puruṣaiḥ — por seus próprios mensageiros; jantuṣu — os seres humanos; sampareteṣu — mortos; yathā-karma-avadyam — de acordo com o grau em que eles violaram as regras e regulações da vida condicionada; doṣam — o erro; eva — com certeza; anullaṅghita-bhagavat-śāsanaḥ — que nunca passa por cima da ordem da Suprema Personalidade de Deus; sagaṇaḥ — juntamente com seus seguidores; damam — punição; dhārayati — executa.

Tradução

O rei dos pitās é Yamarāja, o poderosíssimo filho do deus do Sol. Juntamente com seus assistentes pessoais, ele reside em Pitṛloka e, ao mesmo tempo em que segue as regras e regulações estabelecidas pelo Senhor Supremo, faz com que seus agentes, os Yamadūtas, tragam-lhe todos os homens pecaminosos imediatamente após a morte. Colocados no domínio de sua jurisdição, ele os julga imparcialmente, tomando como base as atividades pecaminosas por eles cometidas e, em seguida, envia-os a um dos vários planetas infernais para que recebam o castigo merecido.

Comentário

SIGNIFICADO—Yamarāja não é uma personalidade fictícia ou mitológica; ele tem sua própria morada, Pitṛloka, da qual é rei. Pode ser que os agnósticos não acreditem no inferno, mas Śukadeva Gosvāmī afirma a existência dos planetas Naraka, os quais ficam entre o Oceano Garbhodaka e Pātālaloka. A Suprema Personalidade de Deus encarrega Yamarāja de vigiar que os seres humanos não violem impunemente Suas regras e regulações. Como se confirma na Bhagavad-gītā (4.17):

karmaṇo hy api boddhavyaṁ
boddhavyaṁ ca vikarmaṇaḥ
akarmaṇaś ca boddhavyaṁ
gahanā karmaṇo gatiḥ

“É dificílimo entender as complexidades da ação. Portanto, deve-se saber exatamente o que é ação, o que é ação proibida e o que é inação.” A pessoa deve entender a natureza de karma, vikarma e akarma e, então, agir com base nesse conhecimento. Essa é a lei da Suprema Personalidade de Deus. As almas condicionadas, que vieram ao mundo material em busca de gozo dos sentidos, têm permissão de desfrutar dos sentidos segundo certos princípios reguladores. Se elas violam essas regulações, são julgadas e punidas por Yamarāja. Ele as coloca em planetas infernais e lhes aplica o devido castigo para restituí-las à consciência de Kṛṣṇa. Contudo, devido à influência de māyā, as almas condicionadas permanecem presunçosas no modo da ignorância. Assim, apesar das repetidas punições de Yamarāja, elas não voltam a si, mas continuam a viver dentro do ambiente material, não parando de cometer atividades pecaminosas.

Texto

tatra haike narakān eka-viṁśatiṁ gaṇayanti atha tāṁs te rājan nāma-rūpa-lakṣaṇato ’nukramiṣyāmas tāmisro ’ndhatāmisro rauravo mahārauravaḥ kumbhīpākaḥ kālasūtram asipatravanaṁ sūkaramukham andhakūpaḥ kṛmibhojanaḥ sandaṁśas taptasūrmir vajrakaṇṭaka-śālmalī vaitaraṇī pūyodaḥ prāṇarodho viśasanaṁ lālābhakṣaḥ sārameyādanam avīcir ayaḥpānam iti; kiñca kṣārakardamo rakṣogaṇa-bhojanaḥ śūlaproto dandaśūko ’vaṭa-nirodhanaḥ paryāvartanaḥ sūcīmukham ity aṣṭā-viṁśatir narakā vividha-yātanā-bhūmayaḥ.

Sinônimos

tatra — lá; ha — decerto; eke — alguns; narakān — os planetas infernais; eka-viṁśatim — vinte e um; gaṇayanti — totalizam; atha — portanto; tān — deles; te — a ti; rājan — ó rei; nāma-rūpa-lakṣaṇataḥ — de acordo com seus nomes, formas e características; anukramiṣyāmaḥ — farei um esboço sequencial; tāmisraḥ — Tāmisra; andha-tāmisraḥ — Andhatāmisra; rauravaḥ — Raurava; mahā-rauravaḥ — Mahāraurava; kumbhī-pākaḥ — Kumbhīpãka; kāla-sūtram — Kālasūtra; asi patravanam — Asi-patravana; sūkara-mukham — Sūkaramukha; andhakūpaḥ — Andhakūpa; kṛmi-bhojanaḥ — Kṛmibhojana; sandaṁsaḥ — Sandamga; tapta-sūrmiḥ — Taptasūrmi; vajra-kaṇṭaka-śālmalī — Vajrakaṇṭaka-śālmalī; vaitaranī — Vaitaranī; pūyodaḥ — Pūyoda; prāṇarodhaḥ — Prāṇarodha; viśasanam — Viśasana; lālā-bhakṣaḥ — Lālābhakṣa; sārameyādanam — Sārameyādana; avīciḥ — Avīci; ayaḥpānam — Ayaḥpāna; iti — assim; kiñca — outros; kṣāra-kardamaḥ — Kṣārakardama; rakṣaḥ-gaṇa-bhojanaḥ — Rakṣogaṇa-bhojana; śūla-protaḥ — Śūlaprota; danda-śūkaḥ — Dandaśūka; avaṭa-nirodhanaḥ — Avaṭa-nirodhana; paryāvartanaḥ — Paryāvartana; sūcī-mukham — Sūcīmukha; iti — dessa maneira; aṣṭā-viṁśatiḥ — vinte e oito; narakāḥ — planetas infernais; vividha — vários; yātanā-bhūmayaḥ — regiões de sofrimento em condições infernais.

Tradução

Algumas autoridades dizem que há um total de vinte e um planetas infernais, e, segundo outras, existem vinte e oito. Meu querido rei, farei um esboço de todos eles, tomando como referência seus nomes, formas e características. São os seguintes os nomes dos diferentes infernos: Tāmisra, Andhatāmisra, Raurava, Mahāraurava, Kumbhīpāka, Kālasūtra, Asipatravana, Sūkaramukha, Andhakūpa, Kṛmibhojana, Sandaṁśa, Taptasūrmi, Vajrakaṇṭaka-śālmalī, Vaitaraṇī, Pūyoda, Prāṇarodha, Viśasana, Lālābhakṣa, Sārameyādana, Avīci, Ayaḥpāna, Kṣārakardama, Rakṣogaṇa-bhojana, Śūlaprota, Dandaśūka, Avaṭa-nirodhana, Paryāvartana e Sūcīmukha. Todos esses planetas se destinam a punir as entidades vivas.

Texto

tatra yas tu para-vittāpatya-kalatrāṇy apaharati sa hi kāla-pāśa-baddho yama-puruṣair ati-bhayānakais tāmisre narake balān nipātyate anaśanānudapāna-daṇḍa-tāḍana-santarjanādibhir yātanābhir yātyamāno jantur yatra kaśmalam āsādita ekadaiva mūrcchām upayāti tāmisra-prāye.

Sinônimos

tatra — nesses planetas infernais; yaḥ — uma pessoa que; tu — mas; para-vitta-apatya-kalatrāṇi — o dinheiro, a esposa e os filhos alheios; apaharati — apodera-se de; saḥ — essa pessoa; hi — com certeza; kāla-pāśa-baddhaḥ — sendo amarrada pelas cordas do tempo ou por Yamarāja; yamapuruṣaiḥ – pelos assistentes de Yamarāja; atibhayānakaiḥ – que são muito assustadores; tāmisre narake — no inferno conhecido como Tāmisra; balāt — à força; nipātyate — é atirada; anaśana — fome; anudapāna — sem água; daṇḍa-tāḍana — açoitado com varas; santarjana-ādibhiḥ — repreendendo e assim por diante; yātanābhiḥ — por severas punições; yātyamānaḥ — sendo golpeada; jantuḥ — a entidade viva; yatra — onde; kaśmalam — sofrimento; āsāditaḥ — obtida; ekadā — às vezes; eva — com certeza; mūrcchām — desmaiando; upayāti — obtém; tāmisra-prāye — nessa condição, que é quase completamente escura.

Tradução

Meu querido rei, alguém que se apropria da esposa, filhos ou dinheiro que pertencem legitimamente a outrem, é aprisionado na hora da morte pelos ferozes Yamadūtas, que o amarram com a corda do tempo e, à força, o atiram no planeta infernal conhecido como Tāmisra. Nesse mesmo planeta, que é escuro como breu, o homem pecaminoso é castigado pelos Yamadūtas, que o açoitam e repreendem. Ele passa fome, e ninguém lhe dá água para beber. Assim, os irados assistentes de Yamarāja lhe causam severos sofrimentos, e, algumas vezes, ele desmaia devido à punição.

Texto

evam evāndhatāmisre yas tu vañcayitvā puruṣaṁ dārādīn upayuṅkte yatra śarīrī nipātyamāno yātanā-stho vedanayā naṣṭa-matir naṣṭa-dṛṣṭiś ca bhavati yathā vanaspatir vṛścyamāna-mūlas tasmād andhatāmisraṁ tam upadiśanti.

Sinônimos

evam — dessa maneira; eva — decerto; andhatāmisre — no planeta infernal conhecido como Andhatāmisra; yaḥ — a pessoa que; tu — mas; vañcayitvā — enganando; puruṣam — outra pessoa; dāra-ādīn — a esposa e filhos; upayuṅkte — desfruta de; yatra — onde; śarīrī — a pessoa corporificada; nipātyamānaḥ — sendo lançada à força; yātanā-sthaḥ — sempre situada em extremas condições de sofrimento; vedanayā — através desse sofrimento; naṣṭa — perdida; matiḥ — cuja consciência; naṣṭa — perdida; dṛṣṭiḥ — cuja percepção; ca — também; bhavati — torna-se; yathā — tanto quanto; vanaspatiḥ — as árvores; vṛścyamāna — sendo cortada; mūlaḥ — cuja raiz; tasmāt — por causa disto; andhatāmisram — Andhatāmisra; tam — isto; upadiśanti — chamam.

Tradução

O destino reservado à pessoa que, dissimuladamente, engana outro homem e desfruta da esposa e filhos deste é o inferno conhecido como Andhatāmisra. Ali, sua condição é exatamente como a de uma árvore ao ser cortada pelas raízes. Mesmo antes de alcançar Andhatāmisra, o ser vivo pecaminoso é submetido a muitas dores extremas. Essas aflições são tão severas que ele perde sua inteligência e percepção. É por esse motivo que os sábios eruditos chamam esse inferno de Andhatāmisra.

Texto

yas tv iha vā etad aham iti mamedam iti bhūta-droheṇa kevalaṁ sva-kuṭumbam evānudinaṁ prapuṣṇāti sa tad iha vihāya svayam eva tad-aśubhena raurave nipatati.

Sinônimos

yaḥ — aquele que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; etat — este corpo; aham — eu; iti — assim; mama — meu; idam — isto; iti — assim; bhūta-droheṇa — com inveja a outras entidades vivas; kevalam — sozinho; sva-kuṭumbam — seus membros familiares; eva — apenas; anudinam — dia após dia; prapuṣṇāti — mantém; saḥ — essa pessoa; tat — isto; iha — aqui; vihāya — abandonando; svayam — pessoalmente; eva — com certeza; tat — disto; aśubhena — por causa do pecado; raurave — em Raurava; nipatati — cai.

Tradução

Há os que aceitam seu corpo como o eu e, dia e noite, trabalham muito arduamente em busca de dinheiro para manter seus próprios corpos e os corpos de suas esposas e filhos. Enquanto trabalham para se manterem e manterem suas famílias, acontece de cometerem violência contra outras entidades vivas. Tais pessoas são forçadas a abandonar seus corpos e suas famílias na hora da morte, quando, então, sofrendo a reação de sua inveja a outras criaturas, são atiradas no inferno chamado Raurava.

Comentário

SIGNIFICADO—No Śrīmad-Bhāgavatam (10.84.13), afirma-se:

yasyātma-buddhiḥ kuṇape tri-dhātuke
sva-dhīḥ kalatrādiṣu bhauma-ijya-dhīḥ
yat-tīrtha-buddhiḥ salile na karhicij
janeṣv abhijñeṣu sa eva go-kharaḥ

“A pessoa que aceita este saco corpóreo de três elementos [bile, muco e ar] como seu eu, que se identifica com as relações íntimas que mantém com sua esposa e filhos, que considera adorável sua pátria, que se banha nas águas dos lugares sagrados de peregrinação, mas nunca tira proveito das pessoas que têm conhecimento verdadeiro, não é melhor do que um asno ou uma vaca.” Existem duas classes de homens absortos no conceito de vida material. Por ignorância, um homem da primeira classe pensa que seu corpo é o eu, daí ele certamente ser como um animal (sa eva go-kharaḥ). A pessoa da segunda classe, contudo, não apenas pensa que seu corpo material é seu eu, como também comete toda espécie de atividades pecaminosas para manter seu corpo. Com o propósito de adquirir dinheiro para a sua família e para si própria, ela engana todos e, sem motivo aparente, passa a invejar outras pessoas. Semelhante indivíduo é atirado no inferno conhecido como Raurava. Se alguém, tal qual os animais, simplesmente considera seu corpo como seu eu, ele não é muito pecaminoso. Contudo, se desnecessariamente comete pecados para manter seu corpo, é posto no inferno conhecido como Raurava. Essa é a opinião de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura. Embora os animais por certo estejam no conceito de vida corporal, eles não cometem pecados para manter seus corpos, fêmeas ou filhotes. Portanto, os animais não vão para o inferno. Contudo, ao agir invejosamente e enganar os outros para manter seu corpo, o ser humano é posto em condições infernais.

Texto

ye tv iha yathaivāmunā vihiṁsitā jantavaḥ paratra yama-yātanām upagataṁ ta eva ruravo bhūtvā tathā tam eva vihiṁsanti tasmād rauravam ity āhū rurur iti sarpād ati-krūra-sattvasyāpadeśaḥ.

Sinônimos

ye — aquelas que; tu — mas; iha — nesta vida; yathā — tanto quanto; eva — decerto; amunā — por ele; vihiṁsitāḥ — que foram maltratadas; jantavaḥ — as entidades vivas; paratra — na próxima vida; yama-yātanām upagatam — estando sujeito a condições dolorosas a ele impostas por Yamarāja; te — aquelas entidades vivas; eva — na verdade; ruravaḥrurus (uma espécie de animal invejoso); bhūtvā — tornando-se; tathā — esse mesmo tanto; tam — a ele; eva — com certeza; vihiṁsanti — maltratam; tasmāt — devido a isso; rauravam — Raurava; iti — assim; āhuḥ — os sábios eruditos dizem; ruruḥ — o animal conhecido como ruru; iti — assim; sarpāt — do que a serpente; ati-krūra — muito mais cruel e invejoso; sattvasya — da entidade; apadeśaḥ — o nome.

Tradução

Nesta vida, a pessoa invejosa comete atos violentos contra muitas entidades vivas. Portanto, após sua morte, ao ser levada ao inferno por Yamarāja, aquelas entidades vivas que foram maltratadas por ela aparecem como animais chamados rurus para lhe infligir severos tormentos. Os sábios eruditos chamam esse inferno de Raurava. Difícil de se ver neste mundo, o ruru é mais invejoso do que uma serpente.

Comentário

SIGNIFICADO—De acordo com Śrīdhara Svāmī, o ruru também é conhecido como bhāra-śṛṅga (ati-krūrasya bhāra-śṛṅgākhya-sattvasya apadeśaḥ saṁjñā). Śrīla Jīva Gosvāmī confirma isso em seu Sandarbha: ruru-śabdasya svayaṁ muninaiva ṭīkā-vidhānāl lokeṣv aprasiddha evāyaṁ jantu-viśeṣaḥ. Assim, embora os rurus não sejam vistos neste mundo, os śāstras confirmam sua existência.

Texto

evam eva mahārauravo yatra nipatitaṁ puruṣaṁ kravyādā nāma ruravas taṁ kravyeṇa ghātayanti yaḥ kevalaṁ dehambharaḥ.

Sinônimos

evam — assim; eva — decerto; mahā-rauravaḥ — o inferno conhecido como Mahāraurava; yatra — onde; nipatitam — sendo atirada; puruṣam — uma pessoa; kravyādāḥ nāma — chamados kravyādas; ruravaḥ — os animais ruru; tam — a ela (a pessoa condenada); kravyeṇa — para comer sua carne; ghātayanti — matam; yaḥ — quem; kevalam — apenas; dehambharaḥ — determinação de manter seu próprio corpo.

Tradução

Aquele que mantém seu próprio corpo às custas de maltratar os outros é obrigatoriamente punido no inferno chamado Mahāraurava. Nesse inferno, os animais ruru conhecidos como kravyādas atormentam-no e comem sua carne.

Comentário

SIGNIFICADO—A pessoa animalesca que vive simplesmente no conceito de vida corpórea não é perdoada. Ela é lançada no inferno conhecido como Mahāraurava e atacada por animais ruru conhecidos como kravyādas.

Texto

yas tv iha vā ugraḥ paśūn pakṣiṇo vā prāṇata uparandhayati tam apakaruṇaṁ puruṣādair api vigarhitam amutra yamānucarāḥ kumbhīpāke tapta-taile uparandhayanti.

Sinônimos

yaḥ — uma pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; ugraḥ — muito cruel; paśūn — animais; pakṣiṇaḥ — pássaros; — ou; prāṇataḥ — em uma condição viva; uparandhayati — cozinha; tam — a ele; apakaruṇam — de coração muito cruel; puruṣa-ādaiḥ — por aqueles que comem carne humana; api — mesmo; vigarhitam — condenado; amutra — na próxima vida; yama-anucarāḥ — os servos de Yamarāja; kumbhīpāke — no inferno conhecido como Kumbhīpāka; tapta-taile — em óleo fervente; uparandhayanti — cozinham.

Tradução

Para a manutenção de seu corpo e satisfação de sua língua, pessoas cruéis cozinham vivos os pobres animais e aves. Tais pessoas são condenadas até mesmo pelos canibais. Em suas próximas vidas, são carregadas pelos Yamadūtas ao inferno conhecido como Kumbhīpāka, onde são cozidas em óleo fervente.

Texto

yas tv iha brahma-dhruk sa kālasūtra-saṁjñake narake ayuta-yojana-parimaṇḍale tāmramaye tapta-khale upary-adhastād agny-arkābhyām ati-tapyamāne ’bhiniveśitaḥ kṣut-pipāsābhyāṁ ca dahyamānāntar-bahiḥ-śarīra āste śete ceṣṭate ’vatiṣṭhati paridhāvati ca yāvanti paśu-romāṇi tāvad varṣa-sahasrāṇi.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; brahma-dhruk — o assassino de um brāhmaṇa; saḥ — tal pessoa; kālasūtra-saṁjñake — chamado Kālasūtra; narake — no inferno; ayuta-yojana-parimaṇḍale — tendo a circunferência de cento e vinte e oito mil quilômetros; tāmra-maye — feito de cobre; tapta — aquecido; khale — em um lugar plano; upari-adhastāt — acima e abaixo; agni — pelo fogo; arkābhyām — e pelo Sol; ati-tapyamāne — que está sendo aquecido; abhiniveśitaḥ — forçada a entrar; kṣut-pipāsābhyām — pela fome e pela sede; ca — e; dahyamāna — sendo queimado; antaḥ — internamente; bahiḥ — externamente; śarīraḥ — cujo corpo; āste — permanece; śete — às vezes, deita-se; ceṣṭate — às vezes, move seus membros; avatiṣṭhati — às vezes, levanta-se; paridhāvati — às vezes, corre de um lado para outro; ca — também; yāvanti — tantos quantos; paśu-romāṇi — pelos no corpo de um animal; tāvat — esse tanto em; varṣa-sahasrāṇi — milhares de anos.

Tradução

O assassino de um brāhmaṇa é posto no inferno conhecido como Kālasūtra, que tem uma circunferência de cento e vinte e oito mil quilômetros e é feito inteiramente de cobre. Aquecida debaixo pelo calor do fogo e por cima pelo Sol escaldante, a superfície de cobre desse planeta é extremamente quente. Assim, o fogo consome tanto interna quanto externamente o assassino de um brāhmaṇa. Internamente, ele queima de fome e sede, e externamente queima com o calor escaldante do Sol e do fogo que fica embaixo da superfície de cobre. Assim, ora ele se deita, ora se senta, ora se levanta, ora corre de um lado para outro. Ele deve passar por esse sofrimento por um período de milhares de anos equivalente ao número dos pelos existentes no corpo de um animal.

Texto

yas tv iha vai nija-veda-pathād anāpady apagataḥ pākhaṇḍaṁ copagatas tam asi-patravanaṁ praveśya kaśayā praharanti tatra hāsāv itas tato dhāvamāna ubhayato dhārais tāla-vanāsi-patraiś chidyamāna-sarvāṅgo hā hato ’smīti paramayā vedanayā mūrcchitaḥ pade pade nipatati sva-dharmahā pākhaṇḍānugataṁ phalaṁ bhuṅkte.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; nija-veda-pathāt — de seu próprio caminho, recomendado pelos Vedas; anāpadi — mesmo sem justificativa premente; apagataḥ — desviou-se; pākhaṇḍam — um sistema ateísta inventado; ca — e; upagataḥ — indo a; tam — a ele; asi-patravanam — no inferno conhecido como Asi-patravana; praveśya — fazendo entrar; kaśayā — com um chicote; praharanti — eles golpeiam; tatra — lá; ha — com certeza; asau — isto; itaḥ tataḥ — para aqui e para ali; dhāvamānaḥ — correndo; ubhayataḥ — dos dois lados; dhāraiḥ — pelos gumes; tāla-vana-asi-patraiḥ — pelas palmeiras com folhas semelhantes a espadas; chidyamāna — sendo cortado; sarva-aṅgaḥ — cujo corpo inteiro; — oh!; hataḥ — morto; asmi — estou; iti — assim; paramayā — com severa; vedanayā — dor; mūrcchitaḥ — desmaiado; pade pade — a cada passo; nipatati — cai; sva-dharma- — o transgressor dos princípios de sua própria religião; pākhaṇḍa-anugatam phalam — o resultado de aceitar um caminho ateísta; bhuṅkte — ele sofre.

Tradução

Se alguém, sem justificativa premente, desvia-se do caminho dos Vedas, os servos de Yamarāja o colocam no inferno conhecido como Asi-patravana, onde o golpeiam com chicotes. Ao correr de um lado para outro, fugindo da dor extrema, por todos os lados ele esbarra em palmeiras de folhas que lembram espadas afiadas. Assim, com o corpo todo em chagas e desmaiando a cada passo, ele grita: “Oh! O que faço agora? Como me salvarei?” É esse o sofrimento aplicado àquele que se desvia dos princípios religiosos aceitos.

Comentário

SIGNIFICADO—Na verdade, existe apenas um princípio religioso: dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītam. O único princípio religioso é seguir as ordens da Suprema Personalidade de Deus. Infelizmente, em especial nesta era de Kali, todos são ateístas. Se as pessoas nem mesmo acreditam em Deus, o que dizer, então, de seguirem Suas palavras? A expressão nija-veda-patha também pode significar “o conjunto dos princípios religiosos de alguém”. Outrora, havia apenas um veda-patha, ou conjunto de princípios religiosos. Agora, existem muitos. Não importa que conjunto de princípios religiosos alguém siga; o único preceito é que ele os siga estritamente. Ateísta, ou nāstika, é aquele que não acredita nos Vedas. Contudo, mesmo que a pessoa adote algum outro sistema de religião, de acordo com este verso, ela deve seguir os princípios religiosos que aceitou. Quer ela seja hindu, muçulmana ou cristã, deve seguir seus próprios princípios religiosos. No entanto, se ela inventa dentro de sua mente seu próprio caminho religioso, ou se não segue absolutamente nenhum princípio religioso, é punida no inferno conhecido como Asi-patravana. Em outras palavras, cabe ao ser humano seguir algum princípio religioso. Se não segue nenhum princípio religioso, é meramente um animal. À medida que Kali-yuga avança, as pessoas estão se tornando ateístas e adotam a dita secularidade. Convém que saibam que a punição que as aguarda em Asi-patravana é a que se descreve neste verso.

Texto

yas tv iha vai rājā rāja-puruṣo vā adaṇḍye daṇḍaṁ praṇayati brāhmaṇe vā śarīra-daṇḍaṁ sa pāpīyān narake ’mutra sūkaramukhe nipatati tatrātibalair viniṣpiṣyamāṇāvayavo yathaivehekṣukhaṇḍa ārta-svareṇa svanayan kvacin mūrcchitaḥ kaśmalam upagato yathaivehā-dṛṣṭa-doṣā uparuddhāḥ.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; rājā — um rei; rāja-puruṣaḥ — o homem de um rei; — ou; adaṇḍye — a uma pessoa que não merece ser punida; daṇḍam — punição; praṇayati — inflige; brāhmaṇe — a um brāhmaṇa; — ou; śarīra-daṇḍam — punição corpórea; saḥ — essa pessoa, rei ou funcionário do governo; pāpīyān — muito pecaminosa; narake — no inferno; amutra — na próxima vida; sūkaramukhe — chamado Sūkaramukha; nipatati — cai; tatra — lá; ati-balaiḥ — pelos fortíssimos assistentes de Yamarāja; viniṣpiṣyamāṇa — sendo esmagada; avayavaḥ — as diferentes partes de seu corpo; yathā — como; eva — decerto; iha — aqui; ikṣu-khaṇḍaḥ — cana-de-açúcar; ārta-svareṇa — com um som penalizante; svanayan — gritando; kvacit — às vezes; mūrcchitaḥ — desmaiada; kaśmalam upagataḥ — iludindo-se; yathā — assim como; eva — na verdade; iha — aqui; adṛṣṭa-doṣāḥ — que é honesto; uparuddhāḥ — preso para ser punido.

Tradução

Em sua próxima vida, um rei ou um representante governamental pecaminoso que pune uma pessoa inocente, ou que inflige punição corpórea a um brāhmaṇa, é levado pelos Yamadūtas ao inferno conhecido como Sūkaramukha, onde os poderosíssimos assistentes de Yamarāja o esmagam, exatamente como se esmaga cana-de-açúcar para extrair o suco. A entidade viva pecaminosa emite um grito muito tocante e desmaia, assim como um homem inocente que sofre punições. Esse é o resultado de se punir uma pessoa honesta.

Texto

yas tv iha vai bhūtānām īśvaropakalpita-vṛttīnām avivikta-para-vyathānāṁ svayaṁ puruṣopakalpita-vṛttir vivikta-para-vyatho vyathām ācarati sa paratrāndhakūpe tad-abhidroheṇa nipatati tatra hāsau tair jantubhiḥ paśu-mṛga-pakṣi-sarīsṛpair maśaka-yūkā-matkuṇa-makṣikādibhir ye ke cābhidrugdhās taiḥ sarvato ’bhidruhyamāṇas tamasi vihata-nidrā-nirvṛtir alabdhāvasthānaḥ parikrāmati yathā kuśarīre jīvaḥ.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; bhūtānām — para algumas entidades vivas; īśvara — pelo controlador supremo; upakalpita — designadas; vṛttīnām — cujos meios de subsistência; avivikta — não compreendendo; para-vyathānām — a dor alheia; svayam — ela própria; puruṣa-upakalpita — designada pela Suprema Personalidade de Deus; vṛttiḥ — cuja subsistência; vivikta — entendendo; para-vyathaḥ — as condições dolorosas alheias; vyathām ācarati — mas ainda assim causa dor; saḥ — tal pessoa; paratra — em sua próxima vida; andhakūpe — ao inferno chamado Andhakūpa; tat — com elas; abhidroheṇa — devido ao pecado da maldade; nipatati — cai; tatra — ali; ha — na verdade; asau — essa pessoa; taiḥ jantubhiḥ — por aquelas respectivas entidades vivas; paśu — animais; mṛga — feras; pakṣi — pássaros; sarīsṛpaiḥ — serpentes; maśaka — mosquitos; yūkā — piolhos; matkuṇa — vermes; makṣika-ādibhiḥ — moscas e assim por diante; ye ke — ou algum outro; ca — e; abhidrugdhāḥ — perseguida; taiḥ — por eles; sarvataḥ — em toda parte; abhidruhyamāṇaḥ — sendo atacada; tamasi — na escuridão; vihata — perturbada; nidrā-nirvṛtiḥ — cujo lugar de descanso; alabdha — não sendo capaz de obter; avasthānaḥ — um lugar de descanso; parikrāmati — perambula; yathā — assim como; ku-śarīre — em um corpo de grau inferior; jīvaḥ — uma entidade viva.

Tradução

Pelos desígnios do Senhor Supremo, os seres vivos de grau inferior, tais como os percevejos e os mosquitos, sugam o sangue de seres humanos e outros animais. Essas criaturas insignificantes não sabem que suas picadas incomodam o ser humano. Contudo, os seres humanos de primeira classe – os brāhmaṇas, os kṣatriyas e os vaiśyas – têm consciência desenvolvida e, portanto, sabem quão doloroso é ser morto. O ser humano dotado de conhecimento na certa comete pecado caso mate ou atormente criaturas insignificantes, que não têm a faculdade de discriminar. O Senhor Supremo pune tal homem colocando-o no inferno conhecido como Andhakūpa, onde é atacado por todos os pássaros e feras, répteis, mosquitos, piolhos, vermes, moscas e quaisquer outras criaturas que ele tenha atormentado durante sua vida. Eles o atacam de todas as direções, tirando-lhe o prazer de dormir. Incapaz de descansar, ele constantemente fica vagando pela escuridão. Assim, em Andhakūpa, seu sofrimento é idêntico ao de uma criatura das espécies inferiores.

Comentário

SIGNIFICADO—Através deste verso muito instrutivo, tomamos conhecimento de que os animais inferiores, criados pelas leis da natureza para perturbar o ser humano, não estão sujeitos à punição. Entretanto, como tem consciência desenvolvida, o ser humano não pode nada que contrarie os princípios de varṇāśrama-dharma sem receber a devida punição. Na Bhagavad-gītā (4.13), Kṛṣṇa afirma que cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ guṇa-karma-vibhāgaśaḥ: “Conforme os três modos da natureza material e o trabalho atribuído a eles, as quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim.” Assim, todos os homens devem ser divididos em quatro classes – brāhmaṇas, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras – e devem agir de acordo com as normas estabelecidas. Eles não podem desviar-se das regras e regulações a eles prescritas. Uma delas afirma que nunca devem afligir animal algum, nem mesmo aqueles que perturbam os seres humanos. Embora um tigre não seja pecaminoso caso ataque outro animal e coma sua carne, se um homem com consciência desenvolvida age assim, ele tem que ser punido. Em outras palavras, o ser humano que não se vale de sua consciência desenvolvida, mas que, ao contrário, age como um animal, com certeza sofrerá punições em muitos infernos diferentes.

Texto

yas tv iha vā asaṁvibhajyāśnāti yat kiñcanopanatam anirmita-pañca-yajño vāyasa-saṁstutaḥ sa paratra kṛmibhojane narakādhame nipatati tatra śata-sahasra-yojane kṛmi-kuṇḍe kṛmi-bhūtaḥ svayaṁ kṛmibhir eva bhakṣyamāṇaḥ kṛmi-bhojano yāvat tad aprattāprahūtādo ’nirveśam ātmānaṁ yātayate.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; asaṁ-vibhajya — sem repartir; aśnāti — come; yat kiñcana — tudo o que; upanatam — obtido pela graça de Kṛṣṇa; anirmita — não executando; pañca-yajñaḥ — as cinco espécies de sacrifícios; vāyasa — aos corvos; saṁstutaḥ — que é descrita como igual; saḥ — semelhante pessoa; paratra — na próxima vida; kṛmibhojane — chamado Kṛmibhojana; narakaadhame – no mais abominável de todos os infernos; nipatati — cai; tatra — ali; śata-sahasra-yojane — medindo 100.000 yojanas (1.280.000 quilômetros); kṛmi-kuṇḍe — em um lago de vermes; kṛmi-bhūtaḥ — tornando-se um dos vermes; svayam — ela própria; kṛmibhiḥ — pelos outros vermes; eva — decerto; bhakṣyamāṇaḥ — sendo comida; kṛmi-bhojanaḥ — comendo vermes; yāvat — tanto quanto; tat — é a largura desse lago; aprattaaprahūta – comida não partilhada e não oferecida; adaḥ — aquele que come; anirveśam — que não executa expiação; ātmānam — para si próprio; yātayate — causa dor.

Tradução

Deve ser considerado no mesmo nível de um corvo aquele que, após receber algum alimento, não o reparte entre os convidados, os anciãos e as crianças, senão que simplesmente come tudo sozinho, ou come sem executar as cinco classes de sacrifícios. Após a morte, ele é posto no inferno mais abominável, conhecido como Kṛmibhojana. Nesse inferno, há um lago de 100.000 yojanas [1.280.000 quilômetros] de largura, que fica repleto de vermes. Nesse lago, ele se torna um verme e se alimenta de outros vermes ali existentes, que também se alimentam dele. A menos que, antes de morrer, tenha expiado suas ações, semelhante homem pecaminoso permanece no lago infernal de Kṛmibhojana por tantos anos quantos yojanas de largura tem o lago.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma na Bhagavad-gītā (3.13):

yajña-śiṣṭāśinaḥ santo
mucyante sarva-kilbiṣaiḥ
bhuñjate te tv agham pāpā
ya pacanty ātma-kāraṇāt

“Os devotos do Senhor libertam-se de todas as espécies de pecados porque comem alimentos que primeiramente são oferecidos em sacrifício. Outros, que preparam o alimento para a satisfação dos próprios sentidos, na verdade comem apenas pecado.” Todo o alimento nos é dado pela Suprema Personalidade de Deus. Eko bahūnāṁ yo vidadhāti kāmān: o Senhor satisfaz todas as necessidades da vida. Portanto, devemos agradecer Sua misericórdia executando yajña (sacrifício). Esse é o dever de todos. Na verdade, o único propósito da vida é executar yajña. De acordo com Kṛṣṇa:

yajñārthāt karmaṇo ’nyatra
loko ’yam karma-bandhanaḥ
tad-arthaṁ karma kaunteya
mukta-saṅgaḥ samācara

“Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Viṣṇu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material. Portanto, ó filho de Kuntī, executa teus deveres prescritos para a satisfação dEle, e, desta forma, sempre permanecerás livre do cativeiro.” (Bhagavad-gītā 3.9) Se não executamos yajña e não distribuímos prasāda aos outros, desperdiçamos nossa vida. Somente após executar yajña e distribuir prasāda a todos os dependentes – filhos, brāhmaṇas e anciãos – a pessoa deve comer. Contudo, aquele que cozinha somente para si próprio ou para a sua família é condenado, juntamente com todos aqueles a quem ele alimenta. Após a morte, ele é posto no inferno conhecido como Kṛmibhojana.

Texto

yas tv iha vai steyena balād vā hiraṇya-ratnādīni brāhmaṇasya vāpaharaty anyasya vānāpadi puruṣas tam amutra rājan yama-puruṣā ayasmayair agni-piṇḍaiḥ sandaṁśais tvaci niṣkuṣanti.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; steyena — através de roubo; balāt — à força; — ou; hiraṇya — ouro; ratna — joias; ādīni — e assim por diante; brāhmaṇasya — de um brāhmaṇa; — ou; apaharati — rouba; anyasya — de outros; — ou; anāpadi — em uma situação que não é calamitosa; puruṣaḥ — uma pessoa; tam — a ele; amutra — na próxima vida; rājan — ó rei; yama-puruṣāḥ — os agentes de Yamarāja; ayaḥ-mayaiḥ — feitas de ferro; agni-piṇḍaiḥ — bolas incandescentes; sandaṁśaiḥ — com espátulas; tvaci — sobre a pele; niṣkuṣanti — retalham.

Tradução

Meu querido rei, se alguém, sem justificativa premente, rouba um brāhmaṇa – ou, para dizer a verdade, rouba quem quer que seja – levando-lhe as joias e o ouro, é posto no inferno conhecido como Sandaṁśa, onde sua pele é rasgada e arrancada por bolas e espátulas incandescentes, feitas de ferro. Dessa maneira, todo o seu corpo é despedaçado.

Texto

yas tv iha vā agamyāṁ striyam agamyaṁ vā puruṣaṁ yoṣid abhigacchati tāv amutra kaśayā tāḍayantas tigmayā sūrmyā lohamayyā puruṣam āliṅgayanti striyaṁ ca puruṣa-rūpayā sūrmyā.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; agamyām — desonrosa; striyam — uma mulher; agamyam — desonroso; — ou; puruṣam — um homem; yoṣit — uma mulher; abhigacchati — procura para fazer sexo; tau — ambos; amutra — na próxima vida; kaśayā — com chicotes; tāḍayantaḥ — açoitando; tigmayā — incandescente; sūrmyā — por uma efígie; loha-mayyā — feita de ferro; puruṣam — o homem; āliṅgayanti — eles abraçam; striyam — a mulher; ca — também; puruṣa-rūpayā — em forma de homem; sūrmyā — por uma efígie.

Tradução

O homem ou a mulher que tenha relação sexual com parceiro desonroso do sexo oposto é punido após a morte pelos assistentes de Yamarāja no inferno conhecido como Taptasūrmi. Ali, semelhantes homens e mulheres são fustigados por chicotes. O homem é forçado a abraçar uma incandescente efígie de ferro, a qual tem a forma de uma mulher, e a mulher é forçada a abraçar uma efígie semelhante, em forma de homem. Essa é a punição reservada a quem faz sexo ilícito.

Comentário

SIGNIFICADO—De um modo geral, um homem só deve ter relações sexuais com sua esposa. De acordo com os princípios védicos, deve-se considerar como mãe a esposa de outrem, e se proíbem estritamente as relações sexuais com a mãe, a irmã ou a filha. Se a pessoa pratica relações sexuais ilícitas com a esposa de outro homem, é como se estivesse fazendo sexo com sua própria mãe. Esse ato é muito pecaminoso. O mesmo princípio se aplica, também, às mulheres; se elas desfrutam de sexo com um homem que não seja seu esposo, é como se elas tivessem relações sexuais com seu próprio pai ou filho. A vida sexual ilícita é sempre proibida, e qualquer homem ou mulher que a pratique é punido da maneira descrita neste verso.

Texto

yas tv iha vai sarvābhigamas tam amutra niraye vartamānaṁ vajrakaṇṭaka-śālmalīm āropya niṣkarṣanti.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; sarva-abhigamaḥ — entrega-se à pratica sexual indiscriminada, com homens e animais; tam — a ela; amutra — na próxima vida; niraye — no inferno; vartamānam — existindo; vajrakaṇṭaka-śālmalīm — uma árvore de seda e algodão com espinhos que parecem raios; āropya — colocando-a em; niṣkarṣanti — puxam-na.

Tradução

Aquele que, praticando sexo indiscriminadamente, não poupa sequer os animais, é levado, após a morte, ao inferno conhecido como Vajrakaṇṭaka-śālmalī. Nesse inferno, existe uma árvore de seda e algodão cheia de espinhos tão fortes como raios. Os agentes de Yamarāja penduram o homem pecaminoso nessa árvore e o puxam para baixo com bastante força, de modo que os espinhos rasguem severamente o seu corpo.

Comentário

SIGNIFICADO—O impulso sexual é tão forte que, algumas vezes, um homem mantém relação sexual com uma vaca, ou uma mulher mantém relação sexual com um cachorro. Tais homens e mulheres são postos no inferno conhecido como Vajrakaṇṭaka-śālmalī. O movimento da consciência de Kṛṣṇa proíbe o sexo ilícito. Através da descrição destes versos, podemos como o sexo ilícito é um ato extremamente pecaminoso. Às vezes, as pessoas não acreditam nestas descrições do inferno, mas, quer acreditem, quer não, tudo será executado de acordo com as leis da natureza, as quais ninguém pode evitar.

Texto

ye tv iha vai rājanyā rāja-puruṣā vā apākhaṇḍā dharma-setūn bhindanti te samparetya vaitaraṇyāṁ nipatanti bhinna-maryādās tasyāṁ niraya-parikhā-bhūtāyāṁ nadyāṁ yādo-gaṇair itas tato bhakṣyamāṇā ātmanā na viyujyamānāś cāsubhir uhyamānāḥ svāghena karma-pākam anusmaranto viṇ-mūtra-pūya-śoṇita-keśa-nakhāsthi-medo-māṁsa-vasā-vāhinyām upatapyante.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; rājanyāḥ — membros da família real, ou kṣatriyas; rāja-puruṣāḥ — servidores do governo; — ou; apākhaṇḍāḥ — embora nascidos em famílias responsáveis; dharma-setūn — os limites dos princípios religiosos prescritos; bhindanti — violam; te — elas; samparetya — após morrer; vaitaraṇyām — chamado Vaitaraṇī; nipatanti — caem; bhinna-maryādāḥ — que quebraram os princípios reguladores; tasyām — naquele; niraya-parikhā-bhūtāyām — o inferno sob a forma de fosso; nadyām — no rio; yādaḥ-gaṇaiḥ — pelos animais aquáticos ferozes; itaḥ tataḥ — aqui e ali; bhakṣyamāṇāḥ — sendo devoradas; ātmanā — com o corpo; na — não; viyujyamānāḥ — sendo separados; ca — e; asubhiḥ — os ares vitais; uhyamānāḥ — sendo arrastadas; sva-aghena — por suas próprias atividades pecaminosas; karma-pākam — os resultados de suas atividades impiedosas; anusmarantaḥ — lembrando-se de; viṭ — de excremento; mūtra — urina; pūya — pus; śoṇita — sangue; keśa — pelos; nakha — unhas; asthi — ossos; medaḥ — tutano; māṁsa — carne; vasā — gordura; vāhinyām — no rio; upatapyante — são afligidos com dor.

Tradução

Aquele que nasce em família responsável – tal como um kṣatriya, um membro da realeza ou um servidor do governo –, mas que negligencia executar os deveres que lhe são prescritos de acordo com os princípios religiosos, tornando-se, então, degradado, cai, na hora da morte, no rio infernal conhecido como Vaitaraṇī. Esse rio, que é um inferno sob a forma de fosso, está sempre cheio de animais aquáticos ferozes. Quando um homem pecaminoso é atirado no rio Vaitaraṇī, os seus animais aquáticos imediatamente começam a devorá-lo, mas, porque levou uma vida extremamente pecaminosa, ele não consegue abandonar o corpo. Lembrando-se constantemente de suas atividades pecaminosas, ele sofre terrivelmente nesse rio, o qual é repleto de excremento, urina, pus, sangue, pelos, unhas, ossos, tutano, carne e gordura.

Texto

ye tv iha vai vṛṣalī-patayo naṣṭa-śaucācāra-niyamās tyakta-lajjāḥ paśu-caryāṁ caranti te cāpi pretya pūya-viṇ-mūtra-śleṣma-malā-pūrṇārṇave nipatanti tad evātibībhatsitam aśnanti.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; vṛṣalī-patayaḥ — os esposos das śūdras; naṣṭa — perdida; śauca-ācāra-niyamāḥ — cuja limpeza, bom comportamento e vida regulada; tyakta-lajjāḥ — descarados; paśu-caryām — o comportamento de animais; caranti — eles adotam; te — eles; ca — também; api — na verdade; pretya — ao morrer; pūya — de pus; viṭ — excremento; mūtra — urina; śleṣma — muco; malā — saliva; pūrṇa — cheio; arṇave — em um oceano; nipatanti — caem; tat — isto; eva — apenas; atibībhatsitam — extremamente detestável; aśnanti — comem.

Tradução

Os desavergonhados esposos de mulheres śūdras, as quais são de nascimento inferior, vivem exatamente como animais, de modo que não têm bom comportamento, limpeza ou vida regulada. Após a morte, tais pessoas são atiradas no inferno chamado Pūyoda, onde são postas em um oceano cheio de pus, excremento, urina, muco, saliva e similares. Os śūdras que não foram capazes de se aprimorarem, caem nesse oceano e são forçados a comer essas substâncias detestáveis.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura canta:

karma-kāṇḍa, jñāna-kāṇḍa, kevala viṣera bāṇḍa,
amṛta baliyā yebā khāya
nānā yoni sadā phire, kadarya bhakṣaṇa kare,
tāra janma adaḥ-pate yāya

Ele diz que as pessoas que seguem os caminhos de karma-kāṇḍa e jñāna-kāṇḍa (atividades fruitivas e pensamento especulativo) não estão aproveitando o seu nascimento humano e deslizam rumo ao ciclo de nascimentos e mortes. Assim, sempre estão em perigo de serem postas em Pūyoda Naraka, o inferno chamado Pūyoda, onde terão de comer excremento, urina, pus, muco, saliva e outras coisas abomináveis. É significativo que este verso fale especialmente dos śūdras. Se alguém nasce śūdra, ele deve continuamente retornar ao oceano de Pūyoda para comer substâncias detestáveis. Assim, mesmo um śūdra de nascença deve tornar-se brāhmaṇa; essa é a serventia da vida humana. Todos devem se aperfeiçoar. Na Bhagavad-gītā (4.13), Kṛṣṇa diz que cātur-varṇyaṁ mayā sṛṣṭaṁ guṇa-karma-vibhāgaśaḥ: “Conforme os três modos da natureza material e o trabalho atribuído a eles, as quatro divisões da sociedade humana são criadas por Mim.” Mesmo que alguém se qualifique como śūdra, deve tentar melhorar de posição e se tornar um brāhmaṇa. Ninguém deve impedir alguém, não importa qual seja sua atual posição, de chegar à plataforma de brāhmaṇa ou vaiṣṇava. Na verdade, a pessoa deve chegar à plataforma de vaiṣṇava. Então, automaticamente ela se torna brāhmaṇa. Isso só pode ser feito caso se propague o movimento da consciência de Kṛṣṇa, pois estamos tentando elevar todos à plataforma de vaiṣṇavas. A propósito, na Bhagavad-gītā (18.66), Kṛṣṇa diz que sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Abandona todos os outros deveres e simplesmente rende-te a Mim.” A pessoa deve abandonar os deveres ocupacionais de śūdra, kṣatriya ou vaiśya e adotar os deveres ocupacionais de vaiṣṇava, que incluem atividades de brāhmaṇa. Kṛṣṇa explica isso na Bhagavad-gītā (9.32):

māṁ hi pārtha vyapāśritya
ye ’pi syuḥ pāpa-yonayaḥ
striyo vaiśyās tathā śūdrās
te ’pi yānti parāṁ gatim

“Ó filho de Pṛthā, aqueles que se refugiam em Mim, mesmo que sejam de nascimento inferior – as mulheres, os vaiśyas [comerciantes], bem como os śūdras [operários] – podem aproximar-se do destino supremo.” A vida humana se destina especificamente a proporcionar a volta ao lar, a volta ao Supremo. Todos devem receber essa facilidade, quer sejam śūdras, vaiśyas, mulheres ou kṣatriyas. Esse é o propósito do movimento da consciência de Kṛṣṇa. Contudo, se alguém está satisfeito em permanecer śūdra, tem de sofrer as punições descritas neste verso: tad evātibībhatsitam aśnanti.

Texto

ye tv iha vai śva-gardabha-patayo brāhmaṇādayo mṛgayā vihārā atīrthe ca mṛgān nighnanti tān api samparetāḻ lakṣya-bhūtān yama-puruṣā iṣubhir vidhyanti.

Sinônimos

ye — aqueles que; tu — porém; iha — nesta vida; vai — ou; śva — de cães; gardabha — e asnos; patayaḥ — mantenedores; brāhmaṇa-ādayaḥbrāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas; mṛgayā vihārāḥ — sentindo prazer em caçar animais na floresta; atīrthe — outros além dos prescritos; ca — também; mṛgān — animais; nighnanti — matam; tān — a eles; api — na verdade; samparetān — tendo morrido; lakṣya-bhūtān — tornando-se os alvos; yama-puruṣāḥ — os assistentes de Yamarāja; iṣubhiḥ — a flechas; vidhyanti — trespassam.

Tradução

Se, nesta vida, um homem das classes superiores [brāhmaṇa, kṣatriya ou vaiśya] é muito afeiçoado a levar à floresta seus cães, mulas ou asnos de estimação para caçar e matar animais desnecessariamente, ele é posto no inferno conhecido como Prāṇarodha após a morte, onde os assistentes de Yamarāja usam-no como alvo e perfuram-no com flechas.

Comentário

SIGNIFICADO—Especialmente nos países ocidentais, os aristocratas mantêm cães e cavalos para caçar animais na floresta. Seja no Ocidente, seja no Oriente, os aristocratas da Kali-yuga adotam a moda de ir à floresta e desnecessariamente matar animais. Os homens pertencentes às classes superiores (brāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas) devem cultivar um conhecimento através do qual conheçam o que é o Brahman, e também devem dar aos śūdras a oportunidade de chegar a essa plataforma. Se, ao contrário, entregam-se à caça, recebem a punição descrita neste verso. Eles não apenas são trespassados pelas flechas dos agentes de Yamarāja, como também são postos no oceano de pus, urina e excremento descrito no verso anterior.

Texto

ye tv iha vai dāmbhikā dambha-yajñeṣu paśūn viśasanti tān amuṣmiḻ loke vaiśase narake patitān niraya-patayo yātayitvā viśasanti.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; dāmbhikāḥ — muito orgulhosas de riqueza e posição prestigiosa; dambha-yajñeṣu — em um sacrifício executado para aumentar o prestígio; paśūn — animais; viśanti — matam; tān — a elas; amuṣmin loke — no próximo mundo; vaiśase — Vaiśasa ou Viśasana; narake — no inferno; patitān — caindo; niraya-patayaḥ — assistentes de Yamarāja; yātayitvā — causando dor lancinante; viśasanti — matam.

Tradução

Alguém que nesta vida se orgulha de sua destacada posição, e que despreocupadamente sacrifica animais simplesmente para obter prestígio material, é posto após a morte no inferno chamado Viśasana, onde os assistentes de Yamarāja, depois de lhe causarem dores excruciantes, tiram-lhe a vida.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (6.41), Kṛṣṇa diz que śucīnāṁ śrīmatāṁ gehe yoga-bhraṣṭo ’bhijāyate: “Devido à sua ligação anterior com bhakti-yoga, um homem nasce em uma família prestigiosa de brāhmaṇas ou aristocratas.” Ao obter tal nascimento, deve-se utilizá-lo para se aperfeiçoar em bhakti-yoga. Contudo, devido às más companhias, é frequente que a pessoa se esqueça de que sua posição prestigiosa lhe foi dada pela Suprema Personalidade de Deus, e, como prova de abuso, executa várias espécies de aparentes yajñas, tais como kālī-pūjā ou durgā-pūjā, onde animais indefesos são sacrificados. Nesta passagem, descreve-se a punição a que essa pessoa é submetida. A palavra dambha-yajñeṣu usada neste verso é muito significativa. Se, ao executar yajña, alguém viola as instruções védicas e simplesmente faz uma encenação de sacrifício com o propósito de matar animais, é passível de punição após a morte. Em Calcutá, existem muitos açougues onde se vende carne animal que supostamente foi oferecida em sacrifício diante da deusa Kālī. Os śāstras prescrevem que se pode sacrificar um cabrito diante da deusa Kālī uma vez por mês. Em parte alguma se menciona que, em nome da adoração realizada no templo, é permitido manter um açougue e diariamente matar animais sem necessidade. Aqueles que fazem isso recebem as punições aqui descritas.

Texto

yas tv iha vai savarṇāṁ bhāryāṁ dvijo retaḥ pāyayati kāma-mohitas taṁ pāpa-kṛtam amutra retaḥ-kulyāyāṁ pātayitvā retaḥ sampāyayanti.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; savarṇām — da mesma casta; bhāryām — sua esposa; dvijaḥ — uma pessoa de casta superior (tal como brāhmaṇa, kṣatriya ou vaiśya); retaḥ — o sêmen; pāyayati — faz beber; kāma-mohitaḥ — estando iludida com desejos luxuriosos; tam — a ela; pāpa-kṛtam — cometendo pecado; amutra — na próxima vida; retaḥ-kulyāyām — em um rio de sêmen; pātayitvā — atirando; retaḥ — sêmen; sampāyayanti — forçam a beber.

Tradução

Se um membro tolo das classes dos duas vezes nascidos [brāhmaṇa, kṣatriya ou vaiśya] força sua esposa a beber seu sêmen devido a um desejo luxurioso de mantê-la sob seu controle, ele é posto no inferno conhecido como Lālābhakṣa após a morte, onde, atirado em um rio de sêmen difluente, é forçado a bebê-lo.

Comentário

SIGNIFICADO—A prática de alguém forçar a esposa a beber o próprio sêmen dele é uma arte negra praticada por pessoas extremamente luxuriosas. Aqueles que praticam essa atividade muito abominável dizem que, se é forçada a beber o sêmen do esposo, a esposa permanece muito fiel a ele. Em geral, somente homens de classe inferior se ocupam nessa arte negra, mas, se um homem nascido em classe superior adota esse procedimento, ele é posto no inferno conhecido como Lālābhakṣa após a morte, onde é imerso no rio conhecido como Śukra-nadī e forçado a beber sêmen.

Texto

ye tv iha vai dasyavo ’gnidā garadā grāmān sārthān vā vilumpanti rājāno rāja-bhaṭā vā tāṁś cāpi hi paretya yamadūtā vajra-daṁṣṭrāḥ śvānaḥ sapta-śatāni viṁśatiś ca sarabhasaṁ khādanti.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; dasyavaḥ — ladrões e saqueadores; agni-dāḥ — que ateiam fogo; garadāḥ — que ministram veneno; grāmān — vilas; sārthān — a classe mercantil; — ou; vilumpanti — saqueiam; rājānaḥ — reis; rāja-bhaṭāḥ — funcionários governamentais; — ou; tān — a eles; ca — também; api — na verdade; hi — decerto; paretya — tendo morrido; yamadūtāḥ — os assistentes de Yamarāja; vajra-daṁṣṭrāḥ — tendo dentes poderosos; śvānaḥ — cães; sapta-śatāni — setecentos; viṁśatiḥ — vinte; ca — e; sarabhasam — vorazmente; khādanti — devoram.

Tradução

Neste mundo, alguns são saqueadores profissionais que ateiam fogo às casas alheias ou envenenam os outros. Também, os membros da realeza ou os funcionários do governo, às vezes, saqueiam os mercadores, forçando-os a pagar impostos ou se valendo de outros métodos. Após a morte, tais demônios são postos no inferno conhecido como Sārameyādana. Nesse planeta, há 720 cães cujos dentes são tão fortes como raios. Sob as ordens dos agentes de Yamarāja, esses cães comem vorazmente tais pessoas pecaminosas.

Comentário

SIGNIFICADO—No décimo segundo canto do Śrīmad-Bhāgavatam, afirma-se que, nesta era de Kali, todos serão extremamente perturbados por três espécies de tribulações: escassez de chuva, fome e impostos governamentais excessivos. Porque os seres humanos estão se tornando cada vez mais pecaminosos, haverá uma escassez de chuva e, naturalmente, não serão produzidos grãos alimentícios. Sob o pretexto de aliviar o sofrimento causado pela fome daí decorrente, o governo irá impor pesados impostos, especialmente à abastada comunidade mercantil. Neste verso, os membros desse tipo de governo são qualificados como dasyu, ladrões. A principal atividade deles consistirá em assaltar a riqueza das pessoas. Seja um assaltante de estrada, seja um ladrão governamental, semelhante homem será punido em sua próxima vida, quando será lançado no inferno conhecido como Sārameyādana, onde sofrerá intensamente devido às mordidas de cães ferozes.

Texto

yas tv iha vā anṛtaṁ vadati sākṣye dravya-vinimaye dāne vā kathañcit sa vai pretya narake ’vīcimaty adhaḥ-śirā niravakāśe yojana-śatocchrāyād giri-mūrdhnaḥ sampātyate yatra jalam iva sthalam aśma-pṛṣṭham avabhāsate tad avīcimat tilaśo viśīryamāṇa-śarīro na mriyamāṇaḥ punar āropito nipatati.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; anṛtam — uma mentira; vadati — fala; sākṣye — prestando testemunho; dravyavinimaye – em troca de mercadorias; dāne — em fazer caridade; — ou; kathañcit — de alguma forma; saḥ — essa pessoa; vai — na verdade; pretya — após morrer; narake — no inferno; avīcimati — chamado Avīcimat (sem água); adhaḥ-śirāḥ — de ponta-cabeça; niravakāśe — sem proteção; yojana-śata — de mil duzentos e oitenta quilômetros; ucchrāyāt — tendo uma altura; giri — de uma montanha; mūrdhnaḥ — do topo; sampātyate — é atirada; yatra — onde; jalam iva — como água; sthalam — terra; aśma-pṛṣṭham — tendo uma superfície de pedra; avabhāsate — parece; tat — isto; avīcimat — não tendo água ou ondas; tilaśaḥ — em fragmentos tão pequenos como sementes; viśīryamāṇa — sendo triturado; śarīraḥ — o corpo; na mriyamāṇaḥ — não morrendo; punaḥ — novamente; āropitaḥ — levado ao topo; nipatati — cai.

Tradução

Aquele que, nesta vida, presta falso testemunho ou mente enquanto realiza negócios ou faz caridade, é severamente punido após a morte pelos agentes de Yamarāja. Tal homem pecaminoso é levado ao topo de uma montanha de mil duzentos e oitenta quilômetros de altura e, de ponta-cabeça, é atirado no inferno conhecido como Avīcimat. Nesse inferno, não há rede de proteção e ele é constituído de pedra compacta semelhante a ondas de água. Ali, entretanto, não existe água, daí se chamar Avīcimat [sem água]. Muito embora o homem pecaminoso seja repetidas vezes atirado da montanha e seu corpo fique muito despedaçado, ele não morre, senão que continua sofrendo o mesmo castigo.

Texto

yas tv iha vai vipro rājanyo vaiśyo vā soma-pīthas tat-kalatraṁ vā surāṁ vrata-stho ’pi vā pibati pramādatas teṣāṁ nirayaṁ nītānām urasi padākramyāsye vahninā dravamāṇaṁ kārṣṇāyasaṁ niṣiñcanti.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; vipraḥ — um brāhmaṇa erudito; rājanyaḥ — um kṣatriya; vaiśyaḥ — um vaiśya; — ou; soma-pīthaḥ — beba soma-rasa; tat — sua; kalatram — esposa; — ou; surām — bebida alcoólica; vrata-sthaḥ — estando situado em um voto; api — decerto; — ou; pibati — ingira; pramādataḥ — por ilusão; teṣām — de todos eles; nirayam — ao inferno; nītānām — sendo levados; urasi — ao peito; padā — com os pés; ākramya — galgaram; asye — na boca; vahninā — pelo fogo; dravamāṇam — derretido; kārṣṇāyasam — ferro; niṣiñcanti — eles introduzem.

Tradução

Qualquer brāhmaṇa ou esposa de brāhmaṇa que consuma bebida alcoólica é levado pelos agentes de Yamarāja ao inferno conhecido como Ayaḥpāna. Esse inferno também está à espera de qualquer kṣatriya, vaiśya ou pessoa sob um voto que se ilude e bebe soma-rasa. Em Ayaḥpāna, os agentes de Yamarāja sobem em seus peitos e derramam ferro fundido quente dentro de sua boca.

Comentário

SIGNIFICADO—Ninguém deve ser brāhmaṇa apenas de nome e se ocupar em toda espécie de atividades pecaminosas, em especial ingerir bebida alcoólica. Os brāhmaṇas, os kṣatriyas e os vaiśyas devem comportar-se de acordo com os princípios com que estão vinculados. Se eles caem ao nível de śūdras, que têm o hábito de beber álcool, receberão a punição aqui descrita.

Texto

atha ca yas tv iha vā ātma-sambhāvanena svayam adhamo janma-tapo-vidyācāra-varṇāśramavato varīyaso na bahu manyeta sa mṛtaka eva mṛtvā kṣārakardame niraye ’vāk-śirā nipātito durantā yātanā hy aśnute.

Sinônimos

atha — além disso; ca — também; yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; ātma-sambhāvanena — devido ao falso prestígio; svayam — ela própria; adhamaḥ — muito degradada; janma — bom nascimento; tapaḥ — austeridades; vidyā — conhecimento; ācāra — bom comportamento; varṇa-āśrama-vataḥ — em termos de seguir estritamente os princípios de varṇāśrama; varīyasaḥ — daquele que é venerável; na — não; bahu — muito; manyeta — respeita; saḥ — ela; mṛtakaḥ — um cadáver; eva — apenas; mṛtvā — após morrer; kṣārakardame — chamado Kṣārakardama; niraye — no inferno; avāk-śirā — de ponta-cabeça; nipātitaḥ — atirada; durantāḥ yātanāḥ — severas condições dolorosas; hi — na verdade; aśnute — sofre.

Tradução

Uma pessoa abominável e de nascimento baixo, que nesta vida se torna cheia de falso orgulho, pensando “eu sou grande”, e que assim deixa de apresentar o devido respeito a alguém que, por nascimento, austeridade, educação, comportamento, casta ou ordem espiritual, está em uma situação mais elevada, é como um cadáver mesmo nesta vida e, após a morte, é atirada de ponta-cabeça no inferno conhecido como Kṣārakardama. Ali, essa pessoa tem que sofrer muitas tribulações nas mãos dos agentes de Yamarāja.

Comentário

SIGNIFICADO—Ninguém deve cultivar o falso orgulho. Todos devem respeitar alguém que, por nascimento, educação, comportamento, casta ou ordem espiritual, galgou uma posição mais elevada. Quem, ao invés de prestar respeito a essas pessoas de alto nível, cultiva o falso orgulho, é punido em Kṣārakardama.

Texto

ye tv iha vai puruṣāḥ puruṣa-medhena yajante yāś ca striyo nṛ-paśūn khādanti tāṁś ca te paśava iva nihatā yama-sadane yātayanto rakṣo-gaṇāḥ saunikā iva svadhitināvadāyāsṛk pibanti nṛtyanti ca gāyanti ca hṛṣyamāṇā yatheha puruṣādāḥ.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; puruṣāḥ — homens; puruṣa-medhena — através do sacrifício de um homem; yajante — adoram (a deusa Kālī ou Bhadra Kālī); yāḥ — aquelas que; ca — e; striyaḥ — mulheres; nṛ-paśūn — os homens usados como sacrifício; khādanti — comem; tān — a elas; ca — e; te — eles; paśavaḥ iva — como os animais; nihatāḥ — sendo trucidados; yamasadane – no domicílio de Yamarāja; yātayantaḥ — punindo; rakṣaḥ-gaṇāḥ — sendo Rākṣasas; saunikāḥ — os matadores; iva — como; svadhitinā — à espada; avadāya — retalhando; asṛk — o sangue; pibanti — bebem; nṛtyanti — dançam; ca — e; gāyanti — cantam; ca — também; hṛṣyamāṇāḥ — deleitando-se; yathā — assim como; iha — neste mundo; puruṣa-adāḥ — os canibais.

Tradução

Neste mundo, há homens e mulheres que sacrificam seres humanos a Bhairava ou Bhadra Kālī e, então, comem a carne de suas vítimas. Aqueles que executam tais sacrifícios são levados após a morte à morada de Yamarāja, onde suas vítimas, tendo assumido a forma de Rākṣasas, retalham-nos com espadas afiadas. Assim como, neste mundo, os canibais beberam o sangue de suas vítimas, dançando e cantando em júbilo, suas vítimas agora se deliciam bebendo o sangue dos sacrificadores e celebram da mesma maneira.

Texto

ye tv iha vā anāgaso ’raṇye grāme vā vaiśrambhakair upasṛtān upaviśrambhayya jijīviṣūn śūla-sūtrādiṣūpaprotān krīḍanakatayā yātayanti te ’pi ca pretya yama-yātanāsu śūlādiṣu protātmānaḥ kṣut-tṛḍbhyāṁ cābhihatāḥ kaṅka-vaṭādibhiś cetas tatas tigma-tuṇḍair āhanyamānā ātma-śamalaṁ smaranti.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; anāgasaḥ — que são inocentes; araṇye — na floresta; grāme — na vila; — ou; vaiśrambhakaiḥ — por meio de boa-fé; upasṛtān — levados para perto; upaviśrambhayya — transmitindo confiança; jijīviṣūn — que querem ser protegidos; śūla-sūtra-ādiṣu — em uma lança, corda e assim por diante; upaprotān — fixos; krīḍanakatayā — como um brinquedo; yātayanti — causam dor; te — essas pessoas; api — decerto; ca — e; pretya — após morrerem; yama-yātanāsu — as perseguições de Yamarāja; śūla-ādiṣu — em lanças e assim por diante; prota-ātmānaḥ — cujos corpos são afixados; kṣut-tṛḍbhyām — pela fome e sede; ca — também; abhihatāḥ — dominados; kaṅka-vaṭa-ādibhiḥ — por pássaros, tais como garças e abutres; ca — e; itaḥ tataḥ — aqui e ali; tigmatuṇḍaiḥ – tendo bicos pontiagudos; āhanyamānāḥ — sendo torturadas; ātma-śamalam — próprias atividades pecaminosas; smaranti — elas se lembram de.

Tradução

Nesta vida, algumas pessoas abrigam animais e pássaros que, nas vilas ou florestas, buscam a proteção delas, e, após fazê-los acreditar que serão protegidos, tais pessoas os trespassam com lanças ou os enlaçam e os fazem de brinquedos, causando-lhes muita dor. Após a morte, tais pessoas são levadas pelos assistentes de Yamarāja ao inferno conhecido como Śūlaprota, onde seus corpos são trespassados por afiadas lanças, semelhantes a agulhas. Elas sofrem de fome e sede, e pássaros de bico pontiagudo, tais como abutres e garças, atacam-nas de todas as direções para picar seus corpos. Sofrendo essa tortura, elas podem, então, lembrar-se das atividades pecaminosas que cometeram no passado.

Texto

ye tv iha vai bhūtāny udvejayanti narā ulbaṇa-svabhāvā yathā dandaśūkās te ’pi pretya narake dandaśūkākhye nipatanti yatra nṛpa dandaśūkāḥ pañca-mukhāḥ sapta-mukhā upasṛtya grasanti yathā bileśayān.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; vai — na verdade; bhūtāni — às entidades vivas; udvejayanti — causam desnecessária dor; narāḥ — homens; ulbaṇa-svabhāvāḥ — irados por natureza; yathā — assim como; dandaśūkāḥ — cobras; te — eles; api — também; pretya — após morrerem; narake — no inferno; dandaśūka-ākhye — chamado Dandaśūka; nipatanti — caem; yatra — onde; nṛpa — ó rei; dandaśūkāḥ — serpentes; pañca-mukhāḥ — tendo cinco capelos; saptamukhāḥ — tendo sete capelos; upasṛtya — agarrando; grasanti — devoram; yathā — assim como; bileśayān — ratos.

Tradução

Aqueles que, nesta vida, parecem serpentes invejosas, vivendo sempre irados e causando dor a outras entidades vivas, caem, após a morte, no inferno conhecido como Dandaśūka. Nesse inferno, meu querido rei, existem serpentes com cinco ou sete capelos, as quais devoram essas pessoas pecaminosas assim como cobras devoram ratos.

Texto

ye tv iha vā andhāvaṭa-kusūla-guhādiṣu bhūtāni nirundhanti tathāmutra teṣv evopaveśya sagareṇa vahninā dhūmena nirundhanti.

Sinônimos

ye — pessoas que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; andhaavaṭa – um poço camuflado; kusūla — celeiros; guha-ādiṣu — e em cavernas; bhūtāni — as entidades vivas; nirundhanti — confinam; tathā — igualmente; amutra — na próxima vida; teṣu — naqueles mesmos lugares; eva — decerto; upaveśya — fazendo entrar; sagareṇa — com gases venenosos; vahninā — com fogo; dhūmena — com fumaça; nirundhanti — confinam.

Tradução

Aqueles que, nesta vida, confinam outras entidades vivas em poços escuros, celeiros ou cavernas são postos no inferno conhecido como Avaṭa-nirodhana após a morte. Ali, são atirados em poços escuros, onde fumaça e gases venenosos os sufocam, fazendo-os sofrer muito severamente.

Texto

yas tv iha vā atithīn abhyāgatān vā gṛha-patir asakṛd upagata-manyur didhakṣur iva pāpena cakṣuṣā nirīkṣate tasya cāpi niraye pāpa-dṛṣṭer akṣiṇī vajra-tuṇḍā gṛdhrāḥ kaṅka-kāka-vaṭādayaḥ prasahyoru-balād utpāṭayanti.

Sinônimos

yaḥ — uma pessoa que; tu — mas; iha — nesta vida; — ou; atithīn — convidados; abhyāgatān — visitantes; — ou; gṛha-patiḥ — um chefe de família; asakṛt — muitas vezes; upagata — obtendo; manyuḥ — ira; didhakṣuḥ — alguém que deseja incinerar; iva — como; pāpena — pecaminosos; cakṣuṣā — com olhos; nirīkṣate — olha para; tasya — dele; ca — e; api — decerto; niraye — no inferno; pāpadṛṣṭeḥ – daquele cuja visão se tornou pecaminosa; akṣiṇī — os olhos; vajra-tuṇḍāḥ — aqueles que têm bicos poderosos; gṛdhrāḥ — abutres; kaṅka — garças; kāka — corvos; vaṭa-ādayaḥ — e outras aves; prasahya — violentamente; uru-balāt — com muita força; utpāṭayanti — arrancam.

Tradução

Um chefe de família que recebe convidados ou visitantes com olhares cruéis, como se fosse reduzi-los a cinzas, é posto no inferno conhecido como Paryāvartana, onde é fitado pelos olhares dardejantes de abutres, garças, corvos e pássaros similares, que realizam uma súbita arremetida e arrancam-lhe os olhos muito impetuosamente.

Comentário

SIGNIFICADO—De acordo com a etiqueta védica, até mesmo um inimigo que venha ao lar de um chefe de família deve ser recebido de maneira tão cortês que se esqueça de que está na casa de um inimigo. Ao chegar à casa de alguém, um convidado deve ser recebido muito polidamente. Se sua presença não é benquista, o pai de família não deve fitá-lo com olhares dardejantes, pois, quem adota esse tipo de comportamento, será posto em um inferno conhecido como Paryāvartana após a morte, onde pássaros ferozes, tais como abutres, corvos e gaviões, repentinamente o atacarão, arrancando-lhe os olhos.

Texto

yas tv iha vā āḍhyābhimatir ahaṅkṛtis tiryak-prekṣaṇaḥ sarvato ’bhiviśaṅkī artha-vyaya-nāśa-cintayā pariśuṣyamāṇa-hṛdaya-vadano nirvṛtim anavagato graha ivārtham abhirakṣati sa cāpi pretya tad-utpādanotkarṣaṇa-saṁrakṣaṇa-śamala-grahaḥ sūcīmukhe narake nipatati yatra ha vitta-grahaṁ pāpa-puruṣaṁ dharmarāja-puruṣā vāyakā iva sarvato ’ṅgeṣu sūtraiḥ parivayanti.

Sinônimos

yaḥ — qualquer pessoa que; tu — mas; iha — neste mundo; — ou; āḍhya-abhimatiḥ — orgulhosa devido à riqueza; ahaṅkṛtiḥ — egoísta; tiryak-prekṣaṇaḥ — cuja visão é deformada; sarvataḥ abhiviśaṅkī — sempre temendo ser enganado por outros, inclusive pelos superiores; arthavyayanāśa-cintayā – só de pensar em desperdiçar e perder; pariśuṣyamāṇa — amofinado; hṛdaya-vadanaḥ — seu coração e seu rosto; nirvṛtim — felicidade; anavagataḥ — não obtendo; grahaḥ — um fantasma; iva — como; artham — riqueza; abhirakṣati — protege; saḥ — ela; ca — também; api — na verdade; pretya — após morrer; tat — daquelas riquezas; utpādana — do ganho; utkarṣaṇa — aumentando; saṁrakṣaṇa — protegendo; śamala-grahaḥ — aceitando as atividades pecaminosas; sūcīmukhe — chamado Sūcīmukha; narake — no inferno; nipatati — cai; yatra — onde; ha — na verdade; vitta-graham — como um fantasma que se apodera de dinheiro; pāpa-puruṣam — homem muito pecaminoso; dharmarāja-puruṣāḥ — os agentes de Yamarāja; vāyakāḥ iva — como tecelões hábeis; sarvataḥ — inteiramente; aṅgeṣu — os membros do corpo; sūtraiḥ — com linhas; parivayanti — costuram.

Tradução

Aquele que, neste mundo ou nesta vida, tem muito orgulho de sua riqueza, costuma pensar: “Eu sou tão rico! Quem pode igualar-se a mim?” Sua visão é distorcida, e ele está sempre com medo de que alguém o prive de sua riqueza. Na verdade, ele suspeita inclusive de seus superiores. Seu rosto e seu coração se abadem diante do mero pensamento de perder sua riqueza, e, em razão disso, ele sempre parece um demônio desprezível. Ele, de modo algum, consegue obter verdadeira felicidade, e não tem conhecimento de como se vive sem ansiedade. Devido aos pecados que comete para conseguir dinheiro, aumentar sua riqueza e protegê-la, ele é posto no inferno chamado Sūcīmukha, onde os agentes de Yamarāja o punem costurando todo o seu corpo assim como fazem os tecelões que fabricam roupas.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando alguém possui mais riqueza do que o necessário, decerto se torna muito orgulhoso. Essa é a situação dos homens na civilização moderna. De acordo com a cultura védica, os brāhmaṇas nada possuem, ao passo que os kṣatriyas possuem riquezas, mas somente para executar sacrifícios e outras atividades nobres prescritas nos preceitos védicos. O vaiśya também ganha dinheiro honestamente, através da agricultura, proteção às vacas e alguma atividade comercial. Contudo, se um śūdra ganha dinheiro, ele o esbanja sem discriminação, ou simplesmente o acumula sem propósito algum. Porque não há brāhmaṇas, kṣatriyas ou vaiśyas qualificados nesta era, quase todos são śūdras (kalau śūdra-sambhavaḥ). Portanto, a mentalidade de śūdra está causando grande dano à civilização moderna. O śūdra não sabe como usar o dinheiro para prestar transcendental serviço amoroso ao Senhor. O dinheiro também é chamado de lakṣmī, e Lakṣmī está sempre ocupada a serviço de Nārāyaṇa. Onde quer que haja dinheiro, deve-se usá-lo a serviço do Senhor Nārāyaṇa. Todos devem usar seu dinheiro para espalhar o grande e transcendental movimento da consciência de Kṛṣṇa. Se alguém não aplica o dinheiro com esse propósito, mas acumula mais do que o necessário, é certo que ficará orgulhoso do dinheiro que conseguiu ilegalmente. Na verdade, o dinheiro pertence a Kṛṣṇa, quem, na Bhagavad-gītā (5.29), diz que bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram: “Eu sou o verdadeiro desfrutador dos sacrifícios e penitências, e sou o proprietário de todos os planetas.” Portanto, tudo pertence a Kṛṣṇa. Aquele que possui mais dinheiro do que o necessário deve gastá-lo para Kṛṣṇa. Quem não assume essa atitude ficará envaidecido por suas falsas posses e, portanto, receberá a punição aqui descrita na próxima vida.

Texto

evaṁ-vidhā narakā yamālaye santi śataśaḥ sahasraśas teṣu sarveṣu ca sarva evādharma-vartino ye kecid ihoditā anuditāś cāvani-pate paryāyeṇa viśanti tathaiva dharmānuvartina itaratra iha tu punar-bhave ta ubhaya-śeṣābhyāṁ niviśanti.

Sinônimos

evamvidhāḥ – desta espécie; narakāḥ — os muitos infernos; yama-ālaye — na província de Yamarāja; santi — são; śataśaḥ — centenas; sahasraśaḥ — milhares; teṣu — nesses planetas infernais; sarveṣu — todas; ca — também; sarve — todas; eva — na verdade; adharma-vartinaḥ — pessoas que não seguem os princípios védicos ou princípios reguladores; ye kecit — todo aquele; iha — aqui; uditāḥ — mencionado; anuditāḥ — não mencionado; ca — e; avanipate – ó rei; paryāyeṇa — de acordo com o grau das diferentes classes de atividades pecaminosas; viśanti — elas entram; tathā eva — igualmente; dharma-anuvartinaḥ — aqueles que são piedosos e agem de acordo com os princípios reguladores ou preceitos védicos; itaratra — em outra parte; iha — neste planeta; tu — mas; punaḥ-bhave — em outro nascimento; te — todos eles; ubhaya-śeṣābhyām — pelo restante dos resultados da piedade ou do vício; niviśanti — eles entram.

Tradução

Meu querido rei Parīkṣit, existem centenas e milhares de planetas infernais na província de Yamarāja. As pessoas ímpias que mencionei – e também aquelas que não mencionei – têm todas de entrar nesses vários planetas, de acordo com o grau de sua impiedade. Aqueles que são piedosos, contudo, entram em outros sistemas planetários, a saber, os planetas dos semideuses. Todavia, após se esgotarem os resultados de suas atividades piedosas ou ímpias, tanto os piedosos quanto os ímpios voltam à Terra.

Comentário

SIGNIFICADO—Isso corresponde ao início das instruções do Senhor Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā. Tathā dehāntara-prāptiḥ: dentro deste mundo material, todos simplesmente se destinam a mudar de um corpo a outro, em diferentes sistemas planetários. Ūrdhvaṁ gacchanti sattva-sthā: aqueles que estão no modo da bondade se elevam aos planetas celestiais. Adho gacchanti tāmasāḥ: igualmente, aqueles demasiadamente absortos em ignorância entram nos sistemas planetários infernais. Contudo, ambos estão sujeitos a repetidos nascimentos e mortes. Na Bhagavad-gītā (9.21), afirma-se que mesmo alguém muito piedoso regressa à Terra depois que expirar o seu gozo nos sistemas planetários superiores (kṣīṇe puṇye martya-lokaṁ viśanti). Portanto, ir de um planeta a outro não soluciona os problemas da vida. Os problemas da vida somente serão resolvidos quando não tivermos mais de aceitar corpos materiais. Isso é possível a alguém que se torna consciente de Kṛṣṇa. Como Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (4.9):

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.” Essa é a perfeição da vida e a verdadeira solução dos problemas da vida. Não devemos ficar desejosos de ir aos sistemas planetários celestiais superiores, tampouco devemos agir de maneira que tenhamos de ir aos planetas infernais. Todo o propósito deste mundo material será cumprido quando reassumirmos nossa identidade espiritual e voltarmos ao lar, voltarmos ao Supremo. O método muito simples para se alcançar isso é prescrito pela Suprema Personalidade de Deus. Sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja. Ninguém deve ser piedoso ou ímpio, senão que deve ser apenas devoto e se render aos pés de lótus de Kṛṣṇa. Esse processo de rendição também é facílimo. Até mesmo uma criança pode praticá-lo. Man-manā bhava mad-bhakto mad-yājī māṁ namaskuru. Tudo o que a pessoa deve fazer é sempre pensar em Kṛṣṇa cantando Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Deve tornar-se devoto de Kṛṣṇa, adorá-lO e oferecer-Lhe reverências. Dessa maneira, ela deve ocupar todas as atividades de sua vida a serviço do Senhor Kṛṣṇa.

Texto

nivṛtti-lakṣaṇa-mārga ādāv eva vyākhyātaḥ; etāvān evāṇḍa-kośo yaś caturdaśadhā purāṇeṣu vikalpita upagīyate yat tad bhagavato nārāyaṇasya sākṣān mahā-puruṣasya sthaviṣṭhaṁ rūpam ātmamāyā-guṇamayam anuvarṇitam ādṛtaḥ paṭhati śṛṇoti śrāvayati sa upageyaṁ bhagavataḥ paramātmano ’grāhyam api śraddhā-bhakti-viśuddha-buddhir veda.

Sinônimos

nivṛtti-lakṣaṇa-mārgaḥ — o caminho caracterizado pela renúncia, ou o caminho da liberação; ādau — no início (o segundo canto e o terceiro canto); eva — na verdade; vyākhyātaḥ — descrito; etāvān — este tanto; eva — decerto; aṇḍa-kośaḥ — o universo, que parece um grande ovo; yaḥ — o qual; caturdaśa-dhā — em quatorze partes; purāṇeṣu — nos Purāṇas; vikalpitaḥ — dividido; upagīyate — é descrito; yat — o qual; tat — isto; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; nārāyaṇasya — do Senhor Nārāyaṇa; sākṣāt — diretamente; mahā-puruṣasya — da Pessoa Suprema; sthaviṣṭham — grosseira; rūpam — a forma; ātma-māyā — de Sua própria energia; guṇa — nas qualidades; mayam — consistindo; anuvarṇitam — descrita; ādṛtaḥ — venerando; paṭhati — a pessoa lê; śṛṇoti — ou ouve; śrāvayati — ou explica; saḥ — essa pessoa; upageyam — canção; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; paramātmanaḥ — da Superalma; agrāhyam — difícil de entender; api — embora; śraddhā — através da fé; bhakti — e devoção; viśuddha — purificada; buddhiḥ — cuja inteligência; veda — entende.

Tradução

No início [no segundo canto e terceiro canto do Śrīmad-Bhāgavatam], já descrevi como a pessoa pode progredir no caminho da liberação. Nos Purāṇas, a vasta existência universal, que é como um ovo dividido em quatorze partes, é descrita. Essa vasta forma é considerada o corpo externo do Senhor, criada por Sua energia e qualidades. Em geral, ela é chamada virāṭ-rūpa. Caso alguém leia com muita fé a descrição dessa forma externa do Senhor, ou caso ouça sobre ela ou caso a explique a outros para propagar o bhāgavata-dharma, ou a consciência de Kṛṣṇa, sua fé e devoção em consciência espiritual, sua consciência de Kṛṣṇa, aumentarão gradualmente. Embora seja muito difícil alguém desenvolver essa consciência, a pessoa pode se purificar através desse processo e, aos poucos, cientificar-se da Suprema Verdade Absoluta.

Comentário

SIGNIFICADO—O movimento da consciência de Kṛṣṇa está levando adiante a publicação do Śrīmad-Bhāgavatam, que, explicado especialmente para ser compreendido pelo homem civilizado moderno, visa a despertar a sua consciência original. Sem essa consciência, a pessoa se perde em completa escuridão. Quer vá aos sistemas planetários superiores, quer aos sistemas planetários infernais, ela simplesmente desperdiça seu tempo. Portanto, deve-se ouvir sobre a posição universal da forma virāṭ do Senhor, como descrita no Śrīmad-Bhāgavatam. Isso ajudará essa pessoa a se livrar da vida condicionada material e elevá-la gradualmente ao caminho da liberação para que possa voltar ao lar, voltar ao Supremo.

Texto

śrutvā sthūlaṁ tathā sūkṣmaṁ
rūpaṁ bhagavato yatiḥ
sthūle nirjitam ātmānaṁ
śanaiḥ sūkṣmaṁ dhiyā nayed iti

Sinônimos

śrutvā — após ouvir a respeito de (sendo falada pela sucessão discipular); sthūlam — grosseira; tathā — bem como; sūkṣmam — sutil; rūpam — forma; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; yatiḥ — um sannyāsī ou devoto; sthūle — a forma grosseira; nirjitam — subjugada; ātmānam — a mente; śanaiḥ — aos poucos; sūkṣmam — a sutil forma espiritual do Senhor; dhiyā — através da inteligência; nayet — deve-se fixá-la em; iti — assim.

Tradução

Aquele que está interessado em liberação, que aceita o caminho da liberação e não se sente atraído pelo caminho da vida condicionada, chama-se yati, ou devoto. Tal pessoa deve primeiramente controlar sua mente pensando no virāṭ-rūpa, a gigantesca forma universal do Senhor, após o que deve pensar aos poucos na forma espiritual de Kṛṣṇa [sac-cid-ānanda-vigraha], depois de ouvir sobre ambas as formas. Assim, sua mente se fixará em samādhi. Através do serviço devocional, ela poderá, então, compreender a forma espiritual do Senhor, que é o destino dos devotos. Sua vida se tornará exitosa dessa maneira.

Comentário

SIGNIFICADO—Declara-se que mahat-sevāṁ dvāram āhur vimukteḥ: quem deseja progredir no caminho da liberação deve se associar com mahātmās, ou devotos liberados, pois essa associação oferece toda a oportunidade necessária para se ouvir, descrever e cantar acerca do nome, forma, qualidades e parafernália da Suprema Personalidade de Deus, os quais são descritos no Śrīmad-Bhāgavatam. No caminho do cativeiro, a pessoa se submete eternamente a repetidos nascimentos e mortes. Aquele que deseja se libertar desse cativeiro deve unir-se à Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna e, dessa maneira, tirar proveito da oportunidade de ouvir os devotos comentarem o Śrīmad-Bhāgavatam e, então, também explicá-lo, a fim de que, dessa forma, possa ser propagada a consciência de Kṛṣṇa.

Texto

bhū-dvīpa-varṣa-sarid-adri-nabhaḥ-samudra-
pātāla-diṅ-naraka-bhāgaṇa-loka-saṁsthā
gītā mayā tava nṛpādbhutam īśvarasya
sthūlaṁ vapuḥ sakala-jīva-nikāya-dhāma

Sinônimos

bhū — deste planeta Terra; dvīpa — e diversos outros sistemas planetários; varṣa — de trechos de terra; sarit — rios; adri — montanhas; nabhaḥ — o firmamento; samudra — oceanos; pātāla — planetas inferiores; dik — direções; naraka — os planetas infernais; bhāgaṇa-loka — os luzeiros e os planetas superiores; saṁsthā — a situação; gītā — descrita; mayā — por mim; tava — a ti; nṛpa — ó rei; adbhutam — maravilhoso; īśvarasya — da Suprema Personalidade de Deus; sthūlam — grosseiro; vapuḥ — corpo; sakala jīva-nikāya — de todas as multidões de entidades vivas; dhāma — que é o lugar de repouso.

Tradução

Meu querido rei, acabo de te descrever este planeta Terra, outros sistemas planetários e suas regiões [varṣas], rios e montanhas. Também descrevi o céu, os oceanos, os sistemas planetários inferiores, as direções, os sistemas planetários infernais e as estrelas. Eles constituem o virāṭ-rūpa, a gigantesca forma material do Senhor, na qual todas as entidades vivas repousam. Assim, expliquei a maravilhosa expansão do corpo externo do Senhor.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do quinto canto, vigésimo sexto capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Descrição dos Planetas Infernais”.

– Concluído no templo de Pañca-tattva de Honolulu, em 5 de junho de 1975

Existe uma nota suplementar, escrita por Sua Divina Graça Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja Prabhupāda em seu Gauḍīya-bhāṣya. A tradução é a seguinte: Os sábios eruditos que conhecem plenamente todas as escrituras védicas concordam que as encarnações da Suprema Personalidade de Deus são inúmeras. Essas encarnações pertencem a duas categorias, chamadas prābhava e vaibhava. De acordo com as escrituras, dividem-se, também, as encarnações prābhava em duas classes – as que são chamadas eternas e as que não são descritas vividamente. Este quinto canto do Śrīmad-Bhāgavatam, do terceiro capítulo ao sexto, descreve Ṛṣabhadeva, mas não se detém nas Suas atividades espirituais. Portanto, Ele é considerado como pertencente ao segundo grupo, de encarnações prābhava. Afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam, primeiro canto, capítulo três, verso 13:

aṣṭame merudevyāṁ tu
nābher jāta urukramaḥ
darśayan vartma dhīrāṇāṁ
sarvāśrama-namaskṛtam

“Na oitava encarnação, o Senhor Viṣṇu apareceu como filho de Mahārāja Nābhi [filho de Āgnīdhra] e sua esposa Merudevī. Ele mostrou o caminho da perfeição, a fase de vida de paramahaṁsa, que é adorada por todos os seguidores do varṇāśrama-dharma.”Ṛṣabhadeva é a Suprema Personalidade de Deus, e Seu corpo é espiritual (sac-cid-ānanda-vigraha). Portanto, alguém talvez pergunte como é possível que Ele defecasse e urinasse. O ācārya do vedānta gauḍīya, Baladeva Vidyābhūṣaṇa, responde a essa pergunta em seu livro conhecido como Siddhānta-ratna (Primeira Parte, versos 65-68). Os homens imperfeitos dão atenção ao fato de Ṛṣabhadeva defecar e urinar, e este tema é estudado pelos não-devotos, que não compreendem a posição espiritual de um corpo transcendental. Neste quinto canto do Śrīmad-Bhāgavatam (5.6.11), descreve-se na íntegra o estado de ilusão e confusão em que vivem os materialistas desta era. Em outra passagem do quinto canto (5.5.19), Ṛṣabhadeva afirma que idaṁ śarīram mama durvibhāvyam: “Este Meu corpo é inconcebível para os materialistas.” Isso também é confirmado pelo Senhor Kṛṣṇa na Bhagavad-gītā (9.11):

avajānanti māṁ mūḍhā
mānuṣīṁ tanum āśritam
paraṁ bhāvam ajānanto
mama bhūta-maheśvaram

“Os tolos zombam de Mim quando venho sob a forma humana. Eles não conhecem Minha natureza transcendental como o Supremo Senhor de tudo o que existe.” A forma humana da Suprema Personalidade de Deus é extremamente difícil de se entender, e, de fato, para o homem comum, ela é inconcebível. Por conseguinte, Ṛṣabhadeva explica diretamente que Seu próprio corpo pertence à plataforma espiritual. Sendo assim, Ṛṣabhadeva realmente não defecava nem urinava. Muito embora Ele desse a impressão de que defecava e urinava, isso também era transcendental e não pode ser imitado por nenhum homem comum. No Śrīmad-Bhāgavatam, afirma-se também que o excremento e a urina de Ṛṣabhadeva eram plenos de um perfume transcendental. Talvez alguém imite Ṛṣabhadeva, mas não pode imitá-lO defecando excremento perfumado.

As atividades de Ṛṣabhadeva, portanto, não apoiam os argumentos de certa classe de homens conhecida como arhat, que se fazem passar por seguidores de Ṛṣabhadeva algumas vezes. Como eles podem ser seguidores de Ṛṣabhadeva ao mesmo tempo em que agem contra os princípios védicos? Śukadeva Gosvāmī relata que, após ouvir sobre as características do Senhor Ṛṣabhadeva, o rei de Koṅka, Veṅka e Kuṭaka deu início a um sistema de princípios religiosos conhecido como arhat. Esses princípios não estão de acordo com os princípios védicos, de modo que são chamados de pāṣaṇḍa-dharma. Os membros da comunidade arhat consideravam materiais as atividades de Ṛṣabhadeva. Contudo, Ṛṣabhadeva é uma encarnação da Suprema Personalidade de Deus. Portanto, Ele está na plataforma transcendental, e ninguém pode comparar-se a Ele.

Ṛṣabhadeva manifestou pessoalmente as atividades da Suprema Personalidade de Deus. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (5.6.8), dāvānalas tad vanam ālelihānaḥ saha tena dadāha: no final dos passatempos de Ṛṣabhadeva, uma floresta inteira e o corpo do Senhor foram reduzidos a cinzas em um grande incêndio florestal. Da mesma maneira, Ṛṣabhadeva reduziu a cinzas a ignorância das pessoas. Em Suas instruções a Seus filhos, Ele exibiu as características de um paramahaṁsa. Entretanto, os princípios da comunidade arhat não correspondem aos ensinamentos de Ṛṣabhadeva.

Śrīla Baladeva Vidyābhūṣaṇa assinala que, no oitavo canto do Śrīmad-Bhāgavatam, há outra descrição de Ṛṣabhadeva, mas esse Ṛṣabhadeva é diferente do Ṛṣabhadeva descrito neste quinto canto.

FIM DO QUINTO CANTO