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ŚB 10.60.35

Texto

satyaṁ bhayād iva guṇebhya urukramāntaḥ
śete samudra upalambhana-mātra ātmā
nityaṁ kad-indriya-gaṇaiḥ kṛta-vigrahas tvaṁ
tvat-sevakair nṛpa-padaṁ vidhutaṁ tamo ’ndham

Sinônimos

satyam — verdadeiro; bhayāt — por medo; iva — como se; guṇebhyaḥ — dos modos materiais; urukrama — ó Tu que executas façanhas transcendentais; antaḥ — dentro; śete — repousaste; samudre — no oceano; upalambhana-mātraḥ — consciência pura; ātma — a Alma Suprema; nityam — sempre; kat — maus; indriya-gaṇaiḥ — contra todos os sentidos materiais; kṛta-vigrahaḥ — combatendo; tvam — Tu; tvat — Teus; sevakaiḥ — pelos servos; nṛpa — de um rei; padam — a posição; vidhutam — rejeitada; tamaḥ — escuridão; andham — cega.

Tradução

Sim, meu Senhor Urukrama, repousas dentro do oceano como se estivesses com medo dos modos materiais e, dessa maneira, apareces no coração como a Superalma em consciência pura. Estás sempre a combater os tolos sentidos materiais, e, de fato, até mesmo Teus servos rejeitam o privilégio da soberania real, que conduz à cegueira da ignorância.

Comentário

SIGNIFICADO—No verso 12, o Senhor Kṛṣṇa disse que rājabhyo bibhyataḥ su-bhru samudram śaraṇaṁ gatān: “Por medo dos reis, Nós Nos abrigamos no oceano.” Aqui, Śrīmatī Rukmiṇī-devī salienta que os verdadeiros governantes deste mundo são os guṇas, os modos materiais da natureza, que impelem todos os seres vivos a agir. Śrīla Viśvanātha Cakravartī assinala que, porque o Senhor Kṛṣṇa teme que Seu devoto caia sob a influência dos modos da natureza e enrede-se no gozo dos sentidos, Ele entra no oceano interno de seu coração, onde permanece como a Superalma onisciente (upalambhana-mātra ātmā). Dessa forma, Ele protege Seus devotos. A expressão upalambhana-mātraḥ também indica que o Senhor é o objeto de meditação para Seus devotos.

No verso 12, o Senhor Kṛṣṇa também disse que balavadbhiḥ kṛta-dveṣān: “Criamos inimizade com os poderosos.” Aqui, Śrīmatī Rukmiṇī-devī observa que os sentidos materiais é que são deveras poderosos neste mundo. O Senhor Supremo, na batalha contra o gozo dos sentidos, assumiu o partido de Seus devotos e, desta forma, está sempre tentando ajudá-los em sua luta pela pureza espiritual. Quando os devotos se livram dos indesejáveis hábitos materiais, o Senhor Se revela a eles, em decorrência do que a eterna relação amorosa entre o Senhor e Seus devotos torna-se um fato irrevogável.

No mesmo verso, Kṛṣṇa declarou que tyakta-nṛpāsanān: “Renunciamos ao trono real.” Nesta passagem, entretanto, Śrīmatī Rukmiṇī-devī ressalta que a posição de supremacia política neste mundo, em geral, implica o surgimento de ditos líderes poderosos imersos em escuridão e cegueira. Como afirma o ditado: “O poder corrompe.” Por isso, mesmo os servos amorosos do Senhor tendem a afastar-se da intriga política e da política de poder. O próprio Senhor, por ser cem por cento satisfeito em Sua bem-aventurança espiritual, dificilmente Se interessaria em ocupar posições políticas mundanas. Assim, Śrīmatī Rukmiṇī-devī interpreta com exatidão as ações do Senhor como evidência de Sua suprema natureza transcendental.