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CAPÍTULO SETE

As Atividades do Rei Bharata

Neste capítulo, descrevem-se as atividades do rei Bharata Mahārāja, o imperador do mundo inteiro. Bharata Mahārāja realizou várias cerimônias ritualísticas (yajñas védicos) e, mediante seus diferentes modos de adoração, satisfez o Senhor Supremo. No decorrer do tempo, ele deixou o lar e residiu em Hardwar e passou seus dias executando atividades devocionais. Seguindo ordens de seu pai, o Senhor Ṛṣabhadeva, Bharata Mahārāja casou-se com Pañcajanī, filha de Viśvarūpa. Depois disso, ele governou o mundo inteiro pacificamente. Outrora, este planeta foi conhecido como Ajanābha, e, após o reino de Bharata Mahārāja, tornou-se conhecido como Bhārata-varṣa. Bharata Mahārāja gerou cinco filhos no ventre de Pañcajanī, e deu aos filhos os nomes de Sumati, Rāṣṭrabhṛta, Sudarśana, Āvaraṇa e Dhūmraketu. Bharata Mahārāja era muito estrito em executar os princípios religiosos e em seguir os passos de seu pai. Portanto, ele governou os cidadãos muito exitosamente. Como realizava vários yajñas para satisfazer o Senhor Supremo, sentia-se pessoalmente muito satisfeito. Tendo uma mente imperturbável, ele intensificou suas atividades devocionais ao Senhor Vāsudeva. Bharata Mahārāja tinha qualificações para compreender os princípios das pessoas santas, tais como Nārada, e seguia os passos dos sábios. Além disso, mantinha o Senhor Vāsudeva constantemente dentro de seu coração. Após terminar seus deveres reais, ele dividiu o reino entre seus cinco filhos. Então, deixou o lar e dirigiu-se à região de Pulaha conhecida como Pulahāśrama. Ali, comia legumes e frutas silvestres e adorava o Senhor Vāsudeva com tudo disponível. Assim, intensificava a sua devoção a Vāsudeva e automaticamente começava a compreender com mais clareza a sua vida bem-aventurada e transcendental. Devido à sua posição espiritual altamente avançada, às vezes se tornavam visíveis em seu corpo as transformações aṣṭa-sāttvika, tais como o choro extático e o tremor corpóreo, que são sintomas de amor a Deus. Compreende-se que Mahārāja Bharata adorava o Senhor Supremo com mantras mencionados no Ṛg Veda, em geral conhecidos como mantra Gāyatrī, os quais visam ao Nārāyaṇa Supremo situado dentro do Sol.

Texto

śrī-śuka uvāca
bharatas tu mahā-bhāgavato yadā bhagavatāvani-tala-paripālanāya sañcintitas tad-anuśāsana-paraḥ pañcajanīṁ viśvarūpa-duhitaram upayeme.

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; bharataḥ — Mahārāja Bharata; tu — porém; mahā-bhāgavataḥ — um mahā-bhāgavata, elevadíssimo devoto do Senhor; yadā — quando; bhagavatā — por ordem de seu pai, o Senhor Ṛṣabhadeva; avani-tala — a superfície do globo; paripālanāya — de governar; sañcintitaḥ — tomou a decisão; tat-anuśāsana-paraḥ — ocupado em governar o globo; pañcajanīm — Pañcajanī; viśvarūpa-duhitaram — a filha de Viśvarūpa; upayeme — desposou.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī continuou falando a Mahārāja Parīkṣit: Meu querido rei, Bharata Mahārāja era um devoto elevadíssimo. Seguindo as ordens de seu pai, que já se decidira a entroná-lo, ele começou a governar a Terra como lhe cabia. Governando todo o globo, Bharata Mahārāja obedeceu às ordens de seu pai e se casou com Pañcajanī, a filha de Viśvarūpa.

Texto

tasyām u ha vā ātmajān kārtsnyenānurūpān ātmanaḥ pañca janayām āsa bhūtādir iva bhūta-sūkṣmāṇi sumatiṁ rāṣṭrabhṛtaṁ sudarśanam āvaraṇaṁ dhūmraketum iti.

Sinônimos

tasyām — em seu ventre; u ha — na verdade; ātma-jān — filhos; kārtsnyena — inteiramente; anurūpān — exatamente como; ātmanaḥ — ele próprio; pañca — cinco; janayām āsa — gerou; bhūta-ādiḥ iva — como o falso ego; bhūta-sūkṣmāṇi — os cinco objetos sutis da percepção sensorial; su-matim — Sumatim; rāṣṭra-bhṛtam — Rāṣṭrabhṛta; su-darśanam — Sudarśana; āvaraṇam — Āvaraṇa; dhūmra-ketum — Dhūmraketu; iti — assim.

Tradução

Assim como o falso ego cria os objetos sensoriais sutis, Mahārāja Bharata criou cinco filhos no ventre de Pañcajanī, sua esposa. Esses filhos se chamavam: Sumati, Rāṣṭrabhṛta, Sudarśana, Āvaraṇa e Dhūmraketu.

Texto

ajanābhaṁ nāmaitad varṣaṁ bhāratam iti yata ārabhya vyapadiśanti.

Sinônimos

ajanābham — Ajanābha; nāma — pelo nome; etat — esta; varṣam — ilha; bhāratam — Bhārata; iti — assim; yataḥ — de quem; ārabhya — começando; vyapadiśanti — festeja-se.

Tradução

Outrora, este planeta era conhecido como Ajanābha-varṣa, mas, desde o reinado de Mahārāja Bharata, passou a ser conhecido como Bhārata-varṣa.

Comentário

SIGNIFICADO—Antigamente, este planeta era conhecido como Ajanābha por causa do reino do rei Nābhi. Depois que Bharata Mahārāja governou o planeta, ele ganhou notoriedade como Bhārata-varṣa.

Texto

sa bahuvin mahī-patiḥ pitṛ-pitāmahavad uru-vatsalatayā sve sve karmaṇi vartamānāḥ prajāḥ sva-dharmam anuvartamānaḥ paryapālayat.

Sinônimos

saḥ — esse rei (Mahārāja Bharata); bahu-vit — sendo muito avançado em conhecimento; mahī-patiḥ — o governante da Terra; pitṛ — pai; pitāmaha — avô; vat — exatamente como; uru-vatsalatayā — com a qualidade de ser muito afetuoso com os cidadãos; sve sve — em seus respectivos; karmaṇi — deveres; vartamānāḥ — permanecendo; prajāḥ — os cidadãos; sva-dharmam anuvartamānaḥ — estando perfeitamente situado em seu próprio dever ocupacional; paryapālayat — governou.

Tradução

Nesta Terra, Mahārāja Bharata foi um rei muito erudito e experiente. Ele governou perfeitamente os cidadãos, e se ocupou pessoalmente em seus respectivos deveres. Mahārāja Bharata foi tão afetuoso com os cidadãos como foram seu pai e seu avô. Mantendo os cidadãos dedicados a seus deveres ocupacionais, ele governou a Terra.

Comentário

SIGNIFICADO—É muito importante que o líder executivo governe os cidadãos mantendo-os plenamente absortos em seus respectivos deveres ocupacionais. Alguns dos cidadãos eram brāhmaṇas, outros eram kṣatriyas, e outros eram vaiśyas e śūdras. É dever do governo garantir que, a fim de que obtenham avanço espiritual, os cidadãos ajam de acordo com essas divisões materiais. Ninguém deve, em nenhuma circunstância, permanecer desempregado ou ocioso. No caminho material, a pessoa deve trabalhar como brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya ou śūdra, e, no caminho espiritual, todos devem agir como brahmacārī, gṛhastha, vānaprastha ou sannyāsī. Embora outrora o governo fosse monárquico, todos os reis eram muito afetuosos com os cidadãos e eram muito estritos em mantê-los ocupados em seus respectivos deveres. Em virtude disso, a sociedade se conduzia muito pacificamente.

Texto

īje ca bhagavantaṁ yajña-kratu-rūpaṁ kratubhir uccāvacaiḥ śraddhayāhṛtāgnihotra-darśa-pūrṇamāsa-cāturmāsya-paśu-somānāṁ prakṛti-vikṛtibhir anusavanaṁ cāturhotra-vidhinā.

Sinônimos

īje — adorava; ca — também; bhagavantam — a Suprema Personalidade de Deus; yajña-kratu-rūpam — tendo a forma de sacrifícios sem animais e sacrifícios com animais; kratubhiḥ — mediante esses sacrifícios; uccāvacaiḥ — muito grandes e muito pequenos; śraddhayā — com fé; āhṛta — sendo realizados; agni-hotra — do agnihotra-yajña; darśa — do darśa-yajña; pūrṇamāsa — do pūrṇamāsa-yajña; cāturmāsya — do cāturmāsya-yajña; paśu-somānām — do yajña com animais e do yajña com soma-rasa; prakṛti — mediante realizações completas; vikṛtibhiḥ — e mediante realizações parciais; anusavanam — quase sempre; cātuḥ-hotra-vidhinā — pelos princípios reguladores de sacrifícios orientados pelas quatro classes de sacerdotes.

Tradução

Com muita fé, o rei Bharata realizou várias espécies de sacrifícios. Executou sacrifícios conhecidos como agni-hotra, darśa, pūrṇamāsa, cāturmāsya, paśu-yajña [onde se sacrifica um cavalo] e soma-yajña [onde se oferece um certo tipo de bebida]. Ora esses sacrifícios eram executados por completo, ora parcialmente. De qualquer maneira, em todos os sacrifícios seguiam-se à risca as normas de cāturhotra. Desse modo, Bhārata Mahārāja adorava a Suprema Personalidade de Deus.

Comentário

SIGNIFICADO—Animais como cavalos e vacas eram oferecidos em sacrifício para testar a execução adequada do sacrifício. De outro modo, não havia motivo para se matar o animal. Na verdade, oferecia-se o animal no fogo sacrificatório para que ele obtivesse uma vida rejuvenescida. Em geral, sacrificava-se no fogo um animal velho, o qual, em seguida, ressurgia em um corpo novo. Alguns dos rituais, contudo, não requeriam sacrifícios de animais. Na era atual, proíbem-se os sacrifícios de animais. Como afirma Śrī Caitanya Mahāprabhu:

aśvamedhaṁ gavālambhaṁ
sannyāsaṁ pala-paitṛkam
devareṇa sutotpattiṁ
kalau pañca vivarjayet

“Nesta era de Kali, cinco atos são proibidos: oferecer cavalos em sacrifício, oferecer vacas em sacrifício, aceitar a ordem de sannyāsa, oferecer aos antepassados oblações de carne e gerar filhos com a esposa do irmão.” (Caitanya-caritāmṛta, Ādi 17.164) Nesta era, tais sacrifícios são impossíveis devido à escassez de brāhmaṇas hábeis ou ṛtvijaḥ que possam assumir a responsabilidade desses empenhos. Na ausência deles, recomenda-se o saṅkīrtana-yajña: yajñaiḥ saṅkīrtana-prāyair yajanti hi sumedhasaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 11.5.32) Afinal, sacrifícios são executados para satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Yajñārtha-karma: tais atividades devem ser executadas para o prazer do Senhor Supremo. Nesta era de Kali, é através da realização de saṅkīrtana-yajña, o canto congregacional do mantra Hare Kṛṣṇa, que o Senhor Supremo, sob Sua encarnação de Śrī Caitanya Mahāprabhu, deve ser adorado juntamente com Seus associados. Esse processo é aceito pelos homens inteligentes. Yajñaiḥ saṅkīrtana-prāyair yajanti hi sumedhasaḥ. A palavra sumedhasaḥ refere-se aos homens inteligentes e que possuem um cérebro privilegiado.

Texto

sampracaratsu nānā-yāgeṣu viracitāṅga-kriyeṣv apūrvaṁ yat tat kriyā-phalaṁ dharmākhyaṁ pare brahmaṇi yajña-puruṣe sarva-devatā-liṅgānāṁ mantrāṇām artha-niyāma-katayā sākṣāt-kartari para-devatāyāṁ bhagavati vāsudeva eva bhāvayamāna ātma-naipuṇya-mṛdita-kaṣāyo haviḥṣv adhvaryubhir gṛhyamāṇeṣu sa yajamāno yajña-bhājo devāṁs tān puruṣāvayaveṣv abhyadhyāyat.

Sinônimos

sampracaratsu — quando começava a realizar; nānā-yāgeṣu — várias classes de sacrifícios; viracita-aṅga-kriyeṣu — nos quais se realizavam os ritos suplementares; apūrvam — remoto; yat — tudo o que; tat — isso; kriyā-phalam — o resultado desse sacrifício; dharma-ākhyam — em nome da religião; pare — à transcendência; brahmaṇi — o Senhor Supremo; yajña-puruṣe — o desfrutador de todos os sacrifícios; sarva-devatā-liṅgānām — que manifestam todos os semideuses; mantrāṇām — dos hinos védicos; artha-niyāma-katayā — devido a ser o controlador dos objetos; sākṣāt-kartari — diretamente o realizador; para-devatāyām — a origem de todos os semideuses; bhagavati — a Suprema Personalidade de Deus; vāsudeve — a Kṛṣṇa; eva — com certeza; bhāvayamānaḥ — sempre pensando; ātma-naipuṇya-mṛdita-kaṣāyaḥ — através de sua habilidade nessa espécie de pensamento, livre de toda luxúria e ira; haviḥṣu — os artigos a serem oferecidos no sacrifício; adhvaryubhiḥ — quando os sacerdotes peritos em sacrifícios mencionados no Atharva Veda; gṛhyamāṇeṣu — tomando; saḥ — Mahārāja Bharata; yajamānaḥ — o sacrificante; yajña-bhājaḥ — os recipientes dos resultados do sacrifício; devān — todos os semideuses; tān — a eles; puruṣa-avayaveṣu — como diferentes partes e membros do corpo da Suprema Personalidade de Deus, Govinda; abhyadhyāyat — ele pensava.

Tradução

Após realizar os preâmbulos de vários sacrifícios, Mahārāja Bharata, em nome da religião, oferecia os resultados à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva. Em outras palavras, ele executava todos os yajñas para a satisfação do Senhor Vāsudeva, Kṛṣṇa. Mahārāja Bharata concluiu que, como os semideuses são diferentes partes do corpo de Vāsudeva, Ele controla aqueles que são explicados nos mantras védicos. Porque pensava dessa maneira, Mahārāja Bharata estava livre de toda a contaminação material, tal como o apego, a luxúria e a cobiça. Quando os sacerdotes estavam prestes a oferecer no fogo os artigos sacrificatórios, Mahārāja Bharata sabiamente compreendeu como a oferenda feita aos diversos semideuses eram simples oblações aos diversos membros do Senhor. Por exemplo, Indra é o braço da Suprema Personalidade de Deus, e Sūrya [o Sol] é Seu olho. Assim, Mahārāja Bharata considerava que as oferendas feitas aos diferentes semideuses destinavam-se, na verdade, aos diferentes membros do Senhor Vāsudeva.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus afirma que quem ainda não desenvolveu o serviço devocional puro de śravaṇaṁ kīrtanam, ouvir e cantar, deve executar seus deveres prescritos. Como Bharata Mahārāja era um devoto grandioso, alguém poderia perguntar por que ele realizou tantos sacrifícios que, na verdade, reservam-se aos karmīs. O fato é que ele estava simplesmente seguindo as ordens de Vāsudeva. Como Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā (18.66), sarva dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim.” Em tudo o que fizermos, devemos nos lembrar constantemente de Vāsudeva. De um modo geral, as pessoas têm o forte hábito de oferecer reverências a vários semideuses, mas Bharata Mahārāja simplesmente queria satisfazer o Senhor Vāsudeva. Como afirma a Bhagavad-gītā (5.29), bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaram. Pode-se realizar um yajña com o intento de agradar um semideus específico, porém, quando o yajña é oferecido ao yajña-puruṣa, Nārāyaṇa, os semideuses ficam satisfeitos. O propósito de executar diferentes yajñas é satisfazer o Senhor Supremo. Podemos executá-los em nome de diferentes semideuses ou diretamente. Se oferecemos diretamente oblações à Suprema Personalidade de Deus, os semideuses ficam naturalmente satisfeitos. Se regamos a raiz de uma árvore, ficam automaticamente satisfeitos os galhos, os ramos, as frutas e as flores. Quem oferece sacrifícios aos diversos semideuses deve lembrar-se de que os semideuses são meras partes do corpo do Supremo. Se adoramos a mão de uma pessoa, tencionamos satisfazer a própria pessoa. Se massageamos as pernas de uma pessoa, na verdade não servimos às pernas, senão que servimos à pessoa que possui as pernas. Todos os semideuses são diferentes partes do Senhor, e, caso ofereçamos serviço a eles, estamos servindo ao próprio Senhor, na verdade. A adoração aos semideuses é mencionada na Brahma-saṁhitā, mas, de fato, os ślokas advogam a adoração à Suprema Personalidade de Deus, Govinda. Por exemplo, a Brahma-saṁhitā (5.44) faz a seguinte menção acerca da adoração à deusa Durgā:

sṛṣṭi-sthiti-pralaya-sādhana-śaktir ekā
chāyeva yasya bhuvanāni bibharti durgā
icchānurūpam api yasya ca ceṣṭate sā
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

Seguindo as ordens de Śrī Kṛṣṇa, a deusa Durgā cria, mantém e aniquila. Śrī Kṛṣṇa também confirma essa declaração na Bhagavad-gītā (9.10), mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram: “Esta natureza material está agindo sob Minha direção, ó filho de Kuntī, e está produzindo todos os seres móveis e inertes.”

É imbuídos desse estado de espírito que devemos adorar os semideuses. Porque a deusa Durgā satisfaz Kṛṣṇa, devemos prestar respeitos à deusa Durgā. Porque o senhor Śiva não é nada além do corpo funcional de Kṛṣṇa, devemos prestar respeitos ao senhor Śiva. Igualmente, devemos prestar respeitos a Brahmā, Agni e Sūrya. Existem muitas oferendas a diferentes semideuses, e jamais devemos nos esquecer de que essas oferendas geralmente se destinam a satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Bharata Mahārāja não desejava receber nenhuma bênção dos semideuses. Ele queria apenas satisfazer o Senhor Supremo. No Mahābhārata, entre os mil nomes de Viṣṇu, menciona-se yajña-bhug yajña-kṛd yajñaḥ. O desfrutador de yajña, o realizador de yajña e o próprio yajña são o Senhor Supremo. O Senhor Supremo é o executante de tudo, mas, devido à ignorância, a entidade viva pensa que é o agente. Enquanto pensarmos que somos os autores, produziremos karma-bandha (cativeiro à atividade). Se agirmos para yajña, para Kṛṣṇa, não haverá karma-bandha. Yajñārthāt karmaṇo ’nyatra loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ: “Deve-se realizar o trabalho como um sacrifício a Viṣṇu; caso contrário, o trabalho produz cativeiro neste mundo material.” (Bhagavad-gītā 3.9)

Seguindo as instruções de Bharata Mahārāja, devemos agir não para a nossa satisfação pessoal, mas para satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. A Bhagavad-gītā (17.28) afirma também:

aśraddhayā hutaṁ dattaṁ
tapas taptaṁ kṛtaṁ ca yat
asad ity ucyate pārtha
na ca tat pretya no iha

Os sacrifícios, as austeridades e as caridades executadas sem fé na Suprema Personalidade de Deus não são permanentes. Independentemente dos rituais executados, são chamados de asat, “impermanentes”. Portanto, são inúteis tanto nesta vida quanto na próxima.

Reis como Mahārāja Ambarīṣa e muitos outros rājarṣis que eram devotos puros do Senhor simplesmente passavam seu tempo servindo ao Senhor Supremo. Quando o devoto puro executa algum serviço por intermédio de outra pessoa, ele não deve ser criticado, pois suas atividades destinam-se a satisfazer o Senhor Supremo. Pode ser que o devoto recorra a um sacerdote para que esse sacerdote, então, execute algo karma-kāṇḍa, e o sacerdote talvez não seja um vaiṣṇava puro, mas, como o devoto deseja satisfazer o Senhor Supremo, ele não deve ser criticado. A palavra apūrva é muito significativa. As ações resultantes de karma se chamam apūrva. Ao agirmos piedosa ou impiamente, não acontecem resultados imediatos. Portanto, esperamos pelos resultados, que se chamam apūrva. Os resultados manifestam-se no futuro. Mesmo os smārtas aceitam esse apūrva. Os devotos puros agem simplesmente para o prazer da Suprema Personalidade de Deus; logo, os resultados de suas atividades são espirituais, ou permanentes, contrastando com aqueles dos karmīs, que são impermanentes. A Bhagavad-gītā (4.23) confirma isso:

gata-saṅgasya muktasya
jñānāvasthita-cetasaḥ
yajñāyācarataḥ karma
samagraṁ pravilīyate

“O trabalho do homem que não está apegado aos modos da natureza material e que está situado em pleno conhecimento transcendental funde-se por completo na transcendência.”

O devoto sempre está livre da contaminação material. Ele está plenamente situado em conhecimento, em razão do que seus sacrifícios visam a satisfazer a Suprema Personalidade de Deus.

Texto

evaṁ karma-viśuddhyā viśuddha-sattvasyāntar-hṛdayākāśa-śarīre brahmaṇi bhagavati vāsudeve mahā-puruṣa-rūpopalakṣaṇe śrīvatsa-kaustubha-vana-mālāri-dara-gadādibhir upalakṣite nija-puruṣa-hṛl-likhitenātmani puruṣa-rūpeṇa virocamāna uccaistarāṁ bhaktir anudinam edhamāna-rayājāyata.

Sinônimos

evam — assim; karma-viśuddhyā — oferecendo tudo em prol do serviço à Suprema Personalidade de Deus e não desejando quaisquer resultados de suas atividades piedosas; viśuddha-sattvasya — de Bharata Mahārāja, cuja existência era inteiramente purificada; antaḥ-hṛdaya-ākāśa-śarīre — a Superalma situada dentro do coração, conforme os yogīs meditam nEla; brahmaṇi — no Brahman impessoal, que é adorado pelos jñānīs impersonalistas; bhagavati — à Suprema Personalidade de Deus; vāsudeve — o filho de Vasudeva, o Senhor Kṛṣṇa; mahā-puruṣa — da Pessoa Suprema; rūpa — da forma; upalakṣaṇe — tendo os sintomas; śrīvatsa — a marca sobre o peito do Senhor; kaustubha — a joia Kaustubha usada pelo Senhor; vana-mālā — guirlanda de flores; ari-dara — pelo disco e búzio; gadā-ādibhiḥ — pela maça e outros símbolos; upalakṣite — sendo reconhecido; nija-puruṣa-hṛt-likhitena — que, tal qual uma moldura, está situado no coração de Seu próprio devoto; ātmani — em sua própria mente; puruṣa-rūpeṇa — por intermédio de Sua forma pessoal; virocamāne — brilhando; uccaistarām — num nível muito elevado; bhaktiḥ — serviço devocional; anudinam — dia após dia; edhamāna — intensificando-se; rayā — possuindo força; ajāyata — apareceu.

Tradução

Dessa maneira, estando purificado mediante os sacrifícios ritualísticos, o coração de Mahārāja Bharata era inteiramente imaculado. Seu serviço devocional a Vāsudeva, o Senhor Kṛṣṇa, aumentava dia após dia. O Senhor Kṛṣṇa, filho de Vasudeva, é a Personalidade de Deus original que Se manifesta como a Superalma [Paramātmā] e como o Brahman impessoal. Os yogīs meditam no Paramātmā localizado, situado no coração, os jñānīs adoram o Brahman impessoal como a Suprema Verdade Absoluta e os devotos adoram Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, cujo corpo transcendental está descrito nos śāstras. Seu corpo está decorado com o Śrīvatsa, com a joia Kaustubha e com uma guirlanda de flores, e Suas mãos seguram o búzio, o disco, uma maça e a flor de lótus. Devotos como Nārada sempre pensam nEle dentro de seus corações.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Vāsudeva, ou Śrī Kṛṣṇa, filho de Vasudeva, é a Suprema Personalidade de Deus. Sob Seu aspecto Paramātmā, Ele Se manifesta dentro do coração dos yogīs e é adorado como o Brahman impessoal pelos jñānīs. Os śāstras descrevem que o aspecto Paramātmā possui quatro mãos, portando o disco, o búzio, a flor de lótus e uma maça. Isso é corroborado pelo Śrīmad-Bhāgavatam (2.2.8):

kecit sva-dehāntar-hṛdayāvakāśe
prādeśa-mātraṁ puruṣaṁ vasantam
catur-bhujaṁ kañja-rathāṅga-śaṅkha-
gadā-dharaṁ dhāraṇayā smaranti

Paramātmā está situado no coração de todos os seres vivos. Ele tem quatro mãos, que portam quatro armas simbólicas. Todos os devotos que pensam no Paramātmā dentro do coração adoram a Suprema Personalidade de Deus como a Deidade no templo. Eles também entendem o aspecto impessoal do Senhor e Seus raios corpóreos, a refulgência Brahman.

Texto

evaṁ varṣāyuta-sahasra-paryantāvasita-karma-nirvāṇāvasaro ’dhibhujyamānaṁ sva-tanayebhyo rikthaṁ pitṛ-paitāmahaṁ yathā-dāyaṁ vibhajya svayaṁ sakala-sampan-niketāt sva-niketāt pulahāśramaṁ pravavrāja.

Sinônimos

evam — estando assim sempre ocupado; varṣa-ayuta-sahasra — mil vezes dez mil anos; paryanta — até então; avasita-karma-nirvāṇa-avasaraḥ — Mahārāja Bharata, que percebeu o momento do fim de sua opulência real; adhibhujyamānam — sendo dessa maneira desfrutada ao longo desse período; sva-tanayebhyaḥ — a seus próprios filhos; riktham — a riqueza; pitṛ-paitāmaham — que recebeu de seu pai e antepassados; yathā-dāyam — de acordo com as leis dāya-bhāk de Manu; vibhajya — dividindo; svayam — pessoalmente; sakala-sampat — de todas as espécies de opulências; niketāt — a morada; sva-niketāt — de sua casa paterna; pulaha-āśramam pravavrāja — ele foi ao āśrama de Pulaha em Hardwar (onde se obtêm as śālagrāma-śilās).

Tradução

O destino fixou em mil vezes dez mil anos o período em que Bharata Mahārāja gozaria de opulência material. Terminado esse prazo, ele se retirou da vida familiar e dividiu entre seus filhos a riqueza que recebera de seus antepassados. Ele deixou sua casa paterna, a fonte de toda a opulência, e partiu em direção a Pulahāśrama, que se localiza em Hardwar, onde se obtêm as śālagrāma-śilās.

Comentário

SIGNIFICADO—De acordo com a lei de dāya-bhāk, ao herdar um patrimônio, a pessoa deve transferi-lo à próxima geração. Bharata Mahārāja fez isso devidamente. Primeiro, durante mil vezes dez mil anos, ele desfrutou de sua propriedade paterna. Ao chegar a hora de se retirar da vida familiar, dividiu essa propriedade entre seus filhos e partiu para Pulaha-āśrama.

Texto

yatra ha vāva bhagavān harir adyāpi tatratyānāṁ nija-janānāṁ vātsalyena sannidhāpyata icchā-rūpeṇa.

Sinônimos

yatra — onde; ha vāva — decerto; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; hariḥ — o Senhor; adya-api — mesmo hoje; tatratyānām — residindo naquele lugar; nija-janānām — a Seus próprios devotos; vātsalyena — mediante Sua afeição transcendental; sannidhāpyate — torna-Se visível; icchā-rūpeṇa — de acordo com o desejo do devoto.

Tradução

Em Pulaha-āśrama, Hari, a Suprema Personalidade de Deus, por afeição transcendental ao Seu devoto, torna-Se visível a ele, satisfazendo-lhe os desejos.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor existe sempre em diferentes formas transcendentais. Como afirma a Brahma-saṁhitā (5.39):

rāmādi-mūrtiṣu kalā-niyamena tiṣṭhan
nānāvatāram akarod bhuvaneṣu kintu
kṛṣṇaḥ svayaṁ samabhavat paramaḥ pumān yo
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

O Senhor está situado como o Senhor Kṛṣṇa em pessoa, a Suprema Personalidade de Deus, e está acompanhado de Suas expansões, tais como o Senhor Rāma, Baladeva, Saṅkarṣaṇa, Nārāyaṇa, Mahā-Viṣṇu e assim por diante. Os devotos, de acordo com seus gostos pessoais, escolhem dentre essas formas a sua Deidade adorável, e o Senhor, por Sua afeição, apresenta-Se como o arcā-vigraha. Às vezes, devido à reciprocidade ou afeição, Ele Se apresenta pessoalmente diante do devoto. O devoto sempre é plenamente rendido ao serviço amoroso ao Senhor, e o Senhor é visível para o devoto de acordo com o desejo do devoto. Ele pode estar presente na forma do Senhor Rāma, Senhor Kṛṣṇa, Senhor Nṛsiṁhadeva e assim por diante. Esse é o intercâmbio amoroso entre o Senhor e Seus devotos.

Texto

yatrāśrama-padāny ubhayato nābhibhir dṛṣac-cakraiś cakra-nadī nāma sarit-pravarā sarvataḥ pavitrī-karoti.

Sinônimos

yatra — onde; āśrama-padāni — todos os eremitérios; ubhayataḥ — tanto em cima quanto embaixo; nābhibhiḥ — como a marca simbólica de um umbigo; dṛṣat — visíveis; cakraiḥ — com os círculos; cakra-nadī — o rio Cakranadī (geralmente conhecido como Gaṇḍakī); nāma — chamado; sarit-pravarā — o rio mais importante de todos; sarvataḥ — todos os lugares; pavitrī-karoti — santifica.

Tradução

Em Pulaha-āśrama, encontra-se o rio Gaṇḍakī, o melhor dentre todos os rios. As śālagrāma-śilās, as pedrinhas de mármore, purificam todos aqueles lugares. Em cada pedrinha de mármore, em cima e embaixo, veem-se círculos semelhantes a umbigos.

Comentário

SIGNIFICADO—Śālagrāma-śilā refere-se a seixos que parecem pedras com círculos marcados em cima e embaixo. Śālagrāma-śilās são encontradas no rio conhecido como Gaṇḍakī-nadī. Todo lugar por onde passem as águas desse rio santifica-se de imediato.

Texto

tasmin vāva kila sa ekalaḥ pulahāśramopavane vividha-kusuma-kisalaya-tulasikāmbubhiḥ kanda-mūla-phalopahāraiś ca samīhamāno bhagavata ārādhanaṁ vivikta uparata-viṣayābhilāṣa upabhṛtopaśamaḥ parāṁ nirvṛtim avāpa.

Sinônimos

tasmin — naquele āśrama; vāva kila — na verdade; saḥ — Bharata Mahārāja; ekalaḥ — sozinho, único; pulaha-āśrama-upavane — nos jardins situados no Pulaha-āśrama; vividha-kusuma-kisalaya-tulasikā-ambubhiḥ — com muitas variedades de flores, galhos e folhas de tulasī, e com água; kanda-mūla-phala-upahāraiḥ — mediante oferendas de raízes, bulbos e frutas; ca — e; samīhamānaḥ — realizando; bhagavataḥ — à Suprema Personalidade de Deus; ārādhanam — adoração; viviktaḥ — purificado; uparata — estando livre de; viṣaya-abhilāṣaḥ — desejo de gozo material dos sentidos; upabhṛta — intensificada; upaśamaḥ — tranquilidade; parām — transcendental; nirvṛtim — satisfação; avāpa — ele obteve.

Tradução

Nos jardins de Pulaha-āśrama, Mahārāja Bharata vivia sozinho e juntava uma grande variedade de flores, galhos e folhas de tulasī. Ele também pegava da água do rio Gaṇḍakī, bem como de várias raízes, frutas e bulbos. Tendo-os à mão, oferecia o alimento à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva, e, adorando-O, permanecia satisfeito. Dessa maneira, seu coração era inteiramente puro, e ele não tinha o menor desejo de obter gozo material. Todos os desejos materiais esvaíram-se. Nessa posição firme, ele sentia satisfação plena e estava situado em serviço devocional.

Comentário

SIGNIFICADO—Todos buscam por paz mental. Contudo, só a obtém quem se livrou por completo do desejo de gozo material dos sentidos e está ocupado em prestar serviço devocional ao Senhor. Como afirma a Bhagavad-gītā (9.26): patraṁ puṣpaṁ phalaṁ toyaṁ yo me bhaktyā prayacchati. A adoração ao Senhor não é dispendiosa. Podemos oferecer ao Senhor uma folha, uma flor, uma pequena fruta e um pouco de água. Oferecidas com amor e devoção, o Senhor Supremo aceita essas oferendas. Dessa maneira, podemo-nos livrar dos desejos materiais. Quem insiste em manter desejos materiais não poderá ser feliz. Tão logo ele se ocupe em prestar serviço devocional ao Senhor, sua mente se purificará de todos os desejos materiais. O indivíduo, então, torna-se plenamente satisfeito.

sa vai puṁsāṁ paro dharmo
yato bhaktir adhokṣaje
ahaituky apratihatā
yayātmā suprasīdati
vāsudeve bhagavati
bhakti-yogaḥ prayojitaḥ
janayaty āśu vairāgyaṁ
jñānaṁ ca yad ahaitukam

“A ocupação suprema [dharma] para toda a humanidade é aquela mediante a qual os homens podem alcançar o serviço devocional amoroso ao Senhor transcendental. A fim de satisfazer o eu completamente, esse serviço devocional deve ser imotivado e ininterrupto. Quem presta serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, adquire imediatamente conhecimento imotivado e desapego do mundo.” (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.6-7)

Essas são as instruções dadas no Śrīmad-Bhāgavatam, a literatura védica suprema. Alguém talvez não possa ir a Pulaha-āśrama, porém, onde quer que esteja, pode, com muita alegria, prestar serviço devocional ao Senhor adotando os processos acima mencionados.

Texto

tayettham avirata-puruṣa-paricaryayā bhagavati pravardhamānā-nurāga-bhara-druta-hṛdaya-śaithilyaḥ praharṣa-vegenātmany udbhidyamāna-roma-pulaka-kulaka autkaṇṭhya-pravṛtta-praṇaya-bāṣpa-niruddhāvaloka-nayana evaṁ nija-ramaṇāruṇa-caraṇāravindānudhyāna-paricita-bhakti-yogena paripluta-paramāhlāda-gambhīra-hṛdaya-hradāvagāḍha-dhiṣaṇas tām api kriyamāṇāṁ bhagavat-saparyāṁ na sasmāra.

Sinônimos

tayā — por meio disso; ittham — dessa maneira; avirata — constante; puruṣa — do Senhor Supremo; paricaryayā — através do serviço; bhagavati — à Suprema Personalidade de Deus; pravardhamāna — sempre crescente; anurāga — do apego; bhara — pelo peso; druta — derretido; hṛdaya — coração; śaithilyaḥ — frouxidão; praharṣa-vegena — pela força do êxtase transcendental; ātmani — em seu corpo; udbhidyamāna-roma-pulaka-kulakaḥ — arrepio do cabelo; autkaṇṭhya — devido ao desejo ardente; pravṛtta — produziu; praṇaya-bāṣpa-niruddha-avaloka-nayanaḥ — surgimento de lágrimas de amor nos olhos, impedindo a visão; evam — assim; nija-ramaṇa-aruṇa-caraṇa-aravinda — nos avermelhados pés de lótus do Senhor; anudhyāna — meditando; paricita — aumentou; bhakti-yogena — por força do serviço devocional; paripluta — espalhando-se por toda parte; parama — suprema; āhlāda — de bem-aventurança espiritual; gambhīra — muito profundo; hṛdaya-hrada — no coração, que se compara a um lago; avagāḍha — imersa; dhiṣaṇaḥ — cuja inteligência; tām — isso; api — embora; kriyamāṇām — executando; bhagavat — à Suprema Personalidade de Deus; saparyām — a adoração; na — não; sasmāra — se lembrava de.

Tradução

Esse devoto elevadíssimo, Mahārāja Bharata, vivia dessa maneira, ocupado em serviço devocional ao Senhor. Naturalmente, o seu amor por Vāsudeva, Kṛṣṇa, aumentava cada vez mais e derretia-lhe o coração. Em consequência disso, pouco a pouco ele perdeu todo o apego aos deveres normativos. Os pelos de seu corpo arrepiavam-se, e todos os sintomas extáticos corpóreos se manifestavam. Lágrimas caíam de seus olhos, tão intensamente que ele perdia toda a visão. Assim, ele meditava constantemente nos avermelhados pés de lótus do Senhor. Nesse momento, seu coração, que parecia um lago, enchia-se com a água do amor extático. Quando sua mente estava imersa nesse lago, até mesmo se esquecia do serviço regulado ao Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—Oito sintomas transcendentais e bem-aventurados manifestam-se no corpo de quem desenvolveu verdadeiro avanço no amor extático por Kṛṣṇa. Tratam-se dos sintomas da perfeição decorrentes do serviço amoroso à Suprema Personalidade de Deus. Como Mahārāja Bharata estava constantemente dedicado ao serviço devocional, todos os sintomas de amor extático se manifestavam em seu corpo.

Texto

itthaṁ dhṛta-bhagavad-vrata aiṇeyājina-vāsasānusavanābhiṣekārdra-kapiśa-kuṭila-jaṭā-kalāpena ca virocamānaḥ sūryarcā bhagavantaṁ hiraṇmayaṁ puruṣam ujjihāne sūrya-maṇḍale ’bhyupatiṣṭhann etad u hovāca.

Sinônimos

ittham — dessa maneira; dhṛta-bhagavat-vrataḥ — tendo aceitado o voto de servir à Suprema Personalidade de Deus; aiṇeya-ajina-vāsasa — com uma roupa de pele de veado; anusavana — três vezes por dia; abhiṣeka — com um banho; ardra — úmido; kapiśa — castanho; kuṭila-jaṭā — de cabelo ondulado e cacheado; kalāpena — pela grande quantidade de mechas; ca — e; virocamānaḥ — estando muito belamente decorado; sūryarcā — mediante os hinos védicos que adoram a expansão de Nārāyaṇa dentro do Sol; bhagavantam — à Suprema Personalidade de Deus; hiraṇmayam — o Senhor, cuja tez corpórea lembra o ouro; puruṣam — a Suprema Personalidade de Deus; ujjihāne — quando surge; sūrya-maṇḍale — o globo solar; abhyupatiṣṭhan — adorando; etat — isto; u ha — decerto; uvāca — ele recita.

Tradução

Mahārāja Bharata parecia muito belo. Seu cabelo ondulado era muito farto, o qual, devido a seus três banhos diários, era úmido. Vestia-se com pele de veado. Ele adorava o Senhor Nārāyaṇa, cujo corpo possuía refulgência dourada e residia dentro do Sol. Mahārāja Bharata prestava seu culto ao Senhor Nārāyaṇa cantando os hinos encontrados no Ṛg Veda, e, ao nascer do Sol, recitava o seguinte verso.

Comentário

SIGNIFICADO—Dentro do Sol, a Deidade predominante é Hiraṇmaya, o Senhor Nārāyaṇa. Ele é adorado por intermédio do mantra Gāyatrī: oṁ bhūr bhuvaḥ svaḥ tat savitur vareṇyaṁ bhargo devasya dhīmahi. Ele também é adorado através de outros hinos mencionados no Ṛg Veda, por exemplo: dhyeyaḥ sadā savitṛ-maṇḍala-madhya-vartī. Dentro do Sol, encontra-Se o Senhor Nārāyaṇa, cuja tez é dourada.

Texto

paro-rajaḥ savitur jāta-vedo
devasya bhargo manasedaṁ jajāna
suretasādaḥ punar āviśya caṣṭe
haṁsaṁ gṛdhrāṇaṁ nṛṣad-riṅgirām imaḥ

Sinônimos

paraḥ-rajaḥ — ultrapassando o modo da paixão (situado no modo de bondade pura); savituḥ — daquele que ilumina todo o universo; jāta-vedaḥ — a partir de quem todos os desejos dos devotos são satisfeitos; devasya — do Senhor; bhargaḥ — a autorrefulgência; manasā — mediante o simples fato de contemplar; idam — este universo; jajāna — criou; su-retasā — através da potência espiritual; adaḥ — neste mundo criado; punaḥ — novamente; āviśya — entrando; caṣṭe — vê ou mantém; haṁsam — a entidade viva; gṛdhrāṇam — desejosa de gozo material; nṛṣat — à inteligência; riṅgirām — àquele que dá impulso; imaḥ — que eu ofereça minhas reverências.

Tradução

“A Suprema Personalidade de Deus está situada em bondade pura. Ele ilumina o universo inteiro e outorga todas as bênçãos aos Seus devotos. Com Sua própria potência espiritual, o Senhor criou este universo. De acordo com Seu desejo, o Senhor, como a Superalma, entrou neste universo e, em virtude de Suas diferentes potências, Ele está mantendo todas as entidades vivas desejosas de gozo material. Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor, que é quem nos concede a inteligência.”

Comentário

SIGNIFICADO—A Deidade predominante do Sol é outra expansão de Nārāyaṇa, que está iluminando todo o universo. Como a Superalma, o Senhor entra no coração de todas as entidades vivas, concede-lhes inteligência e atende os seus desejos materiais. Também se confirma isso na Bhagavad-gītā (15.15), sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭaḥ: “Eu estou situado no coração de todos.”

Como a Superalma, o Senhor entra no coração de todas as entidades vivas. Como afirma a Brahma-saṁhitā (5.35), aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-stham: “Ele penetra tanto o universo quanto o átomo.” No Ṛg Veda, adora-se com o seguinte mantra a Deidade predominante do Sol: dhyeyaḥ sadā savitṛ-maṇḍala-madhya-vartī nārāyaṇaḥ sarasijāsana-sanniviṣṭaḥ. Dentro do Sol, Nārāyaṇa senta-Se em Sua flor de lótus. Recitando esse mantra, toda entidade viva deve refugiar-se em Nārāyaṇa logo ao nascer do Sol. De acordo com os cientistas modernos, o mundo material repousa na refulgência solar. Devido ao brilho solar, todos os planetas estão girando e os vegetais estão crescendo. Também temos informações de que o luar ajuda os vegetais e as ervas a desenvolverem-se. Na verdade, Nārāyaṇa, dentro do Sol, está mantendo todo o universo; portanto, Nārāyaṇa deve ser adorado por intermédio do mantra Gāyatrī ou do mantra Ṛg.

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do quinto canto, sétimo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “As Atividades do Rei Bharata”.