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CAPÍTULO SETE

As Atividades do Rei Bharata

Neste capítulo, descrevem-se as atividades do rei Bharata Mahārāja, o imperador do mundo inteiro. Bharata Mahārāja realizou várias cerimônias ritualísticas (yajñas védicos) e, mediante seus diferentes modos de adoração, satisfez o Senhor Supremo. No decorrer do tempo, ele deixou o lar e residiu em Hardwar e passou seus dias executando atividades devocionais. Seguindo ordens de seu pai, o Senhor Ṛṣabhadeva, Bharata Mahārāja casou-se com Pañcajanī, filha de Viśvarūpa. Depois disso, ele governou o mundo inteiro pacificamente. Outrora, este planeta foi conhecido como Ajanābha, e, após o reino de Bharata Mahārāja, tornou-se conhecido como Bhārata-varṣa. Bharata Mahārāja gerou cinco filhos no ventre de Pañcajanī, e deu aos filhos os nomes de Sumati, Rāṣṭrabhṛta, Sudarśana, Āvaraṇa e Dhūmraketu. Bharata Mahārāja era muito estrito em executar os princípios religiosos e em seguir os passos de seu pai. Portanto, ele governou os cidadãos muito exitosamente. Como realizava vários yajñas para satisfazer o Senhor Supremo, sentia-se pessoalmente muito satisfeito. Tendo uma mente imperturbável, ele intensificou suas atividades devocionais ao Senhor Vāsudeva. Bharata Mahārāja tinha qualificações para compreender os princípios das pessoas santas, tais como Nārada, e seguia os passos dos sábios. Além disso, mantinha o Senhor Vāsudeva constantemente dentro de seu coração. Após terminar seus deveres reais, ele dividiu o reino entre seus cinco filhos. Então, deixou o lar e dirigiu-se à região de Pulaha conhecida como Pulahāśrama. Ali, comia legumes e frutas silvestres e adorava o Senhor Vāsudeva com tudo disponível. Assim, intensificava a sua devoção a Vāsudeva e automaticamente começava a compreender com mais clareza a sua vida bem-aventurada e transcendental. Devido à sua posição espiritual altamente avançada, às vezes se tornavam visíveis em seu corpo as transformações aṣṭa-sāttvika, tais como o choro extático e o tremor corpóreo, que são sintomas de amor a Deus. Compreende-se que Mahārāja Bharata adorava o Senhor Supremo com mantras mencionados no Ṛg Veda, em geral conhecidos como mantra Gāyatrī, os quais visam ao Nārāyaṇa Supremo situado dentro do Sol.

VERSO 1:
Śukadeva Gosvāmī continuou falando a Mahārāja Parīkṣit: Meu querido rei, Bharata Mahārāja era um devoto elevadíssimo. Seguindo as ordens de seu pai, que já se decidira a entroná-lo, ele começou a governar a Terra como lhe cabia. Governando todo o globo, Bharata Mahārāja obedeceu às ordens de seu pai e se casou com Pañcajanī, a filha de Viśvarūpa.
VERSO 2:
Assim como o falso ego cria os objetos sensoriais sutis, Mahārāja Bharata criou cinco filhos no ventre de Pañcajanī, sua esposa. Esses filhos se chamavam: Sumati, Rāṣṭrabhṛta, Sudarśana, Āvaraṇa e Dhūmraketu.
VERSO 3:
Outrora, este planeta era conhecido como Ajanābha-varṣa, mas, desde o reinado de Mahārāja Bharata, passou a ser conhecido como Bhārata-varṣa.
VERSO 4:
Nesta Terra, Mahārāja Bharata foi um rei muito erudito e experiente. Ele governou perfeitamente os cidadãos, e se ocupou pessoalmente em seus respectivos deveres. Mahārāja Bharata foi tão afetuoso com os cidadãos como foram seu pai e seu avô. Mantendo os cidadãos dedicados a seus deveres ocupacionais, ele governou a Terra.
VERSO 5:
Com muita fé, o rei Bharata realizou várias espécies de sacrifícios. Executou sacrifícios conhecidos como agni-hotra, darśa, pūrṇamāsa, cāturmāsya, paśu-yajña [onde se sacrifica um cavalo] e soma-yajña [onde se oferece um certo tipo de bebida]. Ora esses sacrifícios eram executados por completo, ora parcialmente. De qualquer maneira, em todos os sacrifícios seguiam-se à risca as normas de cāturhotra. Desse modo, Bhārata Mahārāja adorava a Suprema Personalidade de Deus.
VERSO 6:
Após realizar os preâmbulos de vários sacrifícios, Mahārāja Bharata, em nome da religião, oferecia os resultados à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva. Em outras palavras, ele executava todos os yajñas para a satisfação do Senhor Vāsudeva, Kṛṣṇa. Mahārāja Bharata concluiu que, como os semideuses são diferentes partes do corpo de Vāsudeva, Ele controla aqueles que são explicados nos mantras védicos. Porque pensava dessa maneira, Mahārāja Bharata estava livre de toda a contaminação material, tal como o apego, a luxúria e a cobiça. Quando os sacerdotes estavam prestes a oferecer no fogo os artigos sacrificatórios, Mahārāja Bharata sabiamente compreendeu como a oferenda feita aos diversos semideuses eram simples oblações aos diversos membros do Senhor. Por exemplo, Indra é o braço da Suprema Personalidade de Deus, e Sūrya [o Sol] é Seu olho. Assim, Mahārāja Bharata considerava que as oferendas feitas aos diferentes semideuses destinavam-se, na verdade, aos diferentes membros do Senhor Vāsudeva.
VERSO 7:
Dessa maneira, estando purificado mediante os sacrifícios ritualísticos, o coração de Mahārāja Bharata era inteiramente imaculado. Seu serviço devocional a Vāsudeva, o Senhor Kṛṣṇa, aumentava dia após dia. O Senhor Kṛṣṇa, filho de Vasudeva, é a Personalidade de Deus original que Se manifesta como a Superalma [Paramātmā] e como o Brahman impessoal. Os yogīs meditam no Paramātmā localizado, situado no coração, os jñānīs adoram o Brahman impessoal como a Suprema Verdade Absoluta e os devotos adoram Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus, cujo corpo transcendental está descrito nos śāstras. Seu corpo está decorado com o Śrīvatsa, com a joia Kaustubha e com uma guirlanda de flores, e Suas mãos seguram o búzio, o disco, uma maça e a flor de lótus. Devotos como Nārada sempre pensam nEle dentro de seus corações.
VERSO 8:
O destino fixou em mil vezes dez mil anos o período em que Bharata Mahārāja gozaria de opulência material. Terminado esse prazo, ele se retirou da vida familiar e dividiu entre seus filhos a riqueza que recebera de seus antepassados. Ele deixou sua casa paterna, a fonte de toda a opulência, e partiu em direção a Pulahāśrama, que se localiza em Hardwar, onde se obtêm as śālagrāma-śilās.
VERSO 9:
Em Pulaha-āśrama, Hari, a Suprema Personalidade de Deus, por afeição transcendental ao Seu devoto, torna-Se visível a ele, satisfazendo-lhe os desejos.
VERSO 10:
Em Pulaha-āśrama, encontra-se o rio Gaṇḍakī, o melhor dentre todos os rios. As śālagrāma-śilās, as pedrinhas de mármore, purificam todos aqueles lugares. Em cada pedrinha de mármore, em cima e embaixo, veem-se círculos semelhantes a umbigos.
VERSO 11:
Nos jardins de Pulaha-āśrama, Mahārāja Bharata vivia sozinho e juntava uma grande variedade de flores, galhos e folhas de tulasī. Ele também pegava da água do rio Gaṇḍakī, bem como de várias raízes, frutas e bulbos. Tendo-os à mão, oferecia o alimento à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva, e, adorando-O, permanecia satisfeito. Dessa maneira, seu coração era inteiramente puro, e ele não tinha o menor desejo de obter gozo material. Todos os desejos materiais esvaíram-se. Nessa posição firme, ele sentia satisfação plena e estava situado em serviço devocional.
VERSO 12:
Esse devoto elevadíssimo, Mahārāja Bharata, vivia dessa maneira, ocupado em serviço devocional ao Senhor. Naturalmente, o seu amor por Vāsudeva, Kṛṣṇa, aumentava cada vez mais e derretia-lhe o coração. Em consequência disso, pouco a pouco ele perdeu todo o apego aos deveres normativos. Os pelos de seu corpo arrepiavam-se, e todos os sintomas extáticos corpóreos se manifestavam. Lágrimas caíam de seus olhos, tão intensamente que ele perdia toda a visão. Assim, ele meditava constantemente nos avermelhados pés de lótus do Senhor. Nesse momento, seu coração, que parecia um lago, enchia-se com a água do amor extático. Quando sua mente estava imersa nesse lago, até mesmo se esquecia do serviço regulado ao Senhor.
VERSO 13:
Mahārāja Bharata parecia muito belo. Seu cabelo ondulado era muito farto, o qual, devido a seus três banhos diários, era úmido. Vestia-se com pele de veado. Ele adorava o Senhor Nārāyaṇa, cujo corpo possuía refulgência dourada e residia dentro do Sol. Mahārāja Bharata prestava seu culto ao Senhor Nārāyaṇa cantando os hinos encontrados no Ṛg Veda, e, ao nascer do Sol, recitava o seguinte verso.
VERSO 14:
“A Suprema Personalidade de Deus está situada em bondade pura. Ele ilumina o universo inteiro e outorga todas as bênçãos aos Seus devotos. Com Sua própria potência espiritual, o Senhor criou este universo. De acordo com Seu desejo, o Senhor, como a Superalma, entrou neste universo e, em virtude de Suas diferentes potências, Ele está mantendo todas as entidades vivas desejosas de gozo material. Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor, que é quem nos concede a inteligência.”