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CAPÍTULO TRINTA E SEIS

A Morte de Ariṣṭa, o Demônio Touro

Este capítulo descreve como Kṛṣṇa matou Ariṣṭāsura e como Kaṁsa reagiu ao saber, através de Nārada, que Kṛṣṇa e Balarāma eram os filhos de Vasudeva.

O demônio Ariṣṭa queria matar Kṛṣṇa e Balarāma e, por isso, as­sumiu a forma de um enorme touro de chifres pontiagudos. Todos na vila pastoril de Kṛṣṇa ficaram aterrorizados quando Ariṣṭāsura se aproximou, mas o Senhor os tranquilizou e, quando o demônio touro O atacou, Ele o agarrou pelos chifres e o lançou a cerca de seis metros de distância. Embora enfraquecido, Ariṣṭa ainda queria ata­car Kṛṣṇa. Então, pingando suor, ele atacou o Senhor novamente. Desta vez, Kṛṣṇa pegou-o pelos chifres, jogou-o no chão e bateu-o como um monte de roupa molhada. O demônio vomitou sangue e abandonou a vida. A seguir, Kṛṣṇa e Rāma, enquanto eram honrados pelos semideuses e vaqueirinhos, retornaram à vila.

Pouco tempo depois, Nārada Muni, o grande sábio entre os semi­deuses, foi ver o rei Kaṁsa. Ele informou ao rei que Kṛṣṇa e Balarāma não eram filhos de Nanda, mas sim de Vasudeva. Foi por temor a Kaṁsa que Vasudeva deixara os dois meninos aos cuidados de Nanda. Além disso, Nārada anunciou, Kaṁsa encontraria sua morte nas mãos dEles.

Kaṁsa tremeu de medo e ira ao ouvir tudo isso e, com grande perturbação, começou a pensar em como destruir Kṛṣṇa e Balarāma. Ele chamou os demônios Cāṇūra e Muṣṭika e os instruiu a matar os dois irmãos em um torneio de luta. Depois, falou com Akrūra, que era perito em executar seus deveres. Tomando Akrūra pela mão, Kaṁsa persuadiu-o a ir até Vraja e trazer os dois meninos para Mathurā. Akrūra concordou em cumprir a ordem de Kaṁsa e, então, voltou para casa.

VERSO 1:
Śukadeva Gosvāmī disse: O demônio Ariṣṭa foi, então, à vila dos vaqueiros. Aparecendo sob a forma de um touro com uma grande corcova, ele fazia a terra tremer enquanto a partia com seus cascos.
VERSO 2:
Ariṣṭāsura berrava muito estridentemente e escavava o chão. Com a cauda erguida e os olhos chamejantes, ele começou a quebrar as barragens com as pontas dos chifres, soltando um pouco de excremento e urina a intervalos.
VERSOS 3-4:
Meu querido rei, nuvens pairavam sobre a corcova do Ariṣṭā­sura de chifres pontiagudos, tomando-a por uma montanha, e quando os vaqueiros e as senhoras avistaram o demônio, ficaram aterrorizados. De fato, a reverberação estridente de seus berros assustou de tal maneira as vacas e mulheres grávidas que elas abortaram.
VERSO 5:
Os animais domésticos fugiram do pasto amedrontados, ó rei, e todos os habitantes correram em direção ao Senhor Govinda em busca de abrigo, gritando “Kṛṣṇa, Kṛṣṇa!”
VERSO 6:
Ao ver a comunidade dos vaqueiros perturbada e fugindo de medo, o Senhor Supremo os acalmou, dizendo: “Não temais.” Então, Ele chamou o demônio touro da seguinte maneira.
VERSO 7:
Ó tolo! O que pensas estar fazendo, patife perverso, assus­tando a comunidade dos vaqueiros e seus animais quando Eu estou aqui unicamente para punir canalhas corruptos como tu!
VERSO 8:
Tendo falado estas palavras, o infalível Senhor Hari bateu nos braços com as palmas das mãos, irritando Ariṣṭa ainda mais com esse som alto. Então, o Senhor despreocupadamente passou Seu poderoso e serpentino braço sobre o ombro de um amigo e ficou de pé encarando o demônio.
VERSO 9:
Assim provocado, Ariṣṭa escarvou o chão com um de seus cas­cos e, então, com nuvens pairando ao redor de sua cauda erguida, arremeteu furiosamente contra Kṛṣṇa.
VERSO 10:
Mirando as pontas de seus chifres bem para a frente e lançan­do dos cantos de seus olhos injetados de sangue olhares ameaça­dores para o Senhor Kṛṣṇa, Ariṣṭa correu na direção dEle a toda a velocidade, como um raio lançado por Indra.
VERSO 11:
O Supremo Senhor Kṛṣṇa agarrou Ariṣṭāsura pelos chifres e lançou-o dezoito passos para trás, assim como faria um elefante quando em luta com um elefante rival.
VERSO 12:
Depois de ser assim rechaçado pelo Senhor Supremo, o demô­nio touro levantou-se e, respirando com dificuldade e suando por todo o corpo, voltou a atacá-lO com um acesso de cólera irre­fletida.
VERSO 13:
Quando Ariṣṭa realizou seu ataque, o Senhor Kṛṣṇa agarrou-o pelos chifres e, com o pé, derrubou-o no chão. O Senhor bateu-o, então, como se fosse um pano molhado e, por fim, arrancou um dos chifres do demônio e golpeou-o com o próprio chifre até que o demônio caísse prostrado.
VERSO 14:
Vomitando sangue e excretando profusa quantidade de excremento e urina, estrebuchando e revirando os olhos, Ariṣṭāsura partiu para a morada da Morte em meio a grandes dores. Os semi­deuses honraram o Senhor Kṛṣṇa lançando flores sobre Ele.
VERSO 15:
Tendo assim matado o demônio touro Ariṣṭa, Ele, que é um festival para os olhos das gopīs, entrou na vila dos vaqueiros com Balarāma.
VERSO 16:
Depois que Kṛṣṇa, que age de maneiras admiráveis, matou Ariṣṭāsura, Nārada Muni foi falar com o rei Kaṁsa. Aquele po­deroso sábio de visão divina disse ao rei o seguinte.
VERSO 17:
[Nārada contou a Kaṁsa:] O filho de Yaśodā era de fato uma menina, e Kṛṣṇa é o filho de Devakī. Além disso, Rāma é filho de Rohiṇī. Por temor, Vasudeva confiou Kṛṣṇa e Balarāma a seu amigo Nanda Mahārāja, e foram esses dois meninos que mata­ram teus homens.
VERSO 18:
Ao ouvir isso, o senhor dos Bhojas se enfureceu e perdeu o controle dos sentidos. Então, empunhou uma espada afiada para matar Vasudeva.
VERSO 19:
Mas Nārada impediu Kaṁsa, lembrando-lhe que eram os dois filhos de Vasudeva que causariam sua morte. Kaṁsa, então, man­dou prender Vasudeva e sua esposa com grilhões de ferro.
VERSO 20:
Depois que Nārada partiu, o rei Kaṁsa mandou chamar Keśi e ordenou-lhe: “Vai e mata Rāma e Kṛṣṇa.”
VERSO 21:
Em seguida, o rei dos Bhojas chamou seus ministros, chefiados por Muṣṭika, Cāṇūra, Śala e Tośala, e também seus guardadores de elefantes. O rei disse-lhes o seguinte.
VERSOS 22-23:
Meus caros heróis Cāṇūra e Muṣṭika, por favor, escutai. Rāma e Kṛṣṇa, os filhos de Ānakadundubhi [Vasudeva], estão vivendo na vila pastoril de Nanda. Foi predito que esses dois rapazes serão a causa de minha morte. Quando Eles forem tra­zidos para cá, matai-Os a pretexto de envolvê-lOs em um torneio de luta.
VERSO 24:
Erguei um ringue de luta com muitas arquibancadas para a audiência, e trazei todos os moradores da cidade e dos distritos vizinhos para verem a competição aberta.
VERSO 25:
Tu, ó guardador de elefantes, meu bom homem, deves colocar o elefante Kuvalayāpīḍa na entrada da arena de luta e fazê-lo matar meus dois inimigos.
VERSO 26:
Começai o sacrifício do arco no dia de Caturdaśī segundo as prescrições védicas pertinentes. Em um ritual de imolação, oferecei as espécies apropriadas de animais ao magnânimo senhor Śiva.
VERSO 27:
Depois de ter dado essas ordens a seus ministros, Kaṁsa cha­mou Akrūra, o mais eminente dos Yadus. Kaṁsa conhecia a arte de obter vantagem para si próprio e, por isso, tomou a mão de Akrūra e disse-lhe o seguinte.
VERSO 28:
Meu querido e caridosíssimo Akrūra, faze-me um favor de amigo por respeito a mim. Entre os Bhojas e Vṛṣṇis, não existe mais ninguém tão generoso para nós como tu.
VERSO 29:
Gentil Akrūra, sempre cumpres teus deveres com sobriedade, motivo pelo qual eu conto contigo, assim como o poderoso Indra refugiou­-se no Senhor Viṣṇu para alcançar suas metas.
VERSO 30:
Por favor, vai à vila de Nanda, onde estão vivendo os dois filhos de Ānakadundubhi, e traze-Os aqui nesta quadriga sem demora.
VERSO 31:
Os semideuses, que estão sob a proteção de Viṣṇu, enviaram esses dois rapazes como minha morte. Traze-Os aqui e, além disso, faz com que Nanda e os outros vaqueiros venham com presentes de tributo.
VERSO 32:
Depois que trouxeres Kṛṣṇa e Balarāma, providenciarei que Eles sejam mortos por meu elefante, que é tão poderoso como a própria morte. E se por acaso escaparem dele, providenciarei que meus lutadores, que são tão fortes como o raio, matem os dois.
VERSO 33:
Quando esses dois estiverem mortos, matarei Vasudeva e todos os seus lastimosos parentes – os Vṛṣṇis, Bhojas e Daśārhas.
VERSO 34:
Também matarei meu velho pai, Ugrasena, que cobiça o meu reino, e seu irmão Devaka, bem como todos os meus outros inimigos.
VERSO 35:
Então, meu amigo, esta terra ficará livre dos espinhos.
VERSO 36:
Jarāsandha, meu parente mais velho, e Dvivida, meu querido amigo, são sólidos benquerentes meus, bem como Śambara, Na­raka e Bāṇa. Eu os usarei para aniquilar aqueles reis que são aliados dos semideuses, após o que governarei a Terra.
VERSO 37:
Agora que compreendes minhas intenções, por favor, parte logo e traze Kṛṣṇa e Balarāma para assistirem ao sacrifício do arco e verem a opulência da capital dos Yadus.
VERSO 38:
Śrī Akrūra disse: Ó rei, habilmente tramaste um plano para livrar-te de qualquer desgraça. Ainda assim, deve-se ser equânime no sucesso e no fracasso, já que é com certeza o destino que produz os resultados do nosso trabalho.
VERSO 39:
Uma pessoa comum está determinada a agir de acordo com seus desejos mesmo quando o destino frustra a concretização deles. Por isso, ela se depara com a felicidade e o sofrimento. Porém, mesmo sendo este o caso, executarei tua ordem.
VERSO 40:
Śukadeva Gosvāmī disse: Tendo assim instruído Akrūra, o rei Kaṁsa dispensou seus ministros e retirou-se para seus aposentos, e Akrūra voltou para casa.