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CAPÍTULO ONZE

O Senhor Rāmacandra Governa o Mundo

Este capítulo descreve como o Senhor Rāmacandra residia em Ayodhyā com Seus irmãos mais jovens, e executou vários sacrifícios.

O Senhor Rāmacandra, a Suprema Personalidade de Deus, exe­cutou vários sacrifícios com os quais adorou a Si mesmo e, ao final desses sacrifícios, distribuiu terras aos sacerdotes hotā, adhvaryu, udgātā e brahmā. Doou-lhes as regiões leste, oeste, norte e sul, res­pectivamente, e o restante entregou ao ācārya. A fé que o Senhor Rāmacandra depositava nos brāhmaṇas e a afeição que sentia por Seus servos eram levadas na mais alta estima por todos os brāhmaṇas, que então ofereceram suas orações ao Senhor e retribuíram tudo o que dEle haviam ganhado. A iluminação que o Senhor implantou no âmago de seus corações, eles consideravam-na uma contribuição suficiente. Mais tarde, o Senhor Rāmacandra colocou roupas comuns e começou a andar pela capital para descobrir o que os ci­dadãos pensavam dEle. Eventualmente, certa noite, Ele ouviu um homem conversando com sua esposa, que havia estado com outro homem. Durante a repreensão que fazia à sua esposa, o homem falou palavras que punham em suspeita o caráter de Sītādevī. O Senhor imediatamente voltou à Sua casa e, temendo esses rumores, Ele, por mera formalidade, decidiu abandonar a companhia de Sītādevī. Destarte, Ele baniu Sītādevī, que estava grávida, e colocou-a aos cuidados de Vālmīki Muni, onde ela gerou gêmeos, chamados Lava e Kuśa. Em Ayodhyā, Lakṣmaṇa gerou dois filhos chamados Aṅgada e Citraketu, Bharata teve dois filhos chamados Takṣa e Puṣkala, e Śatrughna teve dois filhos chamados Subāhu e Śrutasena. Ao partir rumo a várias regiões a fim de conquistá-las para o imperador, o Senhor Rāmacandra, Bharata combateu muitos milhões de Gandharvas. Matando-os na luta, Ele adquiriu imensa riqueza, a qual Ele então levou para casa. Em Madhuvana, Śatrughna matou um demônio chamado Lavaṇa, após o que estabeleceu a capital de Mathurā. Enquanto isso, Sītādevī deixou seus dois filhos aos cuidados de Vālmīki Muni e, em seguida, foi para dentro da terra. Ao tomar conhecimento disso, o Senhor Rāmacandra ficou muito aflito e, em razão disso, executou sacri­fícios por treze mil anos. Após descrever os passatempos do desaparecimento do Senhor Rāmacandra e deixar claro que o Senhor aparece apenas para desfrutar de Seus passatempos, Śukadeva Gosvāmī finaliza este capítulo descrevendo os resultados obtidos por alguém que ouve as atividades do Senhor Rāmacandra e descrevendo como o Senhor protegeu Seus cidadãos e foi afetuoso com Seus irmãos.

Texto

śrī-śuka uvāca
bhagavān ātmanātmānaṁ
rāma uttama-kalpakaiḥ
sarva-devamayaṁ devam
īje ’thācāryavān makhaiḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; ātmanā — por Si; ātmānam — a Ele próprio; rāmaḥ — Senhor Rāmacandra; uttama-kalpakaiḥ — com parafernália muito opulenta; sarva-deva-mayam — a vida e alma de todos os semideuses; devam — o próprio Senhor Supremo; īje — adorado; atha — assim; ācāryavān — sob a guia de um ācārya; makhaiḥ — executando sacrifícios.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Em seguida, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Rāmacandra, aceitou um ācārya e executou sacrifícios [yajñas] com parafernália opulenta. Assim, Ele adorou a Si mesmo, pois Ele é o Supremo Senhor de todos os semideuses.

Comentário

SIGNIFICADO—Sarvārhaṇam acyutejyā. Se Acyuta, a Suprema Personalidade de Deus, é adorado, então todos são adorados. Como se declara no Śrīmad-Bhāgavatam (4.31.14):

yathā taror mūla-niṣecanena
tṛpyanti tat-skandha-bhujopaśākhāḥ
prāṇopahārāc ca yathendriyāṇāṁ
tathaiva sarvārhaṇam acyutejyā

“Assim como a rega da raiz de uma árvore dá energia ao tronco, aos galhos, aos brotos e às folhas, e assim como o ato de alimentar o estômago vivifica os sentidos e os membros do corpo, de modo semelhante, pelo simples fato de adorar a Suprema Personalidade de Deus, a pessoa satisfaz os semideuses, que são partes dessa Personalidade Suprema.” Executar yajña implica em adorar o Senhor Supremo. Aqui, o Senhor Supremo adorou o Senhor Supremo. Portanto, afirma-se que bhagavān ātmanātmānam īje: o Senhor adorou a Si mesmo através de Si mesmo. É óbvio que isso não justifica a filosofia māyāvāda, segundo a qual alguém se julga a Suprema Personali­dade de Deus. A jīva, a entidade viva, sempre é diferente do Senhor Supremo. As entidades vivas (vibhinnāṁśa) jamais se tornam unas com o Senhor, embora os māyāvādīs às vezes tentem imitar o pro­cesso através do qual o Senhor adora a Si mesmo. Como gṛhastha, o Senhor Kṛṣṇa meditava em Si toda manhã, e, da mesma maneira, o Senhor Rāmacandra executou yajñas para satisfazer a Si mesmo, mas isso não significa que a entidade viva comum deva imitar o Senhor e vá executar o processo de ahaṅgrahopāsanā. Nesta passagem, não se recomenda tal adoração desautorizada.

Texto

hotre ’dadād diśaṁ prācīṁ
brahmaṇe dakṣiṇāṁ prabhuḥ
adhvaryave pratīcīṁ vā
uttarāṁ sāmagāya saḥ

Sinônimos

hotre — ao sacerdote hotā, que faz oblações; adadāt — deu; diśam — região; prācīm — todo o lado leste; brahmaṇe — ao sacerdote brahmā, que supervisiona o que é feito na arena sacrificatória; dakṣiṇām — o lado sul; prabhuḥ — o Senhor Rāmacandra; adhvaryave — ao sacerdo­te adhvaryu; pratīcīm — todo o lado oeste; — também; uttarām — o lado norte; sāma-gāya — ao sacerdote udgātā, que canta o Sāma Veda; saḥ — Ele (o Senhor Rāmacandra).

Tradução

O Senhor Rāmacandra deu todo o leste ao sacerdote hotā, todo o sul ao sacerdote brahmā, o oeste ao sacerdote adhvaryu, e o norte ao sacerdote udgātā, o recitador do Sāma Veda. Dessa maneira, Ele doou Seu reino.

Texto

ācāryāya dadau śeṣāṁ
yāvatī bhūs tad-antarā
manyamāna idaṁ kṛtsnaṁ
brāhmaṇo ’rhati niḥspṛhaḥ

Sinônimos

ācāryāya — ao ācārya, o mestre espiritual; dadau — deu; śeṣām — o restante; yāvatī — qualquer; bhūḥ — terra; tat-antarā — que existisse entre o leste, oeste, norte e sul; manyamānaḥ — pensando; idam — tudo isso; kṛtsnam — totalmente; brāhmaṇaḥ — os brāhmaṇas; arha­ti — merecem possuir; niḥspṛhaḥ — não tendo desejos.

Tradução

Em seguida, pensando que, devido ao fato de não terem desejos materiais, os brāhmaṇas deviam possuir o mundo todo, o Senhor Rāmacandra entregou ao ācārya a terra situada entre o oeste, leste, norte e sul.

Texto

ity ayaṁ tad-alaṅkāra-
vāsobhyām avaśeṣitaḥ
tathā rājñy api vaidehī
saumaṅgalyāvaśeṣitā

Sinônimos

iti — dessa maneira (após dar tudo aos brāhmaṇas); ayam — o Senhor Rāmacandra; tat — Seus; alaṅkāra-vāsobhyām — com ornamentos e roupas pessoais; avaśeṣitaḥ — ficou; tathā — do mesmo modo; rājñī — a rainha (mãe Sītā); api — também; vaidehī — a filha do rei de Videha; saumaṅgalyā — apenas com a argola de nariz; avaśeṣitā — ficou.

Tradução

Depois que o Senhor Rāmacandra deu tudo isso em caridade aos brāhmaṇas, restaram-Lhe apenas Suas roupas pessoais e Seus orna­mentos, e, da mesma maneira, a rainha, mãe Sītā, ficou apenas com sua argola de nariz, e nada mais.

Texto

te tu brāhmaṇa-devasya
vātsalyaṁ vīkṣya saṁstutam
prītāḥ klinna-dhiyas tasmai
pratyarpyedaṁ babhāṣire

Sinônimos

te — os sacerdotes hotā, brahmā e outros; tu — mas; brāhmaṇa-­devasya — do Senhor Rāmacandra, que tanto amava os brāhmaṇas; vātsalyam — a afeição paterna; vīkṣya — após verem; saṁstutam — adorados com orações; prītāḥ — estando muito satisfeitos; klinna­dhiyaḥ — com os corações derretidos; tasmai — a Ele (Senhor Rāmacandra); pratyarpya — devolvendo; idam — isto (toda a terra que lhes fora dada); babhāṣire — falaram.

Tradução

Todos os brāhmaṇas que se ocuparam nas diversas atividades do sacrifício ficaram muito satisfeitos com o Senhor Rāmacandra, que era muito afeiçoado e favorável aos brāhmaṇas. Assim, com o cora­ção derretido, eles devolveram toda a propriedade recebida dEle e falaram as seguintes palavras.

Comentário

SIGNIFICADO—No capítulo anterior, mencionou-se que os prajās, os cidadãos, seguiam estritamente o sistema de varṇāśrama-dharma. Os brāhmaṇas agiam exatamente como brāhmaṇas, e os kṣatriyas, exatamente como kṣatriyas, e assim por diante. Portanto, quando o Senhor Rāmacandra deu tudo em caridade aos brāhmaṇas, estes, sendo qua­lificados, sabiamente ponderaram que brāhmaṇas não devem ter propriedade para obter lucro através dela. As qualificações dos brāhmaṇas são descritas na Bhagavad-gītā (18.42):

śamo damas tapaḥ śaucaṁ
kṣāntir ārjavam eva ca
jñānaṁ vijñānam āstikyaṁ
brahma-karma svabhāvajam

“Tranquilidade, autocontrole, austeridade, pureza, tolerância, honestidade, conhecimento, sabedoria e religiosidade – são estas as qualidades naturais com as quais os brāhmaṇas agem.” No caráter bramânico, não há escopo para posse de terras e para o governo dos cidadãos; esses deve­res são do kṣatriya. Portanto, embora não recusassem o presente do Senhor Rāmacandra, os brāhmaṇas devolveram-no ao rei depois de o aceitarem. Os brāhmaṇas ficaram tão satisfeitos com a afeição que o Senhor Rāmacandra sentia por eles que seus corações derrete­ram. Eles perceberam que o Senhor Rāmacandra, além do fato de ser a Suprema Personalidade de Deus, era plenamente qualificado como kṣatriya e tinha um caráter exemplar. Uma das qualificações do kṣatriya é fazer caridade. Um kṣatriya, ou governante, cobra impostos dos cidadãos não para o gozo dos seus próprios sentidos, mas para fazer caridade na ocasião oportuna. Dānam īśvara-bhāvaḥ. Por um lado, os kṣatriyas têm a propensão a governar, e, por outro lado, fazem caridade liberalmente. Ao fazer caridade, Mahārāja Yudhiṣ­ṭhira encarregou Karṇa de distribuí-la. Karṇa era muito famoso como Dātā Karṇa. A palavra dātā aplica-se a alguém que faz caridade muito liberalmente. Os reis sempre mantinham estocada uma grande quantidade de grãos alimentícios, e sempre que havia alguma escassez de grãos, eles distribuíam grãos em caridade. É dever do kṣatriya fazer caridade, e é dever do brāhmaṇa aceitar caridade, mas apenas o necessário para a própria manutenção. Portanto, ao receberem tanta terra do Senhor Rāmacandra, os brāhmaṇas restituíram-na a Ele e não ficaram cobiçosos.

Texto

aprattaṁ nas tvayā kiṁ nu
bhagavan bhuvaneśvara
yan no ’ntar-hṛdayaṁ viśya
tamo haṁsi sva-rociṣā

Sinônimos

aprattam — não dado; naḥ — a nós; tvayā — por Vossa Onipotência; kim — que; nu — na verdade; bhagavan — ó Senhor Supremo; bhuvana-­īśvara — ó mestre de todo o universo; yat — porque; naḥ — nosso; antaḥ-hṛdayam — no âmago do coração; viśya — entrando; tamaḥ — a escuridão da ignorância; haṁsi — aniquilais; sva-rociṣā — com Vossa própria refulgência.

Tradução

Ó Senhor, sois o mestre de todo o universo. Acaso existe algo que não nos tenhais dado? Entrastes no âmago de nossos corações e, com Vossa refulgência, dissipastes a escuridão de nossa ignorância. Esta é a dádiva suprema. Não precisamos de doações materiais.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando a Dhruva Mahārāja foi oferecida uma bênção pela Su­prema Personalidade de Deus, ele respondeu: “Ó meu Senhor, estou plenamente satisfeito. Não preciso de nenhuma bênção material.” Da mesma maneira, quando o Senhor Nṛsiṁhadeva lhe ofereceu uma bênção, Prahlāda Mahārāja também recusou aceitá-la e, em vez disso, declarou que o devoto não deve ser como um vaṇik, um co­merciante que, ao dar algo, quer em troca algum lucro. Alguém que se torna devoto visando a obter algum proveito material não é um devoto puro. Os brāhmaṇas são sempre iluminados pela Suprema Personalidade de Deus, que está situado no coração (sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭo mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca). E porque sempre são orientados pela Suprema Personalidade de Deus, os brāhmaṇas e os vaiṣṇavas não cobiçam bens materiais. Eles possuem o que é absolutamente necessário, e não desejam um vasto reino. Exemplo disso foi dado por Vāmanadeva. Atuando como brahmacārī, o Senhor Vāmanadeva queria apenas três passos de terra. Desejar possuir mais e mais para o gozo dos próprios sentidos é mera ignorância, e essa ignorância está totalmente ausente do coração de um brāhmaṇa ou vaiṣṇava.

Texto

namo brahmaṇya-devāya
rāmāyākuṇṭha-medhase
uttamaśloka-dhuryāya
nyasta-daṇḍārpitāṅghraye

Sinônimos

namaḥ — oferecemos nossas respeitosas reverências; brahmaṇya-devāya — à Suprema Personalidade de Deus, que aceita os brāhmaṇas como Sua deidade adorável; rāmāya — ao Senhor Rāmacandra; akuṇṭha-medhase — cuja memória e conhecimento nunca se deixam dominar pela ansiedade; uttamaśloka-dhuryāya — o melhor entre os famosíssimos; nyasta-daṇḍa-arpita-aṅghraye — cujos pés de lótus são adorados por sábios que não estão sujeitos a punições.

Tradução

Ó Senhor, sois a Suprema Personalidade de Deus e aceitastes os brāhmaṇas como Vossa deidade adorável. Vosso conhecimento e memória nunca se deixam perturbar pela ansiedade. Sois o líder de todas as pessoas famosas dentro deste mundo, e Vossos pés de lótus são adorados pelos sábios que não estão sujeitos a punições. Ó Senhor Rāmacandra, oferecemos nossas respeitosas reverências a Vós.

Texto

kadācil loka-jijñāsur
gūḍho rātryām alakṣitaḥ
caran vāco ’śṛṇod rāmo
bhāryām uddiśya kasyacit

Sinônimos

kadācit — certa vez; loka-jijñāsuḥ — desejando conhecer o público; gūḍhaḥ — disfarçando-Se; rātryām — à noite; alakṣitaḥ — incógnito; caran — caminhando; vācaḥ — falando; aśṛṇot — ouviu; rāmaḥ — o Senhor Rāmacandra; bhāryām — de Sua esposa; uddiśya — indicação; kasyacit — de alguém.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Certa vez, enquanto o Senhor Rāmacandra caminhava incógnito à noite, disfarçando-Se para poder aproximar-Se das pessoas e descobrir que opinião tinham a respeito dEle, Ele ouviu um homem falando desfavoravelmente de Sua esposa, Sītādevī.

Texto

nāhaṁ bibharmi tvāṁ duṣṭām
asatīṁ para-veśma-gām
straiṇo hi bibhṛyāt sītāṁ
rāmo nāhaṁ bhaje punaḥ

Sinônimos

na — não; aham — eu; bibharmi — posso manter; tvām — a ti; duṣṭām — porque és contaminada; asatīm — incasta; para-veśma-gām — alguém que foi à casa de outro homem e cometeu adultério; straiṇaḥ — uma pessoa que é dominada pela mulher; hi — na verdade; bibhṛyāt — pode aceitar; sītām — mesmo Sītā; rāmaḥ — como o Senhor Rāma­candra; na — não; aham — eu; bhaje — aceitarei; punaḥ — novamente.

Tradução

[Falando à sua esposa incasta, o homem disse:] Tu vais à casa de outro homem e, portanto, és incasta e contaminada. Deixarei de dar-te assistência. Um homem dominado pela mulher como o Senhor Rāma pode aceitar uma esposa como Sītā, que foi à casa de outro homem, mas, diferente dEle, eu não sou dominado por mulheres e, portanto, não voltarei a te aceitar.

Texto

iti lokād bahu-mukhād
durārādhyād asaṁvidaḥ
patyā bhītena sā tyaktā
prāptā prācetasāśramam

Sinônimos

iti — assim; lokāt — de pessoas; bahu-mukhāt — que podem falar várias espécies de tolices; durārādhyāt — a quem é difícil parar; asaṁvidaḥ — que estão desprovidas de conhecimento; patyā — pelo esposo; bhītena — estando temeroso; — mãe Sītā; tyaktā — foi abandonada; prāptā — partiu; prācetasa-āśramam — ao eremitério de Prācetasa (Vālmīki Muni).

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Os homens com um pobre fundo de conhe­cimento e caráter abominável falam somente tolices. Temendo semelhan­tes patifes, o Senhor Rāmacandra dispensou Sua esposa, Sītādevī, embora ela estivesse grávida. Assim, Sītādevī foi para o āśrama de Vālmīki Muni.

Texto

antarvatny āgate kāle
yamau sā suṣuve sutau
kuśo lava iti khyātau
tayoś cakre kriyā muniḥ

Sinônimos

antarvatnī — a esposa grávida; āgate — chegou; kāle — o devido tempo; yamau — gêmeos; — Sītādevī; suṣuve — deu à luz; sutau — dois filhos; kuśaḥ — Kuśa; lavaḥ — Lava; iti — assim; khyātau — célebres; tayoḥ — deles; cakre — realizou; kriyāḥ — as cerimônias ritualísticas natalícias; muniḥ — o grande sábio Vālmīki.

Tradução

Quando chegou o momento, mãe Sītādevī deu à luz filhos gêmeos, que depois tornaram-se célebres como Lava e Kuśa. As cerimônias ritualísticas natalícias foram realizadas por Vālmīki Muni.

Texto

aṅgadaś citraketuś ca
lakṣmaṇasyātmajau smṛtau
takṣaḥ puṣkala ity āstāṁ
bharatasya mahīpate

Sinônimos

aṅgadaḥ — Aṅgada; citraketuḥ — Citraketu; ca — também; lakṣmaṇasya — do Senhor Lakṣmaṇa; ātmajau — dois filhos; smṛtau — dizia-se que eram; takṣaḥ — Takṣa; puṣkalaḥ — Puṣkala; iti — assim; āstām — eram; bharatasya — do Senhor Bharata; mahīpate — ó rei Parīkṣit.

Tradução

Ó Mahārāja Parīkṣit, o Senhor Lakṣmaṇa teve dois filhos, chamados Aṅgada e Citraketu, e o Senhor Bharata também teve dois filhos, chamados Takṣa e Puṣkala.

Texto

subāhuḥ śrutasenaś ca
śatrughnasya babhūvatuḥ
gandharvān koṭiśo jaghne
bharato vijaye diśām
tadīyaṁ dhanam ānīya
sarvaṁ rājñe nyavedayat
śatrughnaś ca madhoḥ putraṁ
lavaṇaṁ nāma rākṣasam
hatvā madhuvane cakre
mathurāṁ nāma vai purīm

Sinônimos

subāhuḥ — Subāhu; śrutasenaḥ — Śrutasena; ca — também; śatrughnasya — o Senhor Śatrughna; babhūvatuḥ — nasceram; gandharvān — pessoas relacionadas com os Gandharvas, que, na maioria das vezes, são impostores; koṭiśaḥ — às dezenas de milhões; jaghne — matou; bharataḥ — Senhor Bharata; vijaye — enquanto conquistava; diśām — todas as direções; tadīyam — dos Gandharvas; dhanam — riquezas; ānīya — trazendo; sarvam — tudo; rājñe — ao rei (Senhor Rāmacandra); nyavedayat — ofereceu; śatrughnaḥ — Śatrughna; ca — e; madhoḥ — de Madhu; putram — o filho; lavaṇam — Lavaṇa; nāma — chamado; rākṣasam — um canibal; hatvā — matando; madhuvane — na grande floresta chamada Madhuvana; cakre — construiu; mathurām — Ma­thurā; nāma — de nome; vai — na verdade; purīm — uma grande cidade.

Tradução

Śatrughna teve dois filhos, chamados Subāhu e Śrutasena. Ao partir para conquistar todas as direções, o Senhor Bharata teve de matar muitos milhões de Gandharvas, que, de um modo geral, são impostores. Pegando-lhes toda a riqueza, Ele a ofereceu ao Senhor Rāmacandra. Śatrughna também matou um Rākṣasa chamado Lava­ṇa, que era filho de Madhu Rākṣasa. Assim, ele estabeleceu na grande floresta chamada Madhuvana a cidade conhecida como Mathurā.

Texto

munau nikṣipya tanayau
sītā bhartrā vivāsitā
dhyāyantī rāma-caraṇau
vivaraṁ praviveśa ha

Sinônimos

munau — ao grande sábio Vālmīki; nikṣipya — incumbindo; tanayau — os dois filhos Lava e Kuśa; sītā — mãe Sītādevī; bhartrā — pelo seu esposo; vivāsitā — banida; dhyāyantī — meditando em; rāma-caraṇau — os pés de lótus do Senhor Rāmacandra; vivaram — para dentro da terra; praviveśa — ela foi; ha — na verdade.

Tradução

Desamparada pelo seu esposo, Sītādevī deixou seus filhos aos cuidados de Vālmīki Muni. Então, meditando nos pés de lótus do Senhor Rāmacandra, ela foi para dentro da terra.

Comentário

SIGNIFICADO—Era impossível para Sītādevī viver afastada do Senhor Rāmacandra. Portanto, após deixar seus dois filhos aos cuidados de Vālmīki Muni, ela foi para dentro da terra.

Texto

tac chrutvā bhagavān rāmo
rundhann api dhiyā śucaḥ
smaraṁs tasyā guṇāṁs tāṁs tān
nāśaknod roddhum īśvaraḥ

Sinônimos

tat — isto (a notícia de que mãe Sītādevī havia entrado na terra); śrutvā — ouvindo; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; rāmaḥ — o Senhor Rāmacandra; rundhan — tentando rejeitar; api — embora; dhiyā — com a inteligência; śucaḥ — aflição; smaran — lembrando-Se; tasyāḥ — de suas; guṇān — qualidades; tān tān — em diferentes circunstâncias; na — não; aśaknot — foi capaz; roddhum — de conter; īśvaraḥ — embora Ele seja o controlador supremo.

Tradução

Após ouvir a notícia de que mãe Sītā havia entrado na terra, a Suprema Personalidade de Deus decerto ficou muito aflito. Embora seja a Suprema Personalidade de Deus, Ele, ao lembrar-Se das notáveis qualidades de mãe Sītā, não pôde deixar de sentir a mágoa decorrente do amor transcendental.

Comentário

SIGNIFICADO—A aflição que o Senhor Rāmacandra sentiu com a notícia de que Sītādevī tinha entrado na terra não deve ser considerada material. No mundo espiritual, também há sentimentos de saudade, mas esses sentimentos são considerados bem-aventurança espiritual. Aflição decorrente da saudade existe até mesmo no Absoluto, mas esses sentimentos de saudade experimentados no mundo espiritual são transcendentalmente bem-aventurados. Tais sentimentos são sinais de tasya prema-vaśyatva-svabhāva, isto é, de que alguém está sob a influên­cia de hlādinī-śakti e é controlado pelo amor. No mundo material, esses sentimentos de saudade são um mero reflexo pervertido.

Texto

strī-puṁ-prasaṅga etādṛk
sarvatra trāsam-āvahaḥ
apīśvarāṇāṁ kim uta
grāmyasya gṛha-cetasaḥ

Sinônimos

strī-pum-prasaṅgaḥ — atração entre esposo e esposa, ou entre homem e mulher; etādṛk — como isto; sarvatra — em toda parte; trāsam-āvahaḥ — a causa do temor; api — mesmo; īśvarāṇām — dos controladores; kim uta — e o que falar de; grāmyasya — dos homens comuns deste mundo material; gṛha-cetasaḥ — que estão apegados à vida familiar materialista.

Tradução

A atração entre homem e mulher, ou macho e fêmea, sempre existe em toda parte, fazendo com que todos sempre fiquem temerosos. Se esses sentimentos estão presentes até mesmo entre controladores como Brahmā e o senhor Śiva e lhes traz temor, o que falar, então, de outras pessoas, apegadas à vida familiar neste mundo material?

Comentário

SIGNIFICADO—Como se explicou acima, quando os sentimentos de amor e bem­-aventurança transcendentais do mundo espiritual refletem-se de maneira pervertida neste mundo material, eles na certa causam o condicionamento. Neste mundo material, enquanto os homens sentirem-se atraídos pelas mulheres e as mulheres sentirem-se atraídas pelos homens, seu cativei­ro, sob a forma de repetidos nascimentos e mortes, continuará. Mas, no mundo espiritual, onde ninguém teme nascer ou morrer, esses sentimentos de saudade causam bem-aventurança transcenden­tal. Na realidade absoluta, existem muitas variedades de sentimentos, mas todos eles são da mesma natureza transcendentalmente bem-aventurada.

Texto

tata ūrdhvaṁ brahmacaryaṁ
dhāryann ajuhot prabhuḥ
trayodaśābda-sāhasram
agnihotram akhaṇḍitam

Sinônimos

tataḥ — em seguida; ūrdhvam — depois que mãe Sītā foi para dentro da terra; brahmacaryam — completo celibato; dhārayan — observando; ajuhot — realizou uma cerimônia e sacrifício ritualísticos; prabhuḥ — o Senhor Rāmacandra; trayodaśa-abda-sāhasram — por treze mil anos; agnihotram — o sacrifício conhecido como Agnihotra-yajña; akhaṇḍitam — sem cessar.

Tradução

Depois que mãe Sītā entrou na terra, o Senhor Rāmacandra observou completo celibato e, por treze mil anos, realizou ininterruptamente um Agnihotra-yajña.

Texto

smaratāṁ hṛdi vinyasya
viddhaṁ daṇḍaka-kaṇṭakaiḥ
sva-pāda-pallavaṁ rāma
ātma-jyotir agāt tataḥ

Sinônimos

smaratām — das pessoas que sempre pensam nele; hṛdi — no âmago dos corações; vinyasya — pondo; viddham — espetados; daṇḍaka-­kaṇṭakaiḥ — pelos espinhos da floresta de Daṇḍakāranya (enquanto o Senhor Rāmacandra vivia ali); sva-pāda-pallavam — as pétalas de Seus pés de lótus; rāmaḥ — o Senhor Rāmacandra; ātma-jyotiḥ — os raios de Seu brilho corpóreo, conhecido como brahmajyoti; agāt — entrou; tataḥ — além do brahmajyoti, ou em Seu próprio planeta Vaikuṇṭha.

Tradução

Após concluir o sacrifício, o Senhor Rāmacandra, cujos pés de lótus às vezes eram espetados por espinhos quando Ele vivia em Daṇḍakāraṇya, pôs Seus pés de lótus nos corações daqueles que sempre pensam nEle. Então, entrou em Sua própria morada, o pla­neta Vaikuṇṭha, situado além do brahmajyoti.

Comentário

SIGNIFICADO—Os pés de lótus do Senhor são sempre um tema de meditação para os devotos. Às vezes, quando o Senhor Rāmacandra caminhava pela floresta de Daṇḍakāraṇya, espinhos espetavam Seus pés de lótus. Os devotos, ao pensarem nisso, desmaiavam. O Senhor não sente dor ou prazer em nenhuma ação ou reação deste mundo material, mas os devotos não podem tolerar que mesmo um só espinho espete os pés de lótus do Senhor. Essa era a atitude das gopīs, ao pensarem em Kṛṣṇa caminhando pela floresta, com seixos e grãos de areia ma­chucando Seus pés de lótus. Essa agonia pela qual passa o devoto não pode ser entendida pelos karmīs, jñānīs ou yogīs. Os devotos, que não podiam tolerar nem mesmo pensar que os pés de lótus do Senhor eram espetados por espinhos, ficaram ainda mais atribulados ao pensarem no desaparecimento do Senhor, pois, após terminar Seus passatempos neste mundo material, o Senhor retornaria à Sua morada.

A palavra ātma-jyotiḥ é significativa. O brahmajyoti, que é imensamente apreciado pelos jñānīs, ou filósofos monistas que desejam entrar nele a fim de obterem a liberação, são apenas os raios do corpo do Senhor.

yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-
koṭiṣv aśeṣa-vasudhādi-vibhūti-bhinnam
tad brahma niṣkalam anantam aśeṣa-bhūtaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

“Adoro Govinda, o Senhor primordial, que é dotado de grande poder. A fulgurante refulgência de Sua forma transcendental é o Brahman impessoal, que é absoluto, completo e ilimitado, e que manifesta muitas variedades de incontáveis planetas, os quais, com suas diferentes opulências, existem em milhões de universos.” (Brahma­-saṁhitā 5.40) O brahmajyoti é o limiar do mundo espiritual; depois do brahmajyoti, estão os planetas Vaikuṇṭha. Em outras palavras, o brahmajyoti situa-se fora dos planetas Vaikuṇṭha, assim como o brilho solar permanece fora do Sol. Para entrar no planeta Sol, deve-se passar pelo brilho solar. Do mesmo modo, ao entrarem nos planetas Vaikuṇṭha, o Senhor ou os Seus devotos atravessam o brahmajyoti. Os jñānīs, ou filósofos monistas, devido ao fato de cultivarem uma concepção impessoal acerca do Senhor, não podem ingressar nos planetas Vaikuṇṭha, mas também não podem perma­necer eternamente no brahmajyoti. Logo, passado algum tempo, eles voltam a cair neste mundo material. Āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ patanty adho ’nādṛta-yuṣmad-aṅghrayaḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 10.2.32) Os planetas Vaikuṇṭha são encobertos pelo brahmajyoti, de modo que somente o devoto puro pode entender apropriadamente aqueles planetas.

Texto

nedaṁ yaśo raghupateḥ sura-yācñayātta-
līlā-tanor adhika-sāmya-vimukta-dhāmnaḥ
rakṣo-vadho jaladhi-bandhanam astra-pūgaiḥ
kiṁ tasya śatru-hanane kapayaḥ sahāyāḥ

Sinônimos

na — não; idam — tudo isso; yaśaḥ — fama; raghu-pateḥ — do Senhor Rāmacandra; sura-yācñayā — pelas orações dos semideuses; ātta-līlā-­tanoḥ — cujo corpo espiritual sempre está ocupado em vários passatempos; adhika-sāmya-vimukta-dhāmnaḥ — ninguém é igual a Ele ou maior do que Ele; rakṣaḥ-vadhaḥ — matando o Rākṣasa (Rāvaṇa); jaladhi-bandhanam — construindo uma ponte sobre o oceano; astra­-pūgaiḥ — com arco e flechas; kim — se; tasya — Seus; śatru-hanane — na dizimação dos inimigos; kapayaḥ — os macacos; sahāyāḥ — assistentes.

Tradução

A reputação que o Senhor Rāmacandra adquiriu por ter matado Rāvaṇa com saraivadas de flechas a pedido dos semideuses e por ter construído uma ponte sobre o oceano não constitui a verdadeira glória da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Rāmacandra, cujo corpo espiritual sempre está ocupado em vários passatempos. Ninguém é igual ou superior ao Senhor Rāmacandra, e, portanto, Ele não pre­cisava pedir ajuda aos macacos para sair vitorioso sobre Rāvaṇa.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma nos Vedas (Śvetāśvatara Upaniṣad 6.8):

na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate
na tat-samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate
parāsya śaktir vividhaiva śrūyate
svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca

“O Supremo Senhor nada tem a fazer, e não existe ninguém igual a Ele ou maior do que Ele, pois tudo é feito natural e sistematica­mente por Suas energias multifárias.” O Senhor nada tem a fazer (na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate); qualquer ação Sua é um passatempo Seu. O Senhor não precisa executar deveres apenas para satisfazer os ca­prichos de alguém. Entretanto, tem-se a impressão de que Ele pro­tege Seus devotos ou mata Seus inimigos. Evidentemente, ninguém pode ser inimigo do Senhor, pois quem teria condições de ser mais poderoso do que o Senhor? De fato, está fora de cogitação alguém ser Seu inimigo, mas, ao desejar sentir prazer em Seus passatem­pos, Ele desce a este mundo material e age como um ser humano, mostrando assim Suas maravilhosas e gloriosas atividades, que servem para satisfazer os devotos. Seus devotos sempre querem ver o Senhor sair vitorioso em várias atividades, daí, para satisfazer a Si próprio e a eles, o Senhor às vezes concordar em agir como um ser humano e realizar passatempos maravilhosos e incomuns, os quais levam satisfação aos devotos.

Texto

yasyāmalaṁ nṛpa-sadaḥsu yaśo ’dhunāpi
gāyanty agha-ghnam ṛṣayo dig-ibhendra-paṭṭam
taṁ nākapāla-vasupāla-kirīṭa-juṣṭa-
pādāmbujaṁ raghupatiṁ śaraṇaṁ prapadye

Sinônimos

yasya — cujas (do Senhor Rāmacandra); amalam — imaculadas, livres de qualidades materiais; nṛpa-sadaḥsu — na assembleia de grandes imperadores como Mahārāja Yudhiṣṭhira; yaśaḥ — afamadas glórias; adhunā api — mesmo hoje em dia; gāyanti — louvam; agha-ghnam — que exterminam todas as reações pecaminosas; ṛṣayaḥ — grandes pessoas santas como Mārkaṇḍeya; dik-ibha-indra-paṭṭam — como a veste ornamental que cobre o elefante que conquista as direções; tam — isto; nāka-pāla — dos semideuses celestiais; vasu-pāla — dos reis terres­tres; kirīṭa — pelos elmos; juṣṭa — são adorados; pāda-ambujam — cujos pés de lótus; raghu-patim — ao Senhor Rāmacandra; śaraṇam — rendição; prapadye — ofereço.

Tradução

O nome e a fama impolutos do Senhor Rāmacandra, que exterminam todas as reações pecaminosas, são glorificados em todas as direções, como as vestes ornamentais do vitorioso elefante que con­quista todas as direções. Grandes pessoas santas como Mārkaṇḍeya Ṛṣi ainda louvam Suas características nas assembleias de grandes im­peradores como Mahārāja Yudhiṣṭhira. Igualmente, todos os reis santos e todos os semideuses, incluindo o senhor Śiva e o senhor Brahmā, adoram o Senhor, prostrando-se com seus elmos. Que eu ofereça minhas reverências aos Seus pés de lótus!

Texto

sa yaiḥ spṛṣṭo ’bhidṛṣṭo vā
saṁviṣṭo ’nugato ’pi vā
kosalās te yayuḥ sthānaṁ
yatra gacchanti yoginaḥ

Sinônimos

saḥ — Ele, o Senhor Rāmacandra; yaiḥ — por pessoas que; spṛṣṭaḥ — tocado; abhidṛṣṭaḥ — visto; — ou; saṁviṣṭaḥ — comendo juntos, deitando-se juntos; anugataḥ — seguiram como servos; api vā — mesmo; kosalāḥ — todos aqueles habitantes de Kosala; te — eles; yayuḥ — partiram; sthānam — para o lugar; yatra — aonde; gacchanti — eles vão; yoginaḥ — todos os bhakti-yogīs.

Tradução

O Senhor Rāmacandra retornou à Sua morada, para a qual são promovidos os bhakti-yogīs. É esse o lugar para onde foram todos os habitantes de Ayodhyā após servirem ao Senhor em Seus passatempos manifestos, oferecendo-Lhe reverências, tocando os Seus pés de lótus, aceitando-O irrestritamente como rei paternal, sentando-se ou deitando-se com Ele de igual para igual, ou apenas acompa­nhando-o.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (4.9), o Senhor diz:

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Aquele que conhece a natureza transcendental do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não volta a nascer neste mundo material, senão que alcança Minha morada eterna, ó Arjuna.” Aqui, confirma-se exatamente isso. Todos os habitantes de Ayodhyā que viram o Senhor Rāmacandra como cidadãos, serviram-no como servos, sentaram-se e falaram com Ele como amigos, ou de alguma forma estiveram presentes em Seu reinado, voltaram ao lar, voltaram ao Supremo. Após abandonar o corpo, o devoto que se torna per­feito em serviço devocional entra naquele universo específico onde o Senhor Rāmacandra ou o Senhor Kṛṣṇa está ocupado em Seus passatempos. Então, após se capacitar gradativamente a servir ao Senhor em vários níveis de aperfeiçoamento nessa prakaṭa-līlā, o devoto é enfim promovido ao sanātana-dhāma, a morada suprema no mundo espiritual. Esse sanātana-dhāma também é mencionado na Bhagavad-gītā (paras tasmāt tu bhāvo ’nyo ’vyakto ’vyaktāt sanātanaḥ). Aquele que participa dos passatempos transcendentais do Senhor chama-se nitya-līlā-praviṣṭa. Para entender claramente por que o Senhor Rāmacandra retornou, aqui se menciona que o Senhor foi àquele lugar específico para onde vão os bhakti-yogīs. Os imperso­nalistas deturpam as afirmações do Śrīmad-Bhāgavatam, pois inter­pretam que o Senhor entrou em Sua própria refulgência e, por isso, tornou-Se impessoal. O Senhor, porém, é uma pessoa, e Seus devotos são pessoas. Na verdade, as entidades vivas, como o Senhor, foram pessoas no passado, são pessoas no presente e continuarão a ser pessoas mesmo após abandonarem o corpo. Isso também é confir­mado na Bhagavad-gītā.

Texto

puruṣo rāma-caritaṁ
śravaṇair upadhārayan
ānṛśaṁsya-paro rājan
karma-bandhair vimucyate

Sinônimos

puruṣaḥ — qualquer pessoa; rāma-caritam — a narração que fala das atividades da Suprema Personalidade de Deus, Senhor Rāma­candra; śravaṇaiḥ — recepção auditiva; upadhārayan — por esse simples processo auditivo; ānṛśaṁsya-paraḥ — torna-se inteiramente livre da inveja; rājan — ó rei Parīkṣit; karma-bandhaiḥ — pelo cativeiro imposto pelas atividades fruitivas; vimucyate — liberta-se.

Tradução

Ó rei Parīkṣit, qualquer pessoa que ouça as narrações que falam acerca das características dos passatempos do Senhor Rāmacandra se livrará da inveja mórbida e se libertará, dessa maneira, do cati­veiro imposto pelas atividades fruitivas.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqui neste mundo material, todos sentem inveja de alguém. Mesmo na vida religiosa, às vezes, observa-se que, se um devoto avança em atividades espirituais, outros devotos ficam com inveja dele. Esses devotos invejosos não estão inteiramente livres do cativeiro que se apresenta sob a forma de nascimentos e mortes. Enquanto alguém não estiver totalmente livre dos fatores que causam nascimentos e mortes, ele não poderá ingressar no sanātana-dhāma nem nos passa­tempos eternos do Senhor. Torna-se invejoso aquele que se deixa influenciar pelas designações corpóreas, mas o devoto liberado nada tem a ver com o corpo e, portanto, ele está totalmente na plataforma transcendental. O devoto jamais inveja alguém, nem mesmo seu ini­migo. Porque sabe que o Senhor é seu protetor supremo, o devoto deduz: “Que danos podem causar os ditos inimigos?” Logo, o devoto tem plena confiança de que está sendo protegido. O Senhor diz que ye yathā māṁ prapadyante tāṁs tathaiva bhajāmy aham: “De acordo com a intensidade com que alguém se rende a Mim, Eu retribuo de maneira equivalente.” O devoto, portanto, deve estar inteiramente livre da inveja, especialmente por outros devotos. Invejar outros devotos é uma grande ofensa, vaiṣṇava-aparādha. O de­voto que constantemente se ocupa em ouvir e cantar (śravaṇa-kīrtana) com certeza está livre da doença da inveja e, dessa maneira, torna-se apto a voltar ao lar, a voltar ao Supremo.

Texto

śrī-rājovāca
kathaṁ sa bhagavān rāmo
bhrātṝn vā svayam ātmanaḥ
tasmin vā te ’nvavartanta
prajāḥ paurāś ca īśvare

Sinônimos

śrī-rājā uvāca — Mahārāja Parīkṣit perguntou; katham — como; saḥ — Ele, o Senhor; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; rāmaḥ — o Senhor Rāmacandra; bhrātṝn — diante dos irmãos (Lakṣmaṇa, Bharata e Śatrughna); — ou; svayam — pessoalmente; ātma­naḥ — expansões de Sua pessoa; tasmin — diante do Senhor; — ou; te — eles (todos os habitantes e os irmãos); anvavartanta — comportavam-se; prajāḥ — todos os habitantes; paurāḥ — os cidadãos; ca — e; īśvare — diante do Senhor Supremo.

Tradução

Mahārāja Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Como o Senhor Se conduzia, e como Se comportava diante de Seus irmãos, que eram expansões de Seu próprio Eu? E como O tratavam Seus irmãos e os habitantes de Ayodhyā?

Texto

śrī-bādarāyaṇir uvāca
athādiśad dig-vijaye
bhrātṝṁs tri-bhuvaneśvaraḥ
ātmānaṁ darśayan svānāṁ
purīm aikṣata sānugaḥ

Sinônimos

śrī-bādarāyaṇiḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; atha — depois disso (quando o Senhor subiu ao trono a pedido de Bharata); ādiśat — ordenou; dik-vijaye — que conquistassem todo o mundo; bhrātṝn — Seus irmãos mais novos; tri-bhuvana-īśvaraḥ — o Senhor do universo; ātmānam — pessoalmente, Ele próprio; darśayan — dando audiência; svānām — aos membros familiares e aos cidadãos; purīm — a cidade; aikṣata — supervisionava; sa-anugaḥ — com outros assistentes.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī respondeu: Após aceitar o trono, atendendo ao fervoroso pedido de Seu irmão mais novo Bharata, o Senhor Rāmacandra ordenou que Seus irmãos mais novos saíssem para con­quistar o mundo, enquanto Ele permanecia pessoalmente na capital para receber todos os cidadãos e habitantes do palácio e supervisio­nar os afazeres governamentais juntamente com Seus outros assistentes.

Comentário

SIGNIFICADO—A Suprema Personalidade de Deus não deixa algum de Seus devo­tos ou assistentes ocupar-se em gozo dos sentidos. Os irmãos mais novos do Senhor Rāmacandra ficavam em casa, desfrutando da pre­sença pessoal da Suprema Personalidade de Deus, mas o Senhor or­denou-lhes que saíssem e conquistassem o mundo inteiro. Era costume (e esse costume ainda prevalece em alguns lugares) que todos os outros reis teriam de aceitar a supremacia do imperador. Se o rei de um pequeno estado rejeitasse a supremacia do imperador, haveria uma luta, e o rei do pequeno estado seria obrigado a aceitar o imperador como supremo; caso contrário, o imperador não teria con­dições de governar a região.

O Senhor Rāmacandra mostrou Seu favor a Seus irmãos orde­nando que eles partissem. Muitos devotos do Senhor que residem em Vṛndāvana fizeram o voto de ficar sempre em Vṛndāvana, de onde não saem nem mesmo para pregar a consciência de Kṛṣṇa. Mas o Senhor diz que a consciência de Kṛṣṇa deve ser espalhada pelo mundo inteiro, em todas as cidades e vilas. Esta é a ordem expressamente dada pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu:

pṛthivīte āche yata nagarādi grāma
sarvatra pracāra haibe mora nāma

Um devoto puro, portanto, deve executar a ordem do Senhor e não deve entregar-se ao gozo dos sentidos, permanecendo estagnado no mesmo lugar, falsamente orgulhoso, pensando que, como não deixa Vṛndāvana, mas canta em um lugar solitário, tornou-se um grande devoto. O devoto deve cumprir a ordem da Suprema Personalidade de Deus. Caitanya Mahāprabhu disse: yāre dekha, tāre kaha ‘kṛṣṇa’-upadeśa. Todo devoto, portanto, deve espalhar a consciência de Kṛṣṇa, pregando, pedindo a toda pessoa que encontre que aceite a ordem da Suprema Personalidade de Deus. O Senhor diz que sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja: “Abandona toda variedade de religião e simplesmente rende-te a Mim.” Esta é a ordem do Senhor, que fala como o imperador supremo. Todos devem sentir-se estimulados a aceitar esta ordem, pois isso é uma vitória (dig-vijaya). E é dever do soldado, o devoto, incutir em todos essa filosofia de vida.

Evidentemente, aqueles que são kaniṣṭha-adhikārīs não pregam, mas o Senhor também lhes mostra misericórdia, como o fez ao per­manecer pessoalmente em Ayodhyā para receber as pessoas em geral. Ninguém deve pensar erroneamente que o Senhor pediu a Seus irmãos mais novos que deixassem Ayodhyā porque Ele devotava esse espe­cial favor aos cidadãos. O Senhor é misericordioso com todos, e sabe como mostrar Seu favor a cada pessoa, de acordo com a capacidade desta. Aquele que acata a ordem do Senhor é um devoto puro.

Texto

āsikta-mārgāṁ gandhodaiḥ
kariṇāṁ mada-śīkaraiḥ
svāminaṁ prāptam ālokya
mattāṁ vā sutarām iva

Sinônimos

āsikta-mārgām — as ruas eram borrifadas; gandha-udaiḥ — com água perfumada; kariṇām — de elefantes; mada-śīkaraiḥ — com par­tículas de bebidas alcóolicas perfumadas; svāminam — o amo ou proprietário; prāptam — presente; ālokya — vendo pessoalmente; mattām — muito opulento; — ou; sutarām — altamente; iva — como se.

Tradução

Durante o reinado do Senhor Rāmacandra, as ruas da capital, Ayodhyā, eram borrifadas com água perfumada e gotas de bebidas alcóolicas perfumadas, que os elefantes lançavam com suas trombas. Ao verem o Senhor pessoalmente administrando com tanta opulência a cida­de, os cidadãos apreciaram muito essa opulência.

Comentário

SIGNIFICADO—Antes, havíamos apenas ouvido sobre a opulência de Rāma-rājya durante o reinado do Senhor Rāmacandra. Eis agora um exemplo da opulência do reino do Senhor. As ruas de Ayodhyā não eram apenas limpas, mas eram também borrifadas com água perfumada e gotas de bebidas alcóolicas perfumadas, que os elefantes espalhavam com suas trombas. Não havia necessidade de regadores, pois os elefantes têm a habilidade natural de sugar água com suas trombas e, então, atirá-­la na forma de chuva. Podemos entender a opulência da cidade a partir deste exemplo: ela realmente era borrifada com água perfuma­da. Ademais, os cidadãos tinham a oportunidade de ver o Senhor pessoalmente supervisionando os afazeres do estado. Ele não era um monarca indolente, como podemos entender através das ativi­dades que Ele executava, enviando Seus irmãos para cuidarem dos afazeres externos e punirem todos aqueles que não obedecessem às ordens do imperador. Isso se chama dig-vijaya. Os cidadãos recebiam todas as condições propícias a uma vida pacífica e, com base no varṇāśrama, também eram qualificados com atributos apropriados. Como vimos no capítulo anterior, varṇāśrama-guṇānvitāḥ: os cidadãos eram treinados de acordo com o sistema varṇāśrama. Uma classe de homens era constituída de brāhmaṇas, outra classe de homens eram kṣatriyas, outra classe eram vaiśyas e outra classe eram śūdras. Sem esta divisão científica, não há possibilidade de boa cidadania. O rei, sendo magnânimo e perfeito em Seu dever, executava muitos sacrifícios e tratava os cidadãos como Seus filhos, e os cidadãos, sendo treinados no sistema varṇāśrama, eram obedientes e perfeitamente ordeiros. Toda a monarquia era tão opulenta e pacífica que o governo era até mesmo capaz de borrifar as ruas com água perfu­mada, e isso tipifica a facilidade com que tomava outras medidas administrativas. Uma vez que a cidade era borrifada com água per­fumada, podemos simplesmente imaginar o quão opulenta era sob outros aspectos. Que motivo haveria para os cidadãos não se senti­rem felizes durante o reinado do Senhor Rāmacandra?

Texto

prāsāda-gopura-sabhā-
caitya-deva-gṛhādiṣu
vinyasta-hema-kalaśaiḥ
patākābhiś ca maṇḍitām

Sinônimos

prāsāda — nos palácios; gopura — nos portões dos palácios; sabhā — assembleias; caitya — plataformas elevadas; deva-gṛha — templos onde as deidades são adoradas; ādiṣu — e assim por diante; vinyasta — si­tuados; hema-kalaśaiḥ — com cântaros de ouro; patākābhiḥ — com bandeiras; ca — também; maṇḍitām — enfeitados.

Tradução

Os palácios, os portões dos palácios, as assembleias e as platafor­mas onde as pessoas se reuniam, os templos e todos esses lugares eram decorados com cântaros de ouro e enfeitados com várias espé­cies de bandeiras.

Texto

pūgaiḥ savṛntai rambhābhiḥ
paṭṭikābhiḥ suvāsasām
ādarśair aṁśukaiḥ sragbhiḥ
kṛta-kautuka-toraṇām

Sinônimos

pūgaiḥ — com árvores de nozes-de-bétel; sa-vṛntaiḥ — com ramalhetes de flores e pencas de frutas; rambhābhiḥ — com bananeiras; paṭṭikābhiḥ — com bandei­ras; su-vāsasām — decorados com tecidos coloridos; ādarśaiḥ — com espelhos; aṁśukaiḥ — com tapeçarias; sragbhiḥ — com guirlandas; kṛta-kautuka — feitos auspiciosos; toraṇām — possuindo portões de recepção.

Tradução

Em todo lugar visitado pelo Senhor Rāmacandra, construíam-se auspiciosos portões onde se davam boas-vindas. Por lá, proliferavam bananeiras e árvores de nozes-de-bétel, cheias de flores e frutas. Os portões eram deco­rados com várias bandeiras, feitas de tecidos coloridos, e com tapeçarias, espelhos e guirlandas.

Texto

tam upeyus tatra tatra
paurā arhaṇa-pāṇayaḥ
āśiṣo yuyujur deva
pāhīmāṁ prāk tvayoddhṛtām

Sinônimos

tam — dEle, do Senhor Rāmacandra; upeyuḥ — aproximavam-se; tatra tatra — em todo lugar que Ele visitava; paurāḥ — os habitantes da vizinhança; arhaṇa-pāṇayaḥ — carregando a parafernália adequada para realizarem adoração ao Senhor; āśiṣaḥ — bênçãos do Senhor; yuyujuḥ — descestes; deva — ó meu Senhor; pāhi — simplesmente mantende; imām — esta terra; prāk — como antes; tvayā — por Vós; uddhṛtām — resgatada (das profundezas do mar em Vossa encarnação como Varāha).

Tradução

Em todo lugar visitado pelo Senhor Rāmacandra, as pessoas aproximavam-se dEle munidas da parafernália apropriada ao processo de adoração, e pediam as bênçãos ao Senhor: “Ó Senhor”, diziam elas, “visto que, em Vossa encarnação de javali, resgatastes a Terra das profundezas do mar, possa ela ser então mantida por Vós. É essa a bênção que Vos pedimos.”

Texto

tataḥ prajā vīkṣya patiṁ cirāgataṁ
didṛkṣayotsṛṣṭa-gṛhāḥ striyo narāḥ
āruhya harmyāṇy aravinda-locanam
atṛpta-netrāḥ kusumair avākiran

Sinônimos

tataḥ — em seguida; prajāḥ — os cidadãos; vīkṣya — vendo; patim — o rei; cira-āgatam — de volta após um longo tempo; didṛkṣayā — desejan­do ver; utsṛṣṭa-gṛhāḥ — desocupando suas respectivas residências; striyaḥ — as mulheres; narāḥ — os homens; āruhya — subindo à parte superior dos; harmyāṇi — grandes palácios; aravinda-locanam — Senhor Rāmacandra, cujos olhos são como pétalas de lótus; atṛpta-­netrāḥ — cujos olhos não estavam plenamente satisfeitos; kusumaiḥ — com flores; avākiran — banhavam o Senhor.

Tradução

Em seguida, como não viam o Senhor há um longo tempo, os cidadãos, homens e mulheres, estando muito ansiosos por vê-lO, deixaram seus lares e subiram aos terraços dos palácios. Parcialmente saciados por verem o rosto do Senhor Rāmacandra de olhos de lótus, derramaram flores sobre Ele.

Texto

atha praviṣṭaḥ sva-gṛhaṁ
juṣṭaṁ svaiḥ pūrva-rājabhiḥ
anantākhila-koṣāḍhyam
anarghyoruparicchadam
vidrumodumbara-dvārair
vaidūrya-stambha-paṅktibhiḥ
sthalair mārakataiḥ svacchair
bhrājat-sphaṭika-bhittibhiḥ
citra-sragbhiḥ paṭṭikābhir
vāso-maṇi-gaṇāṁśukaiḥ
muktā-phalaiś cid-ullāsaiḥ
kānta-kāmopapattibhiḥ
dhūpa-dīpaiḥ surabhibhir
maṇḍitaṁ puṣpa-maṇḍanaiḥ
strī-pumbhiḥ sura-saṅkāśair
juṣṭaṁ bhūṣaṇa-bhūṣaṇaiḥ

Sinônimos

atha — depois disso; praviṣṭaḥ — Ele entrou; sva-gṛham — em Seu próprio palácio; juṣṭam — ocupado; svaiḥ — por Seus próprios membros familiares; pūrva-rājabhiḥ — pelos membros anteriores da família real; ananta — ilimitado; akhila — em toda parte; koṣa — tesouro; āḍhyam — próspero; anarghya — inestimável; uru — elevada; pariccha­dam — parafernália; vidruma — de coral; udumbara-dvāraiḥ — nos dois lados da porta; vaidūrya-stambha — com pilares de vaidūrya­-maṇi; paṅktibhiḥ — em uma fileira; sthalaiḥ — com assoalhos; mārakataiḥ — feitos de pedra marakata; svacchaiḥ — muito cuidadosamente polida; bhrājat — ofuscante; sphaṭika — mármore; bhittibhiḥ — alicer­ces; citra-sragbhiḥ — com muitas variedades de guirlandas de flores; paṭṭikābhiḥ — com bandeiras; vāsaḥ — panos; maṇi-gaṇa-aṁśukaiḥ — com várias pedras preciosas refulgentes; muktā-phalaiḥ — com pérolas; cit-ullāsaiḥ — aumentando o prazer celestial; kānta-kāma — satisfazendo os desejos das pessoas; upapattibhiḥ — com essa parafernália; dhūpa-dīpaiḥ — com incensos e lamparinas; surabhibhiḥ — muito fragrantes; maṇḍitam — decorado; puṣpa-maṇḍanaiḥ — com ramalhetes de várias flores; strī-pumbhiḥ — por homens e mulheres; sura-saṅkāśaiḥ — parecendo semideuses; juṣṭam — cheios de; bhūṣaṇa-bhūṣa­ṇaiḥ — cujos corpos tornavam belos seus adornos.

Tradução

Depois disso, o Senhor Rāmacandra entrou no palácio de Seus antepassados. Dentro do palácio, havia vários tesouros e armários com preciosidades. Os assentos colocados nos dois lados da porta de entrada eram feitos de coral, os pátios eram cercados de pilares de vaidūrya-maṇi, o assoalho era feito de marakata-maṇi muito bem polido, e o alicerce era feito de mármore. Todo o palácio era decora­do com bandeiras e guirlandas e cravejado de pedras preciosas, que brilhavam com refulgência celestial. O palácio era plenamente deco­rado com pérolas e rodeado por lamparinas e incensos. Os homens e mulheres que viviam dentro do palácio pareciam todos semideuses e estavam decorados com vários adornos, que ficavam ainda mais belos por estarem colocados em seus corpos.

Texto

tasmin sa bhagavān rāmaḥ
snigdhayā priyayeṣṭayā
reme svārāma-dhīrāṇām
ṛṣabhaḥ sītayā kila

Sinônimos

tasmin — naquele palácio celestial; saḥ — Ele; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; rāmaḥ — o Senhor Rāmacandra; snigdhayā — sempre satisfeito com o comportamento dela; priyayā iṣṭayā — com Sua queridíssima esposa; reme — desfrutou de; sva-ārāma — prazer pessoal; dhīrāṇām — das maiores pessoas eruditas; ṛṣabhaḥ — a prin­cipal; sītayā — com mãe Sītā; kila — na verdade.

Tradução

O Senhor Rāmacandra, a Suprema Personalidade de Deus, o prin­cipal entre os melhores estudiosos eruditos, residiu naquele lugar com Sua potência de prazer, mãe Sītā, e desfrutou de completa paz.

Texto

bubhuje ca yathā-kālaṁ
kāmān dharmam apīḍayan
varṣa-pūgān bahūn nṝṇām
abhidhyātāṅghri-pallavaḥ

Sinônimos

bubhuje — Ele desfrutou; ca — também; yathā-kālam — enquanto necessário; kāmān — de todo o gozo; dharmam — princípios religiosos; apīḍayan — sem transgredir; varṣa-pūgān — duração de anos; bahūn — muitos; nṝṇām — das pessoas em geral; abhidhyāta — sendo objeto de meditação; aṅghri-pallavaḥ — Seus pés de lótus.

Tradução

Sem transgredir os princípios religiosos, o Senhor Rāmacandra, cujos pés de lótus são adorados pelos devotos entregues à meditação, estando equipado com toda a parafernália de poder transcendental, com ela desfrutou pelo tempo necessário.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do nono canto, décimo primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Senhor Rāmacandra Governa o Mundo”.