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Capítulo Cinco

A Frustração do Sacrifício de Dakṣa

VERSO 1:
Maitreya disse: Quando o senhor Śiva ouviu Nārada dizer que Satī, sua esposa, havia morrido por causa do insulto do Prajāpati Dakṣa a ela e que seus soldados haviam sido expulsos pelos semideuses Ṛbhus, ele ficou iradíssimo.
VERSO 2:
Desse modo, o senhor Śiva, estando extremamente irado, apertou os seus lábios com os dentes e imediatamente arrancou de sua cabeça um fio de cabelo, que ardia como eletricidade ou fogo. Ele se levantou repentinamente, gargalhando como louco, e atirou o cabelo ao solo.
VERSO 3:
Um demônio negro e medonho, alto como o céu e brilhante como três sóis combinados, foi então criado. Seus dentes eram muito amedrontadores, e os cabelos sobre sua cabeça se assemelhavam ao fogo incandescente. Ele tinha milhares de braços, equipados com diversas armas, e estava enguirlandado com cabeças humanas.
VERSO 4:
Quando aquele gigantesco demônio perguntou de mãos postas: “O que devo fazer, meu senhor?”, o senhor Śiva, que é conhecido como Bhūtanātha, ordenou diretamente: “Como nasceste de meu corpo, és o principal de todos os meus associados. Portanto, mata Dakṣa e seus soldados no sacrifício.”
VERSO 5:
Maitreya continuou: Meu querido Vidura, aquela personalidade negra era a ira personificada da Suprema Personalidade de Deus, e estava à disposição para executar as ordens do senhor Śiva. Assim, considerando-se capaz de fazer frente a qualquer força que se lhe opusesse, ele circundou o senhor Śiva.
VERSO 6:
Muitos outros soldados do senhor Śiva acompanharam a feroz personalidade em um tumultuoso alvoroço. Ele carregava um grande tridente, aterrador o bastante para matar até a morte, e, em suas pernas, usava argolas que pareciam rugir.
VERSO 7:
Nessa altura, todas as pessoas reunidas na arena de sacrifício – os sacerdotes, o líder da realização sacrificatória e os brāhmaṇas com suas esposas – puseram-se a se perguntar de onde vinha aquela escuridão. Mais tarde, puderam compreender que se tratava de uma tempestade de poeira, e todos se encheram de ansiedade.
VERSO 8:
Conjeturando sobre a origem da tempestade, eles falaram: Não há vento soprando, nem vacas passando, tampouco é possível que esta tempestade de poeira pudesse ser levantada por saqueadores, pois ainda vive o forte rei Barhi, que os puniria. De onde está soprando esta tempestade de poeira? A dissolução do planeta estaria prestes a ocorrer?
VERSO 9:
Prasūti, a esposa de Dakṣa, juntamente com outras mulheres ali reunidas, ficou muito ansiosa e disse: Este perigo foi criado por Dakṣa devido à morte de Satī, a qual, muito embora fosse inteiramente inocente, abandonou seu corpo à vista de suas irmãs.
VERSO 10:
No momento da dissolução, os cabelos do senhor Śiva se soltam, e ele trespassa os governantes das diferentes direções com seu tridente. Ele dá gargalhadas e dança orgulhosamente, espalhando suas mãos como se fossem bandeiras, assim como o trovão espalha as nuvens pelo mundo inteiro.
VERSO 11:
O gigantesco demônio negro mostrou seus dentes medonhos. Com os movimentos de suas sobrancelhas, ele espalhou os astros por todo o céu, e os ofuscou com sua forte e penetrante refulgência. Devido ao mau comportamento de Dakṣa, mesmo o senhor Brahmā, pai de Dakṣa, não poderia salvar-se da grande demonstração de ira.
VERSO 12:
Enquanto todas as pessoas conversavam entre si, Dakṣa viu perigosos augúrios de todos os lados, vindos da terra e do céu.
VERSO 13:
Meu querido Vidura, todos os seguidores do senhor Śiva cercaram a arena de sacrifício. Eles eram de pequena estatura e estavam equipados com vários tipos de armas; seus corpos pareciam com os de tubarões, enegrecidos e amarelados. Eles corriam em volta de toda a arena de sacrifício e, assim, começaram a criar distúrbios.
VERSO 14:
Alguns dos soldados derrubaram os pilares que suportavam o paṇḍāla do sacrifício, outros entraram nos aposentos femininos, outros se puseram a destruir a arena de sacrifício, e outros entraram na cozinha e nas residências.
VERSO 15:
Quebraram todos os potes feitos para se usar no sacrifício, e alguns deles começaram a extinguir o fogo sacrificatório. Outros desfizeram as balizas delimitadoras da arena de sacrifício, e outros urinaram na arena.
VERSO 16:
Alguns bloquearam o caminho dos sábios que fugiam, outros ameaçaram as mulheres ali reunidas, e outros prenderam os semideuses que fugiam do paṇḍāla.
VERSO 17:
Maṇimān, um dos seguidores do senhor Śiva, prendeu Bhṛgu Muni, e Vīrabhadra, o demônio negro, prendeu o Prajāpati Dakṣa. Outro seguidor, que se chamava Caṇḍeśa, prendeu Pūṣā. Nandīśvara prendeu o semideus Bhaga.
VERSO 18:
Chovia pedra sem parar, e todos os sacerdotes e outros membros reunidos no sacrifício foram atirados em imenso sofrimento. Temendo por suas vidas, dispersaram-se em diferentes direções.
VERSO 19:
Vīrabhadra cortou o bigode de Bhṛgu, que estava oferecendo no fogo as oblações sacrificatórias com suas mãos.
VERSO 20:
Vīrabhadra imediatamente agarrou Bhaga, que havia movido suas sobrancelhas durante a maldição de Bhṛgu contra o senhor Śiva, e, com grande ira, atirou-o ao solo e arrancou seus olhos à força.
VERSO 21:
Assim como Baladeva partiu os dentes de Dantavakra, o rei de Kaliṅga, durante o jogo na cerimônia de casamento de Aniruddha, Vīrabhadra quebrou os dentes tanto de Dakṣa, que os havia mostrado enquanto amaldiçoava o senhor Śiva, quanto de Pūṣā, que, sorrindo por simpatia, também mostrara seus dentes.
VERSO 22:
Depois, Vīrabhadra, a personalidade gigantesca, sentou-se no peito de Dakṣa, e tentou separar sua cabeça do corpo com armas cortantes, mas não teve sucesso em seu intento.
VERSO 23:
Ele tentou cortar a cabeça de Dakṣa com hinos, e também com armas, mas, ainda assim, era muito difícil cortar mesmo a superfície da pele da cabeça de Dakṣa. Desse modo, Vīrabhadra ficou muitíssimo desconcertado.
VERSO 24:
Em seguida, Vīrabhadra viu o dispositivo de madeira na arena de sacrifício com o qual os animais seriam mortos, e se aproveitou dessa oportunidade para facilmente decepar a cabeça de Dakṣa.
VERSO 25:
Ao ver o ato de Vīrabhadra, o grupo do senhor Śiva se deu por satisfeito e exclamou de júbilo, e todos os bhūtas, fantasmas e demônios que haviam vindo fizeram um som tumultuoso. Por outro lado, os brāhmaṇas encarregados do sacrifício exclamaram de pesar pela morte de Dakṣa.
VERSO 26:
Vīrabhadra pegou então a cabeça e, com grande ira, atirou-a no lado sul do fogo de sacrifício, oferecendo-a como oblação. Dessa maneira, os seguidores do senhor Śiva devastaram todos os preparos para o sacrifício. Após atearem fogo a toda a arena, partiram para o Kailāsa, a morada de seu senhor.