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CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS

Kṛṣṇa Rapta Rukmiṇī

Este capítulo descreve como o Senhor Śrī Kṛṣṇa chegou a Kuṇḍina, a capital de Vidarbha, e raptou Rukmiṇī na presença de pode­rosos inimigos.

Depois de ouvir o brāhmaṇa mensageiro recitar a carta de Rukmiṇī, o Senhor Kṛṣṇa disse-lhe: “De fato, sinto atração por Rukmiṇī e sei da oposição de seu irmão Rukmī a Meu casamento com ela. Portanto, tenho de raptá-la depois de esmagar todos os reis de baixa classe, assim como se gera fogo da madeira através de fricção.” Como a solenidade dos votos entre Rukmiṇī e Śiśupāla estava marcada para acontecer no transcurso de apenas três dias, o Senhor Kṛṣṇa fez Dāruka aprontar Sua quadriga de imediato. Então, partiu sem tardar para Vidarbha, aonde chegou após uma noite de viagem.

O rei Bhīṣmaka, enredado em sua afeição pelo filho Rukmī, esta­va disposto a dar sua filha a Śiśupāla. Bhīṣmaka cuidou de todos os preparativos necessários: mandou decorar a cidade de várias maneiras e limpar muito bem as principais ruas e encruzilhadas. Damaghoṣa, o rei de Cedi, tendo feito também todo o necessário para preparar o casamento de seu filho, chegou a Vidarbha. O rei Bhīṣmaka o saudou de maneira apropriada e lhe deu um lugar para ficar. Muitos outros reis, tais como Jarāsandha, Śālva e Dantavakra, também vieram tes­temunhar a cerimônia. Esses inimigos de Kṛṣṇa haviam conspirado raptar a noiva se Kṛṣṇa viesse. Eles planejaram lutar juntos contra Ele e, deste modo, garantir a noiva para Śiśupāla. Ao ouvir esses planos, o Senhor Baladeva reuniu todo o Seu exército e foi bem depressa para Kuṇḍinapura.

Na noite anterior ao casamento, Rukmiṇī, prestes a se recolher, ainda não vira chegar nem o brāhmaṇa, nem Kṛṣṇa. Ansiosa, ela amaldiçoou sua má fortuna. Bem naquele momento, porém, ela sentiu seu lado esquerdo contrair-se: um bom presságio. De fato, pouco depois, apareceu o brāhmaṇa e relatou-lhe o que Kṛṣṇa dissera, in­cluindo Sua firme promessa de raptá-la.

Quando soube que Kṛṣṇa e Balarāma haviam chegado, o rei Bhīṣ­maka saiu para recebê-lOs ao acompanhamento de música triunfante. Ele adorou os Senhores com vários presentes e, então, designou resi­dências para Eles. Desse modo, o rei ofereceu aos Senhores o devi­do respeito, como o fizera com cada um de seus numerosos hóspedes reais.

Os moradores de Vidarbha, vendo o Senhor Kṛṣṇa, comentavam entre si que só Ele seria um marido adequado para Rukmiṇī. Eles oravam para que, em virtude de qualquer crédito piedoso que tivessem, Kṛṣṇa pudesse conquistar a mão de Rukmiṇī.

Quando chegou o momento de Śrīmatī Rukmiṇī-devī visitar o templo de Śrī Ambikā, ela se dirigiu para lá rodeada de muitos guar­das. Depois de se prostrar diante da deidade, Rukmiṇī orou pela permissão de ter Śrī Kṛṣṇa como esposo. Então, ela segurou a mão de uma amiga e saiu do templo de Ambikā. Ao verem sua indescritível beleza, os grandes heróis presentes deixaram escorregar suas armas e, inconscientes, caíram no chão. Rukmiṇī andava a passos lentos até que notou Kṛṣṇa. Então, enquanto todos olhavam, Śrī Kṛṣṇa pegou Rukmiṇī e levou-a para Sua quadriga. Tal qual um leão que arrebata de um bando de chacais a partilha que lhe cabe, Ele expulsou todos os reis oponentes e saiu devagar, seguido por Seus companhei­ros. Jarāsandha e os outros reis, incapazes de suportar sua derrota e desonra, condenavam-se em voz alta, declarando que essa difamação era como um animal insignificante a roubar o que por direito perten­ce ao leão.

Texto

śrī-śuka uvāca
vaidarbhyāḥ sa tu sandeśaṁ
niśamya yadu-nandanaḥ
pragṛhya pāṇinā pāṇiṁ
prahasann idam abravīt

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; vaidarbhyāḥ — da princesa de Vidarbha; saḥ — Ele; tu — e; sandeśam — a mensagem confidencial; niśamya — ouvindo; yadu-nandanaḥ — o Senhor Kṛṣṇa, o descendente de Yadu; pragṛhya — segurando; pāṇinā — com Sua mão; pāṇim — a mão (do mensageiro brāhmaṇa); prahasan — sorrin­do; idam — isto; abravīt — disse.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Depois de ouvir a mensagem confi­dencial da princesa Vaidarbhī, o Senhor Yadunandana segurou a mão do brāhmaṇa e, sorrindo, disse-lhe o seguinte.

Texto

śrī-bhagavān uvāca
tathāham api tac-citto
nidrāṁ ca na labhe niśi
vedāham rukmiṇā dveṣān
mamodvāho nivāritaḥ

Sinônimos

śrī-bhagavān uvāca — a Suprema Personalidade de Deus disse; tathā — da mesma maneira; aham — Eu; api — também; tat — fixa nela; cittaḥ — Minha mente; nidrām — sono; ca — e; na labhe — não consi­go ter; niśi — de noite; veda — sei; aham — Eu; rukmiṇā — por Rukmī; dveṣāt — por inimizade; mama — Meu; udvāhaḥ — casamento; nivāri­taḥ — proibido.

Tradução

O Senhor Supremo disse: Assim como a mente de Rukmiṇī está fixa em Mim, Minha mente está fixa nela. Nem mesmo con­sigo dormir à noite. Sei que Rukmī, por inveja, proibiu o nosso casamento.

Texto

tām ānayiṣya unmathya
rājanyāpasadān mṛdhe
mat-parām anavadyāṅgīm
edhaso ’gni-śikhām iva

Sinônimos

tām — a ela; ānayiṣye — trarei aqui; unmathya — batendo; rājanya — da ordem real; apasadān — os membros indignos; mṛdhe — em bata­lha; mat — a Mim; parām — a que é exclusivamente dedicada; anavadya — inquestionável; aṅgīm — a beleza de seu corpo; edhasaḥ — de lenha; agni — do fogo; śikhām — as chamas; iva — como.

Tradução

Ela se dedicou exclusivamente a Mim, e sua beleza é impoluta. Hei de trazê-la aqui após surrar em combate aqueles reis im­prestáveis, assim como se gera uma chama ardente a partir da lenha.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando o fogo latente na madeira é despertado, ele irrompe com força, consumindo a madeira no ato de sua manifestação. De maneira semelhante, o Senhor Kṛṣṇa audaciosamente predisse que Rukmiṇī se adiantaria para aceitar Sua mão e que, durante esse processo, os reis perversos seriam queimados pelo fogo da determinação de Kṛṣṇa.

Texto

śrī-śuka uvāca
udvāharkṣaṁ ca vijñāya
rukmiṇyā madhusūdanaḥ
rathaḥ saṁyujyatām āśu
dārukety āha sārathim

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śukadeva Gosvāmī disse; udvāha — do casamento; ṛkṣam — o asterismo lunar (a medida que fixa o momento auspi­cioso exato); ca — e; vijñāya — conhecendo; rukmiṇyāḥ — de Rukmiṇī; madhusūdanaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; rathaḥ — a quadriga; saṁyujyatām — devia ser aprontada; āśu — imediatamente; dāruka — ó Dāruka; iti — assim; āha — disse; sārathim — a Seu cocheiro.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: O Senhor Madhusūdana também sa­bia qual era a ocasião lunar exata para o casamento de Rukmiṇī. Por isso, disse a Seu cocheiro: “Dāruka, apronta Minha quadriga imediatamente.”

Texto

sa cāśvaiḥ śaibya-sugrīva-
meghapuṣpa-balāhakaiḥ
yuktaṁ ratham upānīya
tasthau prāñjalir agrataḥ

Sinônimos

saḥ — ele, Dāruka; ca — e; aśvaiḥ — aos cavalos; śaibya-sugrīva-meghapuṣpa-balāhakaiḥ — chamados Śaibya, Sugrīva, Meghapuṣpa e Balāhaka; yuktam — atrelada; ratham — a quadriga; upānīya — trazen­do; tasthau — ficou de pé; prāñjaliḥ — de mãos postas em reverência; agrataḥ — na frente.

Tradução

Dāruka trouxe a quadriga do Senhor, atrelada aos cavalos de nome Śaibya, Sugrīva, Meghapuṣpa e Balāhaka. Então, ficou em pé de mãos postas diante do Senhor Kṛṣṇa.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita o seguinte verso do Padma Pu­rāṇa que descreve os cavalos da quadriga do Senhor Kṛṣṇa:

śaibyas tu śuka-patrābhaḥ
sugrīvo hema-piṅgalaḥ
meghapuṣpas tu meghābhaḥ
pāṇḍuro hi balāhakaḥ

“Śaibya era verde como as asas de um papagaio; Sugrīva, amarelo­-ouro; Meghapuṣpa, cor de nuvem, e Balāhaka, esbranquiçado.”

Texto

āruhya syandanaṁ śaurir
dvijam āropya tūrṇa-gaiḥ
ānartād eka-rātreṇa
vidarbhān agamad dhayaiḥ

Sinônimos

āruhya — montando; syandanam — em Sua quadriga; śauriḥ — o Senhor Kṛṣṇa; dvijam — o brāhmaṇa; āropya — colocando (na quadriga); tūrṇa-gaiḥ — (que eram) velozes; ānartāt — do distrito de Ānarta; eka — única; rātreṇa — em uma noite; vidarbhān — ao reino de Vidarbha; agamat — foi; hayaiḥ — com Seus cavalos.

Tradução

O Senhor Śauri subiu em Sua quadriga e pediu ao brāhmaṇa que fizesse o mesmo. Então, os velozes cavalos do Senhor levaram­-nos do distrito de Ānarta para Vidarbha em uma única noite.

Texto

rājā sa kuṇḍina-patiḥ
putra-sneha-vaśānugaḥ
śiśupālāya svāṁ kanyāṁ
dāsyan karmāṇy akārayat

Sinônimos

rājā — o rei; saḥ — ele, Bhīṣmaka; kuṇḍina-patiḥ — senhor de Kuṇḍina; putra — por seu filho; sneha — da afeição; vaśa — ao controle; anugaḥ — obedecendo; śiśupālāya — a Śiśupāla; svām — sua; kanyām — filha; dāsyan — estando prestes a dar; karmāṇi — os deveres exigidos; akārayat — havia feito.

Tradução

O rei Bhiṣmaka, o senhor de Kuṇḍina, tendo-se curvado ante o domínio da afeição por seu filho, estava prestes a dar sua filha a Śiśupāla. O rei providenciou todos os preparativos necessários.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī assinala a esse respeito que o rei Bhīṣmaka não tinha nenhuma estima especial por Śiśupāla, senão que agia mo­tivado pelo apego a seu filho Rukmī.

Texto

puraṁ sammṛṣṭa-saṁsikta-
mārga-rathyā-catuṣpatham
citra-dhvaja-patākābhis
toraṇaiḥ samalaṅkṛtam
srag-gandha-mālyābharaṇair
virajo-’mbara-bhūṣitaiḥ
juṣṭaṁ strī-puruṣaiḥ śrīmad-
gṛhair aguru-dhūpitaiḥ

Sinônimos

puram — a cidade; sammṛṣṭa — completamente limpas; saṁsikta — e borrifadas com abundância de água; mārga — as principais avenidas; rathyā — ruas comerciais; catuḥ-patham — e encruzilhadas; citra — variadas; dhvaja — em mastros; patākābhiḥ — com flâmulas; tora­ṇaiḥ — e arcos; samalaṅkṛtam — decorada; srak — com colares de pedras preciosas; gandha — substâncias aromáticas, como pasta de sân­dalo; mālya — guirlandas de flores; ābharaṇaiḥ — e outros ornamentos; virajaḥ — imaculadas; ambara — tem vestes; bhūṣitaiḥ — que estavam vestidos; juṣṭam — que continha; strī — mulheres; puruṣaiḥ — e homens; śrī-mat — opulentas; gṛhaiḥ — casas; aguru-dhūpitaiḥ — perfumadas com incenso de aguru.

Tradução

O rei mandou limpar muito bem as principais avenidas, ruas comerciais e encruzilhadas e, então, borrifá-las com água, e tam­bém mandou decorar a cidade com arcos triunfais e mastros com flâmulas multicoloridas. Os homens e mulheres da cidade, traja­dos com vestes imaculadas e ungidos com pasta aromática de sândalo, usavam colares preciosos, guirlandas de flores e joias como ornamento, e suas casas opulentas eram permeadas pelo aroma de aguru.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando as estradas de terra são borrifadas com água, a poeira se assenta e a estrada fica suave e firme. O rei Bhīṣmaka preparou tudo para o solene casamento, armando o cenário para que o Senhor Kṛṣṇa triunfantemente raptasse a bela Rukmiṇī-devī.

Texto

pitṝn devān samabhyarcya
viprāṁś ca vidhi-van nṛpa
bhojayitvā yathā-nyāyaṁ
vācayām āsa maṅgalam

Sinônimos

pitṝn — os antepassados; devān — os semideuses; samabhyarcya — adorando de forma correta; viprān — os brāhmaṇas; ca — e; vidhi­-vat — segundo os rituais prescritos; nṛpa — ó rei (Parīkṣit); bhojayi­tvā — alimentando-os; yathā — como; nyāyam — é justo; vācayām āsa — mandou cantar; maṅgalammantras auspiciosos.

Tradução

Ó rei, de acordo com os rituais prescritos, Mahārāja Bhīṣmaka adorou os antepassados, semideuses e brāhmaṇas, servindo alimentos a cada um deles da maneira devida. Então, providenciou que se cantassem os mantras tradicionais para o bem-estar da noiva.

Texto

su-snātāṁ su-datīṁ kanyāṁ
kṛta-kautuka-maṅgalām
āhatāṁśuka-yugmena
bhūṣitāṁ bhūṣaṇottamaiḥ

Sinônimos

su-snātām — convenientemente banhada; su-datīm — com dentes imaculados; kanyām — a noiva; kṛta — tendo executado; kautuka­maṅgalām — a cerimônia de colocar o auspicioso colar de casamento; āhata — nunca usados; aṁśuka — de trajes; yugmena — com um par; bhūṣitām — adornada; bhūṣaṇa — com ornamentos; uttamaiḥ — muito excelentes.

Tradução

A noiva higienizou os dentes e banhou-se, após o que colocou o auspi­cioso colar de casamento. Então, foi vestida com novíssimos trajes interiores e exteriores e adornada com as mais excelentes joias.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, somente roupas imaculadas recém-saídas do tear deviam ser usadas durante as cerimônias auspiciosas.

Texto

cakruḥ sāma-rg-yajur-mantrair
vadhvā rakṣāṁ dvijottamāḥ
purohito ’tharva-vid vai
juhāva graha-śāntaye

Sinônimos

cakruḥ — efetuada; sāma-ṛg-yajuḥ — do Sāma, Ṛg e Yajur Vedas; mantraiḥ — com cantos; vadhvāḥ — da noiva; rakṣām — a proteção; dvija-uttamaḥbrāhmaṇas de primeira classe; purohitaḥ — o sacerdote; atharva-vit — que era perito nos mantras do Atharva Veda; vai — de fato; juhāva — derramou oblações de ghī; graha — os plane­tas controladores; śāntaye — para apaziguar.

Tradução

Os melhores dos brāhmaṇas cantaram mantras dos Vedas Ṛg, Sāma e Yajur para a proteção da noiva, e o sacerdote versado no Atharva Veda ofereceu oblações para apaziguar os planetas con­troladores.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī salienta que o Atharva Veda explica como se pode pacificar os planetas desfavoráveis.

Texto

hiraṇya-rūpya vāsāṁsi
tilāṁś ca guḍa-miśritān
prādād dhenūś ca viprebhyo
rājā vidhi-vidāṁ varaḥ

Sinônimos

hiraṇya — ouro; rūpya — prata; vāsāṁsi — e roupas; tilān — semen­tes de gergelim; ca — e; guḍa — com açúcar não refinado; miśritān — misturadas; prādāt — deu; dhenūḥ — vacas; ca — também; viprebhyaḥ — aos brāhmaṇas; rājā — o rei Bhīṣmaka; vidhi — princípios reguladores; vidām — daqueles que conhecem; varaḥ — o melhor.

Tradução

Notável por seu conhecimento dos princípios reguladores, o rei recompensou os brāhmaṇas com ouro, prata, roupas, vacas e sementes de gergelim misturadas com açúcar mascavo.

Texto

evaṁ cedi-patī rājā
damaghoṣaḥ sutāya vai
kārayām āsa mantra-jñaiḥ
sarvam abhyudayocitam

Sinônimos

evam — da mesma forma; cedi-patiḥ — o senhor de Cedi; rājā dama­ghoṣaḥ — o rei Damaghoṣa; sutāya — para seu filho (Śiśupāla); vai — de fato; kārayām āsa — mandou fazer; mantra-jñaiḥ — pelos peritos conhecedores de mantras; sarvam — tudo; abhyudaya — a sua prosperidade; ucitam — conducente.

Tradução

Rājā Damaghoṣa, o senhor de Cedi, também contratara brāhmaṇas versados no canto de mantras para executar todos os ri­tuais necessários a fim de garantir a prosperidade de seu filho.

Texto

mada-cyudbhir gajānīkaiḥ
syandanair hema-mālibhiḥ
patty-aśva-saṅkulaiḥ sainyaiḥ
parītaḥ kuṇdīnaṁ yayau

Sinônimos

mada — líquido segregado da testa; cyudbhiḥ — que suavam; gaja — de elefantes; anīkaiḥ — com manadas; syandanaiḥ — com quadrigas; hema — de ouro; mālibhiḥ — decoradas com guirlandas; patti — com soldados de infantaria; aśva — e cavalos; saṅkulaiḥ — apinhados; sai­nyaiḥ — por exércitos; parītaḥ — acompanhado; kuṇḍinam — a Kuṇḍina, capital de Bhīṣmaka; yayau — foi.

Tradução

O rei Damaghoṣa viajou para Kuṇḍina acompanhado por exér­citos de elefantes que suavam mada, quadrigas com correntes de ouro penduradas e numerosos soldados de cavalaria e infantaria.

Texto

taṁ vai vidarbhādhipatiḥ
samabhyetyābhipūjya ca
niveśayām āsa mudā
kalpitānya-niveśane

Sinônimos

tam — dele, o rei Damaghoṣa; vai — de fato; vidarbha-adhipatiḥ — o senhor de Vidarbha, Bhīṣmaka; samabhyetya — adiantando-se ao encontro; abhipūjya — honrando; ca — e; niveśayām āsa — acomodou-o; mudā — com prazer, kalpita — construído; anya — especial; niveśane — em um lugar de residência.

Tradução

Bhīṣmaka, o senhor de Vidarbha, saiu da cidade para ir ao encontro do rei Damaghoṣa e ofereceu-lhe gestos de respeito. Bhīṣ­maka, então, acomodou Damaghoṣa em uma residência construída especialmente para a ocasião.

Texto

tatra śālvo jarāsandho
dantavakro vidūrathaḥ
ājagmuś caidya-pakṣīyāḥ
pauṇḍrakādyāḥ sahasraśaḥ

Sinônimos

tatra — lá; śālvaḥ jarāsandhaḥ dantavakraḥ vidūrathaḥ — Śālva, Jarāsandha, Dantavakra e Vidūratha; ājagmuḥ — vieram; caidya — de Śiśupāla; pakṣīyāḥ — tomando o partido; pauṇḍraka — Pauṇḍraka; ādyāḥ — e outros; sahasraśaḥ — aos milhares.

Tradução

Os partidários de Śiśupāla – Śālva, Jarāsandha, Dantavakra e Vidūratha – vieram todos, juntos com Pauṇḍraka e milhares de outros reis.

Comentário

SIGNIFICADO—Os leitores familiarizados com a história da vida do Senhor Kṛṣṇa reconhecerão sem demora os nomes relacionados neste verso. Os reis aqui mencionados tinham profunda hostilidade a Śrī Kṛṣṇa e se opu­nham a Ele de um modo ou de outro. Mas todos eles serão frustrados e derrotados por ocasião do suposto casamento de Śiśu­pāla.

Texto

kṛṣṇa-rāma-dviṣo yattāḥ
kanyāṁ caidyāya sādhitum
yady āgatya haret kṛṣno
rāmādyair yadubhir vṛtaḥ
yotsyāmaḥ saṁhatās tena
iti niścita-mānasāḥ
ājagmur bhū-bhujaḥ sarve
samagra-bala-vāhanāḥ

Sinônimos

kṛṣṇa-rāma-dviṣaḥ — aqueles que odiavam Kṛṣṇa e Balarāma; yat­tāḥ — preparados; kanyām — a noiva; caidyāya — para Śiśupāla; sā­dhitum — para garantir; yadi — se; āgatya — vindo; haret — roubasse; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; rāma — por Balarāma; ādyaiḥ — e outros; yadubhiḥ — Yadus; vṛtaḥ — acompanhado; yotsyāmaḥ — lutaremos; saṁhatāḥ — juntando-nos todos; tena — com Ele; iti — assim; niścita-mānasāḥ — tendo decidido; ājagmuḥ — vieram; bhū-bhujaḥ — os reis; sarve — todos; sa­magra — completas; bala — com forças militares; vāhanāḥ — e veículos.

Tradução

Para garantir a noiva para Śiśupāla, os reis que invejavam Kṛṣṇa e Balarāma chegaram à seguinte decisão: “Caso Kṛṣṇa venha aqui com Balarāma e os outros Yadus para roubar a noiva, de­vemos nos reunir e combatê-lO.” Dessa maneira, aqueles reis invejosos foram para o casamento com seus exércitos inteiros e todo um comboio de veículos militares.

Comentário

SIGNIFICADO—A palavra saṁhatāḥ, que normalmente significa “unidos muito estreitamente”, também pode significar “completamente derrotados” ou “mortos”. Assim, embora os inimigos de Kṛṣṇa se julgassem unidos e fortes – saṁhatāḥ no primeiro sentido –, eles não podiam opor­-se com sucesso à Personalidade de Deus e, em consequência, seriam derrotados e mortos – saṁhatāḥ no segundo sentido.

Texto

śrutvaitad bhagavān rāmo
vipakṣīya nṛpodyamam
kṛṣṇaṁ caikaṁ gataṁ hartuṁ
kanyāṁ kalaha-śaṅkitaḥ
balena mahatā sārdhaṁ
bhrātṛ-sneha-pariplutaḥ
tvaritaḥ kuṇḍinaṁ prāgād
gajāśva-ratha-pattibhiḥ

Sinônimos

śrutvā — ouvindo; etat — isto; bhagavān rāmaḥ — o Senhor Balarāma; vipakṣīya — inimigos; nṛpa — dos reis; udyamam — os preparativos; kṛṣṇam — o Senhor Kṛṣṇa; ca — e; ekam — sozinho; gatam — ido; har­tum — para roubar; kanyām — a noiva; kalaha — uma luta; śaṅkitaḥ — temendo; balena — uma força; mahatā — poderosa; sārdham — junto com; bhrātṛ — por Seu irmão; sneha — em afeição; pariplutaḥ — imer­so; tvaritaḥ — velozmente; kuṇḍinam — a Kuṇḍina; prāgāt — foi; ga­ja — com elefantes; aśva — cavalos; ratha — quadrigas; pattibhiḥ — e infantaria.

Tradução

Ao ouvir falar desses preparativos dos reis inimigos e de como o Senhor Kṛṣṇa partira sozinho para roubar a noiva, o Senhor Balarāma temeu que sobreviesse uma luta. Imerso em afeição por Seu irmão, Ele foi às pressas para Kuṇḍina com um pode­roso exército composto de infantaria e soldados montados em elefantes, cavalos e quadrigas.

Texto

bhīṣma-kanyā varārohā
kāṅkṣanty āgamanaṁ hareḥ
pratyāpattim apaśyantī
dvijasyācintayat tadā

Sinônimos

bhīṣma-kanyā — a filha de Bhīṣmaka; vara-ārohā — com belos quadris; kāṅkṣantī — esperando por; āgamanam — a chegada; hareḥ — de Kṛṣṇa; pratyāpattim — a volta; apaśyantī — não vendo; dvijasya — do brāhmaṇa; acintayat — pensou; tadā — então.

Tradução

A graciosa filha de Bhīṣmaka aguardava ansiosamente a chegada de Kṛṣṇa, mas, quando viu que o brāhmaṇa não retornava, ela pensou o seguinte.

Texto

aho tri-yāmāntarita
udvāho me ’lpa-rādhasaḥ
nāgacchaty aravindākṣo
nāhaṁ vedmy atra kāraṇam
so ’pi nāvartate ’dyāpi
mat-sandeśa-haro dvijaḥ

Sinônimos

aho — ai de mim!; tri-yāma — três yāmas (nove horas), ou seja, a noite; antaritaḥ — tendo terminado; udvāhaḥ — o casamento; me — meu; al­pa — insuficiente; rādhasaḥ — cuja boa fortuna; na āgacchati — não vem; aravinda-akṣaḥ — o Kṛṣṇa de olhos de lótus; na — não; aham — eu; vedmi — sei; atra — para isto; kāraṇam — a razão; saḥ — ele; api — também; na āvartate — não regressa; adya api — mesmo agora; mat — minha; sandeśa — da mensagem; haraḥ — o portador; dvijaḥ — o brāhmaṇa.

Tradução

[A princesa Rukmiṇī pensou:] Ai de mim! Meu casamento deve acontecer quando acabar a noite! Como sou desafortunada! Nosso Kṛṣṇa de olhos de lótus não vem. Não sei o porquê. E mesmo o brāhmaṇa mensageiro ainda não regressou.

Comentário

SIGNIFICADO—Fica implícito neste verso, como o confirma Śrīla Śrīdhara Svāmī, que a presente cena acontece antes do nascer do Sol.

Texto

api mayy anavadyātmā
dṛṣṭvā kiñcij jugupsitam
mat-pāṇi-grahaṇe nūnaṁ
nāyāti hi kṛtodyamaḥ

Sinônimos

api — talvez; mayi — em mim; anavadya — impecável; ātmā — Ele cujo corpo e mente; dṛṣṭvā — vendo; kiñcit — algo; jugupsitam — desprezível; mat — minha; pāṇi — mão; grahaṇe — para aceitar; nūnam — de fato; na āyāti — não veio; hi — decerto; kṛta-udyamaḥ — ainda que, a princípio, pretendesse fazê-lo.

Tradução

Talvez o impecável Senhor, mesmo enquanto Se preparava para vir aqui, viu em mim algo desprezível e, em razão disso, decidiu não vir mais para aceitar minha mão.

Comentário

SIGNIFICADO—A princesa Rukmiṇī, sem hesitar, convidou Śrī Kṛṣṇa a raptá-la. Quando viu que Ele não chegava, Rukmiṇī naturalmente temeu que Ele houvesse rejeitado sua proposta, talvez encontrando nela algu­ma qualidade inaceitável. Como se expressa aqui, o próprio Senhor é anavadya, impoluto, e se visse alguma mácula em Rukmiṇī, esta seria uma noiva indigna para Ele. Era natural que a jovem princesa sen­tisse tal ansiedade. Além disso, caso Śrī Kṛṣṇa tivesse realmente toma­do essa decisão, seria natural que o brāhmaṇa temesse a reação de Rukmiṇī caso fosse ele que tivesse de levar-lhe a notícia, e isso explicaria por que ele não viera.

Texto

durbhagāyā na me dhātā
nānukūlo maheśvaraḥ
devī vā vimukhī gaurī
rudrāṇī girijā satī

Sinônimos

durbhagāyāḥ — que sou desafortunada; na — não; me — comigo; dhātā — o criador (senhor Brahmā); na — não; anukūlaḥ — disposto favoravelmente; mahā-īśvaraḥ — o eminente senhor Śiva; devī — a deusa (sua consorte); — ou; vimukhī — virada contra; gaurī — Gaurī; rudrāṇī — a esposa de Rudra; giri-jā — a filha adotiva da cordilheira dos Himalaias; satī — Satī, que, em sua vida anterior como filha de Dakṣa, escolheu abandonar o corpo.

Tradução

Sou extremamente desafortunada, pois o criador não está in­clinado a meu favor, nem o eminente senhor Śiva. Ou talvez a esposa de Śiva, Devī, que é conhecida como Gaurī, Rudrāṇī, Girijā e Satī, tenha se voltado contra mim.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que Rukmiṇī deve ter pensado: “Mesmo que Kṛṣṇa quisesse vir, Ele deve ter sido detido no caminho pelo criador, Brahmā, que não está inclinado a meu favor. Mas por que ele estaria desfavorável? Talvez seja Maheśvara, o senhor Śiva, a quem alguma vez não adorei como devia e que, por isso, ficou zan­gado comigo. Mas ele é Maheśvara, o grande controlador, então por que estaria zangado comigo, uma moça tão insignificante e tola?”

Rukmiṇī teria pensado ainda: “Talvez seja a esposa de Śiva, Gaurīdevī, quem está descontente, embora eu a adore todos os dias. Ai de mim! Ai de mim! Como foi que a ofendi para que ela se voltasse contra mim? Mas, afinal, ela é Rudrāṇī, a esposa de Rudra, e seu próprio nome significa ‘alguém que faz todos chorarem’. Assim, talvez ela e Śiva queiram que eu chore. Mas vendo-me tão infeliz, a ponto de abandonar a vida, por que não abrandam sua atitude? A razão deve ser que a deusa Devī é Girijā, uma filha adotiva, então por que ela deveria ser compassiva? Em sua encarnação como Satī, ela abandonou o corpo, então talvez agora queira que eu também abandone meu corpo.”

Dessa maneira, o ācārya, com madura sensibilidade poética, in­terpreta os vários nomes usados neste verso.

Texto

evaṁ cintayatī bālā
govinda-hṛta-mānasā
nyamīlayata kāla-jñā
netre cāśru-kalākule

Sinônimos

evam — dessa maneira; cintayatī — pensando; bālā — a jovem; govinda — por Kṛṣṇa; hṛta — roubada; mānasā — cuja mente; nyamīlayata — fechou; kāla — o tempo; jñā — conhecendo; netre — seus olhos; ca — e; aśru-kalā — com lágrimas; ākule — enchendo.

Tradução

Enquanto pensava dessa maneira, a jovem donzela, cuja mente fora roubada por Kṛṣṇa, fechou seus olhos cheios de lágrimas, lembrando que ainda havia tempo.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī explica assim a palavra kāla-jñā: “[Rukmiṇī pensou:] ‘Ainda não é a hora certa para Govinda vir’, e, assim pensando, sentiu-se um pouco consolada.”

Texto

evaṁ vadhvāḥ pratīkṣantyā
govindāgamanaṁ nṛpa
vāma ūrur bhujo netram
asphuran priya-bhāṣiṇaḥ

Sinônimos

evam — assim; vadhvāḥ — a noiva; pratīkṣantyāḥ — enquanto aguardava; govinda-āgamanam — a chegada de Kṛṣṇa; nṛpa — ó rei (Pa­rīkṣit); vāmaḥ — esquerda; ūruḥ — coxa; bhujaḥ — braço; netram — e olho; asphuran — crispando-se; priya — algo desejável; bhāṣiṇaḥ — prenunciando.

Tradução

Ó rei, enquanto a noiva aguardava assim a chegada de Govin­da, ela sentiu crispar-se sua coxa, braço e olho esquerdos. Isso era sinal de que algo desejável aconteceria.

Texto

atha kṛṣṇa-vinirdiṣṭaḥ
sa eva dvija-sattamaḥ
antaḥpura-carīṁ devīṁ
rāja-putrīm dadarśa ha

Sinônimos

atha — então; kṛṣṇa-vinirdiṣṭaḥ — ordenado pelo Senhor Kṛṣṇa; saḥ — aquele; eva — mesmo; dvija — dos brāhmaṇas; sat-tamaḥ — o mais puro; antaḥ-pura — dentro do interior do palácio; carīm — estando; devīm — a deusa, Rukmiṇī; rāja — do rei; putrīm — a filha; dadarśa ha — viu.

Tradução

Bem então, aquele mais puro dos brāhmaṇas eruditos, seguin­do a ordem de Kṛṣṇa, veio ver a divina princesa Rukmiṇī dentro dos aposentos internos do palácio.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Śrīdhara Svāmī, Śrī Kṛṣṇa havia chegado aos jardins externos da cidade e, preocupado com Rukmiṇī, instruíra ao brāhmaṇa que a informasse de Sua chegada.

Texto

sā taṁ prahṛṣṭa-vadanam
avyagrātma-gatiṁ satī
ālakṣya lakṣaṇābhijñā
samapṛcchac chuci-smitā

Sinônimos

— ela; tam — a ele; prahṛṣṭa — cheio de alegria; vadanam — cujo rosto; avyagra — não agitado; ātma — de seu corpo; gatim — o movimento; satī — a santa jovem; ālakṣya — notando; lakṣaṇa — dos sinto­mas; abhijñā — conhecedora perita; samapṛcchat — interrogou; śuci — puro; smitā — com um sorriso.

Tradução

Notando o rosto jovial e os movimentos serenos do brāhmaṇa, a santa Rukmiṇī, que era perita em interpretar tais sintomas, interrogou-o com um sorriso puro.

Texto

tasyā āvedayat prāptaṁ
śaśaṁsa yadu-nandanam
uktaṁ ca satya-vacanam
ātmopanayanaṁ prati

Sinônimos

tasyāḥ — a ela; āvedayat — anunciou; prāptam — como tendo chega­do; śaśaṁsa — relatou; yadu-nandanam — Kṛṣṇa, o filho dos Yadus; uktam — o que Ele dissera; ca — e; satya — de conforto; vacanam — palavras; ātma — com ela; upanayanam — Seu casamento; prati — relativas a.

Tradução

O brāhmaṇa anunciou-lhe a chegada do Senhor Yadunandana e transmitiu-lhe a promessa que o Senhor fez de casar-Se com ela.

Texto

tam āgataṁ samājñāya
vaidarbhī hṛṣṭa-mānasā
na paśyantī brāhmaṇāya
priyam anyan nanāma sā

Sinônimos

tam — que Ele, Kṛṣṇa; āgatam — chegado; samājñāya — compreendendo por completo; vaidarbhī — Rukmiṇī; hṛṣṭa — contente; mānasā — sua mente; na paśyantī — não vendo; brāhmaṇāya — ao brāhmaṇa; priyam — querida; anyat — alguma coisa; nanāma — prostrou-se; — ela.

Tradução

A princesa Vaidarbhī ficou radiante de alegria ao saber da chegada de Kṛṣṇa. Não encontrando à mão nada conveniente para oferecer ao brāhmaṇa, ela simplesmente se prostrou diante dele.

Texto

prāptau śrutvā sva-duhitur
udvāha-prekṣaṇotsukau
abhyayāt tūrya-ghoṣeṇa
rāma-kṛṣṇau samarhaṇaiḥ

Sinônimos

prāptau — chegados; śrutvā — ouvindo; sva — dele; duhituḥ — da filha; udvāha — casamento; prekṣaṇa — por testemunhar; utsukau — ansiosos; abhyayāt — adiantou-se; tūrya — de instrumentos musicais; ghoṣeṇa — com o ressoar; rāma-kṛṣṇau — para Balarāma e Kṛṣṇa; samarhaṇaiḥ — com abundantes oferendas.

Tradução

Quando ouviu que Kṛṣṇa e Balarāma haviam chegado e es­tavam ansiosos por testemunhar o casamento de sua filha, o rei, ao som de música, adiantou-se com abundantes oferendas para saudá-lOs.

Texto

madhu-parkam upānīya
vāsāṁsi virajāṁsi saḥ
upāyanāny abhīṣṭāni
vidhi-vat samapūjayat

Sinônimos

madhu-parkam — a mistura tradicional de leite e mel; upānīya — trazendo; vāsāṁsi — roupas; virajāṁsi — imaculadas; saḥ — ele; upāya­nāni — presentes; abhīṣṭāni — desejáveis; vidhi-vat — de acordo com as prescrições das escrituras; samapūjayat — executou adoração.

Tradução

Presenteando-Os com madhu-parka, roupas novas e outros pre­sentes desejáveis, ele Os adorou de acordo com os rituais tradi­cionais.

Texto

tayor niveśanaṁ śrīmad
upākalpya mahā-matiḥ
sa-sainyayoḥ sānugayor
ātithyaṁ vidadhe yathā

Sinônimos

tayoḥ — para Eles; niveśanam — lugar para ficar; śrī-mat — opulen­to; upākalpya — providenciando; mahā-matiḥ — generoso; sa — junto de; sainyayoḥ — Seus soldados; sa — junto de; anugayoḥ — Seus companheiros pessoais; ātithyam — hospitalidade; vidadhe — ofereceu; yathā — de modo apropriado.

Tradução

O generoso rei Bhīṣmaka providenciou opulentas acomoda­ções para os dois Senhores e também para Seu exército e séquito. Desta maneira, ofereceu-Lhes conveniente hospitalidade.

Texto

evaṁ rājñāṁ sametānāṁ
yathā-vīryaṁ yathā-vayaḥ
yathā-balaṁ yathā-vittaṁ
sarvaiḥ kāmaiḥ samarhayat

Sinônimos

evam — assim; rājñām — para os reis; sametānām — que se tinham reunido; yathā — segundo; vīryam — seu poder; yathā — segundo; vayaḥ — sua idade; yathā — segundo; balam — sua força; yathā — segundo; vittam — sua riqueza; sarvaiḥ — com todas; kāmaiḥ — as coisas desejáveis; samarhayat — honrou-os.

Tradução

Foi assim que Bhīṣmaka concedeu todas as coisas desejáveis aos reis que se haviam reunido para a ocasião, honrando-os como convi­nha ao poder político, idade, força física e riqueza deles.

Texto

kṛṣṇam āgatam ākarṇya
vidarbha-pura-vāsinaḥ
āgatya netrāñjalibhiḥ
papus tan-mukha-paṅkajam

Sinônimos

kṛṣṇam — que o Senhor Kṛṣṇa; āgatam — chegado; ākarṇya — ouvindo; vidarbha-pura — da capital de Vidarbha; vāsinaḥ — os residentes; āgatya — vindo; netra — de seus olhos; añjalibhiḥ — com as mãos em forma de cálice; papuḥ — beberam; tat — Seu; mukha — rosto; paṅ­kajam — lótus.

Tradução

Quando os residentes de Vidarbha-pura ouviram que o Senhor Kṛṣṇa chegara, todos eles foram vê-lO. Usando seus olhos como se fossem palmas da mão em forma de cálice, eles beberam o mel de Seu rosto de lótus.

Texto

asyaiva bhāryā bhavituṁ
rukmiṇy arhati nāparā
asāv apy anavadyātmā
bhaiṣmyāḥ samucitaḥ patiḥ

Sinônimos

asya — para Ele; eva — somente; bhāryā — esposa; bhavitum — ser; rukmiṇī — Rukmiṇī; arhati — merece; na aparā — nenhum outro; asau — Ele; api — bem como; anavadya — perfeita; ātmā — cuja forma corporal; bhaiṣmyāḥ — para a filha de Bhīṣmaka; samucitaḥ — muito conve­niente; patiḥ — marido.

Tradução

[O povo da cidade dizia:] Rukmiṇī, e ninguém mais, merece ser Sua esposa, e Ele também, que possui tal beleza impecável, é o único marido conveniente para a princesa Bhaiṣmī.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī, este verso combina afirma­ções feitas por diferentes cidadãos. Alguns apontavam que Rukmiṇī era uma esposa conveniente para Kṛṣṇa, outros diziam que nenhuma outra era conveniente. De modo semelhante, alguns diziam que Kṛṣṇa era muito apropriado para Rukmiṇī, e outros diziam que ninguém mais lhe seria um marido adequado.

Texto

kiñcit su-caritaṁ yan nas
tena tuṣṭas tri-loka-kṛt
anugṛhṇātu gṛhṇātu
vaidarbhyāḥ pāṇim acyutaḥ

Sinônimos

kiñcit — de algum modo; su-caritam — ações piedosas; yat — quais­quer; naḥ — nossas; tena — com elas; tuṣṭaḥ — satisfeito; tri-loka — dos três mundos; kṛt — o criador; anugṛhṇātu — que, por favor, mostre misericórdia; gṛhṇātu — que aceite; vaidarbhyāḥ — de Rukmiṇī; pāṇim — na mão; acyutaḥ — Kṛṣṇa.

Tradução

Que Acyuta, o criador dos três mundos, fique satisfeito com quaisquer ações piedosas que tenhamos realizado e mostre Sua misericórdia aceitando a mão de Vaidarbhī.

Comentário

SIGNIFICADO—Os devotados cidadãos de Vidarbha ofereceram amorosamente seu estoque inteiro de crédito piedoso à princesa Rukmiṇī. Eles estavam muito desejosos de vê-la casar-se com o Senhor Kṛṣṇa.

Texto

evaṁ prema-kalā-baddhā
vadanti sma puraukasaḥ
kanyā cāntaḥ-purāt prāgād
bhaṭair guptāmbikālayam

Sinônimos

evam — assim; prema — de amor puro; kalā — pelo aumento; bad­dhāḥ — atados; vadanti sma — falavam; pura-okasaḥ — os residentes da cidade; kanyā — a noiva; ca — e; antaḥ-purāt — do palácio inter­no; prāgāt — saiu; bhaṭaiḥ — por guardas; guptā — protegida; ambikā-­ālayam — para o templo da deusa Ambikā.

Tradução

Atados por seu crescente amor, os residentes da cidade fala­vam dessa maneira. A noiva, então, protegida por guardas, saiu do palácio interno para visitar o templo de Ambikā.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita a seguinte definição da palavra kalā apresentada no dicionário Medinī, kalā mūle pravṛddhau syāc chilādāv aṁśa-mātrake: “A palavra kalā significa ‘a raiz’, ‘aumento’, ‘pedra’ ou ‘uma simples parte’.”

Texto

padbhyāṁ viniryayau draṣṭuṁ
bhavānyāḥ pāda-pallavam
sā cānudhyāyatī samyaṅ
mukunda-caraṇāmbujam
yata-vāṅ mātṛbhiḥ sārdhaṁ
sakhībhiḥ parivāritā
guptā rāja-bhaṭaiḥ śūraiḥ
sannaddhair udyatāyudhaiḥ
mṛḍaṅga-śaṅkha-paṇavās
tūrya-bheryaś ca jaghnire

Sinônimos

padbhyām — a pé; viniryayau — saiu; draṣṭum — para ver; bhavā­nyāḥ — da mãe Bhavānī; pāda-pallavam — os pés de pétalas de lótus; sāḥ — ela; ca — e; anudhyāyatī — meditando; samyak — totalmente; mu­kunda — de Kṛṣṇa; caraṇa-ambujam — sobre os pés de lótus; yata­-vāk — mantendo silêncio; mātṛbhiḥ — por suas mães; sārdham — acomodada; sakhībhiḥ — por suas companheiras; parivāritā — rodeada; guptā — guardada; rāja — do rei; bhaṭaiḥ — pelos soldados; śūraiḥ — valentes; sannaddhaiḥ — armados e prontos; udyata — erguidas; āyudhaiḥ — com armas; mṛdaṅga-śaṅkha-paṇavāḥ — tambores de barro, búzios e pequenos tambores; tūrya — instrumentos de sopro; bhe­ryaḥ — cornetas; ca — e; jaghnire — soavam.

Tradução

Silenciosa, Rukmiṇī saiu a pé para ver os pés de lótus da deidade Bhavānī. Acompanhada por suas mães e amigas e protegida pelos valentes soldados do rei, que, de prontidão, empunhavam armas erguidas, ela apenas absorveu a mente nos pés de lótus de Kṛṣṇa. E durante todo esse tempo, ressoavam mṛdaṅgas, búzios, paṇavas, cornetas e outros instrumentos.

Texto

nānopahāra balibhir
vāramukhyāḥ sahasraśaḥ
srag-gandha-vastrābharaṇair
dvija-patnyaḥ sv-alaṅkṛtāḥ
gāyantyaś ca stuvantaś ca
gāyakā vādya-vādakāḥ
parivārya vadhūṁ jagmuḥ
sūta-māgadha-vandinaḥ

Sinônimos

nānā — vários; upahāra — com parafernália de adoração; balibhiḥ — e presentes; vāra-mukhyāḥ — cortesãos preeminentes; sahasraśaḥ — aos milhares; srak — com guirlandas de flores; gandha — fragrâncias; vas­tra — roupas; ābharaṇaiḥ — e joias; dvija — de brāhmaṇas; patnyaḥ — as esposas; sv-alaṅkṛtāḥ — bem ornamentadas; gāyantyaḥ — cantando; ca — e; stuvantaḥ — oferecendo preces; ca — e; gāyakāḥ — cantores; vādya-vādakāḥ — músicos de instrumentos; parivārya — acompanhan­do; vadhūm — a noiva; jagmuḥ — foram; sūta — trovadores; māgadha — cronistas; vandinaḥ — e arautos.

Tradução

Atrás da noiva, seguiam milhares de preeminentes cortesãos que traziam várias oferendas e presentes, junto com as bem adornadas esposas dos brāhmaṇas, que cantavam e recitavam preces e traziam guirlandas, perfumes, roupas e joias de presen­tes. Havia também cantores profissionais, músicos, trovadores, cronistas e arautos.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī explica que, de seus aposentos até o templo de Bhavānī, Rukmiṇī foi de palanquim, de modo que foi fácil protegê-la. Só nos últimos quatro ou cinco metros do palácio até a área do templo, ela foi a pé, com guarda-costas reais postados por toda a parte do lado de fora do templo.

Texto

āsādya devī-sadanaṁ
dhauta-pāda-karāmbujā
upaspṛśya śuciḥ śāntā
praviveśāmbikāntikam

Sinônimos

āsādya — chegando; devī — da deusa; sadanam — à residência; dhau­ta — lavando; pāda — seus pés; kara — e mãos; ambujā — semelhantes ao lótus; upaspṛśya — sorvendo água para purificar-se; śuciḥ — santifi­cada; śāntā — tranquila; praviveśa — entrou; ambikā-antikam — na pre­sença de Ambikā.

Tradução

Ao chegar ao templo da deusa, Rukmiṇī primeiro lavou seus pés e suas mãos de lótus e, em seguida, sorveu um pouco de água para puri­ficar-se. Assim santificada e tranquila, ela foi à presença de mãe Ambikā.

Texto

tāṁ vai pravayaso bālāṁ
vidhi-jñā vipra-yoṣitaḥ
bhavānīṁ vandayāṁ cakrur
bhava-patnīṁ bhavānvitām

Sinônimos

tām — a ela; vai — de fato; pravayasaḥ — mais velhas; bālām — a jovem; vidhi — das prescrições ritualísticas; jñāḥ — conhecedoras peritas; vipra — dos brāhmaṇas; yoṣitaḥ — as esposas; bhavānīm — à deusa Bhavānī; vandayām cakruḥ — orientaram a como oferecer respeitos; bhava-patnīm — à esposa de Bhava (o senhor Śiva); bhava-anvitām — acompanhada pelo senhor Bhava.

Tradução

As esposas mais velhas dos brāhmaṇas, peritas no conheci­mento dos rituais, orientaram a jovem Rukmiṇī a como ofere­cer respeitos a Bhavānī, que aparecia com seu consorte, o senhor Bhava.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo os ācāryas, aqui o termo bhavānvitām indica que, no tem­plo de Ambikā, visitado por Rukmiṇī, a deidade regente era a deusa, cujo marido aparecia em um papel de acompanhante. Assim, o ritual era convenientemente executado por mulheres.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī comenta que o termo vidhi-jñāḥ pode significar que, como as esposas eruditas dos brāhmaṇas sabiam do desejo de Rukmiṇī de casar-se com Kṛṣṇa, o verbo vandayāṁ cakruḥ indica, então, que as senhoras a estimularam a orar pelo que ela mais queria. Desse modo, assim como a deusa Bhavānī, Rukmiṇī poderia unir-se a seu eterno companheiro.

Texto

namasye tvāmbike ’bhīkṣṇaṁ
sva-santāna-yutāṁ śivām
bhūyāt patir me bhagavān
kṛṣṇas tad anumodatām

Sinônimos

namasye — ofereço minhas reverências; tvā — a ti; ambike — ó Ambikā; abhīkṣṇam — constantemente; sva — teus; santāna — filhos; yu­tām — junto de; śivām — a esposa do senhor Śiva; bhūyāt — que Ele Se torne; patiḥ — marido; me — meu; bhagavān — o Senhor Supremo; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; tat — isto; anumodatām — por favor, permite.

Tradução

[A princesa Rukmiṇī orou:] Ó mãe Ambikā, esposa do senhor Śiva, ofereço minhas repetidas reverências a ti, junto de teus filhos. Que o Senhor Kṛṣṇa Se torne meu marido. Por favor, con­cede-me isto!

Texto

adbhir gandhākṣatair dhūpair
vāsaḥ-sraṅ-mālya bhūṣaṇaiḥ
nānopahāra-balibhiḥ
pradīpāvalibhiḥ pṛthak
vipra-striyaḥ patimatīs
tathā taiḥ samapūjayat
lavaṇāpūpa-tāmbūla-
kaṇṭha-sūtra-phalekṣubhiḥ

Sinônimos

adbhiḥ — com água; gandha — substâncias aromáticas; akṣataiḥ — e cereais integrais; dhūpaiḥ — com incenso; vāsaḥ — com roupas; srak — guirlandas de flores; mālya — colares de pedras preciosas; bhūṣaṇaiḥ — e ornamentos; nānā — com várias; upahāra — oferendas; bali­bhiḥ — e presentes; pradīpa — de lamparinas; āvalibhiḥ — com fileiras; pṛthak — separadamente; vipra-striyaḥ — as brāhmanīs; pati — maridos; matīḥ — que tinham; tathā — também; taiḥ — com estes artigos; sa­mapūjayat — executaram adoração; lavaṇa — com preparações deliciosas; āpūpa — bolos; tāmbūla — noz de bétel preparada; kaṇṭha-­sūtra — cordões sagrados; phala — frutas; ikṣubhiḥ — e cana-de-açúcar.

Tradução

Rukmiṇī adorou a deusa com água, perfumes, cereais integrais, incenso, roupas, guirlandas, colares, joias e outras oferendas e presentes prescritos, e também com uma grande quantidade de lamparinas. Cada uma das brāhmaṇīs casadas adorou a deu­sa simultaneamente com os mesmos artigos, oferecendo também iguarias e bolos, noz de bétel preparada, cordões sagrados, frutas e caldo de cana-de-açúcar.

Texto

tasyai striyas tāḥ pradaduḥ
śeṣāṁ yuyujur āśiṣaḥ
tābhyo devyai namaś cakre
śeṣāṁ ca jagṛhe vadhūḥ

Sinônimos

tasyai — a ela, Rukmiṇī; striyaḥ — as mulheres; tāḥ — elas; prada­duḥ — deram; śeṣām — os remanentes; yuyujuḥ — concederam; āśiṣaḥ — bênçãos; tābhyaḥ — a elas; devyai — e à deidade; namaḥ cakre — prostrou-se; śeṣām — os remanentes; ca — e; jagṛhe — aceitou; vadhūḥ — a noiva.

Tradução

As mulheres deram à noiva os remanentes das oferendas e, então, abençoaram-na. Ela, por sua vez, prostrou-se diante delas e da deidade e aceitou esses remanentes como prasāda.

Texto

muni-vratam atha tyaktvā
niścakrāmāmbikā-gṛhāt
pragṛhya pāṇinā bhṛtyāṁ
ratna-mudropaśobhinā

Sinônimos

muni — de silêncio; vratam — seu voto; atha — então; tyaktvā — abandonando; niścakrāma — saiu; ambikā-gṛhāt — do templo de Ambikā; pragṛhya — segurando; pāṇinā — com sua mão; bhṛtyām — uma serva; ratna — de pedras preciosas; mudrā — por um anel; upaśobhinā — em­belezada.

Tradução

A princesa, então, abandonou seu voto de silêncio e saiu do tem­plo de Ambikā, segurando com a mão, que estava adornada por um anel de pedras preciosas, uma serva.

Texto

tāṁ deva-māyām iva dhīra-mohinīṁ
su-madhyamāṁ kuṇḍala-maṇḍitānanām
śyāmāṁ nitambārpita-ratna-mekhalāṁ
vyañjat-stanīṁ kuntala-śaṅkitekṣaṇām
śuci-smitāṁ bimba-phalādhara-dyuti-
śoṇāyamāna-dvija-kunda-kuḍmalām
padā calantīṁ kala-haṁsa-gāminīṁ
siñjat-kalā-nūpura-dhāma-śobhinā
vilokya vīrā mumuhuḥ samāgatā
yaśasvinas tat-kṛta-hṛc-chayārditāḥ
yāṁ vīkṣya te nṛpatayas tad udāra-hāsa-
vrīdāvaloka-hṛta-cetasa ujjhitāstrāḥ
petuḥ kṣitau gaja-rathāśva-gatā vimūḍhā
yātrā-cchalena haraye ’rpayatīṁ sva-śobhām
saivaṁ śanaiś calayatī cala-padma-kośau
prāptiṁ tadā bhagavataḥ prasamīkṣamāṇā
utsārya vāma-karajair alakān apaṅgaiḥ
prāptān hriyaikṣata nṛpān dadṛśe ’cyutaṁ ca
tāṁ rāja-kanyāṁ ratham ārurakṣatīṁ
jahāra kṛṣṇo dviṣatāṁ samīkṣatām

Sinônimos

tām — a ela; deva — do Senhor Supremo; māyām — a potência ilusória; iva — como se; dhīra — mesmo aqueles que são sóbrios; mohi­nīm — que confunde; su-madhyamām — cuja cintura era bem formada; kuṇḍala — com brincos; maṇḍita — decorado; ānanām — seu rosto; śyāmām — beleza não contaminada; nitamba — em cujos quadris; ar­pita — colocado; ratna — incrustado de pedras preciosas; mekhalām — um cinto; vyañjat — em botão; stanīm — cujos seios; kuntala — dos cachos de seu cabelo; śaṅkita — espantados; īkṣaṇām — cujos olhos; śuci — puro; smitām — com um sorriso; bimba-phala — como uma fruta bimba; adhara — de cujos lábios; dyuti — pelo esplendor; śoṇāyamāna — avermelhando-se; dvija — cujos dentes; kunda — de jasmim; kuḍmalām — como botões; padā — com seus pés; calantīm — caminhando; kala-haṁsa — como o do cisne real; gāminīm — cujo passo; siñjat — tilintando; kalā — colocados com habilidade; nūpura — de seus guizos de tornozelo; dhāma — pela refulgência; śobhinā — embeleza­do; vilokya — vendo; vīrāḥ — os heróis; mumuhuḥ — ficaram perplexos; samāgatāḥ — reunidos; yaśasvinaḥ — respeitáveis; tat — por isto; kṛta — gerada; hṛt-śaya — pela luxúria; ārditāḥ — aflitos; yām — a quem; vīk­ṣya — ao ver; te — estes; nṛ-patayaḥ — reis; tat — dela; udāra — largos; hāsa — pelos sorrisos; vrīḍā — de timidez; avaloka — e os olhares; hṛta — roubadas; cetasaḥ — cujas mentes; ujjhita — deixando escorre­gar; astrāḥ — suas armas; petuḥ — caíram; kṣitau — no chão; gaja — em elefantes; ratha — quadrigas; aśva — e cavalos; gatāḥ — sentados; vi­mūḍhāḥ — desmaiando; yātrā — da procissão; chalena — com o pretex­to; haraye — ao Senhor Hari, Kṛṣṇa; arpayatīm — que estava ofere­cendo; sva — sua própria; śobhām — beleza; — ela; evam — assim; śanaiḥ — devagar; calayatī — fazendo andar; cala — móveis; padma — das flores de lótus; kośau — os dois verticilos (isto é, seus pés); prāp­tim — a chegada; tadā — então; bhagavataḥ — do Senhor Supremo; prasamīkṣamāṇā — esperando ansiosamente; utsārya — empurrando; vāma — esquerda; kara-jaiḥ — com as unhas de sua mão; alakān — seu cabelo; apāṅgaiḥ — com olhares de lado; prāptān — aqueles presentes; hriyā — com timidez; aikṣata — olhava; nṛpān — aos reis; dadṛśe — viu; acyutam — Kṛṣṇa; ca — e; tām — a ela; rāja-kanyām — a filha do rei; ratham — Sua quadriga; ārurukṣatīm — que estava pronta para montar; jahāra — agarrou; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; dviṣatām — Seus inimi­gos; samīkṣatām — enquanto olhavam.

Tradução

Rukmiṇī parecia tão encantadora quanto a potência ilusória do Senhor, que encanta até os homens sóbrios e graves. Deste modo, os reis contemplavam sua beleza virginal, sua cintura for­mosa e seu gracioso rosto adornado de brincos. Seus quadris es­tavam enfeitados com um cinto incrustado de pedras preciosas, seus seios apenas despontavam, e seus olhos pareciam apreensi­vos com seus profusos cachos de cabelo. Ela tinha um doce sorriso, e seus dentes semelhantes a botões de jasmim refletiam o esplendor de seus lábios vermelhos como a fruta bimba. Enquanto cami­nhava com os movimentos de um cisne real, a refulgência de seus tilintantes guizos de tornozelo embelezava-lhe os pés. Ao verem-­na, os heróis reunidos ficaram totalmente perplexos. E a luxúria dilacerou-lhes o coração. De fato, quando viram seu sorriso largo e olhar tímido, os reis ficaram estupefatos, deixaram escorregar suas armas e caíram inconscientes do alto de seus elefantes, qua­drigas e cavalos. A pretexto da procissão, Rukmiṇī exibia sua beleza para Kṛṣṇa apenas. Devagar, ela caminhava com os dois verticilos de lótus que eram seus pés, aguardando a chegada do Senhor Supremo. Com as unhas da mão esquerda, ela tirava al­guns fios de cabelo que caíam em seu rosto e timidamente olhava do canto dos olhos para os reis que se postavam diante dela. Na­quele momento, ela viu Kṛṣṇa. Então, enquanto Seus inimigos olhavam, o Senhor agarrou a princesa, que ansiava por montar em Sua quadriga.

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo Śrīla Jīva Gosvāmī, Rukmiṇī estava preocupada em não deixar que os cachos de seu cabelo lhe impedissem a visão, pois ela ansiava ardentemente por ver seu amado Kṛṣṇa. Os não-devotos, ou demônios, ficam perplexos ao verem as opulências do Senhor e acham que a potência dEle destina-se a seu grosseiro gozo dos sentidos. Mas Rukmiṇī, uma expansão da potência interna de prazer de Kṛṣṇa, destinava-se apenas ao Senhor.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī cita o seguinte verso para descrever a espécie de mulher conhecida como śyāmā:

śīta-kāle bhaved usṇo
uṣṇa-kāle tu śītalā
stanau su-kaṭhinau yasyāḥ
sā śyāmā parikīrtitā

“Uma mulher é chamada śyāmā quando seus seios são muito firmes e quando alguém em sua presença sente-se aquecido no inverno e re­frescado no verão.”

Śrīla Viśvanātha Cakravartī salienta ainda que, como a bela forma de Rukmiṇī é uma manifestação da energia interna do Senhor, os não-devotos não a podem perceber. Dessa maneira, os reis heroicos reunidos em Vidarbha ficaram agitados pela luxúria ao verem a po­tência ilusória do Senhor, uma expansão de Rukmiṇī. Em outras palavras, nenhum homem pode cobiçar a consorte eterna do Senhor, pois logo que sua mente se contamina com a luxúria, a cobertura de māyā separa-o da beleza original do mundo espiritual e de seus habitantes.

Por fim, Śrīmatī Rukmiṇī-devī sentia-se tímida ao olhar dos cantos dos olhos para os outros reis, pois não queria cruzar com os olhares daqueles homens inferiores.

Texto

rathaṁ samāropya suparṇa-lakṣaṇaṁ
rājanya-cakraṁ paribhūya mādhavaḥ
tato yayau rāma-purogamaḥ śanaiḥ
śṛgāla-madhyād iva bhāga-hṛd dhariḥ

Sinônimos

ratham — para Sua quadriga; samāropya — erguendo-a; suparṇa — Garuḍa; lakṣaṇam — cuja marca; rājanya — de reis; cakram — o círculo; paribhūya — derrotando; mādhavaḥ — Kṛṣṇa; tataḥ — de lá; yayau — foi; rāma — por Rāma; puraḥ-gamaḥ — precedido; śanaiḥ — devagar; śṛgāla — de chacais; madhyāt — do meio; iva — como; bhāga — sua partilha; hṛt — retirando; hariḥ — um leão.

Tradução

Erguendo a princesa ao alto de Sua quadriga, cuja bandeira trazia o emblema de Garuḍa, o Senhor Mādhava rechaçou o círculo de reis. Com Balarāma à frente, Ele saiu devagar, tal qual um leão que retira sua presa do meio dos chacais.

Texto

taṁ māninaḥ svābhibhavaṁ yaśaḥ-kṣayaṁ
pare jarāsandha-mukhā na sehire
aho dhig asmān yaśa ātta-dhanvanāṁ
gopair hṛtaṁ keśariṇāṁ mṛgair iva

Sinônimos

tam — aquela; māninaḥ — orgulhosos; sva — sua; abhibhavam — derrota; yaśaḥ — sua honra; kṣayam — arruinando; pare — os inimigos; jarāsandha-mukhāḥ — liderados por Jarāsandha; na sehire — não puderam tolerar; aho — ah!; dhik — condenação; asmān — sobre nós; yaśaḥ — a honra; ātta-dhanvanām — dos arqueiros; gopaiḥ — por vaqueiros; hṛtam — arrebatada; keśariṇām — dos leões; mṛgaiḥ — por pequenos animais; iva — como se.

Tradução

Os reis hostis ao Senhor, liderados por Jarāsandha, não pu­deram tolerar esta derrota humilhante. Eles exclamaram: “Oh! quão condenados somos! Embora sejamos poderosos arqueiros, meros vaqueiros roubaram nossa honra, assim como animais in­significantes podem arrebatar a honra de leões!”

Comentário

SIGNIFICADO—A partir dos últimos dois versos deste capítulo, fica evidente que a inteli­gência pervertida dos demônios faz com que estes percebam as coisas de maneira exatamente oposta à realidade. Fica bem claro que Kṛṣṇa roubou Rukmiṇī como um leão que retira sua presa do meio dos chacais. Os demônios, porém, viam a si mesmos como leões e ao Senhor Kṛṣṇa como uma criatura inferior. Sem consciência de Kṛṣṇa, a vida torna-se muito perigosa.

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humil­des servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhu­pāda referentes ao décimo canto, quinquagésimo terceiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “Kṛṣṇa Rapta Rukmiṇī”.