Skip to main content

CAPÍTULO VINTE E UM

As Gopīs Glorificam a Canção da Flauta de Kṛṣṇa

Este capítulo descreve a entrada do Senhor Kṛṣṇa na encantadora floresta de Vṛndāvana depois da chegada do outono e os louvores que as vaqueirinhas cantavam quando ouviam a vibração de Sua flauta.

Enquanto o Senhor Kṛṣṇa, o Senhor Balarāma e Seus amigos va­queirinhos entravam na floresta para apascentar as vacas, Kṛṣṇa co­meçou a tocar a Sua flauta. Ao ouvirem o encantador som da flauta, as gopīs compreenderam que Kṛṣṇa estava entrando na floresta. Elas, então, passaram a narrar umas às outras as várias atividades do Senhor.

As gopīs declararam: “Ver o Senhor Kṛṣṇa tocando Sua flauta en­quanto leva as vacas para pastar é a perfeição máxima para os olhos. Que atividades piedosas praticou esta flauta para ser capaz de beber à vontade o néctar dos lábios de Śrī Kṛṣṇa – bênção que até nós, vaqueirinhas, achamos difícil conseguir? Ouvindo o som da flauta de Kṛṣṇa, os pavões dançam, e, ao verem-nos, todas as outras criaturas ficam atônitas. Semideusas que viajam pelo céu em seus aeroplanos são importunadas pelo Cupido, e seus vestidos se afrouxam. As vacas ficam de orelha em pé enquanto bebem o néctar do som desta flauta, e seus bezerros simplesmente se postam atônitos, com o leite que estavam bebendo das tetas de suas mães ainda em suas bocas. As aves se abrigam nos galhos das árvores e fecham os olhos, escutan­do com atenção e enlevo o som da flauta de Kṛṣṇa. Os rios corren­tes ficam perturbados pela atração conjugal por Kṛṣṇa e, detendo seu curso, abraçam os pés de lótus de Kṛṣṇa com os braços de suas ondas, enquanto as nuvens servem de guarda-sóis para proteger do sol quente a cabeça de Kṛṣṇa. As mulheres aborígenes da raça śabara, ao verem a relva manchada pelo kuṅkuma vermelho que adorna os pés de lótus do Senhor, esfregam esse pó de vermelhão em seus seios e rostos para aliviar o sofrimento criado pelo Cupido. A colina Govardhana oferece grama e várias espécies de frutas e bulbos em adoração ao Senhor Śrī Kṛṣṇa. Todos os seres vivos inertes assumem as características das criaturas móveis, e os seres vivos móveis ficam estacionários. Tudo isso é muito maravilhoso.”

Texto

śrī-śuka uvāca
itthaṁ śarat-svaccha-jalaṁ
padmākara-sugandhinā
nyaviśad vāyunā vātaṁ
sa-go-gopālako ’cyutaḥ

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; ittham — dessa maneira; śarat — da estação do outono; svaccha — clara; jalam — tendo água; padma-ākara — do lago cheio de flores de lótus; su-gandhinā — com a doce fragrância; nyaviśat — Ele entrou; vāyunā — pela brisa; vātam — ventilada; sa — com; go — as vacas; gopālakaḥ — e os vaqueirinhos; acyutaḥ — a infalível Suprema Personalidade de Deus.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: A floresta de Vṛndāvana estava cheia de transparentes águas outonais e refrescada por brisas perfumadas com a fragrância das flores de lótus que cresciam nos lagos cristalinos. O Senhor infalível, acompanhado de Suas vacas e amigos vaqueirinhos, entrou naquela floresta de Vṛndāvana.

Texto

kusumita-vanarāji-śuṣmi-bhṛṅga
dvija-kula-ghuṣṭa-saraḥ-sarin-mahīdhram
madhupatir avagāhya cārayan gāḥ
saha-paśu-pāla-balaś cukūja veṇum

Sinônimos

kusumita — floridas; vana-rāji — entre os grupos de árvores; śuṣ­mi — enlouquecidas; bhṛṅga — com abelhas; dvija — de aves; kula — e bandos; ghuṣṭa — ressoando; saraḥ — seus lagos; sarit — rios; mahīdhram — e colinas; madhu-patiḥ — o Senhor de Madhu (Kṛṣṇa); ava­gāhya — entrando; cārayan — enquanto pastoreava; gāḥ — as vacas; saha-paśu-pāla-balaḥ — na companhia dos vaqueirinhos e do Senhor Balarāma; cukūja — vibrava; veṇum — Sua flauta.

Tradução

Os lagos, rios e colinas de Vṛndāvana ressoavam com os sons de abelhas enlouquecidas, e bandos de aves voavam entre as ár­vores floridas. Na companhia dos vaqueirinhos e de Balarāma, Madhupati [Śrī Kṛṣṇa] entrou naquela floresta e, enquanto pastoreava as vacas, começou a vibrar Sua flauta.

Comentário

SIGNIFICADOComo sugerem as palavras cukūja veṇum, o Senhor Kṛṣṇa tinha a habilidade de combinar os sons de Sua flauta com os graciosos sons dos pássaros multicoloridos de Vṛndāvana. Criava-se desta maneira uma vibração celestial irresistível.

Texto

tad vraja-striya āśrutya
veṇu-gītaṁ smarodayam
kāścit parokṣaṁ kṛṣṇasya
sva-sakhībhyo ’nvavarṇayan

Sinônimos

tat — isto; vraja-striyaḥ — as senhoras da vila pastoril; āśrutya — ouvindo; veṇu-gītam — a canção da flauta; smara-udayam — que faz surgir a influência do Cupido; kāścit — algumas delas; parokṣam — secretamente; kṛṣṇasya — sobre Kṛṣṇa; sva-sakhībhyaḥ — a suas companheiras íntimas; anvavarṇayan — descreviam.

Tradução

Quando as jovens senhoras da vila pastoril de Vraja ouvi­ram o som da flauta de Kṛṣṇa, que desperta a influência do Cupido, algumas delas começaram a descrever secretamente as qualidades de Kṛṣṇa para suas amigas íntimas.

Texto

tad varṇayitum ārabdhāḥ
smarantyaḥ kṛṣṇa-ceṣṭitam
nāśakan smara-vegena
vikṣipta-manaso nṛpa

Sinônimos

tat — isto; varṇayitum — a descrever; ārabdhāḥ — começando; smarantyaḥ — lembrando; kṛṣṇa-ceṣṭitam — as atividades de Kṛṣṇa; na aśakan — foram incapazes; smara-vegena — pela força do Cupido; vi­kṣipta — agitadas; manasaḥ — cujas mentes; nṛpa — ó rei Parīkṣit.

Tradução

As vaqueirinhas começaram a falar sobre Kṛṣṇa, mas, quando lembraram Suas atividades, ó rei, o poder do Cupido perturbou suas mentes, motivo pelo qual elas não conseguiram mais falar.

Texto

barhāpīḍaṁ naṭa-vara-vapuḥ karṇayoḥ karṇikāraṁ
bibhrad vāsaḥ kanaka-kapiśaṁ vaijayantīṁ ca mālām
randhrān veṇor adhara-sudhayāpūrayan gopa-vṛndair
vṛndāraṇyaṁ sva-pada-ramaṇaṁ prāviśad gīta-kīrtiḥ

Sinônimos

barha — uma pena de pavão; āpīḍam — como enfeite de Sua cabe­ça; naṭa-vara — do melhor dos dançarinos; vapuḥ — o corpo transcen­dental; karṇayoḥ — nas orelhas; karṇikāram — uma espécie particular de flor azul semelhante ao lótus; bibhrat — usando; vāsaḥ — roupas; kanaka — como ouro; kapiśam — amareladas; vaijayantīm — chama­da Vaijayantī; ca — e; mālām — a guirlanda; randhrān — os buracos; veṇoḥ — de Sua flauta; adhara — de Seus lábios; sudhayā — com o néctar; āpūrayan — enchendo; gopa-vṛndaiḥ — pelos vaqueirinhos; vṛndā-araṇyam — a floresta de Vṛndāvana; sva-pada — por causa das marcas de Seus pés de lótus; ramaṇam — encantando; prāviśat — Ele entrou; gīta — sendo cantadas; kīrtiḥ — Suas glórias.

Tradução

Usando um enfeite de pena de pavão sobre a cabeça, flores karṇikāra azuis nas orelhas, uma roupa amarela tão brilhante quanto o ouro e a guirlanda Vaijayantī, o Senhor Kṛṣṇa exibia Sua forma transcendental como o maior dos dançarinos ao entrar na floresta de Vṛndāvana, embelezando-a com as marcas de Suas pegadas. Ele enchia os orifícios de Sua flauta com o néctar de Seus lábios, e os vaqueirinhos cantavam Suas glórias.

Comentário

SIGNIFICADOAs gopīs lembravam-se de todas as qualidades transcendentais de Kṛṣṇa mencionadas neste verso. A maneira elegante como Kṛṣṇa Se vestia e as belas flores azuis colocadas sobre Suas orelhas excitavam os desejos românticos das gopīs, e quando Ele derramava em Sua flauta o néctar de Seus lábios, elas simplesmente ficavam perdidas de amor extático por Ele.

Texto

iti veṇu-ravaṁ rājan
sarva-bhūta-manoharam
śrutvā vraja-striyaḥ sarvā
varṇayantyo ’bhirebhire

Sinônimos

iti — assim; veṇu-ravam — a vibração da flauta; rājan — ó rei Parīkṣit; sarva-bhūta — de todos os seres vivos; manaḥ-haram — que rouba a mente; śrutvā — ouvindo; vraja-striyaḥ — as senhoras que estavam na vila de Vraja; sarvāḥ — todas elas; varṇayantyaḥ — ocupadas em descrever; abhirebhire — abraçavam-se umas às outras.

Tradução

Ó rei, quando ouviram o som da flauta de Kṛṣṇa, que rouba a mente de todos os seres vivos, todas as jovens senhoras de Vraja abraçaram-se umas às outras e começaram a descrever esse som.

Comentário

SIGNIFICADOA palavra iti nesta passagem indica que, depois de perderem a fala por causa da lembrança de Kṛṣṇa, as donzelas de Vraja, então, recuperaram a serenidade e, dessa maneira, foram capazes de descrever em êxtase o som da flauta de Kṛṣṇa. Conforme algumas gopīs começaram a cantar alto e as outras gopīs perceberam que partilhavam do mesmo amor extático em seus corações, todas elas começaram a se abraçar umas às outras, imersas em amor conjugal pelo jovem Kṛṣṇa.

Texto

śrī-gopya ūcuḥ
akṣaṇvatāṁ phalam idaṁ na paraṁ vidāmaḥ
sakhyaḥ paśūn anuviveśayator vayasyaiḥ
vaktraṁ vrajeśa-sutayor anaveṇu-juṣṭaṁ
yair vā nipītam anurakta-kaṭākṣa-mokṣam

Sinônimos

śrī-gopyaḥ ūcuḥ — as gopīs disseram; akṣaṇvatām — daqueles que têm olhos; phalam — o fruto; idam — este; na — não; param — outro; vidāmaḥ — conhecemos; sakhyaḥ — ó amigas; paśūn — as vacas; anu­viveśayatoḥ — fazendo entrar em uma floresta depois da outra; vaya­syaiḥ — com Seus amigos da mesma idade; vaktram — os rostos; vraja-īśa — de Mahārāja Nanda; sutayoḥ — dos dois filhos; anu-veṇu­-juṣṭam — que possuem flautas; yaiḥ — pelos quais; — ou; nipītam — embebido; anurakta — amorosos; kaṭa-akṣa — olhares; mokṣam — dançando.

Tradução

As vaqueirinhas disseram: Ó amigas, os olhos que veem os belos rostos dos filhos de Mahārāja Nanda são certamente afor­tunados. Enquanto esses dois filhos entram na floresta, rodea­dos por Seus amigos, tocando as vacas à Sua frente, Eles levam as flautas à boca e lançam olhares amorosos para os residentes de Vṛndāvana. Para aqueles que têm olhos, julgamos não haver objeto de visão que seja superior.

Comentário

SIGNIFICADOEsta tradução é extraída do Caitanya-caritāmṛta (Ādi-līlā 4.155) de Śrīla Prabhupāda.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comentou o seguinte: “As gopīs intencionavam dizer: ‘Ó amigas, se simplesmente permanecerdes nos grilhões da vida familiar neste mundo material, o que conseguireis ver, afinal? O criador concedeu-nos estes olhos, então vejamos o que há de mais admirável a ser visto: Kṛṣṇa.”

Como sabiam que suas mães ou outras pessoas mais velhas poderiam ouvir com desaprovação suas palavras românticas, as gopīs disseram, então, que akṣaṇvatāṁ phalam: “Ver Kṛṣṇa é a meta para todos e não só para nós.” Em outras palavras, as gopīs sugeriram que, como Kṛṣṇa é o supremo objeto de amor para todos, por que elas também não poderiam amá-lO em êxtase espiritual?

Segundo os ācāryas, este e cada um dos versos seguintes (até o verso 19) foi falado por uma gopī diferente.

Texto

cūta-pravāla-barha-stabakotpalābja
mālānupṛkta-paridhāna-vicitra-veśau
madhye virejatur alaṁ paśu-pāla-goṣṭhyāṁ
raṅge yathā naṭa-varau kvaca gāyamānau

Sinônimos

cūta — de uma mangueira; pravāla — com brotos novos; barha — penas de pavão; stabaka — ramalhetes de flores; utpala — flores de lótus; abja — e lírios; mālā — com guirlandas; anupṛkta — tocadas; paridhā­na — as roupas dEles; vicitra — com grande variedade; veśau — estando vestidos; madhye — no meio; virejatuḥ — Eles dois brilhavam; alam — magnificamente; paśu-pāla — dos vaqueirinhos; goṣṭhyām — dentro da assembleia; raṅge — sobre um palco; yathā — assim como; naṭa­-varau — dois dançarinos muito formidáveis; kvaca — às vezes; gāyamā­nau — cantando.

Tradução

Vestidos com uma encantadora variedade de roupas, sobre as quais repousavam Suas guirlandas, e enfeitando-Se com penas de pavão, flores de lótus, lírios, brotos novos de mangueiras e ramalhetes de botões de flores, Kṛṣṇa e Balarāma brilham de modo magnífico entre os vaqueirinhos reunidos. Eles Se assemelham aos melhores dos dançarinos sobre um palco e, algumas vezes, também cantam.

Comentário

SIGNIFICADOAs gopīs continuam a cantar sua canção extática enquanto lembram os passatempos do Senhor Kṛṣṇa. As gopīs queriam ir à floresta onde Kṛṣṇa realizava Seus passatempos e, permanecendo escondidas, espreitar por entre as folhas das trepadeiras e ver Kṛṣṇa e Balarāma maravilhosamente dançando e cantando com Seus amigos. Era esse o desejo delas, mas, como não podiam ir, cantavam esta canção em amor extático.

Texto

gopyaḥ kim ācarad ayaṁ kuśalaṁ sma veṇur
dāmodarādhara-sudhām api gopikānām
bhuṅkte svayaṁ yad avaśiṣṭa-rasaṁ hradinyo
hṛṣyat-tvaco ’śru mumucus taravo yathāryaḥ

Sinônimos

gopyaḥ — ó gopīs; kim — o que; ācarat — executou; ayam — esta; kuśalam — atividades auspiciosas; sma — com certeza; veṇuḥ — flauta; dāmodara — de Kṛṣṇa; adhara-sudhām — o néctar dos lábios; api — mesmo; gopikānām — que pertence às gopīs; bhuṅkte — desfruta; svayam — independentemente; yat — do qual; avaśiṣṭa — sobrando; rasam — apenas o gosto; hradinyaḥ — os rios; hṛṣyat — sentindo-se alegres; tvacaḥ — cujos corpos; aśru — lágrimas; mumucuḥ — derramam; taravaḥ — as árvores; yathā — exatamente como; āryāḥ — velhos ancestrais.

Tradução

Minhas queridas gopīs, que atividades auspiciosas deve ter realizado a flauta para desfrutar sozinha o néctar dos lábios de Kṛṣṇa e deixar apenas um gostinho para nós, as gopīs, para quem aquele néctar realmente se destina! Os ancestrais da flauta, os bambuzais, derramam lágrimas de prazer. Sua mãe, o rio em cuja margem o bambu nascera, sente alegria, em razão do que suas flores de lótus desabrochantes estão eriçadas como se fossem os pelos de seu corpo.

Comentário

SIGNIFICADOEsta tradução é extraída do Caitanya-caritāmṛta (Antya-līlā 16.140) de Śrīla Prabhupāda.

Sob o disfarce de deixar escorrer seiva, os bambuzais estão, na verdade, derramando lágrimas de êxtase ao ver seu filho tornar-se um elevado devoto-flauta da Suprema Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa.

Sanātana Gosvāmī apresenta uma explicação alternativa: As árvores estão chorando porque se sentem infelizes por não poderem brincar com Kṛṣṇa. Pode-se objetar que as árvores de Vṛndāvana não devem lamentar por aquilo que lhes é impossível obter, assim como um mendigo decerto não lamenta por lhe ser proibido encon­trar-se com o rei. Contudo, as árvores são de fato como pessoas inteligen­tes que sofrem quando não conseguem alcançar a meta da vida. Desse modo, as árvores estão chorando porque não podem obter o néctar dos lábios de Kṛṣṇa.

Texto

vṛndāvanaṁ sakhi bhuvo vitanoti kīṛtiṁ
yad devakī-suta-padāmbuja-labdha-lakṣmi
govinda-veṇum anu matta-mayūra-nṛtyaṁ
prekṣyādri-sānv-avaratānya-samasta-sattvam

Sinônimos

vṛndāvanam — Vṛndāvana; sakhi — ó amiga; bhuvaḥ — da Terra; vitanoti — difunde; kīrtim — as glórias; yat — porque; devakī-suta — do filho de Devakī; pada-ambuja — dos pés de lótus; labdha — recebido; lakṣmi — o tesouro; govinda-veṇum — a flauta de Govinda; anu — ao ouvirem; matta — enlouquecidos; mayūra — dos pavões; nṛtyam — em que existe a dança; prekṣya — vendo; adri-sānu — sobre os picos das colinas; avarata — atônitas; anya — outras; samasta — todas; sattvam — as criaturas.

Tradução

Ó amiga, Vṛndāvana, após ter obtido o tesouro dos pés de lótus de Kṛṣṇa, o filho de Devakī, está difundindo a glória da Terra. Ao ouvirem a flauta de Govinda, os pavões dançam como loucos, e quando outras criaturas os veem dos topos das colinas, todas elas ficam atônitas.

Comentário

SIGNIFICADOŚrīla Śrīdhara Svāmī explica que, em virtude de atividades tais como as descritas neste verso não ocorrerem em nenhum outro mun­do, a Terra é inigualável. De fato, as glórias da Terra são difundidas pela maravilhosa Vṛndāvana porque ela é o lugar dos passatempos de Kṛṣṇa.

Como se afirma no Bṛhad-viṣṇu Purāṇa, o nome Devakī também se refere a mãe Yaśodā:

dve nāmnī nanda-bhāryāyā
yaśodā devakīti ca
ataḥ sakhyam abhūt tasya
devakyā śauri-jāyayā

“A esposa de Nanda tinha dois nomes, Yaśodā e Devakī. Portanto, era natural que ela [a esposa de Nanda] fizesse amizade com Devakī, a esposa de Śauri [Vasudeva].”

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica a kṛṣṇa-līlā da seguin­te maneira: “Em Vṛndāvana, os pavões pedem a Kṛṣṇa: ‘Govinda, por favor, faze-nos dançar.’ Então, Kṛṣṇa toca Sua flauta, e eles O rodeiam e dançam dentro do compasso de Sua melo­dia. E enquanto está de pé no meio da dança deles, o Senhor também canta e dança. Então, aqueles pavões, que estão plenamente satisfei­tos com o desempenho musical do Senhor, oferecem por gratidão e para o Seu prazer suas divinas penas. Da maneira habitual dos músi­cos, Kṛṣṇa aceita com alegria esses presentes e coloca uma pena em Seu turbante. Animais gentis como os veados e as pombas apreciam muito o entretenimento transcendental apresentado por Kṛṣṇa e, para ter uma boa visão, reúnem-se nos picos das colinas. Então, enquanto assistem ao programa de tirar o fôlego, ficam atônitos de êxtase.”

Śrīla Sanātana Gosvāmī comenta que, como Kṛṣṇa anda descalço em Vṛndāvana e assim pode marcar a terra diretamente com os sím­bolos de Seus pés de lótus, essa terra transcendental é ainda mais gloriosa do que Vaikuṇṭha, onde Viṣṇu usa chinelos.

Texto

dhanyāḥ sma mūḍha-gatayo ’pi hariṇya etā
yā nanda-nandanam upātta-vicitra-veśam
ākarṇya veṇu-raṇitaṁ saha-kṛṣṇa-sārāḥ
pūjāṁ dadhur viracitāṁ praṇayāvalokaiḥ

Sinônimos

dhanyāḥ — afortunadas, abençoadas; sma — decerto; mūḍha-ga­tayaḥ — tendo nascido em uma espécie animal ignorante; api — embora; hariṇyaḥ — corças; etāḥ — estas; yāḥ — que; nanda-nandanam — o filho de Mahārāja Nanda; upātta-vicitra-veśam — vestido de maneira muito atraente; ākarṇya — ouvindo; veṇu-raṇitam — o som de Sua flauta; saha­-kṛṣṇa-sārāḥ — acompanhadas pelos veados negros (seus esposos); pūjām dadhuḥ — adoraram; viracitām — executada; praṇaya-avalo­kaiḥ — por seus olhares afetuosos.

Tradução

Bem-aventuradas sejam todas essas tolas corças por terem-se aproximado do filho de Mahārāja Nanda, que Se veste com todo o requinte e toca a Sua flauta. Na verdade, tanto as corças quanto os veados adoram o Senhor com olhares de amor e afeição.

Comentário

SIGNIFICADOEssa tradução é extraída do Caitanya-caritāmṛta (Madhya-līlā 17.36) de Śrīla Prabhupāda.

Segundo os ācāryas, as gopīs pensaram o seguinte: “As corças podem aproximar-se de Kṛṣṇa junto com seus maridos porque Kṛṣṇa é o objeto último de afeto para esses. Por causa de sua afeição por Kṛṣṇa, os veados ficam animados ao verem suas esposas atraídas por Ele e, dessa maneira, consideram afortunada sua vida familiar. De fato, sentem-se jubilosos ao verem como suas esposas buscam por Kṛṣṇa e, seguindo-as, incentivam-nas a ir até o Senhor. Por outro lado, nossos esposos têm ciúme de Kṛṣṇa e, porque carecem de devoção por Ele, não suportam nem mesmo o aroma de Seu perfume. Portanto, para que servem nossas vidas?”

Texto

kṛṣṇaṁ nirīkṣya vanitotsava-rūpa-śīlaṁ
śrutvā ca tat-kvaṇita-veṇu-vivikta-gītam
devyo vimāna-gatayaḥ smara-nunna-sārā
bhraśyat-prasūna-kabarā mumuhur vinīvyaḥ

Sinônimos

kṛṣṇam — o Senhor Kṛṣṇa; nirīkṣya — observando; vanitā — para todas as mulheres; utsava — um festival; rūpa — cuja beleza; śīlam — e caráter; śrutvā — ouvindo; ca — e; tat — por Ele; kvaṇita — vibrado; veṇu — da flauta; vivikta — claro; gītam — canto; devyaḥ — as esposas dos semideuses; vimāna-gatayaḥ — viajando em seus aeroplanos; smara — pelo Cupido; nunna — agitados; sārāḥ — seus corações; bhraśyat — escorregando; prasūna-kabarāḥ — as flores atadas em seus cabelos; mumuhuḥ — elas ficaram confusas; vinīvyaḥ — seus cintos se afrouxam.

Tradução

A beleza e o caráter de Kṛṣṇa promovem um festival para todas as mulheres. De fato, quando as esposas dos semideuses, voando em aeroplanos com seus maridos, avistam-nO e ouvem a música ressonante de Sua flauta, seus corações são abalados pelo Cupido, e elas ficam tão confusas que as flores caem de seus cabelos e seus cintos se afrouxam.

Comentário

SIGNIFICADOEm Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda comenta: “[Este verso indica] que o som da flauta de Kṛṣṇa se estendia a todos os cantos do universo. Também é significativo que as gopīs conhecessem as diferentes espécies de aeroplanos que voavam no céu.”

De fato, mesmo sentadas no colo de seus esposos, as semideusas ficavam agitadas ao ouvirem o som da flauta de Kṛṣṇa. Por isso, as gopīs pensavam que elas mesmas não deviam ser censuradas por sentirem extática atração conjugal por Kṛṣṇa, que afinal era um vaqueirinho de sua própria vila e, portanto, um objeto natural para o seu amor. Se até mesmo semideusas enlouqueciam por Kṛṣṇa, como pobres vaqueirinhas terrestres da própria vila de Kṛṣṇa poderiam evitar que seus corações fossem completamente conquistados por Seus olha­res amorosos e pelos sons de Sua flauta?

As gopīs também consideraram que os semideuses, embora observassem a atração de suas esposas por Kṛṣṇa, não ficavam com inveja. Na verdade, os semideuses são muito refinados em cultura e inteligência e, em virtude disso, quando voam em seus aeroplanos, costumam levar suas esposas consigo para ver Kṛṣṇa. As gopīs pensaram: “Nossos esposos, por outro lado, são invejosos. Portanto, até mesmo as corças inferiores estão em uma situação melhor do que a nossa, e as semideusas também são muito afortunadas, ao passo que nós, pobres seres hu­manos em uma posição intermediária, somos muito desafortunadas.”

Texto

gāvaś ca kṛṣṇa-mukha-nirgata-veṇu-gīta
pīyūṣam uttabhita-karṇa-puṭaiḥ pibantyaḥ
śāvāḥ snuta-stana-payaḥ-kavalāḥ sma tasthur
govindam ātmani dṛśāśru-kalāḥ spṛśantyaḥ

Sinônimos

gāvaḥ — as vacas; ca — e; kṛṣṇa-mukha — da boca do Senhor Kṛṣṇa; nirgata — emitido; veṇu — da flauta; gīta — do canto; pīyūṣam — o néctar; uttabhita — bem levantadas; karṇa — com suas orelhas; puṭaiḥ — que faziam o papel de vasilhas; pibantyaḥ — bebendo; śāvāḥ — os bezer­ros; snuta — derramando; stana — de suas tetas; payaḥ — o leite; ka­valāḥ — cujos goles; sma — de fato; tasthuḥ — ficavam imóveis; govin­dam — o Senhor Kṛṣṇa; ātmani — dentro de suas mentes; dṛśā — com sua visão; aśru-kalāḥ — seus olhos cheios de lágrimas; spṛśantyaḥ — ­tocando.

Tradução

Usando como vasilhas suas orelhas levantadas, as vacas estão bebendo o néctar do som da flauta que flui da boca de Kṛṣṇa. Os bezerros, com suas bocas cheias de leite proveniente das tetas úmidas de suas mães, ficam imóveis enquanto trazem Govinda para dentro de si através de seus olhos cheios de lágrimas e abraçam-nO em seus corações.

Texto

prāyo batāmba vihagā munayo vane ’smin
kṛṣṇekṣitaṁ tad-uditaṁ kala-veṇu-gītam
āruhya ye druma-bhujān rucira-pravālān
śṛṇvanti mīlita-dṛśo vigatānya-vācaḥ

Sinônimos

prāyaḥ — quase; bata — decerto; amba — ó mãe; vihagāḥ — os pássaros; munayaḥ — grandes sábios; vane — na floresta; asmin — esta; kṛṣṇa-īkṣitam — a fim de ver Kṛṣṇa; tat-uditam — criadas por Ele; kala-veṇu-gītam — doces vibrações produzidas pelo tocar da flauta; āruhya — subindo; ye — que; druma-bhujān — aos galhos das árvores; rucira-pravālān — tendo belas trepadeiras e ramos; śṛṇvanti — ouvem; mīlita-dṛśaḥ — fechando os olhos; vigata-anya-vācaḥ — parando todos os outros sons.

Tradução

Ó mãe, todos os pássaros nesta floresta subiram aos belos galhos das árvores para ver Kṛṣṇa. De olhos fechados, estão apenas escutando em silêncio as doces vibrações de Sua flauta e não sentem atração por nenhum outro som. Sem dúvida, esses pássaros estão no mesmo nível de grandes sábios.

Comentário

SIGNIFICADOOs pássaros assemelham-se a sábios porque vivem na floresta, mantêm os olhos fechados, guardam silêncio e ficam imóveis. De forma significativa, aqui se afirma que até os grandes sábios enlouquecem com o som da flauta de Kṛṣṇa, o qual é uma vibração com­pletamente espiritual.

A expressão rucira-pravālān indica que mesmo os galhos das árvores ficam em êxtase quando atingidos pela vibração da flauta de Kṛṣṇa. Indra, Brahmā, Śiva e Viṣṇu, sendo deuses primordiais, viajam por todo o universo e têm amplo conhecimento da ciência musical; ainda assim, nem mesmo essas grandes personalidades já ouvi­ram ou compuseram música como a que emana da flauta de Kṛṣṇa. De fato, os pássaros ficam tão comovidos com o som bem-aventurado que, em seu êxtase, fecham os olhos e agarram-se aos galhos para não caírem das árvores.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica que as gopīs às vezes costumavam chamar umas às outras de amba, “mãe”.

Texto

nadyas tadā tad upadhārya mukunda-gītam
āvarta-lakṣita-manobhava-bhagna-vegāḥ
āliṅgana-sthagitam ūrmi-bhujair murārer
gṛhṇanti pāda-yugalaṁ kamalopahārāḥ

Sinônimos

nadyaḥ — os rios; tadā — então; tat — isto; upadhārya — perceben­do; mukunda — do Senhor Kṛṣṇa; gītam — a canção de Sua flauta; āvarta — por seus redemoinhos; lakṣita — manifesto; manaḥ-bhava — pelo seu desejo conjugal; bhagna — quebradas; vegāḥ — suas corren­tes; āliṅgana — por seu abraço; sthagitam — mantidos estacionários; ūrmi-bhujaiḥ — pelos braços de suas ondas; murāreḥ — do Senhor Murāri; gṛhṇanti — agarram; pāda-yugalam — os dois pés de lótus; kamala-upahārāḥ — levando oferendas de flores de lótus.

Tradução

Quando os rios ouvem o som da flauta de Kṛṣṇa, suas mentes começam a desejá-lO, e assim rompe-se o fluxo de suas correntes e suas águas se agitam, formando redemoinhos. Então, com os braços de suas ondas, os rios abraçam os pés de lótus de Murāri e, agarrando-se a eles, presenteiam-nos com oferendas de flores de lótus.

Comentário

SIGNIFICADOMesmo extensões de águas sagradas tais como o Yamunā e o Mānasa-gaṅgā ficam encantadas com o som da flauta e, dessa ma­neira, ficam perturbadas pela atração conjugal ao jovem Kṛṣṇa. As gopīs estão deduzindo que, como muitas diferentes espécies de seres vivos são dominadas pelo amor conjugal a Kṛṣṇa, por que as gopīs deveriam ser criticadas por seu intenso desejo de servir a Kṛṣṇa na relação conjugal?

Texto

dṛṣṭvātape vraja-paśūn saha rāma-gopaiḥ
sañcārayantam anu veṇum udīrayantam
prema-pravṛddha uditaḥ kusumāvalībhiḥ
sakhyur vyadhāt sva-vapuṣāmbuda ātapatram

Sinônimos

dṛṣṭvā — vendo; ātape — em pleno calor do sol; vraja-paśūn — os animais domésticos de Vraja; saha — junto de; rāma-gopaiḥ — o Senhor Balarāma e os vaqueirinhos; sañcārayantam — apascentando juntos; anu — repetidamente; veṇum — Sua flauta; udīrayantam — tocando alto; prema — por amor; pravṛddhaḥ — expandido; uditaḥ — elevando-se; kusuma-āvalībhiḥ — (com gotículas de água, que são como) buquês de flores; sakhyuḥ — para seu amigo; vyadhāt — construiu; sva-­vapuṣā — de seu próprio corpo; ambudaḥ — a nuvem; ātapatram — um guarda-sol.

Tradução

Em companhia de Balarāma e dos vaqueirinhos, o Senhor Kṛṣṇa está sempre vibrando Sua flauta enquanto apascenta todos os animais de Vraja, mesmo sob o pleno calor do sol de verão. Ao ver isso, a nuvem no céu, tomada por amor, expande-se. Ela se ergue bem alto e constrói a partir de seu próprio corpo, com sua multidão de gotículas de água semelhantes a flores, um guarda-­sol para o seu amigo.

Comentário

SIGNIFICADOŚrīla Prabhupāda diz em seu Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus: “O calor escaldante do sol de verão era às vezes intolerável, e, por isso, as nuvens no céu apareciam compassivas sobre Kṛṣṇa, Balarāma e Seus amigos enquanto se ocupavam em tocar suas flautas. As nuvens serviam como um guarda-sol refrescante sobre suas cabeças apenas para fazer amizade com Kṛṣṇa.”

Texto

pūrṇāḥ pulindya urugāya-padābja-rāga
śrī-kuṅkumena dayitā-stana-maṇḍitena
tad-darśana-smara-rujas tṛṇa-rūṣitena
limpantya ānana-kuceṣu jahus tad-ādhim

Sinônimos

pūrṇāḥ — plenamente satisfeitas; pulindyaḥ — as esposas da tribo Śabara; urugāya — do Senhor Kṛṣṇa; pada-abja — dos pés de lótus; rāga — de cor avermelhada; śrī-kuṅkumena — pelo transcendental pó de kuṅkuma; dayitā — de Suas namoradas; stana — os seios; maṇḍite­na — que tinha decorado; tat — daquele; darśana — pela visão; sma­ra — do Cupido; rujaḥ — sentindo o tormento; tṛṇa — sobre as folhas de grama; rūṣitena — fixado; limpantyaḥ — passando; ānana — sobre seus rostos; kuceṣu — e seios; jahuḥ — abandonaram; tat — aquela; ādhim — dor mental.

Tradução

As mulheres aborígenes da região de Vṛndāvana ficam perturbadas pela luxúria ao verem a grama marcada com o pó de kuṅkuma vermelho. Enriquecido com a cor dos pés de lótus de Kṛṣṇa, esse pó originalmente decorava os seios de Suas amadas, e quando as mulheres aborígenes o passam em suas faces e seios, elas abandonam toda ansiedade.

Comentário

SIGNIFICADOŚrīla Prabhupāda explica este verso da seguinte maneira: “As licenciosas moças aborígenes também ficaram plenamente satisfeitas ao passarem em seus rostos e seios a poeira de Vṛndāvana, que era avermelhada devido ao contato com os pés de lótus de Kṛṣṇa. As moças aborígenes tinham seios muito volumosos e também eram muito luxuriosas, mas, quando seus amantes tocavam seus seios, elas não ficavam muito satisfeitas. Quando adentraram a floresta, elas viram que, conforme Kṛṣṇa caminhava, algumas das folhas e trepadeiras de Vṛndāvana ficavam tingidas com o pó de kuṅkuma vermelho que caía de Seus pés de lótus. As gopīs colocavam os pés de lótus do Senhor em seus seios, que também eram decorados com pó de kuṅkuma, mas, quando Kṛṣṇa passeava pela floresta de Vṛndāvana com Balarāma e Seus amigos, o pó avermelhado caía no chão da floresta de Vṛndāvana. Assim, as luxuriosas moças aborígenes, en­quanto olhavam Kṛṣṇa tocar flauta, viam o pó de kuṅkuma verme­lho no chão e logo o pegavam e passavam em seus rostos e seios. Dessa maneira, elas se sentiam plenamente satisfeitas, embora não ficassem satisfeitas quando seus amantes tocavam seus seios. Todos os desejos materiais luxuriosos podem ser satisfeitos de imediato por alguém que entra em contato com a consciência de Kṛṣṇa.

Texto

hantāyam adrir abalā hari-dāsa-varyo
yad rāma-kṛṣṇa-caraṇa-sparaśa-pramodaḥ
mānaṁ tanoti saha-go-gaṇayos tayor yat
pānīya-sūyavasa-kandara-kandamūlaiḥ

Sinônimos

hanta — oh!; ayam — esta; adriḥ — colina; abalāḥ — ó amigas; hari­-dāsa-varyaḥ — o melhor dentre os servos do Senhor; yat — porque; rāma-kṛṣṇa-caraṇa — dos pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa e Balarāma; sparaśa — pelo toque; pramodaḥ — alegre; mānam — respeitos; tano­ti — presta; saha — com; go-gaṇayoḥ — as vacas, bezerros e vaqueiri­nhos; tayoḥ — a Eles (Śrī Kṛṣṇa e Balarāma); yat — porque; pānīya — com água potável; sūyavasa — grama bem macia; kandara — caver­nas; kanda-mūlaiḥ — e raízes comestíveis.

Tradução

De todos os devotos, esta colina Govardhana é o melhor! Ó minhas amigas, esta colina fornece a Kṛṣṇa e Balarāma, bem como a Seus bezerros, vacas e amigos vaqueirinhos todos os ar­tigos de primeira necessidade – água potável, grama bem macia, cavernas, frutas, flores e vegetais. Dessa maneira, a colina presta respeitos ao Senhor. Ao ser tocada pelos pés de lótus de Kṛṣṇa e Balarāma, a colina Govardhana parece muito satisfeita.

Comentário

SIGNIFICADOEsta tradução é extraída do Caitanya-caritāmṛta (Madhya 18.34) de Śrīla Prabhupāda.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica desta maneira a opulência da colina Govardhana: Pānīya refere-se à água fresca e fra­grante das cascatas de Govardhana, que Kṛṣṇa e Balarāma bebem e usam para lavar os pés e a boca. Govardhana também oferece outras bebidas, tais como mel, suco de manga e suco de pīlu. Sūyavasa in­dica a grama dūrvā, usada para fazer a oferenda religiosa de arghya. Govardhana também tem uma espécie de grama que é fragrante, macia e que serve para fortalecer as vacas e aumentar a produção de leite. Assim, essa grama é usada para alimentar os rebanhos transcendentais. Kandara refere-se às grutas onde Kṛṣṇa, Balarāma e Seus amigos brincam, sentam-se e deitam-se. Essas grutas dão prazer quando o clima está muito quente ou muito frio, ou quando está chovendo. Govardhana também tem raízes tenras para comer, joias para ornamentar o corpo, lugares planos para sentar-se e lamparinas e espelhos sob a forma de pedras lisas, água cintilante e outras substâncias naturais.

Texto

gā gopakair anu-vanaṁ nayator udāra
veṇu-svanaiḥ kala-padais tanu-bhṛtsu sakhyaḥ
aspandanaṁ gati-matāṁ pulakas taruṇāṁ
niryoga-pāśa-kṛta-lakṣaṇayor vicitram

Sinônimos

gāḥ — as vacas; gopakaiḥ — com os vaqueirinhos; anu-vanam — a cada floresta; nayatoḥ — conduzindo; udāra — muito liberais; veṇu­-svanaiḥ — pelas vibrações da flauta do Senhor; kala-padaiḥ — tendo doces tons; tanu-bhṛtsu — entre as entidades vivas; sakhyaḥ — ó ami­gas; aspandanam — a falta de movimento; gati-matām — daquelas entidades vivas que podem mover-se; pulakaḥ — o júbilo extático; taruṇām — das árvores que, de outro modo, não se movem; niryoga-­pāśa — as cordas para amarrar as patas traseiras das vacas; kṛta-­lakṣaṇayoḥ — daqueles dois (Kṛṣṇa e Balarāma), que são caracteriza­dos por; vicitram — admirável.

Tradução

Minhas queridas amigas, ao passarem pela floresta com Seus amigos vaqueirinhos, conduzindo as vacas, Kṛṣṇa e Balarāma levam cordas para amarrar-lhes as patas traseiras na hora da ordenha. Quando o Senhor Kṛṣṇa toca Sua flauta, a doce músi­ca faz com que as entidades vivas móveis fiquem em um estado de estupor e que as árvores inertes tremam de êxtase. Tudo isso é certamente muito admirável.

Comentário

SIGNIFICADOKṛṣṇa e Balarāma algumas vezes usavam Suas cordas de vaqueiro na cabeça, outras vezes nos ombros, e, dessa maneira, andavam com os belos enfeites do equipamento completo de vaqueirinho.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica que as cordas de Kṛṣṇa e Balarāma são feitas de tecido amarelo e têm feixes de pérolas nas duas pontas. Às vezes, Eles usam essas cordas em volta dos turban­tes, de modo que as cordas se transformam em belos adornos.

Texto

evaṁ-vidhā bhagavato
yā vṛndāvana-cāriṇaḥ
varṇayantyo mitho gopyaḥ
krīḍās tan-mayatāṁ yayuḥ

Sinônimos

evam-vidhāḥ — tais; bhagavataḥ — da Suprema Personalidade de Deus; yāḥ — as quais; vṛndāvana-cāriṇaḥ — que perambulava pela floresta de Vṛndāvana; varṇayantyaḥ — ocupadas em descrever; mithaḥ — entre elas; gopyaḥ — as gopīs; krīḍāḥ — os passatempos; tat-mayatām — plenitude em meditação extática nEle; yayuḥ — elas alcançaram.

Tradução

Narrando assim umas às outras os passatempos pueris que a Suprema Personalidade de Deus realizava enquanto perambula­va pela floresta de Vṛndāvana, as gopīs absorveram-se por com­pleto em pensar nEle.

Comentário

SIGNIFICADOA esse respeito, Śrīla Prabhupāda comenta: “Este é o perfeito exemplo de consciência de Kṛṣṇa: de um modo ou de outro, estar sempre absorto em pensamentos sobre Kṛṣṇa. O exemplo vívido está sempre presente no comportamento das gopīs, daí o Senhor Caitanya ter declarado que ninguém pode adorar o Senhor Supremo seguindo algum método que seja melhor do que o método das gopīs. As gopīs não tinham nascido em famílias muito elevadas de brāhmaṇas ou kṣatriyas; elas tinham nascido em famílias de vaiśyas, e não em grandes comunidades mercantis, mas em famílias de vaqueiros. Elas não tinham uma educação refinada, embora ouvissem todo tipo de conhecimento dos brāhmaṇas, as autoridades do conhecimento védico. O único propósito das gopīs era permanecer sempre absortas pensando em Kṛṣṇa.”

Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhu­pāda referentes ao décimo canto, vigésimo primeiro capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “As Gopīs Glorificam a Canção da Flauta de Kṛṣṇa”.