CAPÍTULO VINTE
A Estação das Chuvas e o Outono em Vṛndāvana
Para realçar a descrição dos passatempos do Senhor Kṛṣṇa, Śrī Śukadeva Gosvāmī descreve neste capítulo a beleza de Vṛndāvana durante o outono e a estação das chuvas. No decorrer de sua apresentação, ele fornece várias instruções encantadoras em termos metafóricos.
Texto
tayos tad adbhutaṁ karma
dāvāgner mokṣam ātmanaḥ
gopāḥ strībhyaḥ samācakhyuḥ
pralamba-vadham eva ca
Sinônimos
śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; tayoḥ — dEles dois, o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Balarāma; tat — aquela; adbhutam — espantosa; karma — ação; dāva-agneḥ — do incêndio da floresta; mokṣam — a libertação; ātmanaḥ — deles mesmos; gopāḥ — os vaqueirinhos; strībhyaḥ — às senhoras; samācakhyuḥ — descreveram em detalhes; pralamba-vadham — a morte de Pralambāsura; eva — de fato; ca — também.
Tradução
Śukadeva Gosvāmī disse: Às senhoras de Vṛndāvana, os vaqueirinhos então relataram com todos os detalhes as admiráveis atividades de como Kṛṣṇa e Balarāma os salvaram do incêndio da floresta e mataram o demônio Pralamba.
Texto
tad upākarṇya vismitāḥ
menire deva-pravarau
kṛṣṇa-rāmau vrajaṁ gatau
Sinônimos
gopa-vṛddhāḥ — os vaqueiros mais velhos; ca — e; gopyaḥ — as esposas dos vaqueiros; ca — também; tat — isto; upākarṇya — ouvindo; vismitāḥ — surpresos; menire — consideraram; deva-pravarau — dois eminentes semideuses; kṛṣṇa-rāmau — os irmãos Kṛṣṇa e Balarāma; vrajam — a Vṛndāvana; gatau — vindos.
Tradução
Os vaqueiros mais velhos e suas esposas ficaram atônitos ao ouvirem esta narração, então concluíram que Kṛṣṇa e Balarāma deviam ser grandes semideuses que haviam aparecido em Vṛndāvana.
Texto
sarva-sattva-samudbhavā
vidyotamāna-paridhir
visphūrjita-nabhas-talā
Sinônimos
tataḥ — então; prāvartata — começou; prāvṛṭ — a estação das chuvas; sarva-sattva — de todos os seres vivos; samudbhavā — a fonte de geração; vidyotamāna — reluzindo com relâmpagos; paridhiḥ — seu horizonte; visphūrjita — agitado (por trovão); nabhaḥ-talā — o céu.
Tradução
Então, começou a estação das chuvas, dando vida e sustento a todos os seres vivos. O céu retumbava com trovões, e relâmpagos reluziam no horizonte.
Texto
sa-vidyut-stanayitnubhiḥ
aspaṣṭa-jyotir ācchannaṁ
brahmeva sa-guṇaṁ babhau
Sinônimos
sāndra — densas; nīla — azuis; ambudaiḥ — pelas nuvens; vyoma — o céu; sa-vidyut — junto com relâmpago; stanayitnubhiḥ — e trovão; aspaṣṭa — difusa; jyotiḥ — sua iluminação; ācchannam — coberta; brahma — a alma espiritual; iva — como se; sa-guṇam — com as qualidades materiais da natureza; babhau — era manifesta.
Tradução
O céu ficou encoberto por densas nuvens azuis acompanhadas de relâmpagos e trovões. Dessa maneira, o céu e sua iluminação natural ficaram cobertos da mesma forma que a alma espiritual fica coberta pelos três modos da natureza material.
Comentário
SIGNIFICADO—Compara-se o relâmpago ao modo da bondade, o trovão ao modo da paixão, e as nuvens ao modo da ignorância. Assim, o céu nublado no começo da estação das chuvas é análogo à alma espiritual pura quando esta fica perturbada pelos modos da natureza, pois, nesse momento, ela fica encoberta, e sua natureza original brilhante se reflete apenas opacamente através da névoa das qualidades materiais.
Texto
bhūmyāś coda-mayaṁ vasu
sva-gobhir moktum ārebhe
parjanyaḥ kāla āgate
Sinônimos
aṣṭau — oito; māsān — durante os meses; nipītam — bebida; yat — que; bhūmyāḥ — da terra; ca — e; uda-mayam — que consiste em água; vasu — a riqueza; sva-gobhiḥ — por seus próprios raios; moktum — liberar; ārebhe — começou; parjanyaḥ — o Sol; kāle — o tempo apropriado; āgate — quando chegou.
Tradução
Com seus raios, o Sol bebera durante oito meses a riqueza da terra sob a forma de água. Agora que havia chegado o momento apropriado, o Sol começou a liberar essa riqueza acumulada.
Comentário
SIGNIFICADO—Os ācāryas comparam a ação do Sol que evapora a riqueza da terra – a água – a um rei que arrecada impostos. No vigésimo capítulo de Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda explica da seguinte maneira essa analogia: “As nuvens são água acumulada que o Sol extrai da terra. Durante oito meses seguidos, o Sol evapora todo tipo de água da superfície do globo, e essa água se acumula na forma de nuvens, que são distribuídas como água quando há necessidade. De forma semelhante, o governo cobra vários impostos dos cidadãos taxando suas diferentes atividades materiais, tais como agricultura, comércio e indústria; o governo também cobra impostos na forma de imposto de renda e imposto sobre venda. Isso se compara ao Sol extrair água da terra. Quando de novo há necessidade de água na superfície do globo, o mesmo Sol converte a nuvem em água e a distribui por todo o globo. Igualmente, os impostos cobrados pelo governo devem ser redistribuídos ao povo, através de obras educacionais, públicas, de saneamento etc. Isso é essencial para um bom governo. O governo não deve simplesmente cobrar impostos para esbanjamento inútil; a cobrança de impostos deve ser usada para o bem-estar geral do Estado.”
Texto
caṇḍa-śvasana-vepitāḥ
prīṇanaṁ jīvanaṁ hy asya
mumucuḥ karuṇā iva
Sinônimos
taḍit-vantaḥ — exibindo relâmpagos; mahā-meghāḥ — as grandes nuvens; caṇḍa — feroz; śvasana — pelo vento; vepitāḥ — agitadas; prīṇanam — o prazer; jīvanam — sua vida (sua água); hi — de fato; asya — deste mundo; mumucuḥ — soltavam; karuṇāḥ — personalidades misericordiosas; iva — assim como.
Tradução
Reluzindo com relâmpagos, grandes nuvens eram agitadas e varridas por ventos ferozes. Assim como pessoas misericordiosas, as nuvens davam suas vidas em prol do prazer deste mundo.
Comentário
SIGNIFICADO—Assim como eminentes personalidades compassivas às vezes dão suas vidas ou riquezas em prol da felicidade da sociedade, as nuvens de chuva despejavam sua chuva sobre a terra ressequida. Embora se dissipassem dessa maneira, as nuvens proviam chuva de graça para a felicidade da terra.
Em Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda faz o seguinte comentário sobre este verso: “Durante a estação das chuvas, há ventos fortes soprando por todo o país e levando as nuvens de um lugar para outro para distribuir água. Quando há necessidade urgente de água depois da estação do verão, as nuvens são como um homem rico que, em tempos de necessidade, distribui seu dinheiro mesmo esgotando todo o seu tesouro. Assim também, as nuvens se esgotam distribuindo água por toda a superfície do globo.”
O comentário de Śrīla Prabhupāda continua: “Quando Mahārāja Daśaratha, pai do Senhor Rāmacandra, lutava contra seus inimigos, era como um agricultor arrancando pela raiz plantas e árvores desnecessárias. E quando dava caridade, ele distribuía dinheiro exatamente como a nuvem distribui chuva. A distribuição da chuva pelas nuvens é tão suntuosa que se compara à distribuição de riqueza por uma pessoa de grande generosidade. O volume de água da nuvem é tão abundante que as chuvas caem até mesmo sobre rochas e colinas e sobre o oceano e os mares, onde não há necessidade de água. É como uma pessoa caridosa que abre seu tesouro para distribuição e que não discrimina se a caridade é necessária ou não. Ele faz caridade prodigamente.”
Em linguagem metafórica, o relâmpago nas nuvens de chuva significa a luz pela qual elas veem a condição aflitiva da terra, e os ventos que sopram são sua pesada respiração, como a de alguém aflito. Angustiadas ao verem a condição da terra, as nuvens tremem com o vento assim como uma pessoa compassiva. Elas, então, derramam suas chuvas.
Texto
āsīd varṣīyasī mahī
yathaiva kāmya-tapasas
tanuḥ samprāpya tat-phalam
Sinônimos
tapaḥ-kṛśā — emaciada pelo calor do verão; deva-mīḍhā — misericordiosamente borrifada pelo deus da chuva; āsīt — tornou-se; varṣīyasī — completamente nutrida; mahī — a terra; yathā eva — assim como; kāmya — baseadas no gozo dos sentidos; tapasaḥ — de alguém cujas austeridades; tanuḥ — o corpo; samprāpya — após obter; tat — daquelas práticas austeras; phalam — o fruto.
Tradução
A terra, que ficara emaciada devido ao calor do verão, voltou a se nutrir completamente quando umedecida pelo deus da chuva. Dessa maneira, a terra era como alguém cujo corpo ficou emaciado em virtude de austeridades toleradas com um propósito material, mas que de novo se nutre muito bem quando obtém o fruto daquelas austeridades.
Comentário
SIGNIFICADO—Em Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, Śrīla Prabhupāda faz o seguinte comentário sobre este verso: “Antes das chuvas chegarem, toda a superfície do globo quase se esgota de todo tipo de energia e parece pouco produtiva. Depois das chuvas, toda a superfície da terra cobre-se de vegetação, parecendo estar muito saudável e vigorosa. Pode-se comparar a alguém que se submete a austeridades para alcançar algum desejo material. O estado florescente da terra depois da estação das chuvas compara-se ao cumprimento de desejos materiais. Às vezes, quando um país é subjugado por um governo indesejável, pessoas e partidos passam por penitências e austeridades severas para alcançar o controle do governo, e, quando o conseguem, elas prosperam dando generosos salários. Esse ganho temporário também se assemelha ao florescimento da terra depois da estação das chuvas. De fato, só devemos nos submeter a severas austeridades e penitências se forem para alcançarmos a felicidade espiritual. No Śrīmad-Bhāgavatam, recomenda-se que se aceite tapasya, ou austeridade, para se compreender o Senhor Supremo. É possível recuperar a vida espiritual ao se aceitar austeridade no serviço devocional. Tendo recuperado a espiritualidade, a pessoa goza de bem-aventurança espiritual ilimitada. Contudo, se alguém empreende austeridades e penitências para conseguir algum ganho material, afirma-se na Bhagavad-gītā que os resultados são temporários e são desejados por pessoas pouco inteligentes.”
Texto
tamasā bhānti na grahāḥ
yathā pāpena pāṣaṇḍā
na hi vedāḥ kalau yuge
Sinônimos
niśā-mukheṣu — durante os momentos do crepúsculo vespertino; khadyotāḥ — os vagalumes; tamasā — por causa da escuridão; bhānti — brilham; na — não; grahāḥ — os planetas; yathā — como; pāpena — por causa de atividades pecaminosas; pāṣaṇḍāḥ — doutrinas ateístas; na — e não; hi — decerto; vedāḥ — os Vedas; kalau yuge — na era de Kali.
Tradução
No crepúsculo vespertino, durante a estação das chuvas, a escuridão permitia que os vagalumes brilhassem, mas não as estrelas, assim como, na era de Kali, a predominância de atividades pecaminosas permite que as doutrinas ateístas ofusquem o verdadeiro conhecimento dos Vedas.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda faz o seguinte comentário: “Durante a estação das chuvas, à noite, veem-se por toda parte muitos vaga-lumes nas copas das árvores, brilhando como luzes. Porém, os corpos luminosos do céu, as estrelas e a Lua, não são visíveis. Igualmente, na era de Kali, as pessoas que são ateístas ou canalhas ficam muito em evidência, ao passo que as pessoas que de fato estão seguindo os princípios védicos para a emancipação espiritual são praticamente ofuscadas. Esta era, Kali-yuga, compara-se à estação nublada das entidades vivas. Nesta era, o verdadeiro conhecimento é encoberto pela influência do avanço da civilização material. Os especuladores mentais baratos, ateístas e fabricantes de falsos princípios religiosos tornam-se evidentes como os vaga-lumes, ao passo que as pessoas que seguem à risca os princípios védicos ou preceitos das escrituras são encobertos pelas nuvens da era.” Śrīla Prabhupāda continua: “Todos devem aprender a beneficiar-se com os verdadeiros astros do céu – o Sol, a Lua e as estrelas –, em vez de buscar a luz do vagalume. Na realidade, os vagalumes não podem iluminar nada na escuridão da noite. Assim como às vezes as nuvens desaparecem, mesmo na estação das chuvas, e a Lua, as estrelas e o Sol tornam-se visíveis –, da mesma forma, há vantagens eventualmente até mesmo em Kali-yuga. O movimento védico do Senhor Caitanya – a distribuição do cantar do mantra Hare Kṛṣṇa – é visto dessa maneira. Pessoas seriamente ávidas por encontrar a verdadeira vida devem beneficiar-se com este movimento, em vez de se voltarem para a dita luz dos especuladores mentais e dos ateístas.”
Texto
maṇḍukāḥ sasṛjur giraḥ
tūṣṇīṁ śayānāḥ prāg yadvad
brāhmaṇā niyamātyaye
Sinônimos
śrutvā — ouvindo; parjanya — das nuvens de chuva; ninadam — o ressoar; maṇḍukāḥ — as rãs; sasṛjuḥ — emitiram; giraḥ — seus sons; tūṣṇīm — em silêncio; śayānāḥ — deitadas; prāk — anteriormente; yadvat — assim como; brāhmaṇāḥ — estudantes brāhmaṇas; niyama-atyaye — depois de terminarem seus deveres matinais.
Tradução
As rãs, que tinham permanecido em silêncio o tempo todo, de repente começaram a coaxar ao ouvirem o ribombar das nuvens de chuva, do mesmo modo que os estudantes brāhmaṇas, que executam seus deveres matinais em silêncio, começam a recitar suas lições quando chamados pelo mestre.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Depois da primeira chuva, quando troveja nas nuvens, todas as rãs começam a coaxar, como estudantes que de repente se põem a ler seus estudos. Em geral, supõe-se que os estudantes se levantam de manhã cedo. Todavia, eles não costumam se levantar sozinhos, mas apenas quando toca o sino do templo ou da instituição cultural. Pela ordem do mestre espiritual, eles se levantam imediatamente e, depois de terminarem seus deveres matutinos, sentam-se para estudar os Vedas ou cantar mantras védicos. O mundo inteiro está dormindo na escuridão de Kali-yuga, mas, quando aparece um grande ācārya, todos adotam o estudo dos Vedas para adquirir o verdadeiro conhecimento somente por causa de seu chamado.”
Texto
kṣudra-nadyo ’nuśuṣyatīḥ
puṁso yathāsvatantrasya
deha-draviṇa-sampadaḥ
Sinônimos
āsan — tornaram-se; utpatha-gāminyaḥ — desviados de seus cursos; kṣudra — insignificantes; nadyaḥ — os rios; anuśuṣyatīḥ — secando-se; puṁsaḥ — de alguém; yathā — como; asvatantrasya — que não é independente (isto é, que está sob o controle dos sentidos); deha — o corpo; draviṇa — propriedade física; sampadaḥ — e riqueza.
Tradução
Com a chegada da estação das chuvas, os regatos insignificantes, que se haviam secado, começaram a avolumar-se e, então, desviaram-se de seus cursos naturais, assim como acontece com o corpo, os bens e o dinheiro de um homem controlado pelos impulsos dos sentidos.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Durante a estação das chuvas, várias pequenas lagoas, tanques e riachos se enchem de água; do contrário, eles ficam secos o resto do ano. Igualmente, os materialistas são secos, mas, às vezes, quando estão em uma posição que se pode chamar de opulenta, com lar e filhos ou um pequeno saldo bancário, eles parecem prosperar, mas, logo depois, tornam a secar, como os pequenos riachos e tanques. O poeta Vidyāpati disse que, na sociedade de amigos, família, filhos, esposa etc., decerto existe algum prazer, mas esse prazer se compara a uma gota de água no deserto. Todos anseiam pela felicidade, assim como no deserto todos anseiam por água. Se, no deserto, aparecer uma gota de água, o benefício dessa água será muito insignificante. Em nosso modo de vida materialista, ansiamos por um oceano de felicidade, mas, na forma de sociedade, amigos e amor mundano, não estamos conseguindo mais do que uma gota de água. Nossa satisfação nunca é alcançada, assim como os pequenos riachos, lagoas e tanques nunca se enchem de água na estação seca.”
Texto
indragopaiś ca lohitā
ucchilīndhra-kṛta-cchāyā
nṛṇāṁ śrīr iva bhūr abhūt
Sinônimos
haritāḥ — esverdeada; haribhiḥ — que é verde; śaṣpaiḥ — por causa da grama recém-crescida; indragopaiḥ — por causa dos insetos indragopa; ca — e; lohitā — avermelhada; ucchilīndhra — pelos cogumelos; kṛta — recebido; chāyā — abrigo; nṛṇām — dos homens; śrīḥ — a opulência; iva — assim como; bhūḥ — a terra; abhūt — tornou-se.
Tradução
A grama recém-crescida tornou a terra verde-esmeralda, os insetos indragopa acrescentaram um tom avermelhado, e cogumelos brancos contribuíram para dar mais cor e círculos de sombra. Desse modo, a terra parecia alguém que de repente se tornou rico.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Śrīdhara Svāmī comenta que a palavra nṛṇām indica homens da ordem real. Logo, a exibição colorida de campos verde-escuros enfeitados de insetos de um vermelho brilhante e as sombrinhas dos cogumelos brancos podem-se comparar a uma parada real exibindo o poder militar de um rei.
Texto
karṣakāṇāṁ mudaṁ daduḥ
māninām anutāpaṁ vai
daivādhīnam ajānatām
Sinônimos
kṣetrāṇi — os campos; śaṣya-sampadbhiḥ — com sua riqueza sob a forma de cereais; karṣakāṇām — aos fazendeiros; mudam — alegria; daduḥ — davam; māninām — a outros que são falsamente orgulhosos; anutāpam — remorso; vai — de fato; daiva-adhīnam — o controle do destino; ajānatām — que não compreendem.
Tradução
Com sua riqueza sob a forma de cereais, os campos davam alegria aos fazendeiros, mas provocavam remorso no coração daqueles que são muito orgulhosos para se dedicar à agricultura e que não conseguem entender que tudo está sob o controle do Supremo.
Comentário
SIGNIFICADO—É comum que aqueles que moram em cidades grandes fiquem infelizes e aborrecidos quando há muita chuva. Eles não entendem ou esquecem que a chuva nutre as plantações que eles comerão. Embora com certeza tenham prazer em comer, eles não apreciam o fato de que, com a chuva, o Senhor Supremo está alimentando não só os seres humanos, mas também as plantas, os animais e a própria terra.
As pessoas modernas e sofisticadas muitas vezes olham com desdém aqueles que se dedicam à agricultura. De fato, em linguagem pejorativa, uma pessoa simples e sem inteligência é às vezes chamada de “caipira”. Há também agências do governo que limitam a produção agrícola porque certos capitalistas temem o efeito dela nos preços do mercado. Em virtude de várias práticas artificiais e de manipulação nos governos modernos, encontramos enorme escassez de alimentos em todo o mundo – até mesmo nos Estados Unidos, entre os atingidos pela pobreza – e, ao mesmo tempo, descobrimos que os governos pagam aos agricultores para não plantar. Às vezes, esses governos jogam enormes quantidades de alimento no oceano. Desse modo, a administração formada por arrogantes e ignorantes, que são demasiadamente orgulhosos para obedecer às leis de Deus ou demasiadamente ignorantes para reconhecê-las, sempre causarão frustração para o povo, ao passo que um governo consciente de Deus proverá abundância e felicidade para todos.
Texto
nava-vāri-niṣevayā
abibhran ruciraṁ rūpaṁ
yathā hari-niṣevayā
Sinônimos
jala — da água; sthala — e da terra; okasaḥ — os residentes; sarve — todos; nava — nova; vāri — a água; niṣevayā — valendo-se de; abibhran — tomaram; ruciram — atrativa; rūpam — forma; yathā — assim como; hari-niṣevayā — prestando serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus.
Tradução
À medida que todas as criaturas aquáticas e terrestres tiravam proveito da água da chuva recém-caída, suas formas tornavam-se atraentes e agradáveis, assim como o devoto se torna belo por se ocupar a serviço do Senhor Supremo.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda faz o seguinte comentário: “Temos experiência prática disso com nossos estudantes na Sociedade Internacional para a Consciência de Kṛṣṇa. Antes de se tornarem estudantes, eles pareciam sujos, embora naturalmente tivessem belas feições pessoais; por não terem nenhuma informação sobre a consciência de Kṛṣṇa, eles pareciam muito sujos e infelizes. Desde que adotaram a consciência de Kṛṣṇa, sua saúde melhorou, e, por seguirem as regras e regulações, o brilho de seu corpo se ampliou. Quando se vestem de roupa cor de açafrão, com tilaka na testa e contas nas mãos e no pescoço, eles têm a aparência exata de alguém que veio diretamente de Vaikuṇṭha.”
Texto
cukṣobha śvasanormimān
apakva-yoginaś cittaṁ
kāmāktaṁ guṇa-yug yathā
Sinônimos
saridbhiḥ — com os rios; saṅgataḥ — por causa do encontro; sindhuḥ — o oceano; cukṣobha — ficou agitado; śvasana — sopradas pelo vento; ūrmi-mān — tendo ondas; apakva — imaturo; yoginaḥ — de um yogī; cittam — a mente; kāma-aktam — maculada pela luxúria; guṇa-yuk — mantendo conexão com os objetos de gozo dos sentidos; yathā — assim como.
Tradução
Onde os rios se encontravam com o oceano, este ficava agitado, com suas ondas açoitadas pelo vento, assim como a mente de um yogī imaturo se deixa agitar porque ele tem a mácula da luxúria e está apegado aos objetos do gozo dos sentidos.
Texto
hanyamānā na vivyathuḥ
abhibhūyamānā vyasanair
yathādhokṣaja-cetasaḥ
Sinônimos
girayaḥ — as montanhas; varṣa-dhārābhiḥ — pelas nuvens portadoras de chuva; hanyamānāḥ — sendo atingidas; na vivyathuḥ — não se abalavam; abhibhūyamānāḥ — sendo atacados; vyasanaiḥ — por perigos; yathā — como; adhokṣaja-cetasaḥ — aqueles cujas mentes estão absortas no Senhor Supremo.
Tradução
Assim como os devotos cujas mentes estão absortas na Personalidade de Deus permanecem tranquilos mesmo quando atacados por toda sorte de perigos, as montanhas na estação das chuvas não se perturbam nem um pouco com as repetidas tempestades.
Comentário
SIGNIFICADO—Quando açoitadas por pancadas de chuva, as montanhas não se abalam; pelo contrário, elas se limpam da sujeira e ficam resplandecentes e belas. Assim também, o devoto avançado do Senhor Supremo não se abala em seu programa devocional em decorrência de condições perturbadoras, as quais, em vez disso, purificam seu coração da poeira do apego a este mundo. Desse modo, o devoto, por tolerar condições difíceis, torna-se belo e resplandecente. De fato, o devoto aceita todos os reveses da vida como misericórdia do Senhor Kṛṣṇa, entendendo que todo sofrimento se deve às próprias más ações que o sofredor realizou no passado.
Texto
tṛṇaiś channā hy asaṁskṛtāḥ
nābhyasyamānāḥ śrutayo
dvijaiḥ kālena cāhatāḥ
Sinônimos
mārgāḥ — as estradas; babhūvuḥ — ficaram; sandigdhāḥ — irreconhecíveis; tṛṇaiḥ — pela relva; channāḥ — cobertas; hi — de fato; asaṁskṛtāḥ — não limpas; na abhyasyamānāḥ — não sendo estudadas; śrutayaḥ — as escrituras; dvijaiḥ — pelos brāhmaṇas; kālena — pelos efeitos do tempo; ca — e; āhatāḥ — corrompidas.
Tradução
Durante a estação chuvosa, as estradas, por não serem limpas, ficaram cobertas pela relva e detritos, de modo que era difícil identificá-las. Essas estradas eram como escrituras religiosas que os brāhmaṇas não estudam mais e que, então, ficam corrompidas e cobertas com o transcorrer do tempo.
Texto
vidyutaś cala-sauhṛdāḥ
sthairyaṁ na cakruḥ kāminyaḥ
puruṣeṣu guṇiṣv iva
Sinônimos
loka — de todo o mundo; bandhuṣu — que são amigos; megheṣu — entre as nuvens; vidyutaḥ — o relâmpago; cala-sauhṛdāḥ — inconstantes em sua amizade; sthairyam — a firmeza; na cakruḥ — não mantinham; kāminyaḥ — mulheres luxuriosas; puruṣeṣu — entre homens; guṇiṣu — que são virtuosos; iva — como.
Tradução
Embora as nuvens sejam os amigos benquerentes de todos os seres vivos, o relâmpago, inconstante em suas relações, movia-se de um grupo de nuvens para outro, assim como mulheres luxuriosas são infiéis mesmo a homens virtuosos.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Durante a estação das chuvas, o relâmpago aparece em um grupo de nuvens e, logo depois, em outro grupo de nuvens. Esse fenômeno se compara a uma mulher cheia de luxúria que não fixa sua mente em um só homem. A nuvem se compara a uma pessoa qualificada porque ela derrama chuva e confere sustento a muitas pessoas; um homem que é qualificado também proporciona sustento a muitas criaturas vivas, tais como os membros de sua família ou muitos operários trabalhadores. Infelizmente, toda a sua vida pode ser perturbada por uma esposa que se divorcie dele; quando o marido se perturba, toda a família se arruína, os filhos se dispersam ou o negócio é fechado, e tudo se afeta. Por isso, recomenda-se à mulher que deseja avançar em consciência de Kṛṣṇa que viva em paz com seu marido e que o casal não se separe em nenhuma circunstância. Esposo e esposa devem controlar o gozo sexual e concentrar suas mentes na consciência de Kṛṣṇa para que suas vidas tenham êxito. Afinal, no mundo material, o homem precisa da mulher e a mulher precisa do homem. Quando se unem, devem viver em paz em consciência de Kṛṣṇa e não devem ser inconstantes como o relâmpago, passando de um grupo de nuvens para outro.”
Texto
nirguṇaṁ ca guṇiny abhāt
vyakte guṇa-vyatikare
’guṇavān puruṣo yathā
Sinônimos
dhanuḥ — o arco (arco-íris); viyati — dentro do céu; māhā-indram — do Senhor Indra; nirguṇam — sem qualidades (ou sem uma corda de arco); ca — embora; guṇini — dentro do céu, que tem qualidades definidas, como o som; abhāt — apareceu; vyakte — dentro da natureza material manifesta; guṇa-vyatikare — que consiste em interações das qualidades materiais; aguṇa-vān — Ele que não tem contato com qualidades materiais; puruṣaḥ — a Suprema Personalidade; yathā — assim como.
Tradução
Quando o arco curvado de Indra [o arco-íris] apareceu no céu, que tinha a qualidade do som do trovão, ele era distinto dos arcos comuns, porque não repousava em uma corda. De modo semelhante, quando o Senhor Supremo aparece neste mundo, que é a interação das qualidades materiais, Ele difere das pessoas comuns, porque permanece livre de todas as qualidades materiais e independente de todas as condições materiais.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda faz o seguinte comentário: “Às vezes, além do ribombar de trovões nas nuvens, surge um arco-íris, que parece um arco sem corda. O arco fica em posição curvada por estar atado em suas duas pontas por uma corda, mas, no arco-íris, não existe essa corda e, mesmo assim, ele permanece no céu de maneira muito bela. Da mesma forma, quando a Suprema Personalidade de Deus desce a este mundo material, Ele Se parece tal qual um ser humano comum, mas não Se apoia em condição material alguma. Na Bhagavad-gītā, o Senhor diz que aparece por meio de Sua potência interna, que é livre do cativeiro da potência externa. O que é cativeiro para a criatura comum é liberdade para a Personalidade de Deus.”
Texto
sva-jyotsnā-rājitair ghanaiḥ
ahaṁ-matyā bhāsitayā
sva-bhāsā puruṣo yathā
Sinônimos
na rarāja — não brilhou; uḍupaḥ — a Lua; channaḥ — encoberta; sva-jyotsnā — por sua própria luz; rājitaiḥ — que são iluminadas; ghanaiḥ — pelas nuvens; aham-matyā — pelo falso ego; bhāsitayā — que é iluminado; sva-bhāsā — por seu próprio brilho; puruṣaḥ — a entidade viva; yathā — como.
Tradução
Durante a estação das chuvas, a Lua foi impedida de aparecer diretamente devido à cobertura das nuvens, as quais eram iluminadas pelos raios da Lua. Do mesmo modo, o ser vivo na existência material é impedido de aparecer diretamente devido à cobertura do falso ego, que é ele mesmo iluminado pela consciência da alma pura.
Comentário
SIGNIFICADO—A analogia fornecida aqui é excelente. Durante a estação das chuvas, não podemos ver a Lua no céu, porque a Lua está coberta pelas nuvens. Essas nuvens, porém, mostram-se radiantes com o fulgor dos próprios raios da Lua. Do mesmo modo, em nossa existência material, condicionada, não podemos perceber diretamente a alma, porque nossa consciência está coberta pelo falso ego, que é a identificação falsa com o mundo material e com o corpo material. Todavia, é a própria consciência da alma que ilumina o falso ego.
Como descreve a Gītā, a energia da alma é a consciência, e quando essa consciência se manifesta através do véu do falso ego, ela aparece como uma consciência material opaca, em que não há visão direta da alma nem de Deus. No mundo material, até mesmo eminentes filósofos acabam recorrendo a ambiguidades nebulosas quando falam sobre a Verdade Absoluta, assim como o céu nublado manifesta apenas opaca e indiretamente a luz iridescente da Lua.
Na vida material, nosso falso ego muitas vezes é entusiástico, esperançoso e aparentemente cônscio de vários assuntos materiais, e tal consciência nos incentiva a continuar na existência material. Na verdade, entretanto, estamos apenas experimentando o reflexo opaco de nossa consciência pura e original, que é a consciência de Kṛṣṇa – a percepção direta da alma e de Deus. Não compreendendo que o falso ego meramente atrapalha e embota nossa consciência espiritual real, que é cem por cento iluminada e bem-aventurada, pensamos por engano que a consciência material é plena de conhecimento e felicidade. Isso é comparável a pensar que as nuvens luminosas iluminam o céu noturno, enquanto de fato é o luar que ilumina o céu, e as nuvens só embotam e impedem o luar. As nuvens parecem luminosas porque estão filtrando e impedindo os brilhantes raios da Lua. Assim também, às vezes a consciência material parece agradável ou iluminada porque está velando ou filtrando a consciência original, bem-aventurada e iluminada que vem diretamente da alma. Se pudermos compreender a singela analogia dada neste verso, poderemos facilmente avançar em consciência de Kṛṣṇa.
Texto
pratyanandañ chikhaṇḍinaḥ
gṛheṣu tapta-nirviṇṇā
yathācyuta-janāgame
Sinônimos
megha — das nuvens; āgama — por causa da chegada; utsavāḥ — que celebram um festival; hṛṣṭāḥ — tornando-se alegres; pratyanandan — bradavam em saudação; śikhaṇḍinaḥ — os pavões; gṛheṣu — dentro de seus lares; tapta — aqueles que estão aflitos; nirviṇṇāḥ — e, então, ficam felizes; yathā — assim como; acyuta — da infalível Personalidade de Deus; jana — dos devotos; āgame — à chegada.
Tradução
Os pavões festejaram e bradaram uma alegre saudação quando viram as nuvens chegando, assim como as pessoas aflitas na vida doméstica sentem prazer quando os devotos puros do infalível Senhor Supremo as visitam.
Comentário
SIGNIFICADO—Depois da seca estação do verão, os pavões ficam jubilosos com a chegada das primeiras nuvens trovejantes de chuva e, assim, dançam com grande felicidade. Śrīla Prabhupāda comenta: “Temos experiência prática disto, porque muitos de nossos estudantes eram secos e taciturnos antes de virem para a consciência de Kṛṣṇa, mas, tendo entrado em contato com os devotos, agora dançam como pavões jubilantes.”
Texto
āsan nānātma-mūrtayaḥ
prāk kṣāmās tapasā śrāntā
yathā kāmānusevayā
Sinônimos
pītvā — tendo bebido; āpaḥ — água; pāda-pāḥ — as árvores; padbhiḥ — com seus pés; āsan — assumiram; nānā — várias; ātma-mūrtayaḥ — características corporais; prāk — anteriormente; kṣāmāḥ — emagrecidos; tapasā — pelas austeridades; śrāntāḥ — fatigados; yathā — como; kāma-anusevayā — por desfrutar de objetos adquiridos.
Tradução
As árvores tinham emagrecido e secado, mas, depois de beber, através dos pés, a água da chuva recém-caída, seus vários aspectos corporais floresceram. Da mesma maneira, alguém cujo corpo emagreceu e debilitou-se devido à austeridade volta a exibir suas saudáveis características corporais ao desfrutar dos objetos materiais conquistados mediante tal austeridade.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra pāda quer dizer pé, e pā significa beber. As árvores são chamadas pādapa porque bebem através das raízes, que se comparam a pés. Ao beberem a água da chuva recém-caída, as árvores em Vṛndāvana começaram a manifestar novas folhas, brotos e botões, e assim desfrutaram um novo crescimento. De modo semelhante, os materialistas muitas vezes realizam severas austeridades para adquirir o objeto de seu desejo. Por exemplo, os políticos costumam submeter-se a extenuantes austeridades enquanto viajam pelo interior do país fazendo campanha para a eleição. Homens de negócios também muitas vezes renunciam ao conforto pessoal para tornar próspero o seu negócio. Essas pessoas austeras, ao conseguirem os frutos de sua austeridade, voltam a ficar saudáveis e satisfeitas, como as árvores que bebem avidamente a água da chuva depois de suportar um verão seco e quente.
Texto
nyūṣur aṅgāpi sārasāḥ
gṛheṣv aśānta-kṛtyeṣu
grāmyā iva durāśayāḥ
Sinônimos
saraḥsu — sobre os lagos; aśānta — perturbadas; rodhaḥsu — cujas margens; nyūṣuḥ — continuaram a morar; aṅga — meu querido rei; api — de fato; sārasāḥ — os grous; gṛheṣu — em seus lares; aśānta — febris; kṛtyeṣu — onde se executam atividades; grāmyāḥ — homens materialistas; iva — de fato; durāśayāḥ — cujas mentes são contaminadas.
Tradução
Os grous continuaram a habitar as margens dos lagos, embora as margens ficassem agitadas durante a estação das chuvas, assim como os materialistas com mentes contaminadas sempre permanecem em casa, apesar das muitas perturbações sofridas ali.
Comentário
SIGNIFICADO—Durante a estação das chuvas, há frequentes deslizamentos de terra à volta das margens dos lagos, e às vezes se acumulam ali arbustos espinhentos, pedras e outros detritos. Apesar de todas essas inconveniências, patos e grous continuam a vaguear à toa ao redor das margens do lago. De forma semelhante, inumeráveis incidentes dolorosos estão sempre perturbando a vida doméstica, mas um homem materialista jamais sequer considera a hipótese de deixar sua família nas mãos dos filhos adultos e sair em busca de progresso espiritual. Ele considera semelhante ideia como chocante e também incivilizada, porque ignora por completo a Verdade Absoluta e sua relação com essa Verdade.
Texto
setavo varṣatīśvare
pāṣaṇḍinām asad-vādair
veda-mārgāḥ kalau yathā
Sinônimos
jala-oghaiḥ — pela água da enchente; nirabhidyanta — quebraram-se; setavaḥ — os diques; varṣati — quando ele está derramando chuva; īśvare — o Senhor Indra; pāṣaṇḍinām — dos ateístas; asat-vādaiḥ — pelas falsas teorias; veda-mārgāḥ — os caminhos dos Vedas; kalau — em Kali-yuga; yathā — como.
Tradução
Quando Indra enviou suas chuvas, as águas da enchente romperam os diques de irrigação nos campos agrícolas, assim como, em Kali-yuga, as teorias falsas dos ateístas rompem os limites das prescrições védicas.
Texto
bhūtebhyaś cāmṛtaṁ ghanāḥ
yathāśiṣo viś-patayaḥ
kāle kāle dvijeritāḥ
Sinônimos
vyamuñcan — soltaram; vāyubhiḥ — pelos ventos; nunnāḥ — impelidas; bhūtebhyaḥ — a todos os seres vivos; ca — e; amṛtam — sua água nectárea; ghanāḥ — as nuvens; yathā — como; āśiṣaḥ — bênçãos caridosas; viṭ-patayaḥ — reis; kāle kāle — de tempos em tempos; dvija — pelos brāhmaṇas; īritāḥ — incentivados.
Tradução
As nuvens, impelidas pelos ventos, derramaram sua água nectárea para o benefício de todos os seres vivos, assim como os reis, instruídos por seus sacerdotes brāhmaṇas, distribuem caridade aos cidadãos.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Na época das chuvas, as nuvens, levadas pelo vento, entregam a água, que é bem-vinda como néctar. Quando os seguidores dos Vedas, os brāhmaṇas, inspiram pessoas ricas, como os reis e a abastada comunidade mercantil, a dar caridade na execução de grandes sacrifícios, a distribuição de tal riqueza também é nectárea. As quatro divisões da sociedade humana, ou seja, os brāhmaṇas, os kṣatriyas, os vaiśyas e os śūdras, devem viver em paz com espírito de cooperação; isso é possível quando são guiados pelos experientes brāhmaṇas védicos que executam sacrifícios e distribuem a riqueza de maneira equânime.”
Texto
pakva-kharjura-jambumat
go-gopālair vṛto rantuṁ
sa-balaḥ prāviśad dhariḥ
Sinônimos
evam — assim; vanam — floresta; tat — aquela; varṣiṣṭham — muito resplandecente; pakva — maduros; kharjura — tâmaras; jambu — e jambos; mat — tendo; go — pelas vacas; gopālaiḥ — e os vaqueirinhos; vṛtaḥ — rodeado; rantum — com o propósito de brincar; sa-balaḥ — acompanhado pelo Senhor Balarāma; prāviśat — entrou; hariḥ — o Senhor Kṛṣṇa.
Tradução
Quando a floresta de Vṛndāvana ficava então resplandecente, cheia de tâmaras e jambos maduros, o Senhor Kṛṣṇa, rodeado por Suas vacas e amigos vaqueirinhos e acompanhado por Śrī Balarāma, entrava naquela floresta para Se divertir.
Texto
ūdho-bhāreṇa bhūyasā
yayur bhagavatāhūtā
drutaṁ prītyā snuta-stanāḥ
Sinônimos
dhenavaḥ — as vacas; manda-gāminyaḥ — movendo-se devagar; ūdhaḥ — de seus úberes; bhāreṇa — por causa do peso; bhūyasā — muito grandes; yayuḥ — foram; bhagavatā — pelo Senhor; āhūtāḥ — sendo chamadas; drutam — depressa; prītyā — por causa da afeição; snuta — molhados; stanāḥ — seus úberes.
Tradução
As vacas tinham de se mover devagar por causa de suas tetas pesadas de leite, mas logo que a Suprema Personalidade de Deus as chamava, elas corriam bem depressa em Sua direção, e, devido à afeição que sentiam por Ele, seus úberes ficavam molhados.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Por se alimentarem com pastos novos, as vacas ficavam muito saudáveis, com seus úberes bem cheios de leite. Quando o Senhor Kṛṣṇa as chamava pelo nome, elas, em virtude da afeição, iam imediatamente até Ele e, nesse estado jubiloso, o leite caía de seus úberes.”
Texto
vana-rājīr madhu-cyutaḥ
jala-dhārā girer nādād
āsannā dadṛśe guhāḥ
Sinônimos
vana-okasaḥ — as meninas aborígenes da floresta; pramuditāḥ — alegres; vana-rājīḥ — as árvores da floresta; madhu-cyutaḥ — gotejando seiva doce; jala-dhārāḥ — cascatas; gireḥ — das montanhas; nādāt — de seu ressoar; āsannāḥ — próximas; dadṛśe — Ele observava; guhāḥ — cavernas.
Tradução
O Senhor observava as alegres meninas aborígenes da floresta, as árvores que gotejavam seiva doce e as cascatas das montanhas, cujo ressoar indicava haver cavernas nas redondezas.
Texto
guhāyāṁ cābhivarṣati
nirviśya bhagavān reme
kanda-mūla-phalāśanaḥ
Sinônimos
kvacit — às vezes; vanaspati — de uma árvore; kroḍe — na cavidade; guhāyām — em uma caverna; ca — ou; abhivarṣati — quando chovia; nirviśya — entrando; bhagavān — o Senhor Supremo; reme — divertia-Se; kanda-mūla — raízes; phala — e frutos; aśanaḥ — comendo.
Tradução
Quando chovia, o Senhor às vezes entrava em uma caverna ou na cavidade de uma árvore para brincar e comer raízes e frutas.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Sanātana Gosvāmī explica que, durante a estação das chuvas, os bulbos e raízes são muito tenros e saborosos, e o Senhor Kṛṣṇa comia-os juntamente com frutas silvestres encontradas na floresta. O Senhor Kṛṣṇa e Seus jovens amigos sentavam-se na cavidade de uma árvore ou dentro de uma caverna e passavam o tempo brincando enquanto esperavam a chuva parar.
Texto
śilāyāṁ salilāntike
sambhojanīyair bubhuje
gopaiḥ saṅkarṣaṇānvitaḥ
Sinônimos
dadhi-odanam — arroz cozido misturado com iogurte; samānītam — enviado; śīlāyām — sobre uma pedra; salila-antike — perto da água; sambhojanīyaiḥ — que tomavam refeições com Ele; bubhuje — comia; gopaiḥ — juntamente com os vaqueirinhos; saṅkarṣaṇa-anvitaḥ — na companhia do Senhor Balarāma.
Tradução
O Senhor Kṛṣṇa tomava Sua refeição de arroz cozido e iogurte, enviada de casa, em companhia do Senhor Saṅkarṣaṇa e dos vaqueirinhos que costumavam comer com Ele. Sobre uma grande pedra perto da água, todos se sentavam juntos para comer.
Texto
carvato mīlitekṣaṇān
tṛptān vṛṣān vatsatarān
gāś ca svodho-bhara-śramāḥ
sarva-kāla-sukhāvahām
bhagavān pūjayāṁ cakre
ātma-śakty-upabṛṁhitām
Sinônimos
śādvala — um trecho coberto de relva; upari — sobre; saṁviśya — deitando-se; carvataḥ — que estavam pastando; mīlita — fechados; īkṣaṇān — seus olhos; tṛptān — satisfeitos; vṛṣān — os touros; vatsatarān — os bezerros; gāḥ — as vacas; ca — e; sva — suas próprias; ūdhaḥ — das tetas; bhara — pelo peso; śramāḥ — cansadas; prāvṛṭ — da estação das chuvas; śriyam — a opulência; ca — e; tām — àquela; vīkṣya — vendo; sarva-kāla — sempre; sukha — prazer; āvahām — dando; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; pūjayām cakre — honrava; ātma-śakti — de Sua potência interna; upabṛṁhitām — expandida.
Tradução
O Senhor Kṛṣṇa observava os touros, bezerros e vacas contentes deitados na relva verde a ruminar de olhos fechados e via que as vacas estavam cansadas por causa do fardo de suas pesadas tetas. Enquanto contemplava a beleza e opulência da estação chuvosa de Vṛndāvana, uma fonte perene de grande felicidade, o Senhor oferecia todo respeito àquela estação, que se expandira de Sua própria potência interna.
Comentário
SIGNIFICADO—A beleza exuberante da estação chuvosa de Vṛndāvana se destina a realçar os passatempos prazerosos do Senhor Kṛṣṇa. Então, para armar o cenário para os casos amorosos do Senhor, Sua potência interna faz todos os preparativos descritos neste capítulo.
Texto
rāma-keśavayor vraje
śarat samabhavad vyabhrā
svacchāmbv-aparuṣānilā
Sinônimos
evam — desta maneira; nivasatoḥ — enquanto Eles dois estavam morando; tasmin — naquele lugar; rāma-keśavayoḥ — o Senhor Rāma e o Senhor Keśava; vraje — em Vṛndāvana; śarat — o outono; samabhavat — manifestou-se plenamente; vyabhrā — livre de nuvens no céu; svaccha-ambu — em que a água era clara; aparuṣa-anilā — o vento era suave.
Tradução
Enquanto o Senhor Rāma e o Senhor Kṛṣṇa estavam morando em Vṛndāvana, o outono chegou. Nessa época, o céu fica sem nuvens, a água fica mais clara e o vento sopra suavemente.
Texto
nīrāṇi prakṛtiṁ yayuḥ
bhraṣṭānām iva cetāṁsi
punar yoga-niṣevayā
Sinônimos
śaradā — pelo efeito do outono; nīraja — as flores de lótus; utpattyā — que regenera; nīrāṇi — os reservatórios de água; prakṛtim — a seu estado natural (de limpeza); yayuḥ — retomaram; bhraṣṭānām — daqueles que caíram; iva — assim como; cetāṁsi — as mentes; punaḥ — mais uma vez; yoga — de serviço devocional; niṣevayā — pela prática.
Tradução
A estação do outono, que regenerou as flores de lótus, também restituiu aos vários reservatórios de água a sua pureza original, assim como o processo de serviço devocional purifica a mente dos yogīs caídos quando estes retomam a sua prática.
Texto
bhuvaḥ paṅkam apāṁ malam
śaraj jahārāśramiṇāṁ
kṛṣṇe bhaktir yathāśubham
Sinônimos
vyomnaḥ — no céu; ap-bhram — as nuvens; bhūta — dos animais; śābalyam — a condição apinhada; bhuvaḥ — da terra; paṅkam — a cobertura lamacenta; apām — da água; malam — a contaminação; śarat — o outono; jahāra — removeu; āśramiṇām — dos membros das quatro diferentes ordens espirituais da sociedade humana; kṛṣṇe — ao Senhor Kṛṣṇa; bhaktiḥ — o serviço devocional; yathā — assim como; aśubham — toda a inauspiciosidade.
Tradução
O outono desanuviou o céu, deixou os animais saírem de seus currais apinhados, limpou a terra de sua cobertura lamacenta e purificou a contaminação da água, do mesmo modo que o serviço amoroso prestado ao Senhor Kṛṣṇa liberta os membros das quatro ordens espirituais de suas respectivas dificuldades.
Comentário
SIGNIFICADO—Todo ser humano deve cumprir os deveres prescritos que correspondem a uma das quatro ordens espirituais da vida. Estas divisões são: 1) vida de estudante celibatário, brahmacarya; 2) vida familiar, gṛhastha; 3) vida retirada, vānaprastha, e 4) vida renunciada, sannyāsa. O brahmacārī tem de executar muitas tarefas servis durante sua vida de estudante, mas, à medida que avança no serviço amoroso a Kṛṣṇa, seus superiores reconhecem sua posição espiritual e elevam-no a uma plataforma de deveres mais elevados. As inúmeras obrigações cumpridas em prol do bem-estar da esposa e dos filhos vivem a atormentar o pai de família, mas, à medida que ele avança no serviço amoroso a Kṛṣṇa, as leis da natureza elevam-no automaticamente a ocupações espirituais mais agradáveis e ele, de algum modo, minimiza os afazeres materiais.
Aqueles que estão na ordem de vānaprastha, ou de vida retirada, também cumprem muitos deveres, e esses também podem ser substituídos pelo extático serviço amoroso a Kṛṣṇa. De igual modo, a vida renunciada tem muitas dificuldades naturais, dentre as quais se destaca o fato de que os sannyāsīs, ou homens renunciados, são propensos a meditar no aspecto impessoal da Verdade Absoluta. Como se afirma na Bhagavad-gītā (12.5), kleśo ’dhikataras teṣām avyaktāsakta-cetasām: “Para aqueles cujas mentes estão apegadas ao aspecto impessoal e imanifesto do Senhor, o avanço é excessivamente penoso.” Mas logo que o sannyāsī começa a pregar as glórias de Kṛṣṇa em toda cidade e vila, sua vida torna-se uma bem-aventurada sequência de belas realizações espirituais.
No outono, o céu retorna à sua cor azul natural. O desaparecimento das nuvens é como o desaparecimento dos deveres penosos na vida de brahmacārī. Logo depois do verão vem a estação das chuvas, quando os animais, perturbados pelas tempestades torrenciais, às vezes têm de se amontoar. Mas o outono indica para os animais a ocasião em que eles podem voltar para suas respectivas áreas e viver mais tranquilamente. Isso representa o fato do pai de família livrar-se do incômodo dos deveres familiares e ser capaz de devotar mais de seu tempo às responsabilidades espirituais, que são a verdadeira meta da vida tanto para ele como para sua família. A retirada da camada lamacenta que cobria a terra é como a retirada dos inconvenientes da vida de vānaprastha, e a purificação da água é como a santificação da vida de sannyāsa mediante o processo de pregar as glórias de Kṛṣṇa livre de desejo sexual.
Texto
virejuḥ śubhra-varcasaḥ
yathā tyaktaiṣaṇāḥ śāntā
munayo mukta-kilbiṣāḥ
Sinônimos
sarva-svam — tudo o que possuíam; jala-dāḥ — as nuvens; hitvā — tendo abandonado; virejuḥ — brilharam; śubhra — pura; varcasaḥ — sua refulgência; yathā — assim como; tyakta-eṣaṇāḥ — que abandonaram todos os desejos; śāntāḥ — pacificados; munayaḥ — sábios; mukta-kilbiṣāḥ — livres das más tendências.
Tradução
As nuvens, tendo abandonado tudo o que possuíam, brilharam com refulgência purificada, assim como sábios tranquilos que abandonaram todos os desejos materiais e, assim, estão livres de todas as propensões pecaminosas.
Comentário
SIGNIFICADO—Quando estão cheias de água, as nuvens ficam escuras e cobrem os raios do Sol, assim como a mente material de um homem impuro encobre a alma que brilha no seu interior. Contudo, ao descarregarem a chuva, as nuvens ficam brancas e então refletem brilhantemente o Sol reluzente, assim como o homem que abandona todos os desejos materiais e propensões pecaminosas se purifica e, então, reflete brilhantemente sua própria alma e a Alma Suprema que habita dentro dele.
Texto
kvacin na mumucuḥ śivam
yathā jñānāmṛtaṁ kāle
jñānino dadate na vā
Sinônimos
girayaḥ — as montanhas; mumucuḥ — vertiam; toyam — sua água; kvacit — algumas vezes; na mumucuḥ — não vertiam; śivam — pura; yathā — assim como; jñāna — do conhecimento transcendental; amṛtam — o néctar; kāle — no tempo apropriado; jñāninaḥ — peritos no conhecimento espiritual; dadate — concedem; na vā — ou não.
Tradução
Durante essa estação, as montanhas algumas vezes vertiam sua água pura e outras vezes não, assim como peritos na ciência transcendental ora proporcionam o néctar do conhecimento transcendental, ora não o fazem.
Comentário
SIGNIFICADO—A primeira parte deste capítulo descreveu a estação das chuvas, e a segunda parte trata do outono, que começa quando a chuva cessa. Durante a estação chuvosa, a água sempre flui das montanhas, mas, durante o outono, a água ora flui, ora não o faz. De maneira semelhante, os grandes mestres santos às vezes falam extensamente sobre o conhecimento espiritual, e às vezes ficam em silêncio. A alma autorrealizada está em contato íntimo com a Alma Suprema, e, segundo Seus desejos, um cientista espiritual competente pode ou não descrever a Verdade Absoluta, dependendo das circunstâncias específicas.
Texto
jalaṁ gādha-jale-carāḥ
yathāyur anv-ahaṁ kṣayyaṁ
narā mūḍhāḥ kuṭumbinaḥ
Sinônimos
na — não; eva — de fato; avidan — apreciavam; kṣīyamāṇam — diminuindo; jalam — a água; gādha-jale — em água rasa; carāḥ — aqueles que se movem; yathā — como; āyuḥ — a duração de sua vida; anuaham — cada dia; kṣayyam — diminuindo; narāḥ — homens; mūḍhāḥ — tolos; kuṭumbinaḥ — vivendo com membros da família.
Tradução
Os peixes que nadavam na água que ficava cada vez mais rasa não entendiam de modo algum que a água estava diminuindo, assim como pais de família tolos não podem ver como o tempo que lhes resta para viver está diminuindo a cada dia que passa.
Comentário
SIGNIFICADO—Depois da estação das chuvas, a água pouco a pouco abaixa, mas os peixes ininteligentes não compreendem isso, de modo que muitas vezes eles encalham nas beiras dos lagos e dos rios. Analogamente, aqueles que estão enamorados da vida familiar não compreendem que o restante de suas vidas está sempre diminuindo; deste modo, eles deixam de aperfeiçoar sua consciência de Kṛṣṇa e ficam encalhados no ciclo de nascimentos e mortes.
Texto
avindañ charad-arka-jam
yathā daridraḥ kṛpaṇaḥ
kuṭumby avijitendriyaḥ
Sinônimos
gādha-vāri-carāḥ — aqueles que se moviam em água rasa; tāpam — sofrimento; avindan — experimentavam; śarat-arka-jam — devido ao sol do outono; yathā — como; daridraḥ — um pobre; kṛpaṇaḥ — avarento; kuṭumbī — absorto na vida familiar; avijita-indriyaḥ — que não controlou os sentidos.
Tradução
Assim como alguém avarento, empobrecido e demasiadamente absorto na vida familiar sofre por não poder controlar os sentidos, os peixes que nadavam na água rasa tinham de sofrer o calor do sol do outono.
Comentário
SIGNIFICADO—Embora, como se descreveu no verso anterior, os peixes ininteligentes não tenham ciência de que a água está diminuindo, talvez alguém pense que esses peixes ainda são felizes, conforme dita o velho provérbio: “Ignorância é felicidade.” Porém, até os peixes ignorantes são queimados pelo sol do outono. Do mesmo modo, embora um homem apegado à família possa considerar como bem-aventurada sua ignorância da vida espiritual, ele está sempre perturbado pelos problemas da vida familiar, e, de fato, seus sentidos descontrolados levam-no a uma situação de angústia sem alívio.
Texto
sthalāny āmaṁ ca vīrudhaḥ
yathāhaṁ-mamatāṁ dhīrāḥ
śarīrādiṣv anātmasu
Sinônimos
śanaiḥ śanaiḥ — muito gradualmente; jahuḥ — abandonaram; paṅkam — sua lama; sthalāni — os lugares de terra; āmam — sua condição imatura; ca — e; vīrudhaḥ — as plantas; yathā — como; aham-mamatām — egotismo e sentido de posse; dhīrāḥ — sábios sóbrios; śarīra-ādiṣu — focalizados no corpo material e outros objetos externos; anātmasu — que são completamente distintos do verdadeiro eu.
Tradução
Gradualmente, as diferentes áreas de terra, que se encontravam lamacentas, secaram-se, e as plantas passaram de sua fase imatura, do mesmo modo que sábios sóbrios abandonam o egotismo e o sentido de posse, os quais se fundamentam em coisas distintas do verdadeiro eu – a saber, o corpo material e seus subprodutos.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra ādiṣu neste verso indica os subprodutos do corpo, tais como filhos, lar e riquezas.
Texto
samudraḥ śarad-āgame
ātmany uparate samyaṅ
munir vyuparatāgamaḥ
Sinônimos
niścala — imóvel; ambuḥ — sua água; abhūt — tornou-se; tūṣṇīm — quieto; samudraḥ — o oceano; śarat — da estação do outono; āgame — com a chegada; ātmani — quando o eu; uparate — desistiu das atividades materiais; samyak — completamente; muniḥ — um sábio; vyuparata — abandonando; āgamaḥ — a recitação dos mantras védicos.
Tradução
Com a chegada do outono, o oceano e os lagos ficaram silenciosos, e suas águas calmas, assim como um sábio que desistiu de todas as atividades materiais e abandonou a recitação dos mantras védicos.
Comentário
SIGNIFICADO—Recitam-se os mantras védicos comuns para se alcançar promoção material, poder místico e salvação impessoal. Contudo, ao encontrar-se cem por cento livre de desejo pessoal, um sábio vibra exclusivamente as glórias transcendentais do Senhor Supremo.
Texto
karṣakā dṛḍha-setubhiḥ
yathā prāṇaiḥ sravaj jñānaṁ
tan-nirodhena yoginaḥ
Sinônimos
kedārebhyaḥ — dos campos de arroz inundados; tu — e; apaḥ — a água; agṛhṇan — tomaram; karṣakāḥ — os agricultores; dṛḍha — fortes; setubhiḥ — com diques; yathā — como; prāṇaiḥ — através dos sentidos; sravat — fluindo para fora; jñānam — a consciência; tat — daqueles sentidos; nirodhena — pelo estrito controle; yoginaḥ — os yogīs.
Tradução
Da mesma forma que os praticantes de yoga dominam estritamente os sentidos para impedir que sua consciência verta através dos sentidos agitados, os agricultores ergueram fortes diques de barro para impedir que a água de seus campos de arroz se escoasse.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “No outono, os agricultores economizam a água dentro dos campos construindo altos muros de modo que a água não possa escoar. Quase não há esperança de novas chuvas, razão pela qual eles querem economizar toda a água que houver nos campos. Igualmente, quem de fato é avançado em autorrealização protege suas energias controlando os sentidos. Aconselha-se que, após a idade de cinquenta anos, o praticante se retire da vida familiar e conserve a energia do corpo para utilizá-la no avanço em consciência de Kṛṣṇa. A não ser que ele consiga controlar os sentidos e ocupá-los no serviço amoroso transcendental a Mukunda, não há possibilidade de salvação.”
Texto
bhūtānām uḍupo ’harat
dehābhimāna-jaṁ bodho
mukundo vraja-yoṣitām
Sinônimos
śarat-arka — do sol de outono; aṁśu — dos raios; jān — gerado; tāpān — sofrimento; bhūtānām — de todas as criaturas; uḍupaḥ — a lua; aharat — levou embora; deha — com o corpo material; abhimāna-jam — baseado na falsa identificação; bodhaḥ — sabedoria; mukundaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; vraja-yoṣitām — das mulheres de Vṛndāvana.
Tradução
A lua de outono aliviou todas as criaturas do sofrimento causado pelos raios do sol, assim como a sabedoria alivia alguém do tormento causado por sua identificação com o corpo material e assim como o Senhor Mukunda alivia as senhoras de Vṛndāvana da aflição causada por sua separação dEle.
Texto
śarad-vimala-tārakam
sattva-yuktaṁ yathā cittaṁ
śabda-brahmārtha-darśanam
Sinônimos
kham — o céu; aśobhata — estava brilhante; nirmegham — livre de nuvens; śarat — no outono; vimala — claro; tārakam — e estrelado; sattva-yuktam — dotado de bondade (espiritual); yathā — assim como; cittam — a mente; śabda-brahma — da escritura védica; artha — o propósito; darśanam — que experimenta diretamente.
Tradução
Livre de nuvens e cheio de estrelas bem visíveis, o céu de outono brilhava, assim como a consciência espiritual de alguém que experimentou diretamente o significado das escrituras védicas.
Comentário
SIGNIFICADO—O claro e estrelado céu de outono também pode ser comparado ao coração puro do devoto. A natureza espiritual é sempre brilhante, limpa e bem-aventurada, e essa natureza espiritual, chamada vaikuṇṭha, satisfaz imediatamente todos os desejos da alma. Este é o segredo da consciência de Kṛṣṇa.
Texto
rarājoḍu-gaṇaiḥ śaśī
yathā yadu-patiḥ kṛṣṇo
vṛṣṇi-cakrāvṛto bhuvi
Sinônimos
akhaṇḍa — inteira; maṇḍalaḥ — sua esfera; vyomni — no céu; rarāja — brilhava; uḍu-gaṇaiḥ — junto com as estrelas; śaśī — a Lua; yathā — como; yadu-patiḥ — o mestre da dinastia Yadu; kṛṣṇaḥ — o Senhor Kṛṣṇa; vṛṣṇi-cakra — pelo círculo dos Vṛṣṇis; āvṛtaḥ — rodeado; bhuvi — sobre a Terra.
Tradução
A lua cheia brilhava no céu, rodeada de estrelas, assim como Śrī Kṛṣṇa, o Senhor da dinastia Yadu, brilhava na Terra, rodeado por todos os Vṛṣṇis.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Sanātana Gosvāmī explica que, em Vṛndāvana, a lua cheia está sempre no céu, e essa lua cheia é como a manifestação plena da Verdade Absoluta, Śrī Kṛṣṇa. Quando Se manifestou na terra, o Senhor Kṛṣṇa vivia rodeado de membros preeminentes da dinastia Vṛṣṇi, tais como Nanda, Upananda, Vasudeva e Akrūra.
Texto
prasūna-vana-mārutam
janās tāpaṁ jahur gopyo
na kṛṣṇa-hṛta-cetasaḥ
Sinônimos
āśliṣya — abraçando; sama — igual; śīta-uṣṇam — entre frio e calor; prasūna-vana — proveniente da floresta de flores; mārutam — o vento; janāḥ — as pessoas em geral; tāpam — sofrimento; jahuḥ — foram capazes de abandonar; gopyaḥ — as gopīs; na — não; kṛṣṇa — pelo Senhor Kṛṣṇa; hṛta — roubados; cetasaḥ — cujos corações.
Tradução
Exceto as gopīs, cujos corações haviam sido roubados por Kṛṣṇa, todos puderam esquecer seu sofrimento abraçando o vento, que não era quente nem frio, e que vinha da floresta repleta de flores.
Texto
puṣpiṇyaḥ śaradābhavan
anvīyamānāḥ sva-vṛṣaiḥ
phalair īśa-kriyā iva
Sinônimos
gāvaḥ — as vacas; mṛgāḥ — as corças; khagāḥ — as aves fêmeas; nāryaḥ — as mulheres; puṣpiṇyaḥ — em seus períodos férteis; śaradā — por causa do outono; abhavan — ficaram; anvīyamānāḥ — seguidas; sva-vṛṣaiḥ — por seus respectivos companheiros; phalaiḥ — por bons resultados; īśa-kriyāḥ — atividades executadas em prol do serviço ao Senhor Supremo; iva — como.
Tradução
Pela influência do outono, todas as vacas, corças, mulheres e aves fêmeas ficaram férteis e eram seguidas por seus respectivos companheiros em busca de gozo sexual, assim como atividades executadas em prol do serviço ao Senhor Supremo são automaticamente seguidas por todos os resultados benéficos.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Com a chegada da estação do outono, todas as vacas, corças, aves e fêmeas em geral ficam grávidas, porque todos os machos são impelidos pelo desejo sexual nessa estação. Isso é exatamente como os transcendentalistas que, pela graça do Senhor Supremo, são agraciados com a bênção de seu destino na vida. Śrīla Rūpa Gosvāmī instruiu em seu Upadeśāmṛta que devemos seguir o serviço devocional com grande entusiasmo, paciência e convicção e devemos seguir as regras e regulações, manter-nos livres da contaminação material e ficar na companhia dos devotos. Seguindo esses princípios, é certo que alcançaremos o resultado desejado do serviço devocional. Para aquele que segue com paciência os princípios reguladores do serviço devocional, chegará a hora em que ele alcançará o resultado, como as esposas que colhem resultados ficando grávidas.”
Texto
sūryotthāne kumud vinā
rājñā tu nirbhayā lokā
yathā dasyūn vinā nṛpa
Sinônimos
udahṛṣyan — desabrocharam abundantemente; vāri-jāni — os lótus; sūrya — o sol; utthāne — quando surgiu; kumut — o lótus kumut que floresce à noite; vinā — exceto; rājñā — devido à presença de um rei; tu — de fato; nirbhayāḥ — sem medo; lokāḥ — a população; yathā — como; dasyūn — os ladrões; vinā — exceto; nṛpa — ó rei.
Tradução
Ó rei Parīkṣit, quando nasceu o sol do outono, todas as flores de lótus desabrocharam alegremente, exceto o kumut que floresce à noite, assim como na presença de um governante forte todos se livram do temor, exceto os ladrões.
Texto
indriyaiś ca mahotsavaiḥ
babhau bhūḥ pakva-śaṣyāḍhyā
kalābhyāṁ nitarāṁ hareḥ
Sinônimos
pura — nas cidades; grāmeṣu — e nas vilas; āgrayaṇaiḥ — com execuções de sacrifício védico para saborear os primeiros cereais da nova colheita; indriyaiḥ — com outras celebrações (mundanas); ca — e; mahā-utsavaiḥ — grandes celebrações; babhau — brilhava; bhūḥ — a terra; pakva — maduros; śaṣya — com seus cereais; āḍhyā — rica; kalā — ela que é a expansão do Senhor; ābhyām — com aqueles dois (Kṛṣṇa e Balarāma); nitarām — muito; hareḥ — da Suprema Personalidade de Deus.
Tradução
Em todas as cidades e vilas, as pessoas realizaram grandes festivais, executando o sacrifício védico de fogo para honrar e saborear os primeiros cereais da nova colheita, junto com celebrações semelhantes que seguiam o costume e a tradição local. Assim a terra, rica de cereais novos e sobretudo embelezada pela presença de Kṛṣṇa e Balarāma, brilhava belamente como uma expansão do Senhor Supremo.
Comentário
SIGNIFICADO—A palavra āgrayaṇaiḥ refere-se a certo sacrifício védico autorizado, e a palavra indriyaiḥ refere-se a cerimônias folclóricas que têm objetivos um tanto mundanos.
Śrīla Prabhupāda faz o seguinte comentário: “Durante o outono, os campos se enchem de grãos maduros. Nessa ocasião, as pessoas ficam felizes com a colheita e celebram diversas cerimônias, tais como Navānna – o oferecimento dos grãos novos à Suprema Personalidade de Deus. Os grãos novos são primeiramente oferecidos às Deidades nos vários templos, e todas as pessoas são convidadas a comer arroz-doce feito com esses grãos novos. Há outras cerimônias religiosas e métodos de adoração, especialmente na Bengala, onde se celebra a maior dessas cerimônias, chamada Durgā-pūjā.”
Texto
nirgamyārthān prapedire
varṣa-ruddhā yathā siddhāḥ
sva-piṇḍān kāla āgate
Sinônimos
vaṇik — os mercadores; muni — os sábios renunciantes; nṛpa — os reis; snātāḥ — e os estudantes brahmacārīs; nirgamya — saindo; arthān — seus objetos desejados; prapedire — alcançavam; varṣa — pela chuva; ruddhāḥ — impedidos; yathā — como; siddhāḥ — pessoas aperfeiçoadas; sva-piṇḍān — as formas a que aspiram; kāle — quando o tempo; āgate — chega.
Tradução
Os mercadores, os sábios, os reis e os estudantes brahmacārīs, presos em casa por causa da chuva, estavam enfim livres para sair e alcançar o objeto de seus desejos, assim como aqueles que alcançam a perfeição nesta vida podem, quando chega o tempo oportuno, abandonar o corpo material e obter suas respectivas formas.
Comentário
SIGNIFICADO—Śrīla Prabhupāda comenta: “Em Vṛndāvana, a estação do outono era especialmente muito bela por causa da presença da Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa e Balarāma. A comunidade mercantil, a ordem real e os grandes sábios estavam livres para se movimentar e conseguir as bênçãos que desejavam. Igualmente, os transcendentalistas, quando libertos do engaiolamento do corpo material, também alcançavam a meta que desejavam. Durante a estação das chuvas, a comunidade mercantil não pode viajar de um lugar a outro e, assim, não consegue o lucro desejado. Nem pode a ordem real ir de um lugar a outro para cobrar impostos do povo. Quanto aos santos que devem viajar para pregar o conhecimento transcendental, eles também são estorvados pela estação das chuvas. Durante o outono, entretanto, todos eles deixam seu confinamento. No caso do transcendentalista, seja ele um jñānī, um yogī ou um devoto, ele não pode de fato gozar a realização espiritual por causa do corpo material. Logo que abandona o corpo, ou depois da morte, porém, o jñānī se funde na refulgência espiritual do Senhor Supremo, o yogī se transfere para os vários planetas superiores, e o devoto vai para o planeta do Senhor Supremo, Goloka Vṛndāvana, ou os Vaikuṇṭhas, gozando, assim, a vida espiritual eterna.”
Neste ponto, encerram-se os significados apresentados pelos humildes servos de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda referentes ao décimo canto, vigésimo capítulo, do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “A Estação das Chuvas e o Outono em Vṛndāvana”.