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Passatempos Desconcertantes

na veda kaścid bhagavaṁś cikīrṣitaṁ
tavehamānasya nṛṇāṁ viḍambanam
na yasya kaścid dayito ’sti karhicid
dveṣyaś ca yasmin viṣamā matir nṛṇām

Ó Senhor, ninguém pode entender Teus passatempos transcendentais, que parecem ser humanos e são tão desconcertantes! A Ti, ninguém é objeto especial de favores, nem tens algum objeto de inveja. As pessoas apenas imaginam que Tu és parcial.

A misericórdia do Senhor para com as almas caídas é distribuída igualmente. Ninguém é para Ele objeto especial de hostilidade. A própria concepção da Personalidade de Deus como um ser humano é desconcertante. Seus passatempos parecem ser exatamente como os de um ser humano, mas, na verdade, eles são transcendentais e sem nenhum vestígio de contaminação material. Ele é, sem dúvida, conhecido como parcial para com Seus devotos puros. Mas, na verdade, Ele nunca é parcial, assim como o sol não é parcial com ninguém. Pela influência dos raios do Sol, às vezes até mesmo as pedras se tornam preciosas, ao passo que um homem cego não pode ver o Sol, embora haja suficientes raios-de-sol diante dele. Escuridão e luz são duas concepções opostas, mas isso não significa que o Sol seja parcial na distribuição de seus raios. Os raios do Sol estão disponíveis para todos, mas as capacidades dos receptadores diferem. Os tolos pensam que serviço devocional seja adular o Senhor para obter misericórdia especial. Na verdade, os devotos puros, que estão ocupados em serviço transcendental amoroso ao Senhor, não são uma comunidade mercantil. Uma casa comercial presta serviços em troca de valores. Mas os devotos puros do Senhor não agem com essa consciência e, por isso, recebem a misericórdia total do Senhor. Homens sofredores e necessitados, pessoas curiosas ou filósofos estabelecem contato temporário com o Senhor, por propósitos particulares. Quando o objetivo é atingido, cessa a relação com o Senhor. Um homem que está sofrendo, caso seja realmente piedoso, ora ao Senhor por sua recuperação. Mas, tão logo se recupere, na maioria dos casos, não tem mais interesse em manter qualquer contato como Senhor. A misericórdia do Senhor esta à sua disposição, mas ele reluta em aceitá-la. Essa é a diferença entre o devoto puro e o devoto misto. Aqueles que se opõem completamente ao serviço devocional ao Senhor são considerados como estando em abjeta escuridão; aqueles que pedem o favor do Senhor apenas em momentos de necessidade são recipientes parciais da Sua misericórdia, e aqueles que estão cem por cento ocupados no serviço ao Senhor são recipientes completos da misericórdia do Senhor. Essa parcialidade no recebimento da misericórdia do Senhor é relativa ao recipiente e não significa que o Senhor todo-misericordioso seja parcial.

Quando o Senhor desce a este mundo material, através de Sua energia todo-misericordiosa, Ele atua como um ser humano, e, por isso, parece que o Senhor é parcial apenas com Seus devotos. Mas isso não é verdade. A despeito dessa manifestação aparente de parcialidade, Sua misericórdia é distribuída igualmente. No Campo de Batalha de Kurukṣetra, todas as pessoas que morreram na presença do Senhor obtiveram a salvação, mesmo sem as qualificações necessárias, porque a morte na presença do Senhor purifica a alma dos efeitos de todos os pecados. Portanto, o moribundo obtém um lugar em alguma parte da morada transcendental. De alguma forma, alguém que se expõe aos raios do Sol obterá o devido benefício do calor e dos raios ultravioleta. Conclui-se, portanto, que o Senhor nunca é parcial. É um erro pensarmos que Ele seja parcial.

O Senhor diz na Bhagavad-gītā (4.8):

paritrāṇāya sādhūnāṁ
vināśāya ca duṣkṛtām
dharma-saṁsthāpanārthāya
sambhavāmi yuge yuge

“Para proteger os piedosos e aniquilar os canalhas, bem como para restabelecer os princípios religiosos, Eu próprio advenho, milênio após milênio”.

Quando desce, Deus tem duas missões: aniquilar os demônios e libertar os sādhus, os devotos sinceros. A palavra sādhūnām, que significa “pessoas santas”, refere-se aos devotos. Ela não tem nada a ver com honestidade ou desonestidade, moralidade ou imoralidade mundanas; não tem que ver com atividades materiais. Às vezes, podemos pensar que a palavra sādhu se refira a uma pessoa que seja materialmente boa e íntegra; mas, na verdade, ela se refere àquele que está na plataforma transcendental. Um sādhu, portanto, é um devoto, porque a pessoa que se ocupa em serviço devocional é transcendental às qualidades materiais (sa guṇān samatītyaitān).

O Senhor vem para libertar os devotos (paritrāṇāya sādhūnām), mas está dito claramente na Bhagavad-gītā (14.26): o devoto transcende as qualidades materiais (paritrāṇāya sādhūnāṁ). Um devoto está na posição transcendental, porque não está mais sob o controle dos três modos materiais da natureza – bondade, paixão e ignorância. “Mas, se um sādhu está liberado, estando na plataforma transcendental, qual é, então, a necessidade de libertá-lo?”, esta pergunta pode surgir. O Senhor vem para libertar o devoto, mas o devoto já está livre. Essa aparente contradição é a razão pela qual se usa, neste verso, a palavra viḍambanam, que significa desconcertante.

A resposta para essa contradição é que um sādhu, um devoto, não necessita de liberação. Mas, porque está muito ansioso por ver o Senhor Supremo face a face, Kṛṣṇa vem – não para libertá-lo das garras da matéria, das quais ele já está livre – mas, sim, para satisfazer seu desejo interno. Da mesma forma que um devoto deseja satisfazer o Senhor de todas as maneiras, o Senhor tem o desejo, ainda mais intenso, de satisfazer o devoto. Assim são os intercâmbios nos assuntos amorosos. Mesmo em nossos relacionamentos comuns, desejamos satisfazer a pessoa amada, e vice-versa. Então, se o intercâmbio nos assuntos amorosos existe mesmo neste mundo material, imagine de que forma superior esse intercâmbio deve existir no mundo espiritual. Há um verso no qual o Senhor diz: “O sādhu é Meu coração, e Eu também sou o coração do sādhu”. O sādhu está sempre pensando em Kṛṣṇa, e Kṛṣṇa está sempre pensando no sādhu, Seu devoto.

O aparecimento e desaparecimento do Senhor neste mundo material são chamados de cikīrṣitam, passatempos. É por passatempo que Kṛṣṇa vem. Evidentemente, quando vem, o Senhor tem algum trabalho a realizar – proteger o sādhu e matar os que são contra o sādhu –, mas ambas as atividades são Seus passatempos.

O Senhor não é invejoso. O matar de demônios também é uma demonstração de Sua afeição. De vez em quando punimos nossos filhos, dando-lhes umas boas palmadas, mas o fazemos por amor. Da mesma maneira, quando Kṛṣṇa mata um demônio, esse matar não está na plataforma da inveja ou ciúme materiais, e, sim, na plataforma da afeição. Por conseguinte, está mencionado nos śāstras, as literaturas védicas, que mesmo os demônios mortos pelo Senhor alcançam imediatamente a salvação. Pūtanā, por exemplo, era uma bruxa demoníaca que desejou matar Kṛṣṇa. Quando Kṛṣṇa estava realizando Seus passatempos como uma criancinha, ela untou o bico de seio com veneno e se aproximou da casa de Kṛṣṇa para oferecer-Lhe seu leite. “Quando Kṛṣṇa mamar no meu seio”, ela pensou, “morrerá instantaneamente”. Mas isso não é possível. Quem pode matar Kṛṣṇa? Na verdade, quem morreu foi ela, porque Kṛṣṇa mamou em seu seio retirando o leite e sua vida juntos. Mas qual foi o resultado? Kṛṣṇa viu o lado bom. “Esta mulher demoníaca veio matar-Me”, Ele pensou, “mas, de uma forma ou outra, Eu tomei o leite de seu seio. Então, ela é Minha mãe”. Assim, Pūtanā alcançou a posição de mãe de Kṛṣṇa no mundo espiritual. Isso é explicado no Śrīmad-Bhāgavatam, onde Uddhava diz a Vidura que Kṛṣṇa é tão bondoso, Deus é tão bondoso, que mesmo a bruxa que desejou matá-lO com veneno foi aceita como Sua mãe. “Visto que Kṛṣṇa é um Deus tão bondoso”, ele disse, “quem mais deveríamos adorar além dEle?”

Kuntīdevī diz: na yasya kaścid dayitaḥ. A palavra dayita significa “favorecer”. Kṛṣṇa não favorece ninguém. Dveṣyaś ca: e ninguém é Seu inimigo. Podemos esperar por alguma bênção ou lucro de um amigo e problemas de um inimigo, mas Kṛṣṇa é tão perfeito que ninguém pode Lhe criar problemas ou Lhe dar nada. Então, quem pode ser Seu amigo ou Seu inimigo? Na yasya kaścid dayito ’sti: Ele não precisa da ajuda de ninguém. Ele é completo. Devido à pobreza, podem-se esperar benefícios de algum amigo, mas isso acontece devido à nossa imperfeição. Pelo fato de não sermos completos e termos tantas deficiências, estamos sempre necessitados. Portanto, desejamos criar amizades, e, da mesma maneira, odiar nossos inimigos. Porém, uma vez que Kṛṣṇa é o Supremo, ninguém pode incomodá-lO nem Lhe dar nada.

Por que, então, adoramos Kṛṣṇa no templo, oferecendo-Lhe tantos confortos, vestindo-O, decorando-O e dando-Lhe tantos pratos saborosos? Devemos tentar compreender que Kṛṣṇa não necessita nossos oferecimentos de boa roupa, flores ou comida. Mas adorando-O assim, nos beneficiaremos. Então, é um favor que Kṛṣṇa nos faz ao aceitar esses oferecimentos. Quando alguém se veste bem, seu reflexo no espelho também estará bem vestido. Da mesma maneira, visto que somos reflexos de Kṛṣṇa, se decorarmos Kṛṣṇa nós também seremos decorados. Na Bíblia, está dito que o homem é feito à imagem de Deus, e isso significa que somos reflexos da imagem, da forma de Deus. Não é que inventamos ou imaginamos alguma forma para Deus, baseados em nossa própria forma. Aqueles que aderem à filosofia māyāvādā do antropomorfismo dizem: “A Verdade Absoluta é impessoal, mas, porque somos pessoas, imaginamos que a Verdade Absoluta também seja uma pessoa”. Isso é um engano. Na verdade, acontece o oposto. Temos duas mãos, duas pernas e uma cabeça porque o próprio Deus tem essas características. Temos formas pessoais porque somos reflexos de Deus. Ainda mais, devemos compreender filosoficamente que se a pessoa original se beneficia, o reflexo também se beneficia. Então, se decorarmos Kṛṣṇa, nós também seremos decorados. Se satisfizermos Kṛṣṇa, nós também ficaremos satisfeitos. Se oferecermos boa comida a Kṛṣṇa, nós também comeremos a mesma boa comida. Aqueles que vivem fora dos templos de Kṛṣṇa não podem nem imaginar que comida deliciosa se oferece a Kṛṣṇa. Mas, porque está sendo oferecida a Kṛṣṇa, nós também temos a oportunidade de comê-la. Por isso, deveríamos tentar satisfazer Kṛṣṇa em todos os sentidos, para também nos sentirmos satisfeitos.

Kṛṣṇa não precisa de nosso serviço, mas Ele bondosamente o aceita. Quando Kṛṣṇa pede que nos rendamos a Ele (sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja), isso não significa que Kṛṣṇa esteja precisando de servos e que, se nos rendermos, Ele Se beneficiará. Kṛṣṇa pode criar milhões de servos através de um simples desejo Seu. Então, esse não é o caso. Mas, se nos rendermos a Kṛṣṇa, seremos salvos, porque Kṛṣṇa diz, ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo mokṣayiṣyāmi: “Eu o livrarei de todas as reações pecaminosas”. Estamos sofrendo aqui neste mundo material, sem nenhum abrigo. Vemos até muitas pessoas vagueando, perambulando pelas ruas, sem um objetivo na vida. Quando passeamos pela praia, de manhã cedo, vemos muitos jovens dormindo ou perambulando, sem objetivo, confusos, sem saber o que fazer. Mas, quando nos abrigamos em Kṛṣṇa, sentimos: “Ah! Agora encontrei abrigo”. Então, não haverá mais confusão, nem desespero. Eu recebo diariamente muitas cartas de pessoas expressando como encontraram esperança na consciência de Kṛṣṇa. Portanto, não é um fato que Kṛṣṇa tenha vindo meramente para conseguir alguns servos. Ao contrário, Ele veio para nosso benefício.

Infelizmente, entretanto, ao invés de nos tornarmos servos de Kṛṣṇa, estamos servindo a tantas coisas diferentes. Somos servos de nossos sentidos e das atividades sensuais como luxúria, ira, inveja e ilusão. Na verdade, o mundo inteiro está assim iludido. Mas, se ocuparmos nossos sentidos no serviço a Kṛṣṇa, não seremos mais servos e, sim, senhores dos sentidos. Quando temos força para impedir que nossos sentidos se ocupem em outra coisa que não seja Kṛṣṇa, somos salvos.

Aqui, Kuntīdevī diz: “Seu aparecimento neste mundo material é desorientador, desconcertante”. Nós pensamos: “Kṛṣṇa tem alguma missão, algum propósito, e, portanto, apareceu”. Não. É para executar Seus passatempos que Ele aparece. Por exemplo: de vez em quando, o governador inspeciona a prisão. Ele pode se informar com o superintendente da prisão e assim não tem necessidade de ir pessoalmente. Mas, às vezes, ele pensa: “Vejamos como os presos estão passando”. Isso pode ser chamado de passatempo, porque ele vai por vontade própria e não tem de se sujeitar às leis da prisão. Mas, ainda assim, um prisioneiro pode pensar: “Ah! O governador também está preso. Então, somos iguais. Eu também sou governador!” Sujeitos ignorantes pensam assim. “Porque Kṛṣṇa apareceu como um avatāra”, eles dizem, “eu também sou um avatāra”. Mas aqui está dito, na veda kaścid bhagavaṁś cikīrṣitam: “Ninguém conhece o propósito de Seu aparecimento e desaparecimento”. Tavehamānasya nṛṇāṁ viḍam-banam: os passatempos do Senhor são desconcertantes. Ninguém pode compreender seu verdadeiro propósito.

A verdadeira causa dos passatempos do Senhor é Sua livre e espontânea vontade. Ele pensa: “Deixe-Me ir e ver”. Ele não precisa vir para matar os demônios. Ele tem muitos agentes na natureza material que podem matá-los. Por exemplo: em um momento, Ele pode matar milhares de demônios apenas com fortes ventanias. Ele também não precisa vir para proteger os devotos, porque pode fazer qualquer coisa simplesmente através de Sua vontade. Mas Ele desce para desfrutar de passatempos que Lhe deem prazer. “Deixe-Me ir e ver”.

De vez em quando Kṛṣṇa deseja ter o prazer de lutar. O espírito de luta também está presente em Kṛṣṇa; caso contrário, de onde teríamos obtido esta propensão? Porque somos partes integrantes de Kṛṣṇa, todas as qualidades de Kṛṣṇa estão presentes em nós, em quantidade diminuta. Nós somos amostras de Kṛṣṇa. Onde conseguimos este espírito de luta? Ele está presente em Kṛṣṇa. Por conseguinte, da mesma maneira que um rei ocupa um lutador para competir com ele, Kṛṣṇa também ocupa entidades vivas em lutar com Ele. O lutador é pago para lutar com o rei. Ele não é um inimigo do rei; pelo contrário, ele satisfaz o rei, lutando com ele esportivamente. Mas, quando Kṛṣṇa quer lutar, quem pode lutar com Ele? Ninguém comum. Um rei que deseja lutar para treinar ocupa nisso um bom lutador. De forma similar, Kṛṣṇa não luta com pessoas comuns, mas, sim, com alguns de Seus maiores devotos. Porque Kṛṣṇa deseja lutar, alguns de Seus devotos vêm a este mundo material e atuam como seus inimigos, lutando contra Ele. Por exemplo: o Senhor veio para matar Hiraṇyakaśipu e Hiraṇyākṣa. Será que eles eram entidades vivas comuns? Não. Eles eram os grandes devotos Jaya e Vijaya, que vieram a este mundo material porque Kṛṣṇa desejava lutar. Em Vaikuṇṭha, o mundo espiritual, não há possibilidade de luta, porque todos estão ocupados no serviço a Kṛṣṇa. Com quem iria Ele lutar? Por conseguinte, Kṛṣṇa envia algum devoto para atuar como Seu inimigo neste mundo material e luta com ele. Ao mesmo tempo, o Senhor nos ensina que se tornar Seu inimigo não é tão proveitoso quanto se tornar Seu amigo. Kuntīdevī, portanto, diz, na veda kaścid bhagavaṁś cikīrṣitam: “Ninguém conhece o propósito de Seu aparecimento e desaparecimento”. Tavehamānasya nṛṇāṁ viḍambanam: “Você está neste mundo material como se fosse um ser humano comum, e isto é desconcertante”.

Porque Kṛṣṇa às vezes aparece como um homem comum, de vez em quando as pessoas não conseguem acreditar ou compreender Suas atividades. Elas se admiram: “Como pode Deus tornar-Se alguém como nós?” Mas, embora Kṛṣṇa às vezes atue como uma pessoa comum, Ele, na verdade, não é comum e sempre que é necessário revela os poderes de Deus. Quando dezesseis mil moças foram raptadas pelo demônio Bhaumāsura, elas oraram a Kṛṣṇa, e, assim, Kṛṣṇa foi ao palácio do demônio, matou-o e libertou todas as moças. Mas, de acordo com o sistema védico estrito, se uma moça solteira abandonar sua casa, mesmo por uma noite, ninguém mais se casará com ela. Por conseguinte, quando Kṛṣṇa disse às moças “Agora vocês podem voltar em segurança para a casa de seus pais”, elas responderam: “Senhor, se voltarmos para casa de nossos pais, qual será nosso destino? Ninguém se casará conosco porque este homem nos raptou”.

“Então, o que desejam vocês?”, Kṛṣṇa perguntou. As moças responderam: “Desejamos que Você seja nosso esposo”. E Kṛṣṇa é tão bondoso que disse sim imediatamente, e as aceitou.

Contudo, quando Kṛṣṇa trouxe as moças para Sua capital, elas não tiveram que esperar, cada uma, dezesseis mil noites para se encontrar com Kṛṣṇa. Em vez disso, Kṛṣṇa expandiu-Se em dezesseis mil formas, construiu dezesseis mil palácios e viveu em cada palácio, com cada esposa.

Embora isso esteja descrito no Śrīmad-Bhāgavatam, os patifes não conseguem compreender. Ao contrário, eles criticam Kṛṣṇa. “Ele era muito luxurioso”, eles dizem. “Ele Se casou com dezesseis mil esposas”. Mesmo que seja luxurioso, Ele é ilimitadamente luxurioso. Deus é ilimitado. Por que dezesseis mil? Ele poderia casar-Se com dezesseis milhões e ainda assim não alcançar os limites de Sua perfeição. Isto é Kṛṣṇa. Não podemos acusar Kṛṣṇa de ser luxurioso ou sensual. Não. Existem muitos devotos de Kṛṣṇa, e Kṛṣṇa os favorece a todos. Alguns pedem a Kṛṣṇa que Se torne seu senhor, outros Lhe pedem que Se torne seu amigo, outros pedem que Se torne seu filho e outros Lhe pedem que Se torne seu amante. Dessa maneira, existem milhões e trilhões de devotos por todo o universo, e Kṛṣṇa tem que satisfazer a todos. Ele não precisa de nenhuma ajuda desses devotos: mas, porque eles desejam servi-lO de uma forma particular, o Senhor reciproca. Estas dezesseis mil devotas desejaram Kṛṣṇa como esposo, e, assim, Kṛṣṇa concordou.

Assim sendo, Kṛṣṇa, às vezes, age como um homem comum; mas, como Deus, Ele Se expandiu em dezesseis mil formas. Uma vez, o grande sábio Nārada foi visitar Kṛṣṇa e Suas esposas. “Kṛṣṇa Se casou com dezesseis mil esposas”, ele pensou. “Deixe-me ver como Ele está vivendo com elas”. Então, ele encontrou Kṛṣṇa vivendo diferentemente em cada um dos dezesseis mil palácios. Em um palácio Ele estava conversando com Sua esposa, em outro estava brincando com Seus filhos, em outro providenciando o casamento de Seus filhos e filhas, e, desta maneira, Ele estava ocupado em vários passatempos, em todos os Seus dezesseis mil palácios. Da mesma forma, em Sua infância, Kṛṣṇa brincava exatamente como uma criança comum, mas, quando Sua mãe, Yaśodā, lhe pediu que abrisse a boca para ver se Ele havia comido terra, Kṛṣṇa mostrou, dentro de Sua boca, todos os universos. Isto é Kṛṣṇa. Embora atue exatamente como um ser humano comum, quando surge a necessidade Ele mostra Sua natureza como Deus. Para dar outro exemplo, Kṛṣṇa atuou como quadrigário de Arjuna, mas, quando Arjuna desejou ver a forma universal de Kṛṣṇa, Kṛṣṇa imediatamente lhe mostrou uma forma cósmica com milhares e milhões de cabeças, pernas, braços e armas. Isto é Kṛṣṇa.

Kṛṣṇa é completamente independente, e não tem amigos ou inimigos, mas age para o benefício tanto de Seus amigos quanto de Seus inimigos, e quando Ele age para o benefício de ambos o resultado é o mesmo. Esta é a natureza absoluta de Kṛṣṇa.