Skip to main content

13

A Força Vital do Universo

janma karma ca viśvātmann
ajasyākartur ātmanaḥ
tiryaṅ-nṝṣiṣu yādaḥsu
tad atyanta-viḍambanam

É realmente desconcertante, ó alma do universo, que trabalhes, embora sejas inativo, e que nasças, embora sejas a força vital e o não-nascido. Tu apareces pessoalmente entre animais terrestres, aves, homens, sábios e seres aquáticos. Na verdade, isso é desconcertante.

Os passatempos transcendentais do Senhor são não apenas desconcertantes, como também aparentemente contraditórios. Em outras palavras, todos eles são inconcebíveis para o limitado poder de pensamento do ser humano. O Senhor é a todo predominante Superalma de toda existência, e, todavia, Ele aparece sob a forma de um javali entre os animais; sob a forma de um ser humano como Rāma, Kṛṣṇa etc.; sob a forma de um ṛṣi como Nārāyana e sob a forma de um ser aquático como um peixe. Todavia, é dito que Ele é não-nascido e que nada tem a fazer. No śruti-mantra, afirma-se que o Brahman Supremo nada tem a fazer. Ninguém é igual ou superior a Ele. Ele tem energias múltiplas e executa tudo perfeitamente, através de conhecimento, força e atividade automáticos. Todas essas afirmações provam, sem nenhuma dúvida, que as atividades, formas e feitos do Senhor são todos inconcebíveis para nosso limitado poder de pensamento. E porque Ele é inconcebivelmente poderoso, tudo é possível nEle. Portanto, ninguém pode avaliá-lO exatamente; todas as ações do Senhor são desconcertantes para o homem comum. Ele não pode ser compreendido através do conhecimento védico, mas pode ser facilmente entendido pelos devotos puros que estão intimamente relacionados com Ele. Portanto, os devotos sabem que, embora apareça entre os animais, Ele não é um animal, nem um homem, nem um ṛṣi, nem um peixe. Ele é eternamente o Senhor Supremo em todas as circunstâncias.

Kuntī se dirige a Kṛṣṇa como viśvātman, a força vital do Universo. Em todo e cada corpo existe uma força vital. Essa força vital é o ātmā, o ser vivo, a alma. É devido à presença dessa força vital, a alma, que todo o corpo funciona. Analogamente, existe uma força vital suprema. Essa força vital suprema é Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, onde está o problema de Ele nascer? Na Bhagavad-gītā (4.9), o Senhor diz:

janma karma ca me divyam
evaṁ yo vetti tattvataḥ
tyaktvā dehaṁ punar janma
naiti mām eti so ’rjuna

“Ó Arjuna, aquele que conhece a natureza transcendental de Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo não nasce outra vez neste mundo material, mas alcança Minha morada eterna”.

Neste verso, a palavra divyam indica especificamente que o aparecimento e atividades do Senhor são espirituais. E também, em outra parte da Bhagavad-gītā, declara-se: ajo ’pi sann avyayātmā. A palavra aja significa “não-nascido”, e avyayātmā significa “não estando sujeito à destruição”. Esta é a natureza de Kṛṣṇa, e esta natureza transcendental é amplamente descrita por Kuntīdevī em suas preces ao Senhor.

No início de suas preces, Kuntīdevī disse ao Senhor: “Você está dentro e fora, mas, ainda assim, Você é invisível”. Kṛṣṇa está dentro do coração de todos (īśvaraḥ sarva-bhūtānāṁ hṛd-deśe ’rjuna tiṣṭhati, sarvasya cāhāṁ hṛdi sanniviṣṭah). Na verdade, Ele está dentro de tudo, até dos átomos (aṇḍāntara-stha-paramāṇu-cayāntara-stham). Kṛṣṇa está dentro e fora de tudo. Assim, Kṛṣṇa mostrou a Arjuna Sua forma externa como a viśva-rūpa, a gigantesca manifestação cósmica.

Este corpo externo de Kṛṣṇa é descrito no Śrīmad-Bhāgavatam. Lá, os morros e montanhas são descritos como os ossos do Senhor, os grandes oceanos como diferentes orifícios no corpo universal do Senhor e o planeta conhecido como Brahmaloka como a porção superior de Seu crânio. Aqueles que não conseguem ver Deus são aconselhados a vê-lO sob muitas formas relacionadas à manifestação cósmica, de acordo com as instruções dadas na literatura védica.

Existem os que podem apenas pensar em Deus como sendo grande, mas não sabem quão grande Ele é. Quando eles pensam em grandeza, imaginam montanhas muito altas, o céu e outros planetas. Portanto, o Senhor tem sido descrito em termos de tais manifestações materiais, para que, quando as pessoas pensem nessas diferentes manifestações, também pensem no Senhor. Isto também é consciência de Kṛṣṇa. Quem pensa “Esta montanha é um osso de Kṛṣṇa”, ou pensa no vasto Oceano Pacífico como o umbigo de Kṛṣṇa, está em consciência de Kṛṣṇa. De igual maneira, pode-se pensar nas árvores e plantas como sendo os pelos do corpo de Kṛṣṇa, e pensar em Brahmaloka como a parte superior de Seu cranto, ou no sistema planetário de Patalaloka como as solas dos Seus pés. Assim, pode-se pensar em Kṛṣṇa como o maior dentre os maiores (mahato mahīyān).

Da mesma forma, pode-se pensar em Kṛṣṇa como o menor entre os menores. Isto também é um tipo de grandeza. Kṛṣṇa pode manufaturar esta gigantesca manifestação cósmica e também um inseto minúsculo. Dentro de um livro, às vezes, pode-se encontrar um inseto menor que um ponto. Isso é a criação de Kṛṣṇa. Aṇor aṇīyān mahato māhīyān (Kaṭha Upaniṣad 1.2.20): Ele pode criar algo maior que o maior e menor que o menor. Agora os seres humanos fabricaram o avião 747, que, de acordo com sua concepção, é muito grande. Mas será que eles poderiam produzir um avião do tamanho de um pequeno inseto voador? Isto não é possível. Verdadeira grandeza, entretanto, não é unilateral. Aquele que é realmente grande pode se tornar maior que o maior e menor que o menor.

Contudo, mesmo as maiores coisas que se possa manufaturar nesta era moderna não são as maiores que o homem já criou. Nós obtemos informação do Śrīmad-Bhāgavatam que Kardama Muni, o pai do grande sábio Kapiladeva, criou um avião enorme que parecia uma cidade. Nele existiam lagos, jardins, ruas e casas, e a cidade inteira era capaz de voar por todo o universo. Neste avião, Kardama Muni viajou com sua esposa e lhe mostrou todos os planetas. Ele era um grande yogī, e sua esposa, Devahūti, era filha de Svāyambhuva Manu, um grande rei. Kardama Muni desejava casar-se, e Devahūti disse a seu pai: “Meu querido pai, eu quero me casar com aquele sábio”. Assim, Svāyambhuva Manu levou sua filha até Kardama Muni e disse: “Senhor, aqui está minha filha. Por favor, aceite-a como sua esposa”. Ela era filha de um rei e era muito rica. Mas, quando se uniu a seu esposo, que era muito austero, teve de servi-lo tanto que ficou muito fraca e magra. Na verdade, mesmo com alimentos insuficientes, ela trabalhava dia e noite. Essa atitude penalizou Kardama Muni. “Esta mulher que veio a mim é filha de um rei”, ele pensou, “mas, sob minha proteção, ela vive muito desconfortavelmente. Por isso, tenho que lhe dar algum conforto”. Por conseguinte, ele perguntou à esposa: “O que poderia fazê-la sentir-se confortável?” A natureza feminina, naturalmente, deseja uma boa casa, boa comida, roupas finas, bons filhos e um bom esposo. Estas são as ambições femininas. Portanto, Kardama Muni provou à esposa que ela possuía o melhor esposo. Através de poderes ióguicos ele criou esse enorme avião e lhe deu também uma grande casa, repleta de servas e todas as opulências. Kardama Muni era um mero ser humano, mas podia realizar essas atividades maravilhosas através de seus poderes místicos.

Kṛṣṇa, entretanto, é yogeśvara, o senhor de todos os poderes místicos. Se obtemos um pouquinho de poder místico nos sentimos muito importantes, mas Kṛṣṇa é o senhor de todos os poderes místicos. Na Bhagavad-gītā, afirma-se que onde quer que esteja Yogeśvara, Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, o senhor de todos os poderes místicos, e onde quer que esteja Arjuna, que também é conhecido como Pārtha ou Dhanur-dhara, tudo está presente.

Devemos sempre lembrar que, se conseguirmos nos manter na companhia de Kṛṣṇa, alcançaremos toda a perfeição. E, especialmente nesta era, Kṛṣṇa veio como o santo nome (kali-kāle nāma-rūpe kṛṣṇa avatāra, Caitanya-caritāmṛta, Ādi 17.22). Portanto, Caitanya Mahāprabhu diz:

nāmnām akāri bahudhā nija-sarva-śaktis
tatrārpitā niyamitaḥ smaraṇe na kālaḥ

“Meu querido Senhor, o Senhor é tão bondoso que está me agraciando com Sua associação, na forma de Seu santo nome, e este santo nome pode ser cantado em qualquer situação”. Não existem regras estritas e difíceis para cantar Hare Kṛṣṇa. Pode-se cantar Hare Kṛṣṇa em qualquer lugar. Crianças, por exemplo, também cantam e dançam. Não é nem um pouco difícil. Enquanto caminham, nossos estudantes cantam em suas contas. Qual é o prejuízo? Mas o ganho é muito grande, porque quando cantamos nos associamos com Kṛṣṇa pessoalmente. Suponhamos que fôssemos falar com o Presidente pessoalmente. Como nos sentiríamos orgulhosos. “Oh! Eu estou com o Presidente”. Então, não ficaríamos muito mais orgulhosos se pudéssemos nos associar com o presidente supremo, que é capaz de criar milhões de presidentes como esses deste mundo? Este cantar é uma oportunidade para isso. Por conseguinte, Caitanya Mahāprabhu diz, etādṛśī tava kṛpā bhagavan mamāpi: “Meu querido Senhor, o Senhor é tão bondoso para mim que está sempre preparado para me oferecer Sua associação”, e durdaivam īdṛśam ihājani nānurāgaḥ: “Mas por ser muito desafortunado não aproveito a oportunidade”.

Nosso movimento da consciência de Kṛṣṇa está simplesmente pedindo às pessoas: “Cantem Hare Kṛṣṇa”. Havia um quadrinho num jornal que mostrava uma senhora e seu marido sentados um defronte ao outro. A senhora está pedindo ao esposo: “Cante, cante, cante”. E o marido responde: “Não posso, não posso, não posso”. Da mesma maneira, estamos pedindo a todos: “Por favor, cantem, cantem, cantem”. Mas estão respondendo: “Não podemos, não podemos, não podemos”. Esta é sua má fortuna.

Mesmo assim, é nosso dever tornar afortunadas essas pessoas desafortunadas. Esta é nossa missão. Por isso, saímos às ruas e cantamos. Embora eles digam “Não podemos”, nós continuamos cantando. Este é nosso dever. E se, de uma forma ou outra, colocamos algum livro nas mãos de alguém, essa pessoa se torna afortunada. Ela iria desperdiçar seu dinheiro, obtido através de trabalho duro, de tantas maneiras horríveis e pecaminosas. Mas, se comprar um livro apenas, sem se importar com o preço, seu dinheiro estará sendo aplicado de forma correta. Este é o começo da consciência de Kṛṣṇa. Por dar um pouco de seu dinheiro, que é tão difícil de ser obtido, para o movimento da consciência de Kṛṣṇa, a pessoa obtém um ganho espiritual. Ela não está perdendo; ao contrário, está recebendo lucro espiritual. Por conseguinte, nossa ocupação é, de um jeito ou de outro, trazer todo o mundo para este movimento da consciência de Kṛṣṇa, para que todos lucrem espiritualmente.

Quando Kṛṣṇa apareceu na Terra, nem todos souberam que Ele era a Suprema Personalidade de Deus. Embora sempre que houvesse necessidade Ele provava que era a Suprema Personalidade de Deus, normalmente agia como um ser humano comum. Portanto, Śukadeva Gosvāmī, enquanto descreve como Kṛṣṇa brincava exatamente como um vaqueirinho comum, chama a atenção sobre a verdadeira identidade de Kṛṣṇa. Quem é este vaqueirinho? Śukadeva Gosvāmī diz: itthaṁ satāṁ brahma-sukhānubhūtyā. Os impersonalistas meditam no Brahman impessoal e assim sentem alguma bem-aventurança transcendental, mas Śukadeva Gosvāmī dá ênfase ao fato de que a fonte desta bem-aventurança transcendental está aqui – Kṛṣṇa.

Kṛṣṇa é a origem de tudo (ahaṁ sarvasya prabhavaḥ). Portanto, a bem-aventurança transcendental que os impersonalistas tentam experimentar, através da meditação no Brahman impessoal, provém, na verdade, de Kṛṣṇa. Śukadeva Gosvami diz: “Aqui está a pessoa que é a fonte de brahma-sukha, a bem-aventurança transcendental que vem da compreensão de Brahman”.

Um devoto está sempre disposto a executar serviço ao Senhor (dāsyaṁ gatānāṁ para-daivatena). Mas, para aqueles que estão sob a influência da energia ilusória, Ele é como um menino comum (māyāśritānāṁ nara-dārakeṇa). Ye yathā māṁ prapadyante tāṁs tathaiva bhajāmy aham: Kṛṣṇa reciproca com diferentes entidades vivas de acordo com as concepções particulares de cada uma. Para aquelas que consideram Kṛṣṇa um ser humano comum, Kṛṣṇa age como tal, ao passo que os devotos que aceitam Kṛṣṇa como a Suprema Personalidade de Deus desfrutarão da companhia da Suprema Personalidade de Deus. Naturalmente, o objetivo do impersonalista é o brahmajyoti, a refulgência impessoal do Supremo, mas Kṛṣṇa é a origem de tal refulgência. Por conseguinte, Kṛṣṇa é tudo (brahmeti paramātmeti bhagavān iti śabdyate).

Apesar disso, os vaqueirinhos são capazes de brincar com este mesmo Kṛṣṇa, a elevada Suprema Personalidade de Deus. Como eles se tornaram tão afortunados a ponto de serem capazes de brincar com Kṛṣṇa?

itthaṁ satāṁ brahma-sukhānubhūtyā
dāsyaṁ gatānāṁ para-daivatena
māyāśritānāṁ nara-dārakeṇa
sārdhaṁ vijahruḥ kṛta-puṇya-puñjāḥ

(Bhāgavatam 10.12.11)

Os vaqueirinhos que brincam com Kṛṣṇa tampouco são comuns, porque alcançaram a perfeição mais elevada de serem capazes de brincar com a Suprema Personalidade de Deus. Como alcançaram esta posição? Kṛta-puṇya-puñjāḥ: através de muitas vidas realizando atividades piedosas. Por muitas, muitas vidas, esses meninos executaram austeridades e penitências para alcançar a mais elevada perfeição da vida. E agora eles têm a oportunidade de brincar com Kṛṣṇa pessoalmente, no mesmo nível. Eles não sabem que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus, porque esta é a natureza de vṛndāvana-līIā, os passatempos de Kṛṣṇa na aldeia de Vṛndāvana.

Não conhecendo a identidade de Kṛṣṇa, os vaqueirinhos simplesmente amam Kṛṣṇa, e seu amor é eterno. Isto é verdade para todos em Vṛndāvana. Como exemplo disto, Yaśodāmātā e Nanda Mahārāja, a mãe e o pai de Kṛṣṇa, amam Kṛṣṇa com amor paternal. Da mesma forma, os amigos de Kṛṣṇa, as namoradas de Kṛṣṇa, as árvores, a água, as flores, as vacas, os bezerros – todos amam Kṛṣṇa. Esta é a natureza de Vṛndāvana. Então, se simplesmente aprendermos como amar Kṛṣṇa, poderemos transformar este mundo em Vṛndāvana, imediatamente.

Este é o ponto central – como amar Kṛṣṇa (premā pumārtho mahān). As pessoas geralmente desejam dharma, artha, kāma e mokṣa – religiosidade, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação. Mas Caitanya Mahāprabhu discordou dessas quatro coisas. “Este não é o objetivo da vida”, Ele disse. O verdadeiro objetivo da vida é amor por Kṛṣṇa.

É um fato que a vida humana não começa antes que se tenha algum conceito de religião (dharma). Mas, na era atual, Kali-yuga, dharma é praticamente nulo – não existe religião nem moralidade. Também não existem atividades piedosas. Portanto, de acordo com os cálculos védicos, a presente civilização não é nem mesmo composta de seres humanos. Anteriormente, as pessoas se preocupavam com moralidade e imoralidade, religião e irreligião; mas, com o avanço de Kali-yuga, isto está sendo quase eliminado, e as pessoas podem fazer qualquer coisa sem se incomodar com o que seja. O Śrīmad-Bhāgavatam diz, e nós podemos perceber na prática, que em Kali-yuga quase oitenta por cento das pessoas são pecaminosas. Vida sexual ilícita, intoxicação, comer de carne e jogo são os quatro pilares da vida pecaminosa. Por isso, pedimos às pessoas que primeiro quebrem esses pilares, para que o teto da vida pecaminosa sofra um colapso e caia. Em seguida, cantando Hare Kṛṣṇa, a pessoa se estabelece numa posição transcendental. É um método muito simples.

Ninguém pode compreender Deus enquanto sua vida for pecaminosa. Por conseguinte, Kṛṣṇa diz:

yeṣāṁ tv anta-gataṁ pāpaṁ
janānāṁ puṇya-karmaṇām
te dvandva-moha-nirmuktā
bhajante māṁ dṛḍha-vratāḥ

“Pessoas que agiram piedosamente nesta vida e nas vidas passadas, cujas atividades pecaminosas estão completamente erradicadas e que estão livres da dualidade da ilusão, ocupam-se em Meu serviço com determinação” (Bhagavad-gītā 7.28).

A palavra anta-gatam significa “terminado”. Uma pessoa pode ocupar-se no serviço devocional quando sua vida pecaminosa estiver terminada. Quem pode acabar com a vida pecaminosa? Aqueles que se ocupam em atividades piedosas. A pessoa tem de ter atividades. E, por ocupar-se em atividades piedosas, suas atividades pecaminosas sumirão naturalmente. Por um lado, deve-se voluntariamente tentar quebrar os pilares da vida pecaminosa, e, por outro, ocupar-se em atividades piedosas.

Quem não tiver uma ocupação piedosa não ficará livre das atividades pecaminosas simplesmente através da compreensão teórica. O governo americano, por exemplo, está gastando milhões de dólares para combater o uso de LSD e outros tóxicos, mas falhou em seu intento. Como é que, somente através de leis, ou atendendo aulas, as pessoas vão parar com essas coisas? Não é possível. Alguém deve dar-lhes boas ocupações, em consequência do que elas automaticamente abandonarão as más. Por exemplo: ensinamos a nossos discípulos “nenhuma intoxicação”, e eles a abandonam imediatamente, embora o governo tenha falhado em conseguir isso. Isto é prático.

Paraṁ dṛṣṭvā nivartate. Se não é dada à pessoa uma ocupação melhor, suas más atividades não podem ser paradas. Isto não é possível. Por isso, nós temos dois lados – proibição de atividades pecaminosas e ocupação em boas atividades. Não dizemos simplesmente “nenhum sexo ilícito”, “nenhuma intoxicação” e assim por diante. Mera negação não tem significado; tem de haver algo positivo, porque todos desejam ocupações. Isto acontece porque somos entidades vivas, e não pedras mortas. Através da meditação, os filósofos impersonalistas tentam tornar-se pedras mortas: “Deixe-me pensar em algo vazio ou impessoal”. Mas como pode alguém tornar-se vazio, artificialmente? O coração e a mente estão cheios de atividades, daí tais métodos artificiais não ajudarem a sociedade humana.

Métodos de assim chamado yoga e assim chamada meditação são todos patifaria, porque eles não proporcionam ocupação a ninguém. Mas na consciência de Kṛṣṇa existem ocupações adequadas para todos. Todos se levantam cedo para adorar as Deidades. Os devotos preparam comida deliciosa para Kṛṣṇa, decoram o templo, fazem guirlandas, saem para cantar e vendem livros. Estão completamente ocupados, vinte e quatro horas por dia, e assim são capazes de abandonar a vida pecaminosa. Se uma criança tem nas mãos alguma coisa para comer, e lhe oferecemos algo mais saboroso, ela deixa de lado o gosto inferior pelo superior. Assim também, na consciência de Kṛṣṇa, oferecemos melhores ocupações, vida melhor, filosofia melhor, consciência melhor – tudo melhor. Portanto, aqueles que se ocupam em serviço devocional podem abandonar as atividades pecaminosas e promoverem-se à consciência de Kṛṣṇa.

Atividades que se destinam a promover todas as entidades vivas à consciência de Kṛṣṇa existem não apenas na sociedade humana, como também na sociedade animal. Porque todas as entidades vivas aqui são partes integrantes de Kṛṣṇa, mas estão apodrecendo neste mundo material, Kṛṣṇa tem um plano, um grande plano para libertá-las. Às vezes, Ele vem a este mundo pessoalmente e, algumas vezes, envia Seus devotos mais confidenciais. Às vezes, Ele deixa instruções como a Bhagavad-gītā. Kṛṣṇa faz Seus adventos em todo lugar – entre animais, homens, sábios e até mesmo entre os seres aquáticos (tiryaṅ-nṛṣiṣu yādaḥsu). Kṛṣṇa apareceu até como um peixe.

Assim sendo, o nascimento, aparecimento e desaparecimento de Kṛṣṇa são todos desconcertantes (tad atyanta-viḍambanam). Nós, entidades vivas condicionadas, transmigramos de um corpo a outro, porque somos forçados a isso, pelas leis da natureza, mas Kṛṣṇa não aparece forçadamente. Essa é a diferença. Sujeitos ignorantes pensam: “Eu nasci neste mundo e Kṛṣṇa também nasceu aqui. Por conseguinte, eu também sou Deus”. Eles não sabem que terão de nascer novamente, devido ao poder da lei da natureza.

Alguém pode ter tido a oportunidade de nascer com um corpo muito belo, num país onde se vive opulentamente e onde se recebe boa educação. Mas, se utilizar mal essas facilidades, terá de aceitar outro corpo, de acordo com sua mentalidade. Hoje em dia, por exemplo, a despeito de tantos arranjos feitos pelo governo para criação de boas escolas e universidades, os países civilizados do mundo estão produzindo hippies, jovens frustrados que estão até mesmo adorando porcos. Mas, se uma pessoa se associa com as qualidades dos porcos, ela se tornará um porco em seu próximo nascimento. Prakṛteḥ kriyamāṇāni guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ. A natureza lhe dará uma boa oportunidade: “Tudo bem, meu senhor, torne-se um porco”. Assim são os arranjos da natureza. Prakṛti, a natureza, tem três qualidades. Quem se associar com essas qualidades receberá seu próximo corpo de acordo com a qualidade com a qual se associou.

O aparecimento e desaparecimento de Kṛṣṇa destinam-se a pôr fim à transmigração de um corpo a outro das entidades vivas. Portanto, deve-se compreender a grandeza do plano de Kṛṣṇa por trás de Seu aparecimento e desaparecimento. Não é que Kṛṣṇa venha caprichosamente. Ele tem um grande plano. De outra forma, por que viria aqui? Ele está muito ansioso por nos levar de volta para casa, de volta ao Supremo. Este é o interesse de Kṛṣṇa. Por conseguinte, Ele diz:

sarva-dharmān parityajya
mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja
ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo
mokṣayiṣyāmi mā śucaḥ

“Abandone todas as variedades de religião e simplesmente se renda a Mim. Eu o libertarei de todas as reações pecaminosas. Não tema” (Bhagavad-gītā 18.66). Todos nós somos filhos de Kṛṣṇa, Deus, e já que estamos infelizes devido ao fato de estarmos aceitando um corpo material após outro e sofrendo as misérias concomitantes de nascimento, morte, velhice e doença, Ele está mais infeliz do que nós. Nossa situação dentro do corpo material não é nada confortável, mas somos tão ignorantes e desavergonhados que não ligamos para nada disso. Estamos ocupados em conseguir confortos temporários nesta vida, e assim negligenciamos os verdadeiros desconfortos de nascimento, morte, velhice e doença. Esta é nossa ignorância e tolice, em razão do que Kṛṣṇa vem nos acordar desta ignorância e nos levar de volta para casa, de volta ao Supremo.