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CAPÍTULO CINCO

O Encontro de Nanda Mahārāja e Vasudeva

Como se descreve neste capítulo, Nanda Mahārāja realizou muito pomposamente a cerimônia comemorativa do nascimento de seu filho recém-nascido. Então, ele foi até Kaṁsa para pagar os devidos im­postos e encontrou-se com seu amigo íntimo Vasudeva.

Vṛndāvana inteira ficou muito jubilosa com o nascimento de Kṛṣṇa. Todos estavam dominados pela alegria. Portanto, o rei de Vraja, Mahārāja Nanda, quis realizar a cerimônia de nascimento do seu filho e assim o fez. Durante o grande festival, Nanda Mahārāja deu em caridade a todos os presentes tudo o que eles deseja­ram. Após o festival, Nanda Mahārāja encarregou os vaqueiros de proteger Gokula e depois foi a Mathurā pagar a Kaṁsa os impos­tos legais. Em Mathurā, Nanda Mahārāja encontrou-se com Vasudeva. Nanda Mahārāja e Vasudeva eram irmãos, e Vasudeva louvou a boa fortuna de Nanda Mahārāja porque sabia que Kṛṣṇa aceitara Nanda Mahārāja como Seu pai. Quando Vasudeva indagou de Nanda Mahārāja sobre o bem-estar da criança, Nanda Mahārāja informou-lhe tudo sobre Vṛndāvana, e Vasudeva ficou muito satisfeito com isso, embora expressasse seu pesar porque os vários filhos de Devakī haviam sido mortos por Kaṁsa. Nanda Mahārāja consolou Vasu­deva, dizendo que tudo acontece de acordo com o destino e quem sabe disso não fica consternado. Esperando muitas perturbações em Gokula, Vasudeva aconselhou Nanda Mahārāja a não se de­morar em Mathurā, mas a regressar a Vṛndāvana o mais rapidamente possível. Assim, Nanda Mahārāja despediu-se de Vasudeva e regressou a Vṛndāvana com outros vaqueiros em seus carros de boi.

Texto

śrī-śuka uvāca
nandas tv ātmaja utpanne
jātāhlādo mahā-manāḥ
āhūya viprān veda-jñān
snātaḥ śucir alaṅkṛtaḥ
vācayitvā svastyayanaṁ
jāta-karmātmajasya vai
kārayām āsa vidhivat
pitṛ-devārcanaṁ tathā

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; nandaḥ — Mahārāja Nanda; tu — na verdade; ātmaje — seu filho; utpanne — tendo nascido; jāta — dominado; āhlādaḥ — por grande júbilo; mahā-manāḥ — que era magnânimo; āhūya — convidou; viprān — os brāhmaṇas; veda-jñān — que eram plenamente versados em conhecimento védico; snātaḥ — tomando um banho completo; śuciḥ — purificando-se; alaṅkṛtaḥ — vestindo-se com muito apuro, colocando adornos e roupas novas; vācayitvā — após fazer com que fossem recitados; svasti-ayanammantras védicos (por parte dos brāhmaṇas); jāta-karma — o festival do nascimento da criança; ātmajasya — de seu próprio filho; vai — na verdade; kārayām āsa — fez com que se realizasse; vidhi-vat — de acordo com as re­gulações védicas; pitṛ-deva-arcanam — a adoração aos antepassados e semideuses; tathā — bem como.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Por natureza, Nanda Mahārāja era muito magnânimo, e quando o Senhor Śrī Kṛṣṇa apareceu como seu filho, ele se encheu de alegria. Portanto, após banhar-se e purifi­car-se e vestir-se adequadamente, ele convidou brāhmaṇas que sabiam recitar os mantras védicos. Após tomar as necessárias medidas para que esses brāhmaṇas qualificados recitassem auspiciosos hinos védi­cos, ele providenciou para que a cerimônia de nascimento de seu filho recém-nascido fosse celebrada nos padrões védicos, de acordo com as regras e regulações, e também promoveu a adoração aos se­mideuses e antepassados.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta o significado das palavras nandas tu. A palavra tu, ele explica, não é usada para encerrar a sentença, pois, não havendo tu, a sentença é completa. Logo, a palavra tu é usada com um propósito diferente. Embora Kṛṣṇa aparecesse como filho de Devakī, Devakī e Vasudeva não desfruta­ram do jāta-karma, o festival da cerimônia de nascimento. Em vez disso, essa cerimônia foi promovida por Nanda Mahārāja, como se afirma aqui (nandas tv ātmaja utpanne jātāhlādo mahā-manāḥ). Quando Nanda Mahārāja encontrou-se com Vasudeva, Vasudeva não pôde revelar isto: “Teu filho Kṛṣṇa, na verdade, é meu filho. És pai dEle de uma maneira diferente: és pai espiritualmente.” Devido ao temor que sentia de Kaṁsa, Vasudeva não pôde realizar o festival do nascimento de Kṛṣṇa. Nanda Mahārāja, entretanto, tirou pleno proveito dessa opor­tunidade.

A cerimônia jāta-karma pode ocorrer quando o cordão umbili­cal, que liga a criança à placenta, é cortado. Entretanto, visto que Kṛṣṇa foi levado por Vasudeva para a casa de Nanda Mahārāja, como essa cerimônia poderia acontecer? A esse respeito, Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura deseja provar com evidências apresentadas em muitos śāstras que Kṛṣṇa realmente nasceu como filho de Yaśodā antes do nasci­mento de Yogamāyā, a qual, portanto, é descrita como a irmã mais nova do Senhor. Muito embora haja muitas dúvidas sobre o corte do cordão umbilical, e muito embora talvez isso não tenha ocorrido, quando a Suprema Personalidade de Deus aparece, esses eventos são tidos como reais. Das narinas de Brahmā, Kṛṣṇa apareceu como Varāhadeva, daí Brahmā ser descrito como o pai de Varāhadeva. Também significativas são as palavras kārayām āsa vidhivat. Estan­do tomado de alegria por causa do nascimento de seu filho, Nanda Mahārāja não viu se o cordão foi cortado ou não. Assim, ele reali­zou a cerimônia com muita pompa. De acordo com a opinião de algumas autoridades, Kṛṣṇa de fato nasceu como filho de Yaśodā. Em todo caso, sem que se levem em conta compreensões materiais, pode-se aceitar que a cerimônia em que Nanda Mahārāja celebra o nascimento de Kṛṣṇa foi adequada. Portanto, em toda parte, esta cerimônia é conhecida como Nandotsava.

Texto

dhenūnāṁ niyute prādād
viprebhyaḥ samalaṅkṛte
tilādrīn sapta ratnaugha-
śātakaumbhāmbarāvṛtān

Sinônimos

dhenūnām — de vacas leiteiras; niyute — dois milhões; prādāt — deu em caridade; viprebhyaḥ — aos brāhmaṇas; samalaṅkṛte — completamente decoradas; tila-adrīn — colinas de cereais; sapta — sete; ratna­-ogha-śāta-kaumbha-ambara-āvṛtān — cobertas com joias e roupas in­crustadas com ouro.

Tradução

Nanda Mahārāja deu dois milhões de vacas, completamente deco­radas com roupas e joias, em caridade aos brāhmaṇas. Ele também lhes deu sete colinas de cereais, cobertas com joias e com roupas decoradas com incrustações de ouro.

Texto

kālena snāna-śaucābhyāṁ
saṁskārais tapasejyayā
śudhyanti dānaiḥ santuṣṭyā
dravyāṇy ātmātma-vidyayā

Sinônimos

kālena — com o decorrer do tempo (a terra e outras coisas materiais purificam-se); snāna-śaucābhyām — banhando-se (o corpo purifica-se) e através da limpeza (as coisas sujas purificam-se); saṁskāraiḥ — através dos processos purificatórios (o nascimento purifica-se); tapa­sā — através da austeridade (os sentidos purificam-se); ijyayā — através da adoração (os brāhmaṇas purificam-se); śudhyanti — purificam-se; dānaiḥ — através da caridade (a riqueza purifica-se); santuṣṭyā — através da satisfação (a mente purifica-se); dravyāṇi — todas as posses materiais, tais como vacas, terra e ouro; ātmā — a alma (purifica-se); ātma-vidyayā — através da autorrealização.

Tradução

Ó rei, com o passar do tempo, a terra e as outras posses materiais purificam-se; banhando-se, o corpo purifica-se, e, através da limpeza, as coisas sujas purificam-se. Através de cerimônias purificatórias, o nascimento purifica-se; através da austeridade, os sentidos purifi­cam-se, e, através da adoração e caridade oferecida aos brāhmaṇas, as posses materiais purificam-se. Através da satisfação, a mente pu­rifica-se, e, através da autorrealização, ou consciência de Kṛṣṇa, a alma purifica-se.

Comentário

SIGNIFICADO—Esses são preceitos dos śāstras segundo os quais alguém pode purifi­car tudo de acordo com a civilização védica. A menos que seja puri­ficado, o que quer que usemos nos encherá de contaminações. Há cinco mil anos, na Índia, inclusive em vilas como a de Mahārāja Nanda, as pessoas sabiam como purificar tudo, de modo que até mesmo a vida material eles desfrutavam sem contaminação.

Texto

saumaṅgalya-giro viprāḥ
sūta-māgadha-vandinaḥ
gāyakāś ca jagur nedur
bheryo dundubhayo muhuḥ

Sinônimos

saumaṅgalya-giraḥ — cujo canto de mantras e hinos purificava o ambiente com sua vibração; viprāḥ — os brāhmaṇas; sūta — peritos em recitar todas as histórias; māgadha — peritos em recitar as his­tórias de famílias reais especiais; vandinaḥ — recitadores profissio­nais gerais; gāyakāḥ — cantores; ca — bem como; jaguḥ — cantavam; neduḥ — vibrava; bheryaḥ — uma espécie de instrumento musical; dundubhayaḥ — uma espécie de instrumento musical; muhuḥ — constantemente.

Tradução

Os brāhmaṇas recitaram hinos védicos auspiciosos, que purificaram o ambiente com sua vibração. Os peritos em recitar antigas histórias como os Purāṇas, os peritos em recitar as histórias das famílias reais, e todos os recitadores gerais declamaram, enquanto cantores cantavam e muitas espécies de instrumentos musicais, como bherīs e dundubhis, eram tocadas em acompanhamento.

Texto

vrajaḥ sammṛṣṭa-saṁsikta-
dvārājira-gṛhāntaraḥ
citra-dhvaja-patākā-srak-
caila-pallava-toraṇaiḥ

Sinônimos

vrajaḥ — a terra ocupada por Nanda Mahārāja; sammṛṣṭa — muito bem limpa; saṁsikta — muito bem lavada; dvāra — todas as portas ou entradas; ajira — pátios; gṛha-antaraḥ — tudo dentro da casa; citra — variados; dhvaja — de festões; patākā — de bandeiras; srak — de guirlandas de flores; caila — de pedaços de tecido; pallava — das folhas das mangueiras; toraṇaiḥ — (decorada) por portões em diferentes lugares.

Tradução

Vrajapura, a residência de Nanda Mahārāja, estava plenamente decorada com muitas variedades de festões e bandeiras, e, em diferentes lugares, construíram-se porteiras com muitas variedades de guirlandas de flores, pedaços de tecido e folhas de mangueira. Os pátios, os portões que davam para as ruas e tudo dentro dos aposentos das casas foram perfeitamente varridos e lavados.

Texto

gāvo vṛṣā vatsatarā
haridrā-taila-rūṣitāḥ
vicitra-dhātu-barhasrag-
vastra-kāñcana-mālinaḥ

Sinônimos

gāvaḥ — as vacas; vṛṣāḥ — os touros; vatsatarāḥ — os bezerros; hari­drā — com uma mistura de cúrcuma; taila — e óleo; rūṣitāḥ — todos os seus corpos untados; vicitra — decoradas variedades de; dhātu — minerais coloridos; barha-srak — guirlandas de pena de pavão; vastra — roupas; kāñcana — adornos de ouro; mālinaḥ — estando decorados com guirlandas.

Tradução

As vacas, os touros e os bezerros foram intensamente untados com uma mistura de cúrcuma e óleo, à qual se acrescentaram muitas variedades de minerais. Suas cabeças foram enfeitadas com penas de pavão, e eles foram enguirlandados e cobertos com tecidos e adornos de ouro.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (18.44), a Suprema Personalidade de Deus en­sina que kṛṣi-go-rakṣya-vāṇijyaṁ vaiśya-karma-svabhāvajam: “A agricultura, a proteção às vacas e o comércio são trabalhos para os quais os vaiśyas estão qualificados.” Nanda Mahārāja pertencia à comunidade vaiśya, a comunidade agrícola. Nestes versos, explica­-se como proteger as vacas e mostra-se quão rica era essa comunida­de. Dificilmente podemos imaginar que as vacas, touros e bezerros recebessem um tratamento tão esmerado e fossem tão bem decora­dos com roupas e preciosos adornos de ouro. Quão felizes eles eram! Como se descreve em outra passagem do Bhāgavatam, durante a época de Mahārāja Yudhiṣṭhira, as vacas eram tão felizes que costu­mavam ensopar o campo de pastagem com leite. Eis a civilização indiana. Entretanto, no mesmo lugar, Índia, Bhārata-varṣa, quantas pessoas estão sofrendo porque abandonaram o modo de vida védico e deixaram de compreender os ensinamentos da Bhagavad-gītā!

Texto

mahārha-vastrābharaṇa-
kañcukoṣṇīṣa-bhūṣitāḥ
gopāḥ samāyayū rājan
nānopāyana-pāṇayaḥ

Sinônimos

mahā-arha — extremamente valiosas; vastra-ābharaṇa — com roupas e adornos; kañcuka — com uma determinada espécie de roupa usada em Vṛndāvana; uṣṇīṣa — com turbantes; bhūṣitāḥ — estando bem ves­tidos; gopāḥ — todos os vaqueiros; samāyayuḥ — vieram ali; rājan — o rei (Mahārāja Parīkṣit); nānā — vários; upāyana — presentes; pāṇayaḥ — segurando em suas mãos.

Tradução

Ó rei Parīkṣit, os vaqueiros vestiram-se muito opulentamente, usando valiosos adornos e roupas, tais como casacos e turbantes. Decorados dessa maneira e carregando vários presentes em suas mãos, eles se dirigiram à casa de Nanda Mahārāja.

Comentário

SIGNIFICADO—Quando consideramos a condição em que o antigo agricultor vivia nas vilas, podemos ver quão opulento ele era devido à simples produção agrícola e proteção às vacas. Entretanto, como, no momento atual, a agricultura foi negligenciada e deixou-se de proteger as vacas, o agricultor está sofrendo horrivelmente e usa farrapos remendados. Essa é a diferença entre a histórica Índia e a Índia dos dias atuais. Através de atividades atrozes, ugra-karma, como estamos eliminando a oportunidade oferecida por uma civilização humana!

Texto

gopyaś cākarṇya muditā
yaśodāyāḥ sutodbhavam
ātmānaṁ bhūṣayāṁ cakrur
vastrākalpāñjanādibhiḥ

Sinônimos

gopyaḥ — a comunidade feminina, as esposas dos vaqueiros; ca — também; ākarṇya — após ouvirem; muditāḥ — ficaram muito alegres; yaśodāyāḥ — de mãe Yaśodā; suta-udbhavam — o nascimento de um menino; ātmānam — pessoalmente; bhūṣayām cakruḥ — muito bem vestidas para participarem do festival; vastra-ākalpa-añjana-ādibhiḥ — com roupas adequadas, adornos, unguento negro e assim por diante.

Tradução

As gopīs, as esposas dos vaqueiros, ficaram muito satisfeitas ao ouvir que mãe Yaśodā dera à luz um filho, e começaram a enfeitar-­se primorosamente com roupas adequadas, adornos, unguento negro para os olhos e assim por diante.

Texto

nava-kuṅkuma-kiñjalka-
mukha-paṅkaja-bhūtayaḥ
balibhis tvaritaṁ jagmuḥ
pṛthu-śroṇyaś calat-kucāḥ

Sinônimos

nava-kukuma-kiñjalka — com açafrão e flor de kuṅkuma que acabara de desabrochar; mukha-paṅkaja-bhūtayaḥ — apresentando extraordinária beleza em seus rostos de lótus; balibhiḥ — com presen­tes em suas mãos; tvaritam — às pressas; jagmuḥ — foram (à casa de mãe Yaśodā); pṛthu-śroṇyaḥ — tendo quadris volumosos, que atestam a beleza feminina; calat-kucāḥ — seus seios desenvolvidos moviam-se.

Tradução

Estando seus rostos de lótus extraordinariamente belos, decorados com açafrão e kuṅkuma frescos, as esposas dos vaqueiros precipita­ram-se para a casa de mãe Yaśodā com presentes em suas mãos. Devido à beleza natural, as esposas tinham quadris e seios volumosos, que se moviam à medida que elas corriam.

Comentário

SIGNIFICADO—Os vaqueiros e as mulheres das vilas levavam uma vida muito natural, e as mulheres desenvolviam uma beleza feminina espontâ­nea, com quadris e seios volumosos. Porque na civilização moderna as mulheres não levam uma vida natural, seus quadris e seus seios não atingem esse completo desenvolvimento espontâneo. Devido a uma vida artificial, as mulheres perderam sua beleza natural, embo­ra aleguem ser independentes e avançadas em civilização material. Esta descrição das mulheres da vila fornece um claro exemplo do contraste que existe entre a vida natural e a vida artificial de uma sociedade condenada, como a dos países ocidentais, onde a beleza do topless e do bottomless pode ser facilmente adquirida em clubes, e balibhiḥ indica que essas mulheres carregavam em pratos feitos de ouro moedas de ouro, colares de joias, roupas finas, grama fresca, polpa de sândalo, guirlandas de flores e outras dessas oferendas. Essas oferendas chamam-se bali. As palavras tvaritaṁ jagmuḥ indi­cam quão felizes ficaram as mulheres da vila ao compreenderem que mãe Yaśodā dera à luz uma encantadora criança conhecida como Kṛṣṇa.

Texto

gopyaḥ sumṛṣṭa-maṇi-kuṇḍala-niṣka-kaṇṭhyaś
citrāmbarāḥ pathi śikhā-cyuta-mālya-varṣāḥ
nandālayaṁ sa-valayā vrajatīr virejur
vyālola-kuṇḍala-payodhara-hāra-śobhāḥ

Sinônimos

gopyaḥ — as gopīs; su-mṛṣṭa — muito ofuscantes; maṇi — feitos de joias; kuṇḍala — usando brincos; niṣka-kaṇṭhyaḥ — e tendo pequenos pingentes e broches dependurados em seus pescoços; citra-ambarāḥ — vestidas com muitas variedades de bordados coloridos; pathi — a caminho da casa de Yaśodāmayī; śikhā-cyuta — caía de seus cabelos; mālya-varṣāḥ — uma chuva de guirlandas de flores; nanda-ālayam — rumo à casa de Mahārāja Nanda; sa-valayāḥ — com pulseiras em seus braços; vrajatīḥ — enquanto iam (com essa indumentária); vire­juḥ — elas pareciam belíssimas; vyālola — agitando-se; kuṇḍala — com brincos; payodhara — com seios; hāra — com guirlandas de flores; śobhāḥ — que pareciam tão belas.

Tradução

Nas orelhas das gopīs, reluziam brincos de joias brilhantemente polidas, e de seus pescoços pendiam broches de metal. Seus braços estavam decorados com pulseiras, suas vestes tinham cores variadas, e, de seus cabelos, as flores caíam sobre a rua como chuva. Assim, enquanto se dirigiam à casa de Mahārāja Nanda, as gopīs, com seus brincos, seios e guirlandas agitando-se, ostentavam uma beleza reluzente.

Comentário

SIGNIFICADO—A descrição das gopīs, que iam dar as boas-vindas a Kṛṣṇa na casa de Mahārāja Nanda, é especialmente significativa. As gopīs não eram mulheres comuns, senão que eram expansões da potência de prazer de Kṛṣṇa, como se descreve na Brahma-samhitā (5.37,29):

ānanda-cinmaya-rasa-pratibhāvitābhis
tābhir ya eva nija-rūpatayā kalābhiḥ
goloka eva nivasaty akhilātma-bhūto
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

(5.37)

cintāmaṇi-prakara-sadmasu kalpa-vṛkṣa-
lakṣāvṛteṣu surabhīr abhipālayantam
lakṣmī-sahasra-śata-sambhrama-sevyamānaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

(5.29)

Aonde quer que Ele vá, Kṛṣṇa é sempre adorado pelas gopīs. Em razão disso, Kṛṣṇa é descrito muito vividamente no Śrīmad-Bhāgavatam. Śrī Caitanya Mahāprabhu também descreveu Kṛṣṇa desta maneira: ramyā kācid upāsanā vrajavadhū-vargeṇa yā kalpitā. Todas as gopīs iam oferecer seus presentes a Kṛṣṇa porque elas são associadas eternas do Senhor. Agora, as gopīs ficaram mais jubilantes com a notícia do apa­recimento de Kṛṣṇa em Vṛndāvana.

Texto

tā āśiṣaḥ prayuñjānāś
ciraṁ pāhīti bālake
haridrā-cūrṇa-tailādbhiḥ
siñcantyo ’janam ujjaguḥ

Sinônimos

tāḥ — todas as mulheres, as esposas e filhas dos vaqueiros; āśiṣaḥ — bênçãos; prayuñjānāḥ — oferecendo; ciram — por um longo tempo; pāhi — que Te tornes o rei de Vraja e mantenhas todos os seus habitantes; iti — assim; bālake — a criança recém-nascida; haridrā-cūrṇa — pó de cúrcuma; taila-adbhiḥ — misturado com óleo; siñcantyaḥ — bor­rifando com; ajanam — a Suprema Personalidade de Deus, que é não-nascido; ujjaguḥ — ofereceram orações.

Tradução

Oferecendo bênçãos à criança recém-nascida, Kṛṣṇa, as esposas e filhas dos vaqueiros disseram: “Que Te tornes rei de Vraja e, du­rante um longo tempo, mantenhas todos os seus habitantes.” Elas borrifaram com uma mistura de pó de cúrcuma, óleo e água o não­-nascido Senhor Supremo e ofereceram suas orações.

Texto

avādyanta vicitrāṇi
vāditrāṇi mahotsave
kṛṣṇe viśveśvare ’nante
nandasya vrajam āgate

Sinônimos

avādyanta — vibravam em celebração ao filho de Vasudeva; vici­trāṇi — vários; vāditrāṇi — instrumentos musicais; mahā-utsave — no grande festival; kṛṣṇe — quando o Senhor Kṛṣṇa; viśva-īśvare — o mestre de toda a manifestação cósmica; anante — ilimitadamente; nandasya — de Mahārāja Nanda; vrajam — ao local de pastagem; āga­te — assim chegara.

Tradução

Agora que o onipenetrante e ilimitado Senhor Kṛṣṇa, o mestre da manifestação cósmica, chegara ao estado de Mahārāja Nanda, várias espécies de instrumentos musicais ressoavam para celebrar o grande festival.

Comentário

SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (4.7), o Senhor diz:

yadā yadā hi dharmasya
glānir bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya
tadātmānaṁ sṛjāmy aham

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante de irreligião – aí então Eu próprio descendo.” Sempre que Kṛṣṇa vem uma vez em cada dia de Brahmā, Ele aparece na casa de Nanda Mahā­rāja, em Vṛndāvana. Kṛṣṇa é o mestre de toda a criação (sarva-loka-maheśvaram). Portanto, não apenas nas cercanias da fazenda de Nanda Mahārāja, mas em todo o universo – e em todos os outros universos – sons musicais celebraram a auspiciosa chegada do Senhor.

Texto

gopāḥ parasparaṁ hṛṣṭā
dadhi-kṣīra-ghṛtāmbubhiḥ
āsiñcanto vilimpanto
navanītaiś ca cikṣipuḥ

Sinônimos

gopāḥ — os vaqueiros; parasparam — uns aos outros; hṛṣṭāḥ — estando tão satisfeitos; dadhi — com coalhada; kṣīra — com leite condensado; ghṛta-ambubhiḥ — com água misturada com manteiga; āsiñcantaḥ — borrifando; vilimpantaḥ — besuntando; navanītaiḥ ca — e com man­teiga; cikṣipuḥ — eles atiravam uns nos outros.

Tradução

Com alegria, os vaqueiros comemoraram o grande festival, borri­fando os corpos uns dos outros com uma mistura de coalhada, leite condensado, manteiga e água. Eles atiravam manteiga uns nos outros e, com ela, besuntavam os corpos uns dos outros.

Comentário

SIGNIFICADO—Através desta afirmação, é fácil entender que, há cinco mil anos, não havia apenas bastante leite, manteiga e coalhada para comer, beber e cozinhar, mas também, quando ocorria um festival, lança­va-se tudo isso uns nos outros, sem restrição. Não existia limite para a quantidade de leite, manteiga, coalhada e outros produtos semelhantes usados na sociedade humana. Todos tinham um amplo su­primento de leite, e, usando-o em muitas variedades de preparações lácteas, as pessoas mantinham perfeita saúde em convívio com a natureza e, assim, desfrutavam da vida em consciência de Kṛṣṇa.

Texto

nando mahā-manās tebhyo
vāso ’laṅkāra-go-dhanam
sūta-māgadha-vandibhyo
ye ’nye vidyopajīvinaḥ
tais taiḥ kāmair adīnātmā
yathocitam apūjayat
viṣṇor ārādhanārthāya
sva-putrasyodayāya ca

Sinônimos

nandaḥ — Mahārāja Nanda; mahā-manāḥ — que entre os vaquei­ros era a mais correta de todas as pessoas; tebhyaḥ — aos vaqueiros; vāsaḥ — roupas; alaṅkāra — adornos; go-dhanam — e vacas; sūta-māga­dha-vandibhyaḥ — aos sūtas (os recitadores profissionais das histórias antigas), aos māgadhas (os recitadores profissionais das histórias das dinastias reais) e aos vandīs (cantores gerais de orações); ye anye — bem como a outros; vidyā-upajīvinaḥ — que ganhavam sua subsistên­cia com base em qualificações educacionais; taiḥ taiḥ — com o que quer que; kāmaiḥ — melhora dos desejos; adīna-ātmā — Mahārāja Nanda, que era tão magnânimo; yathā-ucitam — como era adequa­do; apūjayat — adorou-os ou satisfê-los; viṣṇoḥ ārādhana-arthāya — com o propósito de agradar ao Senhor Viṣṇu; sva-putraṣya — de seu próprio filho; udayāya — para o aperfeiçoamento em todo os senti­dos; ca — e.

Tradução

A magnânima personalidade Mahārāja Nanda deu roupas, adornos e vacas em caridade aos vaqueiros para agradar ao Senhor Viṣṇu e, com isto, ele melhorou em todos os sentidos a condição de seu próprio filho. Ele fez caridade aos sūtas, māgadhas, vandīs e aos homens de todas as outras profissões, de acordo com seu grau de educação, e satisfez o desejo de todos.

Comentário

SIGNIFICADO—Embora tenha virado moda falar de daridra-nārāyaṇa, as palavras viṣṇor ārādhanārthāya não significam que as pessoas a quem Nanda Mahārāja satisfez nessa grande cerimônia eram Viṣṇus. Eles não eram daridra, tampouco eram Nārāyaṇa. Em vez disso, eram devo­tos de Nārāyaṇa e, através de suas qualificações educacionais, eram capazes de satisfazer Nārāyaṇa. Logo, satisfazê-los era uma maneira indireta de satisfazer o Senhor Viṣṇu. Mad-bhakta-pūjābhyadhikā. (Śrīmad-Bhāgavatam 11.19.21) O Senhor diz: “Adorar Meus devotos é melhor do que Me adorar diretamente.” O sistema varṇāśrama presta-se inteiramente a viṣṇu-ārādhana, adoração ao Senhor Viṣṇu. Varṇāśramācāravatā puruṣeṇa paraḥ pumān/ viṣṇur ārādhyate. (Viṣṇu Purāṇa 3.8.9) A meta última da vida consiste em a pessoa satisfazer o Senhor Viṣṇu, o Senhor Supremo. O homem incivilizado ou o mate­rialista, entretanto, não conhecem essa meta da vida. Na te viduḥ svārtha-gatiṁ hi viṣṇum (Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.31). Nosso verdadeiro interesse pessoal consiste em satisfazer o Senhor Viṣṇu. Deixar de satisfazer o Senhor Viṣṇu para tentar ser feliz através de medidas materiais (bahir-artha-māninaḥ) não é o caminho que traz a felicidade. Porque Viṣṇu é a raiz de tudo, se Viṣṇu está satisfeito, todos ficam satisfei­tos; em particular, os filhos e membros familiares de alguém se tornam felizes sob todos os aspectos. Nanda Mahārāja queria a felicidade de seu filho recém-nascido. Era isso o que ele tinha em mente. Portanto, ele quis satisfazer o Senhor Viṣṇu e, para satisfazer o Senhor Viṣṇu, era necessário satisfazer Seus devotos, tais como os brāhmaṇas eruditos, os māgadhas e os sūtas. Logo, de maneira indireta, em última análise, era ao Senhor Viṣṇu que se deveria satisfazer.

Texto

rohiṇī ca mahā-bhāgā
nanda-gopābhinanditā
vyacarad divya-vāsa-srak-
kaṇṭhābharaṇa-bhūṣitā

Sinônimos

rohiṇī — Rohiṇī, a mãe de Baladeva; ca — também; mahā-bhāgā — a afortunadíssima mãe de Baladeva (deveras afortunada por ter a oportunidade de criar Kṛṣṇa e Balarāma juntos); nanda-gopā-abhinandi­ — sendo prestigiada por Mahārāja Nanda e mãe Yaśodā; vyacarat — estava ocupada em deslocar-se de um lugar a outro; divya — belo; vāsa — com um vestido; srak — com uma guirlanda; kaṇṭha-ābhara­ṇa — e com um adorno cobrindo o pescoço; bhūṣitā — decorada.

Tradução

A afortunadíssima Rohiṇī, mãe de Baladeva, foi prestigiada por Nanda Mahārāja e Yaśodā, motivo pelo qual também se vestiu com esme­ro e se decorou com um colar, uma guirlanda e outros adornos. Ela estava ocupada em deslocar-se de um lugar a outro para receber as mulheres que compareceram ao festival.

Comentário

SIGNIFICADO—Rohiṇī, outra esposa de Vasudeva, também vivia aos cuidados de Nanda Mahārāja com seu filho Baladeva. Porque seu esposo era prisioneiro de Kaṁsa, ela se sentia bastante infeliz, mas, na ocasião de Kṛṣṇa-janmāṣṭamī, Nandotsava, quando Nanda Mahārāja deu roupas e adornos aos outros, ele também deu a Rohiṇī roupas e adornos suntuosos, para que ela pudesse participar do festival. Assim, ela também se dedicou a receber as visitantes. Devido à sua boa fortuna de ser capaz de criar Kṛṣṇa e Balarāma juntos, ela é descrita como mahā-bhāgā, grandemente afortunada.

Texto

tata ārabhya nandasya
vrajaḥ sarva-samṛddhimān
harer nivāsātma-guṇai
ramākrīḍam abhūn nṛpa

Sinônimos

tataḥ ārabhya — a partir de então; nandasya — de Mahārāja Nanda; vrajaḥ — Vrajabhūmi, a terra onde se protegem e criam vacas; sarva-­samṛddhimān — tornou-se opulenta com todas as espécies de riqueza; hareḥ nivāsa — da residência da Suprema Personalidade de Deus; ātma-guṇaiḥ — através das qualidades transcendentais; ramā-ākrīḍam — o lugar onde a deusa da fortuna realiza seus passatempos; abhūt — tornou-se; nṛpa — ó rei (Mahārāja Parīkṣit).

Tradução

Ó Mahārāja Parīkṣit, o lar de Nanda Mahārāja é eternamente a morada da Suprema Personalidade de Deus e de Suas qualidades transcendentais e, portanto, sempre está naturalmente favorecido com toda opulência e riqueza. No entanto, com o aparecimento do Senhor Kṛṣṇa ali, começou a ser o lugar onde a deusa da fortuna executa seus passatempos.

Comentário

SIGNIFICADO—Como se afirma na Brahma-saṁhitā (5.29): lakṣmī-sahasra-śata-sambhrama-sevyamānaṁ govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi. A morada de Kṛṣṇa sempre é servida por centenas e milhares de deusas da fortuna. Aonde quer que Kṛṣṇa vá, a deusa da for­tuna naturalmente reside com Ele. A principal deusa da fortuna é Śrīmatī Rādhārāṇī. Logo, o fato de Kṛṣṇa aparecer na terra de Vraja indicava que a principal deusa da fortuna, Rādhārāṇī, também apa­receria ali muito em breve. A morada de Nanda Mahārāja já era opulenta, e visto que Kṛṣṇa aparecera, tudo contribuiria para que ela tivesse completa opulência.

Texto

gopān gokula-rakṣāyāṁ
nirūpya mathurāṁ gataḥ
nandaḥ kaṁsasya vārṣikyaṁ
karaṁ dātuṁ kurūdvaha

Sinônimos

gopān — os vaqueiros; gokula-rakṣāyām — para proteger o estado de Gokula; nirūpya — após designar; mathurām — a Mathurā; gataḥ — foi; nandaḥ — Nanda Mahārāja; kaṁsasya — de Kaṁsa; vārṣikyam — impostos anuais; karam — a parte do lucro; dātum — pagar; kuru-­udvaha — ó Mahārāja Parīkṣit, melhor protetor da dinastia Kuru.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī continuou: Em seguida, meu querido rei Pa­rīkṣit, ó melhor protetor da dinastia Kuru, Nanda Mahārāja, tendo designado os vaqueiros locais para proteger Gokula, foi a Mathurā para pagar ao rei Kaṁsa os impostos anuais.

Comentário

SIGNIFICADO—Visto que a matança de bebês já era um fato conhecido, Nanda Mahārāja temia por seu filho recém-nascido. Assim, ele designou os vaqueiros locais para protegerem seu lar e seu filho. Ele queria ir imediatamente a Mathurā para pagar os impostos que devia e também oferecer algum presente para salva­guardar seu filho recém-nascido. Para a proteção da criança, ele adorara vários semideuses e antepassados e dera caridade capaz de satisfazer a todos. Igualmente, Nanda Mahārāja queria não apenas pagar a Kaṁsa os impostos anuais, mas também lhe oferecer algum presente que o deixasse satisfeito. Sua única preocupação era proteger seu filho transcendental, Kṛṣṇa.

Texto

vasudeva upaśrutya
bhrātaraṁ nandam āgatam
jñātvā datta-karaṁ rājñe
yayau tad-avamocanam

Sinônimos

vasudevaḥ — Vasudeva; upaśrutya — quando ouviu; bhrātaram — que seu querido amigo e irmão; nandam — Nanda Mahārāja; āgatam — viera a Mathurā; jñātvā — quando soube; datta-karam — e já pagara os impostos; rājñe — ao rei; yayau — ele foi; tat-avamocanam — à residência de Nanda Mahārāja.

Tradução

Ao ficar sabendo que Nanda Mahārāja, seu queridíssimo amigo e irmão, viera a Mathurā e já pagara os impostos a Kaṁsa, Vasudeva foi até a residência de Nanda Mahārāja.

Comentário

SIGNIFICADO—Vasudeva e Nanda Mahārāja eram tão intimamente ligados que viviam como irmãos. Ademais, as anotações de Śrīpāda Madhvācārya ensinam que Vasudeva e Nanda Mahārāja eram irmãos por parte de pai. O pai de Vasudeva, Śūrasena, casou-se com uma jovem vaiśya, e dela nasceu Nanda Mahārāja. Mais tarde, o próprio Nanda Mahā­rāja casou-se com uma jovem vaiśya, Yaśodā. Portanto, sua família é célebre como uma família vaiśya, e Kṛṣṇa, identificando-Se como seu filho, executava as atividades vaiśyas (kṛṣi-go-rakṣya-vāṇijyam). Balarāma representa a lavra de terra para agricultura e, portanto, sempre carrega um arado em Sua mão, ao passo que Kṛṣṇa apascenta as vacas e, por isso, carrega uma flauta em Sua mão. Logo, os dois irmãos representam kṛṣi-rakṣya e go-rakṣya.

Texto

taṁ dṛṣṭvā sahasotthāya
dehaḥ prāṇam ivāgatam
prītaḥ priyatamaṁ dorbhyāṁ
sasvaje prema-vihvalaḥ

Sinônimos

tam — a ele (Vasudeva); dṛṣṭvā — vendo; sahasā — subitamente; ut­thāya — levantando-se; dehaḥ — o mesmo corpo; prāṇam — vida; iva — como se; āgatam — retornara; prītaḥ — assim satisfeito; priya-tamam — seu querido amigo e irmão; dorbhyām — com seus dois braços; sasva­je — abraçou; prema-vihvalaḥ — dominado pelo amor e afeição.

Tradução

Ao tomar conhecimento de que Vasudeva viera, Nanda Mahārāja ficou dominado pelo amor e afeição, sentindo-se muito satisfeito, como se seu corpo tivesse recuperado a vida. Subitamente vendo Vasudeva ali presente, ele se levantou e o abraçou com ambos os braços.

Comentário

SIGNIFICADO—Nanda Mahārāja era mais velho do que Vasudeva. Portanto, Nanda Mahārāja o abraçou e Vasudeva lhe ofereceu namaskāra.

Texto

pūjitaḥ sukham āsīnaḥ
pṛṣṭvānāmayam ādṛtaḥ
prasakta-dhīḥ svātmajayor
idam āha viśāmpate

Sinônimos

pūjitaḥ — Vasudeva tendo sido tão amorosamente recebido; sukham āsīnaḥ — recebendo um lugar para sentar-se confortavelmente; pṛṣ­ṭvā — perguntando; anāmayam — perguntas muito auspiciosas; ādṛtaḥ — sendo honrado e recebido com respeito; prasakta-dhīḥ — por ser muito apegado; sva-ātmajayoḥ — a seus dois filhos, Kṛṣṇa e Balarāma; idam — o seguinte; āha — perguntou; viśām-pate — ó Mahārāja Parīkṣit.

Tradução

Ó Mahārāja Parīkṣit, tendo honrosamente recebido essas boas­vindas de Nanda Mahārāja, Vasudeva sentou-se muito tranquilamente e perguntou sobre seus dois próprios filhos, pois sentia imenso amor por eles.

Texto

diṣṭyā bhrātaḥ pravayasa
idānīm aprajasya te
prajāśāyā nivṛttasya
prajā yat samapadyata

Sinônimos

diṣṭyā — é por grande fortuna; bhrātaḥ — ó meu querido irmão; pravayasaḥ — de ti, cuja idade agora é bem avançada; idānīm — no momento atual; aprajasya — de alguém que não teve um filho antes; te — de ti; prajā-āśāyāḥ nivṛttasya — de alguém que quase perdera a esperança de ter um filho nessa idade; prajā — um filho; yat — o que quer que; samapadyata — foi obtido por acaso.

Tradução

Meu querido irmão Nanda Mahārāja, em idade tão avançada ainda não tinhas absolutamente nenhum filho e perdeste toda a esperança de que algum dia virias a ter um. Portanto, é sinal de grande fortuna que agora tenhas um filho.

Comentário

SIGNIFICADO—Em idade avançada, geralmente não se pode gerar um filho do sexo masculino. Se por acaso alguém dessa idade gera um filho, a criança costuma ser uma menina. Assim, Vasudeva perguntou indiretamente a Nanda Mahārāja se ele de fato gerara um menino ou uma menina. Vasudeva sabia que Yaśodā dera à luz uma menina, que ele roubara e trocara por um menino. Este era um grande segre­do, e Vasudeva queria averiguar se esse segredo já era conhecido por Nanda Mahārāja. Ao perguntar, entretanto, ele tinha confiança de que ainda permanecia oculto o segredo do nasci­mento de Kṛṣṇa e o fato de Ele ter sido posto aos cuidados de Yaśodā. Não havia perigo, uma vez que Kaṁsa pelo menos não poderia saber o que já havia acontecido.

Texto

diṣṭyā saṁsāra-cakre ’smin
vartamānaḥ punar-bhavaḥ
upalabdho bhavān adya
durlabhaṁ priya-darśanam

Sinônimos

diṣṭyā — também é por grande fortuna; saṁsāra-cakre asmin — neste mundo de nascimentos e mortes; vartamānaḥ — embora eu existisse; puṇaḥ-bhavaḥ — meu encontro contigo é exatamente como outro nascimento; upalabdhaḥ — sendo obtido por mim; bhavān — tu; adya — hoje; durlabham — embora isso nunca fosse acontecer; priya-­darśanam — ver-te novamente, meu querido amigo e irmão.

Tradução

Também é devido à boa fortuna que estou te vendo. Tendo obtido esta oportunidade, sinto-me como se tivesse renascido. Muito embora a pessoa esteja presente neste mundo, encontrar-se com amigos íntimos e parentes queridos neste mundo material é algo extremamente difícil.

Comentário

SIGNIFICADO—Vasudeva fora aprisionado por Kaṁsa, e, portanto, embora pre­sente em Mathurā, ele foi incapaz de ver Nanda Mahārāja durante muitos anos. Por isso, quando eles se reencontraram, Vasudeva consi­derou esse encontro como outro nascimento.

Texto

naikatra priya-saṁvāsaḥ
suhṛdāṁ citra-karmaṇām
oghena vyūhyamānānāṁ
plavānāṁ srotaso yathā

Sinônimos

na — não; ekatra — em um lugar; priya-saṁvāsaḥ — vivendo juntos com queridos amigos e parentes; suhṛdām — de amigos; citra-karmaṇām — de todos nós que tivemos muitas variedades de reações ao nosso karma passado; oghena — pela força; vyūhyamānānām — arras­tados; plavānām — de gravetos e outros objetos que flutuam na água; srotasaḥ — das ondas; yathā — como.

Tradução

Muitas tábuas e gravetos, incapazes de permanecerem juntos, são arrastados pela força das ondas de um rio. Igualmente, embora este­jamos intimamente relacionados com amigos e membros familiares, somos incapazes de permanecer juntos devido às nossas várias ações passadas e devido às ondas do tempo.

Comentário

SIGNIFICADO—Vasudeva se lamentava porque ele e Nanda Mahārāja não podiam viver juntos. Afinal, como eles poderiam fazê-lo? Vasudeva adverte que todos nós, mesmo que intimamente relacionados, somos arrastados pelas ondas do tempo, de acordo com os resultados do karma passado.

Texto

kaccit paśavyaṁ nirujaṁ
bhūry-ambu-tṛṇa-vīrudham
bṛhad vanaṁ tad adhunā
yatrāsse tvaṁ suhṛd-vṛtaḥ

Sinônimos

kaccit — se; paśavyam — proteção às vacas; nirujam — sem dificuldades ou doenças; bhūri — suficiente; ambu — água; tṛṇa — grama; vīru­dham — plantas; bṛhat vanam — a grande floresta; tat — todos esses arranjos existem ali; adhunā — agora; yatra — onde; āsse — vives; tvam — tu; suhṛt-vṛtaḥ — cercado por amigos.

Tradução

Meu querido amigo Nanda Mahārāja, na região onde vives com teus amigos, a floresta é favorável aos animais, às vacas? Espero que não haja nenhuma doença ou inconveniente. A região precisa ser repleta de água, grama e outros vegetais.

Comentário

SIGNIFICADO—Para a felicidade humana, deve-se cuidar dos animais, especial­mente das vacas. Vasudeva, portanto, perguntou se era dada a devida atenção aos animais onde Nanda Mahārāja vivia. Para a adequada conquista da felicidade humana, devem-se tomar medidas para a proteção às vacas. Isso significa que deve haver florestas e pastos adequados, cheios de grama e água. Se os animais são felizes, have­rá um bom suprimento de leite, e os seres humanos se beneficiarão, obtendo muitos produtos lácteos que lhes propiciarão uma vida feliz. Como se prescreve na Bhagavad-gītā (18.44): kṛṣi-go-rakṣya-vāṇijyaṁ vaiśya-karma-sva-bhāvajam. Sem dar aos animais condições a eles favoráveis, como a sociedade humana poderá ser feliz? É um grande pecado o fato de as pessoas estarem criando gado para enviá-lo ao matadouro. Através desse empreendimento demoníaco, estão arruinando sua oportunidade de uma vida verdadeiramente humana. Porque não estão dando importância alguma às instruções de Kṛṣṇa, o avanço de sua suposta civilização se parece com as insanidades de homens em um hospício.

Texto

bhrātar mama sutaḥ kaccin
mātrā saha bhavad-vraje
tātaṁ bhavantaṁ manvāno
bhavadbhyām upalālitaḥ

Sinônimos

bhrātaḥ — meu querido irmão; mama — meu; sutaḥ — filho (Baladeva, nascido de Rohiṇī); kaccit — se; mātrā saha — com Sua mãe, Rohiṇī; bhavat-vraje — em tua casa; tātam — como pai; bhavantam — a ti; man­vānaḥ — considerando; bhavadbhyām — por ti e por tua esposa, Yaśodā; upalālitaḥ — sendo devidamente criado.

Tradução

Meu filho Baladeva, sendo criado por ti e por tua esposa, Yaśo­dādevī, considera-vos pai e mãe. Ele está vivendo muito pacificamente em teu lar com Sua verdadeira mãe, Rohiṇī?

Texto

puṁsas tri-vargo vihitaḥ
suhṛdo hy anubhāvitaḥ
na teṣu kliśyamāneṣu
tri-vargo ’rthāya kalpate

Sinônimos

puṁsaḥ — de uma pessoa; tri-vargaḥ — as três metas da vida (religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos); vihitaḥ — pres­critas de acordo com as cerimônias ritualísticas védicas; suhṛdaḥ — para com os parentes e amigos; hi — na verdade; anubhāvitaḥ — quando estão devidamente situados; na — não; teṣu — neles; kliśya­māneṣu — se eles estão realmente em alguma dificuldade; tri-vargaḥ — essas três metas da vida; arthāya — para algum propósito; kalpate — assim se tornam.

Tradução

Quando os amigos e parentes de alguém estão devidamente situa­dos, sua religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos, como se descreve nos textos védicos, são benéficos. Caso contrário, se os amigos e parentes estão aflitos, esses três elementos não podem oferecer felicidade alguma.

Comentário

SIGNIFICADO—Vasudeva constrangidamente informou a Nanda Mahārāja que, embora tivesse esposa e filhos, não podia desempenhar apropriadamente seu dever de mantê-los e, em virtude disso, estava infeliz.

Texto

śrī-nanda uvāca
aho te devakī-putrāḥ
kaṁsena bahavo hatāḥ
ekāvaśiṣṭāvarajā
kanyā sāpi divaṁ gatā

Sinônimos

śrī-nandaḥ uvāca — Nanda Mahārāja disse; aho — oh!; te — teus; devakī-putrāḥ — todos os filhos de tua esposa Devakī; kaṁsena — pelo rei Kaṁsa; bahavaḥ — muitos; hatāḥ — foram mortos; ekā — uma; avaśiṣṭā — criança restante; avarajā — a mais jovem entre todos eles; kanyā — também uma filha; api — ela também; divam gatā — foi aos planetas celestiais.

Tradução

Nanda Mahārāja disse: Oh! O rei Kaṁsa matou tantos de teus filhos, nascidos de Devakī! E tua única filha, a caçula, entrou nos planetas celestiais.

Comentário

SIGNIFICADO—Ao compreender por intermédio de Nanda Mahārāja que o mistério do nascimento de Kṛṣṇa e de Ele ser trocado pela filha de mãe Yaśodā ainda não fora revelado, Vasudeva ficou feliz de que tudo esti­vesse ocorrendo a contento. Ao dizer que a filha de Vasudeva, sua filha caçula, fora aos planetas celestiais, Nanda Mahārāja indicou que não sabia que essa filha nascera de Yaśodā e que Vasu­deva a trocara por Kṛṣṇa. Com isso, as dúvidas de Vasudeva extinguiram-se.

Texto

nūnaṁ hy adṛṣṭa-niṣṭho ’yam
adṛṣṭa-paramo janaḥ
adṛṣṭam ātmanas tattvaṁ
yo veda na sa muhyati

Sinônimos

nūnam — decerto; hi — na verdade; adṛṣṭa — imperceptível; niṣṭhaḥ ayam — algo termina ali; adṛṣṭa — o destino imperceptível; paramaḥ — último; janaḥ — toda entidade viva dentro deste mundo material; adṛṣṭam — esse destino; ātmanaḥ — de alguém; tattvam — a verdade última; yaḥ — qualquer pessoa que; veda — saiba; na — não; saḥ — ela; muhyati — confunde-se.

Tradução

Todo homem decerto é controlado pelo destino, que determina os resultados de suas atividades fruitivas. Em outras palavras, cada qual tem filhos ou filhas devido ao imperceptível destino, e quando os filhos ou filhas deixam de estar presentes, isso também se deve ao destino imperceptível. O destino é o controlador último de todos. Aquele que sabe disso nunca se confunde.

Comentário

SIGNIFICADO—Nanda Mahārāja consolou seu irmão mais novo, Vasudeva, dizendo que, em última análise, o destino é responsável por tudo. Vasudeva não deveria ficar infeliz pelo fato de seus muitos filhos terem sido mortos por Kaṁsa ou pelo fato de a última criança, a filha, ter ido para os planetas celestiais.

Texto

śrī-vasudeva uvāca
karo vai vārṣiko datto
rājñe dṛṣṭā vayaṁ ca vaḥ
neha stheyaṁ bahu-tithaṁ
santy utpātāś ca gokule

Sinônimos

śrī-vasudevaḥ uvāca — Śrī Vasudeva respondeu; karaḥ — os impostos; vai — na verdade; vārṣikaḥ — anuais; dattaḥ — já tendo sido pagos por ti; rājñe — ao rei; dṛṣṭāḥ — fomos vistos; vayam ca — nós dois; vaḥ — de ti; na — não; iha — neste lugar; stheyam — deves permanecer; bahu-titham — por muitos dias; santi — talvez; utpātāḥ ca — muitas perturbações; gokule — em teu lar, Gokula.

Tradução

Vasudeva disse a Nanda Mahārāja: Agora, meu querido irmão, como pagaste a Kaṁsa os impostos e também me viste, não te demores muito neste lugar. Seria melhor retornares a Gokula, porque sei que podem estar ocorrendo algumas perturbações por lá.

Texto

śrī-śuka uvāca
iti nandādayo gopāḥ
proktās te śauriṇā yayuḥ
anobhir anaḍud-yuktais
tam anujñāpya gokulam

Sinônimos

śrī-śukaḥ uvāca — Śrī Śukadeva Gosvāmī disse; iti — assim; nanda-­ādayaḥ — Nanda Mahārāja e seus companheiros; gopāḥ — os vaquei­ros; proktāḥ — sendo aconselhados; te — eles; śauriṇā — por Vasudeva; yayuḥ — partiram daquele lugar; anobhiḥ — a carros de boi; anaḍut­yuktaiḥ — bois atrelados; tam anujñāpya — pedindo permissão a Vasudeva; gokulam — rumo a Gokula.

Tradução

Śukadeva Gosvāmī disse: Depois que Vasudeva deu esse conselho a Nanda Mahārāja, Nanda Mahārāja e seus associados, os vaquei­ros, pediram permissão a Vasudeva, atrelaram seus bois e começa­ram sua viagem rumo a Gokula.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do décimo canto, quinto capítulo do Śrīmad-Bhāgavatam, intitulado “O Encontro de Nanda Mahārāja e Vasudeva”.