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Capítulo 86

CHAPTER 86

O Rapto de Subhadrā e a Visita do Senhor Kṛṣṇa a Śrutadeva e Bahulāśva

The Kidnapping of Subhadrā, and Lord Kṛṣṇa’s Visiting Śrutadeva and Bahulāśva

Depois de ouvir falar dos incidentes descritos no último capítulo, o rei Parikṣit ficou mais desejoso de ouvir falar de Kṛṣṇa e de Seus passatempos, e assim ele perguntou a Śukadeva Gosvāmī como Sua avó Subhadrā fora raptada pelo seu avô Arjuna devido à instigação do Senhor Kṛṣṇa. O rei Parikṣit estava muito ansioso para ser informado a respeito do rapto realizado pelo seu avô e do matrimônio da sua avó.

After hearing of the incidents described in the last chapter, King Parīkṣit became more inquisitive to hear about Kṛṣṇa and His pastimes, and thus he inquired from Śukadeva Gosvāmī how his grandmother Subhadrā was kidnapped by his grandfather Arjuna at the instigation of Lord Kṛṣṇa. King Parīkṣit was very eager to learn how his grandfather kidnapped and married his grandmother.

Assim, Śukadeva Gosvāmī começou a narrar a seguinte história: Certa vez, Arjuna, o avô do rei Parikṣit, o grande herói, estava visitando vários lugares santos de peregrinação e, enquanto viajava por toda parte, chegou a Prabhāsa-kṣetra, onde ouviu as notícias de que o Senhor Balarāma estava arranjando o matrimônio de Subhadrā, a filha do tio materno de Arjuna, Vasudeva. Embora Seu pai, Vasudeva, e Seu irmão Kṛṣṇa não estivessem de acordo com Ele, Balarāma era favorável ao casamento de Subhadrā com Duryodhana. Porém, Arjuna desejava conquistar a mão de Subhadrā. À medida que ele pensava em Subhadrā e em sua beleza, Arjuna ficava cada vez mais cativado com a ideia de desposá-la e, com um plano em mente, ele se vestiu como um sannyāsī vaiṣṇava, carregando um tridaṇḍa na mão.

Thus Śukadeva Gosvāmī began to narrate the story as follows: Once upon a time, King Parīkṣit’s grandfather Arjuna, the great hero, was visiting several holy places of pilgrimage, and while thus traveling all over he happened to come to Prabhāsa-kṣetra. In Prabhāsa-kṣetra he heard the news that Lord Balarāma was negotiating the marriage of Subhadrā, the daughter of Arjuna’s maternal uncle, Vasudeva. Although her father, Vasudeva, and her brother Kṛṣṇa were not in agreement with Him, Balarāma was in favor of marrying Subhadrā to Duryodhana. Arjuna, however, desired to gain Subhadrā’s hand himself. As he thought of Subhadrā and her beauty, Arjuna became more and more captivated with the idea of marrying her, and with a plan in mind he dressed himself like a Vaiṣṇava sannyāsī, carrying a tridaṇḍa in his hand.

Os sannyāsīs māyāvādīs levam um daṇḍa, ou uma vara, ao passo que os sannyāsīs vaiṣṇavas levam três daṇḍas, ou três cajados. Os três cajados, ou tridaṇḍa, indicam que um sannyāsī vaiṣṇava jura prestar serviço à Suprema Personalidade de Deus com o corpo, a mente e as palavras. O sistema de tridaṇḍa-sannyāsa existe há muito tempo, e os sannyāsīs vaiṣṇavas são chamados tridaṇḍīs ou, às vezes, tridaṇḍi-svāmīs ou tridaṇḍi-gosvāmīs.

The Māyāvādī sannyāsīs take one daṇḍa, or one rod, whereas the Vaiṣṇava sannyāsīs take three daṇḍas, or three rods. The three rods, or tridaṇḍa, indicate that a Vaiṣṇava sannyāsī vows to render service to the Supreme Personality of Godhead with his body, mind and words. The system of tridaṇḍa-sannyāsa has been in existence for a long time, and the Vaiṣṇava sannyāsīs are called tridaṇḍīs, or sometimes tridaṇḍi-svāmīs or tridaṇḍi-gosvāmīs.

De modo geral, os sannyāsīs devem viajar por todo o país para o trabalho de pregação, mas, durante os quatro meses da estação chuvosa na Índia (julho a outubro), eles não viajam, senão que se refugiam em um lugar e permanecem lá sem se locomover. Essa permanência do sannyāsī é chamada cāturmāsya-vrata. Quando um sannyāsī fica em um lugar durante esses quatro meses, os habitantes locais daquele lugar se valem de sua presença para avançar espiritualmente.

Sannyāsīs are generally meant to travel all over the country for preaching work, but during the four months of the rainy season in India, from July through October, they do not travel but take shelter in one place and remain there without moving. This nonmovement of the sannyāsī is called Cāturmāsya-vrata. When a sannyāsī stays in one place for these four months, the local inhabitants of that place take advantage of his presence to become spiritually advanced.

Arjuna, vestido como um tridaṇḍi-sannyāsī, permaneceu na cidade de Dvārakā durante os quatro meses da estação chuvosa e elaborou um plano por meio do qual ele poderia conseguir Subhadrā como sua esposa. Nenhum dos habitantes de Dvārakā, incluindo o Senhor Balarāma, foi capaz de reconhecer que o sannyāsī era Arjuna; assim, todos eles ofereciam seus cumprimentos e reverências ao sannyāsī sem conhecer a situação real.

Arjuna, in the dress of a tridaṇḍi-sannyāsī, remained in the city of Dvārakā for the four months of the rainy season, devising a plan whereby he could get Subhadrā as his wife. None of the inhabitants of Dvārakā, including Lord Balarāma, could recognize the sannyāsī to be Arjuna; therefore all of them offered their respects and obeisances to the sannyāsī without knowing the actual situation.

Certo dia, o Senhor Balarāma convidou esse determinado sannyāsī para almoçar em Sua casa. Balarāmajī lhe ofereceu muito respeitosamente todos os tipos de pratos saborosos, e o suposto sannyāsī comeu suntuosamente. Enquanto comia na casa de Balarāmajī, Arjuna simplesmente admirava a bela Subhadrā, que era muito atraente aos grandes heróis e reis. Por amor a ela, os olhos de Arjuna brilhavam, e ele a contemplava com olhos reluzentes. Arjuna decidiu que, de uma maneira ou outra, ele conquistaria Subhadrā como sua esposa, e sua mente ficou agitada por causa desse forte desejo.

One day Lord Balarāma invited this particular sannyāsī to lunch at His home. Balarāmajī very respectfully offered him all kinds of palatable dishes, and the so-called sannyāsī was eating sumptuously. While eating at the home of Balarāmajī, Arjuna was simply looking at beautiful Subhadrā, who was very enchanting to great heroes and kings. Out of love for her, Arjuna’s eyes brightened, and he looked at her with glittering eyes. Arjuna decided that somehow or other he would achieve Subhadrā as his wife, and his mind became agitated on account of this strong desire.

Arjuna, o avô de Mahārāja Parikṣit, era extraordinariamente bonito, e sua estrutura física era muito atraente a Subhadrā, que decidiu em sua mente que só aceitaria Arjuna como seu esposo. Como uma menina simples, ela sorria com grande prazer ao olhar para Arjuna. Portanto, Arjuna também ficou cada vez mais atraído por ela. Desse modo, Subhadrā se dedicou a Arjuna, que se decidiu por desposá-la de qualquer forma. Assim, ele se absorveu completamente em pensamentos de como conquistar Subhadrā como sua esposa. Aflito em conseguir Subhadrā, ele não tinha paz mental nem mesmo por um instante.

Arjuna, the grandfather of Mahārāja Parīkṣit, was himself extraordinarily beautiful, and his bodily structure was very attractive to Subhadrā, who decided within her mind that she would accept only Arjuna as her husband. As a simple girl, she was smiling with great pleasure, looking at Arjuna. Thus Arjuna also became more and more attracted by her. In this way, Subhadrā dedicated herself to Arjuna, and he resolved to marry her by any means. He then became absorbed twenty-four hours a day in thought of how he could get Subhadrā as his wife. He was afflicted with the thought of getting Subhadrā and had not a moment’s peace of mind.

Certa vez, Subhadrā, sentada em uma carruagem, saiu da fortaleza do palácio para ver os deuses no templo. Arjuna aproveitou essa oportunidade e a raptou com a permissão de Vasudeva e Devakī. Depois de interceptar a carruagem de Subhadrā, ele se preparou para uma luta. Apanhando seu arco e lançando flechas para manter à distância os soldados ordenados a impedi-lo, Arjuna capturou Subhadrā. Enquanto Subhadrā estava sendo dessa forma raptada por Arjuna, seus parentes e membros da família começaram a chorar, mas, mesmo assim, ele a levou da mesma maneira que um leão toma sua presa e parte. Quando foi revelado ao Senhor Balarāma que o suposto sannyāsī era Arjuna, que arquitetara tal plano simplesmente para tomar Subhadrā e que ele realmente a tinha levado, Balarāma ficou muito irado. Da mesma maneira que as ondas do oceano ficam agitadas em um dia de Lua cheia, o Senhor Balarāma ficou muito transtornado.

Once upon a time, Subhadrā, seated on a chariot, came out of the palace fort to see the gods in the temple. Arjuna took this opportunity, and with the permission of Vasudeva and Devakī he kidnapped her. After getting on Subhadrā’s chariot, he prepared himself for a fight. Taking up his bow and holding off with his arrows the soldiers ordered to check him, Arjuna took Subhadrā away. While Subhadrā was thus being kidnapped by Arjuna, her relatives and family members began to cry, but still he took her, just as a lion takes his prey and departs. When it was disclosed to Lord Balarāma that the so-called sannyāsī was Arjuna, who had planned such a device simply to take away Subhadrā, and that he had actually taken her, He became very angry. Just as the waves of the ocean become agitated on a full-moon day, Lord Balarāma became greatly disturbed.

O Senhor Kṛṣṇa estava a favor de Arjuna, de modo que, juntamente com outros membros da família, Ele tentou apaziguar Balarāma caindo aos Seus pés e implorando-Lhe que perdoasse Arjuna. Kṛṣṇa convenceu o Senhor Balarāma de que Subhadrā estava apegada a Arjuna, e Balarāma ficou satisfeito em saber que ela desejava Arjuna como seu marido. A questão foi solucionada, e, para agradar o casal recém-unido, o Senhor Balarāma fez arranjos para enviar um dote que consistia em muitas riquezas, incluindo elefantes, carruagens, cavalos, criados e criadas.

Lord Kṛṣṇa was in favor of Arjuna; therefore, along with other members of the family, He tried to pacify Balarāma by falling at His feet and begging Him to pardon Arjuna. Kṛṣṇa convinced Lord Balarāma that Subhadrā was attached to Arjuna, and thus Balarāma became pleased to know that she wanted Arjuna as her husband. The matter was settled, and to please the newly married couple Lord Balarāma arranged to send a dowry consisting of an abundance of riches, including elephants, chariots, horses, menservants and maidservants.

Mahārāja Parikṣit estava muito ansioso para ouvir mais sobre o Senhor Kṛṣṇa, assim, depois de terminar a narração do rapto de Subhadrā por parte de Arjuna, Śukadeva Gosvāmī começou a narrar, como se segue, outra história.

Mahārāja Parīkṣit was very eager to hear more about Kṛṣṇa, and so, after finishing the narration of Arjuna’s kidnapping Subhadrā, Śukadeva Gosvāmī began to narrate another story, as follows.

Havia um brāhmaṇa chefe de família na cidade de Mithilā, a capital do reino de Videha. Esse brāhmaṇa, cujo nome era Śrutadeva, era um grande devoto do Senhor Kṛṣṇa. Porque era completamente consciente de Kṛṣṇa e sempre se ocupava no serviço ao Senhor, ele tinha a mente inteiramente pacífica e era desapegado de qualquer atração material. Ele também era muito erudito e não nutria qualquer outro desejo que não fosse estar completamente ocupado em consciência de Kṛṣṇa. Embora estivesse na ordem de vida de chefe de família, ele nunca fizera muitos esforços para ganhar qualquer coisa para o seu sustento, estando satisfeito com tudo o que pudesse conseguir sem grande empenho, e, de uma maneira ou outra, ele vivia daquele modo. Todos os dias, ele conseguia as necessidades da vida justamente na quantidade requerida – e não mais do que isso. Esse era o seu destino. O brāhmaṇa não desejava obter mais do que precisava, executando pacificamente dessa maneira os princípios reguladores da vida de um brāhmaṇa, como descritos nas escrituras reveladas.

There was a householder brāhmaṇa in the city of Mithilā, the capital of the kingdom of Videha. This brāhmaṇa, whose name was Śrutadeva, was a great devotee of Lord Kṛṣṇa. Because he was fully Kṛṣṇa conscious and always engaged in the service of the Lord, he was completely peaceful in mind and detached from all material attraction. He was very learned and had no desire other than to be fully situated in Kṛṣṇa consciousness. Although in the order of householder life, he never took great pains to earn anything for his livelihood; he was satisfied with whatever he could achieve without much endeavor, and somehow or other he lived in that way. Every day he would get the necessities of life in just the quantity required, and not more. That was his destiny. The brāhmaṇa had no desire to get more than what he needed, and thus he was peacefully executing the regulative principles of a brāhmaṇa’s life, as enjoined in the revealed scriptures.

Afortunadamente, o rei de Mithilā era um devoto tão bom quanto o brāhmaṇa. O nome desse famoso rei era Bahulāśva. Ele era muito reconhecido por sua reputação como bom rei e não era, de forma alguma, ambicioso em expandir seu reino em prol do gozo dos sentidos. Deste modo, tanto o brāhmaṇa quanto o rei Bahulāśva permaneciam devotos puros do Senhor Kṛṣṇa em Mithilā.

Fortunately, the king of Mithilā was as good a devotee as the brāhmaṇa. The name of this famous king was Bahulāśva. He was very well established in his reputation as a good king, and he was not at all ambitious to extend his kingdom for the sake of sense gratification. As such, both the brāhmaṇa and King Bahulāśva remained pure devotees of Lord Kṛṣṇa in Mithilā.

Como o Senhor Kṛṣṇa era muito misericordioso com esses dois devotos, o rei  Bahulāśva e o brāhmaṇa Śrutadeva, Ele, certo dia, pediu ao Seu quadrigário, Dāruka, que O levasse para a capital de Mithilā. O Senhor Kṛṣṇa estava acompanhado dos grandes sábios Nārada, Vāmadeva, Atri, Vyāsadeva, Paraśurāma, Asita, Aruṇi, Śukadeva, Bṛhaspati, Kaṇva, Maitreya, Cyavana e outros. O Senhor Kṛṣṇa e esses sábios passaram por muitas vilas e cidades, e, em todos os lugares, os cidadãos recebiam-nos com grande respeito e ofereciam-lhes artigos em adoração. Quando os cidadãos chegavam para ver o Senhor e todos aqueles sábios reunidos em um lugar, era como se o Sol estivesse presente juntamente com seus vários planetas satélites. Nessa viagem, o Senhor Kṛṣṇa e os sábios atravessaram os reinos de Ānarta, Dhanva, Kuru-jāṅgala, Kaṅka, Matsya, Pāñcāla, Kuntī, Madhu, Kekaya, Kośala e Arṇa, e, assim, todos os cidadãos desses lugares, homens e mulheres, puderam contemplar o Senhor Kṛṣṇa face a face. Desse modo, eles desfrutaram de felicidade celestial, com corações abertos e plenos de amor e afeto para com o Senhor. Quando eles viam a face do Senhor, parecia-lhes que estavam bebendo néctar através dos olhos, e todas as suas ignorantes concepções errôneas de vida se dissipavam. À medida que o Senhor cruzava os vários países e as pessoas iam visitá-lO, o Senhor concedia-lhes toda a boa fortuna e os libertava de todos os tipos de ignorância. Em alguns lugares, os semideuses se uniam aos seres humanos, e a glorificação deles ao Senhor purificava todas as direções de todas as coisas desfavoráveis. Dessa forma, o Senhor Kṛṣṇa chegou ao reino de Videha.

Since Lord Kṛṣṇa was very merciful toward these two devotees, King Bahulāśva and the brāhmaṇa Śrutadeva, He one day asked His driver, Dāruka, to take His chariot into the capital city of Mithilā. Lord Kṛṣṇa was accompanied by the great sages Nārada, Vāmadeva, Atri, Vyāsadeva, Paraśurāma, Asita, Aruṇi, Śukadeva, Bṛhaspati, Kaṇva, Maitreya, Cyavana and others. Lord Kṛṣṇa and the sages passed through many villages and towns, and everywhere the citizens would receive them with great respect and offer them articles in worship. To the citizens who came to see the Lord and all the assembled sages, it seemed as though the sun were present along with his various satellite planets. On that journey, Lord Kṛṣṇa and the sages passed through the kingdoms of Ānarta, Dhanva, Kuru-jāṅgala, Kaṅka, Matsya, Pāñcāla, Kunti, Madhu, Kekaya, Kośala and Arṇa, and thus all the citizens of these places, both men and women, could see Lord Kṛṣṇa face to face. In this way they enjoyed celestial happiness, with open hearts full of love and affection for the Lord, and when they saw the face of the Lord, it seemed to them that they were drinking nectar through their eyes. When they saw Kṛṣṇa, all the ignorant misconceptions of their lives dissipated. When the Lord passed through the various countries and the people came to visit Him, simply by glancing over them the Lord would bestow all good fortune upon them and liberate them from all kinds of ignorance. In some places the demigods would join with the human beings, and their glorification of the Lord would cleanse all directions of all inauspicious things. In this way, Lord Kṛṣṇa gradually reached the kingdom of Videha.

Quando os cidadãos receberam a notícia da chegada do Senhor, todos eles sentiram felicidade ilimitada e se aproximaram para dar-Lhe as boas-vindas levando presentes nas mãos como oferendas. Assim que eles avistaram o Senhor Kṛṣṇa, seus corações imediatamente floresceram em felicidade transcendental, como flores de lótus ao nascer do Sol. Anteriormente, eles apenas haviam ouvido os nomes dos grandes sábios, mas nunca os tinham visto. Agora, pela misericórdia do Senhor Kṛṣṇa, eles tiveram a oportunidade de ver os grandes sábios e o próprio Senhor.

When the citizens received the news of the Lord’s arrival, they all felt unlimited happiness and came to welcome Him, taking gifts in their hands to offer. As soon as they saw Lord Kṛṣṇa, their hearts immediately blossomed in transcendental bliss, just like lotus flowers upon the rising of the sun. Previously they had simply heard the names of the great sages but had never seen them. Now, by the mercy of Lord Kṛṣṇa, they had the opportunity of seeing both the great sages and the Lord Himself.

O rei Bahulāśva e o brāhmaṇa Śrutadeva, sabendo bem que o Senhor fora até lá apenas para os agraciar com Seu favor, imediatamente caíram aos pés de lótus do Senhor e ofereceram seus cumprimentos. De mãos juntas, o rei e o brāhmaṇa convidaram, ao mesmo tempo, o Senhor Kṛṣṇa e todos os sábios para suas casas. Para agradar os dois, o Senhor Kṛṣṇa expandiu-Se em dois e foi para a casa de cada um deles. Não obstante, nem o rei nem o brāhmaṇa puderam entender que o Senhor fora para a casa do outro, senão que ambos pensaram que o Senhor tinha ido somente para sua própria residência. O fato de que Ele e Seus companheiros estivessem presentes em ambas as casas, embora o brāhmaṇa e o rei pensassem que Ele estava presente em uma só residência, é outra opulência da Suprema Personalidade de Deus. Essa opulência é descrita nas escrituras reveladas como vaibhava-prakāśa. Quando o Senhor Kṛṣṇa casou-Se com dezesseis mil esposas, Ele expandiu-Se em dezesseis mil formas, cada qual tão poderosa quanto Ele próprio. Semelhantemente, em Vṛndāvana, quando Brahmā roubou os bezerros e os vaqueirinhos de Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Se expandiu em muitos outros bezerros e meninos.

King Bahulāśva and the brāhmaṇa Śrutadeva, knowing well that the Lord had come there just to grace them with favor, immediately fell at the Lord’s lotus feet and offered their respects. With folded hands, the king and the brāhmaṇa each simultaneously invited Lord Kṛṣṇa and all the sages to his home. In order to please both of them, Lord Kṛṣṇa expanded Himself into two and went to the houses of each one of them; yet neither the king nor the brāhmaṇa could understand that the Lord had gone to the house of the other. Both thought that the Lord had gone only to his own house. That He and His companions were present in both houses, although both the brāhmaṇa and the king thought He was present in one house only, is another opulence of the Supreme Personality of Godhead. This opulence is described in the revealed scriptures as vaibhava-prakāśa. When Lord Kṛṣṇa married sixteen thousand wives, He expanded Himself into sixteen thousand forms, each one of them as powerful as He Himself. Similarly, in Vṛndāvana, when Brahmā stole Kṛṣṇa’s calves and cowherd boys, Kṛṣṇa expanded Himself into many new calves and boys.

Bahulāśva, o rei de Videha, era muito inteligente e um cavalheiro perfeito. Ele estava surpreso que tantos grandes sábios, juntamente com a Suprema Personalidade de Deus, estivessem pessoalmente presentes em sua casa. Ele sabia muito bem que almas condicionadas ocupadas em negócios mundanos não podem ser cem por cento puras, ao passo que a Suprema Personalidade de Deus e Seus devotos puros são sempre transcendentais à contaminação mundana. Destarte, quando ele percebeu que a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, e todos os grandes sábios estavam em sua casa, ele ficou surpreso e começou a agradecer ao Senhor Kṛṣṇa por Sua misericórdia sem causa.

Bahulāśva, the king of Videha, was very intelligent and was a perfect gentleman. He was astonished that so many great sages, along with the Supreme Personality of Godhead, were personally present in his home. He knew perfectly well that conditioned souls engaged in worldly affairs cannot be one hundred percent pure, whereas the Supreme Personality of Godhead and His pure devotees are always transcendental to worldly contamination. Therefore, when he found that the Supreme Personality of Godhead, Kṛṣṇa, and all the great sages were at his home, he was astonished, and he began to thank Lord Kṛṣṇa for His causeless mercy.

Sentindo-se muito agradecido e desejando receber seus convidados da melhor forma possível, ele solicitou cadeiras confortáveis e almofadas, e o Senhor Kṛṣṇa, em companhia de todos os sábios, sentou-Se muito confortavelmente. Naquele momento, a mente do rei Bahulāśva estava muito inquieta, não por causa de qualquer problema, mas devido ao grande êxtase de amor e devoção. Seu coração estava cheio de carinho e afeto pelo Senhor e Seus associados, e seus olhos estavam cheios de lágrimas de êxtase. Ele lavou os pés dos seus convidados celestiais e, em seguida, ele e seus familiares borrifaram a água em suas próprias cabeças. Depois disso, ele ofereceu aos convidados guirlandas de flores frescas, polpa de sândalo, incenso, roupas novas, ornamentos, lamparinas, vacas e touros. De uma maneira bem apropriada à sua própria posição real, ele adorou cada um deles desse modo. Quando todos tinham sido suntuosamente alimentados e estavam sentados muito confortavelmente, Bahulāśva foi diante do Senhor Kṛṣṇa e segurou em Seus pés de lótus. Ele os colocou sobre seu colo e, enquanto massageava os pés com suas mãos, começou a falar sobre as glórias do Senhor em uma voz doce.

Feeling very much obliged and wanting to receive his guests to the best of his ability, he called for nice chairs and cushions, and Lord Kṛṣṇa, along with all the sages, sat down very comfortably. At that time, King Bahulāśva’s mind was very restless, not because of any problems but because of great ecstasy of love and devotion. His heart was filled with love and affection for the Lord and His associates, and his eyes were filled with tears of ecstasy. He washed the feet of his divine guests, and afterward he and his family members sprinkled the water on their own heads. After this, he offered the guests nice flower garlands, sandalwood pulp, incense, new garments, ornaments, lamps, cows and bulls. In a manner just befitting his royal position, he worshiped each one of them in this way. When all had been fed sumptuously and were sitting very comfortably, Bahulāśva came before Lord Kṛṣṇa and caught His lotus feet. He placed them on his lap and, while massaging the feet with his hands, began to speak about the glories of the Lord in a sweet voice.

 “Meu querido Senhor, Você é a Superalma de todas as entidades vivas e, como testemunha dentro do coração, Você está ciente das atividades de todos. Assim, atados a diversos afazeres, sempre pensamos em Seus pés de lótus para que possamos permanecer em uma posição segura, sem nos desviar de Seu serviço eterno. Como resultado de nossa recordação contínua de Seus pés de lótus, Você veio amavelmente em pessoa visitar minha casa para me favorecer com Sua misericórdia sem causa. Meu querido Senhor, ouvimos em Suas várias declarações Você confirmar que Seus devotos puros Lhe são mais queridos que o Senhor Balarāma ou Sua serva constante, a deusa da fortuna. Seus devotos Lhe são mais queridos do que Seu primeiro filho, o senhor Brahmā, e tenho certeza de que Você veio tão amavelmente visitar minha casa para provar Sua declaração divina. Eu não posso imaginar como as pessoas podem ser irreligiosas e demoníacas mesmo depois de conhecer Sua misericórdia sem causa e Seu afeto pelos Seus devotos que estão constantemente ocupados em consciência de Kṛṣṇa. Como eles podem se esquecer de Seus pés de lótus?”

“My dear Lord, You are the Supersoul of all living entities, and as the witness within the heart You are cognizant of everyone’s activities. Thus we are duty-bound to always think of Your lotus feet so that we can remain in a secure position and not deviate from Your eternal service. As a result of our continuous remembrance of Your lotus feet, You have kindly visited my place personally to favor me with Your causeless mercy. We have heard, my dear Lord, that by Your various statements You confirm Your pure devotees to be more dear to You than Lord Balarāma or Your constant servitor the goddess of fortune. Your devotees are dearer to You than Your first son, Lord Brahmā, and I am sure that You have so kindly visited my place in order to prove Your divine statement. I cannot imagine how people can be godless and demoniac even after knowing of Your causeless mercy and affection for Your devotees who are constantly engaged in Kṛṣṇa consciousness. How can people who know these things forget Your lotus feet?

“Meu querido Senhor, sabemos que Você é tão amável e liberal que, quando uma pessoa abandona tudo unicamente para se ocupar em consciência de Kṛṣṇa, Você às vezes Se dá em troca daquele serviço puro. Você apareceu na dinastia Yadu para cumprir Sua missão de resgatar todas as almas condicionadas que apodrecem nas atividades pecaminosas da existência material, e esse aparecimento já está famoso no mundo inteiro. Meu querido Senhor, Você é o oceano de misericórdia, amor e afeição ilimitados. Sua forma transcendental é plena de bem-aventurança, conhecimento e eternidade. Você pode atrair o coração de todos por intermédio de Sua belíssima forma como Śyāmasundara, Kṛṣṇa. Seu conhecimento é ilimitado, e, para ensinar todas as pessoas como prestar serviço devocional, Você enviou Sua encarnação Nara-Nārāyaṇa, que está ocupada em severas austeridades e penitências em Badarīnārāyaṇa. Portanto, por obséquio, aceite minhas humildes reverências aos Seus pés de lótus. Meu querido Senhor, imploro que Você e Seus associados, os grandes sábios e brāhmaṇas, permaneçam em meu palácio pelo menos por alguns dias, de forma que esta família do famoso rei Nimi possa ser santificada pela poeira de Seus pés de lótus”. O Senhor Kṛṣṇa não pôde recusar o pedido do Seu devoto, e assim Ele permaneceu lá durante alguns dias com os sábios para santificar a cidade de Mithilā e todos os seus cidadãos.

“My dear Lord, it is known to us that You are so kind and liberal that when a person leaves everything just to engage in Kṛṣṇa consciousness, You sometimes give Yourself in exchange for that unalloyed service. You have appeared in the Yadu dynasty to fulfill Your mission of reclaiming all conditioned souls rotting in the sinful activities of material existence, and this appearance is already famous all over the world. My dear Lord, You are the ocean of unlimited mercy, love and affection. Your transcendental form is full of bliss, knowledge and eternity. You can attract everyone’s heart by Your beautiful form as Śyāmasundara, Kṛṣṇa. Your knowledge is unlimited, and to teach all people how to execute devotional service You have sent Your incarnation Nara-Nārāyaṇa, who is engaged in severe austerities and penances at Badarīnārāyaṇa. Kindly, therefore, accept my humble obeisances at Your lotus feet. My dear Lord, I beg to request You and Your companions, the great sages and brāhmaṇas, to remain at my place at least for a few days so that this family of the famous King Nimi may be sanctified by the dust of Your lotus feet.” Lord Kṛṣṇa could not refuse the request of His devotee, and thus He remained there for a few days with the sages to sanctify the city of Mithilā and all its citizens.

Enquanto isso, o brāhmaṇa Śrutadeva, simultaneamente recebendo o Senhor Kṛṣṇa e Seus associados em sua casa, estava transcendentalmente tomado de alegria. Depois de oferecer assentos confortáveis a seus convidados, o brāhmaṇa começou a dançar, rodopiando seu manto. Śrutadeva, não sendo rico, ofereceu apenas colchões, toras de madeira, tapetes de palha e objetos semelhantes aos seus distintos convidados, o Senhor Kṛṣṇa e os sábios. No entanto, ele os recebeu no melhor da sua capacidade. Elogiando muito o Senhor e os sábios, ele e sua esposa lavaram os pés de cada um dos convidados. Em seguida, ele tomou água e a borrifou por cima de todos os membros de sua família e, embora parecesse muito pobre, ele estava naquele momento muito afortunado. Enquanto Śrutadeva estava dando as boas-vindas ao Senhor Kṛṣṇa e a Seus associados, ele simplesmente se esqueceu de si mesmo em alegria transcendental. Depois de dar as boas-vindas ao Senhor e aos Seus companheiros, de acordo com sua capacidade, ele trouxe frutas, incenso, água perfumada, argila aromatizada, folhas de tulasī, grama kuśa e flores de lótus. Esses não eram artigos caros, e podiam ser conseguidos muito facilmente, mas, como foram oferecidos com amor devocional, o Senhor Kṛṣṇa e Seus associados aceitaram-nos alegremente. A esposa do brāhmaṇa cozinhou alimentos simples, como arroz e dāl, e o Senhor Kṛṣṇa e Seus seguidores ficaram assaz satisfeitos em aceitá-los porque eles foram oferecidos com amor devocional. Quando o Senhor Kṛṣṇa e Seus associados foram alimentados desse modo, o brāhmaṇa Śrutadeva pensou: “Eu entrei no poço fundo e escuro da vida de chefe de família e sou a pessoa mais desgraçada. Como é possível que o Senhor Kṛṣṇa, que é a Suprema Personalidade de Deus, e Seus associados, os grandes sábios, cuja presença torna um lugar tão santificado quanto um local de peregrinação, tenham concordado em vir à minha residência?” Enquanto o brāhmaṇa pensava desse modo, os convidados terminaram o seu almoço e se sentaram muito confortavelmente. Naquele momento, o brāhmaṇa Śrutadeva, sua esposa, filhos e outros parentes entraram para prestar serviço aos ilustres convidados. Enquanto tocava os pés de lótus do Senhor Kṛṣṇa, o brāhmaṇa começou a falar.

Meanwhile, the brāhmaṇa Śrutadeva, simultaneously receiving Lord Kṛṣṇa and His associates at his home, was transcendentally overwhelmed with joy. After offering his guests nice sitting places, the brāhmaṇa began to dance, waving around his wrap. Śrutadeva, being not at all rich, offered only mattresses, wooden planks, straw carpets and so on to his distinguished guests, Lord Kṛṣṇa and the sages, but he welcomed them to the best of his ability. He spoke very highly of the Lord and the sages, and he and his wife washed the feet of each one of them. After this, he took the water and sprinkled it over all the members of his family, and although the brāhmaṇa appeared very poor, he was at that time most fortunate. While Śrutadeva was welcoming Lord Kṛṣṇa and His associates, he simply forgot himself in transcendental joy. After welcoming the Lord and His companions, according to his ability he brought fruits, incense, scented water, scented clay, tulasī leaves, kuśa straw and lotus flowers. They were not costly items and could be secured very easily, but because they were offered with devotional love, Lord Kṛṣṇa and His associates accepted them gladly. The brāhmaṇa’s wife cooked simple foods like rice and dāl, and Lord Kṛṣṇa and His followers were very pleased to accept them because they were offered in devotional love. When Lord Kṛṣṇa and His associates were fed in this way, the brāhmaṇa Śrutadeva was thinking thus: “I have fallen into the deep, dark well of householder life and am the most unfortunate person. How has it become possible that Lord Kṛṣṇa, who is the Supreme Personality of Godhead, and His associates, the great sages, whose very presence makes a place as sanctified as a pilgrimage site, have agreed to come to my place?” While the brāhmaṇa was thinking in this way, the guests finished their lunch and sat back very comfortably. At that time, the brāhmaṇa Śrutadeva and his wife, children and other relatives appeared there to render service to the distinguished guests. While touching the lotus feet of Lord Kṛṣṇa, the brāhmaṇa began to speak.

“Meu querido Senhor”, disse ele, “Você é a Pessoa Suprema, Puruṣottama, transcendentalmente situado além das criações materiais manifestas e imanifestas. As atividades deste mundo material e das almas condicionadas não têm qualquer vínculo com Sua posição. Podemos apreciar que não é apenas hoje que Você me deu Sua audiência, mas Você está Se associando com todas as entidades vivas como Paramātmā desde o começo da criação”.

“My dear Lord,” he said, “You are the Supreme Person, Puruṣottama, transcendentally situated beyond the manifested and unmanifested material creation. The activities of this material world and of the conditioned souls have nothing to do with Your position. We can appreciate that not only today have You given me Your audience, but You are associating with all the living entities as Paramātmā since the beginning of creation.”

Essa declaração do brāhmaṇa é muito instrutiva. É um fato que o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, no Seu aspecto de Paramātmā, entra na criação deste mundo material como Mahā-Viṣṇu, Garbhodakaśayī Viṣṇu e Kṣīrodakaśāyī Viṣṇu e, em uma atitude muito amigável, o Senhor Se senta junto da alma condicionada no corpo. Consequentemente, toda entidade viva tem o Senhor consigo desde o começo, mas, devido à sua consciência equivocada de vida, a entidade viva não pode entender isso. Porém, quando sua consciência é transferida para Kṛṣṇa, ela pode entender imediatamente como Kṛṣṇa está tentando ajudar as almas condicionadas a saírem do enredamento material.

This statement by the brāhmaṇa is very instructive. It is a fact that the Supreme Lord, the Personality of Godhead, in His Paramātmā feature, enters the creation of this material world as Mahā-viṣṇu, Garbhodaka-śāyī Viṣṇu and Kṣīrodaka-śāyī Viṣṇu, and in a very friendly attitude the Lord sits along with the conditioned soul in the body. Therefore, every living entity has the Lord with him from the very beginning, but due to his mistaken consciousness of life, the living entity cannot understand this. When his consciousness, however, is changed into Kṛṣṇa consciousness, he can immediately understand how Kṛṣṇa is trying to assist the conditioned souls to get out of the material entanglement.

Śrutadeva continuou: “Meu querido Senhor, Você entrou neste mundo material como se estivesse dormindo. Uma alma condicionada, enquanto dorme, cria mundos falsos ou temporários em sua mente; ela se ocupa em muitas atividades ilusórias – ora se torna um rei, ora um assassino, ora vai até uma cidade desconhecida – e todos esses estados são simplesmente temporários. De igual modo, Sua Onipotência, aparentemente em uma condição onírica, entra neste mundo material para criar uma manifestação temporária, não para Suas necessidades pessoais, mas para as almas condicionadas que desejam imitá-lO como desfrutador. O desfrute da alma condicionada no mundo material é temporário e ilusório. E, mesmo assim, a alma condicionada é incapaz de criar tal situação temporária para o seu prazer ilusório. Para satisfazer seus desejos, embora sejam temporários e ilusórios, Você entra nesta manifestação temporária para ajudá-las. Assim, desde o princípio da imersão das almas condicionadas no mundo material, Você é seu companheiro constante. Logo, quando as almas condicionadas entram em contato com um devoto puro e adotam o serviço devocional, que começa com o processo de ouvir Seus passatempos transcendentais, glorificar Suas atividades transcendentais, adorar Sua forma eterna no templo, oferecer-Lhe orações e ocupar-se em discussão para entender Sua posição transcendental, elas, aos poucos, se libertam da contaminação da existência material. E, à medida que o coração se purifica de toda a poeira material, Você Se torna visível ali. Embora Você permaneça constantemente com a alma condicionada, apenas quando ela se purifica através do serviço devocional é que Você Se revela. Outros, que estão assoberbados pelas atividades fruitivas, quer através das injunções védicas, quer através dos interesses mundanos, e que não adotam o serviço devocional, são cativados pela felicidade externa do conceito corpóreo de vida. Você não Se revela a tais pessoas. Ao contrário, Você permanece bem longe delas. Contudo, para aquele que se ocupa em Seu serviço devocional e purifica o coração por cantar constantemente o Seu santo nome, Você é muito facilmente reconhecido como o companheiro eterno e constante”.

Śrutadeva continued: “My dear Lord, You have entered this material world as if sleeping. A conditioned soul, while sleeping, creates false or temporary worlds in his mind; he becomes busy in many illusory activities – sometimes becoming a king, sometimes being murdered or sometimes going to an unknown city – and all these are simply temporary affairs. Similarly, Your Lordship, apparently also in a sleeping condition, enters this material world to create a temporary manifestation, not for Your personal necessities but for the conditioned soul who wants to imitate Your Lordship as enjoyer. The conditioned soul’s enjoyment in the material world is temporary and illusory. And yet the conditioned soul is by himself unable to create such a temporary situation for his illusory enjoyment. To fulfill his desires, although they are temporary and illusory, You enter this temporary manifestation to help him. Thus from the beginning of the conditioned soul’s entering into the material world, You are his constant companion. When, therefore, the conditioned soul comes in contact with a pure devotee and takes to devotional service, beginning with the process of hearing Your transcendental pastimes, glorifying Your transcendental activities, worshiping Your eternal form in the temple, offering prayers to You and engaging in discussion to understand Your transcendental position, he gradually becomes freed from the contamination of material existence. And as his heart becomes cleansed of all material dust, You gradually become visible there. Although You are constantly with the conditioned soul, only when he becomes purified by devotional service do You become revealed to him. Others, who are bewildered by fruitive activities, either by Vedic injunction or by customary dealings, and who do not take to devotional service, are captivated by the external happiness of the bodily concept of life. You are not revealed to such persons. Rather, You remain far, far away from them. But for one who engages in Your devotional service and purifies his heart by constant chanting of Your holy name, You are very easily understood as his eternal, constant companion.

“Declara-se que Sua Onipotência, sentado no coração do devoto, dá a direção pela qual ele pode, muito depressa, voltar ao lar, voltar a Você. Essa instrução direta ditada por Você revela Sua existência dentro do coração do devoto. Apenas o devoto é capaz de sentir diretamente Sua existência dentro do coração, ao passo que, para uma pessoa que tem apenas um conceito material de vida e ocupa-se no gozo dos sentidos, Você sempre permanece encoberto pela cortina de yogamāyā. Tal pessoa não pode perceber que Você está muito próximo e sentado dentro do seu coração. Para um não-devoto, Você é apreciado apenas como a morte cruel e derradeira. A diferença é como aquela entre uma gata que leva seus gatinhos ou um rato em sua boca. Na boca da gata, o rato pressente sua morte, ao passo que os gatinhos na boca da mãe sentem afeto maternal. Da mesma forma, Você está presente em todos, mas os não-devotos O veem como a derradeira morte cruel, ao passo que, para o devoto, Você é o supremo instrutor e filósofo. Por conseguinte, o ateu compreende a presença de Deus como a morte, mas o devoto sempre entende a presença de Deus dentro do coração, recebe instruções de Você e vive transcendentalmente, sem se afetar pela contaminação do mundo material.

“It is said that Your Lordship, sitting in the heart of a devotee, gives him direction by which he can very quickly come back home, back to You. This direct dictation by You reveals Your existence within the heart of the devotee. Only a devotee can immediately appreciate Your existence within his heart, whereas for a person who has only a bodily concept of life and is engaged in sense gratification, You always remain covered by the curtain of yogamāyā. Such a person cannot realize that You are very near, sitting within his heart. For a nondevotee, You are appreciated only as ultimate death. The difference is like the difference between a cat’s carrying its kittens in its mouth and carrying a rat in its mouth. In the mouth of the cat, the rat feels its death, whereas the kittens in the mouth of the cat feel motherly affection. Similarly, You are present to everyone, but the nondevotee feels You as ultimate cruel death, whereas for a devotee You are the supreme instructor and philosopher. The atheist, therefore, understands the presence of God as death, but the devotee understands the presence of God always within his heart, takes dictation from You and lives transcendentally, unaffected by the contamination of the material world.

“Você é o controlador supremo e o superintendente das atividades da natureza material. A classe ateísta de homens simplesmente observa as atividades da natureza material, mas não pode entender Você como a causa original. Porém, um devoto pode ver imediatamente Sua mão em todo movimento da natureza material. A cortina de yogamāyā não pode ocultar Sua Onipotência aos olhos do devoto, pode, porém, encobrir os olhos do não-devoto. O não-devoto está impossibilitado de vê-lO face a face da mesma maneira que uma pessoa cujos olhos estão bloqueados por uma nuvem não pode ver o Sol, embora as pessoas que estejam voando por sobre a nuvem possam ver os refulgentes raios solares como eles são. Meu querido Senhor, ofereço-Lhe minhas respeitosas reverências. Meu querido autorrefulgente Senhor, sou Seu servo eterno. Portanto, por gentileza, ordene-me – o que posso fazer por Você? As almas condicionadas sentem as aflições da contaminação material através das três misérias enquanto Você não lhes é visível. E assim que Você se torna visível, por meio do desenvolvimento da consciência de Kṛṣṇa, todas as misérias da existência material são simultaneamente superadas”.

“You are the supreme controller and superintendent of the material nature’s activities. The atheistic class of men simply observe the activities of material nature but cannot find You as the original background. A devotee, however, can immediately see Your hand in every movement of material nature. The curtain of yogamāyā cannot cover the eyes of the devotee of Your Lordship, but it can cover the eyes of the nondevotee. The nondevotee is unable to see You face to face, just as a person whose eyes are blocked by the covering of a cloud cannot see the sun, although persons flying above the cloud can see the sunshine brilliantly, as it is. My dear Lord, I offer my respectful obeisances unto You. My dear self-effulgent Lord, I am Your eternal servitor. Therefore, kindly order me – what can I do for You? The conditioned soul feels the pangs of material contamination as the threefold miseries as long as You are not visible to him. And as soon as You are visible by development of Kṛṣṇa consciousness, all miseries of material existence are simultaneously vanquished.”

A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, é, de forma natural, muito afetuosamente inclinado aos Seus devotos. Quando Ele ouviu as orações de devoção pura da boca de Śrutadeva, Ele ficou satisfeito e imediatamente pegou nas mãos do brāhmaṇa e falou-lhe assim: “Meu querido Śrutadeva, todos esses grandes sábios, brāhmaṇas e pessoas santas foram muito gentis com você ao virem pessoalmente aqui para vê-lo. Você deveria considerar essa oportunidade como uma grande fortuna para você. Eles são tão amáveis que estão viajando coMigo e, aonde quer que vão, eles imediatamente tornam a atmosfera inteira tão pura quanto a transcendência, meramente pelo toque da poeira dos seus pés. As pessoas se acostumam a ir aos templos de Deus. Elas também visitam lugares santos de peregrinação e, depois da associação prolongada com tais atividades durante muitos dias, por contato físico e através de adoração, elas se purificam. Não obstante, a influência de grandes sábios e pessoas santas é tão grande que, ao vê-los, pode-se de imediato se purificar completamente”.

The Supreme Personality of Godhead, Kṛṣṇa, is naturally very much affectionately inclined to His devotees. When He heard Śrutadeva’s prayers of pure devotion, He was very pleased and immediately caught his hands and addressed him thus: “My dear Śrutadeva, all these great sages, brāhmaṇas and saintly persons have been very kind to you by personally coming here to see you. You should consider this opportunity to be a great fortune for you. They are so kind that they are traveling with Me, and wherever they go they immediately make the whole atmosphere as pure as transcendence simply by the touch of the dust of their feet. People are accustomed to go to the temples of God. They also visit holy places of pilgrimage, and after prolonged association with such activities for many days by touch and by worship, they gradually become purified. But the influence of great sages and saintly persons is so great that by seeing them one immediately becomes completely purified.

“Além disso, a potência purificadora das peregrinações ou da adoração de diferentes semideuses também é alcançada pela graça das pessoas santas. Um local de peregrinação se santifica por causa da presença das pessoas santas. Meu querido Śrutadeva, quando alguém nasce como um brāhmaṇa, ele automaticamente se torna o melhor de todos os seres humanos. E se tal brāhmaṇa, permanecendo autossatisfeito, pratica austeridades, estuda os Vedas e ocupa-se em Meu serviço devocional, como é o dever do brāhmaṇa – ou, em outras palavras, se um brāhmaṇa se torna um vaiṣṇava – quão maravilhosa será a grandeza dele! Meu aspecto de Nārāyaṇa de quatro braços não é tão amável ou querido a Mim como um brāhmaṇa vaiṣṇava. Brāhmaṇa significa ‘aquele que está bem familiarizado com o conhecimento védico’. Um brāhmaṇa é o símbolo do conhecimento perfeito, e Eu sou a manifestação plena de todos os deuses. Homens menos inteligentes não Me entendem, nem eles entendem a influência do brāhmaṇa vaiṣṇava. Eles estão influenciados pelos três modos da natureza material e, assim, ousam voltar críticas a Mim e Meus devotos puros. Um brāhmaṇa vaiṣṇava, ou um devoto já situado na plataforma bramânica, pode Me perceber dentro do seu coração e, então, compreende que toda a manifestação cósmica e seus diversos elementos são efeitos das diversas energias do Senhor. Por conseguinte, ele tem uma concepção clara de toda a natureza material e da energia material total e, em toda ação, tal devoto vê somente a Mim e nada mais”.

“Moreover, the very purifying potency of pilgrimages or worship of different demigods is also achieved by the grace of saintly persons. A pilgrimage site becomes a holy place because of the presence of the saintly persons. My dear Śrutadeva, when a person is born as a brāhmaṇa, he immediately becomes the best of all human beings. And if such a brāhmaṇa, remaining self-satisfied, practices austerities, studies the Vedas and engages in My devotional service, as is the duty of the brāhmaṇa – or in other words, if a brāhmaṇa becomes a Vaiṣṇava – how wonderful is his greatness! My feature of four-handed Nārāyaṇa is not so pleasing or dear to Me as is a brāhmaṇa Vaiṣṇava. Brāhmaṇa means ‘one well conversant with Vedic knowledge.’ A brāhmaṇa is the insignia of perfect knowledge, and I am the full-fledged manifestation of all gods. Less intelligent men do not understand Me, nor do they understand the influence of the brāhmaṇa Vaiṣṇava. They are influenced by the three modes of material nature and thus dare to criticize Me and My pure devotees. A brāhmaṇa Vaiṣṇava, or a devotee already on the brahminical platform, can realize Me within his heart, and therefore he definitely concludes that the whole cosmic manifestation and its different features are effects of different energies of the Lord. Thus he has a clear conception of the whole material nature and the total material energy, and in every action such a devotee sees Me only, and nothing else.

“Meu querido Śrutadeva, em vista disso, você pode aceitar todas essas grandes pessoas santas, brāhmaṇas e sábios como Meus representantes autênticos. Através da adoração fiel a eles, você estará Me adorando mais diligentemente do que se Me adorasse. Eu considero a adoração aos Meus devotos como sendo melhor do que a adoração voltada diretamente a Mim. Se alguém tentar me adorar diretamente sem adorar Meus devotos, Eu não aceitarei tal adoração, embora possa ser apresentada com grande opulência”.

“My dear Śrutadeva, you may therefore accept all these great saintly persons, brāhmaṇas and sages as My bona fide representatives. By worshiping them faithfully, you will be worshiping Me more diligently. I consider worship of My devotees to be better than direct worship of Me. If someone attempts to worship Me directly without worshiping My devotees, I do not accept such worship, even though it may be presented with great opulence.”

Desse modo, o brāhmaṇa Śrutadeva e o rei de Mithilā, sob a orientação do Senhor, adoraram Kṛṣṇa e Seus seguidores, os grandes sábios e brāhmaṇas santos em um mesmo nível de importância espiritual. O brāhmaṇa e o rei, em última instância, alcançaram a meta suprema de serem transferidos para o mundo espiritual. O devoto não conhece ninguém exceto o Senhor Kṛṣṇa, e Ele é muito afetuoso para com o Seu devoto. O Senhor Kṛṣṇa permaneceu em Mithilā tanto na casa do brāhmaṇa Śrutadeva como no palácio do rei Bahulāśva. E depois de favorecê-los amplamente através de Suas instruções transcendentais, Ele regressou para a Sua capital, Dvārakā.

In this way both the brāhmaṇa Śrutadeva and the king of Mithilā, under the direction of the Lord, worshiped both Kṛṣṇa and His followers, the great sages and saintly brāhmaṇas, on an equal level of spiritual importance. Both brāhmaṇa and king ultimately achieved the supreme goal of being transferred to the spiritual world. The devotee does not know anyone except Lord Kṛṣṇa, and Kṛṣṇa is most affectionate to His devotee. Lord Kṛṣṇa remained in Mithilā both at the house of the brāhmaṇa Śrutadeva and at the palace of King Bahulāśva. And after favoring them lavishly by His transcendental instructions, He went back to His capital city, Dvārakā.

A instrução que recebemos a partir desse incidente é que o rei Bahulāśva e Śrutadeva, o brāhmaṇa, foram aceitos pelo Senhor no mesmo nível, porque ambos eram devotos puros. Essa é a verdadeira qualificação para ser reconhecido pela Suprema Personalidade de Deus. Porque se tornou moda nesta era ter falso orgulho por ter nascido em família de kṣatriya ou brāhmaṇa, vemos pessoas sem qualquer qualificação, exceto o nascimento, que reivindicam ser brāhmaṇa, kṣatriya ou vaiśya. No entanto, como se declara nas escrituras, kalau śūdra-sambhavaḥ: “Nesta era de Kali, todos nascem śūdras”. Isso ocorre porque não há qualquer desempenho dos processos purificadores conhecidos como saṁskāras, que começam com a gravidez da mãe e continuam até a morte do indivíduo. Ninguém pode ser classificado como membro de uma casta particular, especialmente de uma casta mais elevada – brāhmaṇa, kṣatriya ou vaiśya – simplesmente através do direito inato. Se a pessoa não se purificar pelo processo da cerimônia de doar o sêmen, ou garbhādhāna-saṁskāra, ela é automaticamente classificada entre os śūdras, porque unicamente os śūdras não se submetem a esse processo de purificação. A vida sexual sem o processo de purificação da consciência de Kṛṣṇa é o processo de dar o sêmen apenas dos śūdras ou dos animais. Portanto, a consciência de Kṛṣṇa é o melhor processo de purificação. Por este processo, todos podem chegar à plataforma de um vaiṣṇava, que inclui todas as qualificações de um brāhmaṇa. Os vaiṣṇavas são treinados para se libertarem dos quatro tipos de atividades pecaminosas – sexo ilícito, consumo de entorpecentes, jogos de azar e ingestão de carne animal. A pessoa não pode se situar na plataforma bramânica sem passar por essas qualificações preliminares e, sem se tornar um brāhmaṇa qualificado, ela não pode se tornar um devoto puro.

The instruction we receive from this incident is that King Bahulāśva and Śrutadeva the brāhmaṇa were accepted by the Lord on the same level because both were pure devotees. This is the real qualification for being recognized by the Supreme Personality of Godhead. Because it has become the fashion of this age to be falsely proud of having taken birth in the family of a kṣatriya or a brāhmaṇa, we see persons without any qualification other than birth claiming to be a brāhmaṇa or kṣatriya or vaiśya. But as stated in the scriptures, kalau śūdra-sambhavaḥ: “In this Age of Kali, everyone is born a śūdra.” This is because there is no performance of the purificatory processes known as saṁskāras, which begin from the time of the mother’s pregnancy and continue up to the point of the individual’s death. No one can be classified as a member of a particular caste, especially of a higher caste – brāhmaṇa, kṣatriya or vaiśya – simply by birthright. If one is not purified by the process of the seed-giving ceremony, or garbhādhāna-saṁskāra, he is immediately classified amongst the śūdras because only the śūdras do not undergo this purificatory process. Sex life without the purificatory process of Kṛṣṇa consciousness is merely the seed-giving process of the śūdras or the animals. Kṛṣṇa consciousness is therefore the best process of purification. By this process everyone can come to the platform of a Vaiṣṇava, which includes having all the qualifications of a brāhmaṇa. The Vaiṣṇavas are trained to become freed from the four kinds of sinful activities – illicit sex, indulgence in intoxicants, gambling and eating animal foods. One cannot be on the brahminical platform without having these preliminary qualifications, and without becoming a qualified brāhmaṇa, one cannot become a pure devotee.

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do capítulo oitenta e seis de Kṛṣṇa, intitulado “O Rapto de Subhadrā e a Visita do Senhor Kṛṣṇa a Śrutadeva e Bahulāśva”.

Thus ends the Bhaktivedanta purport of the eighty-sixth chapter of Kṛṣṇa, “The Kidnapping of Subhadrā, and Lord Kṛṣṇa’s Visiting Śrutadeva and Bahulāśva.”