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12. Como Amar a Deus

Discípulo: A próxima pergunta, Śrīla Prabhupāda: “À medida que o mundo está se dividindo em apenas duas classes – ateístas e teístas –, não é aconselhável que todas as religiões se unam? E que medi­das positivas podem ser tomadas nesse sentido?”.

Śrīla Prabhupāda: Já expliquei as medidas a serem tomadas – este movimento da consciência de Kṛṣṇa. A natureza do mundo material é que a classe ateísta e a classe teísta sempre existirão. Mesmo dentro do lar, o pai pode ser um ateísta, como Hiraṇyakaśipu, e o filho, um teísta como Prahlāda. Portanto, ateístas e teístas sempre existirão – na família, na comunidade, na nação.

Os teístas, porém, devem seguir as instruções do Bhagavad-gītā e aceitar o refúgio dos pés de lótus de Kṛṣṇa, abandonando os outros ditos princípios religiosos. Isso acarretará a união religiosa. Religião destituída de um conceito claro acerca de Deus é charlatanismo, enganação. Religião significa aceitar a ordem de Deus, mas, se você não tem um conceito claro acerca de Deus, se você não conhece quem é Deus, não há como aceitar Sua ordem. Encontre no Sexto Canto do Śrīmad-Bhāgavatam o verso que começa com dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītam.

Discípulo:

dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītam
na vai vidur ṛṣayo nāpi devāḥ
na siddha-mukhyā asurā manuṣyāḥ
kuto nu vidyādhara-cāraṇādayaḥ

“Os verdadeiros princípios religiosos são decretados pela...

Śrīla Prabhupāda: É dito “verdadeiros princípios religiosos”. Continue.

Discípulo: “Os verdadeiros princípios religiosos são decretados pela Suprema Personalidade de Deus. Embora plenamente situados no modo da bondade, nem mesmo os grandes sábios que ocupam os planetas mais elevados podem definir os verdadeiros princípios religiosos, tampouco o podem os semideuses ou os líderes de Siddhaloka, e isto para não mencionar os demônios, os seres huma­nos comuns, os vidyadhāras e os cāraṇas”. (Śrīmad-Bhāgavatam 6.3.19)

Śrīla Prabhupāda: Hm. Leia os próximos versos também.

Discípulo:

svayambhūr nāradaḥ śaṁbhuḥ
kumāraḥ kapilo manuḥ
prahlādo janako bhīṣmo
balir vaiyāsakir vayam
dvādaśaite vijānīmo
dharmaṁ bhāgavataṁ bhaṭāḥ
guhyaṁ viśuddhaṁ durbodhaṁ
yaj jñātvāmṛtam aśnute

“O senhor Brahmā, Bhagavān Nārada, o senhor Śiva, os quatro Kumāras, o Senhor Kapila filho de Devahūti, Svāyambhuva Manu, Prahlāda Mahārāja, Janaka Mahārāja, Bhīṣmadeva, Bali Mahārāja, Śukadeva Gosvāmī e eu [Yamarāja] conhecemos o verdadeiro princípio religioso. Meus queridos servos, este princípio religioso transcendental, conhecido como bhāgavata-dharma, ou rendição e amor ao Senhor Supremo, não possui contaminação dos modos da natureza material. Ele é muito confidencial e difícil de ser entendido pelos seres humanos comuns, mas se, por acaso, alguém tem a boa fortuna de compreendê-lo, se liberta de imediato e retorna ao lar, retorna ao Supremo”. (Śrīmad-Bhāgavatam 6.3.19)

Śrīla Prabhupāda: Os mahājanas – Brahmā, Nārada, o senhor Śiva e assim por diante – conhecem quais são os princípios da religião. Religião significa bhāgavata-dharma, compreender Deus e nossa relação com Ele. Você pode chamá-la de “religião hindu”, “religião muçulmana” ou “religião cristã”, mas, de qualquer modo, verdadeira religião é aquela que nos ensina como amar a Deus. Sa vai puṁsāṁ paro dharmo yato bhaktir adhokṣaje (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.6): Se, através de algum sistema religioso, você chega à plataforma de amar a Deus, então esse sistema religioso é perfeito. Caso contrário, é unicamente perda de tempo – novamente a religião enganadora, destituída de um conceito claro acerca de Deus. Portanto, temos de compreender quem é Deus e o que Ele diz, e temos de seguir Suas ordens. Então, isso é verdadeira religião, isso é verdadeira compreensão acerca de Deus, e tudo está completo.

Discípulo: Śrīla Prabhupāda, talvez se pergunte por que alguém como Cristo ou Moisés não é mencionado entre os mahājanas.

Śrīla Prabhupāda: Existem mahājanas entre os santos cristãos. Eles mencionam Cristo, e, além dele, muitos outros – São Mateus, São Tomás e assim por diante. Esses mahājanas são mencionados na Bíblia. Mahājana é aquele que segue à risca a religião original e que conhece as coisas como elas são. Isso quer dizer que ele deve vir no paramparā, o sistema de sucessão discipular.

Arjuna, por exemplo, aprendeu o Bhagavad-gītā diretamente de Kṛṣṇa, em virtude do que Arjuna é um mahājana e você deve aprender com ele, isto é, você deve agir como Arjuna agiu e deve compreender Kṛṣṇa como Arjuna compreendeu. Então, mahājano yena gataḥ sa panthāḥ (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 17.186): Se você está seguindo um mahājana, você está no caminho correto, assim como nós estamos fazendo.

Nestes versos do Śrīmad-Bhāgavatam, há uma lista de mahājanas, incluindo Svāyambhu, ou senhor Brahmā, e a nossa sampradāya chama­-se brahma-sampradāya. Nossa sampradāya também inclui Nārada, outro mahājana. Śambhu, ou o senhor Śiva, é outro mahājana, o qual possui sua própria sampradāya, de nome rudra-­sampradāya. De forma semelhante, Lakṣmī, a deusa da fortuna, tem a śrī-sampradāya.

Portanto, pertencemos a uma dessas sampradāyas. Sampradāya-­vihinā ye mantrās te niṣphalā matāḥ (Padma Purāṇa): Se você não pertence a uma sampradāya genuína, proveniente de um mahājana, seu pro­cesso religioso é inútil. Não se pode inventar algum sistema religioso. Se você segue os mahājanas cristãos ou os mahājanas védicos, isso não importa, mas você tem de seguir os mahājanas. Se um cristão diz: “Não acredito em São Tomás”, que sorte de cristão é ele? Não importa qual mahājana estejamos discutindo; o verdadeiro mahājana é aquele que segue à risca os princípios decretados por Deus. Caso o faça, ele está seguindo um sistema religioso verdadeiro; de outra forma, não há questão de religião. Os ditos seguidores dessa dita religião não passam de mano-dharmīs, especuladores mentais. Especulação mental não é religião, senão que religião é, em resumo, a ordem de Deus, e quem segue essa ordem é religioso – isso é tudo.

Discípulo: Então, pelo que entendi, Śrīla Prabhupāda, o senhor está dizendo que não há necessidade de mantermos rótulos sectários, pois existe apenas uma religião no mundo.

Śrīla Prabhupāda: Uma religião já existe, a saber, como amar a Deus. Essa é a única religião. Os cristãos dirão: “Não, não queremos amar a Deus”? Os muçulmanos dirão: “Não, não queremos amar a Deus”? Portanto, religião quer dizer como amar a Deus, e qualquer religião que ensine como amar a Deus é perfeita. Não importa se você é cristão ou muçulmano ou hindu.

Dharmaṁ tu sākṣād bhagavat-praṇītam (Śrīmad-Bhāgavatam 6.3.19): “A verdadeira religião é diretamente decretada por Bhagavān, a Suprema Personalidade de Deus”. Então, Bhagavān, o Senhor Kṛṣṇa, diz: “Rende-te a Mim”. Ninguém pode se render a menos que ame. Você, por exemplo, é rendido a mim. Embora eu não seja de seu país; porque você tem amor por mim, você se rendeu. Se eu digo: “Faça isto”, você o fará. Por quê? Porque você me ama. Assim, quando haverá rendição a Deus?

O princípio básico da religião é amar a Deus, isto é, alcançar a plataforma em que se pensa: “Ó Senhor, eu Vos amo, e estou disposto a sacrificar tudo por Vós”.

A religião perfeita, portanto, é aquela que ensina seus seguidores a amarem a Deus. Assim sendo, que todos cheguem a essa plataforma de amor por Deus! Isso é consciência de Kṛṣṇa. Não ensinamos nada além de como amar a Deus, como sacrificar tudo por Deus, pois isso é verdadeira religião. Caso contrário, trata-se de mero desperdício de tempo, mera execução de cerimônias ritualísticas, o que não é religião, mas algo supérfluo. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.8):

dharmaḥ svanuṣṭhitaḥ puṁsāṁ
viṣvaksena kathāsu yaḥ
notpādayed yadi ratiṁ
śrama eva hi kevalam

“Você é muito bom, pois está seguindo seus princípios religiosos à risca. Isso é correto, mas e quanto ao amor por Deus?”. “Oh! Isso eu não sei”. O Bhāgavatam, então, diz que śrama eva hi kevalam: “Sua religião é mero desperdício de tempo – nada além de labuta. Se você não aprendeu como amar a Deus, qual é o significado de sua religião?”.

Porém, ao situar-­se de fato na plataforma de amor a Deus, você entende sua relação com Ele: “Sou parte integrante de Deus, e os cães também são partes integrantes de Deus, tal como são todas as demais entidades vivas”. Seu amor, nesse momento, incluirá mesmo os animais. Se você realmente ama a Deus, seu amor pelos insetos também existirá, porque você entende: “Os insetos obtiveram uma espécie de corpo diferente, mas eles também são partes integrantes de Deus, também são meus irmãos”. Samaḥ sarveṣu bhūteṣu (Bhagavad-gītā 18.65): Você tem a mesma consideração por todos os seres vivos, em decorrência do que não se podem manter matadouros. Se você mantém matadouros e desobedece à ordem de Cristo na Bíblia – “Não matarás” – e se julga cristão, sua dita religião é mero desperdício de tempo, śrama eva hi kevalam (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.8). Sua ida à igreja e todo o resto não passam de desperdício de tempo, porque você não tem amor por Deus, e semelhante tolice está acontecendo no mundo inteiro: As pessoas apenas estampam algum rótulo sectário em si mesmas, sem serem realmente religiosas.

Portanto, se to­dos vão se unir em uma plataforma, terão de aceitar os princípios do Bhagavad-gītā. O primeiro princípio é que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus. Se, no início, você não aceita que Kṛṣṇa é o Senhor Supremo, então tente compreender este ponto gradualmente, pois isso é educação. Você pode começar aceitando que existe alguém que é supremo.

Agora, se eu digo: “Kṛṣṇa é o Senhor Supremo”, talvez você diga: “Por que Kṛṣṇa é o Senhor Supremo? Kṛṣṇa é indiano”. Não, Ele é Deus. O Sol, por exemplo, nasce primeiro na Índia, e, em seguida, na Europa, mas isso não significa que o Sol europeu seja diferente do Sol indiano. Do mesmo modo, embora Kṛṣṇa tenha aparecido na Índia, Ele agora veio para os países ocidentais através deste movimento da consciência de Kṛṣṇa.

Portanto, deve-se tentar entender se Kṛṣṇa é Deus ou não. Não há dúvidas de que Ele é Deus. Se você tem inteligência para compreender quem é Deus, tente entender, mas Kṛṣṇa é Deus, sem dúvida alguma. Portanto, aceite a consciência de Kṛṣṇa e siga a ordem de Kṛṣṇa. Deste modo, todos podem se unir na mesma plataforma religiosa. Uma religião: a consciência de Kṛṣṇa.

Discípulo: Algumas vezes, Śrīla Prabhupāda, em nossas atividades de pregação, encontramos indivíduos que se dizem cristãos ou muçulmanos muito devotados, mas que, ao mesmo tempo, blasfemam Kṛṣṇa. É possível que tais pessoas estejam de fato na companhia de Deus?

Śrīla Prabhupāda: Não. Se alguém for sério em compreender quem é Deus, ele aceitará Kṛṣṇa como o Senhor Supremo. Uma vez que saiba quem é Deus, ele entenderá: “Aqui está Deus: Kṛṣṇa”. Se ele permanecer na escuridão e não aprender quem é Deus, como compreenderá Kṛṣṇa? Ele simplesmente pensará que Kṛṣṇa é como um de nós. Se ele, no entanto, souber quem é Deus, entenderá Kṛṣṇa: “Sim, aqui está Deus”.

Se alguém, por exemplo, sabe o que é ouro, então, onde quer que encontre ouro, saberá: “Isto é ouro”. Ele não pensará que o ouro está disponível em apenas uma loja. Se alguém, da mesma maneira, sabe quem é Deus, sabe qual é o significado de “Deus”, encontrará Deus em plenitude na pessoa de Kṛṣṇa. Kṛṣṇas tu bhagavān svayam (Śrīmad-Bhāgavatam 1.3.28): “Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus”. O śāstra explica quem é Bhagavān, ou Deus, e como Kṛṣṇa é Bhagavān. Deve-se entender e ver através das atividades de Kṛṣṇa se Ele é ou não Bhagavān. É necessário bom cérebro para entender isso. Se eu digo: “Aqui está Deus”, cabe a você testar minha declaração. Se você sabe quem é Deus, então teste minha declaração sobre Kṛṣṇa, e, deste modo, você O aceitará como Deus. Se você não sabe como testar minha declaração, talvez se recuse a aceitá-la, o que é outra coisa. Talvez você aceite ferro como ouro, mas isso é sua ignorância – você não sabe o que é ouro. Se alguém de fato sabe quem é Deus, no entanto, aceitará Kṛṣṇa como Deus – quanto a isso, não há dúvidas.

Portanto, esta é a plataforma comum: o Bhagavad-gītā. Venham todos e aceitem a consciência de Kṛṣṇa. Compreendam Deus e aprendam como amá-lO. Suas vidas, em decorrência disso, serão perfeitas.

Discípulo: Porém, muitas pessoas alegam ter a melhor religião, Śrīla Prabhupāda.

Śrīla Prabhupāda: Contudo, temos de considerar o resultado. Como decidiremos qual é a religião verdadeira? Sa vai puṁsāṁ paro dharmo yato bhaktir adhokṣaje (Śrīmad-Bhāgavatam 1.2.6): Vendo se os seguidores aprende­ram como amar a Deus. Se o sujeito não possui amor por Deus, qual o valor de alegar que a sua religião é a melhor? Onde está a indicação do amor a Deus? Isso deve ser observado, pois todos dirão: “Minha compreensão é a melhor”, mas deve haver uma prova prática.

Se alguém alega ter a melhor religião, perguntamos: “Diga-­nos como amar a Deus. Qual é o seu processo para amar a Deus? Se você não conhece sua relação com Deus e a relação das demais pessoas com Deus, como pode amar a Deus?”. Esse processo de amar a Deus está em falta, haja vista que ninguém pode apresentar um conceito claro acerca de Deus. Se você não tem nenhuma compreensão sobre quem é Deus, onde está a questão do amor? Amor não é mera fantasia ou imaginação. Você não pode amar o ar, senão que você ama uma pessoa, uma pessoa bela. Se você apenas diz: “Eu amo o ar, eu amo o céu”, onde está o amor? Deve haver uma pessoa. Então, quem é essa pessoa que queremos amar?

Infelizmente, a maioria das pessoas não possui nenhum conceito personalista acerca de Deus, tampouco as pessoas em geral podem descrever a beleza, o conhecimento e a força pessoais do Senhor – Sua plenitude nas seis opulências pessoais. Não existe semelhante descrição – eles têm algum conceito acerca de Deus, mas não sabem de fato quem é Deus.

Porém, religião significa que você deve conhecer Deus e amá-lO, e amor é algo tangível; não mera fantasia ou imaginação. Diante disso, nós pessoas conscientes de Kṛṣṇa aceitamos Kṛṣṇa como Deus, e estamos adorando Kṛṣṇa e progredindo.

Discípulo: Recentemente, um padre nos visitou e admitiu desconhecer a aparência de Deus. Ele não pôde dizer nada sobre Deus, mas disse que amava a Deus.

Śrīla Prabhupāda: Então, que sorte de amor é esse?

Discípulo: Tampouco disse ele que seus fiéis estavam muito entusiasmados quanto a irem à igreja. Ele disse: “Quando muito, eles vêm uma vez por semana”. Ele disse que tal frequência bastava.

Śrīla Prabhupāda: Bem, amor não significa que você vem à minha casa uma vez por semana. Amor significa que você vem à minha casa todos os dias, presenteia-me com algo e aceita algo de mim. Śrīla Rūpa Gosvāmī descreve os sintomas do amor em seu Upadeśāmṛta (4):

dadāti pratigṛhṇāti
guhyam ākhyāti pṛcchati
bhuṅkte bhojayate caiva
ṣaḍ-vidhaṁ prīti-lakṣaṇam

Se você ama alguém, deve dar-­lhe algo, e deve aceitar algo dele. Você deve revelar sua mente a ele, e ele deve revelar sua mente a você. Você deve dar­-lhe algum alimento, e qualquer alimento que ele lhe oferece você aceita. Essas seis espécies de relações desenvolvem o amor.

Porém, se você nem mesmo conhece a pessoa, então onde está o amor? Digamos que você ame algum rapaz ou alguma moça, então você lhe dará algum presente, e ele ou ela lhe dará algum presente – isso desenvolve o amor. Você lhe dá algo para comer, e o que quer que ele ou ela lhe dê para comer, você come. Você revela sua mente: “Minha querida, eu te amo. Essa é minha ambição”. E ele ou ela faz alguma revelação. Esses são os intercâmbios amorosos.

Mas se não há nenhum encontro pessoal, qual é a questão do amor? Se eu alego amar alguém, mas visito sua casa apenas uma vez por semana e peço: “Por favor, dê-­me isso”, onde está o intercâmbio amoroso? Amor significa que há alguma troca. Se você ama alguém, mas não dá nada a essa pessoa, nem aceita nada dela, onde está o amor?

A conclusão é que religião significa amar a Deus, e isso significa que você deve conhecer quem é Deus. Não há alternativa. Você deve conhecer a pessoa que é Deus, após o que pode haver intercâmbios amorosos com Ele, e é isso que estamos ensinando. Pedimos que nos­sos discípulos se levantem de manhã cedo e ofereçam maṅgala ārati e, então, bhoga ārati ao Senhor em Sua forma como a Deidade no templo. Será que somos tolos e patifes que estamos desperdiçando tempo adorando um “boneco”? Às vezes, as pessoas pensam assim, mas esse não é o fato. Quando entram no templo, vocês sabem com certeza: “Aqui está Kṛṣṇa, quem é Deus, e devemos amá-lO dessa maneira”. Essa é a sobreexcelência deste movimento da consciência de Kṛṣṇa. Fazemos tudo de modo definitivo, e na plataforma positiva. Está claro? Alguém tem mais alguma pergunta?

Discípulo: Śrīla Prabhupāda, o senhor dizia que devemos conhecer Deus antes de podermos amá-lO. Então, isso quer dizer que serviço devocional é precedido por conhecimento?

Śrīla Prabhupāda: Sim, esse é o processo dado no Bhagavad-gītā. Existem dezoito capítulos, e todos os dezoito capítulos consistem em educação, como conhecer Deus. Quando Arjuna enfim obteve o conhecimento completo, ele aceitou: “Kṛṣṇa, sois param brahma, a Suprema Personalidade de Deus”. Arjuna, então, rendeu-se, tal como Kṛṣṇa aconselhou: sarva-dharmān parityajya. A menos que você conheça Deus, entretanto, como se renderá? Se algum homem de terceira classe aproxima-se e diz: “Renda­-se a mim”, você fará isso? “Por que devo me render a você?”. Você deve saber: “Agora, aqui está Deus. Agora devo me render”. Os dezoito capítulos descrevem Deus e como conhecer Deus, e então Kṛṣṇa propõe: “Rende-te a Mim”, e Arjuna fez isso: “Sim”. Destarte, sem conhecer Deus, como você pode se render a Ele? Não é possível.

Portanto, o Bhagavad-gītā é a ciência preliminar que apresenta como conhecer Deus. Se você quer saber mais, leia o Śrīmad-Bhāgavatam, e, se você tem intenso amor por Deus, leia o Caitanya-caritāmṛta, que ensina como seu amor por Deus pode ser ainda mais intensificado. O Bhagavad-gītā, portanto, é o livro preliminar, com o objetivo de compreender Deus e render-se; do ponto da rendição, o progresso continua no Śrīmad-Bhāgavatam; e, quando o amor está intenso, há o Caitanya-caritāmṛta para intensificá-lo ainda mais. Tamanho era o amor a Deus de Caitanya Mahāprabhu que Ele Se lamentava no êxtase supremo, śūnyāyitaṁ jagat sarvaṁ govinda viraheṇa me (Śikṣāṣṭaka 7): “Tudo parece vazio sem Kṛṣṇa”.

Isso não pode ocorrer sem amor. Se você ama alguém e ele não está presente, você considera que tudo está vazio. Śrī Caitanya Mahāprabhu Se sentia assim em relação a Kṛṣṇa – amado e amante –, śūnyāyitaṁ jagat sarvaṁ govinda viraheṇa me: “Tudo parece vazio sem Govinda”. Esta é a etapa suprema de amor. Está claro ou não?

Discípulo: Apenas mais um ponto, Śrīla Prabhupāda. Qual é o conhecimento mínimo que se deve ter para...

Śrīla Prabhupāda: Deus é grande. Apenas isto: Deus é grande. Kṛṣṇa provou ser grande, motivo pelo qual Ele é Deus. Todos dizem: “Deus é grande”. Os muçulmanos dizem allah-u-akbar: “Deus é grande”, e os hindus dizem param brahma: “Sois o Espírito Supremo”, logo Deus é grande. E, quando esteve presente, Kṛṣṇa provou ser o maior, logo Ele é Deus. Se você aceita que Deus é grande, e se você descobre alguém que é grande em tudo, então Ele é Deus. Como você pode negar isto? Você pode observar como Kṛṣṇa é grandioso apenas por considerar Seu Bhagavad-gītā. Cinco mil anos se passa­ram desde que Kṛṣṇa falou o Bhagavad-gītā, a despeito do que é aceito no mundo inteiro como o maior livro de conhecimento. Mesmo pessoas de outras religiões, aquelas realmente eruditas, aceitam esse fato. Eis a prova da grandeza de Kṛṣṇa: este conhecimento. Quem pode apresentar semelhante conhecimento? Eis a prova de que Kṛṣṇa é Deus: Ele possui todas as opulências em plenitude, incluindo o conhecimento. Além destas palavras de Kṛṣṇa, onde há semelhante conhecimento no mundo inteiro? Cada linha possui sublime sabedoria. Caso você estude o Bhagavad-gītā minuciosamente, compreenderá que Kṛṣṇa é o Senhor Supremo.