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CHAPTER 64

Capítulo 64

The Story of King Nṛga

A História do Rei Nṛga

Once the family members of Lord Kṛṣṇa, such as Sāmba, Pradyumna, Cāru, Bhānu and Gada, all princes of the Yadu dynasty, went for a long picnic in the forest near Dvārakā. In the course of their excursion, all of them became thirsty, and so they tried to find out where water was available in the forest. When they approached a well, they found no water in it, but, on the contrary, within the well was a wonderful living entity. It was a large lizard, and all of them were astonished to see such a wonderful animal. They could understand that the animal was trapped and could not escape by its own effort, so out of compassion they tried to take the large lizard out of the well. Unfortunately, they could not get the lizard out, even though they tried to do so in many ways.

Certa vez, os membros familiares do Senhor Kṛṣṇa, como Sāmba, Pradyumna, Cāru, Bhānu e Gada, todos príncipes da dinastia Yadu, saíram para um longo piquenique na floresta perto de Dvārakā. Durante a excursão, todos eles ficaram sedentos e, assim, tentaram descobrir onde havia água disponível na floresta. Quando se aproximaram de um poço, eles não acharam nenhuma água, senão que, dentro do poço, havia uma entidade viva maravilhosa. Era um lagarto muito grande, e todos eles ficaram atônitos ao verem um animal tão maravilhoso. Eles puderam entender que o animal estava preso e não podia escapar por seu próprio esforço. Assim, devido à sua compaixão, eles tentaram tirar o enorme lagarto do poço. Infelizmente, eles não conseguiram, embora tentassem fazê-lo de muitas formas.

When the princes returned home, their story was narrated before Lord Kṛṣṇa. Lord Kṛṣṇa is the friend of all living entities. Therefore, after hearing the appeal from His sons, He personally went to the well and easily got the great lizard out simply by extending His left hand. Immediately upon being touched by the hand of Lord Kṛṣṇa, that great lizard gave up its lizard shape and appeared as a beautiful demigod, an inhabitant of the heavenly planets. His complexion glittered like molten gold, he was decorated with fine garments, and he wore costly ornaments around his neck.

Quando os príncipes voltaram para casa, a história foi narrada diante do Senhor Kṛṣṇa. O Senhor Kṛṣṇa é o amigo de todas as entidades vivas. Então, após ouvir o apelo dos Seus filhos, Ele foi pessoalmente até o poço e, com facilidade, retirou o grande lagarto, simplesmente estendendo Sua mão esquerda. De imediato, ao ser tocado pela mão do Senhor Kṛṣṇa, aquele grande lagarto deixou sua forma animal e apareceu como um belo semideus, um habitante dos planetas celestiais. A tez dele reluzia como o ouro derretido, e ele estava decorado com finas roupas e usava suntuosos ornamentos ao redor do seu pescoço.

How the demigod had been obliged to accept the body of a lizard was not a secret to Lord Kṛṣṇa, but still, for others’ information, the Lord inquired, “My dear fortunate demigod, now I see that your body is so beautiful and lustrous. Who are you? We can guess that you are one of the best demigods in the heavenly planets. All good fortune to you. I think that you are not meant to be in this situation. It must be due to the results of your past activities that you were put into the species of lizard life. Still, I want to hear from you how you were put into this position. If you think that you can disclose this secret, then please tell us your identity.”

Como o semideus fora obrigado a aceitar o corpo de um lagarto não era um segredo para o Senhor Kṛṣṇa, mas, para a informação dos outros, o Senhor inquiriu: “Meu querido e afortunado semideus, agora Eu vejo que seu corpo é muito bonito e brilhante. Quem é você? Podemos supor que seja um dos melhores semideuses nos planetas divinos. Toda boa fortuna a você! Julgo que você não deveria estar nesta situação. Talvez devido aos resultados de suas atividades passadas, você tenha sido posto na espécie de vida de lagarto. Entretanto, Eu quero ouvir de você como você foi colocado nessa posição. Se você acha que pode revelar esse segredo, então, por favor, conte-nos acerca de sua identidade”.

Actually, this large lizard was King Nṛga, and when questioned by the Supreme Personality of Godhead he immediately bowed down before the Lord, touching to the ground the helmet on his head, which was as dazzling as the sunshine. In this way, he first offered his respectful obeisances unto the Supreme Lord. He then said, “My dear Lord, I am King Nṛga, the son of King Ikṣvāku. If You have ever taken account of all charitably disposed men, I am sure You must have heard my name. My Lord, You are the supreme witness. You are aware of every bit of work done by the living entities – past, present and future. Nothing can be hidden from Your eternal cognizance. Still, You have ordered me to explain my history, and I shall therefore narrate the full story.”

De fato, esse grande lagarto era o rei Nṛga, e, quando questionado pela Suprema Personalidade de Deus, ele curvou-se imediatamente ante o Senhor, tocando o solo com seu elmo na cabeça, que era tão deslumbrante como um raio de Sol. Desse modo, ele primeiramente ofereceu suas respeitosas reverências ao Senhor Supremo, após o que ele disse: “Meu querido Senhor, eu sou o rei Nṛga, o filho do rei Ikṣvāku. Se Você alguma vez já Se inteirou de todos os homens caridosos, tenho certeza de que deve ter ouvido meu nome. Meu Senhor, Você é a testemunha suprema, estando ciente de toda fração de minuto de trabalho feito pelas entidades vivas – no passado, no presente e no futuro. Nada pode ser ocultado de Seu conhecimento eterno. Todavia, Você me ordenou que explicasse minha história, em virtude do que devo narrá-la por inteiro”.

King Nṛga proceeded to narrate the history of his degradation, caused by his karma-kāṇḍa activities. He said that he had been very charitably disposed and had given away so many cows that the total was equal to the number of particles of dust on the earth, stars in the sky or drops of water in a rainfall. According to the Vedic ritualistic ceremonies, a man who is charitably disposed is recommended to give cows to the brāhmaṇas. From King Nṛga’s statement, it appears that he followed this principle earnestly; however, as a result of a slight discrepancy he was forced to take birth as a lizard. Therefore it is recommended by the Lord in the Bhagavad-gītā that one who is charitably disposed and desires to derive the benefit of his charity should offer his gifts to please Kṛṣṇa. To give charity means to perform pious activities by which one may be elevated to the higher planetary systems; but promotion to the heavenly planets is no guarantee that one will never fall down. Rather, the example of King Nṛga definitely proves that fruitive activities, even if very pious, cannot give us eternal blissful life. As stated in the Bhagavad-gītā, the result of work, either pious or impious, is sure to bind a man unless the work is discharged as yajña on behalf of the Supreme Personality of Godhead.

O rei Nṛga começou a narrar a história da sua degradação, causada pelas suas atividades de karma-kāṇḍa. Ele disse que fora muito caritativo e doara tantas vacas que o total igualava-se ao número de partículas de poeira na Terra, de estrelas no céu ou de gotas de água em uma chuva. De acordo com as cerimônias ritualísticas védicas, recomenda-se que um homem piedosamente inclinado dê vacas aos brāhmaṇas. Da declaração do rei Nṛga, parece que ele seguiu seriamente esse princípio; porém, como resultado de uma leve discrepância, ele foi forçado a nascer como um lagarto. Em vista disso, é recomendado pelo Senhor no Bhagavad-gītā que aquele que deseja auferir benefícios da sua caridade deve oferecer seus presentes para o prazer de Kṛṣṇa. Dar caridade é executar atividades piedosas em decorrência das quais a pessoa pode se elevar aos sistemas planetários superiores, mas promoção aos planetas celestiais não propicia nenhuma garantia de que nunca se cairá. Pelo contrário, o exemplo do rei Nṛga prova, definitivamente, que as atividades fruitivas, até mesmo se muito piedosas, não nos podem dar vida eterna bem-aventurada. Como declarado no Bhagavad-gītā, o resultado de trabalho, piedoso ou ímpio, certamente ata uma pessoa, a menos que o trabalho seja executado como yajña em nome da Suprema Personalidade de Deus.

King Nṛga said that the cows he had given in charity were not ordinary cows. Each one was very young and had given birth to only one calf. They were full of milk, very peaceful, and healthy. All the cows were purchased with money earned legally. Furthermore, their horns were gold-plated, their hooves were bedecked with silver plating, and they were covered with necklaces and with silken wrappers embroidered with pearls. He stated that these valuably decorated cows had not been given to any worthless persons but had been distributed to first-class brāhmaṇas, whom he had also decorated with nice garments and gold ornaments. The brāhmaṇas were well qualified, and since none of them were rich, their family members were always in want for the necessities of life. A real brāhmaṇa never hoards money for a luxurious life, like the kṣatriyas or the vaiśyas, but always keeps himself poverty-stricken, knowing that money diverts the mind to materialistic ways of life. To live in this way is the vow of a qualified brāhmaṇa, and all of these brāhmaṇas were well situated in that exalted vow. They were well learned in Vedic knowledge. They executed the required austerities and penances in their lives and were liberal, meeting the standard of qualified brāhmaṇas. They were equally friendly to everyone; above all, they were young and quite fit to act as qualified brāhmaṇas. Besides the cows, they were also given land, gold, houses, horses and elephants. Those who were not married were given wives, maidservants, grain, silver, utensils, garments, jewels, household furniture, chariots, etc. This charity was nicely performed as a sacrifice according to the Vedic rituals. The king also stated that not only had he bestowed gifts upon the brāhmaṇas, but he had performed other pious activities, such as digging wells, planting trees on the roadside and installing ponds along the highways.

O rei Nṛga disse que as vacas que ele cedera em caridade não eram vacas comuns. Cada uma delas era muito jovem e tinha dado à luz a um só bezerro. Elas estavam cheias de leite, eram muito pacíficas e saudáveis. Todas as vacas foram compradas com dinheiro ganho legalmente. Além disso, os chifres delas eram todos recobertos com ouro, os cascos foram ornados com prata chapeada e elas foram cobertas com colares e com envolturas sedosas bordadas com pérolas. Ele declarou que essas vacas valiosamente decoradas não tinham sido dadas a nenhuma pessoa desprezível, senão que tinham sido distribuídas a brāhmaṇas de primeira classe, os quais ele também tinha decorado com roupas finas e ornamentos de ouro. Os brāhmaṇas eram bem qualificados, e, visto que nenhum deles era rico, seus familiares estavam sempre ansiando pelas necessidades da vida. Um brāhmaṇa verdadeiro nunca acumula dinheiro para uma vida luxuosa, como os kṣatriyas ou os vaiśyas, mas sempre se mantém em estado de pobreza sabendo que o dinheiro desvia a mente para os modos materialistas de vida. Viver desse modo é o voto de um brāhmaṇa qualificado, e todos aqueles brāhmaṇas estavam bem situados nesse voto elevado. Eles eram bem instruídos em conhecimento védico e haviam executado as austeridades e penitências exigidas nas suas vidas, sendo liberais e satisfazendo o padrão de brāhmaṇas qualificados. Eles eram igualmente amigáveis com todos; acima de tudo, eles eram jovens e totalmente ajustados para agir como brāhmaṇas qualificados. Além das vacas, eles também receberam terra, ouro, casas, cavalos e elefantes. Aqueles que não eram casados receberam esposas, criadas, grãos, prata, utensílios, artigos de vestuário, joias, mobília doméstica, carruagens etc. Essa caridade foi bem executada como um sacrifício segundo os rituais védicos. O rei também declarou que ele não apenas doara presentes aos brāhmaṇas, mas também executara outras atividades piedosas, tais como cavar poços, plantar árvores na margem das estradas e instalar lagos ao longo das rodovias.

The king continued: “In spite of all this, unfortunately one of the brāhmaṇas’ cows that I had given in charity chanced to enter amongst my other cows. Not knowing this, I again gave it in charity, to another brāhmaṇa. As the cow was being taken away by this brāhmaṇa, its former master claimed it as his own, stating, ‘This cow was formerly given to me, so how is it that you are taking it away?’ Thus there was arguing and fighting between the two brāhmaṇas, and they came before me and charged that I had taken back a cow I had previously given in charity.” To give something to someone and then to take it back is considered a great sin, especially in dealing with a brāhmaṇa. When both brāhmaṇas charged the king with the same complaint, he was simply puzzled as to how it had happened. Thereafter, with great humility, the king offered each of them 100,000 cows in exchange for the one cow that was causing the fight between them. He prayed to them that he was their servant and that there had been some mistake. Thus, in order to rectify it, he prayed that they be very kind upon him and accept his offer in exchange for the cow. The king fervently appealed to the brāhmaṇas not to cause his downfall into hell because of this mistake. A brāhmaṇa’s property is called brahma-sva, and according to Manu’s law it cannot be acquired even by the government. Both brāhmaṇas, however, insisted that the cow was theirs and could not be taken back under any condition; neither of them agreed to exchange it for the 100,000 cows. Thus disagreeing with the king’s proposal, the two brāhmaṇas left the place in anger, thinking that their lawful possession had been usurped.

O rei continuou: “Apesar de tudo isso, infelizmente, uma das vacas dos brāhmaṇas, que eu tinha doado em caridade, misturou-se, por acaso, com as minhas outras vacas. Não sabendo disso, eu a dei novamente em caridade para outro brāhmaṇa. Como a vaca estava sendo levada por esse outro brāhmaṇa, seu dono anterior reivindicou-a como dele, declarando: ‘Esta vaca foi-me dada anteriormente. Diante disso, por que você está levando-a embora?’ Assim, houve discussão e briga entre os dois brāhmaṇas e eles foram até mim, acusando-me de que eu tinha tomado de volta uma vaca, a qual eu dera antes em caridade”. Dar alguma coisa a alguém e, então, tomá-la de volta é considerado um grande pecado, especialmente ao se lidar com um brāhmaṇa. Quando os brāhmaṇas acusaram o rei com a mesma reclamação, ele simplesmente ficou confuso quanto a como aquilo poderia ter acontecido. Depois disso, com grande humildade, o rei ofereceu a cada um deles 100 mil vacas em troca daquela única vaca que estava causando a desavença entre eles. O rei orou a eles declarando que ele era seu servo e que houvera algum engano. Portanto, para retificá-lo, ele implorou-lhes que fossem muito gentis para com ele e aceitassem sua oferta em troca da vaca. O rei fervorosamente apelou aos brāhmaṇas para que não provocassem sua queda ao inferno por causa do equívoco. A propriedade de um brāhmaṇa é chamada brahma-sva e, de acordo com a lei de Manu, ela não pode ser adquirida nem mesmo pelo governo. Ambos os brāhmaṇas, porém, insistiram que a vaca era deles e que não poderia ser tomada de volta sob nenhuma condição; nenhum deles concordou em trocá-la pelas 100 mil outras vacas. Dessa forma, discordando da proposta do rei, os dois brāhmaṇas deixaram o lugar com raiva, pensando que a posse legítima deles fora usurpada.

After this incident, when the time came for the king to give up his body, he was taken before Yamarāja, the superintendent of death, who asked him whether he first wanted to enjoy the results of his pious activities or suffer the results of his impious activities. Seeing that the king had executed so many pious activities and charities, Yamarāja also hinted that he did not know the limit of the king’s future enjoyment. In other words, there would be practically no end to the king’s material happiness. But in spite of this hint, the king, bewildered, decided first to suffer the results of his impious activities and then to accept the results of his pious activities; therefore Yamarāja immediately turned him into a lizard.

Depois deste incidente, quando chegou a época de o rei deixar o corpo, ele foi levado ante Yamarāja, o superintendente da morte, que lhe perguntou se ele primeiro queria desfrutar os resultados das suas atividades piedosas ou sofrer os resultados das suas atividades ímpias. Vendo que o rei tinha executado muitas atividades piedosas e caridades, Yamarāja também insinuou que ele não sabia o limite do desfrute futuro do rei. Em outras palavras, não haveria praticamente nenhum fim à felicidade material do rei. Todavia, apesar dessa sugestão, o rei, perplexo, decidiu primeiro sofrer as consequências das suas atividades ímpias e, em seguida, aceitar os resultados das suas atividades piedosas; portanto, Yamarāja imediatamente transformou-o em um lagarto.

King Nṛga had remained in the well as a big lizard for a very long time. He told Lord Kṛṣṇa, “In spite of being put into that degraded condition of life, I simply thought of You, my dear Lord, and my memory was never vanquished.” It appears from these statements of King Nṛga that persons who follow the principles of fruitive activities and derive some material benefits are not very intelligent. Being given the choice by the superintendent of death, Yamarāja, King Nṛga could have first accepted the results of his pious activities. Instead, he thought it better first to receive the effects of his impious activities and then enjoy the effects of his pious activities without disturbance. On the whole, he had not developed Kṛṣṇa consciousness. The Kṛṣṇa conscious person develops love of God, Kṛṣṇa, not love for pious or impious activities; therefore he is not subjected to the results of such action. As stated in the Brahma-saṁhitā, a devotee, by the grace of the Lord, is not subjected to the reactions of fruitive activities.

O rei Nṛga tinha permanecido no poço como um lagarto durante um período muito longo. Ele contou ao Senhor Kṛṣṇa: “Apesar de ser posto nesta condição degradada de vida, eu simplesmente pensava em Você, meu querido Senhor, e minha memória nunca se perdeu”. Parece, a partir dessas declarações do rei Nṛga, que pessoas que seguem os princípios das atividades fruitivas e conseguem auferir alguns benefícios materiais não são muito inteligentes. Tendo recebido a opção de escolha pelo superintendente da morte, Yamarāja, o rei Nṛga poderia ter aceitado, em primeiro lugar, os resultados das suas atividades piedosas. Ao invés disso, ele pensou que seria melhor receber os efeitos das suas atividades impiedosas e, depois, desfrutar os efeitos das suas atividades piedosas sem distúrbios. Em geral, ele não tinha desenvolvido consciência de Kṛṣṇa. A pessoa consciente de Kṛṣṇa desenvolve amor por Deus, Kṛṣṇa, não amor pelas atividades piedosas ou impiedosas; logo, ela não fica sujeita aos resultados de tal ação. Como declarado na Brahmā-saṁhita, o devoto, pela graça do Senhor, não está sujeito às reações de atividades fruitivas.

Somehow or other, as a result of his pious activities, King Nṛga had aspired to see the Lord. He continued: “My dear Lord, I had a great desire that someday I might be able to see You personally. I think that this great desire to see You, combined with my tendency to perform ritualistic and charitable activities, has enabled me to retain the memory of who I was in my former life, even though I became a lizard. [Such a person who remembers his past life is called jāti-smara. In modern times also there are instances of small children recalling many details of their past lives.] My dear Lord, You are the Supersoul seated in everyone’s heart. There are many great mystic yogīs who have the eyes to see You through the Vedas and Upaniṣads. To achieve the elevated position of realizing that they are equal in quality with You, they always meditate on You within their hearts. But although such exalted saintly persons may see You constantly within their hearts, they still cannot see You face to face. Therefore I am very much surprised that I am able to see You personally. I know that I was engaged in so many activities, especially as a king. Although I was in the midst of luxury and opulence and was subject to so much of the happiness and misery of material existence, I am so fortunate to be seeing You personally. As far as I know, when one becomes liberated from material existence, he can see You in this way.”

De uma maneira ou de outra, como resultado das suas atividades piedosas, o rei Nṛga tinha aspirado a ver o Senhor. Ele continuou: “Meu querido Senhor, eu tive o profundo desejo de que, algum dia, eu poderia vê-lO pessoalmente. Acredito que esse grande desejo, combinado com minha tendência para executar atividades ritualísticas e caridosas, permitiram-me reter a memória de quem eu era em minha vida anterior, embora eu tivesse me tornado um lagarto. (Tal pessoa que se lembra da sua vida passada é chamada jāti-smara. Nos tempos modernos, também há casos de crianças pequenas que recordam muitos detalhes das suas vidas passadas.) Meu querido Senhor, Você é a Superalma assentada no coração de todos. Há muitos grandes yogīs místicos que têm olhos para vê-lO através dos Vedas e Upaniṣads. Para alcançar a posição elevada de perceber que eles são iguais em qualidade a Você, eles sempre meditam em Você dentro dos seus corações. No entanto, embora tais pessoas santas e elevadas constantemente possam vê-lO dentro dos seus corações, elas ainda não podem vê-lO face a face. Então, estou deveras atônito que eu possa vê-lO pessoalmente. Sei que eu estava comprometido com muitas atividades, especialmente como rei. Embora eu estivesse no meio de luxo e opulência e estivesse deveras sujeito à felicidade e à miséria da existência material, sou muito afortunado por O estar vendo em pessoa. Até onde vai meu conhecimento, quando a pessoa é libertada da existência material, ela pode vê-lO deste modo”.

When King Nṛga elected to receive the results of his impious activities, he was given the body of a lizard because of the mistake in his pious activities; thus he could not be directly converted to a higher status of life like a great demigod. However, along with his pious activities, he thought of Kṛṣṇa, so he was quickly released from the body of a lizard and given the body of a demigod. By worshiping the Supreme Lord, those who desire material opulences are given the bodies of powerful demigods. Sometimes these demigods can see the Supreme Personality of Godhead face to face, but they are still not yet eligible to enter into the spiritual kingdom, the Vaikuṇṭha planets. However, if the demigods continue to be devotees of the Lord, the next chance they get they will enter into the Vaikuṇṭha planets.

Quando o rei Nṛga escolheu receber os resultados das suas atividades ímpias, ele recebeu o corpo de um lagarto por causa do engano em suas atividades piedosas – assim, ele não pôde ser convertido diretamente a um estado mais elevado de vida como um grande semideus. Porém, juntamente com suas atividades piedosas, ele pensou em Kṛṣṇa e, assim, foi logo libertado do corpo de um lagarto e adquiriu o corpo de um semideus. Através da adoração ao Senhor Supremo, aqueles que desejam opulências materiais recebem corpos de semideuses poderosos. Às vezes, esses semideuses podem ver a Suprema Personalidade de Deus face a face, mas eles ainda não são aptos a entrar no reino espiritual, os planetas Vaikuṇṭha. Porém, se os semideuses continuam sendo devotos do Senhor, eles, na próxima oportunidade que tiverem, entrarão nos planetas Vaikuṇṭha.

Having attained the body of a demigod, King Nṛga, continuing to remember everything, said, “My dear Lord, You are the Supreme Lord and are worshiped by all the demigods. You are not one of the ordinary living entities; You are the Supreme Person, Puruṣottama. You are the source of all happiness for all living entities; therefore You are known as Govinda. You are the Lord of those living entities who have accepted material bodies and those who have not yet accepted material bodies. [Among the living entities who have not accepted material bodies are those who hover in the material world as evil spirits or live in the ghostly atmosphere. However, those who live in the spiritual kingdom, the Vaikuṇṭha-lokas, have bodies not made of material elements.] You, my Lord, are infallible. You are the Supreme, the purest of all living entities. You live in everyone’s heart. You are the shelter of all living entities, Nārāyaṇa. Being seated in the heart of all living beings, You are the supreme director of everyone’s sensual activities; therefore, You are called Hṛṣīkeśa.

Tendo logrado o corpo de um semideus, o rei Nṛga, continuando a se lembrar de tudo, disse: “Meu querido Senhor, Você é o Senhor Supremo e é adorado por todos os semideuses. Você não é nenhuma das entidades vivas comuns; é a Pessoa Suprema, Puruṣottama. É a fonte de toda a felicidade de todas as entidades vivas; destarte, Você é chamado de Govinda. Você é o Senhor dessas entidades vivas que aceitaram corpos materiais e daquelas que ainda não aceitaram corpos materiais. [Entre as entidades vivas que não aceitaram corpos materiais estão aquelas que pairam no mundo material como espíritos maus ou vivem na atmosfera fantasmagórica. Contudo, aqueles que vivem no reino espiritual, os Vaikuṇṭha-lokas, têm corpos que não são feitos de elementos materiais.] Você, meu Senhor, é infalível, é o Supremo, o mais puro de todas as entidades vivas. Você é quem vive no coração de todos e é o abrigo de todas as entidades vivas, Nārāyaṇa. Estando assentado no coração dos seres vivos, Você é o diretor supremo das atividades sensoriais de todos, daí ser chamado de Hṛṣīkeśa”.

“My dear Supreme Lord Kṛṣṇa, because You have given me this body of a demigod, I will have to go to some heavenly planet; so I am taking this opportunity to beg for Your mercy. I pray that I may have the benediction of never forgetting Your lotus feet, no matter to which form of life or planet I may be transferred. You are all-pervading, present everywhere as cause and effect. You are the cause of all causes, and Your power is unlimited. You are the Absolute Truth, the Supreme Personality of Godhead and the Supreme Brahman. I therefore offer my respectful obeisances unto You again and again. My dear Lord, Your body is full of transcendental bliss and knowledge, and You are eternal. You are the master of all mystic powers; therefore You are known as Yogeśvara. Kindly accept me as an insignificant particle of dust at Your lotus feet.”

“Meu querido Senhor Supremo Kṛṣṇa, porque Você me concedeu este corpo de semideus, terei de ir para algum planeta celestial; assim, estou aproveitando esta oportunidade para implorar por Sua misericórdia. Oro que eu possa ter a bênção de nunca me esquecer de Seus pés de lótus, independente de para qual forma de vida ou planeta eu possa ser transferido. Você é onipenetrante e está presente em todos os lugares como a causa e o efeito. Você é a causa de todas as causas, e Seu poder é ilimitado. É a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus e o Brahman Supremo. Portanto, ofereço-Lhe reiteradas vezes minhas respeitosas reverências. Meu querido Senhor, Seu corpo é pleno de felicidade transcendental e conhecimento e é eterno. Você é o mestre de todos os poderes místicos; em vista disso, é conhecido como Yogeśvara. Por obséquio, me aceite como uma partícula insignificante de poeira a Seus pés de lótus”.

Before entering the heavenly planets, King Nṛga circumambulated the Lord, touched his helmet to the Lord’s lotus feet and bowed before Him. Seeing the airplane from the heavenly planets present before him, he was given permission by the Lord to board it. After the departure of King Nṛga, Lord Kṛṣṇa expressed His appreciation for the king’s devotion to the brāhmaṇas as well as his charitable disposition and his performance of Vedic rituals. Therefore, it is recommended that if one cannot directly become a devotee of the Lord, one should follow the Vedic principles of life. This will enable him, one day, to see the Lord by being promoted either directly to the spiritual kingdom or, indirectly, to the heavenly kingdom, where he has hope of being transferred to the spiritual planets.

Antes de entrar nos planetas celestiais, o rei Nṛga circum-ambulou o Senhor, tocou seu elmo nos pés de lótus do Senhor e se curvou diante dEle. Vendo o aeroplano dos planetas celestiais diante de si, ele recebeu permissão do Senhor para subir a bordo. Depois da partida do rei Nṛga, o Senhor Kṛṣṇa expressou Seu reconhecimento pela devoção do rei para com os brāhmaṇas, bem como sua disposição caridosa e desempenho nos rituais védicos. Portanto, é recomendado que, se alguém não pode se tornar diretamente devoto do Senhor, deve seguir os princípios védicos de vida. Isso o fará capaz de, algum dia, ver o Senhor, sendo promovido, quer diretamente para o reino espiritual, quer indiretamente para o reino celestial, onde ele tem a esperança de ser transferido para os planetas espirituais.

At this time, Lord Kṛṣṇa was present among His relatives who were members of the kṣatriya class. To teach them through the exemplary character of King Nṛga, He said, “Even though a kṣatriya king may be as powerful as fire, it is not possible for him to usurp the property of a brāhmaṇa and utilize it for his own purpose. If this is so, how can ordinary kings, who falsely think themselves the most powerful beings within the material world, usurp a brāhmaṇa’s property? I do not think that taking poison is as dangerous as taking a brāhmaṇa’s property. For ordinary poison there is treatment – one can be relieved from its effects – but if one drinks the poison of taking a brāhmaṇa’s property, there is no remedy for the mistake. The perfect example is King Nṛga. He was very powerful and very pious, but due to the small mistake of unknowingly usurping a brāhmaṇa’s cow, he was condemned to the abominable life of a lizard. Ordinary poison affects only those who drink it, and ordinary fire can be extinguished simply by pouring water on it, but the araṇi fire ignited by the spiritual potency of a brāhmaṇa who is dissatisfied can burn to ashes the whole family of a person who provokes such a brāhmaṇa. [Formerly, the brāhmaṇas used to ignite the fire of sacrifice not with matches or any other external fire but with their powerful mantras, called araṇi.] If someone even touches a brāhmaṇa’s property, his family is ruined for three generations. However, if a brāhmaṇa’s property is forcibly taken away, the taker’s family for ten generations before him and ten generations after will be subject to ruination. On the other hand, if someone becomes a pure Vaiṣṇava, or devotee of the Lord, ten generations of his family before his birth and ten generations after will be liberated.”

Nesse momento, o Senhor Kṛṣṇa estava presente entre Seus parentes que eram membros da classe kṣatriya. Para ensinar-lhes através do caráter exemplar do rei Nṛga, Ele disse: “Ainda que um rei kṣatriya seja tão poderoso quanto o fogo, não lhe é possível usurpar a propriedade de um brāhmaṇa e utilizá-la para seu próprio objetivo. Se é assim, como podem os reis comuns, que falsamente se consideram os seres mais poderosos dentro do mundo material, usurpar a propriedade de um brāhmaṇa? Não penso que tomar veneno seja tão perigoso quanto roubar a propriedade de um brāhmaṇa, pois, para o veneno comum, há tratamento – a pessoa pode ser aliviada de seus efeitos –, mas, se a pessoa bebe o veneno do roubo da propriedade de um brāhmaṇa, não há qualquer remédio para o engano. O exemplo perfeito é o rei Nṛga. Ele era muito poderoso e muito piedoso, mas, devido ao pequeno equívoco de usurpar inconscientemente uma vaca de um brāhmaṇa, ele foi condenado à vida abominável de um lagarto. O veneno comum afeta apenas aqueles que o ingerem, e o fogo comum pode ser extinto simplesmente vertendo água sobre ele; entretanto, o fogo araṇi despertado pela potência espiritual de um brāhmaṇa que está insatisfeito pode queimar a cinzas a família inteira de uma pessoa que tenha provocado tal brāhmaṇa. [Antigamente, os brāhmaṇas não acendiam o fogo de sacrifício com palitos de fósforo ou qualquer outro fogo externo, mas com seus poderosos mantras chamados araṇi.] Se alguém simplesmente tocar a propriedade de um brāhmaṇa, sua família será arruinada por três gerações. Não obstante, se a propriedade de um brāhmaṇa for tomada violentamente, a família do usurpador, por dez gerações antes dele e dez gerações depois, se sujeitará à ruína. Por outro lado, se alguém se tornar um vaiṣṇava, ou devoto puro do Senhor, dez gerações de sua família antes de seu nascimento e dez gerações depois serão libertadas”.

Lord Kṛṣṇa continued: “If some foolish king who is puffed up by his wealth, prestige and power wants to usurp a brāhmaṇa’s property, he should be understood to be clearing his path to hell; he does not know how much he has to suffer for such an unwise act. If someone takes away the property of a very liberal brāhmaṇa who is encumbered by a large dependent family, then such a usurper is put into the hell known as Kumbhīpāka; not only is he put into this hell, but his family members also have to accept such a miserable condition of life. A person who takes away a brāhmaṇa’s property, whether it was originally given by him or by someone else, is condemned to live for at least sixty thousand years as a miserable insect in stool. Therefore I instruct you, all My boys and relatives present here, do not, even by mistake, take the possession of a brāhmaṇa and thereby pollute your whole family. If someone even wishes to possess such property, let alone attempts to take it away by force, the duration of his life will be reduced. He will be defeated by his enemies, and after being bereft of his royal position, when he gives up his body he will become a serpent, giving trouble to all other living entities. My dear boys and relatives, I therefore advise you that even if a brāhmaṇa becomes angry with you and calls you by ill names or curses you, still you should not retaliate. On the contrary, you should smile, tolerate him and offer your respects to the brāhmaṇa. You know very well that even I Myself offer My obeisances to the brāhmaṇas with great respect three times daily. You should therefore follow My instruction and example. I shall not forgive anyone who does not follow them, and I shall punish him. You should learn from the example of King Nṛga that even if someone unknowingly usurps the property of a brāhmaṇa, he is put into a miserable condition of life.”

O Senhor Kṛṣṇa continuou: “Se algum rei tolo que esteja presunçoso devido à sua riqueza, prestígio e poder desejar usurpar a propriedade de um brāhmaṇa, deve-se entender que ele está preparando seu caminho para o inferno; ele não sabe quanto terá de sofrer por tal ato ininteligente. Se alguém tomar a propriedade de um brāhmaṇa muito liberal, o qual se encontre enredado por uma grande família dependente, então tal usurpador será posto no inferno conhecido como Kumbhīpāka; não só ele será posto nesse inferno, mas os membros de sua família também terão de aceitar tal condição miserável de vida. Uma pessoa que rouba a propriedade de um brāhmaṇa, quer tenha sido originalmente dada por ela ou por outra pessoa, está condenada a viver durante pelo menos 60 mil anos como um miserável inseto no excremento. Em vista disso, Eu instruo todos vocês, Meus filhos e parentes aqui presentes: não tomem, nem mesmo por engano, as posses de um brāhmaṇa, assim poluindo toda a Sua família. Se alguém simplesmente desejar possuir tal propriedade, sem falar em roubá-la à força, a duração de sua vida será reduzida, ele será derrotado pelos seus inimigos e, depois de ficar desprovido de sua posição real, ele, quando deixar o corpo, se tornará uma serpente, causando dificuldade a todas as outras entidades vivas. Meus queridos filhos e parentes, Eu, portanto, lhes aconselho que, mesmo se um brāhmaṇa se irar com vocês e chamá-los por palavras indevidas ou lhes atirar maldições, vocês não devem retaliar. Ao contrário, devem sorrir, tolerá-lo e oferecer Seus cumprimentos ao brāhmaṇa. Vocês sabem muito bem que até mesmo Eu ofereço Minhas reverências aos brāhmaṇas com grande respeito três vezes diariamente. Vocês devem seguir, então, Minha instrução e Meu exemplo. Eu não perdoarei ninguém que não os seguir, e o castigarei. Vocês devem aprender do exemplo do rei Nṛga que, se alguém usurpar a propriedade de um brāhmaṇa, mesmo sem saber, ele será posto em uma condição miserável de vida”.

Thus Lord Kṛṣṇa, who is always engaged in purifying the conditioned living entities, gave instruction not only to His family members and the inhabitants of Dvārakā but to all the members of human society. After this, the Lord entered His palace.

Assim, o Senhor Kṛṣṇa, que está sempre ocupado na purificação das entidades vivas condicionadas, não apenas deu instrução aos membros de Sua família e aos habitantes de Dvārakā, mas a todos os membros da sociedade humana. Depois disso, o Senhor entrou em Seu palácio.

Thus ends the Bhaktivedanta purport of the sixty-fourth chapter of Kṛṣṇa, “The Story of King Nṛga.”

Neste ponto, encerram-se os significados Bhaktivedanta do capítulo sessenta e quatro de Kṛṣṇa, intitulado “A História do Rei Nṛga”.