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Capítulo Nove

A Árvore-dos-Desejos do Serviço Devocional

Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, em seu Amṛta-pravāha-bhāṣya, dá o seguinte resumo do capítulo nove. Neste capítulo, o autor do Caitanya-caritāmṛta idealizou um exemplo figurado ao descrever a “planta de bhakti. Ele considera o Senhor Caitanya Mahāprabhu, que é conhecido como Viśvambhara, como sendo o jardineiro dessa planta, pois Ele é a principal personalidade que Se encarregou dela. Sendo o desfrutador supremo, Ele próprio desfrutava das flores bem como as distribuía. Primeiro, plantou-se a semente da planta em Navadvīpa, a terra natal do Senhor Caitanya Mahāprabhu, e logo a planta foi levada para Puruṣottama-kṣetra (Jagannātha Purī) e, em seguida, para Vṛndāvana. A semente frutificou primeiro em Śrīla Mādhavendra Purī e, então, em seu discípulo Śrī Īśvara Purī. Descreve-se metaforicamente que tanto a própria árvore quanto o tronco da árvore são Śrī Caitanya Mahāprabhu. Os devotos, encabeçados por Paramānanda Purī e outros oito grandes sannyāsīs, são como as raízes difundidas pela árvore. A partir do principal tronco, estendem-se dois galhos especiais, Advaita Prabhu e Śrī Nityānanda Prabhu, e, desses galhos, crescem outros galhos ou ramos. A árvore envolve o mundo inteiro, e as flores dela são para distribuição a todos. Dessa maneira, a árvore do Senhor Caitanya Mahāprabhu intoxica o mundo inteiro. Observe-se que esse é um exemplo figurado feito para explicar a missão do Senhor Caitanya Mahāprabhu.

Texto

taṁ śrīmat-kṛṣṇa-caitanya-
devaṁ vande jagad-gurum
yasyānukampayā śvāpi
mahābdhiṁ santaret sukham

Sinônimos

tam — a Ele; śrīmat — com toda a opulência; kṛṣṇa-caitanya-devam — ao Senhor Kṛṣṇa Caitanyadeva; vande — ofereço reverências; jagat-gurum — mestre espiritual do mundo; yasya — cuja; anukampayā — pela misericórdia de; śvā api — mesmo um cão; mahā-abdhim — grande oceano; santaret — pode nadar; sukham — sem dificuldade.

Tradução

Ofereço minhas respeitosas reverências ao mestre espiritual, do mundo inteiro, o Senhor Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo um cão pode cruzar a nado um grande oceano.

Comentário

SIGNIFICADO—Às vezes, constata-se que um cão pode nadar na água por alguns metros, mas logo retorna à margem. Contudo, aqui se afirma que, caso Śrī Caitanya Mahāprabhu abençoe um cão, esse poderá cruzar um oceano a nado. De forma similar, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, o autor do Caitanya-caritāmṛta, colocando-se numa condição desamparada, declara não ter poder pessoal, mas, pelo desejo do Senhor Caitanya, expresso através dos vaiṣṇavas e do vigraha de Madana-mohana, é possível que ele cruze um oceano transcendental para apresentar o Śrī Caitanya-caritāmṛta.

Texto

jaya jaya śrī-kṛṣṇa-caitanya gauracandra
jaya jayādvaita jaya jaya nityānanda

Sinônimos

jaya jaya — todas as glórias; śrī-kṛṣṇa-caitanya — ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; gauracandra — cujo nome é Gaurahari; jaya jaya — todas as glórias; advaita — a Advaita Gosāñi; jaya jaya — todas as glórias; nityānanda — a Nityānanda.

Tradução

Todas as glórias a Śrī Kṛṣṇa Caitanya, que é conhecido como Gaurahari! Todas as glórias a Advaita e a Nityānanda Prabhu!

Texto

jaya jaya śrīvāsādi gaura-bhakta-gaṇa
sarvābhīṣṭa-pūrti-hetu yāṅhāra smaraṇa

Sinônimos

jaya jaya — todas as glórias; śrīvāsa-ādi — a Śrīvāsa e outros; gaura-bhakta-gaṇa — todos os devotos do Senhor Caitanya; sarva-abhīṣṭa — toda a ambição; pūrti — satisfação; hetu — quanto a; yāṅhāra — cuja; smaraṇa — lembrança.

Tradução

Todas as glórias aos devotos do Senhor Caitanya, liderados por Śrīvāsa Ṭhākura! A fim de satisfazer todos os meus desejos, lembro-me de seus pés de lótus.

Comentário

SIGNIFICADO—Aqui, o autor continua a seguir os mesmos princípios de adoração ao Pañca-tattva que foram descritos no sétimo capítulo da Ādi-līlā.

Texto

śrī-rūpa, sanātana, bhaṭṭa raghunātha
śrī-jīva, gopāla-bhaṭṭa, dāsa-raghunātha

Sinônimos

śrī-rūpa — Śrīla Rūpa Gosvāmī; sanātana — Śrīla Sanātana Gosvāmī; bhaṭṭa raghunātha — Raghunātha Bhaṭṭa Gosvāmī; śrī-jīva — Śrī Jīva Gosvāmī; gopala-bhaṭṭa — Śrī Gopāla Bhaṭṭa Gosvāmī; dāsa-raghunātha — Raghunātha Dāsa Gosvāmī.

Tradução

Lembro-me também dos seis Gosvāmīs – Rūpa, Sanātana, Bhaṭṭa Raghunātha, Śrī Jīva, Gopāla Bhaṭṭa e Dāsa Raghunātha.

Comentário

SIGNIFICADO—Esse é o processo de escrever literatura transcendental. Um sentimentalista sem qualidades vaiṣṇavas não pode produzir escritos transcendentais. Muitos tolos consideram que a kṛṣṇa-līlā é um tema de arte e composição, ou pintam quadros sobre os passatempos do Senhor Kṛṣṇa com as gopīs, retratando-os às vezes de maneira praticamente obscena. Esses tolos sentem prazer com gozo material dos sentidos, mas quem deseja avançar na vida espiritual deve evitar escrupulosamente a literatura deles. A menos que alguém seja servo de Kṛṣṇa e dos vaiṣṇavas, como Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī mostra ser ao prestar respeitos ao Senhor Caitanya, a Seus associados e a Seus discípulos, não deve tentar escrever literatura transcendental.

Texto

e-saba-prasāde likhi caitanya-līlā-guṇa
jāni vā nā jāni, kari āpana-śodhana

Sinônimos

e-saba — todos esses; prasāde — pela misericórdia de; likhi — escrevo; caitanya — do Senhor Caitanya; līlā-guṇa — passatempos e qualidades; jāni — saiba; — ou; — não; jāni — saiba; kari — fazer; āpana — auto; śodhana — purificação.

Tradução

Pela misericórdia de todos esses vaiṣṇavas e gurus é que tento escrever sobre os passatempos e as qualidades do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Quer eu saiba ou não, escrevo este livro para autopurificação.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta é a essência da composição literária transcendental. Para poder escrever, é preciso ser um vaiṣṇava autorizado, humilde e puro. Devemos escrever literatura transcendental para nossa própria purificação, e não em busca de mérito. Ao escrevermos sobre os passatempos do Senhor, associamo-nos com o Senhor diretamente. Ninguém deve pensar ambiciosamente: “Vou tornar-me um grande autor. Vou ficar famoso como escritor.” Estes são desejos materiais. Deve-se tentar escrever para a autopurificação. Talvez seja publicado, ou talvez não, mas isso não importa. Quem for realmente sincero ao escrever satisfará todas as suas ambições. Não é muito importante ficar sendo conhecido como um grande autor. Não se deve tentar escrever literatura transcendental em troca de nome e fama materiais.

Texto

mālākāraḥ svayaṁ kṛṣṇa-
premāmara-taruḥ svayam
dātā bhoktā tat-phalānāṁ
yas taṁ caitanyam āśraye

Sinônimos

mālā-kāraḥ — jardineiro; svayam — Ele próprio; kṛṣṇa — o Senhor Kṛṣṇa; prema — amor; āmāra — transcendental; taruḥ — árvore; svayam — Ele próprio; dātā — outorgador; bhoktā — desfrutador; tat-phalānām — de todos os frutos desta árvore; yaḥ — aquele que; tam — a Ele; caitanyam — o Senhor Caitanya Mahāprabhu; āśraye — refugio-me.

Tradução

Refugio-me na Suprema Personalidade de Deus, Śrī Caitanya Mahāprabhu, que é a própria árvore do transcendental amor a Kṛṣṇa, seu jardineiro e também o outorgador e desfrutador de seus frutos.

Texto

prabhu kahe, āmi ‘viśvambhara’ nāma dhari
nāma sārthaka haya, yadi preme viśva bhari

Sinônimos

prabhu kahe — o Senhor disse; āmi — Eu; viśvambhara — Viśvambhara; nāma — chamado; dhari — aceita; nāma — o nome; sārthaka — completo; haya — torna-se; yadi — se; preme — de amor a Deus; viśva — todo o universo; bhari — saturado.

Tradução

O Senhor Caitanya pensou: “Meu nome é Viśvambhara, ‘aquele que mantém todo o universo’. O significado desse nome tornar-se-á realidade se Eu puder encher todo o universo com amor a Deus.”

Texto

eta cinti’ lailā prabhu mālākāra-dharma
navadvīpe ārambhilā phalodyāna-karma

Sinônimos

eta cinti’ — pensando assim; lailā — aceitou; prabhu — o Senhor; mālā-kāra-dharma — a função do jardineiro; navadvīpe — em Navadvīpe; ārambhilā — começou; phala-udyāna — jardim; karma — atividades.

Tradução

Pensando dessa maneira, Ele aceitou o dever de um lavrador e começou a cultivar um jardim em Navadvīpa.

Texto

śrī-caitanya mālākāra pṛthivīte āni’
bhakti-kalpataru ropilā siñci’ icchā-pāni

Sinônimos

śrī-caitanya — o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu; mālā-kāra — jardineiro; pṛthivīte — neste planeta; āni’ — trazendo; bhakti-kalpataru — a árvore-dos-desejos do serviço devocional; ropilā — semeou; siñci’ — aguando; icchā — desejo; pāni — aguar.

Tradução

Assim, o Senhor trouxe a árvore-dos-desejos do serviço devocional a esta Terra e tornou-Se seu jardineiro. Ele plantou a semente e borrifou-a com a água de Seu desejo.

Comentário

SIGNIFICADO—Em muitas passagens, compara-se o serviço devocional a uma trepadeira. Tem-se que plantar a semente da trepadeira devocional, bhakti-latā, dentro do coração. Através do constante processo de ouvir e cantar, a semente frutificará e, aos poucos, transformar-se-á numa planta adulta e, então, produzirá o fruto do serviço devocional, a saber, amor a Deus, do qual o jardineiro (mālā-kāra) poderá então desfrutar, sem obstáculos.

Texto

jaya śrī mādhavapurī kṛṣṇa-prema-pūra
bhakti-kalpatarura teṅho prathama aṅkura

Sinônimos

jaya — todas as glórias; śrī mādhava-purī — a Mādhavendra Purī; kṛṣṇa-prema-pūra — reservatório de todo o amor a Deus; bhakti-kalpa-tarura — da árvore-dos-desejos do serviço devocional; teṅho — ele é; prathama — primeira; aṅkura — frutificação.

Tradução

Todas as glórias a Śrī Mādhavendra Purī, o reservatório de todo o serviço devocional a Kṛṣṇa! Ele é como uma árvore-dos-desejos do serviço devocional, e foi nele que a semente do serviço devocional frutificou primeiro.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrī Mādhavendra Purī, também conhecido como Śrī Mādhava Purī, pertencia à sucessão discipular de Madhvācārya e era um sannyāsī muito famoso. Śrī Caitanya Mahāprabhu foi o terceiro descendente discipular de Śrī Mādhavendra Purī. O processo de adoração na sucessão discipular de Madhvācārya era repleto de cerimônias ritualísticas, sem sinais aparentes de amor a Deus; Śrī Mādhavendra Purī foi a primeira pessoa nessa sucessão discipular a manifestar os sintomas do amor a Deus e o primeiro a escrever um poema começando com as palavras ayi dīna-dayārdra nātha. “Ó Personalidade de Deus supremamente misericordiosa.” Nesse poema, está a semente do cultivo de amor a Deus de Caitanya Mahāprabhu.

Texto

śrī-īśvarapurī-rūpe aṅkura puṣṭa haila
āpane caitanya-mālī skandha upajila

Sinônimos

śrī-īśvara-purī — chamado Śrī Īśvara Purī; rūpe — sob a forma de; aṅkura — a semente; puṣṭa — cultivada; haila — ficou; āpane — Ele próprio; caitanya-mālī — jardineiro chamado Śrī Caitanya Mahāprabhu; skandha — tronco; upajila — expandiu-Se.

Tradução

A semente do serviço devocional, a seguir, frutificou sob a forma de Śrī Īśvara Purī, após o que o próprio jardineiro, Caitanya Mahāprabhu, tornou-Se o principal tronco da árvore do serviço devocional.

Comentário

SIGNIFICADO—Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura escreve em seu Anubhāṣya: “Śrī Īśvara Purī era residente de Kumāra-haṭṭa, onde há agora uma estação férrea conhecida como Kāmarhaṭṭa. Perto dali, há também outra estação chamada Hālisahara, que pertence à linha férrea oriental proveniente do ramal oriental de Calcutá.”

Īśvara Purī apareceu em família de brāhmaṇas e era o discípulo mais querido de Śrīla Mādhavendra Purī. Na última parte do Caitanya-caritāmṛta, capítulo oito, versos de 26 a 29, afirma-se:

īśvara-purī gosāñi kare śrī-pada sevana
sva-haste karena mala-mūtrādi mārjana
nirantara kṛṣṇa-nāma karāya smaraṇa
kṛṣṇa-nāma kṛṣṇa-līlā śunāya anukṣaṇa
tuṣṭa hañā purī tāṅre kaila āliṅgana
vara dilā kṛṣṇe tomāra ha-uka prema-dhana
sei haite īśvara-purī premera sāgara

“Na última fase de sua vida, Śrī Mādhavendra Purī ficou inválido e era incapaz de mover-se, e Īśvara Purī dedicou-se de tal maneira a seu serviço que limpava pessoalmente seu excremento e sua urina. Sempre cantando o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa e lembrando a Śrī Mādhavendra Purī os passatempos do Senhor Kṛṣṇa, Īśvara Purī prestou-lhe o melhor serviço entre todos os discípulos. Assim, Mādhavendra Purī, na última fase de sua vida, satisfez-se muito com ele, e abençoou-o, dizendo: ‘Meu querido filho, tudo o que posso fazer é orar a Kṛṣṇa para que Ele fique satisfeito contigo.’ Assim, pela graça de Śrī Mādhavendra Purī, seu mestre espiritual, Īśvara Purī tornou-se um grande devoto no oceano de amor a Deus.” Śrīla Viśvanātha Cakravartī afirma em sua oração Gurv-aṣṭaka que yasya prasādād bhagavat-prasādo yasyāprasādān na gatiḥ kuto ’pi: “Pela misericórdia do mestre espiritual, somos abençoados com a misericórdia de Kṛṣṇa. Sem a graça do mestre espiritual, não podemos fazer nenhum avanço.” É pela misericórdia do mestre espiritual que nos aperfeiçoamos, como se exemplificou vividamente aqui. A Suprema Personalidade de Deus sempre protege o vaiṣṇava, mas, se ele parece estar inválido, isso dá uma oportunidade a seus discípulos de servi-lo. Īśvara Purī satisfez seu mestre espiritual, prestando-lhe serviço, e, com as bênçãos de seu mestre espiritual, tornou-se uma personalidade tão grandiosa que o Senhor Caitanya Mahāprabhu aceitou-o como Seu mestre espiritual.

Śrīla Īśvara Purī foi o mestre espiritual de Śrī Caitanya Mahāprabhu, porém, antes de iniciar o Senhor Caitanya, foi a Navadvīpa e viveu por alguns meses na casa de Gopīnatha Ācārya. Naquela época, o Senhor Caitanya o conheceu, e conta-se que ele serviu Śrī Caitanya Mahāprabhu recitando seu livro, o Kṛṣṇa-līlāmṛta. Explica-se isso no Caitanya-bhāgavata, Ādi-līlā, capítulo sete.

Para ensinar aos outros, pelo exemplo, como ser um discípulo fiel ao mestre espiritual, Śrī Caitanya Mahāprabhu, a Suprema Personalidade de Deus, visitou a terra natal de Īśvara Purī em Kumāra-haṭṭa e pegou um pouco da terra dali. Ele manteve essa terra com muito cuidado, e costumava comer uma pequena porção dela diariamente. Afirma-se isso no Caitanya-bhāgavata, capítulo doze. Tornou-se agora costumeiro para os devotos, seguindo o exemplo de Śrī Caitanya Mahāprabhu, ir ali e pegar um pouco da terra daquele local.

Texto

nijācintya-śaktye mālī hañā skandha haya
sakala śākhāra sei skandha mūlāśraya

Sinônimos

nijā — Sua própria; acintya — inconcebível; śaktye — pela potência; mālī — jardineiro; hañā — tornando-Se; skandha — tronco; haya — tornou-Se; sakala — todos; śākhāra — de outros galhos; sei — este; skandha — tronco; mūlā-aśraya — apoio original.

Tradução

Através de Seus poderes inconcebíveis, o Senhor tornou-Se o jardineiro, o tronco e os galhos simultaneamente.

Texto

paramānanda purī, āra keśava bhāratī
brahmānanda purī, āra brahmānanda bhāratī
viṣṇu-purī, keśava-purī, purī kṛṣṇānanda
śrī-nṛsiṁhatīrtha, āra purī sukhānanda
ei nava mūla nikasila vṛkṣa-mūle
ei nava mūle vṛkṣa karila niścale

Sinônimos

paramānanda purī — chamado Paramānanda Purī; āra — e; keśava bhāratī — chamado Keśava Bhāratī; brahmānanda purī — chamado Brahmānanda Purī; āra — e; brahmānanda bhāratī — chamado Brahmānanda Bhāratī; viṣṇu-purī — chamado Viṣṇu Purī; keśava-purī — chamado Keśava Purī; purī kṛṣṇānanda — chamado Kṛṣṇānanda Purī; śrī-nṛsiṁha-tīrtha — chamado Śrī Nṛsiṁha-tīrtha; āra — e; purī sukhānanda — chamado Sukhānanda Purī; ei nava — destas nove; mūla — raízes; nikasila — frutificaram; vṛkṣa-mūle — no tronco da árvore; ei nava mūle — nestas nove raízes; vṛkṣa — a árvore; karila niścale — ficou muito firme.

Tradução

Paramānanda Purī, Keśava Bhāratī, Brahmānanda Purī e Brahmānanda Bhāratī, Śrī Viṣṇu Purī, Keśava Purī, Kṛṣṇānanda Purī, Śrī Nṛsiṁha Tīrtha e Sukhānanda Purī – todas essas nove raízes de sannyāsīs brotaram do tronco da árvore. Assim, a árvore ergueu-se firmemente reforçada por essas nove raízes.

Comentário

SIGNIFICADO—Paramānanda Purī: Paramānanda Purī pertencia a uma família de brāhmaṇas do distrito de Trihut, em Uttara Pradesh. Mādhavendra Purī foi seu mestre espiritual. Por causa de seu relacionamento com Mādhavendra Purī, Paramānanda Purī era muito querido a Śrī Caitanya Mahāprabhu. No Caitanya-bhāgavata, Antya-līlā, capítulo onze, encontra-se a seguinte afirmação:

sannyāsīra madhye īśvarera priya-pātra
āra nāhi eka purī gosāñi se mātra
dāmodara-svarūpa paramānanda-purī
sannyāsi-pārṣade ei dui adhikārī
niravadhi nikaṭe thākena dui jana
prabhura sannyāse kare daṇḍera grahaṇa
purī dhyāna-para dāmodarera kīrtana
yata-prīti īśvarera purī-gosāñire
dāmodara-svarūpereo tata prīti kare

“Entre seus discípulos sannyāsīs, Īśvara Purī e Paramānanda Purī eram muito queridos a Mādhavendra Purī. Assim, Paramānanda Purī, como Svarūpa Dāmodara, que também era sannyāsī, era muito querido a Śrī Caitanya Mahāprabhu e era Seu companheiro constante. Quando o Senhor Caitanya aceitou a ordem renunciada, Paramānanda Purī ofereceu-Lhe o daṇḍa. Paramānanda Purī sempre se dedicava à meditação, e Śrī Svarūpa sempre se dedicava a cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Assim como Śrī Caitanya Mahāprabhu prestava plenos respeitos a Īśvara Purī, Seu mestre espiritual, do mesmo modo, Ele reverenciava Paramānanda Purī e Svarūpa Dāmodara.” No Caitanya-bhāgavata, Antya-līlā, capítulo três, descreve-se que, ao ver Paramānanda Purī pela primeira vez, Śrī Caitanya Mahāprabhu fez a seguinte afirmação:

āji dhanya locana, saphala āji janma
saphala āmāra āji haila sarva-dharma
prabhu bale āji mora saphala sannyāsa
āji mādhavendra more ha-ilā prakāśa

“Meus olhos, Minha mente, Minhas atividades religiosas e Minha aceitação da ordem de sannyāsa agora aperfeiçoaram-se, porque hoje Mādhavendra Purī manifestou-se perante Mim sob a forma de Paramānanda Purī.” O Caitanya-bhāgavata afirma ainda:

kathokṣaṇe anyo ’nye karena praṇāma
paramānanda-purī caitanyera priya-dhāma

“Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu trocou reverências respeitosas com Paramānanda Purī, que Lhe era muito querido.” Paramānanda Purī estabeleceu um pequeno monastério a oeste do templo de Jagannātha, onde mandou escavarem um poço para suprimento de água. Contudo, a água era amarga. Śrī Caitanya Mahāprabhu orou, então, ao Senhor Jagannātha para que permitisse que a água do Ganges penetrasse no poço para transformá-lo em poço de água doce. Quando o Senhor Jagannātha concedeu o pedido, o Senhor Caitanya disse a todos os devotos que, daquele dia em diante, dever-se-ia considerar a água do poço de Paramānanda Purī como a água do Ganges, pois qualquer devoto que a bebesse ou se banhasse nela decerto obteria o mesmo benefício de beber ou banhar-se nas águas do Ganges. Tal pessoa com certeza desenvolveria amor puro por Deus. Encontramos a seguinte afirmação no Caitanya-bhāgavata:

prabhu bale āmi ye āchiye pṛthivīte
niścaya-i jāniha purī-gosāñira prīte

“Śrī Caitanya Mahāprabhu costumava dizer: ‘Estou vivendo neste mundo somente devido ao comportamento excelente de Śrī Paramānanda Purī.’” O Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā, verso 118, afirma que purī śrī-paramānando ya āsīd uddhavaḥ purā: “Paramānanda Purī não é nenhum outro senão Uddhava.” Uddhava era amigo e tio do Senhor Kṛṣṇa, e, na Caitanya-līlā, o mesmo Uddhava tornou-se amigo de Śrī Caitanya Mahāprabhu e tio dEle em função do relacionamento deles na sucessão discipular.

Keśava Bhāratī: As sampradāyas Sarasvatī, Bhāratī e Purī pertencem a Śṛṅgerī-maṭha do sul da Índia, e Śrī Keśava Bhāratī, que naquela época morava num monastério em Katwa, pertencia à Bhāratī-sampradāya. Segundo algumas opiniões autorizadas, embora Keśava Bhāratī pertencesse à Śaṅkara-sampradāya, anteriormente ele tinha sido iniciado por um vaiṣṇava. Ele é tido como um vaiṣṇava por ter sido iniciado por Mādhavendra Purī, pois alguns dizem que ele aceitou sannyāsa de Mādhavendra Purī. O templo e a adoração à Deidade iniciados por Keśava Bhāratī ainda existem na vila conhecida como Khāṭundi, que está sob a jurisdição postal de Kāndarā, no distrito de Burdwan. Segundo os dirigentes daquela maṭha, os sacerdotes daí são descendentes de Keśava Bhāratī, e alguns dizem que os adoradores da Deidade são descendentes dos filhos de Keśava Bhāratī. Como chefe de família, ele teve dois filhos, Niśāpati e Ūṣāpati, e um brāhmaṇa chamado Śrī Nakaḍicandra Vidyāratna, que era membro da família de Niśāpati, era o sacerdote encarregado na época em que Śrī Bhaktisiddhānta Sarasvatī visitou esse templo. Segundo alguns, os sacerdotes do templo pertencem à família do irmão de Keśava Bhāratī. Ainda outros opinam que eles são descendentes de Mādhava Bhāratī, outro discípulo de Keśava Bhāratī. O discípulo de Mādhava Bhāratī chamado Balabhadra, que também mais tarde tornou-se sannyāsī da Bhāratī-sampradāya, teve dois filhos em sua vida familiar, chamados Madana e Gopāla. Madana, cujo sobrenome de família era Bhāratī, viveu na vila de Āuriyā, e Gopāla, cujo sobrenome de família era Brahmacārī, viveu na vila de Denduḍa. Ainda há muitos descendentes vivos de ambas as famílias.

No Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā (52), se afirma:

mathurāyāṁ yajña-sūtraṁpurā kṛṣṇāya yo muniḥ
dadau sāndīpaniḥ so ’bhūd
adya keśava-bhāratī

“Sāndīpani Muni, que outrora oferecera o cordão sagrado a Kṛṣṇa e Balarāma, mais tarde tornou-se Keśava Bhāratī.” Foi ele que ofereceu sannyāsa a Śrī Caitanya Mahāprabhu. Outra afirmação do Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā (117) diz que iti kecit prabhāṣante ’krūraḥ keśava-bhāratī: “Segundo algumas opiniões autorizadas, Keśava Bhāratī é uma encarnação de Akrūra.” Keśava Bhāratī ofereceu a ordem de sannyāsa a Śrī Caitanya Mahāprabhu no ano de 1432 śakābda (1510 d.C.), em Katwa. Afirma-se isso no Vaiṣṇava-mañjuṣā, segunda parte.

Brahmānanda Purī: Śrī Brahmānanda Purī foi um dos associados de Śrī Caitanya Mahāprabhu enquanto Este executava kīrtana em Navadvīpa, e ele também juntou-se ao Senhor Caitanya em Jagannātha Purī. Observemos a esse respeito que o nome Brahmānanda é aceito, não apenas por sannyāsīs māyāvādīs, como também por sannyāsīs vaiṣṇavas. Um de nossos irmãos espirituais tolos criticou nosso sannyāsī Brahmānanda Svāmī, dizendo que este era um nome māyāvādī. O tolo não sabia que Brahmānanda nem sempre se refere ao aspecto impessoal. Parabrahman, o Brahman Supremo, é Kṛṣṇa. Portanto, um devoto de Kṛṣṇa também pode ser chamado de Brahmānanda; isto fica evidente pelo fato de Brahmānanda Purī ser um dos principais associados sannyāsīs do Senhor Caitanya Mahāprabhu.

Brahmānanda Bhāratī. Brahmānanda Bhāratī foi visitar Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu em Jagannātha-dhāma. Naquela época, ele costumava usar apenas uma pele de veado para cobrir-se, e Śrī Caitanya Mahāprabhu indiretamente deu a entender que não gostava dessa cobertura de pele de veado. Por isso, Brahmānanda Bhāratī abandonou-a e passou a usar uma tanga de cor açafroada como a usada por sannyāsīs vaiṣṇavas. Por algum tempo, ele viveu com Śrī Caitanya Mahāprabhu em Jagannātha Purī.

Texto

madhya-mūla paramānanda purī mahā-dhīra
aṣṭa dike aṣṭa mūla vṛkṣa kaila sthira

Sinônimos

madhya-mūla — raiz central; paramānanda purī — chamado Paramānanda Purī; mahā-dhīra — muito sóbrio; aṣṭa dike — nas oito direções; aṣṭa mūla — oito raízes; vṛkṣa — árvore; kaila sthira — fixa.

Tradução

Com o sóbrio e grave Paramānanda Purī como a raiz central e as outras oito raízes nas oito direções, a árvore de Caitanya Mahāprabhu ergueu-se firmemente.

Texto

skandhera upare bahu śākhā upajila
upari upari śākhā asaṅkhya ha-ila

Sinônimos

skandhera upare — do tronco; bahu śākhā — muitos galhos; upajila — cresceram; upari upari — acima e além deles; śākhā — outros galhos; asakhya — inúmeros; ha-ila — frutificaram.

Tradução

Do tronco, cresceram muitos galhos e, acima deles, inúmeros outros.

Texto

viśa viśa śākhā kari’ eka eka maṇḍala
mahā-mahā-śākhā chāila brahmāṇḍa sakala

Sinônimos

viśa viśa — vinte, vinte; śākhā — galhos; kari’ — formando um grupo; eka eka maṇḍala — formam uma sociedade; mahā-mahā-śākhā — grandes galhos; chāila — cobriram; brahmāṇḍa — o universo inteiro; sakala — todos.

Tradução

Assim, os galhos da árvore de Caitanya formaram um grupo, ou sociedade, com grandes galhos cobrindo todo o universo.

Comentário

SIGNIFICADO—Nossa Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna é um dos galhos da árvore de Caitanya.

Texto

ekaika śākhāte upaśākhā śata śata
yata upajila śākhā ke gaṇibe kata

Sinônimos

ekaika — cada galho; śākhāte — no galho; upaśākhā — galhos secundários; śata śata — centenas e centenas; yata — todos; upajila — cresceram; śākhā — galhos; ke — quem; gaṇibe — pode contar; kata — quantos.

Tradução

De cada galho, cresceram muitas centenas de galhos secundários. Ninguém pode contar quantos galhos cresceram dessa maneira.

Texto

mukhya mukhya śākhā-gaṇera nāma agaṇana
āge ta’ kariba, śuna vṛkṣera varṇana

Sinônimos

mukhya mukhya — os principais entre todos eles; śakha-gaṇera — dos galhos; nāma — denominar; agaṇana — incontáveis; āge — subsequentemente; ta ’kariba — vou fazer; śuna — por favor, ouvi; vṛkṣera varṇana — a descrição da árvore de Caitanya.

Tradução

Tentarei descrever os principais entre os inúmeros galhos. Por favor, ouvi a descrição da árvore de Caitanya.

Texto

vṛkṣera upare śākhā haila dui skandha
eka ‘advaita’ nāma, āra ‘nityānanda’

Sinônimos

vṛkṣera — da árvore; upare — no topo; śākhā — galho; haila — tornou-se; dui — dois; skandha — troncos; eka — um; advaita — Śrī Advaita Prabhu; nāma — chamado; āra — e; nityānanda — chamado Nityānanda Prabhu.

Tradução

No topo da árvore, o tronco ramificou-se em dois. Um tronco foi denominado Śrī Advaita Prabhu, e o outro, Śrī Nityānanda Prabhu.

Texto

sei dui-skandhe bahu śākhā upajila
tāra upaśākhā-gaṇe jagat chāila

Sinônimos

sei — isto; dui-skandhe — em dois troncos; bahu — muitos; śākhā — galhos; upajila — cresceram; tāra — deles; upaśākhā-gaṇe — galhos secundários; jagat — o mundo inteiro; chāila — cobriram.

Tradução

Desses dois troncos, cresceram muitos galhos, e galhos secundários, que cobriram o mundo inteiro.

Texto

baḍa śākhā, upaśākhā, tāra upaśākhā
yata upajila tāra ke karibe lekhā

Sinônimos

baḍa śākhā — os grandes galhos; upaśākhā — galhos secundários; tāra — deles; upaśākhā — galhos secundários; yata — todos que; upajila — cresceram; tāra — deles; ke — quem; karibe — pode contar; lekhā — ou escrever.

Tradução

Esses galhos e galhos secundários e os galhos destes tornaram-se tão numerosos que, na verdade, ninguém pode descrevê-los.

Texto

śiṣya, praśiṣya, āra upaśiṣya-gaṇa
jagat vyāpila tāra nāhika gaṇana

Sinônimos

śiṣya — discípulos; praśiṣya — discípulos dos discípulos; āra — e; upaśiṣya-gaṇa — admiradores; jagat — o mundo inteiro; vyāpila — espalharam-se; tāra — disto; nāhika — não há nenhuma; gaṇana — enumeração.

Tradução

Assim, os discípulos e os discípulos dos discípulos e seus admiradores espalharam-se pelo mundo inteiro, sendo impossível enumerá-los a todos.

Texto

uḍumbara-vṛkṣa yena phale sarva aṅge
ei mata bhakti-vṛkṣe sarvatra phala lāge

Sinônimos

uḍumbara-vṛkṣa — uma grande figueira; yena — como se; phale — cresciam frutos; sarva — todas; aṅge — partes da copa; ei — isto; mata — como; bhakti-vṛkṣe — na árvore do serviço devocional; sarvatra — em toda; phala — fruto; lāge — aparece.

Tradução

Assim como uma grande figueira ostenta frutos por toda a sua copa, da mesma forma, cada parte da árvore do serviço devocional ostentava frutos.

Comentário

SIGNIFICADO—Essa árvore do serviço devocional não é deste mundo material. Ela cresce no mundo espiritual, onde não há distinção entre uma parte do corpo e outra. É algo assim como uma cana-de-açúcar, pois qualquer parte que se saboreie dela é sempre doce. A árvore de bhakti tem um sem-fim de galhos, folhas e frutos, mas todos eles destinam-se ao serviço da Suprema Personalidade de Deus. Há nove diferentes processos de serviço devocional (śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ smaraṇaṁ pāda-sevanam arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ sakhyam ātma-nivedanam), mas todos eles destinam-se apenas ao serviço do Senhor Supremo. Portanto, quer alguém ouça, cante, lembre-se ou adore, suas atividades produzirão o mesmo resultado. Qual desses processos será mais adequado para um devoto em particular? Depende do gosto da pessoa.

Texto

mūla-skandhera śākhā āra upaśākhā-gaṇe
lāgilā ye prema-phala, — amṛtake jine

Sinônimos

mūla-skandhera — do tronco principal; śākhā — galhos; āra — e; upaśākhā-gaṇe — galhos secundários; lāgilā — à medida que crescia; ye — isto; prema-phala — o fruto do amor; amṛtake jine — tal fruto supera o néctar.

Tradução

Uma vez que Śrī Caitanya Mahāprabhu era o tronco original, o sabor dos frutos que cresciam nos galhos e galhos secundários superava o sabor do néctar.

Texto

pākila ye prema-phala amṛta-madhura
vilāya caitanya-mālī, nāhi laya mūla

Sinônimos

pākila — amadurecia; ye — este; prema-phala — o fruto do amor a Deus; amṛta — nectáreo; madhura — doce; vilāya — distribui; caitanya-mālī — o jardineiro, Senhor Caitanya; nāhi — não; laya — faz; mūla — preço.

Tradução

Os frutos amadureciam e tornavam-se doces e nectáreos. O jardineiro, Śrī Caitanya Mahāprabhu, distribuía-os sem exigir qualquer pagamento.

Texto

tri-jagate yata āche dhana-ratnamaṇi
eka-phalera mūlya kari’ tāhā nāhi gaṇi

Sinônimos

tri-jagate — nos três mundos; yata — tanto quanto; āche — há; dhana-ratnamaṇi — fortuna e riqueza; eka-phalera — de um fruto; mūlya — preço; kari’ — calculado; tāhā — isto; nāhi — não; gaṇi — contam.

Tradução

Toda a riqueza nos três mundos não pode igualar-se ao valor de um desses frutos nectáreos do serviço devocional.

Texto

māge vā nā māge keha, pātra vā apātra
ihāra vicāra nāhi jāne, deya mātra

Sinônimos

māge — pede; — ou; — não; māge — pede; keha — qualquer pessoa; pātra — candidato; — ou; apātra — não candidato; ihāra — desta; vicāra — consideração; nāhi — não; jāne — sabe; deya — dá; mātra — apenas.

Tradução

Não levando em consideração quem o pedia ou quem não o pedia, nem quem era digno ou quem não era digno de recebê-lo, Caitanya Mahāprabhu distribuía o fruto do serviço devocional.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta é a essência do movimento de saṅkīrtana do Senhor Caitanya. Não se faz distinção entre aqueles que são aptos e os que não são aptos para ouvir ou participar do movimento de saṅkīrtana. Portanto, deve-se pregar este movimento sem fazer discriminações. O único objetivo dos pregadores do movimento de saṅkīrtana deve ser o de continuar pregando, sem restrições. Dessa maneira é que Śrī Caitanya Mahāprabhu introduziu este movimento de saṅkīrtana no mundo.

Texto

añjali añjali bhari’ phele caturdiśe
daridra kuḍāñā khāya, mālākāra hāse

Sinônimos

añjali — punhado; añjali — punhado; bhari’ — enchendo; phele — distribui; caturdiśe — em todas as direções; daridra — pobre; kuḍāñā — pegando; khāya — come; mālākāra — o jardineiro; hāse — sorri.

Tradução

O jardineiro transcendental, Śrī Caitanya Mahāprabhu, distribuía, às mãos cheias, os frutos em todas as direções, e, quando as pobres pessoas famintas comiam os frutos, o jardineiro sorria com muito prazer.

Texto

mālākāra kahe, — śuna, vṛkṣa-parivāra
mūlaśākhā-upaśākhā yateka prakāra

Sinônimos

mālā-kāra — o jardineiro; kahe — disse; śuna — ouvi; vṛkṣa-parivāra — a família dessa árvore transcendental do serviço devocional; mūla-śākhā — galhos principais; upaśākhā — galhos secundários; yateka — tantas quanto; prakāra — variedades.

Tradução

Assim, o Senhor Caitanya disse às variedades múltiplas de galhos e galhos secundários da árvore do serviço devocional:

Texto

alaukika vṛkṣa kare sarvendriya-karma
sthāvara ha-iyā dhare jaṅgamera dharma

Sinônimos

alaukika — transcendental; vṛkṣa — árvore; kare — faz; sarva-indriya — todos os sentidos; karma — atividades; sthāvara — imóvel; ha-iyā — tornando-se; dhare — aceita; jaṅgamera — do móvel; dharma — atividades.

Tradução

“Uma vez que a árvore do serviço devocional é transcendental, cada uma de suas partes pode executar a ação de todas as demais. Muito embora uma árvore seja supostamente imóvel, esta árvore se move.”

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo nossa experiência no mundo material, as árvores ficam paradas num local, mas, no mundo espiritual, uma árvore pode ir de um lugar a outro. Portanto, tudo no mundo espiritual é chamado alaukika, “incomum” ou “transcendental”. Outro aspecto de semelhante árvore é que ela pode agir universalmente. No mundo material, as raízes de uma árvore vão para o fundo da terra para conseguir alimento, mas, no mundo espiritual, os galhos, ramos e folhas da parte superior da árvore podem agir tão bem quanto as raízes.

Texto

e vṛkṣera aṅga haya saba sa-cetana
bāḍiyā vyāpila sabe sakala bhuvana

Sinônimos

e — esta; vṛkṣera — da árvore de Caitanya; aṅga — partes; haya — são; saba — todas; sa-cetana — espiritualmente conscientes; bāḍiyā — aumentando; vyāpila — inundado; sabe — todas as partes; sakala — todo; bhuvana — o mundo.

Tradução

“Todas as partes desta árvore são espiritualmente conscientes. E assim, à medida que crescem, espalham-se por todo o mundo.”

Texto

ekalā mālākāra āmi kāhāṅ kāhāṅ yāba
ekalā vā kata phala pāḍiyā vilāba

Sinônimos

ekalā — sozinho; mālākāra — jardineiro; āmi — Eu sou; kāhāṅ — onde; kāhāṅ — onde; yāba — Eu vou; ekalā — sozinho; — ou; kata — quantos; phala — frutos; pāḍiyā — colhendo; vilāba — vou distribuir.

Tradução

“Eu sou o único jardineiro. A quantos locais posso ir? Quantos frutos posso colher e distribuir?”

Comentário

SIGNIFICADO—Aqui, Śrī Caitanya Mahāprabhu indica que se deve realizar a distribuição do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa combinando-se as forças. Embora seja a Suprema Personalidade de Deus, Ele Se lamenta: “Como posso agir sozinho? Sozinho, como posso colher os frutos e distribuí-los por todo o mundo?” Isso indica que todas as classes de devotos devem combinar-se para distribuir o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, sem consideração de tempo, local ou situação.

Texto

ekalā uṭhāñā dite haya pariśrama
keha pāya, keha nā pāya, rahe mane bhrama

Sinônimos

ekalā — sozinho; uṭhāñā — colhendo; dite — para dar; haya — torna-se; pariśrāma — trabalhoso demais; keha — alguém; pāya — obtém; keha — alguém; — não; pāya — obtém; rahe — permanece; mane — na mente; bhrama — suspeita.

Tradução

“Com certeza, seria uma tarefa muito trabalhosa: colher os frutos e distribuí-los sozinho, e, ainda assim, Eu suspeito que alguns os receberiam e outros não.”

Texto

ataeva āmi ājñā diluṅ sabākāre
yāhāṅ tāhāṅ prema-phala deha’ yāre tāre

Sinônimos

ataeva — portanto; āmi — Eu; ājñā — ordeno; diluṅ — dar; sabākāre — a todos; yāhāṅ — onde quer que; tāhāṅ — toda a parte; prema-phala — o fruto do amor a Deus; deha’ — distribui; yāre — qualquer pessoa; tāre — todos.

Tradução

“Portanto, ordeno a todo homem dentro deste universo que aceite este movimento para a consciência de Kṛṣṇa e difunda-o em toda parte.”

Comentário

SIGNIFICADO—A esse respeito, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura canta a seguinte canção:

enechi auṣadhi māyā nāśibāra lāgi’
harināma-mahāmantra lao tumi māgi’
bhakativinoda prabhu-caraṇe paḍiyā
sei harināma-mantra la-ila māgiyā

O movimento de saṅkīrtana foi introduzido pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu só para dissipar a ilusão de māyā, a qual faz todos neste mundo material julgarem-se produtos da matéria e, portanto, terem muitas obrigações referentes ao corpo. Na verdade, a entidade viva não é seu corpo material, mas, sim, alma espiritual. Ela tem necessidades espirituais de ser eternamente bem-aventurada e plena de conhecimento, mas, infelizmente, identifica-se com o corpo, ora como ser humano, ora como animal, ora como árvore, ora como ser aquático, ora como semideus e assim por diante. Assim, a cada mudança de corpo, ela desenvolve uma espécie diferente de consciência com diferentes classes de atividades e, assim, enreda-se cada vez mais na existência material, transmigrando perpetuamente de um corpo para outro. Sob o encanto de māyā, ou ilusão, não considera o passado nem o futuro, mas simplesmente se contenta com a curta duração de vida obtida no presente. Para erradicar essa ilusão, Śrī Caitanya Mahāprabhu trouxe o movimento de saṅkīrtana, e pede que todos o aceitem e distribuam. Um verdadeiro seguidor de Śrī Bhaktivinoda Ṭhākura deve aceitar imediatamente o pedido do Senhor Caitanya Mahāprabhu, prestando respeitosas reverências a Seus pés de lótus, e, assim, pedir-Lhe o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Quem tiver a fortuna de pedir ao Senhor este mahā-mantra Hare Kṛṣṇa terá êxito em sua vida.

Texto

ekalā mālākāra āmi kata phala khāba
nā diyā vā ei phala āra ki kariba

Sinônimos

ekala — sozinho; mālākāra — jardineiro; āmi — Eu; kata — quantos; phala — frutos; khāba — comer; — sem; diyā — dar; — ou; ei — isto; phala — frutos; āra — mais; ki — o que; kariba — farei.

Tradução

“Sou o único jardineiro. Se Eu não distribuir estes frutos, que farei com eles? Quantos frutos posso comer sozinho?”

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Caitanya Mahāprabhu produziu tantos frutos de serviço devocional que era preciso distribuí-los em todo o mundo; caso contrário, como é que Ele, sozinho, poderia saborear e provar cada fruto? A razão original pela qual o Senhor Śrī Kṛṣṇa desceu como Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para compreender o amor de Śrīmati Rādhārāṇī por Kṛṣṇa e saborear esse amor. Inúmeros eram os frutos da árvore do serviço devocional, daí Ele ter desejado distribuí-los irrestritamente a todos. Śrīla Rūpa Gosvāmī, portanto, escreve:

anarpita-carīṁ cirāt karuṇayāvatīrṇaḥ kalau
samarpayitum unnatojjvala-rasāṁ sva-bhakti-śriyam
hariḥ puraṭa-sundara-dyuti-kadamba-sandīpitaḥ
sadā hṛdaya-kandare sphuratu vaḥ śacī-nandanaḥ

Houve muitas encarnações preciosas da Suprema Personalidade de Deus, mas nenhuma delas foi tão generosa, amável e magnânima quanto a de Śrī Caitanya Mahāprabhu, pois Ele distribuiu o aspecto mais íntimo do serviço devocional, a saber, o amor conjugal de Rādhā e Kṛṣṇa. Portanto, Śrī Rūpa Gosvāmī Prabhupāda deseja que Śrī Caitanya Mahāprabhu viva perpetuamente no coração de todos os devotos, pois, assim, eles poderão compreender e saborear os romances amorosos de Śrīmatī Rādhārāṇī e Kṛṣṇa.

Texto

ātma-icchāmṛte vṛkṣa siñci nirantara
tāhāte asaṅkhya phala vṛkṣera upara

Sinônimos

ātma — própria; icchā-amṛte — pelo néctar da vontade; vṛkṣa — a árvore; siñci — borrifa; nirantara — constantemente; tāhāte — ali; asaṅkhya — ilimitados; phala — frutos; vṛkṣera — na árvore; upara — superior.

Tradução

“O desejo transcendental da Suprema Personalidade de Deus borrifou com água toda a árvore, e, assim, ela exibe inúmeros frutos de amor a Deus.”

Comentário

SIGNIFICADO—Deus é ilimitado, e Seus desejos também são ilimitados. Esse exemplo de frutos ilimitados é de fato apropriado, mesmo dentro do contexto material, pois, com a boa vontade da Suprema Personalidade de Deus, pode haver abundância de frutas, cereais e outros alimentos produzidos de modo que todo o povo do mundo não poderia consumi-los, mesmo que comessem dez vezes mais do que podem. Neste mundo material, realmente não há escassez de nada, mas apenas de consciência de Kṛṣṇa. Se as pessoas se tornarem conscientes de Kṛṣṇa, pela vontade transcendental da Suprema personalidade de Deus, haverá produção suficiente de alimentos de modo que ninguém terá problemas econômicos de modo algum. É muito fácil entender este fato. A produção de frutas e flores depende, não de nossa vontade, mas da vontade da Suprema da Personalidade de Deus. Se Ele está satisfeito, pode suprir-nos de abundantes frutas, flores, etc., mas, se o povo se mostra ateu e pecaminoso em relação à natureza, pela vontade dEle, restringe-se o suprimento de alimentos. Por exemplo, em diversas províncias da Índia, especialmente em Maharashtra, Uttara Pradesh, e outros estados adjacentes, às vezes há grande escassez de alimentos devido à falta de chuvas. Ditos cientistas e economistas não podem fazer nada a esse respeito. Portanto, para solucionar todos os problemas, deve-se conquistar a boa vontade da Suprema Personalidade de Deus, tornando-se consciente de Kṛṣṇa e adorando-O regularmente com serviço devocional.

Texto

ataeva saba phala deha’ yāre tāre
khāiyā ha-uk loka ajara amare

Sinônimos

ataeva — portanto; saba — todos; phala — frutos; deha’ — distribuí; yāre tāre — a todos; khāiyā — comendo; ha-uk — que se tornem; loka — todas as pessoas; ajara — sem velhice; amare — sem morte.

Tradução

“Que este movimento para a consciência de Kṛṣṇa seja propagado em todo o mundo! Que as pessoas comam destes frutos e finalmente se libertem da velhice e da morte!”

Comentário

SIGNIFICADO—O movimento para a consciência de Kṛṣṇa introduzido pelo Senhor Caitanya é extremamente importante, pois quem o adota torna-se eterno, libertando-se do nascimento, da morte e da velhice. As pessoas não reconhecem que os verdadeiros sofrimentos da vida são os quatro princípios de nascimento, morte, velhice e doença. São tão tolas que se resignam a essas quatro misérias, desconhecendo o remédio transcendental: o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Simplesmente por cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa pode alguém livrar-se de toda a miséria, mas, por estarem encantadas pela energia ilusória, as pessoas não levam este movimento a sério. Portanto, aqueles que são realmente servos de Śrī Caitanya Mahāprabhu precisam distribuir seriamente este movimento em todo o mundo para prestar o máximo benefício à sociedade humana. Animais e outras espécies inferiores não são capazes de entender este movimento, é claro, mas, se mesmo um pequeno número de seres vivos o levar a sério, por eles cantarem em voz alta, todas as entidades vivas, incluindo árvores, animais e outras espécies inferiores, beneficiar-se-ão. Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou a Haridāsa Ṭhākura como ele faria para beneficiar as entidades vivas que não são humanas, Śrīla Haridāsa Ṭhākura respondeu que o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa é tão potente que, caso seja cantado em voz alta, todos se beneficiarão, incluindo as espécies inferiores de vida.

Texto

jagat vyāpiyā mora habe puṇya khyāti
sukhī ha-iyā loka mora gāhibeka kīrti

Sinônimos

jagat vyāpiyā — propagando em todo o mundo; mora —Minha; habe — haverá; puṇya — piedosas; khyāti — reputação; sukhī — felizes; ha-iyā — ficando; loka — todas as pessoas; mora — Minha; gāhibeka — glorificam; kīrti — reputação.

Tradução

“Se os frutos forem distribuídos em todo o mundo, Minha reputação como homem piedoso será reconhecida em toda parte, e, assim, todas as pessoas glorificarão Meu nome com muito prazer.”

Comentário

SIGNIFICADO—Esta predição do Senhor Caitanya Mahāprabhu está agora realmente concretizando-se. O movimento para a consciência de Kṛṣṇa está sendo propagado em todo o mundo através do cantar do santo nome do Senhor, o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, e pessoas que levavam vidas confusas e caóticas agora sentem felicidade transcendental. Elas encontram paz no saṅkīrtana, e por isso reconhecem o benefício supremo deste movimento. Esta é a bênção do Senhor Caitanya Mahāprabhu. De fato, cumpre-se agora Sua predição, e aqueles que são sóbrios e conscienciosos estão apreciando o valor deste grande movimento.

Texto

bhārata-bhūmite haila manuṣya janma yāra
janma sārthaka kari’ kara para-upakāra

Sinônimos

bhārata — da Índia; bhūmite — na terra; haila — tenha se tornado; manuṣya — ser humano; janma — nascimento; yāra — qualquer pessoa; janma — semelhante nascimento; sārthaka — satisfação; kari’ — fazendo assim; kara — fazem; para — outros; upakāra — benefício.

Tradução

“Todo aquele que tenha nascido como ser humano na terra da Índia [Bhārata-varṣa] deve tornar sua vida bem-sucedida e trabalhar para o benefício de todas as outras pessoas.”

Comentário

SIGNIFICADO—Neste verso muito importante, expressa-se a magnanimidade do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Embora Śrī Caitanya Mahāprabhu tenha nascido na Bengala, e, portanto, os bengalis tenham uma obrigação especial para com Ele, Ele Se dirige, não somente aos bengalis, mas também a todos os habitantes da Índia. É na terra da Índia que se pode desenvolver verdadeira civilização humana.

A vida humana destina-se especialmente a compreender Deus, como se afirma no Vedanta-sūtra (athāto brahma-jijñāsā). Qualquer pessoa que nasça na terra da Índia (Bhārata-varṣa) tem o privilégio especial de poder aproveitar-se da instrução e orientação da civilização védica. Recebe naturalmente os princípios básicos da vida espiritual, pois 99,9% do povo indiano, mesmo simples agricultores de vila e outros que não são nem instruídos nem sofisticados, creem na transmigração da alma, creem em vidas passadas e futuras, creem em Deus e, naturalmente, desejam adorar a Suprema Personalidade de Deus, ou Seu representante. Essas ideias são a herança natural de uma pessoa nascida na Índia. A Índia tem muitos locais sagrados de peregrinação, tais como Gayā, Benares, Mathurā, Prayāga, Vṛndāvana, Haridvāra, Rāmeśvaram e Jagannātha Purī, e, ainda hoje, centenas e milhares de pessoas os visitam. Embora os líderes atuais da Índia estejam influenciando o povo a não crer em Deus, a não crer numa próxima vida e a não acreditar em distinções entre vida piedosa e vida ímpia, e lhes ensinem a beber vinho, comer carne e tornarem-se supostamente civilizados, apesar disso, o povo teme as quatro atividades de vida pecaminosa – a saber, sexo ilícito, consumo de carne, intoxicação e jogos – e, sempre que há um festival religioso, eles se reúnem aos milhares. Temos experiência prática disso. Sempre que o movimento para a consciência de Kṛṣṇa promove um festival de saṅkīrtana em grandes cidades, como Calcutá, Bombaim, Madras, Ahmedabad ou Hyderabad, milhares de pessoas vêm para ouvir. Às vezes, falamos em inglês, mas, embora a maioria das pessoas não entenda inglês, mesmo assim, vêm ouvir-nos. Mesmo quando pretensas encarnações de Deus falam ao povo, ainda assim ele se reúne pessoas aos milhares, pois todos que nascem na terra da Índia têm uma inclinação natural à espiritualidade e aprendem os princípios básicos da vida espiritual. Necessitam apenas ser um pouco mais esclarecidos acerca dos princípios védicos. Portanto, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse que janma sārthaka kari’ kara para-upakāra: caso se eduque um indiano nos princípios védicos, ele é capaz de realizar a mais benéfica obra social para o mundo inteiro.

Atualmente, por falta de consciência de Kṛṣṇa, ou consciência de Deus, o mundo inteiro está na escuridão, tendo sido encoberto pelos quatro princípios de vida pecaminosa – consumo de carne, sexo ilícito, jogos de azar e intoxicação. Portanto, é necessária uma propaganda vigorosa para educar o povo a abster-se de atividades pecaminosas. Isso trará paz e prosperidade: o número de patifes, ladrões e libertinos diminuirá naturalmente, e toda a sociedade humana será consciente de Deus.

O efeito prático de propagarmos o movimento para a consciência de Kṛṣṇa em todo o mundo é que agora os mais degradados libertinos estão se tornando os santos mais elevados. Esse é o serviço humilde de apenas um indiano para o mundo. Se todos os indianos tivessem adotado este caminho, como aconselhou o Senhor Caitanya Mahāprabhu, a Índia teria dado um presente extraordinário ao mundo e, assim, a Índia teria sido glorificada. No entanto, agora a Índia é conhecida como um país miserável, e, sempre que alguém dos Estados Unidos ou de outro país opulento vai à Índia, vê muitas pessoas deitadas pelas calçadas para quem nem mesmo há provisões para duas refeições diárias. Além disso, há instituições arrecadando dinheiro de todas as partes do mundo em nome de atividades beneficentes para o povo empobrecido, porém, gastam-no para seu próprio gozo dos sentidos. Agora, por ordem de Śrī Caitanya Mahāprabhu, inauguramos o movimento para a consciência de Kṛṣṇa e o povo está se beneficiando com este movimento. Portanto, é dever dos líderes da Índia considerarem a importância deste movimento e prepararem muitos indianos para sair da Índia para pregar este culto. As pessoas aceitá-lo-ão, haverá cooperação entre os indianos e outros povos do mundo, e, então, se cumprirá a missão de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Śrī Caitanya Mahāprabhu será glorificado, então, em todo o mundo, e o povo naturalmente será feliz, pacífico e próspero, não apenas nesta vida, mas também na próxima, pois, como se afirma na Bhagavad-gītā, quem quer que compreenda Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, obterá a salvação muito facilmente, ou seja, libertar-se-á da repetição de nascimentos e mortes, e voltará ao lar, voltará ao Supremo. Portanto, Śrī Caitanya Mahāprabhu pede a todo indiano que se torne um pregador de Seu culto para salvar o mundo desta desastrosa confusão.

Este não é apenas o dever dos indianos, mas também o dever de todos, e estamos muito contentes de ver rapazes e moças americanos e europeus cooperando seriamente com este movimento. Deve-se ter como certo que a melhor atividade beneficente para toda a sociedade humana é despertar a consciência de Deus, ou consciência de Kṛṣṇa, no homem. Portanto, todos devem ajudar este grande movimento. Confirma-se isso no Śrīmad-Bhāgavatam, décimo canto, vigésimo segundo capítulo, verso 35, que é citado a seguir no Caitanya-caritāmṛta.

Texto

etāvaj janma-sāphalyaṁ
dehinām iha dehiṣu
prāṇair arthair dhiyā vācā
śreya-ācaraṇaṁ sadā

Sinônimos

etāvat — até isto; janma — do nascimento; sāphalyam — perfeição; dehinām — de todo ser vivo; iha — neste mundo; dehiṣu — para aqueles que são corporificados; prāṇaiḥ — com a vida; arthaiḥ — com a riqueza; dhiyā — com a inteligência; vācā — com as palavras; śreyaḥ — boa fortuna eterna; ācaraṇam — agindo praticamente; sadā — sempre.

Tradução

“‘É dever de todo ser vivo realizar atividades beneficentes em favor dos outros, dedicando sua vida, sua riqueza, sua inteligência e suas palavras.’”

Comentário

SIGNIFICADO—Há duas classes de atividades gerais – śreyas, ou atividades que são benéficas e auspiciosas no final, e preyas, ou atividades que são imediatamente benéficas e auspiciosas. Por exemplo, as crianças gostam muito de brincar. Elas não querem ir à escola para receber educação, e acham que brincar dia e noite e divertir-se com seus amigos é a meta da vida. Mesmo na vida transcendental do Senhor Kṛṣṇa, vemos que, quando criança, Ele gostava muito de brincar com Seus amigos da mesma idade, os vaqueirinhos. Ele nem mesmo ia para casa jantar. Mãe Yaśoda era obrigada a ir buscá-lO para que voltasse para casa. Assim, por natureza, a criança gosta de brincar dia e noite, sem nem mesmo se importar com sua saúde e outros assuntos importantes. Esse é um exemplo de preyas, ou atividades imediatamente benéficas. Porém, também há śreyas, ou atividades que são auspiciosas no final. Segundo a civilização védica, um ser humano deve ser consciente de Deus. Ele deve compreender o que é Deus, o que é este mundo material, quem ele é e quais são as relações entre essas coisas. Isso se chama śreyas, ou atividades auspiciosas no final.

Neste verso do Śrīmad-Bhāgavatam, se diz que todos devem interessar-se em śreyas. Para alcançar a meta última de śreyas, ou boa fortuna, deve-se utilizar tudo, inclusive a vida, a riqueza e as palavras, não somente para proveito próprio, mas para proveito dos outros também. No entanto, a menos que alguém se interesse em śreyas em sua própria vida, não pode pregar śreyas em benefício dos outros.

Este verso citado por Śrī Caitanya Mahāprabhu aplica-se aos seres humanos, e não aos animais. Como as palavras manuṣya-janma indicam no verso anterior, estes preceitos são para seres humanos. Infelizmente, em seu comportamento, os seres humanos estão se tornando piores que os animais, embora tenham corpo humano. Essa é a falha da educação moderna. Os educadores modernos não conhecem a meta da vida: estão preocupados apenas com a maneira de desenvolver as condições econômicas de seus países ou da sociedade humana. Isso também é necessário – a civilização védica leva em consideração todos os aspectos da vida humana, incluindo dharma (religião), artha (desenvolvimento econômico), kama (gozo dos sentidos) e mokṣa (liberação). Porém, a primeira preocupação da humanidade deve ser a religião. Alguém que quer ser religioso precisa viver sob as ordens de Deus, mas, infelizmente, as pessoas nesta era têm rejeitado a religião e vivem atarefadas com desenvolvimento econômico. Em consequência disso, elas são capazes de adotar quaisquer meios para obter dinheiro. Para o desenvolvimento econômico, não é preciso obter dinheiro custe o que custar – necessita-se apenas de dinheiro suficiente para manter o corpo e a alma. Contudo, como o desenvolvimento econômico moderno continua sem qualquer base religiosa, as pessoas têm se tornado luxuriosas, cobiçosas e loucas por dinheiro. Elas só fazem desenvolver as qualidades de rajas (paixão) e tamas (ignorância), menosprezando a outra qualidade da natureza, sattva (bondade), e as qualificações bramânicas. Portanto, toda a sociedade está um caos.

O Bhāgavatam diz que é dever de um ser humano avançado agir de tal maneira que facilite à sociedade humana alcançar a meta última da vida. Existe um verso semelhante no Viṣṇu Purāṇa, terceira parte, capítulo doze, verso 45, que é citado neste capítulo do Caitanya-caritāmṛta como o verso 43.

Texto

prāṇinām upakārāya
yad eveha paratra ca
karmaṇā manasā vācā
tad eva mati-mān bhajet

Sinônimos

prāṇinām — de todas as entidades vivas; upakārāya — para o benefício; yat — tudo o que; eva — decerto; iha — neste mundo ou nesta vida; paratra — na próxima vida; ca — e; karmaṇā — com o trabalho; manasā — com a mente; vācā — com as palavras; tat — isto; eva — decerto; mati-mān — o homem inteligente; bhajet — deve agir.

Tradução

“‘Com seu trabalho, pensamentos e palavras, o homem inteligente deve realizar ações que sejam benéficas para todas as entidades vivas, nesta vida e na próxima.’”

Comentário

SIGNIFICADO—Infelizmente, o povo em geral desconhece o que vai acontecer na próxima vida. Preparar-se para a próxima vida é bom senso, e é um princípio da civilização védica. Porém, atualmente, pessoas no mundo inteiro não acreditam numa próxima vida. Mesmo professores influentes e outros educadores dizem que tudo acaba tão logo o corpo chegue ao fim. Essa filosofia ateísta está matando a civilização humana. O povo irresponsavelmente pratica toda espécie de atividades pecaminosas, e, assim, a propaganda educacional dos ditos líderes destrói o privilégio de ter-se uma vida humana. Na realidade, a verdade é que esta vida se destina a preparar-se para a próxima vida; pela evolução, passa-se por muitas espécies ou formas, e esta forma humana de vida é uma oportunidade para todos se promoverem a uma vida melhor. Explica-se isso na Bhagavad-gītā (9.25):

yānti deva-vratā devān
pitṝn yānti pitṛ-vratāḥ
bhūtāni yānti bhūtejyā
yānti mad-yājino ’pi mām

“Quem adorar os semideuses nascerá entre os semideuses; quem adorar fantasmas e espíritos nascerá entre tais seres; quem adorar os antepassados irá com os antepassados; e quem Me adorar viverá comigo.” Portanto, a pessoa pode promover-se aos sistemas planetários superiores, que são a residência dos semideuses, pode promover-se a Pitṛloka, pode permanecer na Terra ou pode também voltar ao lar, voltar ao Supremo. Confirma-se isso ainda na Bhagavad-gītā (4.9): tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti so ’rjuna. Após abandonar o corpo, quem conhece Kṛṣṇa de fato não retorna mais a este mundo, para receber mais um corpo material, senão que volta ao lar, volta ao Supremo. Esse conhecimento está nos śāstras, e todos devem ter a oportunidade de compreendê-lo. Mesmo que alguém não seja capaz de retornar a Deus nesta vida, a civilização védica oferece-lhe pelo menos a oportunidade de ser promovido ao sistema planetário superior, onde vivem os semideuses, que não são obrigados a deslizar novamente para a vida animal. No momento atual, as pessoas não compreendem este conhecimento, embora seja uma grande ciência, pois, além de não serem educadas, são treinadas a não o aceitar. Essa é a condição horrível da sociedade humana moderna. Sendo assim, o movimento para a consciência de Kṛṣṇa é a única esperança para voltar a atenção dos homens inteligentes para um benefício superior na vida.

Texto

mālī manuṣya āmāra nāhi rājya-dhana
phala-phula diyā kari’ puṇya upārjana

Sinônimos

mālī — jardineiro; manuṣya — homem; āmāra — Minha; nāhi — não há qualquer; rājya — reino; dhana — riqueza; phala — frutas; phula — flores; diyā — dando; kari’ — fazem; puṇya — piedade; upārjana — alcance.

Tradução

“Sou um mero jardineiro. Não tenho qualquer reino nem imensas riquezas. Tudo o que tenho são algumas frutas e flores que desejo utilizar para alcançar piedade em Minha vida.”

Comentário

SIGNIFICADO—Ao realizar atividades beneficentes para a sociedade humana, Śrī Caitanya Mahāprabhu apresenta-Se como não sendo muito rico, indicando assim que o homem não necessita ser rico ou opulento para agir em favor do bem-estar da humanidade. Às vezes, homens ricos ficam muito orgulhosos de que podem realizar atividades benéficas para a sociedade humana, ao passo que outros não o podem. Um exemplo prático disso é que, ao haver escassez de alimentos na Índia devido à insuficiência de chuvas, alguns membros da classe mais rica distribuem muito orgulhosamente alimentos, fazendo grandes arranjos com a ajuda do governo, como se meramente por tais atividades o povo se beneficiasse. E se não houvesse grãos alimentícios? Como os homens ricos distribuiriam alimentos? A produção de alimentos está completamente nas mãos de Deus. Se não houvesse chuvas, não haveria grãos, e esses ditos homens ricos seriam incapazes de distribuir alimentos ao povo.

Portanto, o verdadeiro objetivo da vida é satisfazer a Suprema Personalidade de Deus. Śrīla Rūpa Gosvāmī descreve em seu Bhakti-rasāmṛta-sindhu que o serviço devocional é tão sublime que é benéfico e auspicioso para todos os homens. Śrī Caitanya Mahāprabhu também declarou que, para propagar o culto bhakti de serviço devocional na sociedade humana, não é necessário ser muito rico. Qualquer pessoa pode fazê-lo e, assim, proporcionar o máximo benefício à humanidade, caso conheça a arte. O Senhor Caitanya Mahāprabhu faz o papel de jardineiro, pois, embora um jardineiro naturalmente não seja um homem muito rico, ele tem algumas frutas e flores. Qualquer homem pode colher algumas frutas e flores e satisfazer a Suprema Personalidade de Deus em serviço devocional, como se recomenda na Bhagavad-gītā (9.26):

patraṁ puṣpaṁ phalaṁ toyaṁ
yo me bhaktyā prayacchati
tad ahaṁ bhakty-upahṛtam
aśnāmi prayatātmanaḥ

Não se pode satisfazer o Senhor Supremo por meio de riquezas, fortuna ou posição opulenta, mas qualquer pessoa pode colher um pouco de frutas ou flores e oferecê-las ao Senhor. O Senhor diz que, se alguém Lhe fizer tal oferenda com devoção, Ele a aceitará e a comerá. Quando Kṛṣṇa come, o mundo inteiro fica satisfeito. O Mahābhārata conta uma história ilustrando como, por Kṛṣṇa ter comido, os sessenta mil discípulos de Durvasa Muni ficaram satisfeitos. Portanto, é um fato que se, com nossa vida (prāṇaiḥ), com nossa fortuna (arthaiḥ), com nossa inteligência (dhiyā) ou com nossas palavras (vācā), conseguirmos satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, naturalmente o mundo inteiro ficará feliz. Logo, nosso principal dever é satisfazer a Divindade Suprema com nossas ações, nosso dinheiro e nossas palavras. Isso é muito simples. Mesmo que alguém não tenha dinheiro, pode pregar o mantra Hare Kṛṣṇa para todos. Pode-se ir a toda parte, a toda casa e pedir a todos que cantem o mantra Hare Kṛṣṇa. Assim, o mundo inteiro tornar-se-á muito feliz e pacífico.

Texto

mālī hañā vṛkṣa ha-ilāṅ ei ta’ icchāte
sarva-prāṇīra upakāra haya vṛkṣa haite

Sinônimos

mālī hañā — embora Eu seja o jardineiro; vṛkṣa ha-ilāṅ — sou também a árvore; ei ta’ — isto é; icchāte — por Meu desejo; sarva-prāṇīra — de todas as entidades vivas; upakāra — bem-estar; haya — há; vṛkṣa — a árvore; haite — de.

Tradução

“Embora Eu esteja agindo como jardineiro, também desejo ser a árvore, pois, assim, poderei beneficiar a todos.”

Comentário

SIGNIFICADO—Śrī Caitanya Mahāprabhu é a personalidade mais benevolente na sociedade humana, pois Seu único desejo é fazer as pessoas felizes. O Seu movimento de saṅkīrtana é especialmente feito com o objetivo de fazer as pessoas felizes. Ele desejava tornar-Se a árvore pois supõe-se que a árvore seja a mais benevolente das entidades vivas. No verso seguinte, que é do Śrīmad-Bhāgavatam (10.22.33), o próprio Kṛṣṇa fala em louvor à existência da árvore.

Texto

aho eṣāṁ varaṁ janma
sarva-prāṇy-upajīvinām
su-janasyeva yeṣāṁ vai
vimukhā yānti nārthinaḥ

Sinônimos

aho — oh, vede só; eṣām — destas árvores; varam — superior; janma — nascimento; sarva — todas; prāṇi — entidades vivas; upajīvinām — aquele que provê a manutenção; su-janasya iva — como as grandes personalidades; yeṣām — de cujos; vai — decerto; vimukhāḥ — desapontada; yānti — vai embora; na — nunca; arthinaḥ — a pessoa que pede algo.

Tradução

“‘Vede só como estas árvores sustentam todas as entidades vivas! O nascimento delas é bem-sucedido. O comportamento delas é como o de grandes personalidades, pois qualquer pessoa que peça algo a uma árvore nunca vai embora desapontada.’”

Comentário

SIGNIFICADO—Segundo a civilização védica, os kṣatriyas são considerados grandes personalidades, pois, quando alguém vai a um rei kṣatriya pedir caridade, ele nunca sai desapontado. As árvores são comparadas a esses nobres kṣatriyas, pois delas todos obtêm toda espécie de benefício. Alguns obtêm frutos, outros obtêm flores, outros obtêm folhas, outros obtêm galhos, e outros inclusive cortam a árvore, e mesmo assim a árvore dá a todos, sem hesitação.

Cortar árvores desnecessariamente, sem nenhuma consideração, é outro exemplo de perversidade humana. A indústria de papel corta muitas centenas de milhares de árvores para suas fábricas, e com o papel publica-se tanta literatura imunda para a satisfação caprichosa da sociedade humana. Infelizmente, embora esses industriais estejam felizes nesta vida, devido a seu desenvolvimento industrial, desconhecem que contraíram responsabilidade pela morte das entidades vivas que estão sob a forma de árvores.

O Senhor Kṛṣṇa falou este verso, citado do Śrīmad-Bhāgavatam, a Seus amigos quando descansava debaixo de uma árvore, após Seu passatempo de roubar as roupas das gopīs (vastra-haraṇa-līlā). Ao citar este verso, Caitanya Mahāprabhu ensina-nos que devemos ser tolerantes como árvores e, também, benéficos como árvores, que dão tudo às pessoas necessitadas que se aproximam delas. Alguém necessitado pode obter muitas vantagens das árvores e também de muitos animais, mas, na civilização moderna, as pessoas têm se tornado tão ingratas que exploram as árvores e os animais e os matam. Essas são algumas das atividades pecaminosas da civilização moderna.

Texto

ei ājñā kaila yadi caitanya-mālākāra
parama ānanda pāila vṛkṣa-parivāra

Sinônimos

ei — esta; ājñā — ordem; kaila — deu; yadi — quando; caitanya — Śrī Caitanya Mahāprabhu; mālākāra — como jardineiro; parama — o maior; ānanda — prazer; pāila — obtiveram; vṛkṣa — da árvore; parivāra — descendentes.

Tradução

Os descendentes da árvore [os devotos de Śrī Caitanya Mahāprabhu] ficaram muito contentes ao receber essa ordem diretamente do Senhor.

Comentário

SIGNIFICADO—O Senhor Caitanya Mahāprabhu deseja que as atividades benévolas do movimento de saṅkīrtana, que foi inaugurado 500 anos atrás em Navadvīpa, espalhem-se por todo o mundo para o benefício de todos os seres humanos. Infelizmente, existem muitos ditos seguidores de Śrī Caitanya Mahāprabhu que se contentam simplesmente em construir um templo, fazendo um espetáculo das Deidades, angariando alguns fundos e utilizando-os para comer e dormir. Não é possível que eles preguem o culto de Śrī Caitanya Mahāprabhu em todo o mundo, mas, embora não sejam capazes de fazê-lo, se outrem o faz, eles ficam invejosos. Essa é a condição dos seguidores modernos de Śrī Caitanya Mahāprabhu. A era de Kali é tão forte que afeta inclusive os ditos seguidores do Senhor Caitanya. Pelo menos, os seguidores de Caitanya Mahāprabhu devem sair da Índia e pregar o Seu culto em todo o mundo, pois essa é a missão do Senhor Caitanya. É preciso que os seguidores do Senhor Caitanya cumpram Sua vontade com o coração e a alma, sendo mais tolerantes do que as árvores e mais humildes do que a palha na rua.

Texto

yei yāhāṅ tāhāṅ dāna kare prema-phala
phalāsvāde matta loka ha-ila sakala

Sinônimos

yei — qualquer pessoa; yāhāṅ — onde quer que; tāhāṅ — qualquer parte; dāna — caridade; kare — dá em; prema-phala — o fruto do amor a Deus; phala — fruto; āsvāde — saboreando; matta — inebriadas; loka — pessoas; ha-ila — ficam; sakala — todas.

Tradução

O fruto do amor a Deus é tão saboroso que, onde quer que um devoto o distribua, aqueles que saboreiam o fruto, em qualquer parte do mundo, imediatamente ficam inebriados.

Comentário

SIGNIFICADO—Descreve-se aqui o maravilhoso fruto do amor a Deus distribuído pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu. Segundo nossa experiência prática, qualquer pessoa que aceite este fruto e o prove com sinceridade imediatamente enlouquece por ele e abandona todos os seus maus hábitos, apaixonando-se pela dádiva de Caitanya Mahāprabhu, o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. As afirmações do Caitanya-caritāmṛta são tão práticas que qualquer pessoa pode testá-las. Quanto a nós, estamos muito confiantes em relação ao sucesso da distribuição do grande fruto do amor a Deus por intermédio do cantar do mahā-mantra: Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare.

Texto

mahā-mādaka prema-phala peṭa bhari’ khāya
mātila sakala loka — hāse, nāce, gāya

Sinônimos

mahā-mādaka — grande intoxicante; prema-phala — este fruto do amor a Deus; peṭa — estômago; bhari’ — enchendo; khāya — que eles comam; mātila — enlouqueceram; sakala loka — as pessoas em geral; hāse — riem; nāce — dançam; gāya — cantam.

Tradução

O fruto do amor a Deus distribuído por Caitanya Mahāprabhu é um intoxicante tão grande que qualquer pessoa que o coma, enchendo seu estômago, logo enlouquece por ele e naturalmente canta, dança, ri e desfruta.

Texto

keha gaḍāgaḍi yāya, keha ta’ huṅkāra
dekhi’ ānandita hañā hāse mālākāra

Sinônimos

keha — algumas delas; gaḍāgaḍi yāya — rolam no chão; keha — outras; ta’ — com certeza; huṅkāra — sibilam bem alto; dekhi’ — vendo isto; ānandita — alegrado; hañā — ficando assim; hāse — sorri; mālākāra — o grande jardineiro.

Tradução

Quando Śrī Caitanya Mahāprabhu, o grande jardineiro, vê que as pessoas estão cantando, dançando e rindo e que algumas delas estão rolando no chão e outras sibilando bem alto, Ele sorri com muito prazer.

Comentário

SIGNIFICADO—Esta atitude de Śrī Caitanya Mahāprabhu é muito importante para as pessoas dedicadas ao movimento Hare Kṛṣṇa da consciência de Kṛṣṇa. Em todo centro de nossa instituição, ISKCON, organizamos o “banquete do amor” todo domingo, e, ao vermos as pessoas virem aos nossos centros, cantarem, dançarem, tomarem prasāda, ficarem jubilosas e adquirirem livros, sabemos que certamente Śrī Caitanya Mahāprabhu está sempre presente em tais atividades transcendentais, e está muito satisfeito e contente. Portanto, os membros da ISKCON devem incrementar este movimento cada vez mais, segundo os princípios que atualmente tentamos executar. Assim, estando satisfeito, Śrī Caitanya Mahāprabhu olhará sorridente para eles, concedendo-lhes Seu favor, e o movimento será bem-sucedido.

Texto

ei mālākāra khāya ei prema-phala
niravadhi matta rahe, vivaśa-vihvala

Sinônimos

ei — este; mālākāra — grande jardineiro; khāya — come; ei — este; prema-phala — fruto do amor a Deus; niravadhi — sempre; matta — enlouquecido; rahe — permanece; vivaśa — como que desamparado; vihvala — como que confuso.

Tradução

O próprio Senhor Caitanya, o grande jardineiro, come deste fruto, em consequência do que Ele permanece constantemente louco, como se desamparado e confuso.

Comentário

SIGNIFICADO—A missão de Śrī Caitanya Mahāprabhu é agir Ele próprio e ensinar às pessoas. Ele diz: āpani ācari’ bhakti karila pracāra (Caitanya-caritāmṛta, Ādi 4.41). Primeiro, a própria pessoa deve agir, e então ensinar. Essa é a função de um mestre verdadeiro. Não será eficaz falarmos uma filosofia que não sejamos capazes de compreender. Portanto, devemos não apenas compreender a filosofia do culto de Caitanya, como também praticá-la em nossa própria vida.

Ao cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu às vezes desmaiava e ficava inconsciente por muitas horas. Ele ora em Seu Śikṣāṣṭaka:

yugāyitaṁ nimeṣeṇa
cakṣuṣā prāvṛṣāyitam
śūnyāyitaṁ jagat sarvaṁ
govinda-viraheṇa me

“Ó Govinda! Ao sentir saudade de Ti, considero que cada momento é como doze anos ou mais. Lágrimas fluem de Meus olhos como torrentes de chuva, e sinto o mundo totalmente vazio em Tua ausência.” (Śikṣāṣṭaka 7) Essa é a fase de perfeição ao cantar o mantra Hare Kṛṣṇa e ao comer do fruto do amor a Deus, como Śrī Caitanya Mahāprabhu mostrou. Não se deve imitar essa fase artificialmente, mas, se alguém séria e sinceramente seguir os princípios reguladores e cantar o mantra Hare Kṛṣṇa, chegará o momento em que esses sintomas aparecerão. Lágrimas encherão seus olhos, será incapaz de cantar distintamente o mahā-mantra e seu coração palpitará de êxtase. Śrī Caitanya Mahāprabhu diz que não se deve imitar isso, mas o devoto deve ansiar que chegue o dia em que tais sintomas de transe naturalmente apareçam em seu corpo.

Texto

sarva-loke matta kailā āpana-samāna
preme matta loka vinā nāhi dekhi āna

Sinônimos

sarva-loke — todas as pessoas; matta — enlouquecidas; kailā — Ele deixou; āpana — Ele próprio; samāna — como; preme — com amor a Deus; matta — enlouquecidas; loka — pessoas em geral; vinā — sem; nāhi — não; dekhi — vemos; āna — nada mais.

Tradução

Com Seu movimento de saṅkīrtana, o Senhor deixou todos loucos como Ele. Não encontramos ninguém que não se apaixonasse por Seu movimento de saṅkīrtana.

Texto

ye ye pūrve nindā kaila, bali’ mātoyāla
seho phala khāya, nāce, bale — bhāla bhāla

Sinônimos

ye ye — as pessoas que; pūrve — antes; nindā — blasfêmia; kaila — fizeram; bali’ — dizendo; mātoyāla — bêbados; seho — tais pessoas; phala — fruto; khāya — aceita; nāce — dançam; bale — dizem; bhāla bhāla — muito bom, muito bom.

Tradução

As pessoas que haviam anteriormente criticado o Senhor Caitanya Mahāprabhu, chamando-O de bêbado, também comeram o fruto e começaram a dançar, dizendo: “Muito bom! Muito bom!”

Comentário

SIGNIFICADO—Quando o Senhor Caitanya Mahāprabhu iniciou o movimento de saṅkīrtana, Ele próprio foi desnecessariamente criticado por māyāvādīs, ateus e tolos. Naturalmente, nós também somos criticados por tais homens. Eles sempre existirão e sempre criticarão qualquer coisa que seja realmente boa para a sociedade humana, mas os pregadores do movimento de saṅkīrtana não se devem deixar desanimar por tais críticas. Nosso método deve ser converter tais tolos aos poucos, pedindo-lhes que venham e tomem prasāda e cantem e dancem conosco. Essa deve ser a nossa política. Qualquer pessoa que venha juntar-se a nós, é claro, deve ser sincera e séria no que diz respeito ao avanço espiritual na vida. Então, simplesmente pelo fato de juntar-se a nós, cantar conosco, dançar conosco e tomar prasāda conosco, tal pessoa também chegará a dizer que este movimento é muito bom. Porém, aquele que se juntar a este movimento com segundas intenções, para obter benefício material ou satisfação pessoal, nunca será capaz de compreender a filosofia deste movimento.

Texto

ei ta’ kahiluṅ prema-phala-vitaraṇa
ebe śuna, phala-dātā ye ye śākhā-gaṇa

Sinônimos

ei — este; ta’ — entretanto; kahiluṅ — acabo de explicar; prema-phala — o fruto do amor a Deus; vitaraṇa — distribuição; ebe — agora; śuna — ouvi; phala-dātā — o que deu o fruto; ye ye — quem e quem; śākhā-gaṇa — galhos.

Tradução

Após explicar como o Senhor distribuiu o fruto do amor a Deus, agora desejo descrever os diferentes galhos da árvore do Senhor Caitanya Mahāprabhu.

Texto

śrī-rūpa-raghunātha-pade yāra āśa
caitanya-caritāmṛta kahe kṛṣṇadāsa

Sinônimos

śrī-rūpa — Śrīla Rūpa Gosvāmī; raghunātha — Śrīla Raghunātha Dāsa Gosvāmī; pade — aos pés de lótus; yāra — cuja; āśa — expectativa; caitanya-caritāmṛta — o livro chamado Caitanya-caritāmṛta; kahe — descreve; kṛṣṇa-dāsa — Śrīla Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī.

Tradução

Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.

Comentário

Neste ponto, encerram-se os Significados Bhaktivedanta do Śrī Caitanya-caritāmṛta, Ādi-līlā, nono capítulo, descrevendo a árvore do serviço devocional.